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Informativo 999-STF
Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
▪ Estados e DF podem legislar sobre postagem de boletos de empresas públicas e privadas.

DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS
▪ É vedada a vinculação remuneratória de carreiras do serviço público (art. art. 37, XIII, da CF/88).

DIREITO PROCESSUAL PENAL


COLABORAÇÃO PREMIADA
▪ A colaboração premiada, como meio de obtenção de prova, não constitui critério de determinação, de modificação
ou de concentração da competência.

DIREITO TRIBUTÁRIO
DIREITO FINANCEIRO
▪ Análise da constitucionalidade de Fundo Especial do Poder Judiciário de Roraima.

DIREITO CONSTITUCIONAL

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
Estados e DF podem legislar sobre postagem de boletos de empresas públicas e privadas

Importante!!!
Os Estados-membros e o Distrito Federal têm competência legislativa para estabelecer regras
de postagem de boletos referentes a pagamento de serviços prestados por empresas públicas
e privadas.
STF. Plenário. ARE 649379/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 13/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 491) (Info 999).

Lei estadual tratando sobre o prazo mínimo para envio de cobranças


No Rio de Janeiro foi editada a Lei estadual nº 5.190/2008, que dispõe sobre o prazo para envio de
cobrança por parte das empresas públicas e privadas no Estado. Confira o que diz a Lei:
Art. 1º As empresas públicas e privadas que prestem seus serviços no Estado do Rio de Janeiro
ficam obrigadas a efetuar a postagem de suas cobranças no prazo mínimo de 10 dias antecedentes
à data de seu vencimento.

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§ 1º A fim de que se cumpra o que prevê a presente Lei, as datas de vencimento e de postagem
deverão ser impressas na parte externa da correspondência de cobrança.

Art. 2º Em caso de descumprimento desta Lei, aplicar-se-á ao infrator multa no valor de 100 (cem)
Unidades Fiscais do Estado do Rio de Janeiro em favor do consumidor, ou devedor, a título
indenizatório.

Essa lei é constitucional? Lei estadual pode dispor sobre o prazo para envio de cobranças ou isso afronta
competência privativa da União para legislar sobre serviço postal (art. 22, V, da CF/88)?
Pode sim. A lei é válida. Foi o que decidiu o STF:
Os Estados-membros e o Distrito Federal têm competência legislativa para estabelecer regras de
postagem de boletos referentes a pagamento de serviços prestados por empresas públicas e privadas.
STF. Plenário. ARE 649379/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 13/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 491) (Info 999).

Compete à União manter o serviço postal (art. 21, X, da CF/88). A União faz isso por meio dos Correios.
A CF/88 também assegura à União a competência privativa para legislar sobre serviço postal:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
(...)
V - serviço postal;

Os serviços postais são regulados pela Lei nº 6.538/78, que prevê:


Art. 2º O serviço postal e o serviço de telegrama são explorados pela União, através de empresa
pública vinculada ao Ministério das Comunicações.
(...)
Art. 9º São exploradas pela União, em regime de monopólio, as seguintes atividades postais:
I - recebimento, transporte e entrega, no território nacional, e a expedição, para o exterior, de
carta e cartão-postal;
II - recebimento, transporte e entrega, no território nacional, e a expedição, para o exterior, de
correspondência agrupada:
III - fabricação, emissão de selos e de outras fórmulas de franqueamento postal.

Ocorre que essa competência privativa para legislar sobre serviço postal restringe-se à regulação do
serviço que é prestado de modo exclusivo pela União (CF, art. 21, X) que, por envolver a comunicação em
todo o território nacional, serve aos interesses de toda a comunidade como instrumento integração e
coesão nacional.
A prestação exclusiva de serviço postal pela União não engloba a distribuição de boletos bancários, de
contas telefônicas, de luz e água e de encomendas, pois a atividade desenvolvida pelo ente central
restringe-se ao conceito de carta, cartão-postal e correspondência agrupada (ADPF 46). Isso significa que
empresas privadas podem fazer os serviços de distribuição de boletos, contas e encomendas. Exs: DHL,
UPS, Fedex. Confira trecho da ementa da ADPF 46:
(...) 3. A Constituição do Brasil confere à União, em caráter exclusivo, a exploração do serviço postal e o
correio aéreo nacional [artigo 20, inciso X].
4. O serviço postal é prestado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT, empresa pública,
entidade da Administração Indireta da União, criada pelo decreto-lei n. 509, de 10 de março de 1.969.
(...)

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6. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos deve atuar em regime de exclusividade na prestação dos
serviços que lhe incumbem em situação de privilégio, o privilégio postal.
(...)
8. Arguição de descumprimento de preceito fundamental julgada improcedente por maioria. O Tribunal
deu interpretação conforme à Constituição ao artigo 42 da Lei n. 6.538 para restringir a sua aplicação às
atividades postais descritas no artigo 9º desse ato normativo.
STF. Plenário. ADPF 46, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão: Eros Grau, julgado em 05/08/2009.

Logo, não se evidencia usurpação da competência da União para legislar em matéria de serviço postal (art.
22, V, da CF), haja vista que a atividade prestada pelas empresas públicas e particulares são, no presente
caso, estranhas ao conceito delimitado pelo STF na emblemática ADPF 46.

Direito do consumidor
Além das competências privativas, a Constituição brasileira adotou a competência concorrente não
cumulativa ou vertical, de forma que a competência da União está adstrita ao estabelecimento de normas
gerais, devendo os estados e o Distrito Federal especificá-las, por meio de suas respectivas leis. É a
chamada competência suplementar dos estados-membros e do Distrito Federal (art. 24, § 2º).
No caso concreto, a lei estadual trata sobre proteção do consumidor, matéria que é de competência
legislativa concorrente, nos termos do art. 24, VIII, da CF/88.
O princípio da predominância do interesse norteia a repartição de competência entre os entes
componentes do Estado federal brasileiro. Isso se dá não apenas para as matérias cuja definição foi
preestabelecida pelo texto constitucional, mas também na hipótese de abranger a interpretação de
diversas matérias.
Assim, na dúvida sobre a distribuição de competências a envolver a definição do ente federativo
competente para legislar sobre determinado assunto específico, que engloba uma ou várias matérias com
previsão ou reflexos em diversos ramos do Direito, caberá ao intérprete priorizar o fortalecimento das
autonomias locais e o respeito às suas diversidades como pontos caracterizadores e asseguradores do
convívio no Estado federal, que garantam o imprescindível equilíbrio federativo.

Exigência atende ao princípio da proporcionalidade


Por fim, a determinação legal de aposição de datas de postagem e pagamento na parte externa do
documento remetido ao destinatário/consumidor não se mostra suficientemente arbitrária a direitos
fundamentais insculpidos na CF. Ao considerar a teleologia da norma, a exposição desses dados atende
ao princípio da razoabilidade, uma vez que observadas as necessárias proporcionalidade, justiça e
adequação entre a lei estadual e as normas constitucionais protetivas do direito do consumidor.

DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS
É vedada a vinculação remuneratória de carreiras do serviço público (art. art. 37, XIII, da CF/88)

É vedada a vinculação remuneratória de seguimentos do serviço público, nos termos do art.


37, XIII, da Constituição Federal.
STF. Plenário. ADPF 328/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13/11/2020 (Info 999).

Lei estadual equiparou a remuneração de carreiras diferentes


A Lei estadual nº 4.983/89, do Estado do Maranhão, previu o seguinte:

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Art. 1º Fica estabelecida a isonomia de vencimentos entre as carreiras da Magistratura, do


Ministério Público, dos Procuradores do Estado e dos Delegados de Polícia, na conformidade dos
artigos 135 e 241 da Constituição Federal e do artigo 21, § 2º da Constituição do Estado.

Essa lei é constitucional?


NÃO. A lei estadual está em afronta ao que prevê o art. 37, XIII, da CF/88, com redação dada pela EC 19/98:
Art. 37 (...)
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito
de remuneração de pessoal do serviço público;

É vedada a vinculação remuneratória de seguimentos do serviço público, nos termos do art. 37, XIII, da
Constituição Federal.
STF. Plenário. ADPF 328/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13/11/2020 (Info 999).

DIREITO PROCESSUAL PENAL

COLABORAÇÃO PREMIADA
A colaboração premiada, como meio de obtenção de prova, não constitui critério de
determinação, de modificação ou de concentração da competência

Importante!!!
Os elementos de informação trazidos pelo colaborador a respeito de crimes que não sejam
conexos ao objeto da investigação primária devem receber o mesmo tratamento conferido à
descoberta fortuita ou ao encontro fortuito de provas em outros meios de obtenção de prova,
como a busca e apreensão e a interceptação telefônica.
A colaboração premiada, como meio de obtenção de prova, não constitui critério de
determinação, de modificação ou de concentração da competência. Assim, ainda que o agente
colaborador aponte a existência de outros crimes e que o juízo perante o qual foram prestados
seus depoimentos ou apresentadas as provas que corroborem suas declarações ordene a
realização de diligências (interceptação telefônica, busca e apreensão etc.) para sua apuração,
esses fatos, por si sós, não firmam sua prevenção.
STF. 2ª Turma. HC 181978 AgR/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/11/2020 (Info 999).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João está respondendo processo criminal na Justiça Federal acusado de ter cometido corrupção ativa e de
integrar organização criminosa.
O processo tramita na Justiça Federal em razão de a corrupção ativa ter envolvido um órgão público
federal (art. 109, IV, da CF/88).
João celebrou acordo de colaboração premiada e delatou Flávio (servidor público estadual), afirmando
que ele recebeu vantagem indevida (“propina”) para praticar atos ilegais no exercício de seu cargo.
Vale ressaltar que o crime praticado por Flávio causou prejuízo à Administração Pública estadual, não
envolvendo bens, interesses ou serviços da União.

Surgiu a seguinte dúvida: Flávio deverá ser julgado pela Justiça Federal (em conjunto com João – delator)
ou pela Justiça Estadual?
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Justiça Estadual.

Fatos delatados que não são conexos com o objeto do processo são considerados encontro fortuito
Enquanto meio de obtenção de prova, os fatos relatados em colaboração premiada, quando não
conexos com o objeto do processo que deu origem ao acordo, devem receber o tratamento conferido
ao encontro fortuito de provas.
STF. 2ª Turma. HC 181978 AgR/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/11/2020 (Info 999).

Sendo a colaboração premiada um meio de obtenção de prova, é possível que o agente colaborador traga
informações (declarações, documentos, indicação de fontes de prova) a respeito de crimes que não
tenham relação alguma com aqueles que, primariamente, sejam objeto da investigação.
Esses elementos informativos (art. 155, CPP) sobre crimes outros, sem conexão com a investigação
primária devem receber o mesmo tratamento conferido à descoberta fortuita ou ao encontro fortuito de
provas em outros meios de obtenção de prova, como a busca e apreensão e a interceptação telefônica.
Assim, em nosso exemplo hipotético, como não há relação direta entre o crime imputado a Flávio e os
delitos de João que estão sendo apurados na Justiça Federal, deve-se considerar que a delação feita contra
Flávio é mero encontro fortuito de provas e que deve ser apurado na Justiça competente, sem relação
com o processo que já está em curso.

Colaboração premiada não fixa competência


A jurisprudência do STF é pacífica no sentido de que a colaboração premiada não fixa competência e os
fatos relatados em colaboração premiada não geram prevenção.
O acordo de colaboração, como meio de obtenção de prova, não constitui critério de determinação, de
modificação ou de concentração de competência.
STF. 2ª Turma. HC 181978 AgR/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/11/2020 (Info 999).

Assim, ainda que o agente colaborador aponte a existência de outros crimes e que o juízo perante o qual
foram prestados seus depoimentos ou apresentadas as provas que corroborem suas declarações ordene
a realização de diligências (interceptação telefônica, busca e apreensão etc.) para sua apuração, esses
fatos, por si sós, não firmam sua prevenção.

Separação entre a Justiça Federal e a Justiça Estadual é a regra


A regra no processo penal é o respeito ao princípio do juiz natural, com a devida separação das
competências entre justiça estadual e justiça federal. Assim, para haver conexão ou continência, seria
necessário que, além da mera coincidência de agentes, houvesse uma conexão fático-objetiva entre os
fatos imputados em ambas ações penais.
Com a finalidade de viabilizar a instrução probatória e impedir a prolação de decisões contraditórias, a
alteração da competência deve-se limitar às restritas situações em que houver o concurso de agentes em
crime específico, simultâneo ou recíproco, nos casos de crimes cometidos com a finalidade de ocultar
infração anterior, quando houver um liame probatório indispensável, ou nas hipóteses de duas pessoas
serem acusadas do mesmo crime (arts. 76 e 77 do Código Penal).
No caso, o único vínculo fático-objetivo que sustentaria a tese da conexão instrumental seria a citação de
Flávio em uma delação, no sentido de que ele integraria a suposta organização criminosa investigada na
ação que tramita perante a justiça federal. Não obstante a coincidência parcial de réus nas ações penais,
há autonomia na linha de acontecimentos que desvincula os fatos imputados ao paciente numa delas dos
fatos descritos na outra.

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DIREITO TRIBUTÁRIO

DIREITO FINANCEIRO
Análise da constitucionalidade de Fundo Especial do Poder Judiciário de Roraima

São inconstitucionais as fontes de receitas de fundo especial do Poder Judiciário provenientes


de rendimentos dos depósitos judiciais à disposição do Poder Judiciário do Estado, através de
conta única. A administração da conta dos depósitos judiciais e extrajudiciais, apesar de não
configurar atividade jurisdicional, é tema de direito processual, de competência legislativa
privativa da União (art. 22, I, da CF/88).
É igualmente inconstitucional a incorporação de receitas extraordinárias decorrentes de
fianças e cauções, exigidas nos processos cíveis e criminais na justiça estadual, quando
reverterem ao patrimônio do Estado; e percentual sobre os valores decorrentes de sanções
pecuniárias judicialmente aplicadas ou do perdimento, total ou parcial, dos recolhimentos
procedidos em virtude de medidas assecuratórias cíveis e criminais. Isso porque tais matérias
envolvem direito penal e processual, que são de competência privativa da União (art. 22, I, da
CF/88).
São inconstitucionais as fontes de receitas de fundo especial do Poder Judiciário provenientes
de bens de herança jacente e o saldo das coisas vagas pertencentes ao Estado. Há ofensa à
competência legislativa privativa da União para legislar sobre direito civil, também prevista
no art. 22, I, da CF/88. Ademais, tais bens são pertencentes aos municípios (ou ao Distrito
Federal) ou à União, não cabendo aos estados federados sobre eles disporem.
Por outro lado, é constitucional a previsão, em lei estadual, da destinação ao fundo especial do
Poder Judiciário de valores decorrentes de multas aplicadas pelos juízes nos processos cíveis,
salvo se destinadas às partes ou a terceiros. Isso porque a norma vai ao encontro do que
atualmente dispõem os arts. 96 e 97 do CPC/2015, que autorizam destinar esses recursos aos
fundos do poder judiciário estadual.
Por fim, é inconstitucional a norma estadual que atribui personalidade jurídica ao Fundo
Especial do Poder Judiciário e prevê que o presidente do Conselho da Magistratura será o
ordenador de despesas e seu representante legal.
STF. Plenário. ADI 4981/RR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 14/11/2020 (Info 999).

Fundo especial do Poder Judiciário


Em Roraima, foi editada a Lei estadual nº 297/2001, que instituiu o Fundo Especial do Poder Judiciário do
Estado de Roraima (FUNDEJURR), vinculado ao Tribunal de Justiça do Estado.
O Fundo foi criado com o objetivo de arrecadar recursos para serem utilizados nas atividades do Poder
Judiciário do Estado.
Exemplos de gastos que podem ser custeados com os recursos do fundo:
• aquisição de imóveis para serem utilizados pelo Poder Judiciário;
• implantação de novas tecnologias para os serviços judiciais;
• pagamento de profissionais para ministrar cursos e palestras para os servidores do Judiciário.

Quais são as fontes de receita desse Fundo? De onde vem o dinheiro?


O tema é tratado no art. 3º da Lei.
Chamo a sua atenção para os incisos VIII, IX, X, XI e XVII:
Art. 3º O FUNDEJURR terá as seguintes fontes de receitas:
(...)

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VIII - rendimentos dos depósitos judiciais à disposição Poder Judiciário do Estado de Roraima,
através de conta única a ser regulamentada na forma do art. 7º desta Lei;
(...)
IX – as fianças e cauções, exigidas nos processos cíveis e criminais na Justiça Estadual, quando
reverterem ao patrimônio do Estado;
X - as multas aplicadas pelos juízes nos processos cíveis, salvo se destinadas às partes ou a
terceiros;
XI - 25% (vinte e cinco por cento) sobre os valores decorrentes de sanções pecuniárias
judicialmente aplicadas ou do perdimento, total ou parcial, dos recolhimentos procedidos em
virtude de medidas assecuratórias cíveis e criminais;
XVII - bens de herança jacente e o saldo das coisas vagas pertencentes ao Estado;

Obs: em 2017, esses dispositivos foram revogados.

Personalidade jurídica própria ao Fundo


Outro ponto controverso era o art. 5º da Lei que previa que o referido Fundo teria personalidade jurídica
própria. Confira:
Art. 5º O Fundo Especial do Tribunal de Justiça do Estado de Roraima será dotado de personalidade
jurídica, terá orçamento e escrituração contábil próprios, atendida a legislação específica, sendo
o Presidente do Conselho da Magistratura o ordenador de despesas e seu representante legal.

Obs: em 2017, esse dispositivo teve sua redação alterada.

ADI
Em 2013, a Procuradoria Geral da República ajuizou ação direta de inconstitucionalidade contra esses
dispositivos.
Segundo a PGR, ao estabelecer as fontes de receita do fundo, a lei estadual afrontou o art. 22, I, da CF/88,
porque tratou de matéria que é de competência privativa da União.
Da mesma forma, segundo a PGR, ao conferir personalidade jurídica própria ao FUNDEJURR e atribuir sua
administração ao Presidente do Tribunal de Justiça, a lei violou o art. 95, parágrafo único, I, da
Constituição, que veda ao magistrado acumular outro cargo ou função, exceto no magistério.

O que o STF decidiu?


O STF, por maioria, julgou parcialmente procedente o pedido e declarou a constitucionalidade do art. 3º,
X, e a inconstitucionalidade dos arts. 3º, VIII, IX, XI e XVII e 5º da Lei 297/2001, do Estado de Roraima.

Inciso VIII
O inciso VIII do art. 3º afirmava que uma das receitas do Fundo seriam os “rendimentos dos depósitos
judiciais à disposição Poder Judiciário do Estado de Roraima”.
O que são esses depósitos judiciais? Explico. Todos os valores em dinheiro que ficam à disposição da Justiça
enquanto o processo não se encerra são depositados em uma conta bancária em nome do Poder
Judiciário. A isso chama-se de depósito judicial. Ex: João ingressa com ação de consignação em pagamento
em face de Pedro, depositando em juízo R$ 100 mil reais. Maria ajuíza execução contra Antônio e consegue
a penhora on line de R$ 200 mil. Tais valores ficarão em depósito judicial e, quando o juiz autorizar, eles
poderão ser levantados pela parte vencedora, devidamente atualizados.
A administração da conta dos depósitos judiciais e extrajudiciais, apesar de não configurar atividade
jurisdicional, é tema de direito processual, de competência legislativa privativa da União (art. 22, I, da
Constituição Federal):

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Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e
do trabalho;

Além disso, neste caso, devem ser aplicadas as limitações relacionadas com o regime jurídico de direito
público, próprias de uma relação juridicamente relevante entre o Poder Judiciário e o particular que deduz
pretensão em juízo. A custódia de patrimônio alheio pelo ente estatal não permite a este desvirtuar a
finalidade do liame jurídico, para fins de custear suas despesas públicas. Caso contrário, estar-se-ia diante
de verdadeira expropriação, mesmo que temporária, dos direitos relativos à propriedade dos
jurisdicionados, situação expressamente repudiada pela normatividade constitucional.
Em palavras mais simples, o Poder Judiciário não pode livremente dispor dos valores depositados em juízo,
como se fossem pertencentes a ele.
Diante disso, quanto ao inciso VIII, o STF decidiu que:
São inconstitucionais as fontes de receitas de fundo especial do Poder Judiciário provenientes de
rendimentos dos depósitos judiciais à disposição do Poder Judiciário do Estado, através de conta única.
STF. Plenário. ADI 4981/RR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 14/11/2020 (Info 999).

Incisos IX e XI
O inciso IX afirmava que uma das receitas do Fundo seriam “as fianças e cauções, exigidas nos processos
cíveis e criminais na Justiça Estadual”.
O inciso XI, por sua vez, destinava ao Fundo 25% sobre os valores decorrentes de sanções pecuniárias
judicialmente aplicadas ou do perdimento dos recolhimentos procedidos em virtude de medidas
assecuratórias cíveis e criminais.
O STF também reputou inconstitucional essa previsão. Isso porque a lei estadual tratou, neste caso, sobre
direito penal e processual, matérias que são de competência privativa da União (art. 22, I, da CF/88).

É igualmente inconstitucional a incorporação de receitas extraordinárias decorrentes de fianças e


cauções, exigidas nos processos cíveis e criminais na justiça estadual, quando reverterem ao patrimônio
do Estado; e percentual sobre os valores decorrentes de sanções pecuniárias judicialmente aplicadas ou
do perdimento, total ou parcial, dos recolhimentos procedidos em virtude de medidas assecuratórias
cíveis e criminais.
STF. Plenário. ADI 4981/RR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 14/11/2020 (Info 999).

Inciso X
O inciso X prevê que são receitas do Fundo “as multas aplicadas pelos juízes nos processos cíveis, salvo se
destinadas às partes ou a terceiros”.
O STF considerou constitucional essa previsão porque ela é compatível com as normas fixadas pela União
que tratou sobre o tema no CPC/2015, nos seguintes termos:
Art. 96. O valor das sanções impostas ao litigante de má-fé reverterá em benefício da parte
contrária, e o valor das sanções impostas aos serventuários pertencerá ao Estado ou à União.
Art. 97. A União e os Estados podem criar fundos de modernização do Poder Judiciário, aos quais
serão revertidos os valores das sanções pecuniárias processuais destinadas à União e aos Estados,
e outras verbas previstas em lei.

É constitucional a previsão, em lei estadual, da destinação ao fundo especial do Poder Judiciário de


valores decorrentes de multas aplicadas pelos juízes nos processos cíveis, salvo se destinadas às partes
ou a terceiros. Isso porque a norma vai ao encontro do que atualmente dispõe o Código de Processo
Civil, no sentido da possibilidade de destinação desses recursos aos fundos do poder judiciário estadual.
STF. Plenário. ADI 4981/RR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 14/11/2020 (Info 999).
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Inciso XVII
O inciso XVII afirmava que eram receitas do Fundo os “bens de herança jacente e o saldo das coisas vagas
pertencentes ao Estado”.
Esse dispositivo é inconstitucional:
São inconstitucionais as fontes de receitas de fundo especial do Poder Judiciário provenientes de bens
de herança jacente e o saldo das coisas vagas pertencentes ao Estado.
Há ofensa à competência legislativa privativa da União para legislar sobre direito civil, também prevista
no art. 22, I, da CF/88. Ademais, tais bens são pertencentes aos municípios (ou ao Distrito Federal) ou à
União, não cabendo aos estados federados sobre eles disporem.
STF. Plenário. ADI 4981/RR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 14/11/2020 (Info 999).

Art. 5º
O art. 5º, ao conferir personalidade jurídica ao Fundo, também incidiu em inconstitucionalidade:
É inconstitucional a norma estadual que atribui personalidade jurídica ao Fundo Especial do Poder
Judiciário e prevê que o presidente do Conselho da Magistratura será o ordenador de despesas e seu
representante legal.
STF. Plenário. ADI 4981/RR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 14/11/2020 (Info 999).

No art. 165, § 9º, II da CF/88 e no art. 71 da Lei nº 4.320/64, não há a atribuição de personalidade jurídica
aos fundos públicos. Ademais, o art. 95, parágrafo único, I, da CF/88, prevê que é vedado ao magistrado
exercer outro cargo ou função, salvo uma de magistério.

EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) Os Estados-membros e o Distrito Federal não têm competência legislativa para estabelecer regras de
postagem de boletos referentes a pagamento de serviços prestados por empresas públicas e privadas. ( )
2) É vedada a vinculação remuneratória de seguimentos do serviço público, nos termos do art. 37, XIII, da
Constituição Federal. ( )
3) Enquanto meio de obtenção de prova, os fatos relatados em colaboração premiada, quando não conexos com
o objeto do processo que deu origem ao acordo, devem receber o tratamento conferido ao encontro fortuito
de provas. ( )
4) O acordo de colaboração constitui critério de determinação, de modificação ou de concentração de
competência. ( )
5) São constitucionais as fontes de receitas de fundo especial do Poder Judiciário provenientes de rendimentos
dos depósitos judiciais à disposição do Poder Judiciário do Estado, através de conta única. ( )
6) É inconstitucional a incorporação de receitas extraordinárias decorrentes de fianças e cauções, exigidas nos
processos cíveis e criminais na justiça estadual, quando reverterem ao patrimônio do Estado; e percentual
sobre os valores decorrentes de sanções pecuniárias judicialmente aplicadas ou do perdimento, total ou
parcial, dos recolhimentos procedidos em virtude de medidas assecuratórias cíveis e criminais. ( )
7) São inconstitucionais as fontes de receitas de fundo especial do Poder Judiciário provenientes de bens de
herança jacente e o saldo das coisas vagas pertencentes ao Estado. ( )
8) É inconstitucional a previsão, em lei estadual, da destinação ao fundo especial do Poder Judiciário de valores
decorrentes de multas aplicadas pelos juízes nos processos cíveis, salvo se destinadas às partes ou a terceiros. ( )
9) É inconstitucional a norma estadual que atribui personalidade jurídica ao Fundo Especial do Poder Judiciário e prevê
que o presidente do Conselho da Magistratura será o ordenador de despesas e seu representante legal. ( )
Gabarito
1. E 2. C 3. C 4. E 5. E 6. C 7. C 8. E 9. C

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OUTRAS INFORMAÇÕES

CLIPPING DAS SESSÕES VIRTUAIS


DJE DE 9 A 13 DE NOVEMBRO DE 2020

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 607.642


RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
Decisão: Após o voto do Relator, que negava provimento ao recurso e declarava ainda constitucional a norma, no que foi
acompanhado pelos Ministros Edson Fachin, Roberto Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux, Ricardo Lewandowski e Gilmar
Mendes, pediu vista dos autos o Ministro Marco Aurélio. Falou pela recorrida o Dr. Miquerlam Chaves Cavalcante,
Procurador da Fazenda Nacional. Presidência da Ministra Cármen Lúcia. Plenário, 22.02.2017.
Decisão: O Tribunal, por maioria, apreciando o tema 337 da repercussão geral, negou provimento ao recurso
extraordinário e fixou a seguinte tese: "Não obstante as Leis nº 10.637/02 e 10.833/03 estejam em processo de
inconstitucionalização, é ainda constitucional o modelo legal de coexistência dos regimes cumulativo e não
cumulativo, na apuração do PIS/Cofins das empresas prestadoras de serviços", nos termos do voto do Relator,
Ministro Dias Toffoli (Presidente), vencido o Ministro Marco Aurélio. Plenário, Sessão Virtual de 19.6.2020 a 26.6.2020.
EMENTA Recurso extraordinário. Repercussão geral. Direito Tributário. Artigo 195, § 12, da CF. MP nº 66/02. Artigo
246 da CF. Lei nº 10.637/02. PIS/PASEP. Não cumulatividade das contribuições incidentes sobre o faturamento.
Conteúdo mínimo. Observância. Empresas prestadoras de serviços. Manutenção das empresas prestadoras de serviços
tributadas com base no lucro presumido ou arbitrado na sistemática cumulativa. Critério de discrímen com empresas que
apuram o IRPJ com base no lucro real. Isonomia. Ausência de afronta. Vedação de créditos com gastos de mão de obra.
Respaldo na técnica da não cumulatividade. Exclusão da norma geral de receitas da prestação de serviços. Finalidade
almejada. Imperfeições legislativas. Ausência de racionalidade e coerência do legislador na definição das atividades
sujeitas à não cumulatividade. Ausência de coerência em relação a contribuintes sujeitos aos mesmos encadeamentos
econômicos na prestação de serviços. Invalidade da norma. Ausência de evidência. Processo de inconstitucionalização.
Momento da conversão. Impossibilidade de precisão. Técnica de controle de constitucionalidade do “‘apelo ao legislador’
por ‘falta de evidência’ da ofensa constitucional”. 1. As medidas provisórias que originaram as Leis nºs 10.637/02 e
10.833/03 não vieram regulamentar uma emenda constitucional específica, mas tão somente instituir nova disciplina
tributária envolvendo contribuições que já eram cobradas anteriormente. 2. A norma constitucional que cuidou da
contribuição não cumulativa (art. 195, § 12, da Constituição) foi introduzida pela Emenda Constitucional nº 42/2003. O
art. 246 da Constituição foi objeto da Emenda Constitucional nº 32/2001 e só a regulamentação das emendas
constitucionais promulgadas entre 1º de janeiro de 1995 a 12 de setembro de 2001, data da publicação da Emenda
Constitucional nº 32, é que não pode ser efetivada por medidas provisórias. 3. No momento em que surgiu a não
cumulatividade do PIS/Cofins, não havia nenhum indicativo constitucional quanto ao perfil e à amplitude do mecanismo.
4. Com a edição da Emenda Constitucional nº 42/03, a não cumulatividade das contribuições incidentes sobre o
faturamento ou a receita não pôde mais ser interpretada exclusivamente pelas prescrições das leis ordinárias. É de se
extrair um conteúdo semântico mínimo da expressão “não cumulatividade”, o qual deve pautar o legislador ordinário, na
esteira da jurisprudência da Corte. Precedentes. 5. O § 12 do art. 195 da Constituição autoriza a coexistência dos regimes
cumulativo e não cumulativo. Ao cuidar da matéria quanto ao PIS/ Cofins, o texto constitucional referiu apenas que a lei
definirá os setores de atividade econômica para os quais as contribuições serão não cumulativas, deixando de registrar a
fórmula que serviria de ponto de partida à interpretação do regime. Diferentemente do IPI e do ICMS, não há no texto
constitucional a escolha dessa ou daquela técnica de incidência da não cumulatividade das contribuições sobre o
faturamento ou a receita. 6. Ao exercer a opção pela coexistência da cumulatividade e da não cumulatividade, o legislador
deve ser coerente e racional, observando o princípio da isonomia, a fim de não gerar desequilíbrios concorrenciais e
discriminações arbitrárias ou injustificadas. A racionalidade é pressuposto do ordenamento positivo e de sua interpretação,
conforme sedimentado na jurisprudência da Corte. 7. Diante de contribuições cuja materialidade é a receita ou o
faturamento, a não cumulatividade dessas contribuições deve ser vista como técnica voltada a afastar o “efeito cascata”
na atividade econômica, considerada a receita ou o faturamento auferidos pelo conjunto de contribuintes tributados
sequencialmente ao longo do fluxo negocial dos bens ou dos serviços. 8. Os objetivos propalados na exposição de motivos
das Leis nºs 10.637/02 e 10.833/03 de harmonização, de neutralidade tributária e de correção dos desequilíbrios na
concorrência devem direcionar o legislador no processo gradual de inserção da cobrança não cumulativa para todos os
contribuintes de um setor econômico, mediante a graduação das bases de cálculo e das alíquotas (art. 195, § 9º CF), de
modo a não acentuar ainda mais as distorções geradas pela cumulatividade. 9. O modelo legal, em sua feição original,
abstratamente considerado, embora complexo e confuso, mormente quanto às técnicas de deduções (crédito físico,
financeiro e presumido) e aos itens admitidos como créditos, não atenta, a priori, contra o conteúdo mínimo de não

Informativo 999-STF (19/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10


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cumulatividade que pode ser extraído do art. 195, § 12, da Constituição. 10. O § 9º do art. 195, ao autorizar alíquotas ou
bases de cálculo diferenciadas em razão de determinados critérios (atividade econômica, utilização intensiva de mão de
obra, porte da empresa ou condição estrutural do mercado de trabalho), não exime o legislador de observar os princípios
constitucionais gerais, notadamente a igualdade. 11. A manutenção das pessoas jurídicas que apuram o IRPJ com base no
lucro presumido ou arbitrado na sistemática cumulativa (Lei nº 9.718/98) e a inclusão automática daquelas obrigadas a
apurar o IRPJ com base no lucro real no regime da não cumulatividade, por si sós, não afrontam a isonomia ou mesmo a
capacidade contributiva. 12. A não cumulatividade do PIS/Cofins, por si só, é incapaz de autorizar, a favor do contribuinte,
crédito que decorra de gasto com mão de obra paga a pessoa física. Isso porque o valor recebido pela pessoa física em
razão de sua mão de obra não é onerado com PIS/Cofins. 13. As Leis nºs 10.637/02 e 10.833/03, com as redações originais,
adotaram a sistemática de regular a não cumulatividade como norma geral (art. 1º), incluindo todos os setores da atividade
econômica no novo regime de apuração do PIS/Cofins. Em seguida, nos arts. 8º e 10, respectivamente, as referidas leis
trouxeram uma norma especial excludente. 14. Longe de atingir as finalidades almejadas, as sucessivas alterações
legislativas acabaram por acentuar as imperfeições e a ausência de racionalidade na seleção das atividades econômicas
do setor de prestação de serviços que comporiam a não cumulatividade (norma geral) e a cumulatividade (norma especial
excludente), como determina o art. 195, § 12, da Constituição. A sistemática legal, que originariamente foi pensada com
o objetivo de eliminar a possibilidade de ocorrência do efeito cascata, na atualidade, se insere muito mais no contexto de
mera política de concessão de benefícios fiscais de redução dos montantes mensais a serem recolhidos. 15. No estágio
jurídico atual, não há como afirmar, de forma peremptória, que as desonerações de diversas atividades do setor de serviços
não se fizeram à custa de um brutal aumento da carga tributária de contribuintes sujeitos aos mesmos encadeamentos
econômicos na prestação de serviços. 16. Não é razoável declarar a inconstitucionalidade da legislação por conta das
imperfeições sistêmicas e fazer com que tudo retorne para o regime cumulativo. Nem é sensato permitir que o Poder
Judiciário diga que todo o setor de prestação de serviço deva, necessariamente, ficar submetido ao regime cumulativo.
Também não é correto declarar uma inconstitucionalidade em menor extensão para atingir apenas determinados
contribuintes. Afinal, o sistema tributário é traçado para ser universal. 17. Dadas a ausência de elementos que possam
corroborar e evidenciar que o legislador, no momento da elaboração da lei, estaria em condições de identificar o estado
de inconstitucionalidade e a dificuldade de se precisar o momento exato em que teria se implementado a conversão do
estado de inconstitucionalidade em uma situação de invalidade, é de se adotar, para o caso concreto, a técnica de controle
de constitucionalidade do “apelo ao legislador por falta de evidência de ofensa constitucional”. 18. Embora a Lei nº
10.637/02, em seu estágio atual, não satisfaça a justiça e a neutralidade desejadas pelo legislador, a sistemática legal da
não cumulatividade tem grande relevância na prevenção dos desequilíbrios da concorrência (art. 146-A, CF) e na
modernização do sistema tributário brasileiro, devendo ser mantida, no momento, a validade do art. 8º da Lei nº 10.637/02,
bem como do art. 15, V, da Lei nº 10.833/03, devido à falta de evidência de uma conduta censurável do legislador. 19. É
necessário advertir o legislador ordinário de que as Leis nºs 10.637/02 e 10.833/04, inicialmente constitucionais, estão
em processo de inconstitucionalização, decorrente, em linhas gerais, da ausência de coerência e de critérios racionais e
razoáveis das alterações legislativas que se sucederam no tocante à escolha das atividades e das receitas atinentes ao setor
de prestação de serviços que se submeteriam ao regime cumulativo da Lei nº 9.718/98 (em contraposição àquelas que se
manteriam na não cumulatividade). 20. Negado provimento ao recurso extraordinário. 21. Em relação ao Tema nº 337 da
Gestão por Temas da Repercussão Geral do portal do STF na internet, fixa-se a seguinte tese: “Não obstante as Leis nº
10.637/02 e 10.833/03 estejam em processo de inconstitucionalização, ainda é constitucional o modelo legal de
coexistência dos regimes cumulativo e não cumulativo na apuração do PIS/Cofins das empresas prestadoras de serviços.”
RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.141.756
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
Decisão: O Tribunal, por maioria, apreciando o tema 1.052 da repercussão geral, conheceu do recurso extraordinário e
negou-lhe provimento, nos termos do voto do Relator, vencidos os Ministros Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e
Luiz Fux (Presidente) e o Ministro Dias Toffoli. Foi fixada a seguinte tese: “Observadas as balizas da Lei
Complementar nº 87/1996, é constitucional o creditamento de Imposto sobre Operações relativas à Circulação de
Mercadorias – ICMS cobrado na entrada, por prestadora de serviço de telefonia móvel, considerado aparelho
celular posteriormente cedido, mediante comodato”. Falaram: pelo recorrente Estado do Rio Grande do Sul, o Dr.
Luis Carlos Kothe Hagemann, Procurador do Estado; pela recorrente Telefônica Brasil S.A., o Dr. André Mendes
Moreira; e, pelo interessado, o Dr. Roque Antonio Carrazza. Não participou deste julgamento, por motivo de licença
médica, o Ministro Celso de Mello. Plenário, Sessão Virtual de 18.9.2020 a 25.9.2020.
ICMS – CREDITAMENTO – EMPRESA PRESTADORA DE SERVIÇOS DE TELEFONIA MÓVEL – APARELHO
CELULAR – CESSÃO EM COMODATO – POSSIBILIDADE. Observadas as balizas da Lei Complementar nº 87/1996, é
constitucional o creditamento de Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias – ICMS cobrado na entrada,
por prestadora de serviço de telefonia móvel, considerado aparelho celular posteriormente cedido, mediante comodato.

STF - Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação - Coordenadoria de Difusão da Informação
codi@stf.jus.br

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