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ERRO DE TIPO ERRO DE

PROIBIÇÃO

PROF. ROGÉRIO BATISTA GABBELINI


DO ERRO DE TIPO
DO ERRO DE TIPO
DISPOSITIVO LEGAL
CÓDIGO PENAL

Art. 20. O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição
por crime culposo, se previsto em lei.
§ 1º É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de
fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa
e o fato é punível como crime culposo.
§ 2º Responde pelo crime o terceiro que determina o erro.
§ 3º O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram,
neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria
praticar o crime.
DO ERRO DE TIPO
ERRO E IGNORÂNCIA DISTINÇÃO E TRATAMENTO

Conceito de Erro

Erro é a falsa percepção da realidade ou o falso conhecimento de determinado


objeto.

CONCEITO DE IGNORÂNCIA

A Conceitualmente, o erro difere da ignorância: esta é a falta de representação da


realidade ou o desconhecimento total do objeto.

ERRO E IGNORÂNCIA SEUS EFEITOS PARA O CÓDIGO PENAL

O Código Penal trata de forma idêntica o erro e a ignorância.


DO ERRO DE TIPO

CONCEITO DE ERRO DE TIPO


É o erro que incide sobre elementos objetivos do tipo penal, abrangendo qualificadoras,
causas de aumento e agravantes.
O engano a respeito de um dos elementos que compõem o modelo legal de conduta proibida
sempre exclui o dolo. Podendo levar à punição por crime culposo.
Exemplo tradicional da doutrina: o caçador imagina que atrás de uma moita existe um animal
feroz contra o qual atira, atingindo, no entanto, outro caçador que ali estava à espreita da caça,
matando-o.
DO ERRO DE TIPO

ELEMENTO CONSTITUTIVO DO TIPO


Trata-se de cada componente que constitui o modelo legal de conduta proibida.

Homicídio simples
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

Elementos do tipo: matar + alguém


O engano sobre qualquer desses elementos pode levar ao erro de tipo.

Furto
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Elementos do tipo: Subtrair + para si ou para outrem + coisa alheia móvel


DO ERRO DE TIPO
PERMISSÃO PARA PUNIÇÃO POR CRIME CULPOSO
Quando há erro de tipo – escusável ou inescusável –, exclui-se o dolo.
Em sociedade todos têm o dever de cuidado objetivo.
Caso o agente tenha agido com descuido patente, merece ser punido pelo resultado danoso
involuntário a título de culpa.
No exemplo citado: se o caçador, com maior atenção e prudência, pudesse ter evitado o
disparo, isso significa ter infringido o dever de cuidado objetivo, o que pode resultar na punição por
crime culposo (lesão ou homicídio, conforme o caso).
DO ERRO DE TIPO

ERRO ESCUSÁVEL
Espécies
de erro de tipo
INESCUSÁVEL
DO ERRO DE TIPO

ESPÉCIES DE ERRO DE TIPO

ESCUSÁVEL, INEVITÁVEL, INVENCÍVEL OU DESCULPÁVEL

Trata-se da modalidade de erro que não deriva de culpa do agente, ou seja, mesmo
que ele tivesse agido com a cautela e a prudência de um homem médio, ainda assim
não poderia evitar a falsa percepção da realidade sobre os elementos constitutivos
do tipo penal.
DO ERRO DE TIPO

ESPÉCIES DE ERRO DE TIPO

INESCUSÁVEL, EVITÁVEL, VENCÍVEL OU INDESCULPÁVEL:

Trata-se espécie de erro que provém da culpa do agente, é dizer, se ele


empregasse a cautela e a prudência do homem médio poderia evitá-lo, uma vez
que seria capaz de compreender o caráter criminoso do fato.
DO ERRO DE TIPO
ESPÉCIES DE ERRO DE TIPO

EFEITOS

Tipo de erro Efeitos


escusável ou inescusável sempre exclui o dolo
escusável o dolo e a culpa, acarretando na impunidade
total do fato.
inescusável exclui o dolo, mas permite a punição por crime
culposo, se previsto em lei
DO ERRO DE TIPO

Teste seus conhecimentos


João está em uma balada noturna em um point famoso de Campinas, SP,
cujo horário de atendimento é das 22:00 às 05:00, num dado momento
faz amizade com Rosinha, que possui altura aproximada de 1, 75 m e
porte físico atlético, no final da festa resolvem irem ao Motel. Depois,
João leva Rosinha para casa. A mãe de Rosinha, no dia seguinte vai na
delegacia de Polícia faz um boletim de ocorrência contra João sobre o
crime de estupro de vulnerável previsto no artigo 217 A do Código Penal,
pois, Rosinha é menor de 14 anos. João lhe contrata para a defesa. Qual
a melhor tese a ser apresentada?
DO ERRO DE TIPO
ERRO DE TIPO ESSENCIAL E ERRO ACIDENTAL

• Erro sobre o objeto (error in objecto);


• Erro sobre a pessoa (error in persona)
HIPÓTESES
DE ERRO • Erro na execução (aberratio ictus)
ACIDENTAL
• Resultado diverso do pretendido (aberratio criminis)
• Aberratio causae

Obs:
Ocorre o erro de tipo essencial, quando o erro do agente recai sobre elementares, circunstâncias ou
qualquer outro dado que se agregue à figura típica.
O erro acidental, ao contrário do essencial, não tem o condão de afastar o dolo (ou o dolo e a culpa)
do agente.
ERRO SOBRE O OBJETO (ERROR IN OBJECTO);

Ocorre “error in objeto” quando o agente age com vontade e finalidade para
praticar um conduta ilícita mas erra quanto ao objeto. Não afasta o dolo.

O agente erra no exame do objeto e ao valor que era atribuído sobre o bem que
pretendia obter ilicitamente.

CONSEQUÊNCIA

Equivocou-se, contudo, no caso “sub examen”, quanto ao valor que era atribuído
ao bem, o que nada influência na definição jurídica do fato.
ERRO SOBRE A PESSOA (ERROR IN PERSONA)

art. 20, § 3º: O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena.

Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa


contra quem o agente queria praticar o crime.
É acidental o erro sobre a pessoa porque, na verdade, o agente não erra sobre qualquer
elementar, circunstâncias ou outro dado que se agregue à figura típica. O seu erro cinge-se,
especificamente, à identificação da vítima. que em nada modifica a classificação do crime por
ele cometido.

CONSEQUÊNCIA

exemplo acima “A” queria matar seu irmão, mas acabou causando a morte de seu tio, incide a
agravante genérica relativa ao crime praticado contra ascendente (CP, art. 61, inc. II, alínea
“e”), responde pelo crime de fratricídio.
ERRO NA EXECUÇÃO (ABERRATIO ICTUS)

aberratio ictus quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés
de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa.
Aplica-se a regra do § 3º do art. 20 do Código Penal, relativa ao erro sobre a pessoa,
respondendo como se tivesse atingido a vítima que pretendia ofender.

ERRO SOBRE O CURSO CAUSAL OU ABERRATIO CAUSAE.

É a hipótese da aberração estar relacionada com o resultado.


Exemplo: Aquele que, visando a destruir uma vitrine, arremessa uma pedra contra ela e, por
erro, não acerta o alvo, mas atinge uma pessoa. Responderá, nessa hipótese, pelo delito de
lesões corporais de natureza culposa, ficando afastada a sua responsabilidade no que diz
respeito à tentativa de dano,
Teste seu conhecimento
O Antônio querendo matar o próprio pai (Bruno) para receber a herança o aguarda escondido em
uma praça pública quando Bruno chega Antônio efetua disparos de arma de fogo que atingem
Bruno. Na sequência
A dos tiros Carlos, pessoa desconhecida que não era alvo de Antônio, que
estava trabalhando na praça como gari também é atingido fatalmente.
É correto dizer que neste caso a agravante do crime do artigo 61, II, “e”, somente irá ocorrer em
relação a vítima Bruno e quando a vítima Carlos será o delito de homicídio culposo?

Gabarito

Trata-se da figura “aberratio ictus” quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao
invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa. Aqui, aplica-se a regra do § 3º do art. 20
do Código Penal, relativa ao erro sobre a pessoa, respondendo como se tivesse atingido a vítima que pretendia
ofender.

Na questão o agente quer matar o próprio pai atira contra ele e, errando o alvo, fere ou mata outra pessoa que
passava por aquele local. Nesse caso, devemos fazer a substituição da pessoa que fora atingida por aquela que
deveria sê-lo. Se ambos são atingidos, será aplicada a regra do concurso formal (art. 70 do CP).
Testes seus conhecimentos
Juiz de Direito TJ/SP - 2006): RENATO, dirigindo-se para sua casa, foi preso na rua portando uma
espingarda "pica-pau’, de fabricação caseira e municiada, apta a disparos, que afirmou ter encontrado
em um ferro velho. A arma, instantes antes, havia sido utilizada em uma representação teatral realizada
em uma escola, circunstância apurada como verídica. RENATO alegou, em seu favor, desconhecimento
sobre a ilicitude do fato. Afirmou, ainda, ter conhecimento da campanha de esclarecimento acerca da
matéria (vedação de porte de arma sem registro e autorização prévia). Sua conduta caracteriza

(A) erro inevitável sobre a ilicitude do fato.

(B) erro evitável sobre a ilicitude do fato.

(C) erro de tipo.

(D) exercício regular de direito.


TEMA DA AULA
POTENCIAL CONSCIÊNCIA
DA ILICITUDE
ERRO DE PROIBIÇÃO

PROF. ROGÉRIO BATISTA GABBELINI


ERRO DE PROIBIÇÃO

DISPOSITIVO LEGAL
CÓDIGO PENAL

Erro sobre a ilicitude do fato

Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do


fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a
um terço.

Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem


a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias,
ter ou atingir essa consciência.
ERRO DE PROIBIÇÃO

CONCEITO DE ERRO DE PROIBIÇÃO

O erro de proibição pode ser definido como a falsa percepção do agente acerca do caráter
ilícito do fato típico por ele praticado.
O sujeito conhece a existência da lei penal (presunção legal absoluta), mas desconhece ou
interpreta mal seu conteúdo, ou seja, não compreende adequadamente seu caráter ilícito.
ERRO DE PROIBIÇÃO

DESCONHECIMENTO DA LEI ("IGNORANTIA LEGIS”) X ERRO DE PROIBIÇÃO

LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO:

“Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece” (art. 3.º).

ENTENDIMENTO DOUTRINÁRIO

Conhecer a norma escrita é uma presunção legal absoluta, embora o


conteúdo da lei, que é o ilícito, possa ser objeto de questionamento.

Neste sentido:

“A ignorantia legis” é matéria de aplicação da lei, que, por ficção jurídica,


se presume conhecida por todos, enquanto o erro de proibição é matéria de
culpabilidade, num aspecto inteiramente diverso. (Roberto BITENCOURT:)
ERRO DE PROIBIÇÃO

ANALISE A QUESTÃO

Atualmente, nas grandes cidades, é possível verificar que certos locais encontram-se áreas
destinadas a prostituição, existindo uma verdadeira condescendência dos órgãos públicos
que não tomam providencias legais. Neste sentido, é correto dizer, na hipótese de alguém
ser acusado de manter casa de prostituição ( art. 229 do CP), admite-se, neste caso, a figura
do erro de proibição, para absolver o réu ou reduzir a pena?

RESPOSTA

A simples omissão, ou mesmo conivência do Poder Público no que diz respeito ao combate
da criminalidade não autoriza o reconhecimento do erro de proibição. Como já decidido pelo
Superior Tribunal de Justiça:
ERRO DE PROIBIÇÃO

DO ERRO DE PROIBIÇÃO ESCUSÁVEL

TIPOS

DE ERRO DE PROIBIÇÃO
ERRO DE PROIBIÇÃO INESCUSÁVEL
ERRO DE PROIBIÇÃO

ESPÉCIE DO ERRO ESCUSÁVEL

DO ERRO DE PROIBIÇÃO ESCUSÁVEL

O sujeito, ainda que no caso concreto tivesse se esforçado, não poderia evitá-lo.
Exclui-se a culpabilidade.
Exemplo, o Soldado desgarrado a dias do pelotão não sabe que foi celebrada a paz e
mata um militar “que acredita ser inimigo”
ERRO DE PROIBIÇÃO

ESPÉCIE ERRO INESCUSÁVEL

ERRO DE PROIBIÇÃO INESCUSÁVEL, EVITÁVEL, OU VENCÍVEL

Este erro de proibição estabelece que o sujeito poderia evitar o erro.


Subsiste a culpabilidade com a pena diminuída.
A redução da pena é facultativa ou obrigatória?
ERRO DE PROIBIÇÃO

CRITÉRIOS PARA AUFERIR O ERRO DE PROIBIÇÃO

De fato, em se tratando de matéria inerente à culpabilidade, leva-se em conta as


condições particulares do responsável pelo fato típico e ilícito (cultura, localidade em
que reside, inteligência e prudência etc.)l.
ERRO DE PROIBIÇÃO

CRITÉRIOS DA DOUTRINA PARA IDENTIFICAR O ERRO DE PROIBIÇÃO

O doutrinador Francisco de Assis Toledo, apresenta critérios para auferir o grau do erro:

a) Quando o agente atua com consciência de que está fazendo algo errado;

b) Quando o agente não possui essa consciência, mas lhe era fácil, nas
circunstâncias, obtê-la;

c) Quando o agente não tem consciência do ilícito, porque, de propósito, não se


informou;

d) Quando não possui essa consciência, não se informando quando deveria tê-lo
feito, tendo em vista tratar-se de atividade regulamentada em lei.
ERRO DE PROIBIÇÃO

ERRO DE PROIBIÇÃO DIRETO

ESPÉCIES DE
ERRO DE PROIBIÇÃO INDIRETO
ERRO DE PROIBIÇÃO

ERRO MANDAMENTAL
ERRO DE PROIBIÇÃO

ERRO DE PROIBIÇÃO DIRETO

Diz-se direto quando o erro do agente vem a recair sobre o conteúdo proibitivo de uma
norma penal.
ERRO DE PROIBIÇÃO

ERRO DE PROIBIÇÃO INDIRETO

O erro de proibição indireto, também chamado de descriminante putativa por erro de


proibição, o agente conhece o caráter ilícito do fato, mas, no caso concreto, acredita
erroneamente estar presente uma causa de exclusão da ilicitude, ou se equívoca quanto aos
limites de uma causa de exclusão da ilicitude efetivamente presente.

ERRO MANDAMENTAL

É aquele que incide sobre o mandamento contido nos crimes omissivos, sejam eles próprios ou
impróprios.
ERRO DE PROIBIÇÃO

ERRO MANDAMENTAL

É aquele que incide sobre o mandamento contido nos crimes omissivos, sejam eles
próprios ou impróprios.
ERRO DE PROIBIÇÃO

DIFERENÇA ENTRE ERRO DE TIPO E ERRO DE PROIBIÇÃO

No erro de tipo, disciplinado pelo art. 20 do Código Penal, o sujeito desconhece a situação
fática que o cerca, não constatando em sua conduta a presença das elementares de um tipo
penal.

No erro de proibição o sujeito conhece perfeitamente a situação fática em que se encontra,


mas desconhece a ilicitude do seu comportamento. Consequentemente, não afeta o dolo
(natural).
Teste seu conhecimento

(Juiz Federal - TRF/5.3 Região 2007) Acerca das causas excludentes da ilicitude e culpabilidade,
julgue o próximo item.
Constitui erro de proibição indireto a situação em que o agente, embora tendo perfeita noção da
realidade, avalia de forma equivocada os limites da norma autorizadora, respondendo com a pena
reduzida, se o erro for inescusável, ou ficando isento de pena, se for escusável.

Correta-
Teste seu conhecimento

(23.° Procurador da República/MPF) X agindo sorrateiramente, subtraiu um cheque ao portador, emitido


por Y, de quem é credor, e dele se apoderou. Como o valor consignado no título corresponde à expressão
pecuniária do débito, X supôs-se autorizado a quitar-se, por esse meio, apesar de saber que a solução por
ele adotada não seria aceita por Y. Na situação hipoteticamente posta, é possível identificar:

(A) um erro tipo essencial, pois o cheque ao portador não se conforma como coisa alheia móvel, para os
fins previstos no Código Penal, art. 155;

(B) um erro de direito extra-penal, excludente do dolo, pois, enquanto ardem de pagamento à vista, o
cheque não pode ser objeto de delito de furto;

(C) um erro de proibição;

(D) uma causa obrigatória de diminuição da pena, vinculada á primariedade do agente.


Bibliografia básica adotada

Nucci, Guilherme de Sousa. Curso de Direito Penal.

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