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129
Conceito
Doutrinário: ofensa à inteireza do organismo do ser humano, bem como à sua saúde.
O estatuto penal visa proteger a integridade física e saúde do ser humano (pleno gozo das
capacidades físicas e mentais) e a saúde do ser humano em seus aspectos:
3- Psíquico: É o aspecto psicológico, exemplo: deixar o sujeito, com a lesão corporal, com
problemas mentais.
*Lesão Corporal existe ainda que não haja agressão e sangramento, ela não é só pancada,
pode fazer por constante desagravo. A simples dor não caracteriza a lesão corporal, pode
existir lesão corporal sem que haja dor física, assim como poderá existir lesão corporal
provocando dor sem que haja a lesão dos tecidos corpóreos. Tem de haver lesão ao tecido ou
a saúde, algum tipo de lesão.
Sujeitos do Crime
Ativo: O crime de lesão corporal não é próprio, é crime comum. Em face disso, pode
ser cometido por qualquer pessoa. Não há qualquer exigência ou ressalva.
Passivo: o ser humano. Exceção: no caso da lesão grave pela aceleração de parto e a
gravíssima pelo aborto, só poderá ser sujeito passivo a mulher e gestante.
Autolesão:
Conceito: Autolesão é o sujeito provocar a lesão em si mesmo. É a ofensa a sua
integridade física ou à sua saúde.
Punição: não há punição para pessoa que se auto lesiona, isso se levar em
consideração somente a lesão. Porque a autolesão pode ser meio para outro crime, se for para
forjar o recebimento de seguro, por exemplo, é fraude; cortar o dedinho para se aposentar,
fraude contra o INSS e são formas de crime de estelionato (art. 171 a 179). Desta forma
responde por estelionato.
Serviço Militar: se autolesionar para escapar do serviço militar, crime próprio militar. Ex. tira
um dedo, não dá para puxar o gatilho. Artigo 184 CPM.
O CP não pune a autolesão. Não constitui delito o fato de o sujeito ofender a própria
integridade corporal ou a saúde. Mas, se o sujeito lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava
as consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro,
responde por estelionato, denominado como fraude para recebimento de indenização ou valor
de seguro (CP, art.171, parágrafo 2º, V). Neste caso, o estatuto penal não esta punindo a
autolesão como delito autônomo, mas sim como meio de execução de crime de estelionato,
em que o objeto jurídico não é a incolumidade física da pessoa, mas o patrimônio. Se o sujeito
cria ou simula incapacidade física, que o inabilite para o serviço militar, responde pelo crime
do art. 184 do COM. O código não esta punindo a autolesão, mas aplicando sanção ao sujeito
que se vale desse meio de execução para praticar crime contra o serviço e o dever militar.
*O fato de agravar lesão existente, também caracteriza o crime de lesão corporal, porque
aumentou a sua gravidade. Ex. Está com uma pequena lesão, enfia o dedo e abre mais. Está só
trincado, acaba de quebrar. A pessoa estava com uma gripe, tira o cobertor, a roupa, manda
dormir no chão, a gripe vira pneumonia. Tá com um pulmão só com pneumonia, toma um
banho frio para pegar nos dois.
*Alteração do Estado de ânimo (não caracteriza): não é lesão, ter alterado o estado de ânimo
não significa ficar doente, a lesão é quando a pessoa fica doente. Ex. o agente provoca a
pessoa até que ela fique muito nervosa. “To nervo!!!” – não é lesão corporal, está ficando
louco, mas não ficou... não é lesão corporal. Se em consequência da provocação a pessoa tem
um mal súbito ou fica acometida de uma patologia, então, será caracterizada a lesão corporal.
*Pluralidade de lesões – contexto único: nas lesões corporais sempre vai haver a pluralidade
de machucados. Se o contexto é único, o crime é único (caracteriza um único crime). Ex. bate
várias vezes, pontapés, soco, paulada...
*Somente dor (não caracteriza o crime) – só a dor dissociada de qualquer outra ofensa, não
caracteriza lesão corporal. Embora não haja lesão, pode ser caracterizada tortura, que é mais
grave que a lesão corporal. Ex. pegar a mulher pelos cabelos e balançar, ela vai ficar com dor
de cabeça, mas não vai caracterizar o crime. Pega a toalha molhada, segura as pontas, não
pode bater com a ponta porque marca, e bate muito, o sujeito vai ficara dolorido, mas não se
acha lesão, neste caso, não tem lesão corporal. Choque, só para sentir a dor.
Tipo Subjetivo:
*Fator distintivo da tentativa de homicídio: o dolo é o que distingue uma lesão corporal da
tentativa de homicídio. Para ter a tentativa de homicídio tem que se ter a vontade de matar
(animus necandi). Se não houver a vontade de matar, não podemos falar em tentativa de
homicídio, desta forma, sobra a lesão corporal. E se a pessoa morrer, preterdolo, que é a lesão
corporal seguida de morte. Ex¹. empurrou a mulher, ela caiu e bateu com a cabeça vindo a
morrer, tinha a intenção de lesionar, animus laedend, mas não tinha a intenção da morte,
animus necandi (analisa-se o contexto). Ex². Deu duas pauladas, não tinha intensão de matar,
pois se tivesse teria dado várias até matar. Ex³. O agente pega um facão e sai desferindo
golpes, nas pernas, nos braços, logo, pelo contexto, ele não queria só machucar, queria matar,
tinha o animus necandi. Se acaso estivesse com a chapa do facão, e bate, umas quarenta
vezes, ficou toda roxa, mas não tinha intenção de matar. Foi uma facadinha só, mas foi bem
em cima do lugar que era para estar o coração, intenção de matar. Como se apura a vontade?
Através dos meios utilizados, gravidade das lesões, sede das lesões, a maneira como se age, ou
seja, analisar o contexto – parte subjetiva do tipo, ou seja, o dolo.
*Culpa. Artigo 129§6º: quando provoca a lesão sem querer, pisar no pé, enfia o dedo no olho
do outro, sem intenção. Não tem graduação, ela pode até ter resultado grave, gravíssimo, mas
vai ser lesão corporal culposa. Na lesão corporal dolosa há graduação leve, grave, gravíssima.
Obs. no Código de Trânsito a pena para lesão corporal culposa é maior do que a pena da lesão
corporal dolosa, no Código Penal.
DOUTRINA: O Tipo Subjetivo é a vontade livre e consciente do agressor de produzir uma lesão
causando um dano ao corpo ou à saúde de outrem. Exige que o agente esteja animado da
intenção de ofender (animus laedendi). Bem exemplificado por Mirabete: "O dolo do crime de
lesões corporais é a vontade de produzir um dano ao corpo ou à saúde de outrem ou, pelo
menos, de assumir o risco desse resultado. É o denominado animus laedendi, que diferencia o
delito de lesão corporal da tentativa de homicídio, em que existe a vontade de matar (animus
necandi)." Bitencourt explica a diferenciação entre a lesão corporal e tentativa de homicídio: O
que distingue o crime de lesão corporal da tentativa de homicídio cruenta é exatamente o
elemento subjetivo: neste há o dolo de matar; naquela, tão-somente o de lesar o corpo ou a
saúde. Contudo, se o dolo é somente de lesar a integridade física, mas a vítima morre por
causa da lesão, o homicídio é preterdolo (ou lesão corporal seguida de morte, na linguagem da
lei). Indiscutivelmente, o dolo pode ser direto ou eventual; particularmente, essa modalidade
de infração penal é uma das poucas que admitem a possibilidade da terceira modalidade, qual
seja, o preterdolo, em determinadas figuras qualificadas: a ofensa à integridade física é punida
a título de dolo, e o resultado qualificador, a título de culpa. De acordo com o que disse
Bitencourt, podemos entender que a distinção entre o crime de lesão corporal da tentativa de
homicídio é o elemento subjetivo, que como já foi dito antes é o dolo de lesionar, de matar ou
mesmo de expor alguém a perigo. Importa notar também que quando a intenção do agressor
for de apenas lesionar alguém, sem a intenção de matar, mas que por fim acaba causando,
este irá responder por lesão corporal seguida de morte, é o homicídio preterdolo. Jorge nos
traz um bom exemplo sobre isto: "Apontar arma para as pernas da vítima e atirar demonstra
intenção de ferir, enquanto que, diversamente, indica intenção de matar se mirar no peito ou
cabeça daquela".
Consumação e Tentativa do Crime de Lesão Corporal
Consumação: o crime de lesão corporal se consuma com o resultado material, ou seja, com a
efetiva ofensa à integridade corporal ou à saúde física ou mental da vítima.
*O legislador só faz a divisão entre lesão corporal de natureza grave (art. 129, §1º) e
gravíssima (art. 129, §2º). Será leve (caput do art. 129) quando não for nem grave nem
gravíssima, será por exclusão.
Ocupações habituais – alcance: toda atividade que não for de natureza ilícita, pode ser
ocupação habitual. Ex. ficou 40 dias sem fazer a recolha do jogo do bicho, sem vender a
maconha, não vai caracterizar porque é uma atividade ilícita. Sendo lícita, pode fazer
qualquer coisa, e o fato de a pessoa em razão da lesão deixar de fazê-lo, pode caracterizar
essa modalidade grave da lesão corporal.
Prostituta: a prostituição, embora ainda não possa ser classificada como profissão, é
atividade lícita, pois há um decreto que regulamenta a prostituição, então pode ser vítima.
(lembrando que não precisa ser trabalho, apenas ser atividade lícita). Obs. não precisa ser
com relação à profissão dela.
B) Perigo de vida (perigo de morte): a lesão corporal também é de natureza grave quando a
vítima, em razão da lesão, corre o perigo de morte. Perigo de morte é probabilidade de
morrer, exemplo, passou pela UTI é porque a vítima quase morreu.
Probabilidade de morte: em razão da lesão quase morreu, perigo de morte é passar pela
UTI.
Perigo concreto: probabilidade concreta de morte. Ex. perfurações de órgãos vitais, tais
como: pulmão, fígado, lacerou o baço; hemorragia intensa; politraumatismo; traumatismo
craniano.
Ex. O sujeito pegou uma agulha de tricô e enfiou no peito da outra pessoa, ficou certinho ao
lado do coração, se desvia um pouquinho furaria seu coração e ela teria morrido. Correu
perigo de vida? Concreto não, esse perigo foi um perigo abstrato, ela não foi para a UTI, logo,
não correu o perigo de vida que trata a lesão corporal de natureza grave. Levou um tiro e só
cortou o couro cabeludo, correu perigo, correu, mas não foi para a UTI, e se não foi, não é
lesão corporal de natureza grave.
Permanente: não basta que ocorra a debilidade, ela tem que ser permanente, ou seja, não
há prognostico de retorno, não se sabe nem se a vítima vai sarar ou quando vai sarar.
Mesmo que haja a compensação por prótese, não descaracteriza a forma grave.
Membro: debilidade permanente de membro que é tudo aquilo que está pendurado no
tronco do ser humano. Ex. pernas, braços, pênis. (seio não é membro, apenas compõe o
tronco). Ex. sujeito toma um chute no saco e seu membro fica pastoso, ou seja, teve uma
debilidade no membro, neste caso a qualificadora pode estar ligada à função reprodutora
ou ao membro que é a característica física. Cabeça não é membro.
Sentido: é tudo aquilo que permite o contato do ser humano com o mundo (visão, olfato,
paladar, tato e audição), pode-se ter diminuído o seu sentido. Ex. o agente fura o olho da
vítima, o tímpano, passa a língua no esmeril, coloca as mãos da vítima na frigideira. Temos
tato no corpo todo, não é só na mão. Ex. perdeu a audição em um dos ouvidos; perdeu a
visão em um dos olhos.
Função: são aquelas executadas pelos nossos órgãos ou conjunto de órgãos (respiratória,
circulatória, digestiva, excretora, reprodutora). Ex. perdeu um dos rins; perdeu um dos
ovários, ou seja, teve diminuída a sua capacidade de reprodução. Teve diminuída a
capacidade de excreção.
Obs. O que não se deve falar: ficou meio cego; cego de um olho; meio surdo; surdo de um
ouvido; porque surdo é quem não escuta, cego é quem não enxerga, não tem meio.
Ex. Mulher coloca uma bombinha no pênis do marido, marido teve uma hemorragia e acabou
morrendo. Se for apenas uma bombinha, ela só queria capá-lo, responderá por lesão corporal
seguida de morte.
D) Aceleração de parto: antecipação do parto, que é a criança nascer antes do tempo. Para
que isso ocorra, é necessário que a criança nasça e continue a viver. Ex. o sujeito deu um tapão
na mulher e a criança nasce em decorrência disso.
Atividade Lícita: tem que ser atividade lícita. Ex. comerciante de maconha, cocaína – não é
lícito.
B) Enfermidade incurável: é o sujeito que fica doente em razão da lesão corporal e não tem
tratamento para cura. Pode até ter um tratamento profilático para estender o tempo de vida
da pessoa, no caso do risco de morte, pode minimizar os efeitos da doença, mas não tem uma
cura para ela. Ex. Transmissão da Aids, propositadamente causa na pessoa a doença, pratica o
crime de lesão corporal de natureza gravíssima por ter provocado uma enfermidade incurável.
Uma pancada na cabeça pode causar um desequilíbrio até físico na pessoa, exemplo, antes
andava direitinho, após, passa a andar arrastando uma perna.
C) Perda ou inutilização de membro, sentido ou função: nesse caso não é debilidade, é perda
mesmo. Não é redução na capacidade, é eliminação total. Ex. extirpa o membro. Inutilização, o
membro está ali, mas não tem efeito nenhum. Ex. O agente arrancou a mão da vítima, não
perdeu o membro, mas ele fica inutilizado. Perder dedo reduz a capacidade, mas não elimina,
logo, perder dedo é lesão corporal de natureza grave pela debilidade permanente. Perder a
mão é inutilização do braço. Ex. O sujeito fica cego, surdo, quando perde útero, perde os
ovários, porque aí está eliminando as funções. Às vezes não perde, mas não funciona mais. Ex.
O homem leva um chute no saco escrotal, o membro ficou ali, mas não funciona mais, houve
uma inutilização. Funciona, mas o chute foi tão grande que não produz mais espermatozoide,
não perdeu o membro, nem o inutilizou, mas inutilizou a função.
D) Deformidade permanente: lesão estética relevante. Ex. Cicatriz. Arrancou uma parte da
nádega. Fica sem as orelhas. Ficou com a perna torta. A lesão que causa mais deformidade
permanente é a queimadura; se ela não for só superficial, se queimou o tecido muscular, não
tem mais jeito. O defeito tem que ser visível, perceptível. Ainda que a pessoa tenha feito
cirurgia plástica, não exclui o crime. Tatuagem para disfarçar as marcas também não
descaracteriza a deformidade permanente.
E) Aborto: o sujeito lesionou a grávida, bateu nela, sem a intenção de provocar o aborto,
porque se a intenção foi de provoca-lo, o crime será de aborto. Entretanto, ele tem que ter
ciência da gravidez.
(‘Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem
assumiu o risco de produzi-lo: Pena - reclusão, de quatro a doze anos’).
Considerações Finais
Em relação ao crime de Lesão Corporal também existe a forma privilegiada, a mesma que
vimos no homicídio, relevante valor moral, social, domínio de violenta emoção logo após a
injusta provocação da vítima. Os aumentos de pena do §4º, quando o sujeito foge para evitar a
prisão em flagrante, e ele não procura diminuir as consequências pela prática dos seus atos,
quando não presta socorro à vítima ou quando desobedece as regras técnicas de sua profissão,
arte ou ofício. Se é menor de 14 ou maior de 60 anos, aumenta de 1/3 a pena.
§ 5º Lesão corp. privilegiada- pode ter a pena substituída ou ser apenado com multa.
§8º...
Violência Doméstica, art. 129, §9º (‘Se a lesão for praticada contra ascendente,
descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou,
ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos’). Hipóteses da Lesão Corporal no ambiente
familiar. Isso torna o comportamento mais grave em razão do vínculo de afetividade que
deveria existir, em tese, entre essas pessoas. Não viola somente a integridade física, a saúde,
também viola esse vínculo de afetividade que deveria existir. Efeito prático: sai da lei 9099 e
recebe o tratamento ou rito comum ordinário previsto no Código de Processo Penal.
Desclassifica o crime de menor potencial ofensivo, ou seja, aqui se tem um tratamento
processual mais severo. Só se aplica essa forma qualificada quando a lesão corporal for de
natureza leve. Não se aplica essa hipótese nos caso de lesão corporal grave ou gravíssima, mas
aplica o §1º e o §2º, por serem as penas mais graves.
Generalidades: O crime de perigo é aquele que se caracteriza pelo fato de não ocorrer
lesão a alguém, mas simplesmente o risco de lesão. Ex¹. não quebrou, mas foi quase. Não
machucou, mas foi quase. No crime de perigo não basta que não haja a lesão, em alguns casos
pode até haver, o que vale é a intenção do agente de não querer o dano, mas somente a
exposição ao risco. Ex². a pessoa está andando de carro, vê uns rapazes, com atitudes
suspeitas, nesse instante a pessoa pensa, ‘quero dar um susto nesses rapazes’. Quando está
chegando perto deles, vira o carro para passar bem próximo, só para vê-los saltando para o
lado. O condutor não tinha a intenção de machucar, mas apenas que os rapazes se sentissem
apavorados em razão do risco de morte ou da lesão. Isso é o dolo de perigo, não quer causar
lesão, só quer assustar. Logo, o crime de perigo não precisa da lesão, basta a exposição do
bem tutelado pela legislação penal, ao risco de lesão, para que ele já esteja caracterizado.
O perigo individual: o perigo pode ser classificado de acordo com a condição da vítima
que se atinge, como individual de um lado e coletivo do outro. Logo, temos perigo individual e
perigo coletivo. É individual quando, o comportamento de exposição ao risco, é dirigido a uma
pessoa ou um grupo de pessoas determinadas. Ex. os grupinho de rapazes palmeirense; um
grupinho na igrejinha; grupo na boleia do caminhão (art. 132, § único). É coletivo quando o
comportamento causa perigo para um número indeterminado de pessoas. Ex. Sujeito que não
tomou os devidos cuidados e acabou explodindo um quarteirão inteiro (perigo coletivo – arts.
a partir do art. 250); campo de futebol; rasante sobre a torcida, perigo comum, coletivo, acerta
quem estiver embaixo.
Obs¹. No caso de o problema ter falado que a mãe abandonou a criança na porta da casa,
embrulhadinho, mas tinha os cachorros. A resposta seria: Embora a mãe tenha se desobrigado
ao deixar a criança, ela pode ou não ter provocado um risco concreto, com a presença dos
cachorros, o risco é efetivo. Todavia, o fato não pode ser analisado exclusivamente no seu
aspecto objetivo, é necessário saber se ela sabia que na casa tinha cachorro e se ela não sabia.
Se soubesse, praticou o crime; se não tinha conhecimento que o cachorro estava lá, ela não
praticou o crime, o fato continua a ser atípico.
Obs². As lesões provocadas nas práticas de esporte, consiste no exercício regular de direito
que é uma das hipóteses de exclusão de antijuridicidade, está junto com a legítima defesa,
com o estado de necessidade e estrito cumprimento do dever legal. Entretanto para que se
caracterize essa hipótese de exclusão de antijuridicidade, é necessário que a pessoa esteja
obedecendo as regras daquele esporte. Ex. Luta entre Holyfield e Mike Tyson, em que Mike
Tyson arrancou um pedaço da orelha de Holyfield. O Holyfield deu uma bancada no Tyson que
cortou seu supercílio, mas não iria responder por isso porque faz parte das regras daquele
esporte, agora o Tyson vai responder por ter arrancado um pedaço da orelha de Holyfield,
porque este ato está fora das regras do boxe.
Conceito: O crime de perigo de contágio venéreo é definido como o fato de “expor alguém,
por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea (AQUI
NÃO ENTRA A AIDS), de que sabe ou deve saber que está contaminado”. (CP, art. 130, caput).
Pena: detenção, de três meses a um ano, ou multa.
O fato de a pessoa proporcionar o risco para que outra pegue a doença venérea, já é
suficiente para a caracterização do crime. Não precisa nem pegar, pois o crime é de perigo,
logo, não precisa ter a doença, basta ter ficado sujeito ao risco de adquirir essa doença, não
sendo necessário então o dano efetivo e sim a exposição ao perigo de dano.
Objetivo do Legislador
Proteger a saúde do ser humano na sua incolumidade. É o direito que temos de estar
em pleno gozo da nossa capacidade física e mental. Neste caso, ainda que de maneira
mediata, será protegida a saúde pública.
Sujeitos do crime:
Ativo: Pode ser praticado por qualquer pessoa, homem ou mulher, entretanto, há
exigência de ser portadora de doença venérea. Não há como praticar esse crime se o autor não
tiver essa doença. O cônjuge também poderá ser sujeito ativo do crime desde que seja
portador da doença venérea.
Passivo: O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa que corra o risco ou que possa
correr o risco de adquirir a doença. Desde que não seja imune a doença. A empresária do amor
(especialista no entretenimento masculino) pode ser vítima desse crime. A pessoa que já tem a
doença não pode ser sujeito passivo, porque não corre o risco de contágio, seria crime
impossível com impropriedade absoluta do objeto.
Tipo objetivo:
E se o amante contagia a amante, que, por sua vez, contagia o marido? O amante pratica
delito de perigo de contágio venéreo em relação à adúltera, ela, por sua vez, responde pelo
crime em relação ao marido, se existentes os elementos do tipo.
E se o marido contagia a esposa, e esta, o amante? Ele responde pelo crime em relação
à esposa, e ela, em relação ao amante.
Do exposto, verifica-se que o tipo penal exige contato corpóreo entre o sujeito ativo e
o passivo.
E se o sujeito crê estar contaminado, quando não esta? Trata-se de crime impossível
(CP, art. 17).
Calcinha emprestada, cueca emprestada, colher, embora causem o risco de contágio, não
caracterizam o crime.
Tipo subjetivo:
Questão inicial (sabe ou deve saber). A pessoa só poderá ser responsabilizada se ela
sabe ou deveria saber que esta contaminada.
*Esse sabe ou deve saber associa o saber: ao dolo e o deveria saber: a culpa, de forma que, se
o sujeito sabe que está contaminado, o comportamento é considerado doloso e se deveria
saber e não tomou cuidado é culposo. Entretanto não é esse o saber que vem dominando a
doutrina, e sim que o crime de perigo de contagio venéreo, como só exige o perigo, só é
punido na modalidade dolosa, porque não há forma culposa desse crime. E o “sabe que esta
contaminado”: é o dolo direto e o “deve saber que esta contaminado”: dolo eventual ou
indireto. Essa é o entendimento da maioria dos doutrinadores.
A presença do dolo de dano torna a pena mais pesada, o crime mais grave.
Consumação:
Se consuma com a prática do ato. Não precisa que a vitima seja contaminada, basta
que o ato seja praticado. A contaminação é exaurimento do crime.
Para parte da doutrina, é lesão corporal, se houver a contaminação, culposa ou dolosa,
conforme a vontade do agente.
Tentativa:
Formas qualificadas:
Nos termos do art. 130, parágrafo 1º, do CP, se é intenção do agente transmitir a
moléstia, a pena é de reclusão de 1 a 4 anos, e multa. Essa forma qualificada pressupõe os
elementos objetivos definidos no tipo fundamental.
E se houver morte? O sujeito responderá por lesão corporal seguida de morte (CP, art. 129,
parágrafo 3º).
Ação penal: Pública condicionada à representação (CP, art. 130, parágrafo 2º). O delegado de
Polícia não pode proceder a inquérito sem a provocação do ofendido ou de seu representante
legal (representação). Em juízo, recebendo o inquérito policial, não pode o Promotor Público
oferecer denuncia sem a representação.
Qualificação doutrinária:
Crime comum, pois pode ser cometido por qualquer pessoa, desde que contaminada
de moléstia venérea.
O delito é instantâneo, aperfeiçoando-se no momento da produção do perigo
abstrato.
Não admite a forma omissiva, uma vez que o tipo exige que a conduta se expresse em
relações sexuais ou qualquer outro ato libidinoso. Por isso, o delito é também de forma
vinculada.
O art. 130, parágrafo 1º, como ficou consignado, descreve um delito formal.
Conceito
Legal: Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está
contaminado, ato capaz de produzir o contágio: Pena – reclusão, de um a quatro anos, e
multa. (Art. 131, CP).
Objetividade Jurídica
Objeto Material
Tipo Objetivo
Conduta: Praticar qualquer ato capaz de transmitir a doença. Ex. beijo, espirro intencional
próximo à vítima, lamber o garfo em que ela irá comer etc.
Trata-se de crime de ação livre que admite qualquer meio de execução, desde que
apto a transmitir a doença. Como se exige prova de que o ato praticado era capaz de provocar
o contágio, conclui-se que se trata de crime de perigo concreto.
O tipo penal exige que se trate de moléstia grave – que provoca séria perturbação da
saúde – e contagiosa. Ex. tuberculose, “gripe suína” etc.
As doenças venéreas, sendo elas graves, tipificam o crime, desde que o perigo de
contágio não decorra de ato sexual, já que, nesse caso, aplica-se o art. 130 do Código.
Em regra, não é um crime omissivo, mas nada impede que seja praticado por meio de
uma omissão – ex: o pai que observa um estranho espirrar no rosto de seu filho de pouca
idade para transmitir-lhe moléstia grave e nada faz para impedir a reiteração deste
comportamento ilícito.
Sujeitos do Crime
Sujeito Ativo: Deve ser pessoa contaminada por moléstia grave. Se alguém que não
está contaminado aplica em outrem injeção contendo o vetor de transmissão de doença grave,
incorre em crime de lesão corporal, consumada ou tentada, dependendo de ter ou não havido
a transmissão. Se o sujeito pratica o ato supondo equivocadamente estar contaminado, estará
caracterizado crime impossível, por ineficácia absoluta do meio de execução (art. 17, CP).
Crime próprio, pois o delito só pode ser cometido por quem está acometido de doença
contagiosa grave.
Consumação
a) se resultar lesão corporal leve (art. 129, caput, CP), esse crime será absorvido pelo crime
de perigo de contágio de moléstia grave, por se tratar de mero exaurimento, e, além disso,
trata-se de crime de dano com pena inferior à do crime de perigo;
b) se resultar lesão corporal grave ou gravíssima, o agente responde somente por esse crime
(art. 129, § 1º ou §2º); crime de dano mais grave do que o crime de perigo;
Tentativa
Elemento subjetivo
Trata-se de crime de perigo com dolo de dano, que apenas se caracteriza quando o
agente quer transmitir a doença, excluindo-se, portanto, o dolo eventual. Em razão disso,
somente admite o dolo direto.
Não admite a modalidade culposa, por ausência de previsão legal nesse sentido, logo, o fato
será atípico se o agente atua apenas de forma imprudente e não ocorre a transmissão da
doença. Haverá, entretanto, lesão corporal culposa, se ocorrer o contágio.
Concurso de Crimes
Ação Penal
Conceito
Legal: Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: Pena – detenção,
de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. (Art. 132, CP).
Objetividade Jurídica
Objeto Material
É a pessoa que tem sua vida ou sua saúde exposta a perigo direto e iminente.
Tipo objetivo
A conduta típica consiste em “expor alguém a perigo”, que significa criar ou colocar a
vítima em situação de risco. Trata-se de crime de ação livre, pois admite qualquer forma de
execução. Ex. “fechar” o carro de outra pessoa de forma intencional; abalroar dolosamente
seu carro contra o da vítima com ela dentro; desferir golpe com instrumento contundente
próximo à vítima; tirar uma “fina” de um pedestre para assustá-lo; não fazer os exames
exigidos no sangue do doador antes de efetuar a transfusão etc.
Esse crime pode ser praticado por omissão, como no caso do patrão que não fornece
aparelho de proteção para seus funcionários, desde que disso resulte situação concreta de
perigo. O descumprimento das normas de segurança, por si só, constitui contravenção penal
prevista no art. 19 da Lei nº 8.213/91, infração esta que fica absorvida quando o fato
caracteriza o crime do art. 132 em decorrência da situação concreta de risco criada.
Para caracterizar crime, o perigo tem que ser concreto, não basta a prática da conduta
ilícita, é necessário ficar provado que em razão do comportamento do agente a vítima teve sua
vida ou sua saúde submetida a risco de lesão. O crime de exposição a perigo pressupõe que
este seja direto e imediato.
Sujeitos do Delito:
Sujeito Passivo: Qualquer pessoa, desde que certa e determinada. O tipo penal não
exige qualquer vinculação ou relação jurídica entre a vítima e o autor do crime.
Nota: Alguns autores costumam mencionar que não podem ser sujeito passivo deste crime
aqueles que têm o dever de enfrentar o perigo, como policiais e bombeiros. É preciso tomar
cuidado com essa afirmação, pois o dever destas pessoas de enfrentar o perigo não significa
que as outras têm o direito de expô-las a risco. Se uma pessoa nadar em um local perigoso,
fazendo com que bombeiros sejam chamados para salvá-la, sofrendo estes, também perigo,
esta pessoa não está cometendo crime, não há dolo de perigo neste caso. Mas, se alguém vê
um policial de trânsito no meio da rua e, para fazer graça, passa rente a ele em excesso de
velocidade para assustá-lo, responde pelo crime em tela.
Consumação
Tentativa
Elemento subjetivo
Caráter subsidiário
A lei, ao tratar de pena deste crime, deixou claro que se trata de delito subsidiário, cuja
configuração pressupõe que o fato não constitua ilícito mais grave. Por isso, se o agente, com
intenção apenas de assustar a vítima, resolve passar perto dela com o carro, porém,
acidentalmente a atinge e provoca sua morte, responde por homicídio culposo (art. 121, §3º)
na direção de veículo, ficando absorvido o crime do art. 132. Dependendo, todavia, do modo
como tenha agido o autor do delito, poderá ser até mesmo punido por crime mais grave em
razão de ter agido com dolo eventual, o que, todavia, só será possível em situações extremas e
nas quais haja prova cabal de que ele assumiu o risco de provocar o resultado.
Em caso de lesão corporal culposa, a figura será a do próprio art. 132, já que a do art.
129, §6º, ambas do Código Penal, é mais levemente apenada.
Disparo de Arma de Fogo: Se o disparo for, em lugar habitado ou em suas adjacências, em via
pública ou em direção a ela, não será enquadrado no artigo em estudo (132) e sim no artigo 15
da Lei 10.826/03 – Estatuto do Desarmamento – com pena mais grave.
Art. 132, parágrafo único – A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida
ou da saúde de outrem a perigo decorre de transporte de pessoas para a prestação de serviços
em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais.
Estatuto do Idoso
Conceito
Legal: Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e,
por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono: Pena –
detenção, de seis meses a três anos. (art. 133, CP)
Objetividade Jurídica
Objeto Material
Tipo Objetivo
Abandonar o incapaz deixando-o sem assistência, afastando-se dele, de modo que seja
exposto a risco.
Trata-se de crime de forma livre, podendo ser praticado tanto através de uma ação como
também de uma omissão. O abandono deve ser real: depende de separação física entre o
responsável e o incapaz. É crime de perigo concreto e este terá que ser provado. Crime
praticado por ação. Ex. levar a vítima a um determinado lugar e dela se afastar. Ou por
omissão. Ex. pai deve buscar uma criança em certo local e, intencionalmente, não vai apanhá-
la.
Exemplos do crime: babá que deixa a criança de pouca idade sozinha em casa e sai
para namorar, uma vez que a criança, por não ter ainda exata noção do perigo, pode subir em
um sofá e cair, mexer em produtos tóxicos, sufocar-se com um saco plástico etc. Enfermeiro
contratado para tomar conta de pessoa doente, privada de seus movimentos, que deixa de lhe
dar assistência por alguns dias, ou os pais que abandonam seus filhos etc.
O abandono pode ser temporário ou definitivo. Sua duração é indiferente, desde que
seja por espaço de tempo juridicamente relevante (capaz de pôr em risco o bem jurídico
tutelado).
A pessoa que não tem a vítima sob seus cuidados e a encontra em situação de
abandono, mas não lhe presta assistência, comete delito de omissão de socorro.
Não há crime quando é o próprio assistido quem se afasta sem que o agente perceba o
ocorrido.
Sujeitos do Delito:
Sujeito Ativo: Trata-se de crime próprio, pois só pode ser autor do delito quem
exerce cuidado, guarda, vigilância ou autoridade sobre a vítima. Segundo Damásio de Jesus:
“Cuidado é a assistência eventual. Ex. o enfermeiro que cuida de portador de doença grave.
Guarda é a assistência duradoura. Ex. menores sob a guarda dos pais. Vigilância é a assistência
acauteladora. Ex. guia alpino em relação ao turista. Autoridade é o poder de uma pessoa sobre
outra, podendo ser direito público ou privado. Ex. capitão da Polícia Militar que leva seus
subordinados pra entrarem em uma perigosa favela para combater traficantes não pode, por
medo ou outro motivo qualquer, lá abandoná-los”.
Sujeito Passivo: É a pessoa que está sob a guarda, cuidado, vigilância ou autoridade do
agente, desde que esteja incapacitada de se defender dos riscos decorrentes do abandono.
É incapaz qualquer pessoa, ainda que maior de idade e com saúde física ou mental em ordem,
que na situação concreta não possa se defender. Essa incapacidade é de natureza real e não
jurídica, podendo ser corporal, mental, permanente ou transitória.
Consumação
Tentativa
Elemento Subjetivo
Distinção
a) Se o agente tem a vítima sob seus cuidados e deixa de lhe prestar assistência, comete
abandono de incapaz, mas, se a vítima não está sob seus cuidados e o agente a encontra
ao desamparo e não lhe presta assistência, comete omissão de socorro.
Formas Qualificadas
Art. 133, §1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave: Pena – reclusão, de
um a cinco anos. §2º - Se resulta morte: Pena – reclusão, de quatro a doze anos.
Se o sujeito agiu com dolo de dano, a ele deve ser imputado o crime mais grave: lesão
corporal grave ou gravíssima ou homicídio.
Art. 133, §3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço: I – se o abandono
ocorre em local ermo; II – se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou
curador da vítima; III – se a vítima é maior de 60 anos.
A pena será aumentada se a conduta for praticada por agente que tenha laços de parentesco
ou de maior proximidade com a vítima, os quais devem ser provados, e jamais presumidos. O
rol do inciso II é taxativo, não admite analogia, por se tratar de norma prejudicial ao réu. A
enumeração do inciso II, não alcança quem vive em união estável.
O inciso III foi inserido no Código Penal pela Lei 10.741/2003 – Estatuto do Idoso, em razão do
numero cada vez maior de pessoas idosas abandonadas por parentes.
Ação Penal
Conceito
Legal: Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria: Pena – detenção, de
seis meses a dois anos. (art. 134, CP)
Objetividade Jurídica
Tipo objetivo
Se comprovado dolo de provocar a morte por parte de mulher que, por exemplo,
colocou o recém-nascido em uma lata de lixo ou no meio de uma mata, responderá ela por
tentativa de homicídio ou por homicídio consumado. Nestes casos, se ela estiver sob a
influência do estado puerperal, responderá por infanticídio (consumado ou tentado).
Sujeito Ativo: Trata-se de crime próprio ou especial. Somente pode ser cometido
pela mãe que concebeu o filho de forma irregular (Ex. Fora do matrimônio, quando casada). A
mulher pode ser casada ou solteira (Ex. menor de idade, que mora com os pais em uma
pequena cidade, extremamente conservadora, engravida e dá a luz sem saber quem é o pai da
criança). A prostituta, assim conhecida pelas demais pessoas, quando expõe ou abandona o
filho recém-nascido, responde pelo crime de abandono de incapaz (CP, art. 133), pois não goza
de honra apta a ser preservada.
Quem colaborar com a mãe (ou com o pai, para os que o admitem como sujeito ativo)
será partícipe ou coautor do crime de abandono de recém-nascido, nos termos do art. 30 do
CP, desde que tenham entrado em sua esfera de conhecimento.
Para alguns, a queda do cordão umbilical é o marco divisório em que a criança deve
deixar de ser tratada como recém-nascida. A outra corrente defende que a condição de recém-
nascido alcança o primeiro mês de vida.
Consumação
Tentativa
Elemento subjetivo
É o dolo de perigo. Exige o tipo penal um especial fim por parte do agente que é o de
“ocultar desonra própria”. Esse elemento subjetivo do tipo é compatível unicamente com o
dolo direto, excluindo o dolo eventual. A honra que o agente visa preservar é a de natureza
sexual, a boa fama, a reputação. Quando o fato já é conhecido da coletividade, não há como se
ocultar desonra própria, configurando o abandono o crime do art. 133 CP.
Concurso de Agentes: É possível. Quem colaborar para a prática do crime, será partícipe ou
coautor do crime de abandono de recém-nascido, nos termos do art, 30, CP, desde que
tenham entrado na sua esfera de conhecimento.
Formar qualificadas
Art. 134, §1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena – detenção, de um a
três anos. §2º Se resulta a morte: Pena – detenção, de dois a seis anos.
Se as lesões sofridas pela vítima forem leves, subsiste o crime de abandono de recém-
nascido, que as absorve por ter pena maior.
Ação Penal
Generalidades:
O conteúdo lógico da omissão. *O sujeito não será punido pela omissão, pelo ponto
de vista lógico, porque ele não fez NADA. Não há como estabelecer o nexo com o nada, no
ponto de vista lógico.
A omissão gerando punição. *A pessoa não age da forma esperada, e a outra, corre
risco com a sua integridade física, etc.
Conceito
Doutrinário: É a sua inação diante de uma situação que exigia a sua atuação. É você
não fazer alguma coisa, permanecer inerte.
Legal: Art. 135 do CP. “Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco
pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou
em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública”.
Objetivo do legislador:
Masson: “A lei penal protege a vida e a saúde da pessoa humana, pois o crime de omissão de
socorro foi inserido nos crimes contra a pessoa, no capitulo atinente, à periclitação da vida e
da saúde. Além disso, tutela, mediante a solidariedade humana, pois todos os indivíduos
devem auxiliar-se para a regular convivência em sociedade.”
A questão da intervenção para evitar crimes: A omissão de socorro se caracteriza pelo fato de
uma pessoa se encontrar em uma situação de risco e, uma outra, estar em condições de
afastar esse risco e nada fazer em relação a isso.
1º - Há quem afirme que, ainda que o perigo implique na prática de determinado crime, se
você pode agir, para impedir o resultado, e não o fizer, responderá pela omissão de socorro,
isso é em relação ao particular. Exemplo: ver o marido batendo na mulher no meio da rua. Se
você preenche condições de impedir e não o faz, estará cometendo omissão de socorro.
A regra, é que a pessoa é obrigada a prestar assistência para quem estiver em situação
de perigo, mas se esse perigo for um crime, aí sim é faculdade.
*Quem tem o dever legal de agir, e não age, não responderá por omissão de socorro, e sim
pelo resultado que aconteceu, pois tem o dever legal de socorrer. Exemplo: policial quando se
omite e com isso gera um resultado por sua omissão.
Sujeitos do Delito:
Sujeito Ativo: Pode ser praticado por qualquer pessoa, sendo crime comum. Um
aspecto essencial é que se exige a presença do sujeito ativo (autor) no local onde o crime foi
estabelecido. Exemplo: uma pessoa passando mal vai até ao hospital e o médico não está lá
para atender. O médico não poderá ser processado por essa pessoa, pois, ele não estava no
local, ou não foi avisado, ou seja, não estava ciente do caso. Para ser autor tem que ter a
ciência da situação de perigo.
Sujeito Passivo:
Criança extraviada: é a pessoa com idade inferior a 12 anos que está perdida, isto é,
não sabe retornar por conta própria ao local em que reside ou possa encontrar resguardo e
proteção.
Pessoa inválida: aquela que por razões normais ou excepcionais se encontra sem
condições de autodefesa, depende de outras pessoas.
Masson: “Invalidez é a característica inerente à pessoa que não pode, por conta própria,
praticar os atos cotidianos de um ser humano. Pode advir de problema físico ou mental. Mas
não basta a invalidez. Exige-se ainda que esteja a pessoa ao desamparo, isto é, incapacitada
por se livrar por si só da situação de perigo.”
Pessoas feridas: machucadas, caiu, bateu a boca, caiu de moto, cortou os dedos com a
tesoura de cortar árvore; o machucado tem que ser de uma intensidade que impeçam a
pessoa de se defender.
Masson: “Pessoa ferida e ao desamparo: é aquela pessoa que sofreu lesão corporal, não
necessariamente grave, acidentalmente ou provocada por terceira pessoa. Mas não basta
estar ferida. É imprescindível que também se encontre ao desamparo, ou seja, impossibilitada
de afastar o perigo por suas próprias mãos.”
Masson: “Pessoa em grave e iminente perigo: o perigo deve ser sério e fundado, apto a causar
um mal; relevante em curto espaço de tempo. Não é necessário que a vítima seja inválida,
nem que esteja ferida. A lei exige tão somente a presença de grave e iminente perigo, pouco
importando se tenha essa situação sido provocada por terceiro, pela natureza ou até mesmo
pela própria vítima.”
Tipo objetivo:
Negativa direta ou imediata: Quando a pessoa pode afastar o perigo com suas próprias forças
e não o faz. Pode agir e não age. Também chamada de falta de assistência imediata. Ex. uma
pessoa vê outra se afogando e, sabendo nadar, nada faz para salvá-la.
Negativa indireta ou mediata: Quando não se pode agir diretamente, mas poderá acionar a
autoridade competente e não o faz. Também chamada de falta de assistência mediata.
Tipo subjetivo:
Crime exclusivamente doloso. Não tem como praticar a omissão de socorro culposo. O
dolo consiste na ciência do perigo e na vontade de nada fazer para afastá-lo.
Consumação:
Tentativa:
Não é possível a tentativa no crime de omissão. Porque quando você deixa de fazer, o
crime já está consumado.
Resultado lesão corporal de natureza grave, a pena será aplicada em dobro (pena em
dobro da omissão de socorro). Se a lesão grave já qualifica, a gravíssima também.
Omissão na saúde
Art. 135 - A, CP - Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o
preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento
médico-hospitalar emergencial: Pena- detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
Parágrafo único: A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta lesão
corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte.
Sujeitos do Delito:
Sujeito Passivo: É a pessoa acometida de problema em sua saúde, e por esta razão
necessitada de atendimento médico-hospitalar emergencial.
Tipo Objetivo:
Tipo Subjetivo:
Causas de Aumento de Pena: A pena será aplicada em dobro se houver lesão corporal de
natureza grave; será triplicada, se ocorrer a morte. Lembremos que o resultado mais grave
somente pode dar-se com culpa, pois se iniciou a ação com dolo de perigo (é o que se chama
de preterdolo, isto é, dolo na conduta antecedente e culpa na conduta consequente). O dolo
de perigo (no início) é incompatível com o dolo de dano (no fim) nos crimes qualificados pelo
resultado.
Conceito
Legal: Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou
vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de
alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou
inadequado, quer abusando dos meios de correção ou disciplina: Pena – detenção, de dois
meses a um ano, ou multa. (art. 136, CP).
Objetividade Jurídica
Elemento objetivo
A conduta típica incriminada é a de expor a risco a vida ou a saúde da vítima por uma
das formas enumeradas no tipo penal.
Formas de execução:
a) Privação de alimentos: a lei se refere a vítimas que não têm condições de obter o próprio
alimento, de modo que o agente comete o crime deixando de alimentar a pessoa que está
sob sua guarda, autoridade ou vigilância. Ex. o carcereiro que deixa de alimentar o preso
durante um dia pode incorrer no crime de maus-tratos. Caso a privação de alimentos se
estenda um pouco mais, ele poderá responder por crime de tortura (art. 1º, II, ou §1º, da
Lei 9455/97). Se parar de fornecer alimentação em definitivo, estará praticando homicídio,
consumado ou tentado, dependendo do resultado.
d) Abuso dos meios de disciplina e correção: a lei não considera crime a aplicação de leves
palmadas ou chineladas em criança. O delito consiste no abuso do poder de correção e
disciplina, quando o meio empregado gera situação de perigo para a vida ou para a saúde
da vítima. Ex. chutes ou socos na vítima, surras com uma cinta etc.
Sujeitos do Delito
Sujeito Ativo: O crime de maus-tratos é um crime próprio específico, pois exige uma
vinculação, uma relação jurídica entre o sujeito ativo e a vítima, na medida em que o texto
legal exige que ela esteja sob autoridade, guarda ou vigilância do agente para fim de educação,
ensino, tratamento ou custódia. A vítima, portanto, deve estar subordinada ao agente.
Autoridade é o poder de uma pessoa sobre a outra, e pode derivar direito público ou privado.
Guarda é a assistência a pessoas que não prescindem dela. Vigilância é o zelo pela segurança
pessoal, mas sem o rigor da guarda.
O marido não pode ser sujeito ativo do crime em tela contra a esposa, nem o
contrário, pois inexiste hierarquia entre eles no âmbito da relação matrimonial.
Sujeito Passivo: Não pode ser qualquer pessoa, mas somente aquela que se encontrar
sob autoridade, guarda o vigilância do agente, para fim de educação, ensino, tratamento ou
custódia. O pai só se enquadra como autor desse delito se o descendente for menor de idade,
ou se mesmo com 18 anos o filho permanecer sob a autoridade do pai.
Consumação
No momento da produção de perigo. Trata-se de crime de perigo concreto em que
deve ser produzida prova da efetiva situação de risco sofrida pela vítima.
Tentativa
É possível nas modalidades comissivas. Ex. alguém que ia desferir cintadas na vítima,
mas é detido por outra pessoa quando a cinta estava prestes a atingir o sujeito passivo. Nas
hipóteses de privação de alimentos ou cuidados indispensáveis, a tentativa é impossível.
Elemento subjetivo
Figuras qualificadas
Art. 136, §1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena – reclusão, de um a
quatro anos. §2º Se resulta a morte: Pena – reclusão, de quatro a doze anos.
Crime exclusivamente preterdolosos, em que o agente atua com dolo em relação aos
maus-tratos e culpa quanto ao resultado agravador.
Maus-tratos Contra Idoso: Se a vítima for idosa, incide o crime tipificado pelo art. 99 do
Estatuto do Idoso – Lei 10.741/2003.
O conflito aparente normas é resolvido pelo princípio da especialidade. As penas são idênticas,
tanto no art. 136, CP como no art. 99 do Estatuto do Idoso, tanto na forma simples como nas
formas qualificadas.
Ação Penal
Conceito: A rixa é uma contenda entre várias pessoas, de forma que não há possibilidade de
identificar, individualmente, quem foram os causadores das lesões (a coisa é generalizada). O
que determina a rixa é o fato de não se poder identificar as lesões, quando se tem grupo, o
que pode acontecer é as lesões serem definidas, serão lesões corporais recíprocas em
concurso de pessoas por grupos. Ex. um grupo das pessoas de camisas brancas, batendo nas
pessoas de camisa preta e branca e estas, batendo nas de camisa branca. Logo, não é o fato de
se ter várias pessoas que define a rixa.
Conceito
Legal: art. 137: o crime não é a rixa em si, é a participação na rixa, ‘participar da rixa,
salvo para separar os contendores’. É entrar na rixa, é colaborar com ela. Participar é o verbo
núcleo do tipo.
Objetividade Jurídica:
Proteger a incolumidade do ser humano, integridade física, saúde. Mas pode ser
qualificado pelo resultado morte e lesão corporal. A proteção direta é a incolumidade.
Indiretamente: O objetivo do legislador é proteger a Vida indiretamente.
Sujeitos do Delito: Crime plurissubjetivo é o crime de concurso necessário, ou seja, não pode
ser praticado sozinho.
A pessoa nunca vai ser vítima do seu próprio comportamento, ou seja, a pessoa não
pode ser sujeito ativo e passivo do seu comportamento. Só pode ser vítima do comportamento
do outro.
Sujeito Ativo: participante. (não importa se participou com a mão ou com a orelha)
Explico: Todos são sujeitos ativos e passivos com relação ao comportamento dos demais
participantes. A pessoa não será sujeito passivo do seu próprio comportamento. Ex. duas
pessoas se agredindo = lesões corporais recíprocas – pega um, ele será sujeito passivo das
lesões que ele sofreu e sujeito ativo das lesões que ele causou e o outro das lesões que sofreu
será sujeito passivo, mas das lesões que ele causou no outro, será sujeito ativo; mas não serão
sujeitos passivos do seu próprio comportamento e sim do comportamento do outro.
Reciprocidade: Não existe simultaneidade no sujeito ativo e passivo, mas sim reciprocidade,
ou seja, é sujeito ativo e passivo reciprocamente e não simultaneamente.
Descrição Objetiva:
Conduta: A conduta prevista pelo legislador é participar, seja qual for a forma. Só
exclui os que tentam separar. Se a pessoa que entra para separar acaba entrando na rixa, é
considerado participante.
*As ações isoladas caracterizam outros crimes: homicídio, lesões corporais, tentativa de
homicídio. Identificando a ação individualizada, quem matou, por exemplo, essa pessoa
responde pelo resultado.
Tipo Subjetivo
A rixa se inicia com o conflito, para aqueles que estão participando e para aqueles que
entram, consuma-se quando participa. E o crime continua se consumando enquanto a rixa está
acontecendo.
Tentativa
*É possível a legítima defesa? É possível somente nas reações individualizadas. Para rixa não é
possível legítima defesa, pois para ser legítima defesa precisa ter os requisitos: 1º-agressão
atual, iminente e injusta. 2º-deve ser reação à agressão. Quem participa da rixa é sujeito ativo,
logo, ele está agredindo e se o faz, não pode estar ao mesmo tempo reagindo. Mas das
agressões individualizadas pode alegar legítima defesa. Ex. se um sujeito, no meio da rixa, vem
com uma faca para acertar a pessoa, e ela dá um tiro para se defender e ele morre; no
homicídio alega legítima defesa, mas responde pela rixa, pois aí a pessoa era agressor; não
exclui a antijuridicidade da rixa, só do homicídio.
Formas Qualificadas
Morte – se não identificou quem foi o homicida, todos responderão pela rixa qualificada
pelo resultado morte.
Lesão Corporal de natureza grave ou gravíssima – até quem sofreu a lesão responde pela
rixa qualificada. Ela não vai responder por lesões corporais, vai responder por rixa
qualificada.
Quem vai responder pelos resultados ou pelas formas qualificadas? Todos aqueles que
participaram da rixa antes de sua ocorrência, ainda que já tenham saído. Ex¹. a pessoa
participou 3 minutos, saiu da rixa, e logo após houve morte. Ela responderá pelo resultado
morte. Obs. Isso só acontecerá se não souber quem foi o homicida.
Ex². Todos viram quem causou a lesão corporal de natureza gravíssima, arrancou o braço. A
pessoa que causou a lesão responderá pela lesão corporal de natureza gravíssima e por rixa
simples e a pessoa que teve o braço arrancado responderá por rixa qualificada como os outros.
*Não respondem os que entram depois – se entrou após a ocorrência do resultado, responde
pela forma simples (rixa simples).