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Texto acerca dos artigos 131, 133, 134 e 136 do Código Penal:

1) Perigo de contágio de moléstia grave (artigo 131, CP): Destarte,


podemos ressaltar aqui o fato de o portador de uma doença grave
deseja contagiar dolosamente outrem. Fica evidente neste tipo penal a
objetividade de transmitir um mal, mal este que não apenas gera um
perigo para a vítima imediata, mas para outras que possam vir a se
relacionar com a mesma. Com isso, fica evidente aqui o grau de
periculosidade, pois devemos considerar que a própria vítima pode
demorar para perceber que contraiu uma doença, tempo este no qual
pode acabar passando para outros, sem o caráter de dolo do portador
doloso. Conclui-se com isto que é afastado o delito quando o agente não
possui o intuito de produzir o contágio. Embora seja um crime de perigo,
o dolo é de dano;

Com moléstia grave, podemos entender como uma doença séria que
vem a causar sequelas e até óbito do portador caso não sejam tomadas
as devidas médicas. Vale ressaltar que a moléstia grave pode ser
transmitida por ato libidinoso, desde que não seja venérea (a forma
venérea encontra-se expressa no artigo 130).

2) Abandono De Incapaz (artigo 133, CP): Trata-se do ato de abandonar


uma pessoa que esteja sob o cuidado, guarda, vigilância ou autoridade e
que seja incapaz de se defender dos riscos que provenham do
abandono.

Ressalta-se aqui os fatores agravantes (formas qualificadas)


expressos nos §1° (casos nos quais se resulta uma violência corporal de
natureza grave do abandono) e §2° (casos nos quais se resulta morte do
abandono do incapaz). Ambos os casos são crimes preterdolosos
(devendo haver culpa no resultado mais gravoso causado)

Quanto ao §3°, vemos hipóteses de aumento da pena em um terço em


casos do abandono ocorrer em local ermo (deserto, desabitado), se o
agente que abandona for ascendente, descendente, cônjuge, irmão,
tutor ou curador da vítima ou se a vítima for maior de 60 anos ou em
casos de abandono/exposição de recém-nascido.

O bem jurídico protegido em questão é o da vida ou a saúde. Quanto


aos sujeitos do crime, podemos considerar que é um crime próprio,
haja visto que o sujeito ativo deve possuir alguma relação especial com
a vítima (dever de cuidar, tutelar ou vigiar a mesma). Já o sujeito
passivo é a pessoa incapaz de defender-se do risco do abandono,
sendo toda pessoa faticamente incapaz de cuidar de sua defesa.

Quanto ao tipo objetivo, pode ser considerada a conduta de


abandonar, deixar a vítima em desamparo. Vale destacar que a conduta
gere uma situação de perigo real/concreto, que por sua vez deverá ser
demonstrado que realmente ocorreu.
No tipo subjetivo, citamos a situação de dolo de perigo (sendo direto ou
eventual), não existindo forma culposa de abandono de incapaz.

Crime Plurissubsistente, por ser possível a configuração da tentativa


(separar os momentos entre a tentativa e execução do ilícito). É um
crime de perigo concreto, consumando-se assim no momento da
concretização do perigo, após o abandono.

3) Exposição ou Abandono de Recém-Nascido (artigo 134, CP):


Consiste o tipo penal em um agente que expõem ou abandona recém-
nascido, visando ocultar desonra própria, tendo como pena detenção de
2 a 6 anos. Entende-se como um crime doloso, com elemento
subjetivo especial.

De início, devemos distinguir aqui “expor” e “abandonar”. Abandonar,


no sentido de largar ou deixar de dar a devida assistência ao recém-
nascido, exprimindo com isto desamparo. Já expor consiste em colocar
o recém-nascido em perigo, expondo-o a lugar hostil, desgrudado da
mãe.

Se do fato resultar lesão corporal de natureza grave (forma


preterdolosa), aumentar-se-á a pena para detenção de 1 a 3 anos.
Porém, se do fato resultar a morte do recém-nascido, aumenta-se a
pena de 2 a 6 anos.

Vale citar aqui que com recém-nascido, entende-se a criança desde


seu nascimento até seu 28° dia de vida. Após o 28° dia, é considerado
lactante para a lei, até completar seus 2 anos de idade.

É imprescindível neste tipo penal que o agente realiza a conduta no


sentido de esconder/ocultar sua desonra própria, sendo esta desonra
um ato sexual que poderá vir a ser repudiado por sua família (ou do
homem), pela comunidade na qual vivem, pela criança ser fruto de uma
relação extraconjugal ou por violar costumes familiares/religiosos.

Quanto ao bem jurídico tutelado, temos a vida e a saúde do recém-


nascido.

Já quanto ao sujeito ativo do crime, apenas poderá ser a mãe (sendo


assim um crime próprio) que concebe extra matrimônio, haja visto que
objetiva a desonra própria. É indispensável que se trate de mulher
honrada cujo conceito social possa ser abalado pela concepção
extramatrimonial. Já o sujeito passivo, será o recém-nascido, com vida,
fruto de relação extramatrimonial.
Quanto ao tipo objetivo, consiste numa conduta típica em expor ou
abandonar para ocultar a própria desonra. Logo, o agente deixa o
recém-nascido numa situação, situação essa que deverá ser de perigo
concreto, efetivamente demonstrado. No tipo subjetivo, temos o dolo
de expor ou abandonar com um elemento subjetivo especial de
esconder a desonra. Caso não haja este elemento, se enquadrará no
Artigo 133.

Será o crime consumado quando houver o efetivo abandono ou


exposição que resulte o perigo concreto para a vida/saúde do recém-
nascido. Na forma tentada é admissível, quando interrompido o ato por
circunstâncias alheias a vontade do autor.

Por fim, é um crime unissubjetivo (praticado por uma pessoa, porém


pode haver coautoria ou participação de terceiros), plurisubsistente
(diferentes atos compondo uma mesma conduta, podendo serem
analisados separadamente), formal (intenção do agente é presumida
pelo ato que realiza) e instantâneo (uma vez encerrado, está
consumado).

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