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Direito Penal - Teoria Geral do Delito: parte 1

Direito Penal I (Universidade do Estado da Bahia)

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Baixado por Iza B (izabelle.bnunes@gmail.com)
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Teoria Geral do Delito (Crime)


Gabriella Freitas Boaventura

Esta teoria se ocupa em explicar o que é o delito através da análise de suas


características, a fim de facilitar a averiguação da presença ou ausência de delito em
cada caso concreto.

1 – Infração penal

É a violação genérica aos direitos protegidos pelo direito penal.

Espécies:

a) Crime (Delito)
b) Contravenção penal

Obs: O direito penal brasileiro possui uma classificação bipartida para o


conceito de infração penal.

2 – Distinção entre crime e contravenção

a) Preceito secundário: a pena de um crime é diferente da pena de uma


contravenção (Art. 1º da Lei de introdução ao código penal – LICP).
Crime: Pena de reclusão ou detenção e/ou multa
CP: Prisão simples e /ou multa

b) Gravidade ou lesividade:O crime é mais grave que a contravenção.

OBS: Não cabe TENTATIVA de contravenção penal.


OBS²: Alguns autores defendem que a contravenção não merecia a
intervenção do Direito Penal, pois este só deveria agir em último caso,
em casos mais graves. Assim, os bens jurídicos tutelados pelas
contravenções poderiam ser protegidos por outros ramos do Direito.

c) Localização: Os crimes estão espalhados em todo o ordenamento jur, já


as contravenções estão concentradas em um único Decreto-Lei
3688/41.

3 – Conceito de crime

Nosso atual Código Penal não fornece um conceito de crime, então, isso ficou a cargo
da doutrina. Entre os conceitos mais difundidos temos:

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a) Conceito formal:O crime é a violação de uma lei penal criada pelo


Estado. Porém, é uma definição insuficiente, pois há casos que existe
violação da lei, mas não há crime (ex: famélico).
b) Conceito material:O crime é a lesão ou ameaça de lesão aos bens
jurídicos protegidos pelo Dir Penal(conceito relacionado à ideia de bem
jurídico). Também não é suficiente.

c) Conceito analítico:(+ atenção) Difere dos demais por


tratar das características/elementos do delito
(tipicidade, ilicitude/antijuridicidade e culpabilidade).
Dentro desse conceito surgiram teorias com diversas
definições de crime:

i. Teoria bipartida:O crime é o fato típico e antijurídico. A


culpabilidade não é requisito do delito, mas sim um pressuposto
para aplicação da pena.
Adotada por Damásio, Dotti, Mirabete e Delmanto.

ii. Teoria tripartida:O crime é o fato típico, antijurídico e culpado.


Tanto a doutrina quanto a jurisprudência brasileiras adotam,
majoritariamente, essa teoria.
Sempre aparece em provas.

iii. Teoria quadripartida:O crime é o fato típico, antijurídico, culpável e


punível. Punibilidade (art 107 CP).
Adotada por Luis Flávio Gomes.

OBS: A doutrina e a jurisprudência adotam o conceito analítico de crime


como referência em nosso ordenamento.

4 - Classificação dos crimes

4.1 – Crime doloso, culposo e preterdoloso (preterintencional)

4.1.1 – Doloso
O dolo pressupõe o resultado no caso concreto, ou seja, há dolo quando
se prevê o resultado.

a) Dolo direto ou determinado: Expressão da teoria da vontade


=>Quando se quer o resultado.
i. 1º grau:ocorre quando o agente pratica a conduta a fim de
alcançar um resultado específico.

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ii. 2º grau:se dá quando o agente deseja também a produção dos


efeitos colaterais ou consequências acessórias, já que estas
são imprescindíveis á produção do resultado principal.

EX: Ao explodir um avião mata-se o alvo (1º grau) e os demais


passageiros (2º grau).

b) Dolo indireto ou indeterminado: Expressão da teoria do


assentimento ou da aceitação => Quando o agente não quer
diretamente o resultado, mas assume o risco de produzi-lo.
Ordjur brasileiro adota as duas teorias.
i. Eventual: O sujeito prevê o resultado, mas age com indiferença
ou tolerância em relação ao inicialmente previsto (sabe que
pode acontecer e mesmo assim continua). Ex: Roleta russa.
Nesse caso, o agente não quer o resultado, mas sim a conduta.
Entre desistir da conduta e causar o resultado, prefere que se
produza.
Fórmula de Frank => Seja como for, dê no que der, não deixo de agir.
ii. Alternativo (ou): Quando o agente pratica a conduta a fim de
produzir um resultado ou outro (ex: o agente desfere um soco
contra a vítima não se importando se irá lesioná-lo ou matá-lo).

4.1.2 – Culposo
Quando existe a inobservância do dever objetivo de cuidado.

 Espécies de culpa:

Culpa consciente X inconsciente


a) Culpa consciente: O agente prevê o resultado, mas não o tolera
(confia que pode evitar o resultado mais grave). Ex: policial no
caso “última parada 174”.

b) Culpa inconsciente: O agente não prevê o resultado.

Culpa própria X imprópria


a) Culpa própria: Aquela em que o agente age com negligência,
imprudência e imperícia.
b) Culpa imprópria: Há um erro na concepção da realidade e o
agente acredita estar agindo sob um excludente de ilicitude.
Ex: Em uma briga, “A” percebe que “B” põe a mão no bolso e
pensa que este irá sacar uma arma, então, acreditando estar
agindo sob legítima defesa, “A” atira em “B” matando-o. Ao se
aproximar, percebe que a vítima iria apenas pegar o celular em
seu bolso.

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OBS: É a única espécie de culpa que comporta tentativa.

 Modalidades de culpa:
a) Culpa in omittendo (agir com negligência): Deixar de fazer algo
que é esperado. Ex: Não dar manutenção no automóvel.
b) Culpa in comittendo (agir com imprudência): Fazer algo de
maneira insensata. Ex: Passar no sinal vermelho.
c) Imperícia: Falta de aptidão ou preparo para prática de ato, ofício
ou profissão. Ex: Um clínico geral realizar uma cirurgia.

CUIDADO
Não confundir dolo eventual com culpa consciente.
CC: O agente não aceita o resultado (confia fielmente que não vai
acontecer).
DE: O agente aceita o resultado e assume os riscos.

4.1.3 – Preterdoloso

Dolo no antecedente e culpa no consequente. Quando o sujeito


pretende um resultado (conduta dolosa), mas vai além e atinge outro,
mais grave (conduta culposa).

4.2 – Crime comissivo, omissivo e comissivo por omissão

4.2.1 – Comissivo: Consiste em fazer o que a lei proíbe (conduta positiva


= ação/fazer). Maioria dos crimes.

4.2.2 – Omissivo puro (omissivo próprio): Ocorre quando o agente


deixa de fazer o que a lei determina (conduta negativa = abstenção/não
fazer).
Nesse caso o agente tem o dever genérico de agir (qualquer pessoa tinha
o dever de agir, mas não age). Ex: Omissão de socorro.
Assim, o agente responde pela inação, não pelo resultado.

 Não cabe tentativa, pois a execução não pode ser fracionada (ou faz
ou não faz).

4.2.3 – Comissivo por omissão (omissivo impróprio): São, na


verdade, crimes comissivos, mas realizados na forma omissiva.

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Nesse caso o agente é garantidor (ou garante): Sujeito que tem a


obrigação legal de tentar evitar o resultado (Art 13, §2° CP). Ex: Salva-
vidas em relação a alguém se afogando.
Assim, ao realizar uma conduta omissiva, o agente (garantidor) responde
pelo crime (pelo resultado) como se tivesse cometido-o e não pela
omissão, ex: homicídio.

 Cabe tentativa, pois a execução pode ser fracionada (crime


plurissubsitente).

 Obs: Em regra, o garantidor não pode alegar estado de


necessidade, por outro lado ele não pode colocar a própria vida em
risco numa situação extrema. Ex: entrar em um prédio que já está
prestes a desabar.

4.3 - Crime unisubjetivo e plurisubjetivo

4.3.1 – Unissubjetivo (de concurso eventual): A lei não exige mais de


um agente para praticar uma ação. Apesar de admitir mais de um agente,
não é necessário, pode ser praticado por apenas uma pessoa.
 É a regra (grande maioria dos crimes).

4.3.2 – Plurissubjetivo (de concurso necessário): A lei exige a


presença de dois ou mais agentes para que o crime seja consumado. Ex:
associação criminosa; rixa, etc

4.4 – Crime instantâneo, permanente e instantâneo de efeito


permanente.

4.4.1 - Instantâneo: É aquele que a consumação ocorre em momento


específico. Ex: Furto, Injúria, etc.

4.4.2 - Permanente: Que tem a consumação prolongada (protraída) no


tempo.
Aqui o agente detém o poder de fazer cessar o estado antijurídico por ele
realizado (determina início e fim do crime). Ex: sequestro, usurpação de
função pública.

4.4.3 – Instantâneo de efeito permanente: a infração ocorre em um


momento específico e se consuma naquele momento, mas os efeitos
(resultados) se prolongam no tempo, independentemente da vontade do

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agente, sendo irreversíveis (permanentes). Ex: Lesão corporal com


amputação de membro; homicídio.

 Diferença entre crime permanente, habitual e continuado

Habitual: Necessita de uma reiteração de conduta, para que seja


consumado o crime (é necessário que ocorra mais de uma vez para ser
considerado crime). Ex: casa de prostituição; exercício ilegal da medicina;
curandeirismo.

Continuado (art. 71): O agente pratica vários crimes de forma sucessiva,


em um curto período de tempo, em lugares próximos e com o mesmo
modo de execução, mas o legislador considera os subsequentes como
decorrentes do primeiro, tronando-se um único crime, que terá a pena
aumentada.

Diferença entre habitual e continuado:


No habitual, enquanto o agente não
reitera a conduta, não é considerado
crime. Já no continuado, a primeira
conduta do agente já é considerada um
crime.

4.5 - Crime unissubsistente e plurissubsistente

Essa diferenciação diz respeito à execução.

4.5.1 - Unissubsistente: Quando a execução tiver apenas um ato, não


pode ser fracionado (ou se faz ou não se faz).
 Nunca comportarão tentativa.

4.5.2 - Plurissubsistente: Aqueles que têm a execução composta por


dois ou mais atos.
 Pode ser fracionado e por isso cabe tentativa

4.6 - Crime de dano e de perigo

4.6.1 - Dano: Se consuma com a efetiva lesão ao bem jurídico (de


terceiro) protegido pelo direito penal.
 É a regra (maioria dos crimes).

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4.6.2 - Perigo: Se consuma com a mera exposição do bem jur. ou


ameaça de lesão a esse bem. Busca se antecipar a lesão (prima ratio).
Ex: associação criminosa (art 288); conduzir veículo automotivo
embriagado.

Dividem-se em:

a) De perigo concreto (real): É necessário demonstrar que, no


caso concreto, a conduta do agente criou, efetivamente, uma
situação de perigo ao bem jurídico. Caso contrário, o fato será
considerado atípico.
Geralmente a exposição do bem vem com a previsão de um
gerúndio (gerando perigo...).
Ex: Inundação (art. 254), se a inundação ocorrer num local
desabitado, não será considerada crime; Dirigir sem
Habilitação (art. 309, CTB).

b) De perigo abstrato (presumido): A exigência legal (gerando


perigo...) não existe, pois a própria conduta já é considerada
uma situação de perigo (independente de gerar efetiva
ameaça ao bem). Ex: porte de arma, associação criminosa.

 Esse tipo de crime caracteriza um movimento de expansão do direito


penal, pois se opõe a importantes princípios do âmbito penal, como o
da Intervenção mínima (ultima ratio), e o da lesividade (ou
ofensividade).

4.7 - Crime comum, próprio e de mão própria

4.7.1 – Comum: Qualquer pessoa pode praticá-lo.

4.7.2 - Próprio: Só pode ser cometido por pessoa específica, porém, é


possível coautoria. Ex: Infanticídio (art. 123), somente a mãe pode
praticar, mas pode ter ajuda do pai (coautoria), por exemplo.

4.7.3 – De mão própria: Só pode ser praticado por um sujeito específico


(não comportando, em regra, coautoria).
Ex: prevaricação (art 319).
Ex²: Falso testemunho (art 342). É uma exceção, o único crime de mão
própria que cabe coautoria, quando o advogado induz a testemunha a
mentir, por exemplo. Só é considerado crime de mão própria, pois a
testemunha tem o controle finalístico da ação, ou seja, mesmo com a
indução do advogado, ela que vai decidir mentir ou não.

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4.8 - Crime material, formal e de mera conduta

4.8.1 - Material: Que exige um resultado naturalístico (resultado que


altera a realidade). Ex: Homicídio; Lesão corporal.

4.8.2 - Formal: A lei prevê um resultado específico , mas a sua ocorrência


não é necessária para consumar a infração. Ex: Extorsão mediante
sequestro (art 159); corrupção passiva (art); ameaça (art 163).

4.8.3 – Mera conduta: aqueles nos quais a lei não prevê resultado
específico para consumação da infração. Ex: Violação de domicílio (art
150); Associação criminosa; omissão de socorro.
 OBS: Todo crime de perigo abstrato é de mera conduta (ainda que
não exponha bem jurídico a lesão ou ameaça de lesão, o crime
está consumado).

5 – Referências

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Geral. Volume 1. Rio de


Janeiro: Editora Impetus, 2017

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral. Volume


1. São Paulo: Saraiva, 2018

QUEIROZ, Paulo. Direito Penal: Parte Geral. Volume 1. Rio de Janeiro:


Editora Lumen Juris, 2008

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