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LESÃO CORPORAL – Art.

129

Conceito

Legal: Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem. Pena - detenção, de três


meses a um ano. (art. 129, CP) – em termos de punição pode ser agravadas dependendo da
lesão ou comportamento.

Doutrinário: ofensa à inteireza do organismo do ser humano, bem como à sua saúde.

Objetividade Jurídica (objetivo do legislador):

O estatuto penal visa proteger a integridade física e saúde do ser humano (pleno gozo das
capacidades físicas e mentais) e a saúde do ser humano em seus aspectos:

1- Anatômico: refere-se a cortes, pancadas, unhadas, queimaduras, podendo ser no braço,


perna, dedo, boca, nariz, pé...

2- Fisiológico: são as funções tais como, doenças, intestino solto.

3- Psíquico: É o aspecto psicológico, exemplo: deixar o sujeito, com a lesão corporal, com
problemas mentais.

*Lesão Corporal existe ainda que não haja agressão e sangramento, ela não é só pancada,
pode fazer por constante desagravo. A simples dor não caracteriza a lesão corporal, pode
existir lesão corporal sem que haja dor física, assim como poderá existir lesão corporal
provocando dor sem que haja a lesão dos tecidos corpóreos. Tem de haver lesão ao tecido ou
a saúde, algum tipo de lesão.

A questão da Indisponibilidade do bem (integridade física): não se pode dispor da integridade


física, ainda que haja o consentimento, não elimina a responsabilidade do agressor, porque é
bem indisponível (ação penal pública incondicionada). Entretanto, na última alteração na
Legislação Penal, por força da lei 9099, a lesão corporal de natureza leve passou a depender de
representação (ação penal pública condicionada à representação). A indisponibilidade foi
relativizada, pode-se dispor, em parte, da sua integridade física.

Sujeitos do Crime

Ativo: O crime de lesão corporal não é próprio, é crime comum. Em face disso, pode
ser cometido por qualquer pessoa. Não há qualquer exigência ou ressalva.

Passivo: o ser humano. Exceção: no caso da lesão grave pela aceleração de parto e a
gravíssima pelo aborto, só poderá ser sujeito passivo a mulher e gestante.

*Nenhum animal pode ser vítima porque não é sujeito de direito.

Autolesão:
Conceito: Autolesão é o sujeito provocar a lesão em si mesmo. É a ofensa a sua
integridade física ou à sua saúde.

Punição: não há punição para pessoa que se auto lesiona, isso se levar em
consideração somente a lesão. Porque a autolesão pode ser meio para outro crime, se for para
forjar o recebimento de seguro, por exemplo, é fraude; cortar o dedinho para se aposentar,
fraude contra o INSS e são formas de crime de estelionato (art. 171 a 179). Desta forma
responde por estelionato.

Serviço Militar: se autolesionar para escapar do serviço militar, crime próprio militar. Ex. tira
um dedo, não dá para puxar o gatilho. Artigo 184 CPM.

Na legítima defesa ou Auto lesão mediata: a pessoa pode se autolesionar ao se defender da


agressão, neste caso, o agressor irá responder pelas autolesões do agredido, pois ele se
machucou em virtude da agressão sofrida. Ex. Ao tirar a peixeira do agressor, a vítima se
cortou.

O CP não pune a autolesão. Não constitui delito o fato de o sujeito ofender a própria
integridade corporal ou a saúde. Mas, se o sujeito lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava
as consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro,
responde por estelionato, denominado como fraude para recebimento de indenização ou valor
de seguro (CP, art.171, parágrafo 2º, V). Neste caso, o estatuto penal não esta punindo a
autolesão como delito autônomo, mas sim como meio de execução de crime de estelionato,
em que o objeto jurídico não é a incolumidade física da pessoa, mas o patrimônio. Se o sujeito
cria ou simula incapacidade física, que o inabilite para o serviço militar, responde pelo crime
do art. 184 do COM. O código não esta punindo a autolesão, mas aplicando sanção ao sujeito
que se vale desse meio de execução para praticar crime contra o serviço e o dever militar.

Descrição Objetiva ou Tipo Objetivo:

Conduta: ofender, lesar, machucar.

*O fato de agravar lesão existente, também caracteriza o crime de lesão corporal, porque
aumentou a sua gravidade. Ex. Está com uma pequena lesão, enfia o dedo e abre mais. Está só
trincado, acaba de quebrar. A pessoa estava com uma gripe, tira o cobertor, a roupa, manda
dormir no chão, a gripe vira pneumonia. Tá com um pulmão só com pneumonia, toma um
banho frio para pegar nos dois.

*Alteração do Estado de ânimo (não caracteriza): não é lesão, ter alterado o estado de ânimo
não significa ficar doente, a lesão é quando a pessoa fica doente. Ex. o agente provoca a
pessoa até que ela fique muito nervosa. “To nervo!!!” – não é lesão corporal, está ficando
louco, mas não ficou... não é lesão corporal. Se em consequência da provocação a pessoa tem
um mal súbito ou fica acometida de uma patologia, então, será caracterizada a lesão corporal.

*Pluralidade de lesões – contexto único: nas lesões corporais sempre vai haver a pluralidade
de machucados. Se o contexto é único, o crime é único (caracteriza um único crime). Ex. bate
várias vezes, pontapés, soco, paulada...
*Somente dor (não caracteriza o crime) – só a dor dissociada de qualquer outra ofensa, não
caracteriza lesão corporal. Embora não haja lesão, pode ser caracterizada tortura, que é mais
grave que a lesão corporal. Ex. pegar a mulher pelos cabelos e balançar, ela vai ficar com dor
de cabeça, mas não vai caracterizar o crime. Pega a toalha molhada, segura as pontas, não
pode bater com a ponta porque marca, e bate muito, o sujeito vai ficara dolorido, mas não se
acha lesão, neste caso, não tem lesão corporal. Choque, só para sentir a dor.

Princípio da Insignificância ou Irrelevância: se ocorrer somente o eritema, aquele vermelhidão


na pele, que rapidamente some, não caracteriza a lesão corporal, não dá nem tempo de
realizar o exame de corpo de delito.

Tipo Subjetivo:

O crime de lesão corporal está previsto na modalidade dolosa, culposa e preterdolosa.

*Dolo: o dolo, na lesão corporal, é a vontade de machucar, de ofender (animus laedend).

*Fator distintivo da tentativa de homicídio: o dolo é o que distingue uma lesão corporal da
tentativa de homicídio. Para ter a tentativa de homicídio tem que se ter a vontade de matar
(animus necandi). Se não houver a vontade de matar, não podemos falar em tentativa de
homicídio, desta forma, sobra a lesão corporal. E se a pessoa morrer, preterdolo, que é a lesão
corporal seguida de morte. Ex¹. empurrou a mulher, ela caiu e bateu com a cabeça vindo a
morrer, tinha a intenção de lesionar, animus laedend, mas não tinha a intenção da morte,
animus necandi (analisa-se o contexto). Ex². Deu duas pauladas, não tinha intensão de matar,
pois se tivesse teria dado várias até matar. Ex³. O agente pega um facão e sai desferindo
golpes, nas pernas, nos braços, logo, pelo contexto, ele não queria só machucar, queria matar,
tinha o animus necandi. Se acaso estivesse com a chapa do facão, e bate, umas quarenta
vezes, ficou toda roxa, mas não tinha intenção de matar. Foi uma facadinha só, mas foi bem
em cima do lugar que era para estar o coração, intenção de matar. Como se apura a vontade?
Através dos meios utilizados, gravidade das lesões, sede das lesões, a maneira como se age, ou
seja, analisar o contexto – parte subjetiva do tipo, ou seja, o dolo.

*Culpa. Artigo 129§6º: quando provoca a lesão sem querer, pisar no pé, enfia o dedo no olho
do outro, sem intenção. Não tem graduação, ela pode até ter resultado grave, gravíssimo, mas
vai ser lesão corporal culposa. Na lesão corporal dolosa há graduação leve, grave, gravíssima.
Obs. no Código de Trânsito a pena para lesão corporal culposa é maior do que a pena da lesão
corporal dolosa, no Código Penal.

*Preterdoloso. Artigo 129§3º: tem dolo no comportamento antecedente, que é a lesão


corporal e culpa em relação ao resultado qualificador que acabou advindo do comportamento
do agente, a morte. Há doutrinadores que dizem que é uma forma de homicídio, não seria
lesão corporal preterdolosa e sim homicídio preterdoloso. De qualquer forma, a previsão que
temos na nossa legislação em relação ao crime de lesão corporal é aquela que se refere à
realização do comportamento no sentido de se obter a lesão corporal, ou seja, um
comportamento anterior doloso, mas realiza o comportamento de tal forma que ele acaba
provocando a morte da vítima. Morte esta que não era querida, não era a intenção e nem
pode ser, porque se for, não falamos de lesão corporal seguida de morte e sim em homicídio.
O preterdolo, em termos de punição, ocupa uma posição intermediária; temos um homicídio
inteiramente doloso, temos a lesão corporal seguida de morte (em que há dolo e há culpa, que
é a posição intermediária) e o homicídio culposo. Homicídio culposo a pena é menor,
homicídio doloso pena maior e homicídio preterdoloso ou lesão corporal seguida de morte,
pena intermediária e o é por causa da existência de dolo em uma parte e culpa na outra parte,
não se pode ser punido como se fosse um comportamento inteiramente doloso e nem como
um comportamento integralmente culposo. Exemplo de lesão corporal seguida de morte:
Sujeito que dá um tapão na vítima, ela tropeça, bate a cabeça em uma guia de sarjeta, quina,
pedra e vem a morrer em razão disso. Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o
agente não quis e nem assumiu o risco de produzir o resultado (§3º, art. 129 ‘Se resulta morte
e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de
produzi-lo: Pena - reclusão, de quatro a doze anos’). Geralmente, quem dá um safanão não
está querendo matar, a não ser que a vítima esteja na beirada de um precipício. Ex². O agente
dá um chute no pescoço da vítima e ela vem a morrer (não é um golpe que, geralmente, leva a
pessoa a morte, evidenciando a lesão corporal seguida de morte – dolo na lesão e culpa na
morte – mesmo sendo arte marcial). Ex³. Jogar uma pedra para machucar, pega de mau jeito e
a vítima morre, lesão corporal seguida de morte. Agora, se jogou a pedra só pra passar perto
da pessoa, ela virou, acertou e morreu, aí seria homicídio culposo. (a lesão corporal seguida de
morte tem a pena mais grave que o homicídio culposo).

Obs. para ser culpa, eu não queria machucar e nem matar.

DOUTRINA: O Tipo Subjetivo é a vontade livre e consciente do agressor de produzir uma lesão
causando um dano ao corpo ou à saúde de outrem. Exige que o agente esteja animado da
intenção de ofender (animus laedendi). Bem exemplificado por Mirabete: "O dolo do crime de
lesões corporais é a vontade de produzir um dano ao corpo ou à saúde de outrem ou, pelo
menos, de assumir o risco desse resultado. É o denominado animus laedendi, que diferencia o
delito de lesão corporal da tentativa de homicídio, em que existe a vontade de matar (animus
necandi)." Bitencourt explica a diferenciação entre a lesão corporal e tentativa de homicídio: O
que distingue o crime de lesão corporal da tentativa de homicídio cruenta é exatamente o
elemento subjetivo: neste há o dolo de matar; naquela, tão-somente o de lesar o corpo ou a
saúde. Contudo, se o dolo é somente de lesar a integridade física, mas a vítima morre por
causa da lesão, o homicídio é preterdolo (ou lesão corporal seguida de morte, na linguagem da
lei). Indiscutivelmente, o dolo pode ser direto ou eventual; particularmente, essa modalidade
de infração penal é uma das poucas que admitem a possibilidade da terceira modalidade, qual
seja, o preterdolo, em determinadas figuras qualificadas: a ofensa à integridade física é punida
a título de dolo, e o resultado qualificador, a título de culpa. De acordo com o que disse
Bitencourt, podemos entender que a distinção entre o crime de lesão corporal da tentativa de
homicídio é o elemento subjetivo, que como já foi dito antes é o dolo de lesionar, de matar ou
mesmo de expor alguém a perigo. Importa notar também que quando a intenção do agressor
for de apenas lesionar alguém, sem a intenção de matar, mas que por fim acaba causando,
este irá responder por lesão corporal seguida de morte, é o homicídio preterdolo. Jorge nos
traz um bom exemplo sobre isto: "Apontar arma para as pernas da vítima e atirar demonstra
intenção de ferir, enquanto que, diversamente, indica intenção de matar se mirar no peito ou
cabeça daquela".
Consumação e Tentativa do Crime de Lesão Corporal

Consumação: o crime de lesão corporal se consuma com o resultado material, ou seja, com a
efetiva ofensa à integridade corporal ou à saúde física ou mental da vítima.

A tentativa da lesão corporal é discutível: A situação é complexa a ponto de termos 4


entendimentos distintos: No primeiro entendimento, há o reconhecimento da tentativa de
lesão corporal, tendo por base o início da execução direcionada a lesão e a sua não
consumação por circunstâncias alheias a vontade do agente. Há, entretanto, aqueles que não
admitem a tentativa de lesão corporal pelo fato desta tentativa caracterizar uma contravenção
penal consumada, que é a contravenção de vias de fato (art. 21 da Lei de Contravenção Penal)
e que ela deve ser aplicada ao invés da lesão corporal. Outros, pelo fato da vias de fato ter a
pena menor do que a de lesão corporal, entendem que deve ser aplicada a pena de lesão
corporal. Há aqueles que fazem o conflito da tentativa de lesão corporal com o crime de perigo
para a vida ou para a saúde de outrem, subsidiária, e de forma expressa, e pela disposição da
indicação da pena, a pena de lesão corporal será menor que a do art. 132, e sendo menor, nós
temos que aplicar o art. 132 e ao aplicarmos o art. 132 nós afastamos a possibilidade de
aplicação do art. 129 c.c com o art. 14, que é tentativa de lesão corporal. O entendimento que
é adotado pela maioria, todavia, leva em conta o dolo, como na lesão corporal o dolo é de
dano e como no perigo para a vida e para a saúde de outrem o dolo é de perigo, prevalece a
tentativa de lesão corporal.

CLASSIFICAÇÃO DA LESÃO CORPORAL: Lesão Corporal de Natureza Leve, Grave, Gravíssima e


Lesão Corporal seguida de morte.

*O legislador só faz a divisão entre lesão corporal de natureza grave (art. 129, §1º) e
gravíssima (art. 129, §2º). Será leve (caput do art. 129) quando não for nem grave nem
gravíssima, será por exclusão.

Lesão Corporal de Natureza Grave

A) Incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias: (transitória ou temporária)


a pessoa vai ficar 31 dias ou mais sem fazer o que fazia habitualmente e ocupação habitual não
é trabalho, mas aquilo que se faz todos os dias. Ex. idoso, joga truco, faz caminhada, vai ao
baile – isso é ocupação habitual, não precisa ser trabalho.

 Ocupações habituais – alcance: toda atividade que não for de natureza ilícita, pode ser
ocupação habitual. Ex. ficou 40 dias sem fazer a recolha do jogo do bicho, sem vender a
maconha, não vai caracterizar porque é uma atividade ilícita. Sendo lícita, pode fazer
qualquer coisa, e o fato de a pessoa em razão da lesão deixar de fazê-lo, pode caracterizar
essa modalidade grave da lesão corporal.

 Necessidade de limitação orgânica: a limitação, ou seja, o que impede a pessoa realizar


suas atividades tem que ser uma limitação orgânica decorrente da lesão. Ex. ficou
engessado. Não pode ser psicológica. Ex. ficou traumatizado. Tem que ser algo que
realmente lhe impeça realizar os movimentos que realiza normalmente para as suas
atividades.
 Não inclui aparência: ficou roxinho, não pode ser limitação, tem que ser física ou orgânica.
(vergonha, medo – descaracteriza a forma grave da lesão corporal). A não ser que tenha
levado um soco em cada olho e ficou inchado sem conseguir enxergar nada, aí sim
caracteriza a incapacidade.

 Criança: pode ser vítima.

 Idoso: também pode ser vítima.

 Prostituta: a prostituição, embora ainda não possa ser classificada como profissão, é
atividade lícita, pois há um decreto que regulamenta a prostituição, então pode ser vítima.
(lembrando que não precisa ser trabalho, apenas ser atividade lícita). Obs. não precisa ser
com relação à profissão dela.

- A questão temporal e o exame complementar: Uma questão processual importante em


relação a essa hipótese. O legislador determina no art. 168, CPP (‘Em caso de lesões corporais,
se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto, proceder-se-á a exame complementar por
determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério
Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor. § 1o No exame complementar, os
peritos terão presente o auto de corpo de delito, a fim de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo.
§ 2o Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1o, I, do Código
Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado da data do crime. § 3o A
falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal’), que para
capitulação da lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, deve ser feito o exame
complementar. O médico talvez não consiga constatar em um primeiro contato com a vítima a
existência de uma debilidade permanente, sendo necessário um exame complementar tão
logo decorra o prazo de 30 dias (não precisa ser exatamente no 31º dia, pode ser no 32º, 33º,
mas tem que ser perto dos 30 dias), não contado da data do primeiro exame, mas da data do
fato. Se fizer um exame antes, será nulo, porque ele não estará afirmando que a pessoa ficou
incapacitada, ele estará prevendo que a pessoa poderá ficar incapacitada. E o que o legislador
exige para que o réu seja condenado, para que o crime possa ser caracterizado, é que a vítima
efetivamente fique incapacitada. Também não pode passar muito tempo, pois se passar, o
médico não vai detectar o período, ele vai imaginar e adivinhar se o sujeito ficou mesmo
incapacitado. O médico não pode faze exame baseado no que a vítima diz, mas sim fazê-lo de
acordo com o que vê. A entrevista é uma das fontes de informações de que o médico precisa
para fazer o exame, mas não pode ser exclusiva. Se a perícia não for possível, supre-se por
prova testemunhal.

B) Perigo de vida (perigo de morte): a lesão corporal também é de natureza grave quando a
vítima, em razão da lesão, corre o perigo de morte. Perigo de morte é probabilidade de
morrer, exemplo, passou pela UTI é porque a vítima quase morreu.

 Probabilidade de morte: em razão da lesão quase morreu, perigo de morte é passar pela
UTI.
 Perigo concreto: probabilidade concreta de morte. Ex. perfurações de órgãos vitais, tais
como: pulmão, fígado, lacerou o baço; hemorragia intensa; politraumatismo; traumatismo
craniano.

Ex. O sujeito pegou uma agulha de tricô e enfiou no peito da outra pessoa, ficou certinho ao
lado do coração, se desvia um pouquinho furaria seu coração e ela teria morrido. Correu
perigo de vida? Concreto não, esse perigo foi um perigo abstrato, ela não foi para a UTI, logo,
não correu o perigo de vida que trata a lesão corporal de natureza grave. Levou um tiro e só
cortou o couro cabeludo, correu perigo, correu, mas não foi para a UTI, e se não foi, não é
lesão corporal de natureza grave.

C) Debilidade permanente de membro sentido ou função:

 Debilidade: é a redução da capacidade das atividades do ser humano (quer membro,


sentido ou função), ou seja, é uma diminuição, a debilidade ocorre quando as coisas
funcionam, mas não como deveria, com a capacidade plena como deveriam funcionar. Ex.
perdeu apenas a visão de um olho.

 Permanente: não basta que ocorra a debilidade, ela tem que ser permanente, ou seja, não
há prognostico de retorno, não se sabe nem se a vítima vai sarar ou quando vai sarar.
Mesmo que haja a compensação por prótese, não descaracteriza a forma grave.

 Membro: debilidade permanente de membro que é tudo aquilo que está pendurado no
tronco do ser humano. Ex. pernas, braços, pênis. (seio não é membro, apenas compõe o
tronco). Ex. sujeito toma um chute no saco e seu membro fica pastoso, ou seja, teve uma
debilidade no membro, neste caso a qualificadora pode estar ligada à função reprodutora
ou ao membro que é a característica física. Cabeça não é membro.

 Sentido: é tudo aquilo que permite o contato do ser humano com o mundo (visão, olfato,
paladar, tato e audição), pode-se ter diminuído o seu sentido. Ex. o agente fura o olho da
vítima, o tímpano, passa a língua no esmeril, coloca as mãos da vítima na frigideira. Temos
tato no corpo todo, não é só na mão. Ex. perdeu a audição em um dos ouvidos; perdeu a
visão em um dos olhos.

 Função: são aquelas executadas pelos nossos órgãos ou conjunto de órgãos (respiratória,
circulatória, digestiva, excretora, reprodutora). Ex. perdeu um dos rins; perdeu um dos
ovários, ou seja, teve diminuída a sua capacidade de reprodução. Teve diminuída a
capacidade de excreção.

Obs. O que não se deve falar: ficou meio cego; cego de um olho; meio surdo; surdo de um
ouvido; porque surdo é quem não escuta, cego é quem não enxerga, não tem meio.

Ex. Mulher coloca uma bombinha no pênis do marido, marido teve uma hemorragia e acabou
morrendo. Se for apenas uma bombinha, ela só queria capá-lo, responderá por lesão corporal
seguida de morte.
D) Aceleração de parto: antecipação do parto, que é a criança nascer antes do tempo. Para
que isso ocorra, é necessário que a criança nasça e continue a viver. Ex. o sujeito deu um tapão
na mulher e a criança nasce em decorrência disso.

 Exigência de nascimento e continuidade da vida: se a criança morrer depois, será aborto e


não antecipação do parto. Se vier a morrer depois por outra situação, não transforma o
crime em aborto.

 Necessidade de conhecimento da gravidez: é necessário, para que a pessoa responda, que


tenha conhecimento da gravidez e que não queira o aborto. Porque se ele o quiser,
caracterizará lesão corporal e aborto, sendo concurso de crime e não lesão corporal de
natureza grave. E se o agente não conhece a gravidez? Lesão Leve, pois não podemos
imputar a pessoa um resultado em que ela não está ligada subjetivamente.

Lesão Corporal de Natureza Gravíssima

A) Incapacidade permanente para o TRABALHO: aqui é em relação ao trabalho, o legislador


não está falando de ocupação habitual, essa situação só atinge quem tem prejudicada uma
atividade laborativa. E o trabalho aqui é em sentido amplo, ou seja, qualquer trabalho desde
que seja lícito. O legislador não faz referência alguma à questão de ser ou não remunerado,
fala de estar incapacitado para trabalhar. Ex. pode ser trabalho doméstico. O agente será
punido por lesão corporal de natureza gravíssima quando a vítima ficou impossibilitada de
executar o trabalho que ela exerce, ou só pode punir o agente por essa forma quando o sujeito
ficar impossibilitado para qualquer trabalho? Quando ficar impossibilitado de executar
qualquer trabalho. Ex. a pessoa fica impossibilitada de dar aula, mas pode vender bilhete, não
vai caracterizar esse crime. Ex. a pessoa toca piano, perde os dedos, não pode mais tocar, mas
pode dar aula de piano. Ex. era jogador de futebol e perdeu o pé, pode ser técnico de futebol,
comentarista...

 Trabalho em geral: tem que ficar incapacitado para qualquer trabalho.

 Atividade Lícita: tem que ser atividade lícita. Ex. comerciante de maconha, cocaína – não é
lícito.

B) Enfermidade incurável: é o sujeito que fica doente em razão da lesão corporal e não tem
tratamento para cura. Pode até ter um tratamento profilático para estender o tempo de vida
da pessoa, no caso do risco de morte, pode minimizar os efeitos da doença, mas não tem uma
cura para ela. Ex. Transmissão da Aids, propositadamente causa na pessoa a doença, pratica o
crime de lesão corporal de natureza gravíssima por ter provocado uma enfermidade incurável.
Uma pancada na cabeça pode causar um desequilíbrio até físico na pessoa, exemplo, antes
andava direitinho, após, passa a andar arrastando uma perna.

C) Perda ou inutilização de membro, sentido ou função: nesse caso não é debilidade, é perda
mesmo. Não é redução na capacidade, é eliminação total. Ex. extirpa o membro. Inutilização, o
membro está ali, mas não tem efeito nenhum. Ex. O agente arrancou a mão da vítima, não
perdeu o membro, mas ele fica inutilizado. Perder dedo reduz a capacidade, mas não elimina,
logo, perder dedo é lesão corporal de natureza grave pela debilidade permanente. Perder a
mão é inutilização do braço. Ex. O sujeito fica cego, surdo, quando perde útero, perde os
ovários, porque aí está eliminando as funções. Às vezes não perde, mas não funciona mais. Ex.
O homem leva um chute no saco escrotal, o membro ficou ali, mas não funciona mais, houve
uma inutilização. Funciona, mas o chute foi tão grande que não produz mais espermatozoide,
não perdeu o membro, nem o inutilizou, mas inutilizou a função.

D) Deformidade permanente: lesão estética relevante. Ex. Cicatriz. Arrancou uma parte da
nádega. Fica sem as orelhas. Ficou com a perna torta. A lesão que causa mais deformidade
permanente é a queimadura; se ela não for só superficial, se queimou o tecido muscular, não
tem mais jeito. O defeito tem que ser visível, perceptível. Ainda que a pessoa tenha feito
cirurgia plástica, não exclui o crime. Tatuagem para disfarçar as marcas também não
descaracteriza a deformidade permanente.

E) Aborto: o sujeito lesionou a grávida, bateu nela, sem a intenção de provocar o aborto,
porque se a intenção foi de provoca-lo, o crime será de aborto. Entretanto, ele tem que ter
ciência da gravidez.

Lesão Corporal Seguida de Morte (§3º, art. 129)

(‘Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem
assumiu o risco de produzi-lo: Pena - reclusão, de quatro a doze anos’).

Lesão Corporal seguida de morte, é o crime preterdoloso, é aquele no qual a vítima


morre não em razão da vontade do agente, mas como consequência de sua atuação. Logo, o
agente quando executa o comportamento, tem a intenção de praticar a lesão corporal, mas a
vítima vem a morrer em razão desse fato. Ex¹. Deu um tapão na orelha da vítima, ela caiu,
bateu a cabeça em uma quina, teve um traumatismo craniano e morreu. Ex². Deu uma facada
na perna da pessoa, mas atingiu a veia femoral. São situações que evidenciam que a pessoa
não tinha a intenção de matar, mas ela acabou ocorrendo.

O crime aqui é preterdoloso porque quando a pessoa iniciou o seu comportamento,


ela agiu com dolo, porque tinha a intenção de causar a lesão corporal, mas provocou o
resultado morte, entretanto este resultado não era querido e nem foi aceito pela pessoa.
Nesse caso temos uma posição intermediária entre o homicídio doloso e o homicídio culposo.
Não pode punir pelo homicídio doloso porque não tinha o animus necandi, mas também não
pode punir apenas pelo homicídio culposo porque tinha a intenção de machucar a pessoa.
Logo, tem-se uma figura intermediária entre culpa e dolo que é o preterdolo. Dolo no
comportamento ou no resultado menos grave e culpa no resultado mais grave que acabou
acontecendo. Em termos de punição, a lesão corporal seguida de morte também tem uma
pena intermediária. A pena para o crime culposo é menor (detenção de 1 a 3 anos), para o
preterdoloso, que é a lesão corporal seguida de morte, tem-se um pena intermediária
(reclusão de 4 a 12 anos), e para o homicídio doloso a pena mais grave (reclusão de 6 a 20
anos).

Considerações Finais

Aplica-se o disposto no art. 121, §1º e §4º.

Em relação ao crime de Lesão Corporal também existe a forma privilegiada, a mesma que
vimos no homicídio, relevante valor moral, social, domínio de violenta emoção logo após a
injusta provocação da vítima. Os aumentos de pena do §4º, quando o sujeito foge para evitar a
prisão em flagrante, e ele não procura diminuir as consequências pela prática dos seus atos,
quando não presta socorro à vítima ou quando desobedece as regras técnicas de sua profissão,
arte ou ofício. Se é menor de 14 ou maior de 60 anos, aumenta de 1/3 a pena.

§ 5º Lesão corp. privilegiada- pode ter a pena substituída ou ser apenado com multa.

§6º lesão corporal culposa –

§7º Aumento de pena – da mesma forma que para o homicídio no paragrafo 4º

§8º...

É possível o perdão judicial: que é a extinção da punibilidade pela não aplicação da


pena quando as consequências pela lesão que se causou já forem graves o suficiente, que
tornem a pena desnecessária. Ex. pai que ao sair da garagem não vê o filho brincando atrás do
carro e amputa sua perna.

Violência Doméstica, art. 129, §9º (‘Se a lesão for praticada contra ascendente,
descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou,
ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos’). Hipóteses da Lesão Corporal no ambiente
familiar. Isso torna o comportamento mais grave em razão do vínculo de afetividade que
deveria existir, em tese, entre essas pessoas. Não viola somente a integridade física, a saúde,
também viola esse vínculo de afetividade que deveria existir. Efeito prático: sai da lei 9099 e
recebe o tratamento ou rito comum ordinário previsto no Código de Processo Penal.
Desclassifica o crime de menor potencial ofensivo, ou seja, aqui se tem um tratamento
processual mais severo. Só se aplica essa forma qualificada quando a lesão corporal for de
natureza leve. Não se aplica essa hipótese nos caso de lesão corporal grave ou gravíssima, mas
aplica o §1º e o §2º, por serem as penas mais graves.

Crime de Perigo (geral)

Generalidades: O crime de perigo é aquele que se caracteriza pelo fato de não ocorrer
lesão a alguém, mas simplesmente o risco de lesão. Ex¹. não quebrou, mas foi quase. Não
machucou, mas foi quase. No crime de perigo não basta que não haja a lesão, em alguns casos
pode até haver, o que vale é a intenção do agente de não querer o dano, mas somente a
exposição ao risco. Ex². a pessoa está andando de carro, vê uns rapazes, com atitudes
suspeitas, nesse instante a pessoa pensa, ‘quero dar um susto nesses rapazes’. Quando está
chegando perto deles, vira o carro para passar bem próximo, só para vê-los saltando para o
lado. O condutor não tinha a intenção de machucar, mas apenas que os rapazes se sentissem
apavorados em razão do risco de morte ou da lesão. Isso é o dolo de perigo, não quer causar
lesão, só quer assustar. Logo, o crime de perigo não precisa da lesão, basta a exposição do
bem tutelado pela legislação penal, ao risco de lesão, para que ele já esteja caracterizado.

O perigo individual: o perigo pode ser classificado de acordo com a condição da vítima
que se atinge, como individual de um lado e coletivo do outro. Logo, temos perigo individual e
perigo coletivo. É individual quando, o comportamento de exposição ao risco, é dirigido a uma
pessoa ou um grupo de pessoas determinadas. Ex. os grupinho de rapazes palmeirense; um
grupinho na igrejinha; grupo na boleia do caminhão (art. 132, § único). É coletivo quando o
comportamento causa perigo para um número indeterminado de pessoas. Ex. Sujeito que não
tomou os devidos cuidados e acabou explodindo um quarteirão inteiro (perigo coletivo – arts.
a partir do art. 250); campo de futebol; rasante sobre a torcida, perigo comum, coletivo, acerta
quem estiver embaixo.

O perigo concreto: é o perigo efetivo, risco concreto, é a possibilidade efetiva do dano.


Ex. Mãe larga o recém-nascido no lixão, crime de abandono de recém-nascido.

O perigo abstrato (presumido): é aquele provocado pelo próprio comportamento em


si, independente de o risco se efetivar ou não. O próprio comportamento já é perigoso em si.
Ex¹. A mãe abandonou a criança na porta de uma casa, dentro de um cestinho embrulhadinho
e apertou a campainha antes de correr. Teve abandono, mas não teve o crime de abandono,
porque nele se exige o risco concreto. Neste caso, o risco não é concreto e sim presumido ou
abstrato. Se o perigo foi abstrato, não tem o crime de abandono. Ex². Perigo para a vida ou
para a saúde de outrem, o agente atirou contra a pessoa e o projétil passou de raspão. Teve
risco de vida presumido ou abstrato, pois não acertou o projétil. Portanto, houve o crime de
perigo para a vida ou para a saúde de outrem, porque para esse crime, o risco é presumido.
Logo, para determinados crimes o legislador exige perigo concreto e para outros o perigo
abstrato ou presumido.

Obs¹. No caso de o problema ter falado que a mãe abandonou a criança na porta da casa,
embrulhadinho, mas tinha os cachorros. A resposta seria: Embora a mãe tenha se desobrigado
ao deixar a criança, ela pode ou não ter provocado um risco concreto, com a presença dos
cachorros, o risco é efetivo. Todavia, o fato não pode ser analisado exclusivamente no seu
aspecto objetivo, é necessário saber se ela sabia que na casa tinha cachorro e se ela não sabia.
Se soubesse, praticou o crime; se não tinha conhecimento que o cachorro estava lá, ela não
praticou o crime, o fato continua a ser atípico.

Obs². As lesões provocadas nas práticas de esporte, consiste no exercício regular de direito
que é uma das hipóteses de exclusão de antijuridicidade, está junto com a legítima defesa,
com o estado de necessidade e estrito cumprimento do dever legal. Entretanto para que se
caracterize essa hipótese de exclusão de antijuridicidade, é necessário que a pessoa esteja
obedecendo as regras daquele esporte. Ex. Luta entre Holyfield e Mike Tyson, em que Mike
Tyson arrancou um pedaço da orelha de Holyfield. O Holyfield deu uma bancada no Tyson que
cortou seu supercílio, mas não iria responder por isso porque faz parte das regras daquele
esporte, agora o Tyson vai responder por ter arrancado um pedaço da orelha de Holyfield,
porque este ato está fora das regras do boxe.

CRIME DE PERIGO INDIVIDUAL (ART. 130 A 136, CP)

PERIGO DE CONTÁGIO VENÉREO (por ação) – Art. 130, caput

Conceito: O crime de perigo de contágio venéreo é definido como o fato de “expor alguém,
por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea (AQUI
NÃO ENTRA A AIDS), de que sabe ou deve saber que está contaminado”. (CP, art. 130, caput).
Pena: detenção, de três meses a um ano, ou multa.

O fato de a pessoa proporcionar o risco para que outra pegue a doença venérea, já é
suficiente para a caracterização do crime. Não precisa nem pegar, pois o crime é de perigo,
logo, não precisa ter a doença, basta ter ficado sujeito ao risco de adquirir essa doença, não
sendo necessário então o dano efetivo e sim a exposição ao perigo de dano.

Objetivo do Legislador

Proteger a saúde do ser humano na sua incolumidade. É o direito que temos de estar
em pleno gozo da nossa capacidade física e mental. Neste caso, ainda que de maneira
mediata, será protegida a saúde pública.

Sujeitos do crime:

Ativo: Pode ser praticado por qualquer pessoa, homem ou mulher, entretanto, há
exigência de ser portadora de doença venérea. Não há como praticar esse crime se o autor não
tiver essa doença. O cônjuge também poderá ser sujeito ativo do crime desde que seja
portador da doença venérea.

Passivo: O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa que corra o risco ou que possa
correr o risco de adquirir a doença. Desde que não seja imune a doença. A empresária do amor
(especialista no entretenimento masculino) pode ser vítima desse crime. A pessoa que já tem a
doença não pode ser sujeito passivo, porque não corre o risco de contágio, seria crime
impossível com impropriedade absoluta do objeto.

Consentimento da vítima: a relação com consentimento da vítima, sabendo do perigo de


contágio, por se tratar de um bem indisponível (a saúde, a vida), não exclui o crime. Trata-se de
ação pública condicionada a representação, por se tratar da moral da pessoa contaminada.

Tipo objetivo:

Conduta: EXPOR- criar o risco, colocar em perigo, proporcionar um comportamento


lesivo. O crime de perigo de contágio venéreo (norma penal em branco) pode ser cometido
por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso. O conceito de relação sexual tem
sofrido mudança durante o decorrer do tempo, entretanto, é considerado todas as relações
que implicam na penetração como ato sexual ou relação sexual. Ato libidinoso (felação que é
chupeta ou gulosa, cunilingues, minete ou lamber a frigideira) é qualquer um que sirva para
satisfazer o instinto da libido. Se o contágio se der por outro ato que não o sexual, como, por
exemplo, aperto de mão, ingestão de alimentos ou utilização de objetos, em regra não haverá
delito, salvo às hipóteses de incidência das infrações dos arts. 131 e 132, conforme o fato
concreto. É possível que a ama de leite, amamentando, contamine-se ou venha a contaminar a
criança. Nesta hipótese, ela ou os pais desta respondem por lesões corporais dolosas ou
culposas, conforme o caso, ou pelos delitos descritos nos arts. 131 e 132 do CP.

O legislador estabelece o meio de execução, por ato libidinoso ou ato sexual. É um


crime de forma vinculada.

E se o amante contagia a amante, que, por sua vez, contagia o marido? O amante pratica
delito de perigo de contágio venéreo em relação à adúltera, ela, por sua vez, responde pelo
crime em relação ao marido, se existentes os elementos do tipo.

E se o marido contagia a esposa, e esta, o amante? Ele responde pelo crime em relação
à esposa, e ela, em relação ao amante.

Do exposto, verifica-se que o tipo penal exige contato corpóreo entre o sujeito ativo e
o passivo.

O Decreto-lei nº 16.300, de 31-12-1923, indica como moléstias venéreas a sífilis, a


blenorragia, o cancro mole e o cancro venéreo simples. Entretanto, entendemos que a
discriminação das doenças venéreas não deve ficar a critério da legislação, cabendo à ciência
médica afirmar, caso por caso, a existência desse mal.

Se o sujeito sabia que estava contaminado e assumiu o risco da contaminação,


responde por crime de lesão corporal seguida de perigo de vida. Se o sujeito devia saber da
contaminação, somente responde pelo delito de perigo de contágio venéreo, em sua forma
simples.
E se o ofendido consente nas relações sexuais, sabendo do risco da contaminação? O
fato é irrelevante para efeito de excluir a responsabilidade penal do agente, uma vez que há
interesse social na não proliferação do mal.

E se o sujeito assume o risco, diante das circunstâncias, de transmitir a doença,


sabendo estar infeccionado e não tendo a intenção do contágio? Responde pelo crime do art.
130, caput, do CP, uma vez que a forma típica do paragrafo 1º exige dolo direto, inexistente na
hipótese.

E se o sujeito, infeccionado, julga-se curado por afirmação médica e pratica relações


sexuais, responde por algum crime? Existe erro de tipo escusável, excludente de dolo e da
tipicidade do fato (CP, art. 20, caput).

E se o sujeito crê estar contaminado, quando não esta? Trata-se de crime impossível
(CP, art. 17).

Natureza especifica da doença: VENÉREA.

Calcinha emprestada, cueca emprestada, colher, embora causem o risco de contágio, não
caracterizam o crime.

*AIDS- não é doença venérea.

Norma penal em branco: Gonorreia, cancro, sífilis, condiloma (crista de galo).

Tipo subjetivo:

Questão inicial (sabe ou deve saber). A pessoa só poderá ser responsabilizada se ela
sabe ou deveria saber que esta contaminada.

*Esse sabe ou deve saber associa o saber: ao dolo e o deveria saber: a culpa, de forma que, se
o sujeito sabe que está contaminado, o comportamento é considerado doloso e se deveria
saber e não tomou cuidado é culposo. Entretanto não é esse o saber que vem dominando a
doutrina, e sim que o crime de perigo de contagio venéreo, como só exige o perigo, só é
punido na modalidade dolosa, porque não há forma culposa desse crime. E o “sabe que esta
contaminado”: é o dolo direto e o “deve saber que esta contaminado”: dolo eventual ou
indireto. Essa é o entendimento da maioria dos doutrinadores.

O crime consiste apenas na modalidade dolosa, na vontade de praticar a relação sexual e ou o


ato libidinoso, aliada a ciência de portar a doença ou na possibilidade de saber da sua condição
de portador da doença, ou seja, eu tenho vontade de praticar o ato e sei que estou doente
dolo direto, ou eu tenho vontade de praticar o ato e devia saber que estou doente, dolo
indireto, eventual.

A presença do dolo de dano torna a pena mais pesada, o crime mais grave.

Consumação:

Se consuma com a prática do ato. Não precisa que a vitima seja contaminada, basta
que o ato seja praticado. A contaminação é exaurimento do crime.
Para parte da doutrina, é lesão corporal, se houver a contaminação, culposa ou dolosa,
conforme a vontade do agente.

Tentativa:

Há entendimentos distintos. Há doutrinadores que afirmam que o crime é de perigo,


ou o ato cria risco e o crime esta consumado, ou não cria risco e o ato se torna irrelevante,
logo não há crime e nem tentativa, o crime só aparece na sua forma consumada. Essa é a
majoritária. O segundo pensamento é no sentido de que é possível à tentativa, porque os atos
podem ser fracionados, ITER CRIMINIS. O agente tenta a relação sexual, mas não consegue.

Formas qualificadas:

Nos termos do art. 130, parágrafo 1º, do CP, se é intenção do agente transmitir a
moléstia, a pena é de reclusão de 1 a 4 anos, e multa. Essa forma qualificada pressupõe os
elementos objetivos definidos no tipo fundamental.

E se, com intenção de transmitir a moléstia, contagiado o ofendido, houver produção de um


dos resultados dos parágrafos 1º e 2º do art. 129 do CP? Neste caso, há desclassificação para o
delito de lesão corporal de natureza grave.

E se houver morte? O sujeito responderá por lesão corporal seguida de morte (CP, art. 129,
parágrafo 3º).

E se o sujeito, portador de AIDS e consciente da natureza mortal da moléstia, realiza ato de


libidinagem com a vítima, com intenção de transmitir o mal e lhe causar a morte, vindo ela a
falecer? Responde por homicídio doloso consumado.

Ação penal: Pública condicionada à representação (CP, art. 130, parágrafo 2º). O delegado de
Polícia não pode proceder a inquérito sem a provocação do ofendido ou de seu representante
legal (representação). Em juízo, recebendo o inquérito policial, não pode o Promotor Público
oferecer denuncia sem a representação.

Qualificação doutrinária:

Trata-se de crime de perigo abstrato, simples, comum, instantâneo, comissivo e de


forma vinculada.

O perigo, nesse delito, é presumido ou abstrato. Segundo a norma incriminadora,


realizada a conduta, presume a existência do perigo, que, por isso, não precisa ser
demonstrado.

Crime simples, pois ofende um só bem jurídico: a saúde física do ofendido.

Crime comum, pois pode ser cometido por qualquer pessoa, desde que contaminada
de moléstia venérea.
O delito é instantâneo, aperfeiçoando-se no momento da produção do perigo
abstrato.

Não admite a forma omissiva, uma vez que o tipo exige que a conduta se expresse em
relações sexuais ou qualquer outro ato libidinoso. Por isso, o delito é também de forma
vinculada.

O art. 130, parágrafo 1º, como ficou consignado, descreve um delito formal.

PERIGO DE CONTÁGIO DE MOLÉSTIA GRAVE – Art. 131, CP

Conceito

Legal: Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está
contaminado, ato capaz de produzir o contágio: Pena – reclusão, de um a quatro anos, e
multa. (Art. 131, CP).

Moléstia grave: é qualquer enfermidade que acarreta séria perturbação da saúde. É


irrelevante seja incurável ou não, mas precisa ser transmissível, é dizer, contagiosa.

Objetividade Jurídica

É a incolumidade física e a saúde da pessoa.

Objeto Material

É a pessoa submetida à conduta apta a produzir o contágio de moléstia grave.

Tipo Objetivo

Conduta: Praticar qualquer ato capaz de transmitir a doença. Ex. beijo, espirro intencional
próximo à vítima, lamber o garfo em que ela irá comer etc.

Trata-se de crime de ação livre que admite qualquer meio de execução, desde que
apto a transmitir a doença. Como se exige prova de que o ato praticado era capaz de provocar
o contágio, conclui-se que se trata de crime de perigo concreto.

O tipo penal exige que se trate de moléstia grave – que provoca séria perturbação da
saúde – e contagiosa. Ex. tuberculose, “gripe suína” etc.

As doenças venéreas, sendo elas graves, tipificam o crime, desde que o perigo de
contágio não decorra de ato sexual, já que, nesse caso, aplica-se o art. 130 do Código.

Em regra, não é um crime omissivo, mas nada impede que seja praticado por meio de
uma omissão – ex: o pai que observa um estranho espirrar no rosto de seu filho de pouca
idade para transmitir-lhe moléstia grave e nada faz para impedir a reiteração deste
comportamento ilícito.

Sujeitos do Crime
Sujeito Ativo: Deve ser pessoa contaminada por moléstia grave. Se alguém que não
está contaminado aplica em outrem injeção contendo o vetor de transmissão de doença grave,
incorre em crime de lesão corporal, consumada ou tentada, dependendo de ter ou não havido
a transmissão. Se o sujeito pratica o ato supondo equivocadamente estar contaminado, estará
caracterizado crime impossível, por ineficácia absoluta do meio de execução (art. 17, CP).

Crime próprio, pois o delito só pode ser cometido por quem está acometido de doença
contagiosa grave.

Sujeito Passivo: Qualquer pessoa, inclusive a portadora de moléstia grave, pois a


eventual transmissão de outra enfermidade tem o condão de debilitar ainda mais sua saúde e
expor a perigo novamente sua vida, desde que realmente possa ser agravada a doença. Caso
isso não possa ocorrer, será caso de crime impossível pela impropriedade absoluta do objeto
material. Caso se trate de doença para a qual exista vacina e sendo a vítima vacinada, o ato
praticado pelo agente não é capaz de transmitir o contágio, não configurando, portanto, a
infração penal, ainda que o agente não saiba disso.

Consumação

O crime é formal e consuma-se no instante em que o agente pratica o ato capaz de


produzir o contágio, independentemente da efetiva transmissão. Trata-se, porém, de crime de
perigo concreto, pois é necessário comprovar que o ato era capaz de transmitir a doença a
alguém. Logo, cuida-se de crime de perigo, formal e com dolo de dano.

Efetivando-se a transmissão da moléstia grave, podem ocorrer quatro situações:

a) se resultar lesão corporal leve (art. 129, caput, CP), esse crime será absorvido pelo crime
de perigo de contágio de moléstia grave, por se tratar de mero exaurimento, e, além disso,
trata-se de crime de dano com pena inferior à do crime de perigo;

b) se resultar lesão corporal grave ou gravíssima, o agente responde somente por esse crime
(art. 129, § 1º ou §2º); crime de dano mais grave do que o crime de perigo;

c) se resultar culposamente a morte da vítima, estará configurado o crime de lesão corporal


seguida de morte (art. 129, §3º, CP); e

d) se resultar dolosamente a morte da vítima, em decorrência da gravidade da moléstia pela


qual foi contaminada, ao agente deve ser imputado o crime de homicídio doloso. Nessa
hipótese, será possível a tentativa, pois o agente quis ou assumiu o risco de matar o
ofendido.

Tentativa

É possível, quando plurissubsistente, pois somente nessa situação é possível a divisão


do iter criminis, ou seja, é possível a tentativa quando, por exemplo, o agente tenta beijar a
vítima, mas ela recusa.

Elemento subjetivo
Trata-se de crime de perigo com dolo de dano, que apenas se caracteriza quando o
agente quer transmitir a doença, excluindo-se, portanto, o dolo eventual. Em razão disso,
somente admite o dolo direto.

Não admite a modalidade culposa, por ausência de previsão legal nesse sentido, logo, o fato
será atípico se o agente atua apenas de forma imprudente e não ocorre a transmissão da
doença. Haverá, entretanto, lesão corporal culposa, se ocorrer o contágio.

Concurso de Crimes

Se em decorrência da contaminação pela moléstia grave é também provocada


epidemia, o sujeito responde pelos crimes dos arts. 131 (em estudo) e 267 (epidemia) do
Código Penal, em concurso formal.

Ação Penal

A ação é pública incondicionada.

PERIGO PARA A VIDA OU SAÚDE DE OUTREM – Art. 132

Conceito

Legal: Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: Pena – detenção,
de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. (Art. 132, CP).

Objetividade Jurídica

O objetivo do legislador é proteger a vida e saúde da pessoa.

Objeto Material

É a pessoa que tem sua vida ou sua saúde exposta a perigo direto e iminente.

Tipo objetivo

A conduta típica consiste em “expor alguém a perigo”, que significa criar ou colocar a
vítima em situação de risco. Trata-se de crime de ação livre, pois admite qualquer forma de
execução. Ex. “fechar” o carro de outra pessoa de forma intencional; abalroar dolosamente
seu carro contra o da vítima com ela dentro; desferir golpe com instrumento contundente
próximo à vítima; tirar uma “fina” de um pedestre para assustá-lo; não fazer os exames
exigidos no sangue do doador antes de efetuar a transfusão etc.

Esse crime pode ser praticado por omissão, como no caso do patrão que não fornece
aparelho de proteção para seus funcionários, desde que disso resulte situação concreta de
perigo. O descumprimento das normas de segurança, por si só, constitui contravenção penal
prevista no art. 19 da Lei nº 8.213/91, infração esta que fica absorvida quando o fato
caracteriza o crime do art. 132 em decorrência da situação concreta de risco criada.
Para caracterizar crime, o perigo tem que ser concreto, não basta a prática da conduta
ilícita, é necessário ficar provado que em razão do comportamento do agente a vítima teve sua
vida ou sua saúde submetida a risco de lesão. O crime de exposição a perigo pressupõe que
este seja direto e imediato.

Direto: o perigo é direto quando voltado à(s) pessoa(s) determinada(s). Se o agente


visasse provocar perigo a número indeterminado de pessoas, estaria configurado um dos
crimes de perigo comum previsto nos arts. 250 e seguintes do Código.

Imediato: é aquele em que a possibilidade de dano é iminente; é aquele que pode


provocar imediatamente o dano.

Sujeitos do Delito:

Sujeito Ativo: Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime comum.

Sujeito Passivo: Qualquer pessoa, desde que certa e determinada. O tipo penal não
exige qualquer vinculação ou relação jurídica entre a vítima e o autor do crime.

Nota: Alguns autores costumam mencionar que não podem ser sujeito passivo deste crime
aqueles que têm o dever de enfrentar o perigo, como policiais e bombeiros. É preciso tomar
cuidado com essa afirmação, pois o dever destas pessoas de enfrentar o perigo não significa
que as outras têm o direito de expô-las a risco. Se uma pessoa nadar em um local perigoso,
fazendo com que bombeiros sejam chamados para salvá-la, sofrendo estes, também perigo,
esta pessoa não está cometendo crime, não há dolo de perigo neste caso. Mas, se alguém vê
um policial de trânsito no meio da rua e, para fazer graça, passa rente a ele em excesso de
velocidade para assustá-lo, responde pelo crime em tela.

Consumação

O crime se consuma no momento em que é praticado o ato do qual resulte perigo


concreto para a vítima.

Tentativa

É possível, somente na modalidade comissiva.

Elemento subjetivo

É o dolo, direto ou eventual, de expor a perigo pessoa ou pessoas determinadas. O


sujeito quer ou assume o risco de expor a vida ou a saúde de outrem a uma situação de perigo
concreto. Ex. arremessar pedras contra uma pessoa para que ela não passe por determinada
via pública.

Não existe modalidade culposa. O consentimento do ofendido é irrelevante, em face


da indisponibilidade do bem jurídico penalmente tutelado.
Se o sujeito agiu com dolo de dano, responde por outro crime, como, por exemplo, por
tentativa de lesão corporal ou tentativa de homicídio.

Caráter subsidiário

A lei, ao tratar de pena deste crime, deixou claro que se trata de delito subsidiário, cuja
configuração pressupõe que o fato não constitua ilícito mais grave. Por isso, se o agente, com
intenção apenas de assustar a vítima, resolve passar perto dela com o carro, porém,
acidentalmente a atinge e provoca sua morte, responde por homicídio culposo (art. 121, §3º)
na direção de veículo, ficando absorvido o crime do art. 132. Dependendo, todavia, do modo
como tenha agido o autor do delito, poderá ser até mesmo punido por crime mais grave em
razão de ter agido com dolo eventual, o que, todavia, só será possível em situações extremas e
nas quais haja prova cabal de que ele assumiu o risco de provocar o resultado.

Em caso de lesão corporal culposa, a figura será a do próprio art. 132, já que a do art.
129, §6º, ambas do Código Penal, é mais levemente apenada.

Se o perigo a outrem é provocado por determinadas condutas elencadas como crime


no Código de Trânsito Brasileiro, fica afastado o do art. 132. Ex. embriaguez ao volante,
participação em “racha”, excesso de velocidade em determinados locais (art. 306,308 e 310 da
Lei nº 9.503/97). Fora das hipóteses expressamente tipificadas como delitos autônomos no
Código de Trânsito, a utilização de veículo para expor outrem a situação de risco configura
crime do art. 132.

Em razão do caráter subsidiário, não incide o instituto do concurso formal. Estará


configurado crime único quando, com uma só conduta, o agente expuser várias pessoas ao
perigo. Ex. arremessar uma cadeira na direção de pessoas que se encontram no interior de um
restaurante.

Disparo de Arma de Fogo: Se o disparo for, em lugar habitado ou em suas adjacências, em via
pública ou em direção a ela, não será enquadrado no artigo em estudo (132) e sim no artigo 15
da Lei 10.826/03 – Estatuto do Desarmamento – com pena mais grave.

Causa de aumento de pena

Art. 132, parágrafo único – A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida
ou da saúde de outrem a perigo decorre de transporte de pessoas para a prestação de serviços
em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais.

Esse dispositivo tem a finalidade de punir mais gravemente os responsáveis pelo


transporte de trabalhadores, em geral, os rurais, a fim de prevenir o grande número de
acidentes registrados com elevado número de vítimas fatias, em razão de o transporte ser
feito na carroceria de caminhões ou em veículos em péssimo estado de conservação.

O transporte indevido de um único trabalhador autoriza a aplicação da causa de


aumento de pena.

O aumento da pena pressupõe também a ocorrência de perigo concreto, ou seja, que


se constate o efetivo transporte de pessoas fora dos padrões de segurança exigidos em lei.
Ação penal

É pública incondicionada, de competência do Juizado Especial Criminal. Segue o rito


sumaríssimo previsto nos arts. 77 e seguintes da Lei 9.099/1995. Esse crime ingressa no rol das
infrações penais de menor potencial ofensivo, em face do limite máximo da pena privativa de
liberdade cominada pelo legislador. Admite a transação penal, se presentes os requisitos
legais.

Estatuto do Idoso

Quando a vítima for pessoa idosa e a conduta encontrar correspondência no art. 99 da


Lei 10.741/2003, será excluído o art. 132 do Código Penal. Resolve-se o conflito aparente de
normas com o princípio da especialidade.

ABANDONO DE INCAPAZ – Art. 133

Conceito

Legal: Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e,
por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono: Pena –
detenção, de seis meses a três anos. (art. 133, CP)

Objetividade Jurídica

Tutelam-se a vida, a saúde e a segurança da pessoa incapaz de defender-se.

Objeto Material

É a pessoa incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono.

Tipo Objetivo

Abandonar o incapaz deixando-o sem assistência, afastando-se dele, de modo que seja
exposto a risco.

Trata-se de crime de forma livre, podendo ser praticado tanto através de uma ação como
também de uma omissão. O abandono deve ser real: depende de separação física entre o
responsável e o incapaz. É crime de perigo concreto e este terá que ser provado. Crime
praticado por ação. Ex. levar a vítima a um determinado lugar e dela se afastar. Ou por
omissão. Ex. pai deve buscar uma criança em certo local e, intencionalmente, não vai apanhá-
la.

Exemplos do crime: babá que deixa a criança de pouca idade sozinha em casa e sai
para namorar, uma vez que a criança, por não ter ainda exata noção do perigo, pode subir em
um sofá e cair, mexer em produtos tóxicos, sufocar-se com um saco plástico etc. Enfermeiro
contratado para tomar conta de pessoa doente, privada de seus movimentos, que deixa de lhe
dar assistência por alguns dias, ou os pais que abandonam seus filhos etc.
O abandono pode ser temporário ou definitivo. Sua duração é indiferente, desde que
seja por espaço de tempo juridicamente relevante (capaz de pôr em risco o bem jurídico
tutelado).

A pessoa que não tem a vítima sob seus cuidados e a encontra em situação de
abandono, mas não lhe presta assistência, comete delito de omissão de socorro.

Não há crime quando é o próprio assistido quem se afasta sem que o agente perceba o
ocorrido.

Sujeitos do Delito:

Sujeito Ativo: Trata-se de crime próprio, pois só pode ser autor do delito quem
exerce cuidado, guarda, vigilância ou autoridade sobre a vítima. Segundo Damásio de Jesus:
“Cuidado é a assistência eventual. Ex. o enfermeiro que cuida de portador de doença grave.
Guarda é a assistência duradoura. Ex. menores sob a guarda dos pais. Vigilância é a assistência
acauteladora. Ex. guia alpino em relação ao turista. Autoridade é o poder de uma pessoa sobre
outra, podendo ser direito público ou privado. Ex. capitão da Polícia Militar que leva seus
subordinados pra entrarem em uma perigosa favela para combater traficantes não pode, por
medo ou outro motivo qualquer, lá abandoná-los”.

É imprescindível a especial vinculação entre os sujeitos do delito, caracterizada pela


relação jurídica estabelecida entre o agente e a vítima. Ex. pais e filhos, médico e paciente. Na
ausência dessa vinculação entre vítima e autor, este poderá responder por omissão de socorro
– art. 135, CP.

Sujeito Passivo: É a pessoa que está sob a guarda, cuidado, vigilância ou autoridade do
agente, desde que esteja incapacitada de se defender dos riscos decorrentes do abandono.

É incapaz qualquer pessoa, ainda que maior de idade e com saúde física ou mental em ordem,
que na situação concreta não possa se defender. Essa incapacidade é de natureza real e não
jurídica, podendo ser corporal, mental, permanente ou transitória.

Consumação

No momento em que, em razão do abandono, a vítima sofre situação concreta de


perigo. Trata-se de crime instantâneo e de efeitos permanentes, e, mesmo que o agente,
posteriormente, reassuma o dever de assistência, o delito já estará consumado.

Tentativa

É possível na modalidade comissiva, exclusivamente. Não é compatível com a forma


omissiva.

Elemento Subjetivo

É a vontade livre e consciente de abandonar o assistido. Pode haver dolo direto ou


eventual em relação ao perigo que decorra do abandono.
Não existe modalidade culposa. Se o agente esquece temporariamente a criança no
supermercado e vai embora, não responde pelo delito, ainda que policiais já tenham sido
acionados pelos funcionários do estabelecimento.

Distinção

a) Se o agente tem a vítima sob seus cuidados e deixa de lhe prestar assistência, comete
abandono de incapaz, mas, se a vítima não está sob seus cuidados e o agente a encontra
ao desamparo e não lhe presta assistência, comete omissão de socorro.

b) Se a vítima for recém-nascido e a intenção do agente for de ocultar desonra própria, o


crime será o de exposição ou abandono de recém-nascido (art. 134).

Formas Qualificadas

Art. 133, §1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave: Pena – reclusão, de
um a cinco anos. §2º - Se resulta morte: Pena – reclusão, de quatro a doze anos.

São crimes qualificados pelo resultado e estritamente preterdolosos (dolo no crime de


perigo e culpa na lesão corporal ou na morte).

Se o sujeito agiu com dolo de dano, a ele deve ser imputado o crime mais grave: lesão
corporal grave ou gravíssima ou homicídio.

Causas de aumento de pena

Art. 133, §3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço: I – se o abandono
ocorre em local ermo; II – se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou
curador da vítima; III – se a vítima é maior de 60 anos.

Lugar ermo é o local habitual ou eventualmente solitário. Justifica-se o aumento pela


maior dificuldade proporcionada ao incapaz para encontrar socorro. A pena não será
aumentada se no momento do abandono o local, que é habitualmente ermo, está frequentado
por outras pessoas.

A pena será aumentada se a conduta for praticada por agente que tenha laços de parentesco
ou de maior proximidade com a vítima, os quais devem ser provados, e jamais presumidos. O
rol do inciso II é taxativo, não admite analogia, por se tratar de norma prejudicial ao réu. A
enumeração do inciso II, não alcança quem vive em união estável.

O inciso III foi inserido no Código Penal pela Lei 10.741/2003 – Estatuto do Idoso, em razão do
numero cada vez maior de pessoas idosas abandonadas por parentes.
Ação Penal

É pública incondicionada, em todas as espécies criminosas.

EXPOSIÇÃO OU ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO – Art. 134

Esse delito representa, em verdade, uma figura privilegiada do abandono de incapaz


(art. 133, CP) cometido por motivo de honra. Nada obstante estejam definidos por tipos penais
autônomos, é razoável dizer que o abandono de incapaz é o crime fundamental, do qual deriva
o tipo da exposição ou abandono de recém-nascido.

Conceito

Legal: Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria: Pena – detenção, de
seis meses a dois anos. (art. 134, CP)

Objetividade Jurídica

Tutelam-se a vida, a saúde e a segurança do recém-nascido.

Tipo objetivo

As condutas típicas são expor e abandonar o recém-nascido. Na primeira figura, o


agente remove o recém-nascido do local em que se encontra, deixando-o em local onde não
terá assistência. Na segunda, o agente deixa o bebê no local em que já estava, dele se
afastando. A doutrina costuma dizer que só há crime se, em razão do abandono, o recém-
nascido for exposto a situação de risco concreto, na medida em que, embora o neonato seja
indefeso, caso a mãe o abandone no berçário de uma maternidade, continuará ele a ter toda a
assistência de que necessita, recebendo até mesmo o leite materno de outras mulheres.
Configura, assim, crime abandonar o bebê no banco de uma rodoviária, na porta de um
supermercado etc.

Se comprovado dolo de provocar a morte por parte de mulher que, por exemplo,
colocou o recém-nascido em uma lata de lixo ou no meio de uma mata, responderá ela por
tentativa de homicídio ou por homicídio consumado. Nestes casos, se ela estiver sob a
influência do estado puerperal, responderá por infanticídio (consumado ou tentado).

A doutrina costuma dizer que o crime de abandono de recém-nascido é uma espécie


privilegiada do crime de abandono de incapaz, porque possui pena menor em razão da
finalidade de ocultar desonra própria. O Código Penal trata o crime como autônomo, já que
possui pena própria.
Sujeitos do Delito:

Sujeito Ativo: Trata-se de crime próprio ou especial. Somente pode ser cometido
pela mãe que concebeu o filho de forma irregular (Ex. Fora do matrimônio, quando casada). A
mulher pode ser casada ou solteira (Ex. menor de idade, que mora com os pais em uma
pequena cidade, extremamente conservadora, engravida e dá a luz sem saber quem é o pai da
criança). A prostituta, assim conhecida pelas demais pessoas, quando expõe ou abandona o
filho recém-nascido, responde pelo crime de abandono de incapaz (CP, art. 133), pois não goza
de honra apta a ser preservada.

Diverge a doutrina em torno da possibilidade de o pai ser também sujeito ativo do


delito. Para os que entendem que o pai não pode ser sujeito ativo do delito, entendem que o
pai, ao fazê-lo, comete crime de abandono de incapaz (art. 133), que tem pena maior.

Quem colaborar com a mãe (ou com o pai, para os que o admitem como sujeito ativo)
será partícipe ou coautor do crime de abandono de recém-nascido, nos termos do art. 30 do
CP, desde que tenham entrado em sua esfera de conhecimento.

Sujeito Passivo: É o recém-nascido. Existe, porém, controvérsia em torno do alcance


desta condição.

Para alguns, a queda do cordão umbilical é o marco divisório em que a criança deve
deixar de ser tratada como recém-nascida. A outra corrente defende que a condição de recém-
nascido alcança o primeiro mês de vida.

Consumação

No momento em que o recém-nascido sofre perigo concreto como consequência do


ato de abandono. É desnecessário que a mulher consiga ocultar a desonra própria. Por isso,
trata-se de crime formal.

Tentativa

É possível quando o agente elege a forma comissiva para o cometimento do crime, ou


seja, praticado por ação.

Elemento subjetivo

É o dolo de perigo. Exige o tipo penal um especial fim por parte do agente que é o de
“ocultar desonra própria”. Esse elemento subjetivo do tipo é compatível unicamente com o
dolo direto, excluindo o dolo eventual. A honra que o agente visa preservar é a de natureza
sexual, a boa fama, a reputação. Quando o fato já é conhecido da coletividade, não há como se
ocultar desonra própria, configurando o abandono o crime do art. 133 CP.

Se a causa do abandono for miséria, o crime será também o de abandono de incapaz


do art. 133 do Código Penal, delito que também ocorrerá se o agente não for pai nem mãe da
vítima.

Concurso de Agentes: É possível. Quem colaborar para a prática do crime, será partícipe ou
coautor do crime de abandono de recém-nascido, nos termos do art, 30, CP, desde que
tenham entrado na sua esfera de conhecimento.

Formar qualificadas

Art. 134, §1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena – detenção, de um a
três anos. §2º Se resulta a morte: Pena – detenção, de dois a seis anos.

Como as penas cominadas são inferiores à do homicídio simples, conclui-se que as


qualificadoras são preterdolosas (dolo no crime de perigo e culpa na lesão corporal ou na
morte). Havendo intenção por parte do agente de provocar o resultado mais gravoso, ou
assumindo o risco de produzi-lo, responderá por crime de lesão corporal grave ou gravíssima,
infanticídio (se presente o estado puerperal) ou homicídio doloso, tentado ou consumado. Ex.
mãe que coloca o filho em um cesto e o coloca no rio, e o bebê morre, configurará o crime de
homicídio.

Se as lesões sofridas pela vítima forem leves, subsiste o crime de abandono de recém-
nascido, que as absorve por ter pena maior.

Ação Penal

Pública incondicionada, de competência do Juizado Especial Criminal.

OMISSÃO DE SOCORRO – art. 135

*A Omissão de Socorro, trata-se de um crime com um comportamento omissivo.

Generalidades:

O conteúdo lógico da omissão. *O sujeito não será punido pela omissão, pelo ponto
de vista lógico, porque ele não fez NADA. Não há como estabelecer o nexo com o nada, no
ponto de vista lógico.

A carga normativa da omissão. *O legislador é especialista em transformar nada em


alguma coisa e punir a pessoa por nada. O significado da omissão não é punir pelo resultado e
sim não realizar a ação que era esperada.
A ação esperada (ordenada): Com base na ética e moral que também está ligada a
ação esperada. É baseada no princípio e característica do ser humano que é a solidariedade,
QUE DEVERIA SER muito mais solidário do que é. O que se espera do ser humano, é, caso uma
pessoa tropece e caia, que as outras a ajudem e não fiquem rindo. O ordenamento jurídico
espera isso do ser humano, e o ser humano espera isso do outro.

A omissão gerando punição. *A pessoa não age da forma esperada, e a outra, corre
risco com a sua integridade física, etc.

Conceito

Doutrinário: É a sua inação diante de uma situação que exigia a sua atuação. É você
não fazer alguma coisa, permanecer inerte.

Legal: Art. 135 do CP. “Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco
pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou
em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública”.

Objetivo do legislador:

É a proteção a incolumidade do ser humano, ou seja, inteireza, saúde, tranquilidade. O


legislador de uma forma indireta protege a vida da pessoa também, porque há a possibilidade
de uma punição mais severa se a vítima vier a morrer.

Masson: “A lei penal protege a vida e a saúde da pessoa humana, pois o crime de omissão de
socorro foi inserido nos crimes contra a pessoa, no capitulo atinente, à periclitação da vida e
da saúde. Além disso, tutela, mediante a solidariedade humana, pois todos os indivíduos
devem auxiliar-se para a regular convivência em sociedade.”

A questão da intervenção para evitar crimes: A omissão de socorro se caracteriza pelo fato de
uma pessoa se encontrar em uma situação de risco e, uma outra, estar em condições de
afastar esse risco e nada fazer em relação a isso.

Quando o risco implicar na prática de um crime a pessoa é obrigada a agir, e não


agindo, estará praticando o crime de omissão de socorro?

Há entendimentos doutrinários diferentes:

1º - Há quem afirme que, ainda que o perigo implique na prática de determinado crime, se
você pode agir, para impedir o resultado, e não o fizer, responderá pela omissão de socorro,
isso é em relação ao particular. Exemplo: ver o marido batendo na mulher no meio da rua. Se
você preenche condições de impedir e não o faz, estará cometendo omissão de socorro.

2º - O segundo entendimento é no sentido de que a pessoa tem a obrigação de prestar


assistência quando estiver ocorrendo o crime, mas, no momento do crime, essa obrigação não
existe, se transforma em faculdade, prevista no art. 301, CPP (Qualquer do povo poderá e as
autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em
flagrante delito.), logo, ela não é obrigada a intervir quando estiver ocorrendo o crime o
legislador dá a oportunidade de escolher por agir ou não. A pessoa não pode ser acusada de
um crime por conta da conduta estar de acordo com a legislação e estar no exercício regular
de um direito. Este é o entendimento majoritário e mais lógico.

A regra, é que a pessoa é obrigada a prestar assistência para quem estiver em situação
de perigo, mas se esse perigo for um crime, aí sim é faculdade.

*Quem tem o dever legal de agir, e não age, não responderá por omissão de socorro, e sim
pelo resultado que aconteceu, pois tem o dever legal de socorrer. Exemplo: policial quando se
omite e com isso gera um resultado por sua omissão.

Sujeitos do Delito:

Sujeito Ativo: Pode ser praticado por qualquer pessoa, sendo crime comum. Um
aspecto essencial é que se exige a presença do sujeito ativo (autor) no local onde o crime foi
estabelecido. Exemplo: uma pessoa passando mal vai até ao hospital e o médico não está lá
para atender. O médico não poderá ser processado por essa pessoa, pois, ele não estava no
local, ou não foi avisado, ou seja, não estava ciente do caso. Para ser autor tem que ter a
ciência da situação de perigo.

Sujeito Passivo:

Criança abandonada: é a pessoa com idade inferior a 12 anos que foi


intencionalmente deixada em algum lugar por quem devia exercer sua vigilância, por esse
motivo não pode prover sua própria subsistência.

Criança extraviada: é a pessoa com idade inferior a 12 anos que está perdida, isto é,
não sabe retornar por conta própria ao local em que reside ou possa encontrar resguardo e
proteção.

Qual é o limite de idade?

Segundo o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, é menor de 12 anos de idade.


Se não completou ainda os 12 anos, é considerada criança, é o limite legal prevista pelo
legislador. Entretanto, para chegar em uma conclusão precisa, se no contexto, independente
da idade, ela se encontra ou não capaz de se proteger. Deve ser verificada a capacidade de
autodefesa da criança.

Pessoa inválida: aquela que por razões normais ou excepcionais se encontra sem
condições de autodefesa, depende de outras pessoas.

Masson: “Invalidez é a característica inerente à pessoa que não pode, por conta própria,
praticar os atos cotidianos de um ser humano. Pode advir de problema físico ou mental. Mas
não basta a invalidez. Exige-se ainda que esteja a pessoa ao desamparo, isto é, incapacitada
por se livrar por si só da situação de perigo.”

Pessoas feridas: machucadas, caiu, bateu a boca, caiu de moto, cortou os dedos com a
tesoura de cortar árvore; o machucado tem que ser de uma intensidade que impeçam a
pessoa de se defender.
Masson: “Pessoa ferida e ao desamparo: é aquela pessoa que sofreu lesão corporal, não
necessariamente grave, acidentalmente ou provocada por terceira pessoa. Mas não basta
estar ferida. É imprescindível que também se encontre ao desamparo, ou seja, impossibilitada
de afastar o perigo por suas próprias mãos.”

Qualquer pessoa quando: estiver em grave e iminente perigo. A maior parte da


doutrina diz que é qualquer pessoa mesmo, ainda que não sejam esses acima elencados, mas
que estejam em grave e iminente perigo. Mas há outros que afirmam que esse crime é
seletivo, não sendo qualquer pessoa, e sim esses apenas acima elencados e que estejam em
grave e iminente perigo. O primeiro entendimento é o que prevalece.

Masson: “Pessoa em grave e iminente perigo: o perigo deve ser sério e fundado, apto a causar
um mal; relevante em curto espaço de tempo. Não é necessário que a vítima seja inválida,
nem que esteja ferida. A lei exige tão somente a presença de grave e iminente perigo, pouco
importando se tenha essa situação sido provocada por terceiro, pela natureza ou até mesmo
pela própria vítima.”

Tipo objetivo:

Conduta: omitir, não realizar aquilo que era esperado.

Duas modalidades de omissão:

Negativa direta ou imediata: Quando a pessoa pode afastar o perigo com suas próprias forças
e não o faz. Pode agir e não age. Também chamada de falta de assistência imediata. Ex. uma
pessoa vê outra se afogando e, sabendo nadar, nada faz para salvá-la.

Negativa indireta ou mediata: Quando não se pode agir diretamente, mas poderá acionar a
autoridade competente e não o faz. Também chamada de falta de assistência mediata.

Não pedir socorro à autoridade pública: subsidiariedade do auxilio indireto.

Ausência de risco pessoal e descaracterização do crime. *Só exclui o crime se houver


risco pessoal, se for risco moral. Ex: deixar de prestar socorro para não sujar o carro ou a roupa
cara; o machão que não socorre o homossexual.

Tipo subjetivo:

Crime exclusivamente doloso. Não tem como praticar a omissão de socorro culposo. O
dolo consiste na ciência do perigo e na vontade de nada fazer para afastá-lo.

Consumação:

A omissão se consuma no momento em que o agente deixar de agir. A demora na


atuação do socorro já caracteriza o crime de omissão de socorro consumado. Exemplo: Passar
por um acidentado e não parar, chegar em casa e resolver voltar para socorrer. No momento
que passou e não parou já é considerado consumado.

Tentativa:
Não é possível a tentativa no crime de omissão. Porque quando você deixa de fazer, o
crime já está consumado.

Causas de aumento de pena:

Resultado lesão corporal de natureza grave, a pena será aplicada em dobro (pena em
dobro da omissão de socorro). Se a lesão grave já qualifica, a gravíssima também.

Se houver como resultado a morte, a pena da omissão de socorro será triplicada.

A questão do nexo causal entre o resultado e a omissão. *A ligação é puramente


normativa, não há ligação entre a omissão e o resultado. Exemplo: o acidentado morre devido
aos ferimentos e não porque não foi socorrido.

Omissão na saúde

Art. 135 - A, CP - Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o
preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento
médico-hospitalar emergencial: Pena- detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
Parágrafo único: A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta lesão
corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte.

Objetividade Jurídica: Garantir a vida e a saúde do ser humano.

Sujeitos do Delito:

Sujeito Ativo: Pode ser qualquer funcionário ou administrador do estabelecimento


de saúde que realize atendimento médico-hospitalar emergencial, e também o médico que se
recusa a atender um paciente sem o fornecimento de garantia ou o preenchimento de
formulário administrativo (crime comum ou geral). É perfeitamente cabível o concurso de
pessoas, nas modalidades coautoria e participação, a exemplo da situação em que o
proprietário do hospital ordena ao atendente a exigência de cheque-caução como condição
para o atendimento médico-hospitalar.

Sujeito Passivo: É a pessoa acometida de problema em sua saúde, e por esta razão
necessitada de atendimento médico-hospitalar emergencial.

Tipo Objetivo:

Exigir a entrega de título de crédito ou garantia similar; pode-se demandar ainda o


preenchimento de formulários administrativos de maneira prévia, antes de tomar qualquer
providência para socorrer a vítima.

Tipo Subjetivo:

É o dolo direto ou eventual, acrescido de um especial fim de agir (elemento subjetivo


específico), representado pela expressão “como condição para o atendimento médico-
hospitalar emergencial”. Não basta exigir a garantia ou o preenchimento de formulário
administrativo. É preciso fazê-lo como medida necessária ao atendimento de emergência. Não
se admite a modalidade culposa.
Consumação:

Ocorre com a prática da exigência do cheque-caução ou nota promissória ou qualquer


outra garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos,
independentemente de resultado naturalístico. É também crime de perigo concreto, pois exige
a comprovação do risco ao bem jurídico penalmente protegido.

Tentativa: É possível, em face do caráter plurissubsistente do delito.

Causas de Aumento de Pena: A pena será aplicada em dobro se houver lesão corporal de
natureza grave; será triplicada, se ocorrer a morte. Lembremos que o resultado mais grave
somente pode dar-se com culpa, pois se iniciou a ação com dolo de perigo (é o que se chama
de preterdolo, isto é, dolo na conduta antecedente e culpa na conduta consequente). O dolo
de perigo (no início) é incompatível com o dolo de dano (no fim) nos crimes qualificados pelo
resultado.

MAUS TRATOS – Art. 136

Conceito

Legal: Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou
vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de
alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou
inadequado, quer abusando dos meios de correção ou disciplina: Pena – detenção, de dois
meses a um ano, ou multa. (art. 136, CP).

Objetividade Jurídica

A vida e a saúde daquele que se encontra sob a guarda, autoridade ou vigilância do


agente para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia.

Elemento objetivo

A conduta típica incriminada é a de expor a risco a vida ou a saúde da vítima por uma
das formas enumeradas no tipo penal.

O crime de maus-tratos enquadra-se no conceito de crime de ação vinculada, pois, o


texto legal elenca as formas de execução do delito.

Formas de execução:

a) Privação de alimentos: a lei se refere a vítimas que não têm condições de obter o próprio
alimento, de modo que o agente comete o crime deixando de alimentar a pessoa que está
sob sua guarda, autoridade ou vigilância. Ex. o carcereiro que deixa de alimentar o preso
durante um dia pode incorrer no crime de maus-tratos. Caso a privação de alimentos se
estenda um pouco mais, ele poderá responder por crime de tortura (art. 1º, II, ou §1º, da
Lei 9455/97). Se parar de fornecer alimentação em definitivo, estará praticando homicídio,
consumado ou tentado, dependendo do resultado.

b) Privação de cuidados indispensáveis: a lei se refere a cuidados médicos, fornecimento de


agasalho, de higiene etc. O fato de não higienizar pessoa que está sob sua guarda pode,
por exemplo, provocar-lhe doenças, assaduras, brotoejas na pele etc.

c) Sujeição de trabalhos excessivos ou inadequados: excessivo é aquele trabalho que


provoca fadiga acima do normal. Inadequado, é aquele impróprio ou inconveniente às
condições de idade, sexo, desenvolvimento físico da vítima etc.

d) Abuso dos meios de disciplina e correção: a lei não considera crime a aplicação de leves
palmadas ou chineladas em criança. O delito consiste no abuso do poder de correção e
disciplina, quando o meio empregado gera situação de perigo para a vida ou para a saúde
da vítima. Ex. chutes ou socos na vítima, surras com uma cinta etc.

Sujeitos do Delito

Sujeito Ativo: O crime de maus-tratos é um crime próprio específico, pois exige uma
vinculação, uma relação jurídica entre o sujeito ativo e a vítima, na medida em que o texto
legal exige que ela esteja sob autoridade, guarda ou vigilância do agente para fim de educação,
ensino, tratamento ou custódia. A vítima, portanto, deve estar subordinada ao agente.

Autoridade é o poder de uma pessoa sobre a outra, e pode derivar direito público ou privado.
Guarda é a assistência a pessoas que não prescindem dela. Vigilância é o zelo pela segurança
pessoal, mas sem o rigor da guarda.

Educação é o processo de formação intelectual, moral e física de uma pessoa. Ensino é a


transmissão de conhecimentos fundamentais ao processo educacional. Tratamento é meio
utilizado para a cura de enfermidades físicas ou mentais. Custodia é o ato de proteger alguém
que se encontra legalmente detido.

O marido não pode ser sujeito ativo do crime em tela contra a esposa, nem o
contrário, pois inexiste hierarquia entre eles no âmbito da relação matrimonial.

Sujeito Passivo: Não pode ser qualquer pessoa, mas somente aquela que se encontrar
sob autoridade, guarda o vigilância do agente, para fim de educação, ensino, tratamento ou
custódia. O pai só se enquadra como autor desse delito se o descendente for menor de idade,
ou se mesmo com 18 anos o filho permanecer sob a autoridade do pai.

Consumação
No momento da produção de perigo. Trata-se de crime de perigo concreto em que
deve ser produzida prova da efetiva situação de risco sofrida pela vítima.

Trata-se de crime permanente, nas hipóteses de privação de alimentos e/ou de


cuidados, e como delito instantâneo em todas as demais. Há modalidades deste delito que não
basta deixar a vítima uma única vez (privação de alimentos), já em outras modalidades, uma
única vez já se caracteriza crime (abuso dos meios de correção de disciplina).

Tentativa

É possível nas modalidades comissivas. Ex. alguém que ia desferir cintadas na vítima,
mas é detido por outra pessoa quando a cinta estava prestes a atingir o sujeito passivo. Nas
hipóteses de privação de alimentos ou cuidados indispensáveis, a tentativa é impossível.

Elemento subjetivo

É o dolo de perigo, direto ou eventual.

Não se admite na modalidade culposa.

Distinção – Maus tratos e crime de tortura

Se o meio empregado pelo agente provocar na vítima intenso sofrimento físico ou


mental, estará configurado o crime de tortura (art. 1º,II, da Lei 9.455/97). Ex. amarrar a vítima
e chicoteá-la, aplicar ferro em brasa ou queimá-la várias vezes com cigarro etc.

Figuras qualificadas

Art. 136, §1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena – reclusão, de um a
quatro anos. §2º Se resulta a morte: Pena – reclusão, de quatro a doze anos.

Crime exclusivamente preterdolosos, em que o agente atua com dolo em relação aos
maus-tratos e culpa quanto ao resultado agravador.

As penas cominadas às figuras qualificadas, deveras inferiores à lesão corporal de


natureza grave e ao homicídio doloso, evidenciam ter o legislador aceito somente a culpa no
resultado naturalístico.

A lesão corporal leve é absorvida pelo crime de maus-tratos.

Causas de aumento de pena


Art. 136, §3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de
catorze anos. Esse aumento foi acrescentado no Código Penal pela Lei 8.069/1990 – Estatuto
da Criança e do Adolescente.

Maus-tratos Contra Idoso: Se a vítima for idosa, incide o crime tipificado pelo art. 99 do
Estatuto do Idoso – Lei 10.741/2003.

O conflito aparente normas é resolvido pelo princípio da especialidade. As penas são idênticas,
tanto no art. 136, CP como no art. 99 do Estatuto do Idoso, tanto na forma simples como nas
formas qualificadas.

Maus-tratos e Agravantes Genéricas: Para impedir o bis in idem, o crime de maus-tratos


afasta a incidência das agravantes genéricas descritas pelo art. 61, II, alíneas “e”, “f”, “g”, “h” e
“i”, pois as circunstancias que ensejam sua aplicação já funcionam como elementar do delito.

Ação Penal

É pública incondicionada e, na modalidade simples do delito, de competência do


Juizado Especial Criminal.

RIXA – Art. 137

Rixa é um crime subsidiário, sendo uma subsidiariedade tácita.

Conceito: A rixa é uma contenda entre várias pessoas, de forma que não há possibilidade de
identificar, individualmente, quem foram os causadores das lesões (a coisa é generalizada). O
que determina a rixa é o fato de não se poder identificar as lesões, quando se tem grupo, o
que pode acontecer é as lesões serem definidas, serão lesões corporais recíprocas em
concurso de pessoas por grupos. Ex. um grupo das pessoas de camisas brancas, batendo nas
pessoas de camisa preta e branca e estas, batendo nas de camisa branca. Logo, não é o fato de
se ter várias pessoas que define a rixa.

Conceito

Legal: art. 137: o crime não é a rixa em si, é a participação na rixa, ‘participar da rixa,
salvo para separar os contendores’. É entrar na rixa, é colaborar com ela. Participar é o verbo
núcleo do tipo.

Objetividade Jurídica:

Proteger a incolumidade do ser humano, integridade física, saúde. Mas pode ser
qualificado pelo resultado morte e lesão corporal. A proteção direta é a incolumidade.
Indiretamente: O objetivo do legislador é proteger a Vida indiretamente.

Sujeitos do Delito: Crime plurissubjetivo é o crime de concurso necessário, ou seja, não pode
ser praticado sozinho.

A pessoa nunca vai ser vítima do seu próprio comportamento, ou seja, a pessoa não
pode ser sujeito ativo e passivo do seu comportamento. Só pode ser vítima do comportamento
do outro.

Sujeito Ativo: participante. (não importa se participou com a mão ou com a orelha)

Sujeito Passivo: participante, ou seja, todos os outros em relação àquele que se


identifica como sujeito ativo do crime.

Explico: Todos são sujeitos ativos e passivos com relação ao comportamento dos demais
participantes. A pessoa não será sujeito passivo do seu próprio comportamento. Ex. duas
pessoas se agredindo = lesões corporais recíprocas – pega um, ele será sujeito passivo das
lesões que ele sofreu e sujeito ativo das lesões que ele causou e o outro das lesões que sofreu
será sujeito passivo, mas das lesões que ele causou no outro, será sujeito ativo; mas não serão
sujeitos passivos do seu próprio comportamento e sim do comportamento do outro.

Reciprocidade: Não existe simultaneidade no sujeito ativo e passivo, mas sim reciprocidade,
ou seja, é sujeito ativo e passivo reciprocamente e não simultaneamente.

 Há a necessidade de número mínimo: 3 pessoas. *Não estão incluídos os que separam os


rixentos. Ex. Se há duas pessoas e outra entra para separar, não é rixa, mas lesões
corporais recíprocas. (o que entra para separar não entra no número mínimo exigido). É
necessário ter pelo menos 3 pessoas em confronto. A rixa não é só briga, o taca pedra e
não acerta, o tumulto de empurra – empurra, também já caracteriza rixa, não precisa
haver lesão.

Descrição Objetiva:

Conduta: A conduta prevista pelo legislador é participar, seja qual for a forma. Só
exclui os que tentam separar. Se a pessoa que entra para separar acaba entrando na rixa, é
considerado participante.

*As ações isoladas caracterizam outros crimes: homicídio, lesões corporais, tentativa de
homicídio. Identificando a ação individualizada, quem matou, por exemplo, essa pessoa
responde pelo resultado.

Tipo Subjetivo

Crime exclusivamente doloso – o dolo consiste na vontade de participar (não tem o


entrar sem querer). Pode haver a rixa qualificada, se não se identifica o homicida, por
exemplo.

Crime de perigo presumido: a confusão por si só gera o risco de ofensa, incolumidade


pública, à saúde, vida; é inerente do próprio comportamento, que em si já é perigoso. A
participação já causa perigo, por isso que é um perigo presumido.
Consumação

A rixa se inicia com o conflito, para aqueles que estão participando e para aqueles que
entram, consuma-se quando participa. E o crime continua se consumando enquanto a rixa está
acontecendo.

Tentativa

Entendimento dominante – entende que não é possível a tentativa por se tratar de um


crime de perigo, ou você participa e o perigo se estabeleceu e o crime está consumando ou
não participou e não há perigo algum, sendo a tentativa impossível.

Entendimento minoritário – possível no caso de rixa preordenada (rixa marcada,


combinada). As pessoas combinam previamente a rixa. Quando os grupos estão indo em
direção ao ponto onde a rixa vai se desenvolver e a polícia chega antes do grupo se encontrar,
há a tentativa.

*É possível a legítima defesa? É possível somente nas reações individualizadas. Para rixa não é
possível legítima defesa, pois para ser legítima defesa precisa ter os requisitos: 1º-agressão
atual, iminente e injusta. 2º-deve ser reação à agressão. Quem participa da rixa é sujeito ativo,
logo, ele está agredindo e se o faz, não pode estar ao mesmo tempo reagindo. Mas das
agressões individualizadas pode alegar legítima defesa. Ex. se um sujeito, no meio da rixa, vem
com uma faca para acertar a pessoa, e ela dá um tiro para se defender e ele morre; no
homicídio alega legítima defesa, mas responde pela rixa, pois aí a pessoa era agressor; não
exclui a antijuridicidade da rixa, só do homicídio.

Formas Qualificadas

 Morte – se não identificou quem foi o homicida, todos responderão pela rixa qualificada
pelo resultado morte.

 Lesão Corporal de natureza grave ou gravíssima – até quem sofreu a lesão responde pela
rixa qualificada. Ela não vai responder por lesões corporais, vai responder por rixa
qualificada.

*Responde as pessoas que pararam depois da ocorrência dos resultados

Quem vai responder pelos resultados ou pelas formas qualificadas? Todos aqueles que
participaram da rixa antes de sua ocorrência, ainda que já tenham saído. Ex¹. a pessoa
participou 3 minutos, saiu da rixa, e logo após houve morte. Ela responderá pelo resultado
morte. Obs. Isso só acontecerá se não souber quem foi o homicida.

Ex². Todos viram quem causou a lesão corporal de natureza gravíssima, arrancou o braço. A
pessoa que causou a lesão responderá pela lesão corporal de natureza gravíssima e por rixa
simples e a pessoa que teve o braço arrancado responderá por rixa qualificada como os outros.

*Não respondem os que entram depois – se entrou após a ocorrência do resultado, responde
pela forma simples (rixa simples).

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