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TEORIA GERAL DO CRIME –

ERRO DE TIPO
Prof. Diego Pureza
Possui previsão no artigo 20 do Código Penal:

“Erro sobre elementos do tipo


Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal
de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime
culposo, se previsto em lei”.

No erro de tipo o agente ignora ou tem conhecimento equivocado da


realidade. Trata-se de ignorância ou erro que recai sobre as
elementares, circunstâncias ou quaisquer dados que se agregam a
determinada figura típica.
Exemplos:

a) mulher que sai às pressas da sala de aula e, por engano, leva a


bolsa de sua colega, muito parecida com a sua;

b) caçador que atira e mata o seu colega de caça, depois que este,
sem avisar, se disfarça de urso para pregar-lhe uma peça.
ESPÉCIES DE ERRO DE TIPO:

O erro de tipo é dividido em duas espécies:

a) Erro de tipo ESSENCIAL;

b) Erro de tipo ACIDENTAL.


No essencial, o erro recai sobre os dados principais do tipo penal
(elementares), enquanto que no acidental, recai sobre dados
secundários (periféricos).

No essencial, se avisado do erro, o agente para de agir


criminosamente; no acidental, o agente corrige os caminhos ou
sentido da conduta e continua agindo de forma criminosa. As duas
espécies são subdivididas da seguinte forma:
Erro de tipo essencial Erro de tipo Acidental
a) Inevitável (escusável, a) sobre o objeto
perdoável)
b) Evitável (inescusável, b) sobre a pessoa
imperdoável) c) na execução
d) resultado diverso do pretendido
e) sobre o nexo causal
(A) – ERRO DE TIPO ESSENCIAL:

O erro de tipo essencial recai sobre elementares, circunstâncias ou


quaisquer dados que se agregam a determinada figura típica.

As consequências dessa modalidade dependerá se o erro é inevitável


ou evitável:

1) Se inevitável (justificável, escusável ou invencível) excluirá o dolo


(por ausência de consciência) e a culpa (por ausência de
previsibilidade).
2) Se evitável (injustificável, inescusável ou vencível), cuidando-se de
erro previsível, só excluirá o dolo, mas será punido a título de culpa,
se previsto o crime nesta modalidade (pois havia a possibilidade de o
agente conhecer o perigo).

# - Como aferir a (in)evitabilidade do erro?

R: A corrente tradicional invoca a figura no “homem médio”,


entendendo que a previsibilidade deve ser avaliada apenas sob o
enfoque objetivo.
Já para uma corrente mais moderna, é preciso trabalhar com as
circunstâncias do caso concreto, ou seja, avaliando o grau de
instrução, idade do agente, momento e local da conduta, etc.

Voltando no exemplo do caçador, se o caçador agiu em mata densa,


longe do centro urbano, certamente seu erro será considerado
inevitável, ficando isento de pena.

Se, no entanto, agiu em mata próxima a centro habitado, ciente de


que outros acidentes ocorreram na região, não observando o seu
dever de cuidado, seu erro será etiquetado como evitável,
respondendo por crime culposo.
(B) ERRO DE TIPO ACIDENTAL:
É o erro que recai sobre dados secundários, periféricos do tipo. A
intensão criminosa é manifesta, incidindo naturalmente a
responsabilidade penal. Vale estudarmos em separado cada uma das
espécies de erro de tipo acidental e suas respectivas consequências.
B.1: Erro de tipo acidental SOBRE O OBJETO:
Não tem previsão legal, mas é aceito pela doutrina. Ocorre quando o
agente confunde o objeto material (coisa) visado, atingindo outro
que não o pretendido.
Exemplo: a pessoa ingressa em uma loja para subtrair um relógio de
outro, mas acaba furtando um relógio de latão, confundindo,
portanto, o objeto visado.
Consequência prevalece que o agente deverá responder
considerando as características do objeto efetivamente atingido.
B2: Erro de tipo acidental QUANTO À PESSOA:
Está previsto no artigo 20, §3º, do Código Penal:
“§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não
isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou
qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente
queria praticar o crime”.
Nesta espécie, há uma equivocada representação do objeto material
(pessoa) visado pelo agente. Por conta desse erro, o agente acaba por
atingir pessoa diversa.
Aqui, percebe-se a existência de ao menos dois personagens como
vítima: vítima real (pessoal realmente atingida) e vítima virtual
(pessoa que se pretendia atingir). Quando da execução, o agente
confunde ambas.
Exemplo: “Fulano” quer matar seu próprio pai, porém,
representando equivocadamente a pessoa que entra em casa, acaba
por matar seu rio. “Fulano” será punido por parricídio, embora seu
pai permaneça vivo.
Consequência: o agente será responsabilizado pelo crime, com a
ressalva de que serão consideradas as qualidades e características da
vítima pretendida.
B3: Erro de tipo acidental na EXECUÇÃO:
Também conhecido como aberratio ictus, está previsto no artigo 73
do Código Penal:
“Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios
de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que
pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como
se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se
ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de
ser também atingida a pessoa que o agente pretendia
ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código”.
Em síntese, trata-se do acidente ou erro no uso dos meios de
execução e, por conseguinte, o agente acaba atingindo pessoa
diversa da pretendida (embora corretamente representada).

Exemplo: “Fulano” mira seu pai, entretanto, por falta de habilidade


no uso da arma, acaba atingindo um vizinho que passava do outro
lado da rua.
Consequências:
1 – se o agente atingir apenas a pessoa diversa da pretendida, será
punido pelo crime, considerando-se, contudo, as condições e
qualidades da vítima desejada, e não da vítima efetivamente atingida.

2 – Se o agente atingir também a pessoa diversa, será punido pelos


dois crimes, em concurso formal. No exemplo anterior, se “Fulano”
atingir seu pai, ceifando a sua vida, e, sem querer, também seu
vizinho, que sofre lesões, será punido por homicídio doloso do pai e
lesões culposas do vizinho, aplicando-se a regra do concurso formal
de crimes (art. 70 do CP).
B4: Resultado diverso do pretendido:
Também conhecido como aberratio criminis, está previsto no artigo
74 do Código Penal:
“Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou
erro na execução do crime, sobrevém resultado diverso do
pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como
crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a
regra do art. 70 deste Código”.
Enquanto que no erro na execução o agente ataca pessoa diversa da
pretendida (pessoa x pessoa), no resultado diverso do pretendido o
agente provoca lesão em bem jurídico diverso do pretendido (coisa x
pessoa).

Exemplo: “A” quer danificar o carro que “B” está conduzindo,


entretanto, por erro na execução, atinge e mata o motorista. Queria
praticar dano (contra a coisa), mas acaba produzindo morte (contra a
pessoa).
Consequência: o agente responderá pelo resultado diverso do
pretendido, porém a título de culpa (se previsto em lei). No exemplo
anterior, “A” responderá por homicídio culposo (ficando absorvida a
tentativa de dano).
Como ocorre no erro na execução, se o agente atingir também o
resultado pretendido, responderá pelos dois crimes, em concurso
formal.

Resumindo as espécies de erro de tipo acidental estudadas até agora:


Erro de tipo acidental Resultado Resultado
pretendido produzido
Erro sobre o objeto Coisa Coisa (diversa)
Erro sobre a pessoa Pessoa Pessoa (diversa)
Erro na execução Pessoa Pessoa (diversa)
Resultado diverso do pretendido Coisa Pessoa
Tentativa (erro na execução com Pessoa Coisa
o resultado atingido menos
valioso que o resultado
pretendido)
B5: Erro sobre o NEXO CAUSAL:
Não possui previsão legal (doutrina). É o caso em que o resultado
desejado se produz, mas com nexo diverso, de maneira diferente da
planejada pelo agente. Divide-se em duas espécies:

a) Erro sobre o nexo causal em sentido estrito: ocorre quando o


agente, mediante um só ato, provoca o resultado visado, porém com
outro nexo de causalidade.
Exemplo: “A” empurra “B” de um penhasco para que ele morra
afogado, porém, durante a queda, “B” bate a cabeça contra uma
rocha e morre em razão de um traumatismo craniano.
b) Dolo geral ou aberratio causae: ocorre quando o agente, mediante
pluralidade de atos, provoca resultado pretendido, porém com outro
nexo causal.

Exemplo: “A” atira em “B” (1º ato) e, imaginando que “B” está morto,
joga o corpo no mar, vindo “B” a morrer por afogamento.

Consequência: o agente será punido por um só crime, desejado


desde o início, a título de dolo.

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