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RÁBANOS, José Maria Soto. Visón y tratamento del pecado em los manuales de confesión de
la baja edad media Hispania p.411-447. Hispania Saca, LVIII 118, ISSN: 018-215-X Instituo
de História, CSIC, Madrid, julio-diciembre. 2006,
RESUMO
Confissão auricular, auge da ação pastoral. Pecado e seu lugar no cotidiano, tanto no
aspecto confessional quanto no de sua correção;
12 manuais de confissão para os padres e para os fiéis são abordados (séc. XV);
Artigo que busca traçar os aspectos gerais dos tratados, escritos em latim e línguas
vernaculares, em 6 aspectos: noção de pecado; ignorância como proteção; a tipologia dos
pecados; quais pecados devem ser submetidos a confissão; notoriedade como agravante no pecar
(“desteologização” do pecado) e confissão como um instrumento de controle dos fiés;
PRELIMINARES
Grande florescimento de manuais confessionais na Península Ibérica no séc. XV;
Manuais de padres também são considerados. Aspectos da prática confessional,
administração dos sacramentos, celebração do culto, instruções sobre a doutrina cristã;
IV Concílio de Latrão (1215), 9: mandamos severamente que los obispos provean (a
las iglesias) de hombres idóneos que celebren a los fieles los oficios divinos, administren los
sacramentos e instruyan con la palabra e igualmente con el ejemplo; os bispos deverão
prover as igrejas de homens idôneos que celebrem os cultos divinos aos fiéis, administrem os
sacramentos e introduzam a palavra igualmente com uma ação exemplar trad. Thiago Comelli;
Penitência passa a ser o grande sacramento em torno do qual gira a vida moral dos fiéis e
a ação pastoral. Essa mentalidade passa a se manifestar, portanto, na literatura destinada à prática
pastoral;
Manipulus Curatorum (vadémecum dos padres) de Guido de Monte Roterio. Três partes:
a primeira, sacramentos em geral; a central, com mais de um terço de extensão do tratado (30
folhas) de sacramentos penitenciais; a terceira, sobre a instrução cristã;
Sacerdotes encarregados da cura das almas possuíam quatro obrigações: celebrar a missa,
administrar os sacramentos, ouvir confissões e informar ao povo os mandamentos e demais
rudimentos da fé;
Necessidade de uma confissão auricular secreta já estava em pauta no séc. XII, no Decreto
de Graciano. Obrigatoriedade de uma confissão oral ao sacerdote como forma de obter perdão,
regulamentação sub gravi de uma prática comum;
Progresso marcado pela privacidade e atenção personalizada ao pecador. Confissão,
penitência e pecados secretos, entre padre e confessor.
Progresso da moral, mentalidades e contextos que tornariam determinadas ações mais ou
menos pecaminosas. Valorização dos atos humanos em seu contexto moral. Os mesmos atos
mereceriam apreço, menosprezo, indiferença ou castigo passam a ser relativos;
Polibio e o relativismo dos juízos morais:
...dar muerte a los ciudadanos es tenido como sacrilegio máximo, como crimen digno de
los más refinados suplicios. Y, sin embargo, es notorio que el que ejecuta a un ladrón o a un
adúltero goza de impunidad, y el que mata a un traidor o a un tirano merece un asiento de honor
a la vista de todos. Así, la emisión de un juicio definitivo no debe basarse nunca em los hechos en
sí, antes bien, en sus causas y en las razones que movieron a sus autores; también en las
diferencias que ellas presentan (Historias, libro II, §.56, Biblioteca Clásica Gredos, Introducción
de A. DÍAZ TEJERA. Traducción y notas de M. BALASCH RECORT, 1.ª reimpresión, Madrid,
1991, p. 254)
“Matar um cidadão é tido como sacrilégio máximo, crime digno dos mais refinados
suplícios. Todavia, é notório que quem executa um ladrão ou adúltero goza de impunidade, e
quem mata um traidor ou tirano merece um lugar de honra a vista de todos. Assim, a aplicação de
um juízo definitivo não deve se basear nos atos em si, mas em suas causas e razões que vieram a
mover os autores, bem como as diferenças que elas apresentam” (Historias, libro II, §.56,
Biblioteca Clásica Gredos, Introducción de A. DÍAZ TEJERA. Traducción y notas de M.
BALASCH RECORT, 1.ª reimpresión, Madrid, 1991, p. 254)
Direito e Teologia compartilhando de opiniões. Entre o Concílio de Latrão (1215) até o
De Trento (1545-1563), evolução teológica e novas correntes eclesiásticas, normas jurídicas
canônicas (Corpus Iuris Canonici). Pecado como um leit-motiv na literatura pastoral. Domínio da
consciência cristã de ser culpável e a necessidade de ser salvo por um poder superior.
Necessidade psicológica e religiosa do pecado em ser perdoado;
Sebastián de Ota, exercício espiritual máximo dentre os que servem para salvação das
almas (Incunable (Sevilla 1497), f. 2r.)
Confessor, penitente e sacramentos, todos momentos são protagonistas na ação da
confissão. Para o autor, o pecado teria a posição de protagonismo principal;
Destinatário principal das obras pastorais seriam padres com pouco conhecimento para
levar a cabo a tarefa de administração sacramental na penitência (dado recorrente em todos os
manuales) (apud, p.415, trad. Thiago Comelli);
Fiéis bombardeados todos os dias com normas e conselhos para como se agir: Durante o
ano litúrgico, se busca chama a atenção dos leigos: missas dominical e festiva (quando não
diária), sermões, ensino da doutrina (fiéis em geral, crianças e jovens em particular), ave marias
pelo badalar das horas, liturgia das horas, sinal da cruz no início do trabalho;
Buscam-se métodos para se dar sentido ao cristianismo em todos os ciclos da vida.
Controle das ações, com a ideia do pecado sempre próximo. Cumprir obrigações de não fazer
(evitar o pecado) até de fazer (cumprir e receber, enriquecimento pessoal);
Não há espaços para neutralidades. Mt. 12-30 (el que no está conmigo está contra mi)
Regulação da vida em todos seus substratos pelo exercício de profissão da fé, relações
familiares, vizinhos, autoridades e subalternos, de outras religiões. Dilema do bem contra o mal,
fortuna contra infortúnio. Dilema da esperança pela glória eterna frente ao temor da condenação à
morte eterna;
Confissão como rendimento anual de contas de um sujeito cuja condição natural é de ser
pecador, desde a gênese. O único remédio, o sacramento da confissão:
[...] Así, el dualismo está servido. Y en esta situación, la confesión oral representa el
rendimento anual de cuentas, partiendo de la condición natural pecadora del hombre, es decir,
de un rendimiento fatal y necesariamente negativo, al que sólo puede poner remedio el
sacramento de la confesión. En él se especifican los pecados, se pide el perdón y se acepta la
penitencia que estima adecuada el confesor, habida cuenta de las circunstancias del pecado y del
pecador.. (RÁBANOS, p.416, 2006)
[...] Assim, o dualismo está servido. Nessa situação, a confissão oral representa o
rendimento anual de contas, partindo da condição de pecador natural do homem, em dizer um
rendimento fatal e necessariamente negativo, àquilo que só pode remediar o sacramento da
confissão. Nele, se especificam os pecados, se pede perdão e se aceita a penitência que o
confessor julgar adequada, dada as circunstâncias do pecado e do pecador (RÁBANOS, p.416,
2006 trad. Thiago Comelli).
1312-1317, Pobre libro de las confessiones. Grande difusão na nas zonas centrais e
ocidentais da península ibérica;
Foco no pecado e sua confissão. Passa detalhadamente pelo sacramento penitencial e
conteúdos da doutrina cristão. Inicialmente, trata dos pecados comuns a todos os estados. Os
primeiros pecados capitais que trabalha, luxúria e avareza, numa ordem diferente da Saligia;
Pecados da língua e do escândalo. Advogados, prevaricação. Tensão (crispacion) na
sociedade por meio da fala. Esses pecados, para Peréz, devem ser questionados a parte dos 7
principais;
Na segunda parte, longa, dedica aos pecados específicas de estados sociais (eclesiásticos e
seculares). Nobreza, reis, advogados, mestres. Aqui, busca-se saber como cada um pode pecar
segundo seu estado social, citando obrigações específicas de cada religião. Radiografia
importante da sociedade do séc. XII-XIV. Traz exortações sobre como o confessor deve atuar:
absolver, admoestar, penitenciar;
A terceira parte, por sua vez, consiste numa exposição detalhada sobre os sacramentos,
incluindo a penitencia. Ao tratar novamente das temáticas, parte de dois argumentos: uno formal:
porque conviene guardar la ordenaçion de los sacramentos; otro material, porque conviene que
se digan generalmente algunas cosas que fincaron de dezir (Parte III, cap. 35 (Ed. citada, p. 560):
Aspecto formal: Convém memorizar/guardar/rever os sacramentos em ordem; aspecto
material, convém que se diga maneira geral algumas coisas que ficaram por dizer;
Portanto: sete ramos da soberba, seis da avareza, oito da luxúria, seis da ira, cinco da gula,
cinco da inveja e 6 da preguiça. Cinquenta no total, quarenta e três ramos somados às sete raízes
(Incunable Escorial 61-VII-19 n.2, f. 62vb, trad. Thiago ComellI)
No caso de Sebastián Ota, essa simplicidade teórica dirigida aos confessores tem por
pressuposto que os penitentes não tomam parte ativa na fala dos pecados, que se conformariam
apenas em responder ao interrogatório confessional, ponto que se distanciaria de Talayero, que
considera um grande erro a confissão como base das perguntas do confessor; (trad, Thiago
Comelli)
NOCIÓN DE PECADO
Figura de Deus como o centro. Se peca contra o próximo, contra a lei, contra si. Mas no
final, é apenas contra Deus. O mesmo vale com as boas ações
Ponto de vista social que valora se os atos são bons ou maus. O ato humano em sua
perspectiva ética é questionado na prática penitencial, em relação a um fazer ou deixar de fazer,
se cumpriu suas obrigações profissionais. Se for moralmente errado, será pecado contra Deus;
Não parte do pressuposto de desobediências de normativas humanas, mas divinas. Deve-
se obedecer a Deus, não aos homens.;
Século XV, clamores contra a ilusão teocrata de viver e normatizar a vida apenas pela
teologia, sem o Direito;
Constituições sinodais e conciliares. Preceitos humanos, não vinculantes ao pecado
mortal. Simples obrigação jurídica com a questão sub gravi expressa: A lei e moral como coisas
divinas
creer implícitamente y en una suma, la qual es creer todo aquello que cree la sancta y
catholica yglesia. Ni deuen mas inuestigar de los articulos de la ffe» (Libro de confesión de
Bartolomé TALAYERO, ms BNM 10571, f.73r)
E acerca desto [se refiere al pecado de lujuria] ha de ser auisado el confessor que
algunas cosas deue dexar de preguntar al penitente, en las quales entiende que no sabe pecar,
porque de otra manera seria dar ocasión que alli adelante pecasse en ellas (Incunable 1007, f.
5r.)
“E acerca disso (referente ao pecado da luxúria) deve ser avisado ao confessor que
algumas coisas não devem ser perguntadas aos penitentes, das quais este não saberia pecar, de
modo que seria então dar vazão para que dali em diante pecasse” (Incunable 1007, f. 5r., trad
Thiago Comelli)
Pecado como algo disponível, que segundo o conhecimento de cada um pode incidir ou
não;
Ao mesmo tempo que não está na consciência do crente individual em relação a Deus,
seus ofícios e outrem, está fora da consciência (o que fundamentaria não ensinar novas formas de
pecar);
Ignorância protege do pecado, sabedoria ensina a pecar. Precisa ser descoberto para ser
cometido.
Estados e ofícios mais seguros que outros, no que tange ao pecado (ADVOGADOS,
PECADOS DA LINGUA), Mercadores. Camponeses, por outro lado, mais seguros do
pecado. (p.438, 2006);
Segundo Martin Perez, são três os tipos de ofícios conforme seu perigo: os maus (dano
para si e para o próximo, prostitutas e histriões) mistos (mendigos e vendedores gerais) e
proveitoso para a alma e corpo (clérigos, labradores);
“En líneas generales, se puede afirmar que en esta literatura hay una espécie de
objetivación del pecado, como si el pecado vagara por ahí como una presa suelta, dispuesta a
ser cazada por quien sabe cazar. La conclusión viene dada: quien sabe pecar, puede pecar y peca
de hecho; quien no sabe pecar, no peca” (439, 2006)
Em linhas gerais, pode-se afirmar que nessa literatura há uma espécie de objetivação do
pecado, como se este vagasse solto e pronto para ser caçado por bons caçadores. A conclusão:
quem sabe pecar, pode pecar e peca. Quem não sabe, não peca
CLASES DE PECADOS
Foco nos pecados “atuais”, sendo o pecado original citado com a dupla intensão de
rememorar a condição natural de pecado do homem (Adão e Eva) e seu perdão total pelo batismo
pela redenção de Cristo;
Sete vícios capitais/mortais. Saligia, falas mnemotécnicas que usam os pastorais;
Pecados que podem ser mortais, mas ainda sujeitos a gradações, mais leves segundo as
circunstancias;
Importância de os sacerdotes confessores discernirem entre pecados veniais e
pecados mortais. Martin Pérez também chama atenção aos pecados criminais, sobre qual o
Direito impõe penas. Todos os criminais são mortais, mas nem todos os mortais são
criminais. De modo que os criminosos são uma gradação mais pecaminosa entre os mortais
(99 Libro de las confesiones, III, 43, p. 582.)
E conviene saber que ay três maneras de pecados, ca ay pecados veniales e pecados
mortales e pecados criminales , en referencia a los delitos sobre que el derecho pone penas Los
criminales son todos mortales, en cambio no todos los mortales son criminales, ca non son todos
tan graves
Raimundo de Penãfort ressalta que nem todos os pecados devem ser tidos como mortais,
devendo constar por escrito (escritura cierta lo que son);
Não necessariamente conhecer todos os pormenores, de modo que há sempre vazão para
criar novos pecados, ainda que as raízes permaneçam as mesmas. Ramos múltiplos da árvore dos
sete pecados mortais;
los pecados mortales son muchos e en diuersas maneras que non se pueden contar (os
pecados mortais são muitos e em diversas formas, que não se pode contar (Sacramental, f. 103r);
Pecados também presentes em casuísticas como os mais horrendos, específicos. Casos
reservados e que os simples confessores não podem absolver sem uma encomenda especial do
papa ou bispo;
Martín Perez assinala 55 casos de excomunhão maior, indicando se são reservados ao
papa ou bispo: dezesseis do Direito Antigo (Decretales de Gregório IX), vinte do libro sexto de
Bonifácio VIII e dezenove das constituições de Clemente V;
Además, el obispo podía y solía hacer comisión de sus casos, pero si esta encomienda era
genérica se entendía que era válida para todos, salvo para cinco, cuya encomenda debía ser
específica: «Otrosi es de saber que quando el obispo dize a algun clerigo: yo te comito todos mis
casos, puede aquel clerigo en todos los casos del obispo absoluer, saluo en cinco... aunque el
obispo cometa sus casos non se entiende destos saluo de los que nombro en special
Ademais, o bispo poderia comissionar os seus casos, ainda que fosse encargo genérico. 5
eram exceções, encargos tidos como específicos: “outrossim, é de se saber que quando o bispo
disser para algum clérigo: eu lhe entrego todos os meus casos, o clérigo poderá absolver todos,
salvo cinco, intransitáveis e específicos ao bispo” (107 Ms BNM 4202, ff. 130va-131ra.)
A maior ou menor gravidade do pecado virão pelo ato em si e por oito características que
afetam o pecado e pecador: quem, o que, onde, por meio de quem (colaboradores), quantas vezes,
por que, de que modo, quando. Atenções às circunstancias que acompanhavam a confissão, de
modo a se poder estimar a gravidade do pecado e impor a penitencia adequada;
Martín PÉREZ (Libro de las confesiones, 3, 43; p. 582) considera tres clases de pecados:
veniales, mortales y criminales, reservando estos últimos para los delitos: «E conviene a saber
que ay tres maneras de pecados, ca ay pecados veniales e pecados mortales e pecados
criminales... Pecados criminales son aquellos sobre que el derecho pone penas corporales e
espirituales, e de que el pecador em juyzio puede ser acusado e a pena corporal o espiritual
condenado
Controle total dos fiéis pela Igreja, psicológico e político. Vida interior e exterior, família,
círculos sociais e sociedade: vizinhos, pais, estranhos, aspectos recreativos, festas. Controle anual
e cotidiano com as rezas nas horas, assistência aos doentes, missas dominicais, exemplos de vida
e afins;
Tratamento particularizado do perdão do pecado. Perdão de Deus e perdão da Igreja. O
primeiro, exige constrição e internalização e autenticidade e já acontece antes mesmo da
confissão; A igreja, atende a manifestação do arrependimento, externalização, reconcilia o fiel
com a Igreja e pode ser enganada;
De modo que só se efetiva o perdão com o registro, a Igreja possui a chave. Só se efetiva
o arrependimento ipso facto por um ministro autorizado;
Perdão não é total, precisa da penitencia. O tributo para a culpabilidade, verdadeiro
purgatório de limpeza, caminho transitório entre o céu ou inferno. Conotação negativa, que deve
ser evitado, para que o penitente agilize seus perdões, pratique as esmolas, impulsionar doações,
pagar sua pena, para que se limpe com completude o quanto antes, indo diretamente ao céu, sem
pedágios;