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DIREITO PENAL E PROCESSO PENAL

Módulo:
Teoria do Crime

TEMA– Classificação de Crimes

Aula 01 – Classificação de Crimes

Classificação legal e doutrinária

A classificação dos crimes pode ser legal ou doutrinária:


1) Classificação legal: é aquela dada pela própria lei, por meio do nome do
crime (nomen iuris). Ex.: homicídio, furto, roubo, peculato etc.
2) Classificação doutrinária: é aquela atribuída pela doutrina penal, de
acordo com as características de cada crime. Vários crimes podem ser incluídos em
uma mesma classificação. Ex: crimes dolosos, crimes culposos, crimes materiais,
crimes formais etc.
Com relação a noção de crime nos ensina o doutrinador Celso Delmanto:

“1. Definição. Embora o CP não defina o que seja crime, devem ser
apresentados seus conceitos material e formal. 2. Conceito material.
Crime é a violação de um bem jurídico protegido penalmente. 3.
Conceito Formal. Somente o comportamento humano positivo (ação)
ou negativo (omissão) pode ser considerado crime. No entanto, para
que uma conduta seja considerada criminosa, é necessário que ela
seja um fato típico e antijurídico. Será fato típico quando a conduta
estiver definida como crime, segundo o princípio da reserva legal
(CP, art. 1º), constitucionalmente garantido (CR/88, art. 5º, XXXIX). E
antijurídico quando o comportamento for contrário à ordem jurídica
como um todo, pois, além das causas de exclusão expressas no CP
(art. 23), há outras implícitas (chamadas supralegais, que excluem a
antijuridicidade ou ilicitude). Assim, presente um fato típico e
antijurídico (tipicidade + antijuridicidade ou ilicitude), teremos um

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crime, mas a aplicação de pena ainda ficará condicionada à
culpabilidade, que é reprovação ao agente pela contradição entre
sua vontade e a vontade da lei. Portanto, um fato só pode ser
penalmente punido quando típico, antijurídico e culpável (cf. Winfried
Hassemer, Fundamentos del Derecho Penal, Barcelona, Bosch,
1984, p. 255).”1

Crimes materiais, formais e de mera conduta

Crimes materiais são aqueles que necessitam da ocorrência do resultado


naturalístico para a sua consumação. Ex.: homicídio, estelionato, furto etc.
Crimes formais são aqueles que, embora tendo resultado naturalístico
previsto em lei, este resultado não é necessário para a consumação. Ex.: extorsão
mediante sequestro, concussão, corrupção passiva, corrupção ativa etc.
Crimes de mera conduta (simples atividade) são aqueles que não tem
resultado naturalístico. Ex.: violação de domicílio, desobediência etc.
Seguindo os ensinamentos do professor Celso Delmanto:

“Classificação doutrinária dos crimes: Para facilitar o


entendimento deste art. 13, assinalaremos aqui alguns dos principais
tipos de crime: 1. Crimes materiais. São aqueles que a lei descreve a
conduta do agente e o seu resultado (efeito natural) que consuma o
crime. Ex.: no homicídio, a ação é matar e o resultado, a morte, não
se consumando o crime sem que esse efeito ocorra. 2. Crimes
formais. São aqueles que se consumam antecipadamente, sem
dependência de ocorrer ou não o resultado desejado do agente. Ex.:
a calúnia, que se consuma com a simples comunicação a outra
pessoa, independentemente de a reputação do ofendido ficar ou não
abalada. 3. Crimes de mera conduta (ou simples atividade). São
aqueles em que a lei só descreve a conduta do agente, não aludindo
a qualquer resultado, de modo que se consumam com o mero
comportamento. Ex.: desobediência, violação de domicílio.”2

Crimes comuns, próprios e de mão própria

1
Código Penal comentado / Celso Delmanto... [et al], - 6. ed. atual. e ampl. – Rio de
Janeiro: Renovar, 2002. p. 19
2
Ibidem

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Crimes comuns são aqueles que podem ser praticado por qualquer pessoa.
A lei não exige uma qualidade especial por parte do sujeito ativo. Ex.: homicídio,
furto, roubo, estelionato etc.
Crimes próprios são aqueles que somente podem ser praticados por
determinada categoria de pessoas. Ex: infanticídio, peculato, falsidade de atestado
médico etc.
Art. 302 - Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado falso: (...)
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer
outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou
desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: (...)
Crimes de mão própria são aqueles que somente podem ser praticados
pelos agentes indicados no tipo penal, exigindo a lei a sua atuação pessoal. Não
admitem coautoria, apenas participação.
Ex.: crime de falso testemunho (art. 342 do CP).
O crime de mão própria é o crime cuja qualidade exigida do sujeito é tão
específica que não se admite co-autoria. Para o Min. Felix Fischer, no julgamento do
REsp 761354/PR:
Os crimes de mão própria estão descritos em figuras típicas
necessariamente formuladas de tal forma que só pode ser autor quem esteja em
situação de realizar pessoalmente e de forma direta o fato punível.
Ainda sobre o crime de mão própria, vale informar que: O Superior Tribunal
de Justiça firmou compreensão de que, apesar do crime de falso testemunho ser de
mão própria, pode haver a participação do advogado no seu cometimento. (HC
30858 / RS, 12/06/2006, Sexta Turma, rel. Min. Paulo Gallotti).
De acordo com o entendimento do professor Flávio Augusto Monteiro de
Barros: “Enquanto o crime próprio admite a autoria mediata, a participação e a
coautoria, o delito de mão própria só admite a participação, sendo incompatível com
a coautoria e a autoria mediata, uma vez que não se pode delegar a outrem a sua
execução.”3

3
Barros, Flávio Augusto Monteiro de . Direito Penal, parte geral : volume 1 / Flávio
Augusto Monteiro de Barros, - 2. ed. rev. atual. e ampl. – São Paulo : Saraiva, 2001. p.
120.

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Crimes dolosos, culposos e preterdolosos
Crimes dolosos são aqueles em que o agente quis o resultado (dolo direto)
ou assumiu o risco de produzi-lo (dolo eventual). Caso a lei silencie a respeito do
elemento subjetivo, somente será admitida a modalidade dolosa do crime.
Crimes culposos são aqueles em que o agente deu causa ao resultado por
imprudência, negligência ou imperícia. O agente deixa de observar o cuidado
objetivo necessário. A modalidade culposa de crime deve estar prevista
expressamente em lei. Caso não haja previsão de modalidade culposa para o crime,
somente será admitida a modalidade dolosa.
Crimes preterdolosos são aqueles compostos de dolo e de culpa. O dolo
vem na conduta antecedente e a culpa vem na conduta consequente, no resultado
agravante.
Ex.: lesão corporal seguida de morte, aborto com resultado morte etc. • Em
latim: “praeter” significa “além de...”
São modalidade de crime qualificado pelo resultado.

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Bibliografia

Barros, Flávio Augusto Monteiro de . Direito Penal, parte geral : volume 1 /


Flávio Augusto Monteiro de Barros, - 2. ed. rev. atual. e ampl. – São Paulo : Saraiva,
2001.
Código Penal comentado / Celso Delmanto... [et al], - 6. ed. atual. e ampl. –
Rio de Janeiro: Renovar, 2002.

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DIREITO PENAL E PROCESSO PENAL

Módulo:
Teoria do Crime

TEMA – Classificação de Crimes

Aula 02 – Classificação de Crimes

Crimes instantâneos, permanentes e instantâneos de efeitos permanentes

Crimes instantâneos são aqueles que se consumam em momento


determinado, ou seja, o resultado ocorre uma vez reunidos seus elementos.
Isso não significa que o resultado necessita ser imediato, mas que ocorra
após a prática da conduta.
Ex.: furto, roubo, estelionato.
Nesse sentido nos ensina o professor Gulherme de Souza Nucci: “b) crimes
instantâneos e permanentes: os delitos instantâneos são aqueles cuja consumação
se dá com uma única conduta, que não produz um resultado prolongado no tempo.
Assim, ainda que a ação possa ser arrastada no tempo, o resultado é instantâneo
(ex.: homicídio, furto, roubo).”1
Crimes permanentes em que a conduta, a execução do crime se prolonga
no tempo.
Ex.: extorsão mediante sequestro, redução a condição análoga à de escravo
etc.

1
Nucci, Guilherme de Souza Código penal comentado : estudo integrado com processo
e execução penal : apresentação esquemática da matéria : jurisprudência atualizada /
Guilherme de Souza Nucci. – 14. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro : Forense, 2014.
p. 117.

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“Os delitos permanentes são os que se consumam com uma única
conduta, embora a situação antijurídica gerada se prolongue no
tempo até quando queira o agente. Exemplo disso é o sequestro ou
cárcere privado. Com a ação de tirar a liberdade da vítima, o delito
está consumado, embora, enquanto esteja esta em cativeiro, por
vontade do agente, continue o delito em franca realização. Outros
exemplos: extorsão mediante sequestro, porte ilegal de arma e de
substância entorpecente.”2

Atenção: não se deve confundir crime permanente com crime continuado.


No crime permanente há uma só conduta que se prolonga no tempo.
No crime continuado há várias condutas ensejadoras de vários crimes da
mesma espécie praticados nas mesmas condições de tempo, lugar e modo de
execução (art. 71 do CP).
Art. 33 da Lei n. 11.343/06 – Lei de Drogas:
Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender,
expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar,
prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar: • Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500
(quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.
Condutas instantâneas
Condutas permanentes
De acordo com o art.. 303 do CPP, nas infrações permanentes, entende-se o
agente em flagrante delito enquanto não cessar a permanência.
“O delito permanente admite prisão em flagrante enquanto não
cessar a sua realização, além de não ser contada a prescrição até
que finde a permanência. Conferir: STJ: “1. Em casos de crimes
permanentes, não se faz sequer necessária a expedição de
mandado de busca e apreensão, sendo lícito à autoridade policial
ingressar no interior do domicílio, a qualquer hora do dia ou da noite,
para fazer cessar a prática criminosa, como no caso em questão,
apreendendo a substância entorpecente nele encontrada. 2. Por ser
dispensada a expedição do mandado de busca e apreensão,
também não há de se falar em sua nulidade, por descumprimento do
disposto no art. 245, § 7.º, do Código de Processo Penal” (HC
122937 / MG, 5.ª T., rel. Laurita Vaz, 19.03.2009, v. u.)”3

2
NUCCI, op. cit. 117.
3
Ibiden

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Crimes instantâneos de efeitos permanentes são aqueles em que a
consumação também ocorre em momento determinado, mas os efeitos perduram,
ou seja, são permanentes.
Ex.: homicídio. A conduta de matar é instantânea, mas o efeito (morte) é
permanente.
“Inserem-se na categoria de crimes instantâneos – e não em uma
classe à parte – os crimes instantâneos de efeitos permanentes, que
nada mais são do que os delitos instantâneos que têm a aparência
de permanentes por causa do seu método de execução. A bigamia é
exemplo disso. Ao contrair o segundo casamento, o agente torna-se
bígamo, estado que perdura como passar do tempo. Assim, parece
ser um delito permanente, que continuaria a afrontar o casamento,
mas, em verdade, é instantâneo. Outro exemplo é o crime de
loteamento clandestino: TJSP: “Loteamento irregular é crime
instantâneo de efeitos permanentes – a prescrição começa do início
do loteamento” (RSE 325.956-3, Atibaia, 5.ª C., rel. Celso Limongi,
22.02.2001, v. u., JUBI 61/01). E, também cuidando do loteamento
clandestino, encontramos: TJSP: “O crime é de consumação
instantânea, ainda que da ação decorram efeitos permanentes, como
no caso de abertura de ruas, placas de propaganda afixadas no local
etc. A consumação se dá com a prática de dar início ao
parcelamento, através de uma das diversas condutas já enumeradas,
e independe da efetiva realização do projeto” (HC 342.363-3/1,
Cunha, 1.ª C. Extraordinária, rel. Xavier de Souza, 14.03.2001, v. u.).
Segue também: STF: “1. No caso, a conduta assumida pelo
impetrante, a despeito de produzir efeitos permanentes quanto ao
beneficiário da falsificação da CTPS, materializou, instantaneamente,
os elementos do tipo. Descaracterização da permanência delitiva. 2.
Nos crimes instantâneos, a prescrição é de ser computada do dia em
que o delito se consumou ou do dia em que cessou a atividade
criminosa (no caso de tentativa). 3. Transcurso de lapso temporal
superior ao prazo prescricional entre a data do fato e o recebimento
da denúncia. Reconhecimento da prescrição retroativa. Ordem
concedida para declarar extinta a punibilidade do impetrante” (HC
94.148-SC, 1.ª T., rel. Carlos Britto, 03.06.2008, v. u., grifamos).”4

4
NUCCI. op. cit. p. 118

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Bibliografia

Nucci, Guilherme de Souza Código penal comentado : estudo integrado com


processo e execução penal : apresentação esquemática da matéria : jurisprudência
atualizada / Guilherme de Souza Nucci. – 14. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro
: Forense, 2014.

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Módulo:
Teoria do Crime

TEMA – Classificação de Crimes

Aula 03 – Classificação de Crimes

Crimes consumados e crimes tentados

Crimes consumados são aqueles nos quais se reúnem todos os elementos


de sua definição legal.
Crimes tentados são aqueles em que, iniciada a execução, não se
consumam por circunstâncias alheias à vontade do agente.
“Conatus” é sinônimo de tentativa.
Iter Criminis: Esse instituto representa o caminho, as fases do crime.
São fases do Iter Criminis: Cogitação, Atos Preparatórios, Atos de
Execução, Consumação e, em alguns casos, não em todos, o Exaurimento.
O Código Penal, em seu artigo 14, II traz a seguinte definição: “tentado,
quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade
do agente.”
Dessa forma, podemos extrair que a cogitação e os atos preparatórios não
são punidos, dependendo efetivamente do início da execução para que se possa
punir o agente.
Sobre o tema nos ensinamentos do Prof. Guilherme de Souza Nucci:

Conceito e divisão do iter criminis: trata-se do percurso para a


realização do crime, que vai da cogitação à consumação. Divide-se

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em duas fases – interna e externa –, que se subdividem: a) fase
interna, que ocorre na mente do agente, percorrendo, como regra, as
seguintes etapas: a.1) cogitação: é o momento de ideação do delito,
ou seja, quando o agente tem a ideia de praticar o crime; a.2)
deliberação: trata-se do momento em que o agente pondera os prós
e os contras da atividade criminosa idealizada; a.3) resolução: cuida
do instante em que o agente decide, efetivamente, praticar o delito.
Tendo em vista que a fase interna não é exteriorizada, logicamente
não é punida, pois cogitationis poenam nemo patitur (ninguém pode
ser punido por seus pensamentos), conforme já proclamava Ulpiano
(Digesto, lib. XLVIII, título 19, lei 18); b) fase externa, que ocorre no
momento em que o agente exterioriza, através de atos, seu objetivo
criminoso, subdividindo-se em: b.1) manifestação: é o momento em
que o agente proclama a quem queira e possa ouvir a sua resolução.
Embora não possa ser punida esta fase como tentativa do crime
almejado, é possível tornar-se figura típica autônoma, como acontece
com a concretização do delito de ameaça; b.2) preparação: é a fase
de exteriorização da ideia do crime, através de atos que começam a
materializar a perseguição ao alvo idealizado, configurando uma
verdadeira ponte entre a fase interna e a execução. O agente ainda
não ingressou nos atos executórios, daí por que não é punida a
preparação no direito brasileiro (ver nota 29-A supra). Exemplo de
Hungria, em relação aos atos preparatórios, não puníveis: “Tício,
tendo recebido uma bofetada de Caio, corre a umarmeiro, adquire
um revólver, carrega-o com seis balas e volta, ato seguido, à procura
do seu adversário, que, entretanto, por cautela ou casualmente, já
não se acha no local da contenda; Tício, porém, não desistindo de
encontrar Caio, vai postar-se, dissimulado, atrás de uma moita, junto
ao caminho onde ele habitualmente passa, rumo de casa, e ali
espera em vão pelo seu inimigo, que, desconfiado, tomou direção
diversa. Não se pode conceber uma série de atos mais
inequivocamente reveladores da intenção de matar, embora todos
eles sejam meramente preparatórios” (Comentários ao Código Penal,
v. I, t. II, p. 79). Outro exemplo, tratando do crime de estelionato:
TJSP: “A mera cogitatio ou mesmo atos preparatórios (o
preenchimento do cheque) não se encartam no segmento do iter
criminis suscetível de punição da tentativa” (Ap. 60.738-3, 1.ª C., rel.
Marino Falcão, 28.03.1988, v. u., RT 629/323, embora antigo, não se
alterou essa orientação). Excepcionalmente, diante da relevância da
conduta, o legislador pode criar um tipo especial, prevendo punição
para a preparação de certos delitos, embora, nesses casos, exista
autonomia do crime consumado. Exemplo: possuir substância ou
engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante ou material destinado à
sua fabricação (art. 253, CP) não deixa de ser a preparação para os
crimes de explosão (art. 251, CP) ou de uso de gás tóxico (art. 252,
CP), razão pela qual somente torna-se conduta punível pela
existência de tipicidade incriminadora autônoma; b.3) execução: é a
fase de realização da conduta designada pelo núcleo da figura típica,
constituída, como regra, de atos idôneos e unívocos para chegar ao
resultado, mas também daqueles que representarem atos
imediatamente anteriores a estes, desde que se tenha certeza do

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plano concreto do autor (consultar, sobre a passagem da preparação
para a execução, as teorias expostas na nota 32 abaixo). Exemplo:
comprar um revólver para matar a vítima é apenas a preparação do
crime de homicídio, embora dar tiros na direção do ofendido
signifique atos idôneos para chegar ao núcleo da figura típica
“matar”; b.4) consumação: é o momento de conclusão do delito,
reunindo todos os elementos do tipo penal.”1

Como dito acima, não são todos os crimes que necessariamente chegam a
fase de exaurimento, é o que ocorre no contexto dos crimes formais, quando
atingem o resultado previsto no tipo – mas não obrigatório para consumação,
conforme nos ensina o professor Nucci:
“Exaurimento do crime: significa a produção de resultado lesivo a
bem jurídico após o delito já estar consumado, ou seja, é o
esgotamento da atividade criminosa, implicando em outros prejuízos
além dos atingidos pela consumação. É o que ocorre no contexto dos
crimes formais, quando atingem o resultado previsto no tipo – mas
não obrigatório para a consumação. Exemplo disso: o recebimento
do resgate (exaurimento) na extorsão mediante sequestro, que se
consuma após a realização da privação da liberdade da vítima.
Segundo ZAFFARONI e PIERANGELI, denomina-se também
consumação material (Da tentativa, p. 26).”2

Crimes de dano e crimes de perigo


Crimes de dano são aqueles em que há efetiva ofensa ao bem jurídico
protegido. O bem jurídico protegido é atingido pela conduta do agente. Ex.:
homicídio, furto, estelionato etc.
Crimes de perigo são aqueles em que ocorre apenas a exposição do bem
jurídico a perigo, não havendo efetiva lesão.
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer
ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve
saber que está contaminado: (...)

Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e


iminente: (...)

Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade


física ou o patrimônio de outrem: (...)

1
Nucci, Guilherme de Souza Código penal comentado : estudo integrado com processo
e execução penal : apresentação esquemática da matéria : jurisprudência atualizada /
Guilherme de Souza Nucci. – 14. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro : Forense, 2014.
p. 161.
2
Ibiden

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Com relação aos crimes de dano e de perigo, importante fazer menção aos
ensinamentos do professo Mirabete:
“Quanto ao resultado, podem ainda os crimes ser divididos em duas
espécies: os crimes de dano e os crimes de perigo. Os primeiros só
se consumam com a efetiva lesão do bem jurídico visado, por
exemplo, lesão à vida, no homicídio; ao patrimônio, no furto; à honra,
na injúria etc.
Nos crimes de perigo, o delito consuma-se com o simples perigo
criado para o bem jurídico. O perigo pode ser individual, quando
expõe ao risco o interesse de uma só ou de um número determinado
de pessoas (arts. 130, 132 etc.), ou coletivo (comum), quando ficam
expostos ao risco os interesses jurídicos de um número
indeterminado de pessoas, tais como nos crimes de perigo comum
(arts. 250, 251, 254 etc.).
Às vezes a lei exige o perigo concreto, que deve ser comprovado
(arts. 130, 134, etc.); outras vezes refere-se ao perigo abstrato,
presumido pela norma que se contenta com a prática do fato e
pressupõe ser ele perigoso (arts. 135, 253 etc.)”3

3
Mirabete, Julio Fabbrini, Manual de direito penal / Julio Fabbrini Mirabete. 19. ed. São
Paulo : Atlas, 2003. p.134.

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Bibliografia

Mirabete, Julio Fabbrini, Manual de direito penal / Julio Fabbrini Mirabete. 19.
ed. São Paulo : Atlas, 2003.

Nucci, Guilherme de Souza Código penal comentado : estudo integrado com


processo e execução penal : apresentação esquemática da matéria : jurisprudência
atualizada / Guilherme de Souza Nucci. – 14. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro
: Forense, 2014.

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DIREITO PENAL E PROCESSO PENAL

Módulo:
Teoria do Crime

TEMA – Classificação de Crimes

Aula 04 – Classificação de Crimes

Crimes plurissubjetivo e monossubjetivo

Crimes monossubjetivos (ou unissubjetivos): são aqueles que podem ser


cometidos por um só sujeito. Ex.: homicídio, furto, peculato etc.
Crimes plurissubjetivos: são aqueles que exigem pluralidade de agentes
para a sua prática. Ex.: rixa (art. 137 do CP).
De acordo com a obra do professor Mirabete:

"Crime unissubjetivo (monossubjetivo, unilateral) é aquele que pode


ser praticado por uma só pessoa, embora nada impeça que a
coautoria ou participação. Os delitos de calúnia (art. 138), estelionato
(171), roubo (art. 157), por exemplo, podem ser cometidos por uma
única pessoa. É possível, entretanto, a conduta de duas ou mais
pessoas no fato, ocorrendo, na hipótese, concurso de agentes.
Crime plurissubjetivo (coletivo, de concurso necessário) é aquele, por
sua conceituação típica, exige dois ou mais agentes para a prática da
conduta criminosa. Essas condutas podem ser paralelas, como no
crime de quadrilha ou bando (art. 288), em que a atividade de todos
tem o mesmo objetivo, um fim único; convergentes, como nos crimes
bilaterais, em que é possível que uma delas não seja culpável e que
tem como exemplos o adultério (art. 240) e a bigamia (art. 234; ou
divergentes, em que as ações são dirigidas de uns contra outros,
como na rixa (art. 137).
Fala-se em crimes plurissubjetivos passivos, que demandam mais de
um sujeito passivo na infração, como ocorre na violação de

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correspondência, em que são vítimas o remetente e o destinatário
(crime de dupla subjetividade passiva).1

Em face do modo de execução, os crimes plurissubjetivos podem ser


classificados em:

a) de condutas paralelas, quando há condutas de auxílio mútuo, tendo os


agentes a intenção de produzir o mesmo evento. Exemplo: associação
criminosa (art. 288 do CP);
b) de condutas convergentes, quando as condutas se manifestam na
mesma direção e no mesmo plano, mas tendem a encontrar-se, com o
que se constitui a figura típica. Exemplo: bigamia (art. 235 do CP);
c) de condutas contrapostas, quando os agentes cometem condutas contra
a pessoa, que, por sua vez, comporta-se da mesma maneira e é também
sujeito ativo do delito. Exemplo: rixa (art. 137 do CP).

Crimes comissivos e omissivos

Crimes comissivos: são aqueles em que a conduta é de ação, ou seja,


conduta humana voltada a uma finalidade.
Crimes omissivos: são aqueles praticados por omissão, ou seja, ausência de
comportamento, inatividade.

Art. 147-A do CP (Perseguição): Perseguir alguém, reiteradamente e


por qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou
psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de
qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou
privacidade: (...)

Art. 269 do CP (Omissão de notificação de doença): Deixar o médico


de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é
compulsória: (...)

Cabe nesse pode fazer referência aos ensinamentos do professor Nucci:

1
Mirabete, Julio Fabbrini, Manual de direito penal / Julio Fabbrini Mirabete. 19. ed. São
Paulo : Atlas, 2003. p. 130-131.

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“Crimes omissivos próprios e omissivos impróprios (comissivos por
omissão): são delitos omissivos próprios aqueles cuja conduta
envolve um não fazer típico, que pode – ou não – dar causa a um
resultado naturalístico. Na lição de JOÃO BERNARDINO GONZAGA,
“o sujeito se abstém de praticar um movimento tendente a obter
determinado efeito útil ou deixa de impedir a atuação de forças
modificadoras da realidade, possibilitando o surgimento do mal”
(Crimes comissivos por omissão, p. 250). Exemplo: deixar de prestar
assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança
abandonada ou extraviada configura o delito de omissão de socorro
– art. 135, CP –, porque o não fazer é previsto no tipo penal, como
modelo de comportamento proibido. São crimes omissivos impróprios
os que envolvem um não fazer, que implica na falta do dever legal de
agir, contribuindo, pois, para causar o resultado. Não têm tipos
específicos, gerando uma tipicidade por extensão. Para que alguém
responda por um delito omissivo impróprio é preciso que tenha o
dever de agir, imposto por lei, deixando de atuar, dolosa ou
culposamente, auxiliando na produção do resultado. Exemplo: um
policial acompanha a prática de um roubo, deixando de interferir na
atividade criminosa, propositadamente, porque a vítima é seu
inimigo. Responderá por roubo, na modalidade comissiva por
omissão.”2

Relevância da omissão

A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir


para evitar o resultado.
No art. 13, § 2, do Código Penal estão dispostas as hipóteses em que o
omitente tem o dever de agir. São elas:
a) quando tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância (ex.:
dever dos pais de cuidar dos filhos);
b) quando, de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o
resultado (é a chamada situação de garante, em que o agente se
encontra em uma posição que o obriga a garantir o bem jurídico tutelado
do sujeito passivo. Exs.: médico que presta serviço em pronto-socorro;
enfermeira contratada para cuidar de um doente; tutor em relação ao
tutelado etc.);

2
Nucci, Guilherme de Souza Código penal comentado : estudo integrado com processo
e execução penal : apresentação esquemática da matéria : jurisprudência atualizada /
Guilherme de Souza Nucci. – 14. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro : Forense, 2014.
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c) quando, com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do
resultado (aqui também ocorre a chamada situação de garante. Ex.: o
instrutor de paraquedismo em relação aos alunos).

Crimes unissubsistentes e plurissubsistentes

Crimes unissubsistentes: são aqueles que se realizam com um só ato. Ex.:


calúnia verbal (art. 138 do CP); injúria verbal (art. 140 do CP). Não admitem
tentativa.
Crimes plurissubsistentes: são aqueles que se realizam com vários atos.
Ex.: latrocínio (art. 157, § 3.º, do CP); estelionato (art. 171 do CP). Admitem tentativa
porque o iter criminis é fracionável.

Outras classificações

Crimes habituais: são aqueles que exigem habitualidade, ou seja, reiteração


de uma conduta. Ex.: exercício ilegal da medicina (art. 282 do CP); manutenção de
estabelecimento em que ocorra exploração sexual (art. 229 do CP).
Crimes impossíveis: são aqueles impossíveis de serem consumados em
razão da ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto (art.
17 do CP). Ex.: mulher julgando-se grávida (sem estar) pratica manobras abortivas
(art. 124 do CP).
Crimes de forma livre: são aqueles que podem ser praticados de qualquer
forma, por qualquer meio apto a alcançar o resultado. Ex.: lesão corporal (art. 129 do
CP).
Crimes de forma vinculada: são aqueles que somente podem ser praticados
da forma estabelecida pelo tipo penal. Ex.: curandeirismo (art. 284 do CP).

Art. 284 - Exercer o curandeirismo: I - prescrevendo,


ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância;
II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio; III -
fazendo diagnósticos: (...)

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Bibliografia

DECRETO-LEI Nº 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940 – CÓDIGO PENAL

Mirabete, Julio Fabbrini, Manual de direito penal / Julio Fabbrini Mirabete. 19.
ed. São Paulo : Atlas, 2003.

Nucci, Guilherme de Souza Código penal comentado : estudo integrado com


processo e execução penal : apresentação esquemática da matéria : jurisprudência
atualizada / Guilherme de Souza Nucci. – 14. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro
: Forense, 2014.

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