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II – O dolo do tipo
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O conhecimento das circunstâncias de facto
Conhecimento da totalidade dos elementos constitutivos do respectivo
tipo de ilícito objectivo – factualidade típica.
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Vale não só para as circunstâncias que fundamentam o ilícito, mas
também para todas aquelas que o agravam e para a aceitação errónea
de circunstâncias que o atenuam.
Com a negação do dolo do tipo falta o tipo subjectivo apenas do crime
doloso de acção correspondente. Não só pode o agente ter realizado
dolosamente outros tipos de ilícito, como pode ainda estar preenchido
um tipo de ilícito negligente.
Art. 16º/3 ao ressalvar “a punibilidade da negligência nos termos gerais”
quer dizer: se o respectivo comportamento for expressamente previsto
pela lei como crime negligente e se a negligência se tiver efectivamente
verificado no caso.
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Solução análoga para o caso de inversão temporal dos acontecimentos,
p. ex., alguém atira sobre outrem com uma pistola especial que deve
começar por anestesiá-lo e o mata logo.
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O dolo directo
Casos em que a realização do tipo objectivo de ilícito surge como o
verdadeiro fim da conduta – art. 14º/1 – dolo directo intencional ou de
primeiro grau.
Ex.: A, admirador incondicional de um quadro de Picasso, mas sem
dinheiro para o comprar, assalta o estabelecimento de leilões onde o
quadro será vendido e o subtrai para ficar com ele.
Casos em que a realização típica não constitui o fim último, o móbil da
actuação do agente, mas surge como pressuposto ou estádio intermédio
necessário do seu conseguimento.
Ex.: A mata o vigilante B como única forma de poder assaltar um banco
Relevante é apenas a necessidade de conexão entre o facto prévio e o
fim último da conduta.
Dolo necessário
A realização do facto surge como consequência necessária/inevitável,
se bem que “lateral” relativamente ao fim da conduta – art. 14º/2 – dolo
directo necessário ou de segundo grau.
Ex.: agente que coloca a uma bomba num avião como forma de matar
um seu inimigo que nele viaja (em relação aos passageiros)
Dolo eventual
A realização do tipo objectivo de ilícito é representada pelo agente
apenas como consequência possível da conduta – art. 14º/3.
a) Teorias da probabilidade
Exigência de que para o dolo eventual se requeira uma qualquer
representação qualificada – não basta a exigência da mera possibilidade
de realização, mas requer-se que a representação assuma a forma da
probabilidade, ou mesmo de uma probabilidade relativamente alta.
Conclusão: o agente contará tanto mais com a realização típica, quanto
mais esta surgir aos seus olhos como provável
Criticas: determinar a probabilidade; apesar da improbabilidade o agente
pode querer firmemente alcancá-la.
b) Teorias da aceitação
Perguntar se o agente, apesar da representação da realização típica
como possível, aceitou intimamente a sua verificação, ou pelo menos
revelou a sua indiferença perante ela (dolo eventual); ou se, pelo
contrário, a repudiou intimamente, esperando que ela se não verificasse
(negligência consciente).
Caso Lacmann – aceitação em sentido jurídico: sempre que o agente se
resigna com a possibilidade de que a sua acção venha a ter o efeito
indesejado.
c) Teorias da conformação
Art. 14º/3
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Que o agente tome a sério o risco de (possível) lesão do bem jurídico,
que entre com ele em contas e que, não obstante, se decida pela
realização do facto.
O propósito que move a sua actuação vale bem, a seus olhos, o “preço”
da realização do tipo, ficando deste modo indiciado que o agente está
intimamente disposto a arcar com o seu desvalor.
Conformação com a realização típica
Caso da correia de couro – dolo eventual
Não deve dizer-se que o agente tomou a sério a possibilidade de
realização se esta é manifestamente remota ou insignificante. Ex.:
transmissão do vírus da sida através de contactos sexuais não
protegidos.
Conclusão:
Dúvida: nos casos de indiferença o agente conforma-se com a
realização do tipo objectivo
Distinção que mal é capaz de justificar diferenças significativas das
molduras penais aplicáveis a um e outro caso.
Não há razão para que se estabeleça qualquer distinção a nível de
consequência jurídica.
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Cap. 12 – A imputação objectiva do resultado à conduta
I – Sentido do problema
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III – Segundo degrau: a causalidade jurídica sob a forma da teoria da
adequação
O resultado só deve ser imputável à conduta quando esta tenha criado (ou
aumentado, ou incrementado) um risco proibido para o bem jurídico protegido
pelo tipo de ilícito e esse risco se tenha materializado no resultado típico.
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risco juridicamente permitido (relacionado com os riscos e perigos
tolerados pela sociedade). Ex.: medicina: leges artis; competição
desportiva: a obediência às regras do jogo afastará, em principio o tipo.
Já a inversa não é verdadeira – a violação das regras do jogo não tem
necessariamente de realizar o risco proibido capaz de suportar a
imputação do resultado típico. Tal só sucederá nas constelações em que
a violação das regras, pela sua violência e desproporcionalidade e pela
gravidade das lesões produzidas, perde a conexão de sentido com o
jogo.
Dentro do risco permitido mantém-se o chamado risco geral de vida,
desde que ele se contenha, no caso, dentro de uma medida normal (são
socialmente adequados). Ex.: médico e antibiótico
Nos casos em que o resultado se verifica em consequência de uma co-
actuação da vítima ou de terceiro, em princípio, o resultado não é
imputável em virtude da interposição da auto-responsabilidade da vítima
ou do terceiro; ou em virtude do princípio da confiança, segundo o qual
as pessoas poderão em princípio confiar em que os outros não
cometerão factos ilícitos. Ex.: Sida; porção de droga. Estas acções
mantêm-se dentro d risco permitido, só assim não sucedendo em casos
excepcionais, se particulares circunstâncias tornarem altamente
provável, em concreto, a conduta posterior da vítima ou de terceiro.
A potenciação do risco
Muitas vezes, já está criado, antes da actuação do agente, um risco
que ameaça o bem jurídico protegido. Não obstante, o resultado será
ainda imputável ao agente se este, com a sua conduta aumentou ou
potenciou o risco já existente, piorando, em consequência, a situação
do bem jurídico protegido. Ex.: condutor de uma ambulância que, em
virtude de uma manobra errada, causa a morte do paciente que
transportava.
O mesmo sucederá em situações de intervenção num processo causal
de salvamento, quando o comportamento do agente afasta, impede ou
faz em todo o caso diminuir as hipóteses de salvamento do bem
jurídico já em perigo. Ex.: conduzir o bote defeituosamente ou com
demasiada lentidão.
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indevida, como a conduta lícita “alternativa” produziriam o resultado
típico, a imputação deste àquela traduzir-se-ia na punição da violação de
um dever cujo cumprimento teria sido inútil, o que violaria o princípio da
igualdade.
Diferentes são os casos em que se não demonstra que também com o
comportamento alternativo lícito o resultado típico teria seguramente tido
lugar, mas apenas que era provável ou simplesmente possível que tal
acontecesse. Aqui o que importa é provar a potenciação do risco e a sua
materialização no resultado típico. Se o juiz ficar em dúvida deve valorá-
la a favor do arguido, excluindo a imputação. Uma vez demonstrada o
comportamento lícito alternativo deve ser considerado irrelevante.
VI – Problemas especiais
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Relativos à criminalidade de massa própria da “sociedade do risco”
Ex.: criminalidade ambiental e a responsabilidade pelo produto
Saber se é possível imputar resultados lesivos do bem jurídico
protegido a condutas extremamente distanciadas no tempo e no espaço
e que, quantas vezes, consideradas na sua singularidade, parece
deverem reputar-se jurídico-penalmente irrelevantes. Só se tornando
relevantes atenta a frequência devastadora e a quantidade inumerável
com que condutas destas são levadas a cabo; pelo que, a serem
proibidas, não o serão em si mesmas mas em função de condutas de
outras pessoas, previsíveis e muito prováveis – Tipos aditivos ou
acumulativos
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