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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ITAJUBÁ

CURSO DE DIREITO – 6º PERÍODO

Maria Luiza Maduro Machado

ESTUDO DO CRIME DE LESÃO CORPORAL

ITAJUBÁ
2023
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ITAJUBÁ – FEPI
Curso de Direito

Maria Luiza Maduro Machado


ESTUDO DO CRIME DE LESÃO CORPORAL

Trabalho produzido por Maria Luiza Maduro


Machado para obtenção de nota na disciplina de
Direito Penal: Parte Especial do Centro Universitário
de Itajubá – FEPI.

ITAJUBÁ

2023
SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO ............................................................................... Pág 5

2- ELEMENTOS DO TIPO E SUJEITOS DO CRIME DE LESÃO

CORPORAL .................................................................................. Pág 6

3- CONSENTIMENTO DO OFENDIDO ............................................. Pág 8

3.1 Mudança de sexo ................................................................... Pág 9

4- TIPOS DE LESÃO CORPORAL .................................................. Pág 10

5.1 Lesão corporal simples ou leve .......................................... Pág 10

5.2 Lesão corporal grave ......................................................... Pág 11

5.3 Lesão corporal gravíssima ................................................ Pág 13

5.4 Lesão corporal seguida de morte .................................... Pág 15

5.5 Lesão corporal privilegiada .............................................. Pág 16

5.6 Lesão corporal culposa ....................................................... Pág 16

5- SUBSTITUIÇÃO DA PENA ......................................................... Pág 16

6- AUMENTO DA PENA .................................................................. Pág 17

7- PERDÃO JUDICIAL .................................................................... Pág 18

8- VIOLÊNCIA FAMILIAR OU DOMESTICA E A LESÃO

CORPORAL.................................................................................. Pág 18

9- AÇÃO PENAL ............................................................................ Pág 20

10- CONCLUSÃO ............................................................................ Pág 21

11- REFERENCIAS .......................................................................... Pág 22


5

INTRODUÇÃO

O principal objetivo desse trabalho é desenvolver um estudo relacionado


ao crime de Lesão Corporal e sua influência no ordenamento jurídico. Neste
texto, faz-se uma breve introdução ao conceito de Lesão Corporal postulada no
art 129 do Código Penal e posteriormente, teremos um estudo relacionado à
Lesão Corporal, propriamente dita, tipos e atenuantes e agravantes.
6

1. ELEMENTOS DO TIPO E SUJEITOS DO CRIME DE LESÃO


CORPORAL

Para maior entendimento, faz-se uma breve introdução sobre os elementos


e sujeitos do crime.

Os elementos do tipo se dividem em elementos objetivos, o qual se


subdividem em descritivos, onde são passiveis de reconhecimento pelas
simples constatação, e normativos, onde é necessário uma interpretação
jurídica do fato para compreender; e elementos subjetivos, que estão
relacionados a vontade do agente, ou seja dolo e culpa.

O objeto da conduta é a integridade física e a saúde da vítima. Para Nucci 1,


a integridade física abrange o corpo como um todo (inteireza do corpo), já a
saúde abrange as funções orgânicas, mentais e físicas, as quais devem estar
em pleno funcionamento.

Os sujeitos do crime, por sua vez, são indivíduos relacionados a pratica do


crime, os quais se dividem em sujeitos ativos e passivos. Os sujeitos ativos,
são todos aqueles que atuam no tipo penal, sendo divididos em autor, o qual
pratica o núcleo do tipo, co-autor, aquele em que presta auxilio ao autor e o
partícipe, o qual não participa do fato principal, mas auxilia na pratica do crime.
Já os sujeitos passivos são todos aqueles que sofrem os efeitos da conduta
criminosa, podendo ser secundários, aqueles que de alguma forma, sofrem
indiretamente os reflexos da conduta.

No crime de lesão corporal, a ação se materializa com o verbo “ofender”; o


sujeito ativo do crime refere-se a qualquer indivíduo, exceto, o próprio ofendido,
sendo este um irrelevante penal; o sujeito passivo do crime, assim como o
ativo, se refere a qualquer individuo, salvo disposição em contrário, o qual está
postulada no art 129, § 1º, IV e § 2º, V, se referindo a mulheres gravidas.

1
NUCCI, 2019, 3.ed, p.138.
7

O tipo penal é um crime de dano e a consumação ocorre no momento da


ofensa à integridade corporal e à saúde física ou mental da vítima.

O tempo do crime é dispensável pois estamos tratando de um crime


instantâneo. A analise duradoura do crime só terá relevância no âmbito do
cálculo da pena, onde será classificada como qualificadora.

Por se tratar de um crime material, o tipo penal só se consuma com o


resultado naturalístico, portanto, o resultado deve estar postulado no laudo do
exame de corpo de delito.

As múltiplas lesões no crime de lesão corporal, são caracterizadas como


crime único, ou seja por meio de uma ou mais condutas, pratica contra a
mesma vítima, um único delito.

É importante ressaltar que para o autor Bitencourt 2, a dor física e a


irritabilidade ou o nervosismo, sem prejuízo a integridade física ou psicológica
da vítima, não caracterizam o crime de lesão corporal.

Se tratando de um crime em que o elemento subjetivo é o dolo, é


necessário que o autor tenha a intenção de lesionar a vítima (Animus
Nocendi)3. Neste sentido, Capez4, decorre acerca do fato de que a intensão de
lesionar a vítima é o que individualiza os crimes de lesão corporal consumada
dos crimes de morte cruenta, onde a vítima é efetivamente atingida, mesmo
que a conduta do agente não seja suficiente para consumar o crime de
homicídio, por exemplo.

No crime de lesão corporal, a tentativa é absolutamente possível, desde


que haja a analise da intenção do agente, ou seja, s e o agente possui a
intenção ameaçar utilizando da agressão, não assumindo o risco de produzir
efetivamente o resultado, estaremos diante de um crime de perigo (art 132,
CP), entretanto, se o agente possui a intenção de lesionar a saúde ou a
integridade física da vítima, estaremos diante do crime de lesão corporal.

2. CONSENTIMENTO DO OFENDIDO
2
BITENCOURT, 2023, p.753.
3
Intenção de prejudicar. Ser nocivo a.
4
CAPEZ, 2013, p.184 -185.
8

Se tratando de autolesão no Direito Penal, o crime é considerado imponível,


sendo uma discussão irrelevante, visto que determinadas lesões são
autorizadas pela própria vítima, como por exemplo as tatuagens e pircings.
Tendo em vista essa questão, Nucci5 afirma que muitas vezes, o bem jurídico
em questão não será efetivamente protegido pelo Estado.

É importante ressaltar que devemos sempre analisar os princípios de


adequação social e insignificância. Em relação ao principio da adequação
social, quem decide provocar uma autolesão, contando com o auxílio de
terceiros, não poderá ser punível, devido ao fato de a autolesão ser um
irrelevante penal. Ademais, quando falamos do princípio da insignificância,
podemos relacionar com o conceito de bagatela, tendo em vista a
insignificância da lesão causada a vítima.

Entretanto, Gonçalves6 decorre acerca da divergência doutrinaria em


relação ao corte de cabelo ou de barba sem autorização. Alguns doutrinadores
entendem que o corte de cabelo ou barba sem autorização do individuo
caracteriza o crime de lesão corporal leve, já outros entendem que a conduta
se encaixa no crime de vias de fato. Contudo, se a conduta foi praticada com a
intenção de humilhar a vítima, o tipo penal será o de injuria real.

É importante ressaltar o fato de que se o consentimento do ofendido for


obtido de forma válida, a ilicitude não existe, portanto, não há crime em
transplante de órgãos entre pessoas vivas, por exemplo.

Portando, conforme a sociedade for assimilando como insignificantes


determinados comportamentos de autolesão, deverá o Estado considerar
válido o consentimento do ofendido neste caso, eliminando a ilicitude do fato.

É o que ocorre no caso de lesões esportivas como evidencia Capez 7.


Lesões em decorrência de violência em esportes como boxe e futebol, por
exemplo configuram fato típico, mas não são ilícitas, portanto, não são

5
NUCCI, 2019, 3.ed, p.143.
6
GONÇALVES, 2023, p.292
7
CAPEZ, 2023, p.400-401
9

consideradas crimes. Estas lesões se encaixam na ideia de consentimento do


ofendido, não podendo assim, o Estado intervir.

Lesões esportivas, intervenções cirúrgicas, transplante de órgãos entre


pessoas vivas, tatuagens, piercings, não se enquadram no crime de lesão
corporal, tendo em vista o consentimento da vítima para a pratica da lesão.

2.1 Mudança de sexo

Como resultado da evolução da Medicina e as efetivas mudanças sociais, a


mudança de sexo como forma de melhoria da qualidade de vida de pessoas
trans passou a ser admissível. Entretanto, levando em consideração a
tipicidade formal, a cirurgia se enquadraria no crime de lesão corporal
gravíssima, tendo em vista a perda das funções sexuais e reprodutivas.

Contudo, apesar da tipicidade formal, a mudança de sexo é considerada um


crime atípico tendo como base a atipicidade material, visto que o crime de
lesão corporal visa a proteção do individuo contra lesões graves e gravíssimas
e não possui presunção legal acerca da melhoria da qualidade de vida.

Portanto, apesar da tipicidade formal se encaixar com a mudança de sexo,


o bem jurídico em questão não é afetado pela conduta, sendo considerado um
crime atípico.

3. TIPOS DE LESÃO CORPORAL


10

Os crimes de lesão corporal se dividem em duas categorias: lesões dolosas


e lesões culposas. A modalidade dolosa, por sua vez, se divide em outras
quatro figuras: leve ( art 129, caput, CP ) , grave ( art 129, § 1º, CP ) ,
gravíssima ( art 129, § 2º, CP ) e seguida de morte ( art 129, § 3º, CP ), cuja
penalidade irá depender do resultado provocado, além disso, em qualquer uma
dessas figuras poderá ser configurada a modalidade privilegiada ( art 129, § 4º,
CP ).

Entretanto, Gonçalves8, afirma que apesar de existirem quatro modalidades


de lesão, o Código Penal pressupõe somente os casos de lesões graves e
gravíssimas, não existindo a hipótese de lesão corporal de natureza leve,
sendo esta somente detectável no caso concreto, caso a perícia criminal
reconhecer que não houve lesão grave ou gravíssima.

Ademais, para que haja a tipificação legal é necessário que seja constado
que o ofensor tenha provocado uma agressão perante a saúde ou a integridade
corporal da vítima, sendo possível identificar escoriações, equimoses, fraturas,
etc, em seu corpo.

A mera ausência de lesões podem importar na infração penal chamada de


vias de fato ( art 21 da Lei das Contravenções Penais ), onde há uma ameaça
à integridade física da vítima através de atos como empurrões, deteriorar
roupas, dar socos e pontapés, etc., que não resultem em escoriações, ou no
crime de injuria real ( art 140, § 2º, CP ), onde para provocar o ato de injuria, o
autor utiliza de violência.

Devemos analisar a vontade do agente ao praticar a conduta. Q

3.1 Lesão corporal simples ou leve

A lesão corporal simples ou leve esta postulada no art 129, caput.

A definição de lesão corporal simples ou leve é gerada através de


exclusão, ou seja, se a lesão não decorrer de nenhuma das hipóteses

8
GONÇALVES, 2023, p.290
11

previstas no art 129, § 1º, § 2º e § 3º, estremos diante de uma lesão


corporal de natureza leve.

Entretanto, Gonçalves9 entende que a lesão corporal simples só é


constatável no caso concreto, mediante a laudo pericial.

3.2 Lesão corporal grave

A lesão corporal grave se encontra postulada no art 129 § 1º, CP, sendo
estes considerados crimes qualificados pelo resultado, se tratando de cálculo
da pena.

A lesão corporal grave deve ocorrer de forma muito mais séria e importante
do que a lesão corporal leve.

3.2.1 incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias


(art 129 § 1º, I): decorre Capez10 que este inciso se refere não
somente pela ocupação laborativa como também qualquer atividade
costumeira praticada pela vítima, sendo dispensável a finalidade
lucrativa;
 a lei fixa o prazo de no mínimo 30 dias;
 não faz presunção ao tempo de lesão, podendo a ferida se
curar e a vítima continuar incapaz;
 o local de habitação deve ser licito, porém a lei admite locais
imorais;
 É necessário, assim como aponta Nucci11, a realização de um
laudo pericial complementar, a fim de constatar a
incapacidade da vítima.

9
GONÇALVES, 2023, p.290
10
CAPEZ, 2013, p.191

11
NUCCI, 2019, 3.ed, p.143.
12

3.2.2 Perigo de vida (art 129 § 1º, II) : o perigo é concreto, devendo ser
comprovado pela perícia; é a possibilidade da vítima vier a falecer
em razão dos ferimentos gerados pela lesão;
 Capez12 evidencia que o laudo pericial complementar é
dispensável, entretanto é necessário ser comprovado pela
pericia o risco de morte;
 Admite preterdolo;

3.2.3 Debilidade permanente de membro, sentido ou função (art 129


§ 1º, III): consiste na diminuição ou enfraquecimento de alguma
área em decorrência da lesão;
 A comprovação pela perícia é indispensável, bastando
somente um exame pericial para comprovar o dano;
 Exigência legal: a debilidade deve ser permanente;
 Não se perde a função de qualificadora caso o dano seja
passível de reparação através de intervenção cirúrgica;

3.2.4 Aceleração de parto (art 129 § 1º, IV): Gonçalves13 explica que
para ser considerada qualificadora é necessário que o nascituro
tenha nascido prematuramente em decorrência de uma agressão
sofrida pela gestante;
 Se a lesão provoca aborto, é outra qualificadora penal;
 É necessário que o autor da agressão tenha conhecimento
de que a vítima estava gestante;
 Admite crime preterdoloso, onde o autor possuía o dolo de
agredir a gestante, mas não produzir o resultado;

3.3 Lesão corporal gravíssima


12
CAPEZ, 2013, p.194
13
GONÇALVES, 2023, p.330
13

Vale ressaltar que o conceito de lesão corporal gravíssima,


esclarecido por Nucci14, advém da doutrina e da jurisprudência, não
possuindo presunção legal, portanto a lesão corporal gravíssima é um
mero termo utilizado para se referir ao § 2º, do art 129, tendo em vista
que a pena é maior. Consequentemente, a lesão corporal grave
abrange os parágrafos 1º e 2º do art 129, CP.

3.3.1 Incapacidade permanente para o trabalho ( Art 129, § 2º, I ) :


Bitencourt15 exprime que a incapacidade permanente não se
confunde com a incapacidade para as ocupações habituais, tendo
em vista o fato de que nesse caso a incapacidade é permanente,
sendo imprescindível o obtenção de lucro, acarretando prejuízo
financeiro a vítima;

3.3.2 Enfermidade incurável ( Art 129, § 2º, II ): neste caso, o agente


intencionalmente transmite ou insere uma enfermidade, a qual não
existe cura no presente momento;
 Necessária a comprovação, através do exame de corpo de
delito, de que a medicina atual não dispõe dos meios
necessários para obter a cura da doença;
 Caso haja meios para impedir que a doença se manifeste e
se torne incurável, é necessário que a vítima os utilize;
 Se a vitima não o fizer, de forma injustificável, o agente não
responde pela forma agravada do crime;
 Caso a medicina evolua, não há revisão criminal, sendo esta
somente possível caso haja erro quanto a impossibilidade de
cura;

3.3.3 Perda ou inutilização do membro, sentido ou função ( Art 129, §


2º, III ): a perda decorre de uma mutilação ou amputação, já a
inutilização se refere a falta de utilidade, ainda que esteja presente,
14
NUCCI, 2019, 3.ed, p.142.
15
BITENCOURT, 2023, p.780
14

admitindo até ser parcialmente, de algum dos membros ou funções


do corpo humano;

3.3.4 Deformidade permanente ( Art 129, § 2º,IV ): Gonçalves16 afirma


que a qualificadora em questão esta ligada a ideia de dano estético;
entretanto, por se tratar de uma definição abrangente, é necessário
a presença de quatro elementos que juntos são considerados
qualificadoras por deformidade permanente: é necessário que a
lesão tenha relevância ou seja, deve haver diminuição na “beleza”,
seja permanente, visível e capaz de provocar impressão vexatória;
 a possibilidade de reparação da lesão através de intervenção
cirúrgica não afasta a qualificadora;
 caso a vítima venha realizar algum procedimento que auxilie no
desaparecimento total da lesão, o crime será desqualificado;
 não será aplicada a qualificadora, se a lesão for de difícil
constatação e invisível, como por exemplo, no couro cabeludo;
 é recomendável que a parte acusatória anexe aos autos fotos,
vídeos ou qualquer tipo de imagens que evidenciem a aparência
da lesão;
 São irrelevantes características como sexo, idade,
nacionalidade, etc.

3.3.5 Aborto ( Art 129, § 2º, V ): Capez17 evidencia que o aborto como
qualificadora será julgado como crime preterdoloso, ou seja, a
conduta é praticada mediante ao dolo do agente de agredir a
gestante, porém o resultado não era pretendido, se encaixando na
modalidade culposa. Portanto, o crime de lesão corporal será
punido a título doloso e o aborto, a título culposo.
 se for comprovado que o agente desconhecia a gravidez,
este responderá somente pela lesão corporal;

16
GONÇALVES, 2023, p.340
17
CAPEZ, 2013, p.204
15

 o sujeito responderá por aborto qualificado quando além do


resultado pretendido (aborto), a vitima sofrer culposamente
lesões graves em decorrência da conduta;
 se ambas as condutas forem dolosas, o agente respondera
por ambos os crimes;
 caso a criança nasça e após o nascimento venha a falecer,
estaremos diante de outra qualificadora: aceleração de parto
(art 129, § 1º, IV);

3.4 Lesão corporal seguida de morte ( Art 129, § 3º )

Segundo Nucci18, a lesão corporal seguida de morte se enquadra na


modalidade preterdolosa, pois o legislador evidencia a exigência do dolo na
conduta (lesão corporal) e a culpa no resultado (homicídio culposo);
A morte é imputada ao agente a modalidade culposa, tendo em vista o
fato de que o agente, mediante a conduta dolosa, não previu a possibilidade
de morte e não assumiu o risco de produzi-la.

A tentativa de lesão corporal seguida de morte não é admitida, levando


em consideração o fato de que não há intenção de obter o resultado morte.

3.4.1 lesão corporal x tentativa de homicídio


A lesão corporal se configura quando a intenção do autor é de ferir
a vítima, diferentemente do crime de homicídio tentado, onde a
intenção do autor esta ligada a matar a vítima, mas de alguma
forma, isso não ocorre.
Caso haja ferimentos evidentes no corpo da vítima, devemos
analisar o objetivo do autor, porém muitos autores acreditam que
deve-se levar em conta outros elementos como armas e os tipos de
lesões causadas no corpo da vítima.

3.5 Lesão corporal privilegiada (Art 129, § 4º)

18
NUCCI, 2019, 3.ed, p.156.
16

Assim como ocorre no crime de homicídio, na lesão corporal, há a


diminuição de pena caso o agente pratique a conduta por motivo de relevante
valor moral ou violenta emoção e após isso haja a injusta provocação da
vítima, sendo aplicável a todos os tipos de lesão corporal.

3.6 Lesão corporal culposa

Bitencourt19 elenca quatro requisitos para que o crime seja tipificado na


modalidade culposa: é necessário que o comportamento humano ocorra de
forma voluntária, haja o descumprimento do dever de cuidado, o resultado seja
previsível e a lesão corporal ocorra de forma involuntária.

Não há presunção legal sobre a gravidade da lesão corporal culposa,


portanto é necessário a análise das circunstancias judiciais no momento do
cálculo da pena.

4. SUBSTITUIÇÃO DA PENA (ART 129, § 5º)

O juiz poderá substituir a pena de detenção pela pena de multa caso


hajam lesões leves; lesões de caráter privilegiado; no caso em que ambos os
autores entraram em conflito, porém um deles age em legitima defesa; ou se
ambos entraram em conflito gerando lesões reciprocas, não incidindo em
legitima defesa.
Gonçalves20 afirma que se tratando da hipótese do inciso I, a
substituição irá ocorrer se a lesão ocorrer de forma leve e/ou privilegiada,
podendo o juiz agir de duas formas: reduzir a pena privativa de liberdade de 1/6
a 1/3, ( art 129 § 4º), ou substituí-la por multa ( art 129, § 5º ).
Entretanto, como é elencado por Capez 21, a jurisprudência afirma que a
substituição da pena ocorrera nos casos em que o outro agressor não foi
citado na denuncia ou tenha agido perante a legitima defesa. Se um dos
autores agiu em face da legitima defesa, um será condenado ao pagamento
de multa e o outro será absolvido; se ambos se feriram e alegaram agir em

19
BITENCOURT, 2023, p.805
20
GONÇALVES, 2023, p.350.
21
CAPEZ, 2023, p.453
17

face de legitima defesa, a jurisprudência entende que ambos devem ser


absolvidos em face da ausência de elementos que comprovem a legitima
defesa; caso ambos tenham se ferido e ambos não aleguem legitima defesa,
ambos serão condenados a pagar multa.

5. AUMENTO DE PENA (ART 129, §7º e § 8º, CP)

A pena de lesão corporal dolosa será aumentada 1/3, caso a vítima


possui idade inferior à 14 anos de idade ou possuir idade superior a 60 anos.
De acordo com Capez22, caso seja impossível de reconhecer ou o agente
alegar desconhecimento da faixa etária, haverá erro do tipo, não incidindo em
causas de aumento.

Além disso, caso o crime seja praticado por milícia privada, sob pretexto
de prestação de serviço de segurança ou por grupo de extermínio haverá
aumento de 1/3 da pena.

Se a lesão for provocada contra autoridade ou agente descrito nos arts.


142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência
dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau, incumbirá em aumento da pena de 1/3 à 2/3. O aumento de pena
ira recair sobre todos os tipos de lesão, sem distinção.

A causa de aumento só irá recair sobre a lesão culposa caso a infração


resultar de inobservância da regra técnica de profissão, arte ou oficio, ou se o
agente provoca o crime de omissão de socorro, não procura meios para
diminuir as consequências dos seus atos ou foge para evitar a prisão em
flagrante. (art 121 , § 4º, CP).

Ademais, de acordo com Filho23, é importante ressaltar que a Lei n.


14.188/21 alterou a Lei Maria da Penha e o Código Penal, incluindo como
qualificadora, a violência contra mulher.

22
CAPEZ, 2023, p.449
23
FILHO, 2023, p.491
18

6. PERDÃO JUDICIAL (ART 129, § 8º)

O juiz poderá deixar de aplicar a pena, assim como ocorre no crime de


homicídio culposo, caso as consequências da infração atingirem de forma
tão grave o agente, que a sanção penal se torna irrelevante. Neste caso,
Gonçalves24 utiliza do exemplo de um agente, pretendendo lesionar um
terceiro, provoca um acidente utilizando de água fervente, entretanto, no
momento da ação, acaba sofrendo as consequências e se queimando
gravemente.

7. VIOLÊNCIA FAMILIAR OU DOMESTICA E A LESÃO CORPORAL


(ART 129, § 9º ao § 13º, CP)

A lesão corporal contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou


companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda,
prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade incube no crime de Violência familiar ou Violência doméstica. A
violência poderá ocorrer em qualquer lugar, contra qualquer um dos indivíduos
citados acima, tendo em vista que o tipo penal não discerne acerca do local do
crime, se o autor ou a vítima são do sexo feminino ou masculino ou se há
distinção de idade ou grau de parentesco. Contudo, em decorrência da
alteração do Código Penal, pela Lei nº 14.188/21, para ser qualificada a
agravante do art 129, § 13 CP, é necessário que a vítima seja do sexo
feminino.

Entretanto, o autor Nestor Sampaio Penteado Filho decorre acerca dos


aspectos criminológicos da violência contra mulher:

“A violência se manifesta diferentemente conforme o tipo de


agressão, o sexo das vítimas e a idade. Meninas, em geral, são vítimas
de abuso sexual, prostituição forçada, tráfico, ao passo que meninos
geralmente sofrem abusos físicos. Na idade adulta, as mulheres

24
GONÇALVES, 2023, p.359
19

apresentam maior probabilidade de abusos físicos, morais ou sexuais de


parentes e companheiros. Na terceira idade (a partir dos 60 anos), as
mulheres ficam expostas, via de regra, à violência praticada pelos filhos
e/ou cuidadores.

A ilação que se faz é de que a violência contra as mulheres


emerge principalmente dentro dos lares, isto é, a natureza familiar ou
doméstica do abuso é a regra." (FILHO, 2023, p.465)

O autor ainda verifica que via de regra, a lesão contra a mulher é


realizada pelo parceiro, como forma de impor, dominar e controlar a vítima em
situação de vulnerabilidade, se estendendo progressivamente.

Além disso, é importante ressaltar que de acordo com o posicionamento


do STJ, se a violência contra a namorada ou companheira decorre do
relacionamento, mas posterior ao fato, há a suspensão da convivência em
decorrência da separação, configura crime de violência doméstica contra
mulher.

Ademais, Gonçalves25 ressalta o fato de que no crime de violência


doméstica ou familiar contra mulher é vedado o acordo de não persecução
penal dentro do processo, nos termos do art 28 – A, §2, IV, CPP.

8. AÇÃO PENAL

Os crimes de lesão corporal leve ou culposa, nos termos do art 88 da Lei


dos Juizados Especiais (Lei 9.099/1995), a ação penal será pública e

25
GONÇALVES, 2023, p.348
20

condicionada a representação, tendo como possibilidade a utilização de


benefícios como a transação penal.

Entretanto, se tratando de violência doméstica ou familiar, com base na


súmula 542 do STJ, a ação penal terá o caráter público e incondicionado.
Além disso, se tratando da Lei Maria da Penha, a Lei de Juizados Especiais
não recaíra sobre crimes praticados com violência contra mulher,
independente da pena prevista.

CONCLUSÃO

Conclui-se que o estudo dos crimes de lesão corporal é de suma


importância ao operador do direito, tendo em vista a complexidade das normas
e divergências doutrinarias acerca do assunto. É imprescindível ao mediador a
21

compreensão dos tipos de lesões causadas e suas consequências, tendo como


resultado a aplicação de normas corretas que se adequem ao tipo penal.

REFERENCIAS

GONÇALVES, V. E. R. Curso de direito penal - parte especial - Arts 121 a


361. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2023. E-book.
22

BITENCOURT, C. R. Tratado de direito penal. 23. ed. São Paulo: Saraiva,


2023. E-book.

CAPEZ, F. DIR. SIMPLIFICADO - DIREITO PENAL SIMPLIFICADO - PARTE


ESPECIAL. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. E-book.

CAPEZ, F. Curso de Direito Penal - Parte Especial arts. 121 a 212 - v. 2. 23.
ed. São Paulo: Saraiva, 2023. E-book.

NUCCI, G. Curso de Direito Penal – Parte Especial arts 121 a 212 do


Código Penal – v.2. 3.ed, ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.

FILHO, N. S. P. Manual esquemático de criminologia. 13. ed. São Paulo:


Saraiva, 2023. E-book.

https://www.mundoadvogados.com.br/artigos/qual-a-diferenca-entre-
lesao-corporal-e-tentativa-de-homicidio

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