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Teoria do Erro no

Direito Penal

Direito Penal
Introdução
Noção Geral: Erro: Falsa representação da
realidade;

Distinção: Irrelevante distinção conceitual


entre erro e ignorância (no direito penal);
Espécies
- Erro sobre elementos ou circunstâncias do tipo
legal do crime: erro de tipo: Exclui o dolo
(tipicidade);
- Erro sobre o enunciado normativo de proibição
(ou não) da conduta: Exclui a potencial
consciência da ilicitude (culpabilidade).
Erro de Tipo
Art. 20, caput, CP: É o erro sobre elemento
constitutivo do tipo legal de crime.
- “Aquele que versa sobre as elementares ou
circunstâncias da figura típica incriminadora,
sobre os pressupostos de fato de uma causa de
justificação ou dados secundários da norma
penal incriminadora” (Damásio de Jesus)
Erro de Tipo
“É o lado inverso do dolo do tipo: o atuante ‘não
sabe o que faz’ (Wessels)”. Ex: Caçador na floresta.
Consequência: Afeta o elemento cognitivo do dolo
(consciência) ou, conforme a evitabilidade ou
inevitabilidade do erro, até mesmo a culpa
(previsibilidade).
Posição Sistemática: Tipicidade.
Erro de Proibição
Art. 21 do CP: O desconhecimento da lei é
inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se
inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá
diminuí-la de um sexto a um terço.
Parágrafo Único. Considera-se evitável o erro se o
agente atua ou se omite sem a consciência da
ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas
circunstâncias, ter ou atingir essa consciência.
Erro de Proibição
“É um erro sobre a antijuridicidade (proibição
jurídica) do fato; aqui o autor ‘sabe o que faz
tipicamente, mas supõe de modo errôneo que
isto era permitido’” (Wessels).
Erro de Proibição
Consequência: O erro de proibição afeta a
consciência da ilicitude, de modo que: se
inevitável, isenta de pena, uma vez que exclui
aquele elemento da culpabilidade; se evitável,
apenas diminui a pena, uma vez que, embora
culpável, menor é o grau de reprovação ou
censurabilidade daquele sujeito.
Posição Sistemática: Culpabilidade.
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

Erro de Tipo Essencial


Aquele que incide sobre os elementos objetivos do
tipo:
a) Elementares (Ex: Coisa alheia – art. 155 do CP);
b) Qualificadoras (Ex: “Outro Estado” - art. 155, § 5°,
do CP);
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

c) Causas de aumento de pena (Ex: Serviço de


transporte de valores – art. 157, § 2°, III, do CP);
d) Agravantes (Ex: Pessoa maior de 60 anos – art. 61,
II, “h”, do CP).
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

Erro de Tipo Essencial


- Efeito: Exclusão do o dolo.
- E da culpa? Depende (se vencível ou invencível).
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

Erro de Tipo Essencial Invencível


Ou inculpável ou inevitável ou escusável;
- Isenta o agente de qualquer responsabilidade por
ter incidido em erro, visto que qualquer pessoa
que empregasse diligência comum recairia no
mesmo engano;
- Exclusão da tipicidade (dolo ou culpa).
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

Erro de Tipo Essencial Vencível


Ou culpável ou evitável ou inescusável;
- Erro passível de imputação ao agente, uma vez
que, se houvesse maior diligência por parte do
autor, inexistiria a apreciação equivocada da
realidade;
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

Erro de Tipo Essencial Vencível


- Não isenta de culpa (erro decorrente da não
observância do dever de cuidado);
- Exclusão apenas da forma dolosa do delito;
permitida a punição por crime culposo, se
previsto em lei (art. 20, caput, do CP).
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

Erro de Tipo Acidental


- Incide sobre dados de importância secundária (ou
acessória) no tipo penal;
- Irrelevante à determinação da tipicidade da
conduta;
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental
Erro de Tipo Acidental
- Espécies:
a) erro sobre o objeto material do delito (erro
sobre o objeto ou coisa - “error in objecto” / erro
sobre a pessoa - “error in persona”);
b) erro na execução do crime (quanto à pessoa -
“aberratio ictus” / quanto ao bem jurídico -
“aberratio criminis”);
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

c) erro sobre o nexo de causalidade (“aberratio


causae”).
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

Erro (de Tipo Acidental) sobre o Objeto Material do


Delito
a) Erro sobre o objeto/coisa (error in objecto)
Ex: Subtrair um saco de farinha imaginando tratar-se
de um pacote de açúcar;
- Irrelevância penal desse tipo de erro.
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

Erro (de Tipo Acidental) sobre o Objeto Material do


Delito
b) Erro sobre a pessoa (error in persona)
Ex: Atira contra “B” pensando que fosse “C”.
- Responsabilidade penal pela vítima virtual /
pessoa que pretendia ofender (art. 20, § 3°, do
CP).
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental
Erro (de Tipo Acidental) na Execução Quanto à
Pessoa / “Aberratio Ictus”
Noção Geral: O sujeito quer atingir certa pessoa,
contudo, por acidente ou erro no uso dos meios de
execução, acaba por atingir pessoa diversa da
pretendida.
Nomenclatura: “Aberratio ictus”, “desvio no golpe”,
“erro na execução” ou “erro inabilidade”.
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

Previsão Legal/Efeito
Art. 73 do CP : Quando, por acidente ou erro no uso
dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir
a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa
diversa, responde como se tivesse praticado o crime
contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do
art. 20 deste Código. [...]
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

[...] No caso de ser também atingida a pessoa que o


agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art.
70 deste Código.
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

Aberratio Ictus (art. 73 do CP)


X
Erro sobre a Pessoa (art. 20, § 3º, do CP).

Aberratio Ictus: Erro procedimental ou operacional,


isto é, erro material na fase executória do iter
criminis, que resulta em ofensa a pessoa diversa da
pretendida.
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

Aberratio Ictus

Ex: O sujeito treme a mão no instante do tiro e,


por isso, em razão deste desvio no golpe,
perde a exatidão na mira e atinge terceira
pessoa
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental
Aberratio Ictus (art. 73 do CP)
X
Erro sobre a Pessoa (art. 20, § 3º, do CP)
Erro sobre a pessoa: Erro fático-cognitivo, ou seja, o
agente aprecia mal a realidade que o circunda, o que
gera um vício na formação da vontade, que, por sua
vez, o faz atingir pessoa diversa da pretendida.
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

Erro sobre a Pessoa

Ex: O sujeito, diante de forte neblina que encobria


sua visão, pensa ter mirado contra seu desafeto e
dispara tiro preciso e letal; no entanto, quando se
aproxima do corpo da vítima, percebe que matou a
pessoa errada
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

Espécies
Há dois tipos de aberratio ictus, conforme o número
singular ou plural de vítimas afetadas.
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental
a) Aberratio ictus com unidade simples: Se, em
virtude do erro/golpe na execução, atingida
somente outra pessoa (diversa da pretendida).
Logo, “responde como se tivesse praticado o
crime contra aquela (vítima virtual),
atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20
deste Código” (art. 73, primeira parte, do CP).
Ex: Homicídio doloso.
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental
b) Aberratio ictus com unidade complexa: Se, em
face do erro na execução, é atingida, além da vítima
pretendida, terceira pessoa, diversa da almejada.
Portanto, “aplica-se a regra do art. 70 deste Código
(concurso formal)” (art. 73, segunda parte, do CP).
Ex: Homicídio doloso (vítima pretendida) em
concurso (formal) com homicídio culposo (vítima por
erro).
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

Erro (de Tipo Acidental) na Execução Quanto ao Bem


Jurídico / “Aberratio Criminis”
Noção Geral: O sujeito quer atingir determinado bem
jurídico ou praticar certo crime, contudo, por
acidente ou erro no uso dos meios de execução,
acaba por atingir bem diverso / crime diverso /
resultado diverso.
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

Nomenclatura: “aberratio criminis”, “aberratio


delicti” ou resultado diverso do pretendido.
Ex: O sujeito pretende danificar o vidro do carro do
vizinho (crime doloso de dano – art. 163 do CP), mas
erra o golpe e acaba atingindo o rosto de um
pedestre (crime culposo de lesão corporal – art. 129
do CP).
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental
Previsão Legal/Efeito
Art. 74 do CP: Fora dos casos do artigo anterior,
quando, por acidente ou erro na execução do crime,
sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente
responde por culpa, se o fato é previsto como crime
culposo; se ocorre também o resultado pretendido,
aplica-se a regra do art. 70 deste Código.
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

Espécies:
Há dois tipos de aberratio criminis, conforme o
número singular ou plural de resultados
produzidos.
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental
a) Aberratio criminis com unidade simples ou efeito
único ou resultado singular:
Se, em virtude do erro/golpe na execução, atingido
somente outro resultado (diverso do pretendido).
Logo, “responde por culpa, se o fato é previsto como
crime culposo” (art. 74, primeira parte, do CP).
Ex: Lesão corporal culposa (exemplo acima).
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

b) aberratio criminis com unidade complexa ou


efeito duplo ou resultado plural:
Se, em face do erro na execução, é atingido, além do
resultado (bem jurídico) pretendido, outro diverso
do almejado.
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

[...] Portanto, “se ocorre também o resultado


pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código
(leia-se: responde pelos delitos em concurso
formal)” (art. 74, segunda parte, do CP). Ex: Dano
doloso (crime pretendido) em concurso (formal) com
lesão corporal culposa (exemplo acima).
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental
Erro de Tipo Acidental sobre o Nexo Causal /
“Aberratio Causae”
Noção Geral: O sujeito quer atingir o resultado
criminoso por determinada relação de causalidade,
porém, em virtude de erro, acaba dando ensejo a
outro nexo causal, no entanto, igualmente suficiente
para a produção daquele resultado inicialmente
almejado.
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

Ex: Sujeito lança seu desafeto de um penhasco com


o objetivo de que caia ao mar e morra afogado,
porém, pelo cálculo inexato do autor, a vítima acaba
batendo a cabeça em uma das pedras que havia à
beira mar e falece de traumatismo.
Efeito: Irrelevante penal o erro sobre o nexo causal
(responde de igual forma).
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

Erro de Tipo Incriminador e Erro de Tipo Permissivo


- (sub)classificação inserida, por alguns, junto à
categoria do erro de tipo essencial;
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

a) Erro de tipo incriminador (art. 20, caput, do CP):


Tipo penal incriminador (erro sobre elementar ou
circunstância fática);
b) Erro de tipo permissivo / descriminante putativa
por erro de tipo (art. 20, § 1°, do CP):
Tipo penal permissivo (erro fático sobre causa
justificante/excludente de ilicitude);
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

Art. 20, § 1°, do CP: É isento de pena quem, por erro


plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe
situação de fato que, se existisse, tornaria a ação
legítima. Não há isenção de pena quando o erro
deriva de culpa e o fato é punível como crime
culposo.
Ex: Legítima defesa putativa.
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

- Erro de tipo permissivo invencível: Exclui dolo e


culpa (isenta de pena / polêmica natureza
jurídica);
- Erro de tipo permissivo vencível: Exclui dolo /
permite punição culposa (culpa imprópria).
Espécies: Erro de Tipo: Essencial ou Acidental

Obs: Não Confundir (apesar da controvérsia


doutrinária):
Descriminante Putativa por Erro de Tipo
(art. 20, § 1°, do CP)
X
Descriminante Putativa por Erro de Proibição
(art. 21 do CP).
Espécies: Erro de Proibição
Erro de Proibição Invencível e Vencível
Invencível, inevitável, escusável ou desculpável:
Quando o erro do agente sobre a antijuridicidade de
determinada conduta for plenamente justificável.
“Quando, além de não dispor da consciência da
ilicitude, verifica-se que o agente nem sequer teria
condições de alcançar tal compreensão” (Estefam).
Espécies: Erro de Proibição
Conseqüência da inevitabilidade:
Excludente de culpabilidade (inexistência de
reprovabilidade pessoal atinente à culpabilidade
por ausência de potencial consciência da ilicitude /
art. 21, 2ª parte, 1ª figura, do CP – “o erro sobre a
ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena”).
Espécies: Erro de Proibição
Vencível, evitável, inescusável ou indesculpável:
Quando o erro do agente sobre a antijuridicidade
de determinada conduta for injustificável.
“Quando, apesar da falta da consciência da
ilicitude, constata-se que o agente possuía
condições de ter adquirido tal conhecimento”
(Estefam).
Espécies: Erro de Proibição
Art. 21, Parágrafo único, do CP: Considera-se
evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a
consciência da ilicitude do fato, quando lhe era
possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa
consciência.
Espécies: Erro de Proibição
Consequência da evitabilidade:
Não tem lugar a causa de exclusão da
culpabilidade, somente incidindo atenuante
obrigatória de pena (causa obrigatória de redução
da pena).
Art. 21, 2ª parte, 2ª figura, do CP: O erro sobre a
ilicitude do fato, se evitável, poderá diminuí-la de
um sexto a um terço.
Espécies: Erro de Proibição
Erro de Proibição Direto, Indireto e
Mandamental
Erro de proibição direto: O erro incide sobre a
proibição contida na figura típica delitiva. O
agente atua pensando que a sua conduta é
lícita, quando, na verdade, revestida de
ilicitude.
Espécies: Erro de Proibição
Ex: O estrangeiro que ingressa no Brasil com
substância cujo consumo é lícito no seu país,
porém ilícito em terras brasileiras.
Espécies: Erro de Proibição
Erro de proibição indireto (erro de permissão
ou descriminante putativa por erro de
proibição): o erro incide sobre a existência ou
os limites de causas justificantes (legítima
defesa, estado de necessidade, exercício
regular de direito ou estrito cumprimento do
dever legal).
Espécies: Erro de Proibição
Nesse caso, o agente tem consciência de que o
fato é ilícito, porém, sabendo exatamente o
que faz, pensa estar agindo acobertado por
alguma causa de justificação, isto é, amparado
por alguma norma permissiva.
Espécies: Erro de Proibição
Nesse caso, o agente tem consciência de que o fato
é ilícito, porém, sabendo exatamente o que faz,
pensa estar agindo acobertado por alguma causa
de justificação, isto é, amparado por alguma
norma permissiva.
Ex: O marido traído que mata a sua mulher
pensando estar agindo amparado pela permissão
de “legítima defesa da honra”.
Espécies: Erro de Proibição
Erro de proibição mandamental (ou erro de
mandamento): O erro incide sobre o dever jurídico
de agir em crimes omissivos impróprios ou
comissivos por omissão (art. 13, § 2º, CP). Nessa
situação, o agente, sabendo exatamente o que
deixa de fazer, pensa estar autorizado a não mais
observar o aludido dever jurídico de impedir a
ocorrência do resultado.
Espécies: Erro de Proibição
Ex: O curador que, embora tenha a obrigação legal
de cuidado em face do curatelado (art. 13, § 2º, “a”,
CP), supõe poder se desvencilhar desse dever
jurídico de agir.
Erro Provocado
Art. 21, § 2º, do CP: Responde pelo crime o
terceiro que determina o erro.
- “Erro provocado” ou “erro determinado por
terceiro”;
- Hipótese de autoria mediata;
Erro Provocado
O terceiro (agente provocador) responderá pelo
fato punível, dolosa ou culposamente, conforme o
respectivo elemento subjetivo de sua conduta
“Há provocação dolosa quando o erro é
preordenado pelo terceiro / o terceiro
conscientemente induz o sujeito a incidir em erro”
(Damásio de Jesus).
Erro Provocado
“Existe determinação (ou provocação) culposa
quando o terceiro age com imprudência,
negligência ou imperícia” (Damásio de Jesus).
Teoria do Erro no
Direito Penal

Direito Penal

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