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CURSO GLIOCHE

Super Intensivão de Inspetor e Investigador da PCERJ


DISCIPLINA: Direito Penal
PROFESSOR: Mauro Cesar
E-MAIL: professormaurocesar@gmail.com
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YOUTUBE: www.youtube.com/professormaurocesar

AULA 3 – 29/01/2022 (13:10 às 15:10 hrs)

NORMAS PENAIS EM BRANCO e INCOMPLETAS

I – NORMAS PENAIS EM BRANCO (ou primariamente remetidas)


- preceito primário depende de complementação, para caracterizar-se
o tipo penal completo.
- podem ser próprias ou impróprias.

I.1 – NORMAS PENAIS EM BRANCO PRÓPRIAS (em sentido estrito


ou heterogênea)
- o complemento é dado por ESPÉCIE NORMATIVA DIVERSA DA LEI.
ex: artigo 33 da Lei de Drogas, cujo complemento encontra-se na Portaria
344 da ANVISA.

I.2 – NORMAS PENAIS EM BRANCO IMPRÓPRIAS (em sentido amplo


ou homogênea)
- o complemento do preceito primário está contido em uma MESMA
ESPÉCIE NORMATIVA, que é uma LEI.
a) homovitelina: o complemento está dentro da própria lei que será
complementada.
ex: artigo 327 do Código Penal, que traz a “explicação” do conceito de
funcionário público para os efeitos penais, complementando os demais
crimes praticados por funcionário público.
b) heterovitelina: o complemento está em lei diversa.
ex: art. 235 do CP c/c arts. 1511 e ss do CC (explica o que é “casamento”).
II – NORMAS PENAIS INCOMPLETAS (imperfeitas ou
secundariamente remetidas)
- preceito secundário está incompleto, remetendo à uma outra norma,
para saber qual será a sanção aplicável.
ex: Lei do Genocídio (Lei nº 2.889/56).

CONCURSO DE PESSOAS

I – Conceito
- ocorrerá quando MAIS DE UMA PESSOA concorrer para o MESMO
EVENTO CRIMINOSO.

II – Classificação dos crimes quanto ao concurso de pessoas


II.1 – Crime Monossubjetivo
- poderá ser cometido por uma ou mais pessoas.
- trata-se crime de CONCURSO EVENTUAL.
- é a REGRA no Código Penal.
ex. homicídio, furto, roubo, estupro, calúnia, etc.

II.2 – Crime Plurissubjetivo


- exige a participação de VÁRIAS PESSOAS, somente podendo ser
cometido desta maneira.
- é crime de CONCURSO NECESSÁRIO.

III – Autor
- a teoria que prevalece é a TEORIA RESTRITIVA ou OBJETIVA
- autor é aquele que pratica a conduta descrita no tipo penal.
ex. no homicídio é quem mata; no furto é quem subtrai, etc.

OBS: teoria do domínio do fato – autor é quem tem o DOMÍNIO FINAL


SOBRE O FATO.
- é aquele quem tem o PODER DE DECISÃO.
ex. no homicídio é quem manda matar.

ATENÇÃO
é a teoria adotada pela doutrina moderna no caso dos CRIMES
DOLOSOS.
IV – Coautor
- estará presente quando ocorrer uma PLURALIDADE DE AUTORES.
- quando tem um agente cometendo o fato, é AUTOR.
- quando tem mais de um, é COAUTOR.

OBS: teorias adotadas


a) teoria restritiva - coautor nada mais é do que a pluralidade de agentes
praticando o núcleo do tipo penal.
ex. art. 121, CP: A e B matam.
- se o A mata e B somente auxilia, B não é coautor.
b) teoria do domínio do fato – coautoria é a pluralidade de agentes com o
poder de decisão.
ex. autor é quem determina o homicídio.
- se mais de um agente determina o homicídio, ambos são coautores.

ATENÇÃO – CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES


CRIME AGENTE CONCURSO DE PESSOAS
COMUM NÃO EXIGE condição admite COAUTORIA e
especial PARTICIPAÇÃO
PRÓPRIO EXIGE condição especial admite COAUTORIA e
PARTICIPAÇÃO
DE MÃO SOMENTE o agente poderá admite apenas
PRÓPRIA praticar a conduta PARTICIPAÇÃO

OBS 2: exceção – advogado e crime de falso testemunho


a) doutrina tradicional – é crime de mão própria, não admitindo coautoria.
- logo, o advogado responderá como PARTÍCIPE do delito.

b) STF – não ignora que o falso testemunho seja crime de mão própria,
mas admite coautoria.
- assim, o advogado é COAUTOR do crime de falso testemunho.
- adotou a TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO.

V – Partícipe
V.1 – Conceito
- partícipe é o COADJUVANTE do crime.
- é aquele que não realiza, nem direta, nem indiretamente o verbo núcleo
do tipo, mas sim uma CONDUTA ACESSÓRIA.

V.2 – Espécies de participação


a) moral – o partícipe INDUZ ou INSTIGA o autor do crime
b) material – o partícipe PRESTA ASSISTÊNCIA ao autor do crime,
auxiliando o mesmo.

V.3 – Tipicidade
- a participação não integra a conduta típica, sendo alcançada pela
NORMA DE EXTENSÃO do artigo 29 do CP.

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas


penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.

ex: A, auxiliado por B, mata C.


- para B ser punido, devemos aplicar a TIPICIDADE INDIRETA, utilizando-
se a norma do artigo 29 do CP.
- A, por sua vez, será punido através da TIPICIDADE DIRETA.

VI – Autoria Mediata
- autor mediato é aquele que, SEM REALIZAR DIRETAMENTE A
CONDUTA DESCRITA NO TIPO, comete o fato punível, como
personagem principal, por INTERMÉDIO de outra pessoa, usada como
seu INSTRUMENTO para o cometimento do crime.

ATENÇÃO
o autor mediato realiza a conduta indiretamente

VI.1 – Hipóteses de Autoria mediata


a) erro determinado por terceiro: previsto no art. 20, §2º do CP;
Art. 20:
(...)
§ 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro.

b) coação moral irresistível: previsto no art. 22, primeira parte do CP);


Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível (...), só é punível
o autor da coação.
c) obediência hierárquica: prevista no art. 22, segunda parte do CP;
Art. 22 - Se o fato é cometido em estrita obediência a ordem, não
manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor
(...) da ordem.

d) caso do instrumento impunível: previsto no art. 62, III do CP


Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que:
(...)
III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua
autoridade ou não-punível em virtude de condição ou qualidade
pessoal

- é hipótese de agravante de pena.

VIII – Requisitos do Concurso de Pessoas


a) pluralidade de agentes – faz-se necessário MAIS DE UM AGENTE para
a prática do delito;
b) relevância causal das várias condutas – as condutas de cada um dos
agentes devem ser RELEVANTES;
c) liame subjetivo entre os agentes – é necessário observar que o
concorrente deverá ter a CONSCÎÊNCIA de que COOPERA e
COLABORA para o ilícito, convergindo sua vontade ao ponto comum da
vontade dos demais participantes.

ATENÇÃO
não é exigido acordo prévio, apesar de possível!

OBS: homogeneidade de elementos subjetivos – é IMPRESCINDÍVEL!!!


- assim, não haverá participação culposa em crime doloso, nem
participação dolosa em crime culposo.

ERRO DE TIPO

I – Conceito
- erro de tipo é a FALSA PERCEPÇÃO DA REALIDADE.
- erro de tipo é aquele erro que recai sobre as ELEMENTARES,
CIRCUNSTÂNCIAS ou QUALQUER DADO que se agregue à
determinada figura típica.
II – Espécies de Erro de Tipo
a) erro de tipo essencial – é o erro que RECAI sobre os DADOS
PRINCIPAIS do tipo.
- se o agente souber que está incidindo em erro, encerra a conduta que
estava sendo realizada.
ex: queria matar um veado, vê que era seu amigo brincando atrás da
moita.
b) erro de tipo acidental – é o erro que RECAI sobre DADOS
PERIFÉRICOS, secundários do tipo.
- caso o agente saiba que está incidindo em erro, o corrigirá e continuará
agindo ilicitamente.
Ex: se quer subtrair uma joia, e pega uma bijuteria, sabendo, corrige o erro
e subtrai a joia.

ERRO DE TIPO
ESSENCIAL inescusável (evitável)
escusável (inevitável)
sobre o objeto
sobre a pessoa
ACIDENTAL na execução
resultado diverso do pretendido
sobre o nexo causal

III – Erro de tipo essencial:


III.1 – Conceito
- é o erro que recai sobre os DADOS CONSTITUTIVOS do tipo legal.
ex: caçador imaginando atirar contra animal, na verdade, mata visitante de
um parque.

III.2 – Previsão legal (Artigo 20 do Código Penal)

Art. 20:“O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui
o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei”.
III.3 – Espécies e Conseqüências

III.3.1 – Erro inevitável (escusável)


- EXCLUI O DOLO e a CULPA.
- estando presente o erro, NÃO HÁ CONSCIÊNCIA, o que exclui o dolo;
sendo inevitável, NÃO HAVIA PRESIBILIDADE, o que exclui a culpa.

III.3.2 - Erro evitável (inescusável)


- EXCLUI O DOLO, mas PUNE-SE A CULPA se o crime comportar a
modalidade culposa.
- exclui o dolo, pois da mesma forma não tinha consciência; mas a culpa
não será excluída uma vez que se o erro foi evitável, era previsível.
- assim, caso haja previsão do crime culposo em lei, haverá a punição
por este.
OBS: análise da evitabilidade do erro – deverá ser feita no CASO
CONCRETO.
- a idade, o momento, o grau de instrução, o lugar da infração podem
influenciar na evitabilidade ou não do erro.
Ex: não se pode comparar um homem do campo que desmata uma área
de preservação para cultivo de cultura para sua subsistência com um
fazendeiro bem instruído e assessorado.

IV – Erro de tipo acidental


IV.1 – Erro sobre o objeto
- o agente representa de maneira equivocada o OBJETO MATERIAL
(coisa) visado e atinge coisa diversa.
- não há previsão legal, sendo uma criação doutrinária.
ex: o agente pensa que está subtraindo um relógio de ouro quando, na
verdade, subtrai um relógio de lata.

ATENÇÃO
- o erro sobre o objeto NÃO EXCLUI O DOLO e NEM A CULPA.
- a doutrina majoritária entende que o agente responderá pelo crime
considerando o OBJETO EFETIVAMENTE ATINGIDO.
IV.2 – Erro sobre a pessoa (artigo 20, § 3º do Código Penal)

Art. 20, §3º, CP: “O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é
praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as
condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem
o agente queria praticar o crime”.

- o agente representa de maneira equivocada a VÍTIMA do crime e atinge


pessoa diversa.
- nesse caso, o agente responderá pelo crime considerando-se a vítima
que queria atingir.
ex: o agente, pensando estar entrando em casa seu pai, atira matando, na
verdade, seu tio.
- o agente irá responder por parricídio mesmo tendo matado seu tio.

ATENÇÃO
- o erro sobre a pessoa NÃO EXCLUI O DOLO e NEM A CULPA
- o agente responderá pelo crime considerando a VÍTIMA VIRTUAL

IV.3 – Erro na Execução (aberratio ictus) – artigo 73 do Código Penal

Art. 73, CP: “Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de
execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia
ofender, atinge a pessoa diversa, responde como se tivesse praticado
o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no §3º do art. 20
deste código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente
pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste código (concurso
formal)” g.n.

- o agente atinge pessoa diversa da pretendida, POR ACIDENTE ou


ERRO NO USO DOS MEIOS DE EXECUÇÃO.
ex: por erro de pontaria, o agente atinge alguém que se encontra ao lado
da vítima visada.

ATENÇÃO
- o erro na execução NÃO EXCLUI O DOLO e NEM A CULPA.
- SE a vítima pretendida também for atingida, ocorrerá CONCURSO
FORMAL de delitos
IV.4 – Resultado diverso do pretendido (aberratio criminis) – artigo 74
do Código Penal

Art. 74, CP: “Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente
ou erro na execução do crime, sobrevém resultado diverso do
pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como
crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a
regra do art. 70 deste Código (concurso formal)”. g.n.

- o agente provoca um resultado diverso do pretendido, atacando um BEM


JURÍDICO DIFERENTE, por ACIDENTE ou ERRO NO USO DOS MEIS
DE EXECUÇÃO.
ex: o agente atira uma pedra para danificar um automóvel, mas, por erro,
acaba por ferir de morte o motorista. Observe-se que o bem jurídico
atingido aqui é diverso do bem jurídico visado.

ATENÇÃO
- o resultado diverso do pretendido NÃO ISENTA O AGENTE DE PENA.
- ele responderá pelo resultado produzido e diverso do pretendido, A
TÍTULO DE CULPA, se houver previsão legal.

IV.5 – Erro sobre o nexo causal


- não possui previsão legal, sendo uma criação doutrinária.
- ocorrerá quando o erro do agente incidir sobre o nexo causal responsável
pelo resultado praticado.

ATENÇÃO
- o erro sobre o nexo causal NÃO EXCLUI O DOLO e NEM A CULPA
- o erro sobre o nexo causal NÃO ISENTA O AGENTE DE PENA
- o agente RESPONDERÁ pelo crime.

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