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LIVRO - (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil: parte geral.

São
Paulo, Saraiva Educação, 2020)

DOS DEFEITOS E DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

“[...] trata-se das hipóteses em que a vontade se manifesta com algum vício
que torne o negócio anulável.” (p. 348)
Esses vícios se dividem em dois: Vícios do consentimento, onde a
manifestação não corresponde com o pensamento ou o querer do agente. E
vício social, não condiz com a vontade, mas esse vício é com a intenção de
prejudicar o terceiro.
“Defeitos dos negócios jurídicos são, pois, as imperfeições que nele podem
surgir, decorrentes de anomalias na formação da vontade ou na sua
declaração.” (p. 349)

O DOLO

“O dolo é um artifício [...] empregado para induzir alguém à prática de um ato


que o prejudique e aproveite ao autor do dolo ou a terceiro”. (p. 358)
“[...] o dolo é provocado intencionalmente pela outra parte ou por terceiro,
fazendo com que aquela também se equivoque. O dolo civil não se confunde
com o dolo criminal, que é a intenção de praticar um ato que se sabe contrário
à lei”. (p. 358)
“Dolo civil, [...] é todo artifício empregado para enganar alguém. Distingue-se,
também, do dolo processual, que decorre de conduta processual provável,
contrária à boa fé e que sujeita, tanto o autor como o réu que assim procedem,
a sanções de várias, como ao pagamento de perdas e danos, custas e
honorários advocatícios (CPC, arts. 79 a 81)”. (p. 358)

Há várias espécies de dolo, destacando-se as seguintes:


a) principal e acidental;
b) dolus bonus e dolus malus
c) positivo e negativo (omissão dolosa)
d) do outro contratante e de terceiro
e) da própria parte e do representante
f) unilateral e bilateral
g) dolo de aproveitamento

Mas os que veremos a seguir, é a classificação mais importante: dolo principal


e dolo acidental

- “Somete o dolo principal, com causa determinante de declaração de vontade,


vicia o negócio jurídico. Configura-se quando o negócio é realizado somente
porque houve induzimento malicioso de uma das partes”. (p. 359)
- “É acidental o dolo, diz o art. 146, segunda parte, do Código Civil, “quando, a
seu desrespeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo”. Diz
respeito, pois, as condições do negócio. Este seria realizado
independentemente da malícia pela outra parte ou por terceiro, porém em
condições favoráveis ao agente”. (p. 359)

A COAÇÃO

“[...] é toda a ameaça ou pressão injusta exercida sobre um indivíduo para


forçá-lo, contra sua vontade, a praticar um ato ou realizar um negócio. O que a
caracteriza é o emprego da violência psicológica para viciar à vontade”. (p.
364)
“A coação é o vício mais grave e profundo que pode afetar o negócio jurídico,
mais até que o dolo, aquele impede a livre manifestação de vontade, enquanto
este incide sobre a inteligência da vítima”. (p. 364)

A coação pode ser:


a) absoluta e reativa; e
b) principal e acidental.

Coação absoluta ou física – “A vantagem pretendida é obtida mediante o


emprego de força física”. (p. 364)
Coação relativa ou moral – “[...] deixa uma opção ou escolha à vítima: praticar
o ato exigido pelo coator correr os riscos de sofrer as consequências de
ameaça por ele feita. Trata-se, portanto, de uma coação psicológica”. (p. 364)
Coação principal – “é assim denominada a que é a causa determinante do
negócio”. (p. 365)
Coação acidental – “influi apenas nas condições de avença, ou seja, sem ela o
negócio assim mesmo se realizaria, mas em condições menos desfavoráveis à
vítima. A coação principal constitui causa de anulação do negócio jurídico; a
acidental somente obriga ao ressarcimento do prejuízo”. (p. 365)

“Para que tal ocorra, é necessário reunirem-se os requisitos estabelecidos no


dispositivo supratranscrito. Assim, a coação:
a) deve ser a causa determinante do ato;
b) deve ser grave;
c) deve ser injusta;
d) deve dizer respeito a dano atual ou eminente;
e) deve constituir ameaça de prejuízo à pessoa ou bens da vítima ou a pessoa
de sua família”. (p. 365)

“Existe ainda, a coação exercida por terceiro, que só vicia o negócio e permite
a sua anulação pelo lesado se a outra parte, que se beneficiou, dela teve ou
devesse ter conhecimento”. (p. 368)

ESTADO DE PERIGO

“Segundo o art. 156 do atual diploma, ‘configura-se o estado de perigo quando


alguém, premiado de necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de
grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente
onerosa’. Aduz o parágrafo único: ‘Tratando de pessoas não pertencente à
família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias’”. (p. 368)
“Constitui o estado de perigo, portanto, a situação de extrema necessidade que
conduz uma pessoa a celebrar o negócio jurídico em que assuma obrigação
desproporcional e excessiva”. (p.368)

As diferenças entre estado de perigo e lesão:


“O estado de perigo ocorre quando alguém se encontra em perigo e, por isso,
assume obrigação excessivamente onerosa, como no caso da pessoa que está
preste a se afogar e promete toda a sua fortuna a quem o salvar da morte
eminente”. (p. 369)
“Já a lesão ocorre quando não há estado de perigo, por necessidade de salvar-
se; a ‘premente necessidade’ é de natureza econômica, ou seja, de obter
recursos para salvar o patrimônio do agente” (p. 369)
Elementos do estado de perigo:
“Uma situação de necessidade. Iminência de dano atual e grave. Nexo de
causalidade e o perigo de grave dano. Incidência da ameaça do dano sobre a
pessoa do próprio declarante ou de sua família. Conhecimento do perigo pela
outra parte. Assunção de obrigação excessivamente onerosa.” (p. 371-372)

Efeitos do estado de perigo:


“O art. 178, II, Do Código Civil declara anulável o negócio jurídico celebrado em
estado de perigo. Segundo alguns, nesse caso, a pessoa beneficiada, e que
não provocara a situação de perigo, será prejudicada. Outros, no entanto,
entende que, não se anulando o negócio, a vítima experimentará um
empobrecimento desproporcional ao serviço prestado”. (p. 372-373)

A LESÃO

“Lesão é, assim o prejuízo resultante da enorme desproporção existente entre


as prestações de um contrato no momento de sua celebração, determinada
pela premente necessidade ou inexperiência de uma das partes. Não se
contenta o dispositivo com qualquer desproporção: há de ser manifesta”. (p.
374)

Características da lesão:
- “Lesão e erro: no erro, o agente manifesta a sua vontade ignorando a
realidade ou tendo dela uma falsa ideia. Se a conhecesse ou dela tivesse ideia
verdadeira, não faria o negócio. Na lesão, tal não ocorre, visto que a parte tem
noção da desproporção de valores. Realiza o negócio, mesmo assim, premiado
pela necessidade patrimonial”. (p. 375)

- “Lesão e dolo: quando a outra parte induz o erro o agente, mediante o


emprego de artifício astucioso, configura-se dolo. Nos negócios comprometidos
pela lesão, simplesmente aproveita-se uma situação especial, como de
necessidade ou inexperiência, não havendo necessidade de que a contraparte
induz a vítima à prática do ato”. (p. 375)

- “Lesão e coação: na coação, a vítima não age livremente. A vontade é


imposta por alguém mediante grave ameaça de dano atual ou iminente. Na
lesão, ela decide por si, pressionada apenas por circunstâncias especiais,
provenientes da necessidade ou da inexperiência”. (p. 375)
- “Lesão e estado de perigo: a lesão também distingue-se do estado de perigo,
em que a vítima ou alguém de sua família corre risco de vida, e não de dano
patrimonial, sendo essencial o conhecimento do perigo pela contraparte, [...]”.
(p. 375-376)

Espécies de lesão:

- “usurária ou real quando a lei exige, além da necessidade ou inexperiência do


lesionado, o dolo de aproveitamento da outra parte”. (p. 376)
Ou;
- “Simplesmente lesão, lesão especial ou lesão enorme quando a lei limita-se à
mesma exigência de obtenção de vantagem exagerada ou desproporcional,
sem indagação, porém, da ma-fé ou da ilicitude do comportamento da parte
beneficiada”. (p. 376)

Elementos da lesão:

- “o objetivo, consiste na manifestação desproporção entre as prestações


recíprocas, geradoras de lucro exagerado”. (p. 377)

- “o subjetivo, caracterizado pela ‘inexperiência’ ou ‘premente necessidade’ do


lesado”. (p. 377)

Efeitos da lesão:

“O Código Civil considera a lesão um vício de consentimento, que torna


anulável o contrato [...]. Faz, porém, uma ressalva: não se decretará a
anulação do negócio ‘se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte
favorecida concordar a redução do proveito’. Privilegia, assim, como já
mencionado, o princípio da conservação dos contratos”. (p. 378)
“O lesionado poderá, desse modo, optar pela anulação ou pela revisão do
contrato, formulando pedido alternativo: a anulação do negócio ou a
complementação do preço”. (p. 378)
“Em verdade, somente se poderá invocar a lesão nos contratos aleatórios,
excepcionalmente, ‘quando a vantagem que obtém uma das partes é
excessiva, desproporcional em relação à álea normal do contrato’”. (p. 379)
A FRAUDE CONTRA CREDORES

Conceito:

“Fraude contra credores é, portanto, todo ato suscetível de diminuir ou onerar


seu patrimônio, reduzindo ou eliminando a garantia que este representa para
pagamento de suas dívidas, praticando por devedor insolvente ou por ele
reduzido à insolvência. Tendo em conta que o patrimônio do devedor responde
por suas dívidas, pode-se concluir que, desfalcando-o a ponto de ser
suplantado por seu passivo, o devedor insolvente, de certo modo, está
dispondo de valores que não mais lhe pertencem, pois tais valores se
encontram vinculados ao resgate de seus débitos. Daí permitir o Código Civil
que os credores possam desfazer os atos fraudulentos praticados pelo
devedor, em detrimento de seus interesses”. (p. 379-380)

Elementos constitutivos: (p. 380)

 O objetivo (eventus damni), ou seja, a própria insolvência, que constitui


o ato prejudicial ao credor.
 O subjetivo (consolium fraudis), que é a má-fé do devedor, a consciência
de prejudicar terceiros.

Elementos subjetivo

“O legislador deve optar entre proteger o interesse dos credores ou o do


adquirente de boa-fé. Preferiu proteger o interesse deste”. (p. 380)
“O art. 159 do Código Civil presume a má-fé do adquirente ‘quando a
insolvência (do alienante) for notória, ou houver motivo para se conhecida do
outro contratante’”. (p. 380)
 “Insolvência notória – [...] pode se revelar por diversos atos, como pela
existência de títulos de crédito protestados, de protestos judiciais contra
a alienação de bens e de várias execuções ou demandas de grande
porte movidas contra o credor”. (p. 380)
 “Motivos para conhecê-la – embora a insolvência não seja notória, pode
o adquirente ter motivos para conhecê-la. Os casos mais comuns de
presunção de má-fé do adquirente, por haver motivo para conhecer a
má situação financeira do alienante, são as de aquisição do bem por
preço vil ou de parentesco próximo entre as partes”. (p. 380)

Elemento objetivo

“O elemento objetivo da fraude é o eventus damni, ou seja, o prejuízo


decorrente da insolvência. (p. 381)

Hipóteses legais

Não apenas nas transmissões onerosas pode ocorrer fraude aos credores mas
também em outras três hipóteses. (p. 381)
 Atos de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida
“O art. 158 do Código Civil declara que poderão ser anulados pelos
credores quirografários, ‘como legislador de seus direitos’, os ‘negócios
de transmissão ou remissão de dívida’ quando os pratique ‘o devedor já
insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore’”.
(p. 381)

 Atos de transmissão gratuita de bens


“[...] são de diversas espécies: doações; renúncia de herança;
atribuições gratuitas de direitos reais e de retenção; renúncia de
usufruto; [...] e qualquer direito já adquirido que, por esse fato, vá
beneficiar determinada pessoa”. (p. 382)

 Remissão ou perdão de dívida


“Os créditos ou dívidas que a devedor tem a receber de terceiros
constituem parte de seu patrimônio. Se ele os perdoa, esse patrimônio,
que é a garantia dos credores, reduz-se proporcionalmente. Por essa
razão, seus credores têm legítimo interesse em invalidar a liberalidade,
para que os créditos perdoados se reincorporem no ativo do devedor”.
(p. 382)

Atos de transmissão onerosa


“O art. 159 do Código Civil trata dos casos de anulabilidade do negócio jurídico
oneroso, exigindo, além da insolvência ou eventus damni, o conhecimento
dessa situação pelo terceiro adquirente, qual seja, o consilium fraudis. O
aludido dispositivo proclama que ocorrerá a anulabilidade dos contratos
onerosos, mesmo havendo contraprestação, tanto no caso do conhecimento
real da insolvência pelo outro contratante como no caso do conhecimento
presumível, em face da notoriedade ou da existência de motivos para esse
fato”. (p. 382)

Pagamento antecipado de dívida

“Dispõe o art. 162 do Código Civil: ‘O credor quirografário, que receber do


devedor insolvente o pagamento da dívida ainda não vencida, ficará obrigado a
repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de
credores, aquilo que recebeu’”. (p. 383)
“Credor quirografário, etimologicamente, é o que tem seu crédito decorrente de
um título ou documento escrito. A ele se refere como estatuto civil como aquele
que tem como única garantia o patrimônio geral devedor, ao contrário do credor
privilegiado, que possui garantia especial”. (p. 383)
“O objetivo da lei é colocar em situação de igualdade todos os credores
quirografários. Todos ter as mesmas oportunidades de receber seus créditos e
de serem aquinhoados proporcionalmente”. (p. 383)

Concessão fraudulenta de garantias

“Prescreve o art. 163 do Código Civil: ‘Presume-se fraudatórias dos direitos dos
outros credores as garantias de dívidas que o devedor insolvente tiver dado a
algum credor’”. (p. 384)
“O que se anula, na hipótese, é somente a garantia, a preferência concedida a
um dos credores. Continua ele, porém, como credor, retornado à condição de
quirografários. Preceitua, com efeito, o parágrafo único do art. 165 do Código
Civil que, se os negócios fraudulentos anulados ‘tinham por único objeto atribuir
direitos preferenciais, mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade
importará somente na anulação da preferência ajustada’”. (p. 384)

Ação pauliana ou revocatória

“É a ação pela qual os credores impugnam os atos fraudulentos de seu


devedor”. (p. 384)
 Natureza jurídica
“[...] tem natureza desconstitutiva do negócio jurídico. Julgada
procedente, anula-se o negócio fraudulento lesivo aos credores,
determinando-se o retorna do bem, sorrateira e maliciosamente
alienado, ao patrimônio do devedor”. (p. 384)
 Legitimidade ativa

“Estão legitimados a ajuizar a ação pauliana (legitimação ativa)

Os quirografários – decorre do fato de não possuírem ele garantia


especial do recebimento de seus créditos”. (p. 385)

“Só os credores que já o eram ao tempo da alienação fraudulenta –


os que se tornam credores depois da alienação já encontraram
desfalcado o patrimônio do devedor e mesmo assim negociaram com
ele”. (p. 385)

 Legitimidade passiva

“A ação anulatória deverá (e não apenas poderá) ser intentada


(legitimação passiva) contra:

O devedor insolvente

O adquirente que ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta

Os terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé, se o bem


alienado pelo devedor já houver sido transmitido a outrem”. (p. 386)

Fraude não ultimada

“quando o negócio é aperfeiçoado pelo acordo das vontades, mas a seu


cumprimento é diferido para data fatura, permite-se ao adquirente, que ainda
não efetuou o pagamento do preço, evitar a propositura da ação pauliana ou
extingui-la mediante depósito em juízo, se for aproximadamente o corrente,
requerendo a cotação por edital de todos os interessados”. (p. 387)

Validade dos negócios ordinários celebrados de boa-fé pelo devedor


“Não obstante o devedor insolvente esteja inibido de alienar bens de seu
patrimônio, para não agravar e ampliar a insolvência, admite-se exceções,
como na hipótese em que ele contrai novos débitos para beneficiar os próprios
credores, possibilitando o funcionamento de seu estabelecimento, ou para
manter-se à sua família.

Fraude contra credores e fraude à execução

 Requisitos em comuns
“A fraude contra credores não se confunde com fraude à execução.
Todavia, apresentam os seguintes requisitos em comuns:
- a fraude na alienação de bens pelo devedor, com desfalque de seu
patrimônio
- a Eventualidade de consolium fraudis pela ciência da fraude por parte
do adquirente
- o prejuízo do credor (eventus damni), por ter o devedor se reduzido à
insolvência ou ter alienado ou onerado bens quando pendia contra a
mesmo demanda capaz de reduzi-lo à insolvência”. (p. 388)

 Exigência de citação do devedor para a caracterização da fraude à


execução
“A jurisprudência dominante nos tribunais é no sentido de que a fraude à
execução somente se caracteriza quando o devedor já havia fido citado
na época da alienação, pois só assim se pode dizer que havia demanda
em andamento”. (p. 389)

 Subadquirente de boa ou de má-fé


“Se o adquirente de má-fé, porventura, já transferiu o bem a outra
pessoa, não se presume a má-fé desta (a qual deve, então, ser
demonstrada), salvo se a alienação se deu depois do registro da
penhora do bem”. (p. 390)

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