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AULA 4
Pois bem, como já tivemos a oportunidade de analisar os institutos mais importantes relativos à
teoria geral do crime, agora passaremos a estudar as etapas de realização da infração penal,
pensa, idealiza a prática ilícita (por ideação ou cogitação) e, em seguida, coloca em prática uma série
Estudaremos, ainda, outros institutos penais que, uma vez concretizados, implicarão benefícios ao
autor da infração – desistência voluntária, arrependimento eficaz e arrependimento posterior. Por fim,
faremos breve incursão e análise do instituto denominado crime impossível – seus efeitos,
Iter criminis é uma expressão latina que significa caminho, trajetória do crime. Serve para se referir
às duas fases percorridas pelo agente até chegar à consumação da infração penal: interna e externa. A
fase interna é integrada pela cogitação/ideação. A fase externa compõe-se de três estágios: atos
preparatórios, atos executórios e consumação. O iter criminis aplica-se somente aos crimes dolosos.
a. Cogitação (ou ideação): fase na qual o agente pensa em cometer o delito; é impunível, dado
que se inscreve no âmbito do pensamento, não havendo conduta, pois, como vimos, conduta
pensamento não é punível, nesse universo todos podem ser maus. É subdividida em:
idealização (ideia de praticar o delito); deliberação (análise, por parte do agente, das vantagens
incitação ao crime (art. 286 do Código Penal – CP), da associação criminosa (art. 288 do CP),
c. Atos executórios: são aqueles direcionados à efetiva prática do crime, do ataque ao bem
jurídico protegido pela lei penal, concretizando-se quando o agente começa a realizar a
conduta descrita no núcleo do tipo criminal. A partir desse momento, o fato passa a ser punível.
O CP adotou a teoria objetivo-formal (ou lógico-formal), pois entende que há começo de ato
executório quando o agente inicia a realização da conduta descrita no tipo penal. É a preferida
pelos estudiosos nacionais. Assim, a preparação termina e a execução começa com a prática do
primeiro ato idôneo e inequívoco que pode levar à consumação. Idôneo é o ato apto capaz
Por outro lado, jogar um pouco de manteiga morna nos pés de seu desafeto não é, a toda
evidência, ato idôneo a causar a morte daquele. Inequívoco é aquele ato indubitavelmente
ligado à consumação, ou seja, que não deixa margem a dúvida quanto à intenção do
agente. Trata-se de ato direcionado ao ataque ao bem jurídico. Desse modo, o fato de o
agente arrastar a vítima para um matagal e rasgar suas roupas demonstra, de forma indubitável,
sua vontade de cometer delito sexual.
d. Consumação: concretiza-se quando todos os elementos do tipo penal são realizados. Trata-se,
conforme Masson (2020, p. 287, grifo do original) de “[...] um crime completo ou perfeito, pois
esgotado), pois este último vem a ser, conforme Masson (2020, p. 288), “[...] o delito em que,
posteriormente à consumação subsistem efeitos lesivos derivados da conduta do autor”. Assim,
crime de extorsão (art. 158 do CP), efetivamente obtém a indevida vantagem econômica (Brasil,
1940). Sua importância repousa no fato de influir na dosimetria da pena, pois as consequências
do crime devem ser sopesadas pelo julgador como um dos fatores a serem considerados, a fim
Também chamada de conatus, crime imperfeito, crime manco ou crime incompleto, a tentativa de
crime se caracteriza quando o agente inicia a execução, mas não consegue consumá-la por
circunstâncias alheias à sua vontade (art. 14, inciso II do CP), ou seja, quando há um fator externo que
impossibilita a realização integral do tipo penal (Brasil, 1940).
A tentativa é punível com a mesma pena prevista para o crime consumado, reduzida, porém, de
um terço a dois terços (art. 14, parágrafo único do CP) (Brasil, 1940). A redução de pena será aplicada
considerando-se o quão próximo o agente chegou da consumação da infração praticada. Quanto
mais próximo, menor será a redução, ou seja, leva-se em consideração “[...] a distância percorrida do
iter criminis” (Masson, 2020, p. 291, grifo do original).
Observe que há crimes em que a forma tentada e a consumada são punidas da mesma maneira,
sendo exemplo o disposto no art. 352 do CP (Brasil, 1940). A doutrina denomina essa modalidade de
infração de crime de atentado ou crime de empreendimento. Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o
indivíduo submetido a medida de segurança detentiva,
usando de violência contra a pessoa:
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena
correspondente à violência.
2.2 ELEMENTOS INTEGRANTES DA TENTATIVA
c. dolo de consumação.
Imperfeita (ou inacabada): quando o agente não pratica todos os atos executórios;
Perfeita (ou acabada ou crime falho): caracteriza-se quando o agente, embora tenha
praticado todos os atos executórios, não consegue consumar o crime. Exemplo: o agente
desfere vários tiros na vítima e, crendo tê-la matado, afasta-se da cena do crime. Aquela, após
socorrida, sobrevive.
Branca ou incruenta: caracteriza-se quando a vítima não é atingida e, portanto, não sofre dano
em sua integridade corporal.
Inidônea: sinônima de crime impossível (art. 17 do CP), fato que a lei considera atípico. Exemplo:
infração, pois subsistente é o crime cuja conduta pode ser fracionada em vários atos executórios. No
entanto, há infrações que não a admitem, por exemplo:
desejado; assim, não há como compatibilizar a tentativa a algo que o agente não quer
(consumação da infração).
b. Crimes preterdolosos: nesses casos o agente não quer dar causa ao resultado agravador, o
qual lhe é imputado, a título de culpa. Exemplo: lesão corporal dolosa seguida de morte,
conforme art. 129, parágrafo 3º do CP (Brasil, 1940). QUER BATER, MAS NÃO QUER MATAR.
condutas, o crime estará consumado e, se não houver, o fato será atípico. A prática de ato
isolado configura um irrelevante penal. Exemplo: curandeirismo (art. 284 do CP) e exercício
ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica (art. 282 do CP) (Brasil, 1940).
f. Crimes unissubsistentes: aqueles que se consumam em um único ato. Exemplo: injúria verbal
(art. 140 do CP), uso de documento falso (art. 304 do CP), desacato praticado verbalmente (art.
que se consomem em uma só conduta, pois exteriorizado um único ato, apto a alcançar a
consumação.
3.1 CONCEITO
De acordo com o CP, art. 14, inciso I, diz-se consumado o crime quando nele se reúnem todos os
elementos do tipo incriminador. A consumação trata-se da fase final do iter criminis, na qual há
efetiva lesão ao bem jurídico tutelado pela norma penal. A conduta do agente se amolda, vale dizer,
se encaixa perfeitamente na descrição abstrata (o tipo) existente na lei.
Aferir o exato momento consumativo de uma infração encontra inúmeras repercussões na lei.
Estefam e Gonçalves (2020, p. 558) destacam que “esse momento é fundamental para determinar a
quantidade da pena imposta, o termo inicial da prescrição da pretensão punitiva (art. 111, I, do CP) e
Conforme Araújo (2020, p. 535), “o momento consumativo do crime varia de acordo com a sua
Crimes materiais, de resultado ou causais: são aqueles cuja consumação pressupõe a efetiva
ocorrência do resultado naturalístico decorrente da conduta do autor. Com eles, há uma efetiva
O seu resultado irá caracterizar um mero exaurimento da infração, pois o crime já se encontrava
EFEITOS LESIVOS QUE SE PERDURAM APÓS A CONSUMAÇÃO.
consumado.
Crimes de mera conduta ou de simples atividade ou sem resultado: nesses, o tipo penal não
faz qualquer referência, no que tange a sua redação, a algum resultado. Em outras palavras, o
dispositivo legal que descreve o comportamento considerado punível não faz qualquer alusão
reprovável que o crime estará consumado. Exemplo: crime de violação de domicílio (art. 150 do
CP) (Brasil, 1940).
Crimes permanentes: aqueles cujo momento consumativo se prolonga no tempo, fato que
gera consequências legais tais como a fixação da competência territorial (art. 71 do Código de
Processo Penal – CPP), o termo inicial da fluência do prazo prescricional (art. 111, inciso III do
CP) e também a caracterização do estado de flagrância (art. 303 do CPP) (Brasil, 1940, 1941b).
Crimes habituais: aqueles cuja prática da conduta criminosa se torna um hábito do agente (por
isso, um crime habitual) e, desse modo, a consumação ocorre quando a referida conduta é
praticada de modo reiterado, repetitivo, tornando-se uma constante na vida do agente. Por isso,
a ocorrência de ato isolado torna-se, como regra, um indiferente penal. Exemplo: casa de
prostituição (art. 229 do CP), rufianismo (art. 230 do CP) e exercício ilegal da medicina, arte
Crimes qualificados pelo resultado: neles, a infração somente se consumará quando ocorrer a
produção do resultado mais grave previsto na lei. Exemplo: lesão corporal seguida de morte (art.
3.3.1 Conceito
execução do ato criminoso, respondendo somente pelos atos até então praticados (Brasil, 1940).
Note-se, desde já, que nesse caso não há fator externo a impedir o sujeito de continuar a praticar a
infração. Ele para de realizar a conduta porque não mais deseja alcançar a consumação do delito.
Servindo-nos de Araújo (2020, p. 547, grifo do original): “consoante fórmula de Frank, na tentativa o
agente diz a si mesmo: ‘quero prosseguir, mas não posso’, enquanto na desistência voluntária ele dirá:
‘posso prosseguir, mas não quero’”. É considerada medida de política criminal, vez que se pode
estimular o agente a não prosseguir no seu intento criminoso.
O tema não é pacífico, porém, para considerável parcela da doutrina nacional, bem como ante o
natureza jurídica de causa de exclusão de adequação típica em relação ao delito que o agente
O mais comum no júri é defendermos a desclassificação da tentativa de homicídio para lesão corporal, com
queria inicialmente praticar. base na tese da desistência voluntária, negando o dolo de matar, pois o agente desistiu dos golpes, desistiu
de atirar.
Na tentativa, conforme mencionado, o agente não prossegue no crime por motivos alheios à sua
vontade, o que não ocorre na desistência voluntária, pois a interrupção dos atos executórios se dá
voluntariamente, vale dizer, de forma livre, sem qualquer coação. É como se o autor da conduta
dissesse a si mesmo: “não quero, mas posso continuar”. Por isso, o agente não responde pelo crime
em sua forma tentada, mas somente pelos atos até então praticados.
A doutrina entende que também há desistência voluntária quando o indivíduo resolve não repetir
ato de execução já cometido, mas que não havia levado o crime à consumação. Exemplo: o agente
desferiu um tiro na vítima deixando-a caída e, apesar de poder descarregar nela sua arma e consumar
A desistência tem que ser voluntária, ainda que não espontânea, ou seja, o não
prosseguimento dos atos executórios há de ser consequência da própria vontade do agente (aqui
reside a voluntariedade), mesmo que a ideia de desistir tenha partido de terceiro (desde que não se
3.4.1 Conceito
Também chamado de resipiscência, o arrependimento eficaz consiste no fato de o agente, ter
realizado todos os atos executórios, mas, antes da consumação, vir a praticar uma nova ação que
acabe evitando a produção do resultado. Reside no término entre os atos executórios, porém antes
da consumação do crime, em que se conclui que o agente desiste de atingir a consumação do
delito praticado, ou seja, muda de ideia. É o caso do sujeito que ministra antídoto à vítima a quem
fez ingerir veneno. E, ainda, do indivíduo que retira da água e socorre eficientemente a vítima que ele
O instituto é aplicável somente em relação aos crimes materiais, pois o dispositivo (art. 15 do CP)
utiliza a expressão “[o agente] impede que o resultado se produza” (Brasil, 1940).
Por fim, é necessário observar que as razões, seja de que natureza forem, que levam o agente a
praticar o arrependimento eficaz não são relevantes para a lei penal, bastando-lhe a voluntariedade e
a eficácia do ato de arrependimento. AGIR DE FORMA CONTRARIA A SUA VONTADE, EXCLUI A CONDUTA.
ao crime que o agente inicialmente pretendia cometer. Como leciona Araújo (2020, p. 549, grifos do
original):
Essa regra do art. 15, CP, faz com que o agente responda apenas pelos atos até então praticados
Ora, nas situações do art. 15, CP, o agente não responderá pelo seu dolo inicial (ex.: matar), mas
responderá, se for o caso, por crime de menor gravidade já consumado (ex.: lesão corporal).
resultado ocorrer, responderá o agente por crime consumado, incidindo sobre o caso, todavia, a
atenuante genérica prevista no art. 65, inciso III, alínea b, primeira parte, do CP (Brasil, 1940).
Conclui-se que, para surtirem efeito, desistência voluntária e arrependimento eficaz devem
A voluntariedade reclama, para sua configuração, que o agente tenha deixado de prosseguir na
execução do comportamento delituoso de forma isenta, livre de coação física ou moral. Não se faz
Por outro lado, é necessário que sua atitude de arrependimento seja concretamente eficaz.
Noutras palavras, é imprescindível que o agente realmente consiga impedir a consumação do delito
que estava cometendo. Em suma, sua nova ação deve ser útil e proveitosa, evitando a consumação
do delito que até então era seu objetivo. Como afirmado, se o agente se arrepende, porém a vítima
vem a sucumbir, ele responderá pelo resultado que causou. Exemplo: o criminoso está afogando a
vítima e acaba por desistir do intuito de matá-la, fazendo-lhe massagem cardíaca e respiração boca a
boca. No entanto, mesmo assim, a vítima falece. Nessa hipótese, o agente responderá por homicídio
consumado.
Conclui-se que, sendo eficaz e voluntário o arrependimento, o sujeito responderá somente pelos
Previsto no art. 16 do CP, o arrependimento posterior vem a ser causa obrigatória de redução
da pena, aplicável aos “[...] crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o
dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do
em crimes culposos e dolosos, sendo, da mesma forma, cabível quando a violência é praticada contra
a coisa (objeto, como uma janela que o agente destrói para ingressar numa residência a fim de
cometer furto qualificado). A doutrina entende que o instituto incide em relação ao homicídio
culposo, pois, apesar de nele existir violência, esta não é intencional (Brasil, 1940).
Trata-se de medida de política criminal, tendo em vista o interesse do Estado em que seja
Conforme teor do art. 16 do CP (Brasil, 1940), são os seguintes os requisitos para configuração do
arrependimento posterior:
a. Infração praticada sem violência ou grave ameaça à pessoa: advoga-se que, havendo
violência ou grave ameaça à pessoa, por ínfimas que sejam, o instituto não pode ser aplicado ao
pena.
devem ser integrais, porém, tem-se admitido a reparação parcial caso a vítima com ela
concorde. O dano a ser reparado pode ser de natureza patrimonial ou moral. Em regra, a
reparação deve ser realizada pessoalmente, ou seja, pelo próprio ofensor, salvo comprovada sua
feita por um dos acusados a todos aproveita, pois é circunstância de caráter objetivo (art. 30 do
d. Voluntariedade do agente: o ato reparatório deve ser voluntário, ou seja, realizado sem
coação, seja ela moral, seja física, ainda que não espontâneo (quando alguém sugere que seja
feita a reparação, por exemplo, temos a voluntariedade, mas não a espontaneidade do agente).
queixa, mesmo após seu oferecimento. Caso o ressarcimento ocorra após o recebimento da
inicial acusatória, é cabível somente a circunstância atenuante prevista no art. 65, inciso III, alínea
b, parte final do CP (Brasil, 1940).
Respeitável parte da doutrina tem criticado o instituto do arrependimento posterior por entendê-
lo elitista, pois um dos requisitos para sua aplicação é a efetiva reparação do dano causado à vítima, o
que é possível somente para quem possui boa situação financeira. No entanto, como resposta ao
questionamento, diz-se que o arrependimento posterior busca favorecer a vítima, incentivando a
rápida recomposição do dano por ela sofrido. Alega-se, ainda, que o dispositivo se encontra mal
posicionado topograficamente no CP, pois deveria migrar para a parte relativa à aplicação da pena
(Brasil, 1940).
No que se refere ao quantum de redução de pena propiciada pelo arrependimento posterior, que
varia de um terço a dois terços, a doutrina concluiu que o critério a ser adotado é o da rapidez quanto
à concretização da reparação do dano causado à vítima. Assim, quanto mais rápido ocorrer o
No crime de peculato culposo (art. 312, parágrafo 3º do CP), a reparação do dano antes da
Nos Juizados Especiais Criminais (Lei n. 9.099/1995), a composição civil dos danos entre o
autor do fato e a vítima, tratando-se de infração de ação penal privada ou pública condicionada à
punibilidade do ofensor, conforme art. 74, parágrafo único, daquele diploma (Brasil, 1995).
5.1 CONCEITO
Também chamado de crime oco, tentativa inidônea, tentativa inútil, tentativa inadequada,
tentativa irreal, tentativa supersticiosa ou tentativa impossível, o crime impossível ocorre quando a
conduta do agente jamais poderia levar o fato delituoso à consumação, quer pela ineficácia absoluta
do meio, quer pela impropriedade absoluta do objeto.
tipicidade, pois “o fato praticado pelo agente não se enquadra em nenhum tipo penal” (Masson,
2020, p. 311).
A ineficácia absoluta do meio refere-se ao meio de execução – dá-se quando a forma de
execução escolhida pelo agente jamais levará à consumação do crime, ou seja, quando “[...] o meio de
execução utilizado pelo agente é, por sua natureza ou essência, incapaz de produzir o resultado, por
mais reiterado que seja seu emprego” (Masson, 2020, p. 313, grifo do original). É o que ocorre na
confusa tentativa de homicídio em que o agente, com a intenção de envenenar a vítima com arsênico
e, assim, eliminá-la, acaba se utilizando, sem querer, de água potável, cujas características físicas
externas são bastante parecidas com as do arsênico. A ineficácia, que deve ser absoluta, precisa ser
analisada no caso concreto (o açúcar, para a maioria das pessoas, é substância totalmente inofensiva,
porém, para um diabético, não o é). Se se estiver em face de uma ineficácia relativa, haverá a
caracteriza quando o bem sobre o qual o agente faz recair sua conduta não é protegido pela norma
penal incriminadora ou quando ele (objeto) sequer existe. É o caso do aborto cometido mediante
ingestão de substância para esse fim, praticado em mulher que não se encontra grávida. Ou, ainda, do
caso do criminoso que dispara sua arma contra seu desafeto, com animus necandi (intenção de
matar), sem saber que aquele já se encontrava sem vida. Obviamente, não há como matar quem já
está morto. A impropriedade deve ser absoluta, pois, se relativa, caracteriza-se a tentativa.
A ineficácia absoluta do meio e a impropriedade absoluta do objeto devem ser analisadas após
5.3 TEORIAS
O CP (Brasil, 1940) adotou, quanto ao crime impossível, a teoria objetiva temperada, pela qual
relativas, conforme exposto anteriormente, haverá a caracterização do crime na sua forma tentada).
Teoria sintomática: analisa a periculosidade do autor, não do fato por ele praticado. O fato de
Teoria subjetiva: por ela, o que importa é a vontade do agente, sua inclinação. Assim, por ter
a. teoria objetiva pura: para a qual, o crime será sempre impossível, seja a ineficácia
absoluta, seja ela relativa;
a. O consumo de glicose normalmente não causa mal algum à saúde da maioria das pessoas e, no
caso de sua ingesta forçada por outrem, teríamos um meio impróprio à prática de crimes.
Porém, a situação se mostra bastante diferente, nesse contexto, quanto aos efeitos que a
b. Um susto, normalmente, não tem o condão de levar a óbito a maioria das pessoas. Porém,
quando praticado intencionalmente contra alguém que tenha sérios problemas cardíacos, essa
conduta pode resultar na morte da vítima.
crime putativo, também chamado de imaginário ou erroneamente suposto, é o que existe apenas
na mente do agente, que acredita violar a lei penal, quando na verdade o fato por ele concretizado
não possui adequação típica, ou seja, não encontra correspondência em um tipo penal.
O crime putativo por obra de agente provocador também é conhecido por crime de ensaio,
Esse flagrante provocado ou preparado ocorre quando uma pessoa, de forma sorrateira,
iludindo outra, a leva a cometer um ilícito criminal e, simultaneamente, emprega medidas para evitar
ser uma terceira forma de crime impossível, pois, por mais que se tenha presente o aspecto
subjetivo da conduta, o crime jamais se consumaria. Exemplo: a policial que, dizendo-se grávida e
acompanhada de outros agentes solicita a um médico a execução de uma manobra abortiva. Note
que a iniciativa quanto à prática da infração não é do criminoso, pois este é induzido por outrem a
realizar a conduta. Conclui-se que estamos diante de um crime “[...] que não teria ocorrido se não
fosse a provocação feita pelo policial” (Araújo, 2020, p. 560). Ora, o crime jamais se consumaria, pois
os atos executórios jamais seriam colocados efetivamente em prática, até porque os policiais, até
então escondidos, não permitiriam que o médico iniciasse, de maneira concreta, os procedimentos
Informa a Súmula n. 145/2009 do Supremo Tribunal Federal (STF): “não há crime, quando a
preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação” (Brasil, 2009).
O flagrante esperado ocorre quando o agente, espontaneamente, pratica uma conduta típica,
antijurídica e culpável e a autoridade policial, sem interferir em seu comportamento, age somente
NA PRÁTICA
gerar o efeito legal dele decorrente (causa de diminuição de pena), do preenchimento de alguns
requisitos (Brasil, 1940). Vejamos um caso concreto, mencionado pelo professor Nucci (2020, p. 204),
Confira-se no artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo (20.05.1999): “M. S., 28, perdeu o
emprego há um ano e meio, depois de trabalhar dez anos como vendedor de autopeças em Bauru.
No final de abril, sem dinheiro para pagar o aluguel atrasado da casa onde moram a ex-mulher e o
filho, ele assaltou uma lotérica, depois de mais uma manhã em busca de uma vaga. Levou R$ 279
ele procurou a polícia, confessou o crime e disse que quer trabalhar para devolver o valor roubado”.
A ele, no entanto, não se pode aplicar o arrependimento posterior. TEVE GRAVE AMEAÇA A PESSOA
FINALIZANDO
Na presente aula, atentamos para as fases percorridas pelo agente para o cometimento de uma
infração penal. Inicialmente, analisamos o iter criminis, fase a fase. Em seguida, estudamos o crime
compreender qual foi o espírito do legislador ao premiar o agente com o instituto do arrependimento
eficaz.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, F. R. Direito penal didático: parte geral. 3. ed. Salvador: JusPodivm, 2020.
BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro,
31 dez. 1940. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
_____. Decreto-Lei n. 3.688, de 3 de outubro de 1941. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 3
_____. Decreto-Lei n. 3.689, de 3 de outubro de 1941. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 13
_____. Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995. Diário Oficial da União, Brasília, 27 set. 1995.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula n. 145, de 19 de novembro de 2009. Diário da Justiça
CUNHA, R. S. Direito penal: volume único – parte geral. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020.
ESTEFAM, A.; GONÇALVES, V. E. R. Direito penal esquematizado: parte geral. 9. ed. Saraiva: São
Paulo, 2020.
MASSON, C. R. Direito penal: parte geral. v. 1. 14. ed. São Paulo: Método, 2020.
NUCCI, G. de S. Curso de direito penal: – parte geral. v. 1. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020.
_____. Manual de direito penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020.