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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA FILHO” (UNESP)

FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS, DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA – câmpus


de Assis
CURSO DE GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA (LICENCIATURA)

Disciplina: História Medieval II


Professor Responsável: Leandro Alves Teodoro

ALUNO: Thiago Pereira Camargo Comelli

RÁBANOS, José Maria Soto. Visón y tratamento del pecado em los manuales de confesión de
la baja edad media Hispania p.411-447. Hispania Saca, LVIII 118, ISSN: 018-215-X Instituo
de História, CSIC, Madrid, julio-diciembre. 2006,

RESUMO
Confissão auricular, auge da ação pastoral. Pecado e seu lugar no cotidiano, tanto no
aspecto confessional quanto no de sua correção;
12 manuais de confissão para os padres e para os fiéis são abordados (séc. XV);
Artigo que busca traçar os aspectos gerais dos tratados, escritos em latim e línguas
vernaculares, em 6 aspectos: noção de pecado; ignorância como proteção; a tipologia dos
pecados; quais pecados devem ser submetidos a confissão; notoriedade como agravante no pecar
(“desteologização” do pecado) e confissão como um instrumento de controle dos fiés;

PRELIMINARES
Grande florescimento de manuais confessionais na Península Ibérica no séc. XV;
Manuais de padres também são considerados. Aspectos da prática confessional,
administração dos sacramentos, celebração do culto, instruções sobre a doutrina cristã;
IV Concílio de Latrão (1215), 9: mandamos severamente que los obispos provean (a
las iglesias) de hombres idóneos que celebren a los fieles los oficios divinos, administren los
sacramentos e instruyan con la palabra e igualmente con el ejemplo; os bispos deverão
prover as igrejas de homens idôneos que celebrem os cultos divinos aos fiéis, administrem os
sacramentos e introduzam a palavra igualmente com uma ação exemplar trad. Thiago Comelli;
Penitência passa a ser o grande sacramento em torno do qual gira a vida moral dos fiéis e
a ação pastoral. Essa mentalidade passa a se manifestar, portanto, na literatura destinada à prática
pastoral;
Manipulus Curatorum (vadémecum dos padres) de Guido de Monte Roterio. Três partes:
a primeira, sacramentos em geral; a central, com mais de um terço de extensão do tratado (30
folhas) de sacramentos penitenciais; a terceira, sobre a instrução cristã;
Sacerdotes encarregados da cura das almas possuíam quatro obrigações: celebrar a missa,
administrar os sacramentos, ouvir confissões e informar ao povo os mandamentos e demais
rudimentos da fé;
Necessidade de uma confissão auricular secreta já estava em pauta no séc. XII, no Decreto
de Graciano. Obrigatoriedade de uma confissão oral ao sacerdote como forma de obter perdão,
regulamentação sub gravi de uma prática comum;
Progresso marcado pela privacidade e atenção personalizada ao pecador. Confissão,
penitência e pecados secretos, entre padre e confessor.
Progresso da moral, mentalidades e contextos que tornariam determinadas ações mais ou
menos pecaminosas. Valorização dos atos humanos em seu contexto moral. Os mesmos atos
mereceriam apreço, menosprezo, indiferença ou castigo passam a ser relativos;
Polibio e o relativismo dos juízos morais:

...dar muerte a los ciudadanos es tenido como sacrilegio máximo, como crimen digno de
los más refinados suplicios. Y, sin embargo, es notorio que el que ejecuta a un ladrón o a un
adúltero goza de impunidad, y el que mata a un traidor o a un tirano merece un asiento de honor
a la vista de todos. Así, la emisión de un juicio definitivo no debe basarse nunca em los hechos en
sí, antes bien, en sus causas y en las razones que movieron a sus autores; también en las
diferencias que ellas presentan (Historias, libro II, §.56, Biblioteca Clásica Gredos, Introducción
de A. DÍAZ TEJERA. Traducción y notas de M. BALASCH RECORT, 1.ª reimpresión, Madrid,
1991, p. 254)

“Matar um cidadão é tido como sacrilégio máximo, crime digno dos mais refinados
suplícios. Todavia, é notório que quem executa um ladrão ou adúltero goza de impunidade, e
quem mata um traidor ou tirano merece um lugar de honra a vista de todos. Assim, a aplicação de
um juízo definitivo não deve se basear nos atos em si, mas em suas causas e razões que vieram a
mover os autores, bem como as diferenças que elas apresentam” (Historias, libro II, §.56,
Biblioteca Clásica Gredos, Introducción de A. DÍAZ TEJERA. Traducción y notas de M.
BALASCH RECORT, 1.ª reimpresión, Madrid, 1991, p. 254)
Direito e Teologia compartilhando de opiniões. Entre o Concílio de Latrão (1215) até o
De Trento (1545-1563), evolução teológica e novas correntes eclesiásticas, normas jurídicas
canônicas (Corpus Iuris Canonici). Pecado como um leit-motiv na literatura pastoral. Domínio da
consciência cristã de ser culpável e a necessidade de ser salvo por um poder superior.
Necessidade psicológica e religiosa do pecado em ser perdoado;
Sebastián de Ota, exercício espiritual máximo dentre os que servem para salvação das
almas (Incunable (Sevilla 1497), f. 2r.)
Confessor, penitente e sacramentos, todos momentos são protagonistas na ação da
confissão. Para o autor, o pecado teria a posição de protagonismo principal;
Destinatário principal das obras pastorais seriam padres com pouco conhecimento para
levar a cabo a tarefa de administração sacramental na penitência (dado recorrente em todos os
manuales) (apud, p.415, trad. Thiago Comelli);
Fiéis bombardeados todos os dias com normas e conselhos para como se agir: Durante o
ano litúrgico, se busca chama a atenção dos leigos: missas dominical e festiva (quando não
diária), sermões, ensino da doutrina (fiéis em geral, crianças e jovens em particular), ave marias
pelo badalar das horas, liturgia das horas, sinal da cruz no início do trabalho;
Buscam-se métodos para se dar sentido ao cristianismo em todos os ciclos da vida.
Controle das ações, com a ideia do pecado sempre próximo. Cumprir obrigações de não fazer
(evitar o pecado) até de fazer (cumprir e receber, enriquecimento pessoal);
Não há espaços para neutralidades. Mt. 12-30 (el que no está conmigo está contra mi)
Regulação da vida em todos seus substratos pelo exercício de profissão da fé, relações
familiares, vizinhos, autoridades e subalternos, de outras religiões. Dilema do bem contra o mal,
fortuna contra infortúnio. Dilema da esperança pela glória eterna frente ao temor da condenação à
morte eterna;
Confissão como rendimento anual de contas de um sujeito cuja condição natural é de ser
pecador, desde a gênese. O único remédio, o sacramento da confissão:
[...] Así, el dualismo está servido. Y en esta situación, la confesión oral representa el
rendimento anual de cuentas, partiendo de la condición natural pecadora del hombre, es decir,
de un rendimiento fatal y necesariamente negativo, al que sólo puede poner remedio el
sacramento de la confesión. En él se especifican los pecados, se pide el perdón y se acepta la
penitencia que estima adecuada el confesor, habida cuenta de las circunstancias del pecado y del
pecador.. (RÁBANOS, p.416, 2006)

[...] Assim, o dualismo está servido. Nessa situação, a confissão oral representa o
rendimento anual de contas, partindo da condição de pecador natural do homem, em dizer um
rendimento fatal e necessariamente negativo, àquilo que só pode remediar o sacramento da
confissão. Nele, se especificam os pecados, se pede perdão e se aceita a penitência que o
confessor julgar adequada, dada as circunstâncias do pecado e do pecador (RÁBANOS, p.416,
2006 trad. Thiago Comelli).

Perspectiva do poder e dramatização do pecado, como consequência, o fortalecimento da


autoridade do clero. Saligia, cada letra um pecado, raízes da árvore das máculas morais: soberba,
avareza, luxuria, ira, gula, inveja e preguiça;
Não se cometem contra os mandamentos, mas são referência a aspectos do cristianismo
que devem ser combatidos em absoluto.

LIVRO DE CONFISSÕES DE MARTIN PÉREZ

1312-1317, Pobre libro de las confessiones. Grande difusão na nas zonas centrais e
ocidentais da península ibérica;
Foco no pecado e sua confissão. Passa detalhadamente pelo sacramento penitencial e
conteúdos da doutrina cristão. Inicialmente, trata dos pecados comuns a todos os estados. Os
primeiros pecados capitais que trabalha, luxúria e avareza, numa ordem diferente da Saligia;
Pecados da língua e do escândalo. Advogados, prevaricação. Tensão (crispacion) na
sociedade por meio da fala. Esses pecados, para Peréz, devem ser questionados a parte dos 7
principais;
Na segunda parte, longa, dedica aos pecados específicas de estados sociais (eclesiásticos e
seculares). Nobreza, reis, advogados, mestres. Aqui, busca-se saber como cada um pode pecar
segundo seu estado social, citando obrigações específicas de cada religião. Radiografia
importante da sociedade do séc. XII-XIV. Traz exortações sobre como o confessor deve atuar:
absolver, admoestar, penitenciar;
A terceira parte, por sua vez, consiste numa exposição detalhada sobre os sacramentos,
incluindo a penitencia. Ao tratar novamente das temáticas, parte de dois argumentos: uno formal:
porque conviene guardar la ordenaçion de los sacramentos; otro material, porque conviene que
se digan generalmente algunas cosas que fincaron de dezir (Parte III, cap. 35 (Ed. citada, p. 560):
Aspecto formal: Convém memorizar/guardar/rever os sacramentos em ordem; aspecto
material, convém que se diga maneira geral algumas coisas que ficaram por dizer;

MANIPULUS CURATORUM DE GUIDO DE MONTE ROTERIO

Escrita em 1333, Teruel. Dedicada ao bispo de Valença, Raimundo de Graciano;


Vale destacar que o autor se apresenta mais como teólogo que canonista, apoiando sua
ótica de pecado/penitência no Decreto de Graciano e Raimundo de Peñaforte;
Na parte destinada ao sacramento penitencial, o autor ressalta tratar-se de obra objetiva e
para sacerdotes pouco experientes na área da teologia e direito canônico. De modo que busca
praticidades, sem muitos pormenores e sutilezas na explicação;
Obra que não é nem summa de penitencia nem manual de confésion, mas um manual de
curados, com a confissão tendo lugar proeminente para os padres e clérigos não especialistas;
Destaca os 7 pecados mortais, seguindo a ordem da saligia e suas ramificações. Sete
vícios capitais, com 50 pecados (número do profeta Elias):
así: siete ramos de la soberbia, seis de la avaricia, ocho de la lujuria, seis de la ira, cinco
de la gula, cinco de la envidia y seis de la acidia, cincuenta em total: cuarenta tres ramos más las
siete raíces24. (Incunable Escorial 61-VII-19 n.2, f. 62vb)

Portanto: sete ramos da soberba, seis da avareza, oito da luxúria, seis da ira, cinco da gula,
cinco da inveja e 6 da preguiça. Cinquenta no total, quarenta e três ramos somados às sete raízes
(Incunable Escorial 61-VII-19 n.2, f. 62vb, trad. Thiago ComellI)

Conforme a variedade das pessoas, variam-se as perguntas e o interrogatório conforme a


variedade dos penitentes

INFORMATORIUS SIMPLICIUM SACERDOTUM. Anônimo


Séc. XIV, manual claro e bem organizado. Escrito em latim e para uso exclusivo dos
padres;
Foca a cura pastoral no discernimento dos pecados, diretamente no tratamento do do
sacramento penitencial: saudações de iniciais, identificação de quem solicita o tratamento
sacramental e exposição dos pecados com a ajuda do confessor (seguindo a ordem dos sete
pecados);
Coincide com Guido ao colocar mais um ramo na avareza, somando 51 pecados;
Grosso da obra consiste nos sete pecados, seguidos de uma exposição mais breve dos
mandamentos, artigos de fé, sacramentos, obras de misericórdia e os pecados dos 5 sentidos;
Dedica um capítulo sobre perguntas referentes a pecados típicos dos ofícios, bem como
uma busca por garantir a integridade da confissão, pois os homens tendem a negligenciar no
exame de sua consciência e por uma ignorância geral dos penitentes;
Busca também como se deve animar os vergonhosos e convencer os mais resistentes, de
modo que o penitente volte novamente, manifeste o desejo de confessar integramente seus
pecados quando necessário. Uma fórmula que ressalta o reconhecimento global do penitente
como pecador (pré Confiter Deo), pela sua natureza humana e inerente ao pecado.

TRATADO DE CONFESIÓN DE JUAN MARTÍNEZ DE ALMAZÁN


Obra para clérigos e laicos, escrita em meados de 1429. Autor licenciado em artes e
bacharel em direito canônico;
Aborda brevemente os temas já tratados no anterior, explicando as principais maneiras de
pecar de cada um dos sete pecados;
Dedica atenção importante ao clérigo que confessa, clérigos penitentes, inclusive
ignorantes de seus deveres eclesiásticos;
Parte importante é dada para a preparação da confissão, suas condições (cita 17), “qual se
requiere em la inglesa”;
Autor esperava grande difusão de sua obra, como deixa claro

CONFESIÓN GERERAL DE ANDRÉ DIAS DE ESCOBAR


Personalidade importante. 1472 escrita em castelhano; forma de confissão breve e prática,
servindo de guia ao confessor;
Traduzido em muitas línguas, o que lhe deu difusão. Pecados do pensamento,
palavra, obra e omissão (obras de misericórdia corporais e espirituais, artigos de fé,
sacramentos, virtudes, a bem aventurança do Espírito Santo);
Generalizante, de modo que despersonaliza a consciência do penitente. Penitentes podiam
confessar “tudo e nada” ao mesmo tempo. Por sua abreviação, exigiria dos confessores um
interrogatório discreto e adaptado às particularidades do penitente;
Obra finaliza com um aviso “que se recoja em si mismo y se esfuerce por recordar sus
pecados”, que denota a importância de relembrar, perscrutar a consciência e não esconder ou
dizê-los na ocasião apenas para ser perdoado. Quem age assim, deverá repetir a confissão na
íntegra. Dá atenção um pouco maior ao pecado da luxúria, a fim de não dar ocasião para novos
pecados;

SACRAMENTAL D E CLEMENTE SÁNCHEZ DE VERCIAL


1423 finalizou a obra, tornou-se arquidiácono de Valderas na diocese de Léon;
Instrução da doutrina cristã, bem detalhada. Não é necessariamente um material de
confissão;
Inicia nas penitências (118 títulos e 53 folas) depois foca nos sacramentos (73% da obra);
Pecado e perdão consistiriam no eixo da atividade pastoral do sacerdote encarregado da
cura das almas;
Obteve grande difusão. Em 1559, foi proibido pelo inquisidor geral Fernando Valdés

SPECULUM PECCATORIS, CONFESSORIS ET PRAEDICATORIS. ANÔNIMO


Entre 1431 e 1435; amplo manual de confissão destinado aos confessores. Parte do
pressuposto que todo pecado é uma dívida que deve ser paga, seguindo os pressupostos
agostinianos de que não há perdão sem restituição;
Um tratado erudito sobre como restituir, pelos recursos constantes a autoridades
doutrinais, canônicas, jurídicas e teológicas;
Tratado confessional, com os pecados-dívidas catalogados conforme os estados sociais,
seja no âmbito da Igreja, seja na sociedade civil;

LIBRO DE CONFESIÓN DE MEDINA DE POMAR


Aproximadamente, escrita em 1455. Texto incompleto no começo, impossibilitando assim
saber as finalidades, destinatários, bem com o primeiro mandamento.
Duas partes bem definidas: um libro de confesión e outra de ejemplos, reflexões e
conselhos sobre a confissão e cópia de sentenças, 38 exemplos de alegações de autoridades;
Confissão centrada nos dez mandamentos e sete pecados mortais, tratando dos ramos de
cada pecado;
PECADOS DA LINGUA, tempo perdido, obras de misericórdia corporais e
espirituais;

TRATADO SOBRE LAS CONFESIONES DE ALFONSO FERNÁNDEZ DE


MADRIGAL
Mais teólogo do que canonista. Uso de um estilo teológico clássico, sinalizando os
remédios que Deus dá ao homem para os respectivos pecados: Batismo para o pecado original,
sacramento da penitência para o pecado atual; Chama atenção para a ignorância de muitos no ato
de confessar;
Foca nos pecados capitais, especialmente na avareza (usura e simonia);
Apresenta a doutrina não como ensinamento, mas apontando quais os pecados que são
cometidos contra, a partir daí expondo a doutrina (mandamentos, misericórdia). A perspectiva de
El Tostado é negativa (não fazer), do descumprimento do ordenado, não da simples fraqueza da
virtude e fé;

LIBRO DE CONFESIÓN DE BARTOLOMÉ TALAYERO


Obra diretamente aos penitentes, pressupondo que os confessores conhecem
suficientemente bem seu ofício;
Essencialmente um tratado confessional, composto por uma introdução com seis
interrogações acerca de conceitos (penitência, constrição, confissão, satisfação, remissão,
absolvição) e a outra com aspectos práticos;
Oito parágrafos de ordem confessional: dez mandamentos, sete pecados mortais, cinco
sentidos corporais, sete obra de misericórdia espirituais e sete corporais, três virtudes teológicas,
quatro virtudes cardiais e sacramentos;
Também chama atenção (como em outros manuais) para os estados e condição de cada
penitente, ainda que não especifique melhor quais os pecados mais recorrentes entre cada estado
social. Apenas adverte que o penitente (e confessor) devem ter em conta os que afetam mais as
determinadas classes;
Dá atenção especial para o discernimento entre pecados mortais e veniais;

TRATADO DE CONFISSOM DE CHAVES (1489)


Estudada minuciosamente pelos seus aspectos históricos e filológicos. Seleção de textos,
de obras latinas e castelhanas, não necessariamente obra de um único autor;
Válida tanto para confessores quanto penitentes, com um certo “cheiro de claustro, escrita
num ambiente de vida em comunidade, conventual;
Três partes, ainda que não muito bem organizadas. A primeira, o modo prático de se
confessar (pecados mortais, cinco sentidos e dez mandamento). A ordem dos pecados difere da
saligia (soberba, inveja, ira, preguiça, avareza, luxuria e gula); segue-se uma confissão geral;
Segue depois as penitencias tarifadas dos livros penitenciais (nos moldes do decreto de
graciano); foca no pecado da luxúria, fazendo breves comentários sobre homicídios e juramentos;
A terceira parte é uma breve instrução da doutrina cristã: artigos de fé, pecados mortais;
Possui um capítulo no qual trata dos principais pecados conforme os estados sociais e
profissões de seus penitentes

TRATACTUS DE CONFESSIONE PERAGENDA DE SEBASTIÁN OTA


Tratado de confissão breve em latim, direcionado para confessores, escrita por encomenda
do bispo de Plasencia Gutierre de Toledo;
Tem como escopo a praticidade, parco nos temas teóricos, focando no exercício da
confissão.
En el caso de Sebastián Ota, a esa brevedad teórica le ayuda asimismo el hecho de
dirigirse a los confesores y no a los penitentes; da por supuesto que los penitentes no toman
parte activa en la dicción de los pecados, que se conforman con responder al interrogatorio del
confesor, punto en el que se aleja de la opinión de Talayero, quien considera un grave error la
confesión a base de las preguntas del confesor (433, 2006)

No caso de Sebastián Ota, essa simplicidade teórica dirigida aos confessores tem por
pressuposto que os penitentes não tomam parte ativa na fala dos pecados, que se conformariam
apenas em responder ao interrogatório confessional, ponto que se distanciaria de Talayero, que
considera um grande erro a confissão como base das perguntas do confessor; (trad, Thiago
Comelli)

Se preocupa também em acompanhar a relação dos pecados com a gravidade ou leveza


que cada penitente mereceria. Pecados mortais e capitais mais ou menos graves segundo as
circunstâncias;
“Si tuvo odio contra alguien y por el tempo que duró, el pecado será mortal si le deseó el
mal sin más, separándole de su oración; será venial, si deseó darle algún castigo mediano por
sus maldades; y no será pecado, si le deseó castigar llevado por el celo de la justicia”.
“Se tive ódio contra alguém, será pecado mortal no tempo em que durar. Será venial se
oferecer um castigo médio por suas maldades, e não será pecado se desejo castigar por zelo a
justiça”
Divide-se em quatro partes (fora um proemio com dados da obra, epistola prohemiales):
Um primeiro capítulo com a teoria fundamental, de apena uma página; o segundo, a prática
confessional e a ordem de interrogatório e a terceira com um interrogatório específico conforme
os estados e profissões. Por fim, traz quatro fórmulas de absolvição: comum, excomunhão,
plenária e dispensa de irregularidades;
Interrogatório de duas vertentes: uma geral e outra específica. Dez mandamentos, sete
pecados mortais. Para Ota, não há porque estender o confessionário, pois o excesso de palavras
obscureceria a compulsão e dor do penitente;
Não se trata de realizar dois interrogatórios separadamente, mas integrar o específico ao
geral, selecionando aquilo que afete o penitente na questão;

NOCIÓN DE PECADO

Figura de Deus como o centro. Se peca contra o próximo, contra a lei, contra si. Mas no
final, é apenas contra Deus. O mesmo vale com as boas ações
Ponto de vista social que valora se os atos são bons ou maus. O ato humano em sua
perspectiva ética é questionado na prática penitencial, em relação a um fazer ou deixar de fazer,
se cumpriu suas obrigações profissionais. Se for moralmente errado, será pecado contra Deus;
Não parte do pressuposto de desobediências de normativas humanas, mas divinas. Deve-
se obedecer a Deus, não aos homens.;
Século XV, clamores contra a ilusão teocrata de viver e normatizar a vida apenas pela
teologia, sem o Direito;
Constituições sinodais e conciliares. Preceitos humanos, não vinculantes ao pecado
mortal. Simples obrigação jurídica com a questão sub gravi expressa:    A lei e moral como coisas
divinas

LA IGNORANCIA PROTEGE DEL PECADO


Papel importante da consciência individual. Confissão que requer os ditados da
consciência, respondendo às perguntas sinceramente;
Consciência de ser pecador ligada a existência do ser humano. Homem nasce com a sina
do pecado, herança de Adão e Eva;
São Tomás de Aquino: Atuar contra a consciência é a primeira maneira de um pecado
venial se tornar mortal (sacramental, f. 32v)
Ignorância generalizada, interrogatório imprescindível para a integridade da confissão.
Ainda assim, se espera que o penitente saiba se confessar, primeiro passo para a absolvição.
Opiniões diversas entre os autores dos manuais confessionais, sobre quem deve ter a iniciativa;
Inclinação natural à maldade, efetivada pelo uso da razão = medo do conhecimento. Se
teme saber mais daquilo que sua profissão/estado social exige. Não que os laicos precisem ter um
conhecimento explícito da fé e suas nuances, “mas sim crer implicitamente, em suma, naquilo
que a Santa Igreja crê, tampouco investir mais do que os artigos de fé”

creer implícitamente y en una suma, la qual es creer todo aquello que cree la sancta y
catholica yglesia. Ni deuen mas inuestigar de los articulos de la ffe» (Libro de confesión de
Bartolomé TALAYERO, ms BNM 10571, f.73r)

Importante que os confessores não se excedam nos interrogatórios, especialmente no que


toca os pecados da luxúria, ensinando assim novos modos pecar;

E acerca desto [se refiere al pecado de lujuria] ha de ser auisado el confessor que
algunas cosas deue dexar de preguntar al penitente, en las quales entiende que no sabe pecar,
porque de otra manera seria dar ocasión que alli adelante pecasse en ellas (Incunable 1007, f.
5r.)
“E acerca disso (referente ao pecado da luxúria) deve ser avisado ao confessor que
algumas coisas não devem ser perguntadas aos penitentes, das quais este não saberia pecar, de
modo que seria então dar vazão para que dali em diante pecasse” (Incunable 1007, f. 5r., trad
Thiago Comelli)
Pecado como algo disponível, que segundo o conhecimento de cada um pode incidir ou
não;
Ao mesmo tempo que não está na consciência do crente individual em relação a Deus,
seus ofícios e outrem, está fora da consciência (o que fundamentaria não ensinar novas formas de
pecar);
Ignorância protege do pecado, sabedoria ensina a pecar. Precisa ser descoberto para ser
cometido.
Estados e ofícios mais seguros que outros, no que tange ao pecado (ADVOGADOS,
PECADOS DA LINGUA), Mercadores. Camponeses, por outro lado, mais seguros do
pecado. (p.438, 2006);
Segundo Martin Perez, são três os tipos de ofícios conforme seu perigo: os maus (dano
para si e para o próximo, prostitutas e histriões) mistos (mendigos e vendedores gerais) e
proveitoso para a alma e corpo (clérigos, labradores);

“En líneas generales, se puede afirmar que en esta literatura hay una espécie de
objetivación del pecado, como si el pecado vagara por ahí como una presa suelta, dispuesta a
ser cazada por quien sabe cazar. La conclusión viene dada: quien sabe pecar, puede pecar y peca
de hecho; quien no sabe pecar, no peca” (439, 2006)

Em linhas gerais, pode-se afirmar que nessa literatura há uma espécie de objetivação do
pecado, como se este vagasse solto e pronto para ser caçado por bons caçadores. A conclusão:
quem sabe pecar, pode pecar e peca. Quem não sabe, não peca

CLASES DE PECADOS

Foco nos pecados “atuais”, sendo o pecado original citado com a dupla intensão de
rememorar a condição natural de pecado do homem (Adão e Eva) e seu perdão total pelo batismo
pela redenção de Cristo;
Sete vícios capitais/mortais. Saligia, falas mnemotécnicas que usam os pastorais;
Pecados que podem ser mortais, mas ainda sujeitos a gradações, mais leves segundo as
circunstancias;
Importância de os sacerdotes confessores discernirem entre pecados veniais e
pecados mortais. Martin Pérez também chama atenção aos pecados criminais, sobre qual o
Direito impõe penas. Todos os criminais são mortais, mas nem todos os mortais são
criminais. De modo que os criminosos são uma gradação mais pecaminosa entre os mortais
(99 Libro de las confesiones, III, 43, p. 582.)
E conviene saber que ay três maneras de pecados, ca ay pecados veniales e pecados
mortales e pecados criminales , en referencia a los delitos sobre que el derecho pone penas Los
criminales son todos mortales, en cambio no todos los mortales son criminales, ca non son todos
tan graves

Raimundo de Penãfort ressalta que nem todos os pecados devem ser tidos como mortais,
devendo constar por escrito (escritura cierta lo que son);
Não necessariamente conhecer todos os pormenores, de modo que há sempre vazão para
criar novos pecados, ainda que as raízes permaneçam as mesmas. Ramos múltiplos da árvore dos
sete pecados mortais;
los pecados mortales son muchos e en diuersas maneras que non se pueden contar (os
pecados mortais são muitos e em diversas formas, que não se pode contar (Sacramental, f. 103r);
Pecados também presentes em casuísticas como os mais horrendos, específicos. Casos
reservados e que os simples confessores não podem absolver sem uma encomenda especial do
papa ou bispo;
Martín Perez assinala 55 casos de excomunhão maior, indicando se são reservados ao
papa ou bispo: dezesseis do Direito Antigo (Decretales de Gregório IX), vinte do libro sexto de
Bonifácio VIII e dezenove das constituições de Clemente V;

Además, el obispo podía y solía hacer comisión de sus casos, pero si esta encomienda era
genérica se entendía que era válida para todos, salvo para cinco, cuya encomenda debía ser
específica: «Otrosi es de saber que quando el obispo dize a algun clerigo: yo te comito todos mis
casos, puede aquel clerigo en todos los casos del obispo absoluer, saluo en cinco... aunque el
obispo cometa sus casos non se entiende destos saluo de los que nombro en special

Ademais, o bispo poderia comissionar os seus casos, ainda que fosse encargo genérico. 5
eram exceções, encargos tidos como específicos: “outrossim, é de se saber que quando o bispo
disser para algum clérigo: eu lhe entrego todos os meus casos, o clérigo poderá absolver todos,
salvo cinco, intransitáveis e específicos ao bispo” (107 Ms BNM 4202, ff. 130va-131ra.)    

A maior ou menor gravidade do pecado virão pelo ato em si e por oito características que
afetam o pecado e pecador: quem, o que, onde, por meio de quem (colaboradores), quantas vezes,
por que, de que modo, quando. Atenções às circunstancias que acompanhavam a confissão, de
modo a se poder estimar a gravidade do pecado e impor a penitencia adequada;

Martín PÉREZ (Libro de las confesiones, 3, 43; p. 582) considera tres clases de pecados:
veniales, mortales y criminales, reservando estos últimos para los delitos: «E conviene a saber
que ay tres maneras de pecados, ca ay pecados veniales e pecados mortales e pecados
criminales... Pecados criminales son aquellos sobre que el derecho pone penas corporales e
espirituales, e de que el pecador em juyzio puede ser acusado e a pena corporal o espiritual
condenado

Manuais de confessores que ainda tratavam indistintamente os sete pecados mortais,


capitais e sete raízes. Segundo Delumeau, os teólogos ainda ensaiavam formas de distinguir e
classificar os pecados e suas raízes. De modo que raiz, vicio e pecado as vezes poderiam
significar ou não o mesmo, conforme o contexto;
Pecados que mais ocupavam espaço eram da avareza e luxúria. Ainda que o primeiro
pecado na ordem da salicia seja a soberba, não é o que os tratadistas se debruçam mais;
Luxúria tratada com mais receio, mais cautela e menos detalhes. Medo de ensinar novas
formas de pecar;
Quanto a avareza, é detalhada mais pormenorizadamente em virtude de suas vertentes:
simonia e usura. Para Martín Perez, após o interrogatório que procede a confissão do penitente,
deve iniciar as perguntas sobre a avareza e a luxuria, por serem os pecados mais recorrentes entre
os homens. Na mesma toada vai Bartolomé Talayero ao considerar que os três pecados principais
seriam a luxuria, soberba e avareza, por orientarem as três partes da satisfação/tributo: jejum
contra luxúria, oração contra o orgulho e esmola contra a ganância;

PECADOS QUE SE DEBEN SOMETER A CONFÉSION


Autores de acordo que se deve confessar todos e cada um dos pecados mortais juntamente
com as circunstancias que mudam e distinguem o ato de pecar conforme o agente;
Quanto os pecados que não mudam de espécie, há divergências. Para alguns a confissão
seria necessidade, para outros útil e conveniente, mas não necessidade (Guido de Monte Rotério,
Manipulus curatorum, f. 178-180)
Já Sebastian Ota considera que devem ser confessadas expressamente as circunstancias
que agravariam o pecado, incluindo detalhes menores (como, quando, por que);
Já no que diz respeito aos pecados veniais, a opinião é variada. Alguns não    julgam a
confissão de, outros (Raimundo Peñafort) preferem a forma mais completa, mais segura;
Para Martin Perez, três casos fazem necessários a confissão dos veniais: Quando há
duvida de que são mortais/veniais; seguindo a constituição lateranense (Omnis utriusque sexus
fidelis) e quando passam de veniais para mortais (grande deleite, muito consentimento na
comissão pecaminosa e habitualidade);
Alguns autores consideram que alguns veniais não precisam ser confessados, havendo
muitas outras maneiras de serem perdoados, mais simples que a confissão ou confissão geral.
Porém, o mais seguro seria confessar tudo (imprecisões vistas na obra de Clemente Sanchez);
De modo que não há um imperativo de se tratar ou não deles na confissão, sendo uma
porta mais ou menos aberta. Sem unanimidade por parte dos canonistas. De modo que apenas os
pecados mortais seriam matéria obrigatória na confissão;
Exepcionalmente, pode impor-se obrigatório, como no caso da confissão anual
(obrigatória, ainda que o penitente não tenha incidido em pecado mortal). Nesse caso, o
imperativo seria a confissão em si, e não realiza-la seria incidir em pecado mortal (sub gravi);

LA GRAN CIRCUNSTANCIA DE LA NOTORIEDAD

Aparência, externalização. Agravante objetiva, uma socialização do pecado;


Notoriedade, judicialização e “desteologização” do pecado. Exclusão da comunidade
eclesiástica, da sociedade cristã de maneira geral. Mais agravantes do que os outros pecados, que
eram entre Deus e o sujeito, sem intervenção obrigatória da Igreja, sem sociabilidade
propriamente dita do escândalo;
Dinâmica que faz com que passe a ser delegado a Igreja todos os pecados, internos e
externos. Pensamento, palavra e obra. Todo pecado contra Deus passa a ser um pecado contra a
Igreja. Ainda assim, o ódio e rancor externalizado é mais reprimível e danoso que o desejo
criminal não posto em prática, subjetivo;
Notoriedade como fundamento para a expiação e penitencia pública. Quatro razões,
segundo a Sacramental, f.99v: Se o pecado é público, ameaça o bem público; segundo, que
padeça de grande vergonha e seja mal falado quem pecou; a terceira, que sirva de exemplo e
castigo para quem veja; a quarta, que se torna público que é possível o arrependimento; Paralelos
entre gravidade X publicidade;
A publicidade faz do pecado um crime, notório e um exemplo que pode ser copiado por
outros. De modo que uma expiação pública seria o remédio, tão visível quanto a notoriedade do
ato em seu tributo penitencial;

CONTROL A TRAVÉS DEL PECADO, DE LA CONFESIÓN Y DEL PERDON

Controle total dos fiéis pela Igreja, psicológico e político. Vida interior e exterior, família,
círculos sociais e sociedade: vizinhos, pais, estranhos, aspectos recreativos, festas. Controle anual
e cotidiano com as rezas nas horas, assistência aos doentes, missas dominicais, exemplos de vida
e afins;
Tratamento particularizado do perdão do pecado. Perdão de Deus e perdão da Igreja. O
primeiro, exige constrição e internalização e autenticidade e já acontece antes mesmo da
confissão; A igreja, atende a manifestação do arrependimento, externalização, reconcilia o fiel
com a Igreja e pode ser enganada;
De modo que só se efetiva o perdão com o registro, a Igreja possui a chave. Só se efetiva
o arrependimento ipso facto por um ministro autorizado;
Perdão não é total, precisa da penitencia. O tributo para a culpabilidade, verdadeiro
purgatório de limpeza, caminho transitório entre o céu ou inferno. Conotação negativa, que deve
ser evitado, para que o penitente agilize seus perdões, pratique as esmolas, impulsionar doações,
pagar sua pena, para que se limpe com completude o quanto antes, indo diretamente ao céu, sem
pedágios;

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