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RESUMO AV2: CRIMES EM ESPÉCIE

O crime de lesão corporal encontra-se previsto no art. 129 do Código Penal, situado no Capítulo II (Das lesões corporais).

A gravidade, as consequências da lesão, o elemento volitivo e as circunstâncias do crime definirão que tipo de lesão ocorreu.

A autolesão (lesão provocada em si mesmo) não é punível.

Bem jurídico tutelado: incolumidade pessoal do indivíduo, incluindo sua saúde física e mental.
Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa, sendo assim crime comum.
Sujeito passivo: pode ser qualquer pessoa com vida.
Conduta (objetividade): é a ofensa à integridade corporal, por qualquer modo ou meio, desde que não objetive a morte (senão
caracteriza-se como homicídio, tentado ou consumado). A doutrina diverge acerca do corte de cabelo da vítima contra a sua vontade
para definir se caracteriza lesão corporal ou injúria (tentativa de humilhar a vítima).
Subjetividade: punível por dolo ou culpa (§§6º e 7º do art. 129).
Consumação: consuma-se com a efetiva ocorrência da lesão. Admite a tentativa, por ser delito plurissubsistente (com pluralidade de
condutas).
Ação Penal: em regra, é pública e incondicionada. Mas há algumas exceções:
Lesão dolosa de natureza leve (veremos adiante) e culposa: ação penal pública condicionada à representação da vítima ou
representante legal (art. 88 da Lei 9.099/95). Violência doméstica e familiar contra homem: ação penal pública condicionada à
representação do ofendido nas hipóteses dos §§ 9ª e 11 (veremos adiante).

Agora, é importante vermos a classificação na natureza das lesões, o que é definido pelo próprio CP.

Lesão de natureza grave

A ocupação habitual é qualquer atividade rotineira, que não precisa estar ligada ao trabalho da vítima.

Deve ser aferido por perícia médica se a lesão tem potencial para gerar risco de morte.

A debilidade permanente deve ser entendida como a redução ou enfraquecimento da funcionalidade do membro, sentido ou função corporal atingidos.
Lesão de natureza gravíssima

Nas condutas de natureza gravíssima, a lesão causa danos não apenas duradouros, mas permanentes, sem previsibilidade de cessação. Vejamos quais os
resultados caracterizadores dessa espécie de lesão.

Os doutrinadores divergem sobre a possibilidade de ser caracterizada como gravíssima a lesão que gera incapacitação para o trabalho que o agente já
exercia mas permite a realização de outras atividades (ainda há possibilidade de atuação laboral).

Entende-se que também há lesão gravíssima por enfermidade incurável se a vítima, por consequência do dano, tiver que se submeter a cirurgias e
tratamentos arriscados ou incertos.

IV - deformidade permanente;

Entende-se como deformidade permanente o dano estético, aparente, relevante e irreparável à vítima, com aptidão para causar problemas de socialização
(significativo desconforto para outros e para a vítima).

Lesão corporal qualificada pela morte

Já vimos as hipóteses em que a lesão corporal é classificada como grave ou gravíssima. Vejamos agora a qualificadora da lesão corporal que é seguida de
morte.
Essa espécie de crime, como a descrita acima, em que há intenção do agente em praticar uma conduta menos grave mas este acaba obtendo resultado mais
grave de forma culposa (por negligência, imprudência ou imperícia) é conhecida como crime preterdoloso.

Nos crimes preterdolosos, o agente responde pelo crime menos grave na forma dolosa (o crime que ele intencionava cometer originalmente), mas pelo
resultado mais grave na forma culposa (o resultado que ele obteve por ter sido imprudente, imperito ou negligente), se houver previsão legal para tal
responsabilização. Mas atenção: o caso fortuito ou a imprevisibilidade do resultado eliminam a culpa e, portanto, no caso do crime do art. 129, o autor
responderia apenas pelas lesões corporais praticadas de forma dolosa.

Note que, mesmo havendo morte, o crime doloso é julgado pela justiça comum e não pelo Tribunal do Juri (o qual só se dedica a crimes dolosos contra a
vida).

Causa de substituição de pena

O §4º do art. 129 prevê, de forma semelhante ao crime de homicídio, situações em que pode haver diminuição da pena (sempre na segunda fase de
dosimetria).

Relembrando:
O valor social diz respeito aos interesses da coletividade em geral, um valor “nobre e altruístico”.
O valor moral liga-se aos interesses individuais do agente, dentre eles os sentimentos de piedade, misericórdia e compaixão.
A violenta emoção deve ser entendida como aquela que não é leve ou momentânea.

O §5º do art. 129 permite a substituição da pena privativa de liberdade por pena pecuniária (multa) em alguns casos:

Modalidade culposa

Já citamos anteriormente que a lesão corporal culposa também é punível, conforme previsto no §6º do art. 129:

Lesão corporal culposa

Aumento de pena

O §7º do art. 129 prevê, por sua vez, causas de aumento de pena do crime de lesão corporal.

Assim, conforme a norma acima, a pena da lesão corporal deverá ser aumentada em 1/3 quando:
O crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício; O agente deixa de prestar imediato socorro à vítima;
O agente não procura diminuir as consequências do seu ato;
Sendo a lesão dolosa, o crime é praticado contra pessoa menor de 14 ou maior de 60 anos.

Perdão judicial

A norma acima traz a possibilidade de isenção de pena (perdão judicial), caso as consequências da infração cometida tenham atingido o próprio agente de
forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.

Violência doméstica

O CP oferece ainda tratamento diferenciado às lesões corporais praticadas no contexto da violência doméstica, a qual vitimiza, na maior parte das vezes,
mulheres, crianças e idosos. A Lei 11.340/06 aumentou a pena-base dos crimes dessa espécie:

Veja que a norma acima confere ampla abrangência às situações de violência doméstica, protegendo, além de familiares e cônjuges, ex-conviventes,
coabitantes ou pessoas usufruindo de hospitalidade (agregados definitivos e temporários).

Aumento de pena

Os crimes de lesão corporal caracterizados por violência doméstica podem, ainda, ter sua pena aumentada diante de outras circunstâncias:

Ou seja, aumenta-se em 1/3 a pena pela violência doméstica se:

Esta resultar em lesão corporal de natureza grave (§§ 1° e 2°) ou morte da vítima (§ 3°);
A vítima for portadora de deficiência.

Lesão contra agentes públicos

O CP prevê também aumento de pena, de 1/3 a 2/3, quando a lesão corporal tiver como alvo certo agentes públicos ou relacionados:
Os arts. 142 e 144 da CF tratam, respectivamente, de agentes das forças armadas e da segurança pública.

Lesão praticada contra mulher

A pena também é diferenciada de acordo com uma característica subjetiva da vítima. No caso, se o crime é praticado contra mulher por razões da condição
do sexo feminino.

Perigo de contágio venéreo

Vejamos agora os crimes dos artigos 130 a 132, do Capítulo III (Da periclitação da vida e da saúde).

Vejamos sua classificação:

Bens jurídicos tutelados: incolumidade física, saúde e vida da pessoa.


Sujeito ativo: em geral, é considerado crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa.
Sujeito passivo: qualquer pessoa, independentemente da capacidade e do consentimento para realizar o ato sexual.
Condutas (objetividade): neste crime, o agente, sabendo ou devendo saber de sua doença venérea, mantém qualquer espécie de
contato físico sexual ou libidinoso sem qualquer proteção apta a evitar a transmissão do mal à vítima.
A moléstia venérea é a doença transmissível através de contato sexual.
No caso em concreto, o magistrado nomeará perito (médico cadastrado no CRM) para avaliação da enfermidade.
Subjetividade: entende parte da doutrina que o crime exige o dolo do agente; não possui forma culposa. No entanto, outra corrente
entende que o trecho “(...) ou deve saber estar contaminado” significaria a possibilidade de imputação de responsabilidade por culpa. Consumação:
consuma-se com a prática sexual ou libidinosa, independentemente do efetivo contágio, caracterizando crime formal (aquele que independe do
resultado).
Naturalmente, a utilização de preservativo por si só desconfigurará o crime, pois não existe a conduta de colocar em perigo o
sujeito passivo dolosa e nem culposamente.
A doutrina em geral considera impossível a tentativa para este tipo penal. Ação penal: pública, condicionada à
representação do ofendido.
Perigo de contágio de moléstia grave

Vejamos sua classificação:

Bens jurídicos tutelados: incolumidade física, saúde e vida da pessoa.


Sujeito ativo: qualquer pessoa contaminada com moléstia grave contagiosa (é crime próprio).
Sujeito passivo: qualquer pessoa, desde que não contaminada pela mesma moléstia do agente.
Condutas (objetividade): neste crime, o agente, sabendo de sua moléstia grave, pratica um ato qualquer com o fim de transmiti-la a
outrem.
O ato poderá ser direto (contato físico) ou indireto (contaminação por seringas, por exemplo).
A moléstia, além de grave, deve ser contagiosa.
Subjetividade: deve haver dolo (somente o direto) na conduta. Não admite punição por ato culposo.
Consumação: consuma-se com a prática do ato capaz de transmitir a doença, sendo assim crime formal. Admite-se a tentativa, por ser crime
plurissubsistente (conduta é composta de vários atos de execução).
Ação penal: pública e incondicionada.

Perigo para a vida ou saúde de outrem Vamos passar para a leitura do art. 132:

Vejamos sua classificação:

Bens jurídicos tutelados: incolumidade física, saúde e vida da pessoa.


Sujeito ativo: qualquer pessoa, é crime comum.
Sujeito passivo: entende a doutrina que, embora a vítima pode ser qualquer pessoa, esta deve ser certa e determinada.

Condutas (objetividade): neste crime, o agente pratica um ato qualquer com possibilidade real de causar dano efetivo à vida ou saúde da vítima.
Pode-se também responsabilizar a conduta omissiva (deixar de instruir empregado sobre os cuidados para a manipulação de substância
química altamente danosa à saúde, etc.), devendo-se tomar cuidado para não confundir com o crime de omissão de socorro (em que há
um dever de ajudar descumprido).
Subjetividade: deve haver dolo na conduta. Não há punição por ato praticado com culpa. Consumação: consuma-se com o simples
surgimento do risco, sendo assim classificado como crime de perigo concreto.
Se do crime resultar lesão corporal grave ou morte, o agente responderá somente por tais crimes (o crime de perigo
é absorvido por estes).
Admite-se a tentativa, por ser crime plurissubsistente (conduta é composta de vários atos de execução).
Ação penal: pública e incondicionada.

Causa de aumento de pena

No crime de perigo para a vida ou saúde de outrem, a pena deverá ser aumentada (na segunda fase de dosimetria) no seguinte caso:
Assim dispõe o art. 133:

Vejamos sua classificação:

Bens jurídicos tutelados: incolumidade física e metal, saúde e vida da pessoa. Sujeito ativo: agente deve ser pessoa com dever de
cuidado, guarda, vigilância ou autoridade sobre a vítima, sendo assim um crime próprio (que exige qualidade especial do agente).
Sujeito passivo: a vítima é a pessoa incapaz de defender-se dos riscos ocasionados pelo abandono. Note que pode ser tanto bebê
quanto criança, idoso com demência ou ainda pessoa portadora de deficiência física ou mental totalmente incapacitante. Condutas
(objetividade): o foco da conduta consiste na ação de abandonar a vítima, seja por ação (deixar bebê sob uma ponte qualquer, por
exemplo) ou omissão (mudar-se de casa e deixar a criança na anterior, por exemplo).
Subjetividade: deve haver dolo na conduta. Não há punição por ato praticado com culpa. Consumação: consuma-se quando, por razão
do abandono, a vítima vem a enfrentar real situação de risco, sendo assim um crime de perigo concreto.
Admite-se a tentativa
Ação penal: pública e incondicionada.

Qualificadora

O abandono de incapaz tem uma pena-base ainda maior (primeira fase de dosimetria) se por causa dele ocorrerem danos graves à saúde e vida da vítima:

Aumento de pena

Ademais, o abandono de incapaz também terá sua pena aumentada (na segunda fase de dosimetria) em três situações:
Vejamos sua classificação:

Bens jurídicos tutelados: incolumidade física e mental, saúde e vida da pessoa recém- nascida.
Sujeito ativo: há divergência na doutrina se ambos os pais poderiam ser autores desse crime ou se apenas a mãe. Entendemos que
qualquer dos genitores poderia cometê-lo. Sujeito passivo: a vítima é a pessoa recém-nascida, não havendo um consenso sobre
quando finda essa condição da criança.
Condutas (objetividade): o crime configura-se com a mera exposição ou abandono do recém-nascido, colocando-o diante de perigo

real, com a especial finalidade de ocultar desonra própria. Devem estar presentes todos esses elementos.
Subjetividade: deve haver dolo especial (finalidade especial) na conduta, consistente em ocultar desonra própria. Exemplo: figura que procura
ocultar filho de amante.
Se não houver essa finalidade especial, o crime será o do artigo anterior (abandono de incapaz).
Consumação: consuma-se quando, por razão do abandono, o recém-nascido vem a enfrentar real situação de risco, sendo assim um crime de perigo
concreto. Admite-se a tentativa.
Ação penal: pública e incondicionada.

Qualificadora

O crime do art. 135 tem uma pena-base ainda maior (primeira fase de dosimetria) se, por causa dele, ocorrerem danos graves à saúde e vida da vítima:

Omissão de socorro
Prevê o art. 135 do CP:

Vejamos sua classificação:

Bens jurídicos tutelados: a segurança do indivíduo e a saúde e a vida da sociedade em geral.


Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa, sendo crime comum.
Sujeito passivo: pessoas para quem tenha o agente o dever de assistência, sendo elas: Criança abandonada ou extraviada: é
justamente a criança vítima dos artigos anteriores (abandono de incapaz ou recém-nascido) ou, ainda, a criança que tenha se perdido,
por qualquer motivo, de sua casa ou de seus responsáveis. Inválido: a pessoa que necessita de assistência por não possuir resistência
física ou psíquica apta a lhe permitir defesa ou cuidado próprio. Ferido desamparado: é a pessoa que apresenta lesões corporais e
necessita de auxílio. Quem se achar em grave e iminente perigo: além dos casos acima, o CP inclui o dever de assistência a qualquer um que, por
qualquer motivo, esteja correndo risco real, grave e prestes a se consumar de ter a saúde ou a vida prejudicadas.
Condutas (objetividade): o crime configura-se quando o agente, verificando o dever de auxílio, deixa de prestar assistência imediata (ele próprio)
ou, na impossibilidade desta, assistência mediata (chamando polícia ou médico, por exemplo).
Veja que o dever de socorro não deve pôr em risco a vida ou saúde física do próprio agente. No entanto, existindo esse risco, sua obrigação
inescusável passa a ser chamar outros que possam dar assistência sem risco pessoal.
Subjetividade: deve haver dolo. Não há punição pela conduta culposa. Consumação: entende a doutrina que este crime se consuma
com a simples omissão de socorro, no caso da criança, ou com a existência de perigo concreto resultante da omissão, nos demais casos.
Não se admite a tentativa. Ação penal: pública e incondicionada.

Causa de aumento de pena

A omissão de socorro ainda deve ter sua pena aumentada (na segunda fase de dosimetria), se provocar como resultado lesão corporal grave ou morte:

Maus tratos
Vejamos agora o crime do art. 136 do CP:

Atenção para a sua classificação:

Bens jurídicos tutelados: incolumidade física e mental, saúde e vida de pessoas submetidas à guarda, autoridade ou vigilância do agente para fins de
educação, ensino, tratamento ou custódia.
Sujeito ativo: é crime próprio, uma vez que só pode ser o agente do crime aquele com autoridade, guarda ou vigilância da vítima.
Sujeito passivo: da mesma forma, a vítima só poderá ser pessoa submetida à autoridade, guarda ou vigilância do agente.
Condutas (objetividade): este crime admite vários tipos de conduta, conforme descritos em seu próprio núcleo: Privação de
alimentos ou cuidados indispensáveis: é o caso de presos que são deixados sem comer por longos períodos, comprometendo sua
saúde, ou ainda que são privados de atendimento médico ou do acesso a produtos de higiene básica. Sujeição a trabalho excessivo ou
inadequado: o excesso (trabalho desumano) ou inadequação (trabalho inapropriado, sem condições de ser realizado normalmente)
laborais devem ser verificados no caso em concreto, tomando por base as condições físicas da vítima, e não as condições do laboro por
si só. Abuso de meio corretivo ou disciplinar: note que, nesse caso, haveria uma autorização para o agente impor meio corretivo ou disciplinar, mas
ele o faz de maneira excessiva, ultrapassando os objetivos e limites da lei e da própria vítima. Abuso pode ser físico (isolamento de preso por tempo
excessivo) ou mental (enfermeira de centro de internação que humilha verbalmente os internos). Embora parecidos em alguns aspectos, o presente
crime não se confunde com a tortura do art. 1º, inciso II da Lei 9.455/97
Subjetividade: deve haver dolo. Conduta culposa não é punível.
Consumação: consuma-se com a criação de um risco real por ocasião dos maus tratos do agente.
Admite-se a tentativa.
Ação penal: pública e incondicionada.

Aumento de pena
O crime de maus-tratos pode ter sua pena aumentada em 1/3 (segunda fase de dosimetria) no seguinte caso:

Rixa

A rixa é uma luta envolvendo pelo menos 3 pessoas e que se caracteriza pelo tumulto, pela confusão, de tal forma que não se consegue distinguir a conduta
de cada participante. Cada envolvido visa a atingir qualquer um dos demais e todos agem ao mesmo tempo, por isso são todos autores e vítimas do mesmo
crime. Exemplo: briga de torcedores de futebol.

A rixa pode ocorrer junto a outros crimes. Vamos olhar sua classificação:
Bem jurídico tutelado: incolumidade física e mental do ser humano.
Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa, sendo assim crime comum.
Sujeito passivo: pode ser qualquer pessoa. Há doutrinadores que entendem que não só os participantes do tumulto são vítimas, mas
também as pessoas ao redor.
Condutas (objetividade): participar de tumulto (briga coletiva).
Subjetividade: deve haver dolo. Não há punição pela conduta culposa. Consumação: entende a doutrina que este crime se consuma
com o simples envolvimento no tumulto, independentemente do momento. Não se admite a tentativa. Ação penal: pública e
incondicionada.

Qualificadora

Este crime que tem a pena-base baixa, poderá tê-la aumentada no seguinte caso:

Calúnia

Analisemos o crime de calúnia do artigo 138, do Capítulo V (Dos crimes contra a honra).

Vamos olhar sua classificação:

Bem jurídico tutelado: é a honra objetiva, ou seja, aquilo que as pessoas pensam sobre a vítima da calúnia; sua reputação perante outras pessoas.
Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa, sendo este um outro crime comum.
No entanto, deve-se observar que, excepcionalmente, senadores, deputados e vereadores gozam de imunidade parlamentar em relação
ao crime de calúnia, no limite de seus territórios de atuação. Ou seja, as palavras ditas no exercício de seus mandatos, em suas atuações,
não caracterizarão calúnia.
Sujeito passivo: pode ser qualquer pessoa.
Condutas (objetividade): atribuir a outra pessoa (de modo implícito ou explícito) a prática de um fato definido como crime, sabendo
ser isto falso (o crime ou o autor).
Deve haver uma narrativa do fato imputado, com o mínimo de entendimento que tal fato tenha começo, meio e fim. Não basta
simplesmente uma afirmação vaga sem nenhuma descrição do fato criminoso, como “João é um ladrão”. Este seria um caso de injúria.
Mas atenção: a doutrina entende majoritariamente que, se a própria vítima consente pessoalmente com a prática da falta imputação de
crime a ela, não há delito (exclusão da tipicidade, uma vez que honra não foi ofendida).
Subjetividade: deve haver dolo, no sentido de prejudicar a vítima. Não há punição pela conduta culposa.
Consumação: tal delito consuma-se quando a imputação falsa do crime chega a conhecimento de terceira pessoa, não se
configurando o tipo penal se um indivíduo grita no seu travesseiro tantas calúnias sobre uma pessoa. Admite-se, sim, a tentativa para a
calúnia por escrito (bilhete que não chega ao destino por vontade alheia ao agente). Ação penal: privada, intentada por queixa do
ofendido ou seu representante.

Exceção da verdade

O crime de calúnia admite a chamada exceção da verdade. Isto é, o agente a quem é imputada a calúnia pode provar que a acusação feita contra outra
pessoa é, de fato, verdadeira. Assim, o
crime restaria inexistente.

No entanto, em algumas circunstâncias, a imputação de crime a outro não admite a exceção da verdade.

Ou seja, nos crimes em que houve ação penal movida por queixa, se não há condenação definitiva do réu, outra pessoa não pode acusá-lo pelo crime e
querer fazer prova, sob pena de se tornar calunioso.

As pessoas a que se refere o artigo são o Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro. Ou seja, se o fato calunioso for imputado contra eles, não
se admite que o autor da calúnia tenha oportunidade de prová-lo. É de se fazer pensar, não?

Então se a própria justiça absolveu alguém pelo crime, não pode outra pessoa alegar e querer provar ainda a existência dele, sob pena de se tornar
calunioso.

Exceção de notoriedade

Parte da doutrina entende que, se o agente apenas repete o que todo mundo diz ou qualquer informação que já circula (fato de amplo domínio público), não
há punibilidade. Está então configurada a exceção de notoriedade.
Difamação

O crime de difamação é previsto no artigo 139, do Capítulo V (Dos crimes contra a honra).

Por exemplo: Maria conta que Paula deixou de pagar suas contas e é devedora. Deixar de pagar as contas não é crime e não importa se este fato é mentira
ou verdade. Maria cometeu o crime de difamação e a vítima é Paula.

Vamos olhar sua classificação:

Bem jurídico tutelado: é a honra objetiva, ou seja, aquilo que as pessoas pensam sobre a vítima da difamação, sua reputação perante outras
pessoas
Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa, trata-se de um crime comum.
Mais uma vez, lembre-se de que senadores, deputados e vereadores gozam de imunidade parlamentar também em relação ao crime de
difamação.
Também os advogados, no exercício de sua atividade profissional, não respondem por difamação.
Sujeito passivo: pode ser qualquer pessoa.
Condutas (objetividade): atribuir a outra pessoa (de modo implícito ou explícito) fato ofensivo à sua reputação, mas que não constitua
crime (senão é calúnia). Assim, difamar é, resumidamente, ofender a reputação de alguém com qualquer fato não verdadeiro.
Não é necessária a divulgação ou propagação massiva.
Subjetividade: deve haver dolo, no sentido de prejudicar a vítima. Não há punição pela conduta culposa.
Consumação: tal delito consuma-se quando a difamação chega a conhecimento de terceira pessoa, sendo este um crime formal (consuma-se
independentemente de efetivo dano à reputação).
Ação penal: privada, intentada por queixa do ofendido ou seu representante.

Exceção da verdade

Assim como na calúnia, a difamação admite a exceção da verdade, mas somente em um caso:

Assim, o réu poderá ter a oportunidade de provar que a fofoca que ele espalhou contra o funcionário público é verdadeira.

Cabe esclarecer que o art. 327, caput e §1º do CP traz a definição de funcionário público para fins penais:
Exceção de notoriedade

Como ocorre no crime de calúnia, parte da doutrina entende que, se o agente apenas repete o

que todo mundo diz ou o que já se tornou senso comum (fato de amplo domínio público), não há punibilidade. Há então configurada a exceção de
notoriedade.

Injúria

O crime de injúria vem a ser descrito no artigo 140 do Capítulo V (Dos crimes contra a honra).

Vamos olhar sua classificação:

Bem jurídico tutelado: é a honra subjetiva, ou seja, aquilo que a vítima pensa de si mesma.
Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa, também se tratando de crime comum. Mais uma vez, lembre-se de que senadores, deputados e
vereadores gozam de imunidade parlamentar também em relação ao crime de injúria. Igualmente, os advogados no exercício de sua
atividade profissional não respondem por injúria.
Atenção: a auto injúria (difamação de si mesmo) não configura crime, a menos que atinja também a terceiros. Por exemplo: se o agente
diz que faz parte de uma casal criminoso e sujo, além de referir a si, também atinge seu respectivo cônjuge. Sujeito passivo: pode ser qualquer
pessoa capaz de compreender as ofensas proferidas contra si.
Se o sujeito passivo não entende ou não encara o fato como ofensa, não há crime de injúria pois não houve pessoa psicológica ou
emocionalmente ferida.
Decorrência disso também é que pessoas mortas não podem ser vítima de injúria.
Condutas (objetividade): ofender/insultar, por qualquer meio, outra pessoa (determinada), de modo a ofender sua dignidade ou decoro. Não
importa se a qualidade negativa atribuída a pessoa é verdadeira ou falsa.
Subjetividade: deve haver dolo, no sentido de prejudicar a vítima. Não há punição pela conduta culposa.
Consumação: tal delito consuma-se quando a vítima toma conhecimento da ofensa. A maior parte da doutrina admite a tentativa na
forma escrita.
Ação penal: privada, intentada por queixa do ofendido ou seu representante.

Perdão judicial

O crime de injúria é passível de perdão pelo juiz (exclusão da pena) nos seguintes casos:

Ocorre quando a vítima, antes da injúria, tomou atitude provocativa injusta qualquer, como a prática de um delito, por exemplo.

A retorsão consiste em revidar a injúria com outra injúria. Ou seja, corre quando a vítima também ofendeu a honra subjetiva do agente e logo após foi
também ofendida. Nesse caso, nenhuma delas é punível.

Qualificadoras
Os meios aviltantes poderiam ser cuspes ou puxões de cabelo, por exemplo.

Preconceito

O §3º do art. 140 prevê também a injúria qualificada em razão do preconceito do agente quanto à raça, cor, sexo, etc., da vítima:

Disposições comuns

O art. 141 do CP prevê causas de aumento em razão de qualidade especial da vítima, aplicáveis a todos os crimes contra a honra (calúnia, difamação e
injúria):

O inciso III é o caso da ofensa propagada em outdoors ou alto-falantes. Além disso, existem duas causas de aumento mais gravosas:
Exclusão do crime

Já o art. 142 do CP prevê causas excludentes de punibilidade da injúria e da difamação.

Retratação

Vejamos a seguir algumas disposições que se aplicam aos crimes contra a honra previsto do Capitulo V, do Titulo I da Parte Especial do CP.

O art. 143 do CP prevê o instituto da retratação, no qual o agente poderá reconhecer publicamente seu erro, antes da sentença, e, com isso, isentar-se da
pena. A retratação deve demonstrar o sincero arrependimento e a intenção de retirar tudo aquilo que foi dito contra a vítima.

A retratação não irá independer do consentimento ou aceitação do ofendido, sendo, assim ato unilateral do autor do crime.

Note que, conforme o texto da norma, a injúria não admite retratação.

Entende a doutrina que o ofendido poderá manifestar se deseja que, de fato, seja utilizado na retratação o mesmo meio de comunicação usado para
perpetrar o crime.

Explicações

Tal dispositivo tem o objetivo de esclarecer em que circunstância será considerado crime o ato que não faz ofensa ou acusação expressa contra a vítima, mas
permite tal interpretação.
Nesse caso, o enquadramento da conduta dependerá das explicações fornecidas em juízo ou da ausência dessas (caso em que, mais provavelmente, o
agente poderá responder pelo crime).

Sem dúvida, é instrumento que busca prevenir eventual ação penal desnecessária fundada em razão de mal-entendido.

Ação Penal

Determina o art. 145 do CP que, nos crimes contra a honra, a ação penal cabível será a privada (cuja peça inicial é conhecida como queixa):

No entanto, veja que o parágrafo único pontua alguns casos em que será cabível a ação penal pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça ou
representação do ofendido:

Presidente vítima: ação mediante requisição do Ministro da Justiça.


Funcionário Público vítima: ação mediante representação do ofendido.

Nesse caso, no entanto, também é cabível a queixa. Haverá legitimidade concorrente, nos termos da Súmula 714 do STF:

É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do ministério público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime
contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções.

Injúria com elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: ação mediante
representação do ofendido.

Constrangimento ilegal

O crime de constrangimento ilegal encontra-se no artigo 146 da Seção I (Crimes contra a liberdade pessoal), do Capítulo VI (Crimes contra a liberdade
individual).

Vamos olhar a classificação desse crime:

Bem jurídico tutelado: liberdade individual das pessoas.


Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa, sendo este outro crime comum.
No entanto, se o crime for cometido por funcionário público no exercício de sua função, o delito será de exercício arbitrário ou abuso de
poder ou ainda abuso de autoridade.
Sujeito passivo: pode ser qualquer pessoa capaz.
Condutas (objetividade): constranger outra pessoa, com violência ou grave ameaça, ou depois de ter diminuído sua capacidade de resistência, a
cometer ato que não seja obrigatório para ela (inclusive crime) ou a deixar de fazer algo que seria permitido a ela (segundo a lei).
Constranger significa coagir, forçar ilegalmente a liberdade moral ou psíquica de alguém em busca de um resultado ilegítimo
pretendido pelo agente.
A violência consiste no uso da força física, contra a vítima ou terceiro, para vencer a sua resistência física ou moral.
Já a ameaça consiste na violência moral, no uso de palavras, gestos, etc., para exercer efeito inibitório, paralisando-se a liberdade de
escolha e a vontade da vítima.
Exemplo: obrigar ex-esposa a não entrar como divórcio sob ameaça de o agente fugir com o filho do casal, ou humilhar calouro
universitário para forçá-lo a ingerir bebidas alcoólicas ou praticar atos vexatórios.
Subjetividade: deve haver dolo, no sentido de se forçar a vítima a fazer o que a lei proíbe ou deixar de fazer o que a lei manda. Não
há punição pela conduta culposa. Consumação: tal delito consuma-se quando a vítima, obrigada, age sem necessidade ou deixa de agir
sem necessidade, de modo a satisfazer o interesse ilegítimo do autor. Admite-se a tentativa. Ação penal: pública e incondicionada.

Aumento de pena

O §1º do art. 146 prevê causa de aumento (influindo na segunda fase de dosimetria da pena) no seguinte caso:

Concurso de crimes

Entendeu o legislador que, além da pena pelo constrangimento ilegal em si, deveria o agente responder também pela pena correspondente à violência
perpetrada (por exemplo, lesão corporal).

Excludentes

Há alguns casos, no entanto, que entendeu o legislador não deveriam ser caracterizados como crime, por traduzirem um interesse moral louvável ou
defensável do agente:

Ameaça

O crime de ameaça está no artigo 147 da Seção I (Crimes contra a liberdade pessoal) do Capítulo VI (Crimes contra a liberdade individual).

Parágrafo único - Somente se procede mediante representação

Bem jurídico tutelado: liberdade individual das pessoas, quando ameaçadas por mal injusto e grave.
Sujeito ativo: sendo crime comum, pode ser qualquer pessoa.
Sujeito passivo: pode ser qualquer pessoa capaz, devendo ser um indivíduo certo e determinado (não vale ameaça genérica).
Se a ameaça tiver como vítima o Presidente da República, do Senado, da Câmara dos Deputados e do STF, com fim político, o delito é do art. 28 da
Lei 7.170/83.
Condutas (objetividade): consiste na ameaça, por qualquer meio, de causar à vítima um mal injusto e grave.
Se o mal for justo (como a ameaça de fazer boletim de ocorrência contra quem danificou seu carro) ou leve (devendo-se considerar as
circunstâncias e a vítima no caso concreto), a conduta será atípica. Exemplos: “juro que vou acionar a justiça se você me xingar assim de
novo”, ou “da próxima vez que você voltar bêbado assim pra casa, eu chamo a polícia”.
Subjetividade: deve haver dolo, no sentido de amedrontar a vítima. Não há punição pela conduta culposa.
Há divergência na doutrina se o crime estaria ou não caracterizado quando o agente que profere a ameaça sofre desequilíbrio emocional.
Consumação: tal delito consuma-se com a realização da ameaça, sendo crime informal (independe do resultado, qual seja, a real intimidação). A
maior parte da doutrina admite a tentativa quando a ameaça é feita de maneira escrita (carta de ameaça interceptada). Ação penal: pública e
condicionada à representação do ofendido.

Perseguição

Inserido pela Lei 14.132/21, trata da conduta conhecida como "stalking", por meio físico ou virtual:

Violência psicológica contra a mulher

Trata-se de tipo novo, que adveio com a recente Lei 14.188/2021. Vejamos:

dano emocional ou psicológico poderá ser perpetrado contra a mulher de outras formas além das elencadas no artigo.
Ação Penal: A ação penal para esse crime é a pública incondicionada.
Sujeito ativo: É um crime comum, praticável por qualquer pessoa, independente do sexo.
Sujeito Passivo: É crime próprio, em razão da necessidade de a vítima ser mulher. Importante destacar que o termo "mulher" aqui abrange mulheres
trans, conforme decisão dos tribunais superiores.
Crime doloso: O crime em questão só será punido a título de dolo, pela própria natureza dos verbos em questão ("ameaçar", "manipular", etc).
Como o crime é de tipo misto alternativo, é possível que o agente consuma o delito de várias formas, sem que isso implique num concurso de
crimes, se for perpetrado no mesmo contexto fático.
Habitualidade? Não é necessário que seja cometido com atos reiterados. Dessa forma, um só ato de violência psicológica já é capaz de configurar o
delito.

ATENÇÃO! Se o crime em questão for praticado no contexto da violência doméstica ou familiar contra a mulher, não incidirão os institutos da Lei 9.099/95. Caso
contrário, será possível aplicálo, em razão do quantum da pena (6 meses a 2 anos).

Sequestro e cárcere privado

Agora analisaremos o crime de sequestro e cárcere privado do artigo 148, da Seção I (Crimes contra a liberdade pessoal), do Capítulo VI (Crimes contra a
liberdade individual).

Vamos olhar a classificação deste tipo penal:

Bem jurídico tutelado: liberdade individual de locomoção das pessoas (ir e vir).
Sujeito ativo: crime comum, passível de ser cometido por qualquer pessoa.
No entanto, de novo, se o crime for cometido por funcionário público, no exercício de suas funções, haverá crime de abuso de autoridade.
Sujeito passivo: também pode ser qualquer pessoa.
O consentimento da vítima, desde que consciente e válido, exclui a tipicidade penal (não há crime).
Se o crime tiver como vítima o Presidente da República, do Senado, da Câmara dos Deputados e do STF, com fim político,
delito é do art. 28 da Lei 7.170/83.
Condutas (objetividade): consiste na privação total ou parcial da liberdade de alguém, havendo duas modalidades: sequestro
e cárcere privado.
No sequestro, a vítima tem maior “liberdade” pois não há um confinamento, de modo que a vítima tem certa mobilidade. Exemplo:
vítima é levada a sítio, ilha, etc.)
No cárcere privado, a vítima tem menor liberdade, ficando em um recinto fechado confinada, enclausurada.
Importante mencionar que é um crime que pode se dar de várias formas, inclusive de forma omissiva – por exemplo, médico que deixa de
dar alta para paciente isolado uma vez que já passada doença contagiosa.
Subjetividade: deve haver dolo, no sentido de privar a vítima de liberdade. Não há punição pela conduta culposa.
Consumação: tal delito consuma-se com a efetiva privação da liberdade da vítima. A doutrina diverge sobre a necessidade de um
tempo mínimo para configurar o sequestro ou cárcere privado ou se basta a consumação momentânea.
É crime permanente e de dano.
Entende-se que a tentativa é possível nos crimes comissivos (praticados por ação). E conforme o §1º do art. 148,
duas outras condutas são equiparadas ao sequestro e cárcere privado, punidos da mesma forma: quem
(1) cerceia o uso do meio de transporte do trabalhador, ou
(2) mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos
pessoais do trabalhador com o fim de retê-lo no local de trabalho.
Ação penal: pública e incondicionada.

Qualificadora

Os §§1º e 2º preveem duas causas qualificadoras deste tipo penal (aumentam a pena-base na primeira fase de dosimetria da pena). Vejamos:
Note que esse caso trata-se de uma internação fraudulenta, isto é, injustificada e sem o consentimento da vítima.

Redução à condição análoga a de escravo

O crime de redução à condição análoga a de escravo encontra-se previsto no artigo 149 da Seção I (Crimes contra a liberdade pessoal), Capítulo VI (Crimes
contra a liberdade individual).

Vamos olhar para a classificação deste crime:

Bem jurídico tutelado: liberdade individual de locomoção das pessoas (ir e vir). Em razão das situações que resultam desse tipo penal, ele acaba por
também tutelar a vida, a saúde, a dignidade humana, etc.
Sujeito ativo: qualquer pessoa, sendo outro crime comum.
Sujeito passivo: também pode ser qualquer pessoa.
Observação: ROGERIO GRECO defende que, na verdade, trata-se de crime próprio, pois tanto o sujeito ativo quanto o passivo devem estar
envolvidos em uma mesma relação de emprego.
Condutas (objetividade): a redução à condição análoga a de escravo é também chamada de “plágio” ou plagium pela doutrina. A conduta deste tipo
penal consiste no domínio da vítima pelo agente no contexto de relação de trabalho. Em outras palavras, o sujeito ativo deste crime injustamente
controla a liberdade da vítima, submetendo-a a situações de trabalho incompatíveis com a dignidade humana.
A partir de 2003, com o advento da Lei 10.803/2003, o CP passou a delimitar quais exatamente são as condutas que
podem configurar este delito, sendo elas:
Obrigar a vítima a realizar trabalhos forçados; Impor à vítima jornada exaustiva de trabalho; Sujeitar a vítima a condições degradantes de
trabalho; Restringir, por qualquer meio, a locomoção da vítima em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto (observação: o
sequestro e o cárcere privado, de que já tratamos anteriormente, podem ser utilizados pelo agente como meios de restrição da liberdade – e
nesse caso, tais condutas são absorvidas por este tipo penal do artigo 149); Manter vigilância ostensiva no local de trabalho da vítima, ou se
apoderar de seus documentos ou objetos pessoais com o fim de retê-la no local de trabalho.
Para LUIS REGIS PRADO e ROGÉRIO SANCHES, neste tipo penal, o consentimento da vítima é irrelevante e não conduz à sua atipicidade.
Entende-se que o domínio que o agente exerce sobre a vítima nesses casos faz com que esta não possa de fato dispor de sua
liberdade.Subjetividade: deve haver dolo, no sentido de privar a vítima de liberdade submetendo-a à servidão e ao poder de fato de
outrem. Não há punição pela conduta culposa.
O § 1°, nos incisos I e II, traz um dolo específico: o de reter a vítima no local de trabalho.
Consumação: tal delito consuma-se quando o indivíduo é de fato reduzido à condição análoga a de escravo por meio de uma ou mais das condutas
já mencionadas.
Dispensa-se o sofrimento da vítima.
É um crime permanente.
Entende-se que a tentativa é possível. Ação penal: pública e
incondicionada.

Causa de aumento da pena

O §2º do art. 148 prevê ainda duas causas de aumento para este tipo penal:

O inciso I traz um sujeito passivo especial que, segundo o ECA, são as pessoas de até 12 anos de idade incompletos (crianças) e as pessoas de 12 a 18 anos de
idade (adolescentes).
Já o inciso II traz um dolo subjetivo específico do agente ao praticar a conduta, que é o de cometer o crime movido por preconceito de raça, cor, etnia,
religião ou origem.

Tráfico de Pessoas (Art. 149-A)

A lei 13.344/16 trouxe algumas alterações no Código Penal, incluindo, por exemplo, o crime de tráfico de pessoas no capítulo abordad. Basicamente o tipo
penal traz diversos verbos centrais que se resumem à inserir coativamente uma pessoa em um esquema de tráfico, onde ela será submetida à outras
atividades ilegais, como a sujeição ao trabalho escravo ou à exploração sexual. vejamos a redação do artigo:

Além da tipificação dessas condutas, o legislador se preocupou em reprovar com maior rigor a ação cometida em circunstâncias específicas, como podemos
ver a seguir:
Por fim, existe a possibilidade de redução de pena, no caso de primariedade e de ausência de organização criminosa.

Violação a domicílio

O crime de violação a domicílio está no artigo 150, da Seção II (Crimes contra a inviolabilidade de domicílio), do Capítulo VI (Crimes contra a liberdade
individual).

Vamos olhar para a classificação deste crime:

Bem jurídico tutelado: liberdade privada do indivíduo, incluindo seu sossego e tranquilidade.
Sujeito ativo: crime comum.
Sujeito passivo: pode ser qualquer pessoa que estiver na posse direta do imóvel. Condutas (objetividade): o tipo penal pune tanto a
entrada como a permanência da casa em posse de outro indivíduo sem a anuência deste (contra sua vontade).
Conforme ROGERIO SANCHES, as condutas devem ser praticadas de forma clandestina (escondida), astuciosa (por fraude) ou contra
vontade (expressa ou tácita) do morador.
Se o imóvel estiver vazio e inabitado, tratar-se de comércio ou lugar de uso comum (restaurante, bar, loja, etc.), não se caracteriza a
invasão de domicílio.
Subjetividade: deve haver dolo. Não há punição pela conduta culposa. Consumação: tal delito consuma-se com a efetiva entrada na
casa ou com a negativa de sair dela (insistência na permanência) após se receber ordem de retirada (neste caso, há crime permanente).
Ação penal: pública e incondicionada.

Qualificadora

O §1º do art. 151 prevê uma causa qualificadora (aumento da pena-base na primeira fase de dosimetria da pena) no seguinte caso:

Note que haverá concurso de crimes entre a violação de domicílio e eventual outro crime dele decorrente (como a lesão corporal tida em decorrência da
entrada ou permanência forçada).
Excludentes

O §3º do art. 150 prevê situações em que as condutas descritas no caput não irão constituir crime (serão atípicas):

Conforme entendimento firmado pelo STF, considera-se dia o período das 6h00 às 18h00. No entanto, há doutrinadores e julgados que consideram dia o
período de luz solar e noite a ausência de luz solar, podendo, assim, variar o conceito.

Além destas, o ordenamento jurídico em geral prevê outras hipóteses de excludente de atipicidade, como a legítima defesa, o estado de necessidade, o
estrito cumprimento de dever, o exercício regular de direito, bem como o caso de desastre ou a prestação de socorro.

Conceito de casa

Por fim, o §4º cuida de definir o conceito de casa, para fins da aplicação da lei penal. Assim:

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