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Pontifícia Universidade Católica de Goiás

Departamento de Ciências Jurídicas


Direito Penal I
Prof. Lanker Vinícius

CRIME DOLOSO

CONCEITO E ELEMENTOS DO DOLO


Ao se examinar a conduta, verifica-se que, segundo a teoria finalista, é ela um
comportamento voluntário (não reflexo) e que o conteúdo da vontade é o seu
fim. Nessa concepção, a vontade é o componente subjetivo da conduta, faz
parte dela e dela é inseparável.
A vontade é querer alguma coisa e o dolo é a vontade dirigida à realização do
tipo penal. Assim, pode-se definir o dolo como a consciência e a vontade na
realização da conduta típica, ou a vontade da ação orientada para a realização
do tipo.

Elementos do tipo doloso:


a) ação voluntária e consciente;
b) resultado voluntário (ou consentido, no dolo eventual)
c) consciência do nexo causal entre ação e resultado.
d) Consciência dos elementos do tipo

O dolo inclui não só o objetivo que o agente pretende alcançar, mas também os
meios empregados e as conseqüências secundárias de sua atuação. Há duas
fases na conduta: uma interna e outra externa. A interna opera-se no
pensamento do autor (e se não passa disso é penalmente indiferente), e
consiste em:
a propor-se a um fim (matar um inimigo, por exemplo);
b selecionar os meios para realizar essa finalidade (escolher um
explosivo, por exemplo); e
c considerar os efeitos concomitantes que se unem ao fim
pretendido (a destruição da casa do inimigo, a morte de outras
pessoas que estejam com ele etc.).

A segunda fase consiste em exteriorizar a conduta, numa atividade em que se


utilizam os meios selecionados conforme a normal e usual capacidade humana
de previsão. Caso o sujeito pratique a conduta nessas condições, age com dolo
e a ele se podem atribuir o fato e suas conseqüências diretas (morte do inimigo
e de outras pessoas, a demolição da casa, o perigo para os transeuntes, etc.).

O dolo é presumido, mas a culpa tem que ser prevista expressamente, em face
do princípio da excepcionalidade dos crimes culposos, que vem insculpido no
artigo 18, parágrafo único.
O dolo traduz a vontade de delinqüir. Segundo o artigo 18, inciso I, o crime será
doloso quando o agente quis o resultado ( dolo direto )ou quando assumiu o
risco de produzi-lo ( dolo eventual) .
O dolo compreende a consciência e a vontade de praticar um ilícito penal.
TEORIAS SOBRE O DOLO
Três são as teorias que procuram estabelecer o conteúdo do dolo: a da
vontade, a da representação e a do assentimento.

Teoria da Representação: para esta teoria, o dolo consiste na simples


representação do resultado. Ou seja, se o agente podia prever o resultado,
agiu dolosamente.
Tal teoria é totalmente desprezada nos dias de hoje, uma vez que, felizmente,
a doutrina chegou à conclusão de que a simples previsão do resultado é
insuficiente para a configuração do dolo.
Teoria da Vontade:para esta teoria, que segundo Cezar Roberto Bitencourt é
tida como clássica, o dolo é a vontade dirigida à um resultado. Carrara, que foi
um dos idealizadores desta teoria, lecionava que o dolo consiste na intenção
mais ou menos perfeita de fazer um ato que se conhece contrário à lei.
De acordo com a teoria da vontade, é imprescindível que o agente, além de
prever o resultado, tenha consciência dele, tenha também o desejo de realiza-
lo.
Teoria do Assentimento ou Consentimento: esta teoria, segundo alguns
doutrinadores complementa a teoria da vontade, uma vez que adere à suas
idéias, porém acrescenta que também há dolo quando o agente ,apesar de não
objetivar, efetivamente, o resultado, realiza uma determinada conduta prevendo
e aceitando que ele ocorra. Segundo esta teoria, também haverá dolo nos
casos em que o agente não quer o resultado propriamente dito, mas assume o
risco de produzi-lo ( dolo eventual.)
Em face do que preceitua o artigo 18, inciso I, é de se concluir que nosso
legislador aderiu à teoria da vontade e à teoria do assentimento, e,
acertadamente, desprezou a teoria da representação.

DOLO NO CÓDIGO PENAL


Reza o art. 18, inciso I, do CP: “Diz-se o crime: doloso, quando o agente quis o
resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.” Como resultado deve-se entender
a lesão ou perigo de lesão de um bem jurídico.
Na primeira parte do dispositivo a lei refere-se ao agente que quer o resultado.
É o que se denomina dolo direto; o agente realiza a conduta com o fim de obter
o resultado.
Na segunda parte do inciso em estudo, a lei trata do dolo eventual. Nessa
hipótese, a vontade do agente não está dirigida para a obtenção do resultado;
o que ele quer é algo diverso, mas, prevendo que o evento possa ocorrer,
assume assim mesmo o risco de causá-lo.
Age também com dolo eventual o agente que, na dúvida a respeito de um dos
elementos do tipo, se arrisca em concretizá-lo.

ELEMENTOS SUBJETIVOS DO TIPO


Distingue a doutrina várias espécies de elementos subjetivos do tipo.
A primeira delas relaciona-se com a finalidade última do agente, ou seja, a
meta que o agente deseja obter com a prática da conduta inscrita no núcleo do
tipo e descrita no verbo principal do tipo penal. É o fim especial da conduta que
está inscrito no próprio tipo. (art. 131 do CP)
Constitui também elemento subjetivo do tipo o estado de consciência do agente
a respeito de especial motivo de agir (torpe e fútil)
Por fim, há elementos subjetivos ligados ao momento especial de ânimo
do agente. (art. 218 CP)

ESPÉCIES DE DOLO segundo a melhor doutrina, o dolo pode assim ser


classificado:
a) Dolo natural: é o dolo que abrange apenas os elementos objetivos do tipo, e
não estes ( elementos objetivos do tipo) mais a consciência da ilicitude.
b) Dolo Normativo: está espécie de dolo é composta da consciência dos
elementos objetivos do tipo e da consciência da ilicitude.
Obs:. o dolo é natural, e a consciência da ilicitude pertence à culpabilidade, e
não à tipicidade.
c) dolo direto ou determinado: quando o agente quer o resultado. A conduta
dirige-se diretamente ao resultado.
d) dolo indireto. A conduta não se dirige diretamente à produção do resultado –
eventual – teoria da anuência (Frank). O agente age com indiferença em
relação ao resultado.
O agente não quer propriamente o resultado, mas conscientemente, assume o
risco de produzi-lo.
e) alternativo – hipótese questionada por vários autores. Ocorre quando o
agente quer uma lesão a um bem jurídico, satisfazendo-se, todavia, com uma
ou outra. Ex: X agride Y, com a intenção de matar ou ferir, satisfazendo-se com
qualquer uma das duas. Na verdade, quem quer matar ou ferir, pelo menos
assume o risco de matar, daí porque a inutilidade da descrição.
Alguns autores ainda mencionam dolo natural e normativo, dolo de dano e de
perigo, dolo geral, dolo de ímpeto.
f) Dolo eventual: nesta espécie de dolo o agente não quer diretamente o
resultado, mas aceita a possibilidade de produzi-lo.
g) Dolo de dano: nesta espécie de dolo o agente tem a vontade de produzir
uma efetiva lesão a um bem penalmente tutelado.
h) Dolo de perigo: nesta espécie de dolo o agente tem por finalidade expor o
bem a perigo.
i) Dolo genérico: é a vontade de realizar o fato descrito na norma penal
incriminadora.
j) Dolo específico: esta espécie de dolo é encontrada nos crimes que exigem
uma finalidade especial do agente.

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