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1.

REMUNERAÇÃO
Deriva de remuneratio, do verbo ‘remunerar’. A palavra é composta
de ‘re’, que tem sentido de reciprocidade, e muneror, que indica
recompensar.

Salário deriva do latim salarium. Vem de sal, do latim salis; do grego,


hals. Sal era a forma de pagamento na época das legiões romanas 1.
Posteriormente, foram sendo empregados outros meios de
pagamento de salários, como óleo, animais, alimentos, peles, etc..

Vários nomes são empregados para se referir ao pagamento feito por


aquele que recebe a prestação de serviços àquele que os presta.

 Usa-se a palavra ‘vencimentos’ para denominar a remuneração


dos professores, magistrados, funcionários públicos.
 Ultimamente tem sido utilizada a palavra ‘subsídio’ para
designar a remuneração dos magistrados (Art. 95, III, da CF).
Subsídio era o pagamento feito a quem exercia cargo eletivo.
 ‘honorários’ em relação aos profissionais liberais.
 ‘soldo’, para os militares.
 ‘ordenado’, quando prepondera o esforço intelectual do
trabalhador em relação aos esforços físicos.
 ‘salário’, para os trabalhadores que não desenvolvem esforço
intelectual, mas apenas físico.
 ‘proventos’, para estabelecer o recebimento dos aposentados.
 algumas leis salariais utilizam a palavra ‘estipêndio’, que é
derivada do latim stipendium (soldo, paga) de stips (moeda de
cobre) e pendere (pesar, pagar).

O Art. 457, da CLT, refere-se ao termo ‘remuneração’, que se


constitui num conjunto de vantagens, compreendendo:

 o valor pago diretamente pelo empregador ao empregado, que


é o salário.

1
Durante a República e certos períodos do Império Romano, não havia um exército
romano propriamente dito. Cada general, ou alto magistrado, possuía uma ou mais
legiões que lhe eram fiéis e obedeciam antes as suas ordens que as de um
comandante geral.
Durante a República, cada cônsul era responsável por suas próprias legiões,
devendo também comandá-las.
As legiões romanas venceram gregos, cartagineses, gauleses, bretões, sírios,
egípcios, lusitanos e hispânicos. Sua força ocupou dez mil quilômetros de fronteiras
e saiu da Europa rumo à África e ao Oriente Médio: eram os grupos de guerreiros
que formavam o exército do império. Em seu auge, Século I a.C., organizadas para
realizar manobras bastante difíceis, cada legião tinha até seis mil homens
distribuídos em três grandes grupos: as cortes, os manípulos e as centúrias. Suas
duas maiores lições são copiadas, até hoje, pelos exércitos do mundo todo:
disciplina e estratégia.
 mais o pagamento feito por terceiros, que corresponde às
gorjetas.

O salário surge como forma de transformação do regime de trabalho


escravo para o regime de liberdade de trabalho.

Salário é a totalidade das percepções econômicas dos trabalhadores,


qualquer que seja a forma ou meio de pagamento, quer retribuam o
trabalho efetivo, os períodos de interrupção do contrato e os
descansos computáveis na jornada de trabalho.

Não integram o salário:

 as indenizações, inclusive as diárias e ajudas de custo.


 os benefícios e complementações previdenciárias.
 os recolhimentos sociais e parafiscais.
 os pagamentos de direitos intelectuais.
 e outros pagamentos não considerados salário por lei.

Indenizações diferem dos salários pela sua finalidade, que é a


reparação de danos ou o ressarcimento de gastos do empregado,
como as diárias e ajudas de custo, as indenizações adicionais de
dispensa, dentre outras.

1.1. Conceito
O Art. 457, da CLT, não define remuneração ou salário, mas apenas
enuncia os elementos que o integram, pois utiliza a expressão
compreendem-se na remuneração do empregado [...].

CLT - Art. 457 - Compreendem-se na remuneração do empregado, para


todos os efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo
empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que
receber.   

Remuneração é:

 o conjunto de prestações recebidas habitualmente pelo


empregado.
 pela prestação de serviços.
 seja em dinheiro ou em utilidades.
 proveniente do empregador ou de terceiros (salário +
gorjetas).
 mas decorrentes do contrato de trabalho.
 de modo a satisfazer suas necessidades básicas e de sua
família.
Essa remuneração tanto pode ser em dinheiro, como em utilidades,
de maneira que empregado não necessite comprá-las, fornecendo, o
empregador, tais coisas.

CLT - Art. 458 - Além do pagamento em dinheiro, compreende-se no


salário, para todos os efeitos legais, a alimentação, habitação, vestuário
ou outras prestações "in natura" que a empresa, por força do contrato
ou do costume, fornecer habitualmente ao empregado. Em caso algum
será permitido o pagamento com bebidas alcoólicas ou drogas
nocivas.                    
§ 1º - Os valores atribuídos às prestações "in natura" deverão ser justos
e razoáveis, não podendo exceder, em cada caso, os dos percentuais
das parcelas componentes do salário-mínimo (art. 81 e 82).      
           
A natureza salarial do pagamento não ocorre apenas quando haja
prestação de serviços, mas nos períodos em que o empregado está à
disposição do empregador, durante os períodos de interrupção do
contrato de trabalho ou outros que a lei indicar (férias, faltas
justificadas, etc.). Inexiste, portanto, rígida correlação entre o
trabalho prestado e o salário pago.

 o salário integra a remuneração, e não o contrário.


 se constitui num conjunto de parcelas contraprestativas pagas
pelo empregador ao empregado.
 em função do contrato de trabalho.
 a que se dá o nome de ‘complexo salarial’.

Exemplo:

 salário básico.
 comissões.
 percentagens.
 gratificações habituais.
 Abonos.
 13o. salário.
 adicionais.

Há, por outro lado, parcelas pagas ao empregado, porém de natureza


não-salarial:

 de natureza indenizatória:
Ex: diárias para viagens, ajudas de custo, vale-transporte,
indenização de férias não gozadas, de aviso prévio indenizado,
de indenização por tempo de serviço, indenização especial por
dispensa no mês anterior à data-base (Art. 9º., da Lei n.
7.238/84; Súmulas 1822, 2423 e 3144, do TST), as indenizações
convencionais ou normativas por dispensa injustificada, as
indenizações por ruptura contratual incentivada, a indenização
por não recebimento de seguro desemprego, indenizações por
dano moral (Art. 5o., V e X, da CF) e por dano material (Art.
7o., XXXVIII, CF).
 de natureza meramente instrumental:
Ex: bens ou serviços ofertados pelo empregador ao empregado,
como são os casos dos vestuários, uniformes, equipamentos de
proteção individual (§ 2o., do Art. 458, da CLT), educação,
saúde, transporte para o trabalho e retorno, seguro de vida e
de acidentes pessoais, previdência privada (Art. 458, § 2 o., da
CLT; Lei n. 10.243/2001).

§ 2º. As importâncias, ainda que habituais, pagas a título de ajuda de


custo, limitadas a cinquenta por cento da remuneração mensal, o
auxílio-alimentação, vedado o seu pagamento em dinheiro, as diárias
para viagem e os prêmios não integram a remuneração do empregado,
não se incorporam ao contrato de trabalho e não constituem base de
incidência de encargo trabalhista e previdenciário. 

 pagas a título de direito intelectual:


Ex: trata-se dos direitos resultantes da propriedade intelectual
em sentido amplo, em que se englobam o direito do autor (Art.
5o., XXVII e XXVIII; XXXIX, da CF, e Lei n. 9.279/96, Lei n.
9.609/98)
 parcelas de participação nos lucros empresariais:
 parcelas previdenciárias:
Ex: parcelas oriundas da previdência oficial e pagas ao
empregado através do empregador, bem como as parcelas
previdenciárias oriundas do sistema previdenciário
complementar, quer pagas diretamente pela empresa, quer
pagas diretamente por entes previdenciários privados
específicos, mas com garantia assumida pelo empregador. Os
2
SÚMULA 182-TST - AVISO PRÉVIO. INDENIZAÇÃO COMPENSATÓRIA. LEI Nº
6.708, DE 30.10.1979 (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003. O
tempo do aviso prévio, mesmo indenizado, conta-se para efeito da indenização
adicional prevista no art. 9º, da Lei nº 6.708, de 30.10.1979.
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SÚMULA 242-TST - INDENIZAÇÃO ADICIONAL. VALOR (mantida) - Res.
121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003
A indenização adicional, prevista no art. 9º, da Lei nº 6.708, de 30.10.1979 e no
art. 9º, da Lei nº 7.238, de 28.10.1984, corresponde ao salário mensal, no valor
devido na data da comunicação do despedimento, integrado pelos adicionais legais
ou convencionados, ligados à unidade de tempo mês, não sendo computável a
gratificação natalina.
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SÚMULA 314-TST - INDENIZAÇÃO ADICIONAL. VERBAS RESCISÓRIAS. SALÁRIO
CORRIGIDO (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003. Se ocorrer a
rescisão contratual no período de 30 dias que antecede à data-base, observado a
Súmula nº 182, do TST, o pagamento das verbas rescisórias com o salário já
corrigido não afasta o direito à indenização adicional prevista nas Leis nº 6.708, de
30.10.1979 e 7.238, de 28.10.1984.
dois exemplos clássicos de parcelas previdenciárias oficiais
pagas através do empregador são o salário-família e o salário-
maternidade.
 parcelas pagas ao empregado por terceiros:
Ex: as gorjetas, os honorários de sucumbência do advogado
empregado (Art. 21, da Lei n. 8.906/94), retribuição por
publicidade (usualmente estipulada em contratos de artistas e
de atletas profissionais).

CLT – Art. 458 –


§ 2o - Para os efeitos previstos neste artigo, não serão consideradas
como salário as seguintes utilidades concedidas pelo
empregador:                        
I – vestuários, equipamentos e outros acessórios fornecidos aos
empregados e utilizados no local de trabalho, para a prestação do
serviço;                          
II – educação, em estabelecimento de ensino próprio ou de terceiros,
compreendendo os valores relativos a matrícula, mensalidade, anuidade,
livros e material didático;                        
III – transporte destinado ao deslocamento para o trabalho e retorno,
em percurso servido ou não por transporte público;                    
IV – assistência médica, hospitalar e odontológica, prestada diretamente
ou mediante seguro-saúde;                     
V – seguros de vida e de acidentes pessoais;                   
VI – previdência privada;                     
VII – (VETADO)                    
VIII - o valor correspondente ao vale-cultura. 

Também não integram o salário:

§ 5o - O valor relativo à assistência prestada por serviço médico ou


odontológico, próprio ou não, inclusive o reembolso de despesas com
medicamentos, óculos, aparelhos ortopédicos, próteses, órteses,
despesas médico-hospitalares e outras similares, mesmo quando
concedido em diferentes modalidades de planos e coberturas, não
integram o salário do empregado para qualquer efeito nem o salário de
contribuição, para efeitos do previsto na alínea q, do § 9o, do art. 28, da
Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991. 

                          
1.2. Elementos da remuneração
São elementos da remuneração:

 Habitualidade:
É o elemento preponderante para se saber se o pagamento
feito pode ou não ser considerado como salário ou
remuneração.
O contrato de trabalho é um pacto de trato sucessivo, em que
há a continuidade na prestação de serviços e, em
consequência, o pagamento habitual dos salários.
Art. 458, da CLT, realça que só se considera o salário in natura
quando há habitualidade no fornecimento das utilidades. A
jurisprudência mostra que um dos requisitos para se considerar
se determinada verba tem ou não natureza salarial é a
habitualidade.

CLT - Art. 458 - Além do pagamento em dinheiro, compreende-se no


salário, para todos os efeitos legais, a alimentação, habitação, vestuário
ou outras prestações "in natura" que a empresa, por força do contrato
ou do costume, fornecer habitualmente ao empregado. Em caso algum
será permitido o pagamento com bebidas alcoólicas ou drogas
nocivas.                 
§ 1º - Os valores atribuídos às prestações "in natura" deverão ser justos
e razoáveis, não podendo exceder, em cada caso, os dos percentuais
das parcelas componentes do salário-mínimo (art. 81 e 82).

 Periodicidade:
Irá depender de certos critérios objetivos previstos em lei,
contudo o pagamento somente é exigível após a prestação dos
serviços.
 Quantificação:
A remuneração deve ser quantificável5. O empregado deve
saber quanto ganha por mês, de acordo com certos padrões
objetivos6. O salário-base não pode ser pago mediante
condição. O obreiro não pode ficar sujeito ao pagamento de
seus salários de acordo com critérios aleatórios, pois na
contratação deve-se ter certeza do valor a ser pago mediante
salário.
O risco do empreendimento deve ser do empregador, de forma
que o trabalhador não pode ficar na dependência de receber
salários apenas se o empregador vender suas mercadorias ou
obtiver lucro na exploração de seu negócio.

CLT - Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou


coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite,
assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço.
CLT - Art. 460 - Na falta de estipulação do salário ou não havendo prova
sobre a importância ajustada, o empregado terá direito a perceber
salário igual ao daquela que, na mesma empresa, fizer serviço
equivalente ou do que for habitualmente pago para serviço semelhante.

 Essencialidade:
5
OJ-SDI1-358 - SALÁRIO MÍNIMO E PISO SALARIAL PROPORCIONAL À JORNADA
REDUZIDA. POSSIBILIDADE. DJ 14.03.2008. Havendo contratação para
cumprimento de jornada reduzida, inferior à previsão constitucional de oito horas
diárias ou quarenta e quatro semanais, é lícito o pagamento do piso salarial ou do
salário mínimo proporcional ao tempo trabalhado.
NOTA: OJ significa ‘Orientação Jurisprudencial’ do TST.
6
SÚMULA 91-TST - SALÁRIO COMPLESSIVO (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20
e 21.11.2003. Nula é a cláusula contratual que fixa determinada importância ou
percentagem para atender englobadamente vários direitos legais ou contratuais do
trabalhador.
Entretanto, pode-se dizer que uma parte do que o empregado
recebe pode decorrer de tais fatores, como ocorre com a
participação nos lucros ou resultados, mas não na sua
totalidade.
É vedado o pagamento do ‘salário complessivo’ 7, isto é o
pagamento englobado, sem discriminação de verbas pagas,
como de salário e horas extras.8

Súmula n. 91 do TST - Salário complessivo


Nula é a cláusula contratual que fixa determinada importância ou
percentagem para atender englobadamente vários direitos legais ou
contratuais do trabalhador.

7
Pagamento de salário complessivo é proibido por lei trabalhista.
O empregado tem o direito de saber quanto e o quê, exatamente, está recebendo.
Por isso, o pagamento da remuneração mensal englobada em uma única parcela,
sem discriminação das verbas, mais conhecido como salário complessivo, é proibido
pela legislação trabalhista. A questão já foi pacificada pela Súmula 91 do TST,
aplicada pela 3ª Turma do TRT-MG, para negar provimento ao recurso da empresa
reclamada. 
No caso, a ré não se conformava em ter que pagar ao trabalhador, por todo o
período do vínculo de emprego, valor referente ao aluguel de sua motocicleta
utilizada no serviço. A empresa insistia na tese de que a diária quitada ao
empregado englobava também a locação da moto. Mas o juiz convocado Márcio
José Zebende não se convenceu com o argumento e manteve a decisão de 1º
grau. 
Analisando o processo, o relator constatou que o reclamante recebia um valor
diário como pagamento de todas as obrigações trabalhistas, sem especificação de
parcelas, o que caracteriza salário complessivo. O magistrado esclareceu que a
Súmula 91 do TST considera nula cláusula contratual que fixe determinada
importância englobando vários direitos legais ou contratuais do trabalhador, como
na hipótese. O juiz convocado lembrou ainda que, na forma do artigo 464 da CLT, o
empregador é quem tem que provar que remunerou corretamente os serviços do
empregado. 
Acompanhando o relator, a Turma manteve a sentença que deferiu ao reclamante o
pagamento do aluguel da moto, por todo o vínculo de emprego. (RO 0001826-
54.2011.5.03.0006) - Fonte: Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região.
8
O salário complessivo é a remuneração descrita em contracheque como verba
única, sem especificação das parcelas que a compõem, impossibilitando que o
empregado saiba, exatamente, quanto está recebendo a cada título, bem como que
verbas lhe foram pagas. Trata-se de prática não aceita pelo Direito do Trabalho
brasileiro. Mas, apesar da proibição, as ações que chegam à Justiça do Trabalho
mineira revelam que essa prática irregular ainda é adotada por muitos
empregadores. Exemplo disso é a ação ajuizada perante a Vara do Trabalho de
Muriaé, que foi julgada pelo juiz substituto George Falcão Coelho Paiva.
Na ação, o trabalhador postulou a condenação da transportadora ao pagamento das
diárias não recebidas durante o período contratual. Em defesa, a transportadora
afirmou que pagou corretamente as diárias. Segundo a empresa, o reclamante já
recebia, implicitamente no holerite, a verba para despesa de viagem, cuja
comprovação não era necessária para o reembolso. Conforme alegou a
transportadora, em abril de 2006, o reclamante teria recebido R$ 600,00, a título
de ajuda de custo, e que, no mês seguinte, o empregado teria recebido novamente
essa ajuda de custo, o que resultou em aumento do seu salário para R$ 1.566,58.
Porém, as alegações patronais não convenceram o julgador.
 Reciprocidade:
Caracteriza o caráter sinalagmático da relação de emprego, dos
deveres e obrigações a que o empregado e o empregador estão
sujeitos. O empregador tem que pagar os salários pactuados
em razão dos serviços que foram prestados pelo empregado, os
quais também foram alvo de pacto (salário e trabalho). O
empregado tem a obrigação de prestar serviços para receber os
salários correspondentes.

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