Você está na página 1de 4

Livro Direito Penal- Parte Geral- Cleber Masson (2020):

MASSON, Cleber. Direito Penal: parte geral. 14. ed. Rio de


Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020.

P. 241

CAPÍTULO 12- CRIME DOLOSO

12.1. INTRODUÇÃO

- O dolo, no sistema finalista, integra a conduta e,


consequentemente, o fato típico. Cuida-se do elemento psicológico
do tipo penal, implícito e inerente a todo crime doloso.

- Dentro de uma concepção causal, por outro lado, o dolo funciona


como elemento da culpabilidade.

- Em consonância com a orientação finalista, por nós adotada, o


dolo consiste na vontade e consciência de realizar os elementos do
tipo incriminador.

12.2. TEORIAS DO DOLO

- Existem três teorias acerca do dolo:

a) Teoria da representação

- Para esta teoria, a configuração do dolo exige apenas a previsão


do resultado. Privilegia o lado intelectual, não se preocupando
com o aspecto volitivo, pois pouco importa se o agente quis o
resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. Basta que o resultado
tenha sido antevisto pelo sujeito. Em nosso sistema penal tal teoria
deve ser afastada, por confundir o dolo com a culpa consciente.

b) Teoria da vontade

- Essa teoria se vale da teoria da representação, ao exigir a previsão


do resultado. Contudo, vai mais longe. Além da representação,
reclama ainda a vontade de produzir o resultado.

c) Teoria do assentimento
- Também chamada de teoria do consentimento ou da
anuência, complementa a teoria da vontade, recepcionando sua
premissa. Para essa teoria, há dolo não somente quando o agente
quer o resultado, mas também quando realiza a conduta
assumindo o risco de produzi-lo.

12.2.1. Teorias adotadas pelo Código Penal

- Dispõe o art. 18, inciso I, do Código Penal:

P. 242

“Art. 18. Diz-se o crime:

I- doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o


risco de produzi-lo”.

- O dispositivo legal revela que foram duas as teorias adotadas pelo


Código Penal: a da vontade, ao dizer “quis o resultado”, e a do
assentimento, no tocante à expressão “assumiu o risco de
produzi-lo”.

- Dolo é, sobretudo, vontade de produzir o resultado. Mas não é só.


Também há dolo na conduta de quem, após prever e estar ciente de
que pode provocar o resultado, assume o risco de produzi-lo.

12.3. ELEMENTOS DO DOLO

- O dolo é composto por consciência e vontade. A consciência é seu


elemento cognitivo ou intelectual, ao passo que a vontade
desponta como seu elemento volitivo. Como já se pronunciou o
Superior Tribunal de Justiça:

“A doutrina penal brasileira instrui que o dolo, conquanto


constitua elemento subjetivo do tipo, deve ser compreendido
sob dois aspectos: o cognitivo, que traduz o conhecimento
todos elementos objetivos do tipo, e o volitivo, configurado
pela vontade de realizar a conduta típica. O elemento
cognitivo consiste no efetivo conhecimento de que o resultado
poderá ocorrer, isto é, o efetivo conhecimento dos elementos
integrantes do tipo penal objetivo. A mera possibilidade de
conhecimento, o chamado 'conhecimento potencial’, não basta
para caracterizar o elemento cognitivo do dolo. No elemento
volitivo, por seu turno, o agente quer a produção do resultado
de forma direta – dolo direto – ou admite a possibilidade de
que o resultado sobrevenha – dolo eventual”.

(STJ. AgRg no REsp 1.043.279/PR. Rel. Min. (Desembargadora


Convocada do TJ/MG) Jane Silva. 6ª Turma. Julgado em
14/10/2008. DJe 03/11/2008)

- Tais elementos se relacionam em três momentos distintos e


sucessivos.

- Em primeiro lugar, manifesta sua consciência da conduta e do


resultado.

- Depois, o sujeito manifesta sua consciência sobre o nexo de


causalidade entre a conduta a ser praticada e o resultado em
decorrência dela será produzido.

- Por fim, o agente exterioriza a vontade de realizar a conduta e


produzir o resultado. Basta, para a verificação do dolo, que o
resultado se produza em conformidade com a vontade esboçada
pelo agente no momento da conduta. Exemplo: “A” queria matar
“B”. Efetua contra ele disparos de arma de fogo. Erra os tiros, mas
“B”, durante a fuga, despenca de um barranco, bate a cabeça ao
solo e morre em decorrência do traumatismo craniano. Nessa
situação, “A” responderá pelo resultado.

- Destarte, no tocante ao nexo causal, não é preciso que o iter


criminis transcorra na forma idealizada pelo agente. Subsiste o dolo
se o objetivo for alcançado, ainda que de modo diverso.

- O dolo deve englobar todas as elementares e circunstâncias do


tipo penal. Se restar constatada a sua ausência acerca de qualquer
parte do crime, entra em cena o instituto do erro de tipo. Assim, no
crime de homicídio, é necessário que o agente possua consciência
de que com sua conduta “mata alguém”, e tenha vontade de fazê-
lo.
P. 243

- Como sustentava Hans Welzel, para o seu aperfeiçoamento o dolo


precisa abranger o objetivo de que o agente deseja alcançar, os
meios que emprega para tanto, bem como as consequências
secundárias necessariamente vinculadas com o emprego dos meios.

Você também pode gostar