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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA FILHO” (UNESP)

FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS, DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA – câmpus


de Assis
CURSO DE GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA (LICENCIATURA)

Disciplina: História Medieval II


Professor Responsável: Leandro Alves Teodoro

ALUNO: Thiago Pereira Camargo Comelli

BARUQUE, Julio Valdeón, LA CORTE EN CASTILLA EN LA ÉPOCA


TRASTÁMARA, Localización: Aragón en la Edad Media, ISSN 0213-2486, (Ejemplar
dedicado a: Homenaje a la profesora Carmen Orcástegui Gros), págs. 1597-1608, Nº 14-15,
2, 1999 

INTRODUÇÃO
 Cortes da Castela medieval. Fontes de Alfonso X, o Sábio (Las Partidas). Lugar
onde está o rei, seus vassalos e oficiais, com o dever de aconselhar e servir (título IX, ley
XXVII); (p.1597)
 Outros que chegavam até ali por honra, ou alcançaram o direito para tanto, ou
venham a ter com o Rei. Círculo que aumentava ao incluir personalidades diversas;
 Palavra Corte, cohors (latim), companhias juntadas para honrar e guardar o rei e o
reino. Curia, onde todos encontram seus direitos segundo seu estado de direito. Onde se tomam
as medidas necessárias para resolver pendências, partindo do pressuposto que todos os naturais
do reino recebam a justiça correspondente;
 El Espéculo, Corte como a sede do soberano, onde recebe os serviços de seus
vassalos, centro neurálgico de transmissão da justiça, garantia de que as leis serão cumpridas e
preservação da paz entre os reinos (p.1598);
 Dinastia Trastâmara (1369 com Enrique II até começo do séc. XVI), fontes de
difícil interpretação. Cadernos de Corte, abundantes referencias sobre a vida institucional, oficiais
que dela fazem parte e suas funções. Riqueza de informações a partir do reinado dos reis
católicos. Quitações de corte, registros de chancelaria, mercês e privilégios do Arquivo de
Simancas oferecem amplas informações sobre oficiais de cortes e suas atividades;
 Importante entender as singularidades de Casa y corte, temas tratados comumente
pela historiografia como algo único, duas instituições que tiveram vida paralela, ainda que difícil
assinar os limites entre ambas (p.1598-1599);
 Raízes visigóticas, asturleonesas (Palatium) e Curias do século XI a XIII das
cortes trastâmaras. No Palatium visigodo e Cúrias, havia vassalos do rei exercendo funções tanto
privadas como públicas, ainda não tão bem distintas. Órgão de representação política e social, o
palácio visigodo foi evoluindo paulatinamente até se converter num órgão técnico-administrativo
do governo dos reinos, aspecto característico das Cortes dos reis católicos (p.1599);
 Termos relativos às realidade próximas da Curia y corte: El rastro (territórios
contíguos à residência régia); Real (vinculado a ação militar, acampamento que o monarca dirigia
a guerra); Palacio (derivação de Palatium, mas com conotação distinta). Cortes oriundas de
reuniões extraordinárias da Cúria regia, e em certa medida reconheciam a ideia de representação
social da comunidade, ao supor um encontro entre o reino e o rei;
 Porém, o termo mais aproximado de Corte é Casa, expressões recorrentemente
utilizadas juntas em escritos baixo-medievais (séc.XV, Cortes de Madrid de 1435, mi casa y corte
y chancelaria). Corte ligada a chancelaria no que tange o exercício da justiça;
 Corte contando com dois elementos básicos: um territorial, outro funcional.
Onde o rei está, está a corte e vice versa. Caráter itinerante das Cortes medievais, ainda que os
monarcas mostrassem preferências por determinados lugares. No transcurso do séc. XV, houve
uma movimentação entre os vértices do triângulo Burgos, Valladolid e Madrid, com o
estabelecimento da chancelaria em Valladolid na metade do século (p.1600;
 Na época Trastâmara a Corte incluía, de certa maneira, a Casa (essa funcionando
no séc. XIII como germe da administração central dos reinos, integrada por oficiais do rei que
desempenhavam tarefas privadas e públicas). Panorama que muda com o passar do tempo, com
as Cortes cada vez mais se identificando com a organização administrativa central.
 Desde meados do séc. V a Corte aparece claramente como elemento
essencialmente público (núcleo globalizador), enquanto a Casa se situava no âmbito privado
(p.1600);

 OFÍCIOS DA CORTE

 Linhas de evolução dos ofícios de Corte. 1371, Enrique II (primeiro monarca


Trastâmara). Aprovação de um ordenamento de chancelaria que falava dos ofícios do rei. No
texto, há uma distinção entre oficiais da Casa e oficiais de fora da Casa (1601). Oficiais com
jurisdição (mordomo maior, notário maior, alcalde e alguacil maior) e sem jurisdição (mordomo,
copeiro, porteiro);
 A segunda linha é situada em 1412, com Fernando de Antequera (Caspe rei de
Aragão), deixando a Corte de Castela organizada (onde havia sido regente com Catalina de
Lancaster). Para a rainha, havia ficado a repartição do ofício de Chancelaria. Relação de oficiais
mencionados não são da Casa, mas sim da Corte, conforme evidencia as crônicas de Juan II;
 1436, Ordenanças de Guadalajara aludem a outros ofícios de Casa, Corte e
Chancelaria. Diversos oficiais, sendo dominantes as referências aos da Corte. Conjunto da
administração dos organismos de administração central ligados a Corte, e Casa mais “apagada”;
 Quanto aos reis católicos, claridade na diferenciação entre oficiais da Corte e
oficiais da Casa, segundo estudos de Concepción Solano em seu trabalho sobre oficiais de Casa e
Corte com base nos arquivos gerais de Simancas. De modo que a esfera do público aparece, nos
finais do séc. XV, ligada à Corte, enquanto a Casa ao âmbito privado (p. 1601);
 Ofícios atribuídos a Corte no séc. XV (pelo processo de público-privado de
identidade que haviam chegado);
 a) Chancelaria: Organismo no qual se confluía o rigor técnico com a atividade
burocrática, núcleo central da administração pública dos reinos. Exercia tarefas variadas:
Redação de documentos reais, adequações de Direito, autenticação por selos, registros e
expedição. Tem origem antiga, e vai ganhando complexidade. Notários maiores, notários
públicos, escrivães e secretários. É de se ressaltar que na Castela do séc.XV, esses ofícios de
chancelaria eram função de pessoas com formação universitária, técnicos em legislações (p.
1602)
 b) Justiça: juízes ordinários, oficiais de justiça adscritos à Corte, ofícios
originários das medidas de Alfonso X (Zamora, 1274). Em Toro (1371) se fixou o número de 8
juízes (alcaldes) ordinários do reino (dois para Castela, Leão e Estremaduras e um para Toledo e
Andaluzia). Exercício da justiça vai se diversificando no baixo-medievo, de modo que surgem
alcaldes com funções específicas (de trilhas, de fidalgos);
 Criação da Audiencia, tribunal supremo de Castela, cuja regulação começou nos
tempos de Enrique II (Cortes de Toro, 1371). Projetava-se sobre assuntos civis, composto por
oito ouvidores. Fixa-se permanentemente (primeiro Segovia 1390, depois Valladolid em 1442),
ruptura institucionalizada com o caráter itinerante das Cortes, adquirindo assim caráter sedentário
(1602);
 Conselho real, ainda que já exibisse seus traços na antiga Cúria régia, foi regulado
no ano de 1385 por Juan I. Inicialmente, constituía-se de 12 membros, quatro para cada
estamento. Em 1387, os conselheiros de estamento citadino foram substituídos por letrados
(entenda-se profissionais do Direito). Já em 1459, Enrique IV decide que dos 12 conselheiros, 8
deveriam ser letrados. De modo que o Conselho era composto por políticos (representantes
estamentais das camadas privilegiadas, grupo em declive) e os doutores, autêntico nervo da
instituição (p. 1603);
 Quanto aos altos oficiais da fazenda régia, desde o século XIV, constituíam os
representantes do organograma da gestão financeira dos reinos. Frente ao tesoureiro maior (ofício
em retrocesso) surgem os contadores maiores, ofício ligado a criação da Casa de Cuentas de
Castela, da época de Enrique II tomando como modelo a francesa. Se instala em Valladolid
durante o reinado de Juan II, passo importante para a institucionalização do aparato capital do
reino;
 C) Exército: Grande complexidade, alguns ligados a Casa (lanceiros
acompanhantes do rei) e Corte (altos oficias do baixo-medievo, mariscales, almirantes). Oficiais
que substituíram o ofício de alferes régio. Condestable, delegados (ofício de origem francesa),
espécie de chefe supremo do exército, com indiscutível dignidade cortesã. Perda paulatina de
uma significação estritamente política (almirantes Enríquez, Velascos condestables);
 Aguacil (espécie de xerife do rei), oficial executivo ao qual cabia por em prática as
decisões dos tribunais, bem como proteção da Corte (1603-1604);

 FUNÇÕES DA CORTE

 Corte terrena que se assemelha a celeste. Reino de Deus como um arquétipo,


segundo o professor García Pelayo, para o mundo político baixo-medieval. Rei vicário de Deus
(conforme as Partidas), que organizava seus domínios sob arranjos que supunha existirem no
mundo celestial (p. 1604);
 Crônicas entre 1369 até finais do séc. V oferecendo um vislumbre de como as
Cortes funcionavam. Lugar onde se tinha acesso ao poder. O abandono da corte, por sua vez,
presume-se como abandono do poder, perda da autoridade, conforme traz Pedro Lopes de Ayala.
Estar na Corte, nas “estradas do rei” era imprescindível para adquirir quaisquer capacidades de
mando;
 Não obstante, são recorrentes as queixas de excesso de pessoas na Corte, bem
como vozes de protesto pelo gasto excessivo que geravam;
 Dentre as numeras funções, cabiam às tréguas, editos, recepção de visitantes
ilustres, administração da justiça. Juan II, por exemplo, entendia que tudo restaria tranquilo em
seus reinos depois de promulgar pela Corte e reinos a maneira de proceder (p. 1605);
 Cabia também a recepção de personalidade famosas, embaixadores, arcebispos e
afins;
 No que tange a justiça das Cortes, deve ser entendida também como situações
excepcionais nas quais o rei decidia tomar atitudes, transformando-a em plataforma de exercer a
justiça, além das exercidas pelos alcaldes.
 Alternância entre momentos de festa, pesares, bodas, lutos. Um organismo vivo
que se conectava a realidade, sismógrafo dos vaivéns da política castelhana trastamarista.
Portanto, evoluiu no compasso das trocas e mudanças do poder real;
 Monarca que se transformava de dirigente guerreiro/juiz e caudilho para um
governante político. Na mesma toada, a Corte deixava de ser o cenário no qual os vassalos se
dirigiam para prestar serviços ao senhor, para converter-se no âmbito no qual se efetuava o
governo dos reinos (p. 1067);
 Gestação do “Estado Moderno”, no qual se projetava o protagonismo de
profissionais do Direito e letrados. Funções de governo que se tornavam mais técnicas, maior
eficiência e racionalidade na administração e burocracia de governo. A Corte trastâmara reflete
em sua própria história a transição ao Estado Moderno (p. 1607).

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