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Informativo 997-STF
Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
▪ É inconstitucional lei estadual que obriga as operadoras de telefonia a fornecer os dados de localização de celulares
furtados ou roubados.
▪ É constitucional lei estadual que preveja espaço exclusivo para produtos orgânicos nas lojas.
▪ É constitucional lei estadual que responsabiliza Estado-membro por danos causados a pessoas presas na ditadura é
constitucional.

PODER JUDICIÁRIO
▪ Lei estadual pode prever que os oficiais de justiça também auxiliem nos serviços de secretaria da vara.

DIREITO ADMINISTRATIVO
FUNDAÇÃO
▪ Fundação pública com personalidade jurídica de direito privado pode adotar o regime celetista para contratação de
seus empregados.

DIREITO TRIBUTÁRIO
PIS/COFINS
▪ É constitucional o art. 8º, § 9º da Lei 10.865/2004, que estabeleceu alíquotas de PIS-Importação e COFINS-
Importação mais elevadas para as importadoras de autopeças que não sejam fabricantes de máquinas e veículos.

DIREITO CONSTITUCIONAL

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É inconstitucional lei estadual que obriga as operadoras de telefonia
a fornecer os dados de localização de celulares furtados ou roubados

São inconstitucionais normas estaduais que imponham obrigações de compartilhamento de


dados com órgãos de segurança pública às concessionárias de telefonia, por configurar ofensa
à competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações (arts. 21, XI e 22, IV,
da CF/88).
STF. Plenário. ADI 5040/PI, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 3/11/2020 (Info 997).

A situação concreta foi a seguinte:


No Piauí, foi editada a Lei estadual nº 6.336/2013 obrigando as operadoras de telefonia móvel a
fornecerem aos órgãos de Segurança Pública, sem prévia autorização judicial, dados necessários para a
localização de telefones celulares furtados, roubados ou utilizados em atividades criminosas.
Veja o que diz o art. 1º:

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Art. 1º Ficam obrigadas as operadoras de telefonia móvel que operam no Estado do Piauí a
fornecer aos órgãos de Segurança Pública, dados necessários para a localização de telefones
celulares e cartões “SIM” que tenham sido objeto de furto, roubo e latrocínio ou na utilização de
atividades criminosas.

A Associação Nacional das Operadoras de Celulares (Acel) ajuizou ADI contra a lei afirmando que ela
usurpou competência privativa da União.

O STF concordou com o pedido formulado? A referida lei estadual é inconstitucional?


SIM.
São inconstitucionais normas estaduais que imponham obrigações de compartilhamento de dados com
órgãos de segurança pública às concessionárias de telefonia, por configurar ofensa à competência
privativa da União para legislar sobre telecomunicações (arts. 21, XI e 22, IV, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 5040/PI, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 3/11/2020 (Info 997).

O art. 21, XI, da CF/88 prevê que compete à União “explorar, diretamente ou mediante autorização,
concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a
organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais”.
O art. 22, IV, por sua vez, afirma que compete privativamente à União legislar sobre “água, energia,
informática, telecomunicações e radiodifusão”.
Por conta disso, o STF tem julgado inconstitucionais as leis estaduais que, embora visando contribuir com
as atividades dos órgãos de segurança pública, têm a consequência prática de interferir indevidamente
em direitos individuais e na estrutura de prestação do serviço público.
No caso, mesmo sendo uma lei necessária e importante para dar instrumentos aos órgãos de segurança
pública a fim de que consigam reprimir os atos ilícitos, a definição de obrigações e procedimentos, no
âmbito da prestação de serviços públicos, não se pode dar de forma não integrada, desvinculada do
sistema como um todo.
Nesses termos, inclusive medidas bem-intencionadas, ao desconsiderarem o funcionamento do sistema
no nível mais amplo, se revelam ineficazes e, também, verdadeiramente contraproducentes na
consecução dos fins a que se propõem.

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É constitucional lei estadual que preveja espaço exclusivo para produtos orgânicos nas lojas

É constitucional norma estadual que disponha sobre a exposição de produtos orgânicos em


estabelecimentos comerciais.
STF. Plenário. ADI 5166/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/11/2020 (Info 997).

A situação concreta foi a seguinte:


Em São Paulo, foi editada a Lei estadual nº 15.361/2014 tratando sobre a exposição de produtos orgânicos
nos estabelecimentos comerciais do Estado. Confira:
Art. 1º Esta lei regula a exposição de produtos orgânicos, “in natura” ou processados, nos
estabelecimentos comerciais do Estado de São Paulo.
Parágrafo único. Para fins desta lei, considera-se produto orgânico “in natura” ou processado
aquele obtido em sistema orgânico de produção agropecuária ou oriundo de processo extrativista

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sustentável e não prejudicial ao ecossistema local, nos termos da Lei Federal nº 10.831, de 23 de
dezembro de 2003.
Art. 2º Os produtos orgânicos serão expostos em espaços exclusivos.
§ 1º Os espaços a que se refere o “caput” serão devidamente identificados em cada área ou seção
do estabelecimento comercial, de modo a segregar os produtos orgânicos dos demais.
§ 2º A identificação a que se refere § 1º deverá ser de fácil visualização pelo consumidor e conterá
os seguintes dizeres: “Produto Orgânico - sem agrotóxico”.
Art. 3º A exposição comercial de produtos orgânicos em desacordo com o disposto no artigo 1º
sujeitará o infrator às sanções previstas na Lei Federal nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, que
dispõe sobre a proteção do consumidor.

Associação Brasileira de Supermercados (Abras) ajuizou ADI contra a lei afirmando que ela seria
inconstitucional.

O STF concordou com o pedido formulado? A referida lei estadual é inconstitucional?


NÃO.
É constitucional norma estadual que disponha sobre a exposição de produtos orgânicos em
estabelecimentos comerciais.
STF. Plenário. ADI 5166/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/11/2020 (Info 997).

A referida lei dispõe sobre a proteção do consumidor, matéria de competência concorrente da União e
dos Estados. Não se trata, portanto, de direito comercial. O legislador pretendeu facilitar para o
consumidor a localização dos produtos orgânicos e estimular seu consumo.
Além disso, a lei estadual somente amplia uma obrigação que já é prevista no Decreto federal 6.323/2007,
que regulamentou a Lei federal nº 10.831/2003, que estabelece normas para a comercialização de
produtos orgânicos no mercado interno.
O decreto federal determina que, no comércio varejista, os produtos orgânicos que não possam ser
diferenciados visualmente dos similares não orgânicos devem ser mantidos em espaço delimitado e
identificado. Já a lei paulista especifica que os orgânicos devem ser expostos em espaços exclusivos.
Desse modo, o único acréscimo foi a ampliação de obrigação já contida em norma federal.
O preenchimento dessa lacuna em nada contraria a legislação federal, mas age em consonância com ela,
protegendo os interesses comuns da federação.
Por fim, o STF também afastou o argumento de que os comerciantes não mais poderiam determinar o
layout dos seus estabelecimentos, o que violaria o princípio constitucional da livre iniciativa. Compete ao
Poder Público encontrar mecanismos para influenciar o cidadão a tomar as melhores decisões. Não há de
se falar em violação à livre iniciativa, mas de cumprimento do dever de informar o consumidor, princípio
igualmente essencial para a garantia da ordem econômica.

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COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É constitucional lei estadual que responsabiliza Estado-membro
por danos causados a pessoas presas na ditadura é constitucional

Importante!!!
É constitucional a Lei nº 5.751/98, do estado do Espírito Santo, de iniciativa parlamentar, que
versa sobre a responsabilidade do ente público por danos físicos e psicológicos causados a
pessoas detidas por motivos políticos.
STF. Plenário. ADI 3738/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/11/2020 (Info 997).

A situação concreta foi a seguinte:


No Espírito Santo, foi editada a Lei estadual nº 5.751/98, que reconhece a responsabilidade do Estado do
Espírito Santo por danos físicos e psicológicos causados a pessoas detidas por motivos políticos e
estabelece normas para que sejam indenizados. Confira os trechos mais importantes:
Art. 1º O Estado do Espírito Santo indenizará, nos termos desta Lei, as pessoas que, presas ou
detidas, legal ou ilegalmente, por motivos políticos entre os dias 02 de setembro de l961 a 15 de
agosto de l979, que tenham sofrido sevícias ou maus tratos, que acarretaram danos físicos ou
psicológicos, quando se encontravam sob a guarda e responsabilidade ou sob poder de coação de
órgãos ou agentes públicos estaduais ou tenham sofrido perdas e danos materiais, em razão de
terem cerceados direitos inerentes ao exercício profissional, por motivos políticos, no período
mencionado neste artigo.
§ 1º Não terá direito a indenização a pessoa que já a tiver obtido judicialmente, em ação movida contra
o Estado do Espírito Santo, ou que esteja acionando com este fim, ressalvada neste último caso, a
hipótese de desistência da ação antes do encaminhamento do pedido de que trata o Artigo 3º.
§ 2º O pagamento de eventual indenização pela União Federal fundada em iguais motivos, não
inibe o recebimento da que ora se estabelece.

Art. 2º Fica criada a Comissão Especial, composta por 7(sete) membros, que receberá e avaliará
os pedidos de indenização e de Pensão Especial, fundados nesta Lei, pronunciando-se num prazo
de 90 (noventa) dias, contados do recebimento, sobre sua procedência e fixando o montante da
indenização de acordo com os critérios estabelecidos no Art. 4º.
(...)

Art. 4º O montante da indenização prevista nesta Lei não será superior a R$ 30.000,00 (trinta mil
reais), nem inferior a R$ 5.000,00 (cinco mil reais), devendo sua fixação levar em conta a extensão
e gravidade das sequelas apresentadas pelo ex-preso ou detido, considerando:
I - Existência de danos físicos ou psicológicos;
II - Existência de nexo de casualidade com detenção referida no Artigo 1º.
Parágrafo único. Para a fixação do quantum da indenização a Comissão, sempre que necessário,
determinará a realização de perícia.

Vale ressaltar que a referida norma teve origem a partir de projeto de lei de um Deputado Estadual
(iniciativa parlamentar).

ADI
O Governador do Estado ajuizou ADI contra a lei afirmando que ela seria incompatível com a regras
constitucionais que definem a competência privativa do chefe do Poder Executivo para propor projetos
de lei que acarretem a criação ou o aumento de despesa e a criação de órgão público.
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Segundo a ADI, a matéria tratada na lei somente poderia ser disciplinada em lei de iniciativa do
Governador do Estado, nos termos do art. 61, § 1º, II, “e” e art. 165, III, da CF/88, que devem ser aplicados
em nível estadual por força do princípio da simetria:
Art. 61 (...)
§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
(...)
II - disponham sobre:
(...)
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o disposto no
art. 84, VI;

Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:


(...)
III - os orçamentos anuais.

Apontou, ainda, que o § 2º do art. 1º da Lei, segundo a qual eventual indenização pela União, com base
em iguais motivos, não afasta o pagamento pelo estado, ofenderia os princípios da moralidade e da
razoabilidade, pois configuraria enriquecimento sem causa do particular, em detrimento do patrimônio
público.

O STF concordou com o pedido formulado? A referida lei estadual é inconstitucional?


NÃO.
É constitucional a Lei nº 5.751/98, do estado do Espírito Santo, de iniciativa parlamentar, que versa
sobre a responsabilidade do ente público por danos físicos e psicológicos causados a pessoas detidas
por motivos políticos.
STF. Plenário. ADI 3738/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/11/2020 (Info 997).

A lei estadual está em harmonia com o art. 37, § 6º da Constituição Federal, que estabelece que as pessoas
jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos
danos causados por seus agentes a terceiros.
A situação descrita na lei é peculiar e não alcança matéria de iniciativa exclusiva do Poder Executivo (arts.
61, § 1º, e 165 da Constituição).
A lei é expressa ao estabelecer a responsabilidade do Estado por danos físicos ou psicológicos causados a
presos pelo regime militar ou às pessoas que tenham sofrido perdas e danos materiais em razão do
cerceamento de direitos inerentes ao exercício profissional, por motivos políticos, no período descrito na
norma. Diversa é a situação da responsabilidade da União. Esta responde no tocante àqueles que, por si
custodiados, tenham sofrido danos.
Acompanharam o voto do relator os ministros Edson Fachin, Cármen Lúcia, Alexandre de Moraes, Rosa
Weber, Luís Roberto Barroso, Ricardo Lewandowski e Luiz Fux.

Divergência
Os ministros Dias Toffoli e Gilmar Mendes ficaram vencidos, por entender que houve violação da iniciativa
do Executivo para legislar sobre a criação de órgão da administração pública e estabelecer suas
atribuições. Ainda segundo a divergência, a lei ultrapassa os limites da anistia fixada no ADCT da CF/88 e
mostra-se irrazoável ao prever o direito ao recebimento de dupla indenização por danos praticados pelo
Estado brasileiro no período de exceção.

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PODER JUDICIÁRIO
Lei estadual pode prever que os oficiais de justiça também auxiliem nos serviços de secretaria da vara

É constitucional norma que inclui, entre as incumbências dos oficiais de justiça, a tarefa de
“auxiliar os serviços de secretaria da vara, quando não estiverem realizando diligência.”
STF. Plenário. ADI 4853/MA, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 3/11/2020 (Info 997).

A situação concreta foi a seguinte:


Lei do Estado do Maranhão previu que os oficiais de justiça poderiam também auxiliar nos serviços de
secretaria da vara (ex: fazer juntada de documentos, armazenas processos físicos, atender o público etc.).
Confira a redação do dispositivo:
Art. 94. Aos oficiais de justiça incumbe:
(...)
VIII – auxiliar os serviços de secretaria da vara, quando não estiver realizando diligências.

A Confederação dos Servidores Públicos do Brasil (CSPB) ajuizou ADI contra o dispositivo.
A autora argumentou que o dispositivo impugnado afronta os princípios da legalidade, da moralidade e
da investidura abrigados nos arts. 37, caput e II, e 39, § 1º, I, II e III, da CF/88.
Isso porque tais atribuições seriam incompatíveis com as funções do Oficial de Justiça por se tratarem de
atividades concernentes aos funcionários das secretarias das varas e eventual transformação do cargo de
oficial de justiça exigiria a realização de concurso público.

O STF concordou com o pedido formulado? A referida lei estadual é inconstitucional?


NÃO.
É constitucional norma que inclui, entre as incumbências dos oficiais de justiça, a tarefa de “auxiliar os
serviços de secretaria da vara, quando não estiverem realizando diligência.”
STF. Plenário. ADI 4853/MA, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 3/11/2020 (Info 997).

Oficial de justiça é um auxiliar da Justiça


O objetivo dessa norma é o de aumentar a celeridade e a eficiência na prestação de serviços públicos,
melhorando sua qualidade no âmbito do Poder Judiciário, mediante a distribuição de tarefas entre os
servidores competentes.
A competência para a realização de atos auxiliares ao juízo é intrínseca ao cargo de oficial de justiça. Nesse
sentido, confira o que diz o art. 154 do CPC:
Art. 154. Incumbe ao oficial de justiça:
I - fazer pessoalmente citações, prisões, penhoras, arrestos e demais diligências próprias do seu
ofício, sempre que possível na presença de 2 (duas) testemunhas, certificando no mandado o
ocorrido, com menção ao lugar, ao dia e à hora;
II - executar as ordens do juiz a que estiver subordinado;
III - entregar o mandado em cartório após seu cumprimento;
IV - auxiliar o juiz na manutenção da ordem;
V - efetuar avaliações, quando for o caso;
VI - certificar, em mandado, proposta de autocomposição apresentada por qualquer das partes,
na ocasião de realização de ato de comunicação que lhe couber.
Parágrafo único. Certificada a proposta de autocomposição prevista no inciso VI, o juiz ordenará
a intimação da parte contrária para manifestar-se, no prazo de 5 (cinco) dias, sem prejuízo do
andamento regular do processo, entendendo-se o silêncio como recusa.

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Além disso, o art. 149 reafirma que os oficiais de justiça são auxiliares da Justiça.

Não se trata de mudança de cargo


O dispositivo impugnado não representa mudança de cargo. A incumbência definida no preceito não
desvirtua a função dos Oficiais de Justiça. Pelo contrário, firma sua posição como auxiliar do juízo.
Não havendo transformação de cargos, alteração de funções nem ocupação de carreira diversa, bem como
evidenciada a aderência da norma questionada às atividades atinentes aos Oficiais de Justiça, não há que
se falar em violação dos princípios da investidura, da legalidade e da moralidade, e, em consequência, em
ofensa aos arts. 37, caput e II, e 39, § 1º, I, II e III, da Constituição Federal.

DIREITO ADMINISTRATIVO

FUNDAÇÃO
Fundação pública com personalidade jurídica de direito privado
pode adotar o regime celetista para contratação de seus empregados

Importante!!!
É constitucional a legislação estadual que determina que o regime jurídico celetista incide
sobre as relações de trabalho estabelecidas no âmbito de fundações públicas, com
personalidade jurídica de direito privado, destinadas à prestação de serviços de saúde.
STF. Plenário. ADI 4247/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/11/2020 (Info 997).

O que é uma fundação?


Em termos gerais, fundação é um patrimônio afetado (destinado) à realização de um fim, possuindo, por
essa razão, personalidade jurídica própria distinta de seu instituidor.
Desse modo, o instituidor da fundação separa (destaca) um determinado patrimônio (dinheiro, imóveis,
créditos etc.) declarando que esses bens serão utilizados para a realização de um objetivo específico.
Depois de instituída, a fundação ganha personalidade própria (“vida própria”), sendo, portanto, uma
pessoa jurídica distinta da pessoa (física ou jurídica) que a criou.
A fundação é um instituto disciplinado originalmente pelo Direito Civil. Isso porque as primeiras fundações
foram criadas por particulares.
Ocorre que, posteriormente, o Poder Público passou a também instituir fundações, razão pela qual esse
tema também é estudado em Direito Administrativo.
Gustavo Scatolino e João Trindade explicam muito bem esse tema:
“Originalmente, ao final do século XIX, as fundações foram concebidas como entidades (pessoas
jurídicas), para que pessoas físicas ou jurídicas pudessem destinar parte de seus recursos a um
objetivo de caráter social, até mesmo para o patrimônio pessoal não se misturar com o patrimônio
destinado à execução de atividades sociais. Normalmente, a pessoa destinava parte do seu capital
a essa finalidade e constituía uma fundação. O termo fundação origina-se de “fundos” como
sinônimo de recursos financeiros ou patrimoniais. Desde então, a fundação veio a ser entendida
como um conjunto de recursos destinados a uma finalidade social, a quem a lei atribuía
personalidade jurídica.
Com isso, surgiram as fundações privadas, criadas por testamentos, quando o instituidor pretendia
instituir a fundação após sua morte; ou por escritura pública, quando o instituidor pretendia

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instituir a fundação ainda em vida. Também surgiram as fundações criadas por pessoas jurídicas,
que, diferentemente das pessoas físicas, sempre instituem fundações por meio de escritura
pública.
Entre as fundações privadas, podemos citar como exemplos: Fundação Roberto Marinho,
Fundação Bradesco, Fundação Perseu Abramo etc. Tais fundações existem e continuam sendo
criadas; todavia, não fazem parte de nosso estudo, pois, sendo instituídas e mantidas por pessoas
privadas (físicas ou jurídicas) não integram a Administração Pública Indireta. Essas entidades são
disciplinadas pelo Código Civil.
Ocorre que o Estado passou a criar fundações, isto é, destinar recursos públicos para fins sociais,
criando uma pessoa jurídica para cal fim. Logo surgiu a dúvida sobre se tais pessoas — as
fundações criadas e mantidas pelo Estado - eram de direito público ou privado.” (Manual Didático
de Direito Administrativo. 6ª ed., Salvador: Juspodivm, 2018, p. 175-176).

Espécies de fundação
No ordenamento jurídico brasileiro, existem três tipos de fundação:
a) fundação de direito privado, instituída por particulares;
b) fundações públicas de direito privado, instituídas pelo Poder Público; e
c) fundações públicas de direito público, que possuem natureza jurídica de autarquia.

Como podemos conceituar as fundações públicas (fundações instituídas pelo Poder Público)?
- Fundação pública é a pessoa jurídica de direito público ou privado
- cuja criação foi autorizada por lei
- sendo composta por um patrimônio
- que foi reservado pelo instituidor para a realização de uma finalidade específica de interesse social,
- como, por exemplo, atividades educacionais, culturais, de pesquisas científicas, de assistência social etc.

Qual é o regime jurídico (regramento) aplicável às fundações instituídas pelo Poder Público? Elas estão
sujeitas ao regime jurídico de direito público ou de direito privado?
Depende. A fundação instituída pelo Estado pode estar sujeita ao regime público ou privado, a depender
do estatuto da fundação e das atividades por ela prestadas. O STF definiu a seguinte tese:
A qualificação de uma fundação instituída pelo Estado como sujeita ao regime público ou privado
depende:
i) do estatuto de sua criação ou autorização e
ii) das atividades por ela prestadas.
As atividades de conteúdo econômico e as passíveis de delegação, quando definidas como objetos de dada
fundação, ainda que essa seja instituída ou mantida pelo poder público, podem se submeter ao regime
jurídico de direito privado.
STF. Plenário. RE 716378/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 1º e 7/8/2019 (repercussão geral) (Info 946).

Assim, podemos identificar duas espécies de fundação pública (fundação instituída pelo Estado):
Fundação pública de direito PÚBLICO Fundação pública de direito PRIVADO
Estão sujeitas ao regime público. Estão sujeitas ao regime privado.
São criadas por lei específica (são uma espécie de Deve ser editada uma lei específica autorizando
autarquia, por isso também chamadas de que o Poder Público crie a fundação. Em seguida,
“fundações autárquicas”). será necessário fazer a inscrição do estatuto dessa
fundação no Registro Civil de Pessoas Jurídicas,
quando, então, ela adquire personalidade jurídica.

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Imagine agora a seguinte situação adaptada:


No Rio de Janeiro, foi editada lei autorizando a criação de uma fundação pública, com personalidade
jurídica de direito privado, com o objetivo de prestar serviços na área de saúde.
O ponto mais polêmico está no fato de a lei ter determinado que essa fundação adotaria o regime celetista
para contratação de seus empregados.

Isso é possível?
SIM.
É constitucional a legislação estadual que determina que o regime jurídico celetista incide sobre as
relações de trabalho estabelecidas no âmbito de fundações públicas, com personalidade jurídica de
direito privado, destinadas à prestação de serviços de saúde.
STF. Plenário. ADI 4247/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/11/2020 (Info 997).

Segundo a Lei editada pelo Estado do Rio de Janeiro, essa fundação pública, com personalidade jurídica
de direito privado, é dotada de patrimônio e receitas próprias, autonomia gerencial, orçamentária e
financeira para o desempenho de atividades na área de saúde. Nessa configuração, o Estado não toca
serviço público na área da saúde. Ele se utiliza de pessoa interposta — de natureza privada — que, então,
adentra o mercado de trabalho e contrata.
Assim, havendo uma opção do legislador pelo regime jurídico de direito privado, é decorrência lógica dessa
opção que seja adotado para o pessoal das fundações autorizadas o regime celetista.
Com esse entendimento, o Plenário considerou constitucional a previsão da lei estadual de contratação
por meio do regime celetista.
Os ministros Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Rosa Weber, Luiz Fux e
Ricardo Lewandowski acompanharam o relator com ressalvas apenas para agregar fundamento específico
acerca da distinção entre fundação pública de direito público e fundação pública de direito privado, nos
termos do que decidido no RE 716.378, submetido à sistemática da repercussão geral.

DIREITO TRIBUTÁRIO

PIS/COFINS
É constitucional o art. 8º, § 9º da Lei 10.865/2004, que estabeleceu alíquotas de PIS-Importação
e COFINS-Importação mais elevadas para as importadoras de autopeças que não sejam
fabricantes de máquinas e veículos

É constitucional o § 9º do art. 8º da Lei nº 10.865/2004, a estabelecer alíquotas maiores,


quanto à Contribuição ao PIS e à Cofins, consideradas empresas importadoras de autopeças
não fabricantes de máquinas e veículos.
STF. Plenário. RE 633345, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 04/11/2020 (Repercussão Geral –
Tema 744) (Info 997).

Lei nº 10.865/2004
Os chamados PIS e COFINS são duas diferentes “contribuições de seguridade social”.
A modalidade mais comum do PIS e da COFINS é aquela que tem como fato gerador o faturamento.

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No entanto, o julgado aqui comentado trata sobre o PIS-Importação e a COFINS-Importação, duas


contribuições que incidem sobre a importação de bens e serviços, sendo regulamentadas pela Lei nº
10.865/2004.

Polêmica em torno do § 9º do art. 8º


O art. 8º, § 9º da Lei nº 10.865/2004 previu o seguinte:
Art. 8º (...)
§ 9º Na importação de autopeças, relacionadas nos Anexos I e II da Lei nº 10.485, de 3 de julho de
2002, exceto quando efetuada pela pessoa jurídica fabricante de máquinas e veículos relacionados
no art. 1º da referida Lei, as alíquotas são de:
I - 2,62% (dois inteiros e sessenta e dois centésimos por cento), para a Contribuição para o
PIS/Pasep-Importação; e
II - 12,57% (doze inteiros e cinquenta e sete centésimos por cento), para a Cofins-Importação.

O que esse dispositivo diz, na prática:


• se a empresa importadora de autopeças não for fabricante de máquinas e veículos: irá pagar as alíquotas
previstas no art. 8º, § 9º da Lei nº 10.865/2004.
• se a empresa importadora de autopeças for fabricante de máquinas e veículos: irá pagar alíquotas
menores.
Em outras palavras, se a importadora de autopeças não for fabricante, ela irá pagar alíquotas maiores.

Essa previsão é constitucional?


SIM.
É constitucional o § 9º do art. 8º da Lei nº 10.865/2004, a estabelecer alíquotas maiores, quanto à
Contribuição ao PIS e à Cofins, consideradas empresas importadoras de autopeças não fabricantes de
máquinas e veículos.
STF. Plenário. RE 633345, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 04/11/2020 (Repercussão Geral – Tema
744) (Info 997).

O PIS-Importação e a COFINS-Importação são tributos de forte perfil extrafiscal, ou seja, atuam


decisivamente na promoção ou no desestímulo de atividades econômicas.
Conclui-se, portanto, que são tributos voltados não apenas para finalidades arrecadatórias, mas para a
regulação do mercado, de forma que direcionam os contribuintes a certos comportamentos, de acordo
com a política estipulada pelo governo.
No caso dos autos, o objetivo notório da norma é o de estimular a fabricação de máquinas e peças no
território nacional.
Quanto à alegada violação aos princípios da isonomia em matéria tributária e da capacidade contributiva,
a jurisprudência do STF é pacífica no sentido de que tais princípios destinam-se, primordialmente, ao
legislador, de maneira que não cabe ao Poder Judiciário equiparar alíquotas diferenciadas, com
fundamento no princípio da isonomia.

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EXERCÍCIOS

Julgue os itens a seguir:


1) São inconstitucionais normas estaduais que imponham obrigações de compartilhamento de dados com
órgãos de segurança pública às concessionárias de telefonia, por configurar ofensa à competência
privativa da União para legislar sobre telecomunicações (arts. 21, XI e 22, IV, da CF/88). ( )
2) É inconstitucional norma estadual que disponha sobre a exposição de produtos orgânicos em
estabelecimentos comerciais. ( )
3) É constitucional a Lei nº 5.751/98, do estado do Espírito Santo, de iniciativa parlamentar, que versa sobre
a responsabilidade do ente público por danos físicos e psicológicos causados a pessoas detidas por
motivos políticos. ( )
4) É inconstitucional norma que inclui, entre as incumbências dos oficiais de justiça, a tarefa de “auxiliar os
serviços de secretaria da vara, quando não estiverem realizando diligência.” ( )
5) É constitucional a legislação estadual que determina que o regime jurídico celetista incide sobre as
relações de trabalho estabelecidas no âmbito de fundações públicas, com personalidade jurídica de
direito privado, destinadas à prestação de serviços de saúde. ( )
6) É constitucional o § 9º do art. 8º da Lei nº 10.865/2004, a estabelecer alíquotas maiores, quanto à
Contribuição ao PIS e à Cofins, consideradas empresas importadoras de autopeças não fabricantes de
máquinas e veículos. ( )
Gabarito
1. C 2. E 3. C 4. E 5. C 6. C

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DJE DE 26 A 30 DE OUTUBRO DE 2020

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 719.870


RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
REDATOR DO ACÓRDÃO: MIN. ALEXANDRE DE MORAES
Decisão: O Tribunal, por maioria, apreciando o tema 670 da repercussão geral, deu provimento ao recurso
extraordinário, em maior extensão, para que os autos retornem ao Tribunal de origem, para rejulgamento dos Embargos
de Declaração, à luz das diretrizes fixadas neste precedente, nos termos do voto do Ministro Alexandre de Moraes, Redator
para o acórdão, vencidos os Ministros Marco Aurélio (Relator), Roberto Barroso e Dias Toffoli, que proviam o
extraordinário, assentando a nulidade do pronunciamento decorrente dos declaratórios, a fim de que o Tribunal emita
entendimento explícito relativamente à falta de razoabilidade evocada. Foi fixada a seguinte tese: "I – No julgamento
de Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta para questionar a validade de leis que criam cargos em comissão,
ao fundamento de que não se destinam a funções de direção, chefia e assessoramento, o Tribunal deve analisar as
atribuições previstas para os cargos; II – Na fundamentação do julgamento, o Tribunal não está obrigado a se
pronunciar sobre a constitucionalidade de cada cargo criado, individualmente". Plenário, Sessão Virtual de
2.10.2020 a 9.10.2020.
EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL. REPRESENTAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE, PROPOSTA
PERANTE TRIBUNAL DE JUSTIÇA. CRIAÇÃO DE CARGOS PÚBLICO, DE PROVIMENTO EM COMISSÃO,
POR LEI MUNICIPAL. ALEGAÇÃO DE QUE OS CARGOS NÃO SE DESTINAM ÀS FUNÇÕES DE DIREÇÃO,
CHEFIA E ASSESSORAMENTO. IMPERIOSIDADE DE ANÁLISE DAS ATRIBUIÇÕES DOS CARGOS,
DESCRITAS NA LEI. DESNECESSIDADE DE QUE O TRIBUNAL SE MANIFESTE SOBRE CADA CARGO,
INDIVIDUALMENTE. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO. 1. A Constituição Federal estabelece, na parte
final do inciso V do art. 37, que os cargos em comissão destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e
assessoramento. 2. Eventualmente, as leis que criam cargos em comissão conferem-lhes denominações que remetem às
referidas funções, mas a descrição das atribuições revela tratar-se de atividades técnicas ou burocráticas. 3. Para
concluírem se ocorre, ou não, esta inconstitucional burla ao concurso público, os Tribunais devem analisar a descrição

Informativo XXX-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 11


Informativo
comentado

das atribuições dos cargos, constante na norma. 4. Por outro lado, o Tribunal não está obrigado, na fundamentação do
julgamento, a se pronunciar sobre cada cargo, individualmente. 5. Recurso Extraordinário a que se dá provimento, em
maior extensão, para que os autos retornem ao Tribunal de origem, para rejulgamento dos Embargos de Declaração, à luz
das diretrizes fixadas neste precedente. Tema 670, fixada a seguinte tese de repercussão geral: “I - No julgamento de
Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta para questionar a validade de leis que criam cargos em comissão, ao
fundamento de que não se destinam a funções de direção, chefia e assessoramento, o Tribunal deve analisar as atribuições
previstas para os cargos; II - Na fundamentação do julgamento, o Tribunal não está obrigado se pronunciar sobre a
constitucionalidade de cada cargo criado, individualmente".
RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.263.641
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
REDATOR DO ACÓRDÃO: MIN. ALEXANDRE DE MORAES
Decisão: O Tribunal, por maioria, apreciando o tema 455 da repercussão geral, negou provimento ao recurso
extraordinário, nos termos do voto do Ministro Alexandre de Moraes, Redator para o acórdão, vencidos os Ministros
Marco Aurélio (Relator) e Edson Fachin. Foi fixada a seguinte tese: "A exigência de garantia para o exercício da
profissão de leiloeiro, prevista nos artigos 6º a 8º do Decreto 21.981/1932, é compatível com o artigo 5º, XIII, da
CF/1988". Falou, pelo recorrente, o Dr. Deivid Kistenmacher. Não participou deste julgamento o Ministro Ricardo
Lewandowski. Plenário, Sessão Virtual de 2.10.2020 a 9.10.2020.
EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL. LIVRE EXERCÍCIO PROFISSIONAL, ATENDIDAS AS
QUALIFICAÇÕES QUE A LEI ESTABELECER. LEILOEIRO. PAGAMENTO DE CAUÇÃO PARA DESEMPENHO
DA ATIVIDADE. CONSTITUCIONALIDADE. RECURSO EXTRAORDINÁRIO DESPROVIDO. 1. A cláusula da
liberdade de profissão (art. 5º, XIII, da CF) assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no país o direito constitucional
a exercer qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer. A
jurisprudência do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL tem afirmado que essa norma socorre tanto a liberdade de escolha,
como a liberdade de exercício de uma atividade a título de trabalho, ofício ou profissão. 2. Quanto ao exercício de trabalho,
ofício ou profissão, a garantia de liberdade comporta alguma limitação pelo legislador infraconstitucional, conforme
dispõe o art. 5º, XIII, da CF. Embora admissível, essa intervenção está materialmente submetida aos demais preceitos
constitucionais, como o valor social do trabalho (arts. 1º, IV; 6º, caput, XXXII; 170, caput, e VIII; 186, III, 191 e 193,
entre outros). 3. A legitimidade da atuação legislativa no campo do exercício do trabalho deve ser restrita apenas ao
indispensável para viabilizar a proteção de outros bens jurídicos de interesse público igualmente resguardados pela própria
Constituição, como a segurança, a saúde, a ordem pública, a incolumidade das pessoas e do patrimônio, a proteção
especial da infância e outros. Somente quando a execução individual de determinada atividade puder implicar risco a
algum desses valores, imprescindíveis para o bem-estar da coletividade, é que o legislador estará autorizado a restringir
a liberdade de trabalho. 4. São diretrizes para a atividade legislativa tendente a condicionar o exercício de alguma
profissão: (a) a lei não pode estabelecer limitações injustificadas, arbitrárias ou excessivas; (b) as limitações instituídas
pela lei devem fundamentar-se em critérios técnicos capazes de atenuar os riscos sociais inerentes ao exercício de
determinados ofícios; e (c) as limitações instituídas pela lei não podem dificultar o acesso a determinada categoria
profissional apenas sob o pretexto de favorecer os seus atuais integrantes, mediante restrição exclusivamente
corporativista do mercado de trabalho. 5. Enfim, exige-se, como requisito de validade das limitações normativas ao
exercício profissional, que sejam elas obedientes a critérios de adequação e de razoabilidade que possam ser aferidos
lógica e objetivamente. . 6. O Decreto 21.981/1932 dispõe, em seus artigos 6º, 7º e 8º, que “o leiloeiro, depois de habilitado
devidamente perante as Juntas Comerciais fica obrigado, mediante despacho das mesmas Juntas, a prestar fiança, em
dinheiro ou em apólices da Divida Pública federal (…)”; “a fiança responde pelas dívidas ou responsabilidades do
leiloeiro”; e que “o leiloeiro só poderá entrar no exercício da profissão, depois de aprovada a fiança oferecida (...)”.7. O
leiloeiro lida diariamente com o patrimônio de terceiros, de forma que a prestação de fiança como condição para o
exercício de sua profissão busca reduzir o risco de dano ao proprietário - o que reforça o interesse social da norma
protetiva, bem como justifica a limitação para o exercício da profissão. 8. Recurso Extraordinário a que se nega
provimento. Tema 455, fixada a seguinte tese de repercussão geral: “A exigência de garantia para o exercício da profissão
de leiloeiro, prevista nos artigos 6º a 8º do Decreto 21.981/1932, é compatível com o artigo 5º, XIII, da CF/1988”.

OUTRAS INFORMAÇÕES
26 A 30 DE OUTUBRO DE 2020

Portaria STF nº 433, de 23/10/2020- Dispõe sobre as Comissões Permanentes previstas no artigo 27, § 1º, do Regimento Interno.
Resolução STF nº 708, de 23/10/2020 - Institui o Laboratório de Inovação do Supremo Tribunal Federal - Inova STF.
Supremo Tribunal Federal – STF Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação Coordenadoria de Difusão da Informação
codi@stf.jus.br

Informativo XXX-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 12

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