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AULA 3
Prof. Francisco Fadel
CONVERSA INICIAL
Vistas as premissas básicas do direito penal, bem como realizada, de forma detalhada, a análise
de como se comporta a lei penal sob vários aspectos, passaremos nesta aula a estudar e a
Por meio da teoria geral do crime abordaremos os inúmeros institutos e respectivas teorias que
integram esse importantíssimo elemento jurídico, começando por sua conceituação, avançando
mediante o estudo dos institutos e elementos que compõem o fato típico (conduta, resultado, nexo
causal e tipicidade), a ilicitude (suas causas de exclusão, previstas no art. 23 do CP) e a culpabilidade
1.1.1 FORMAL
Conduta proibida por lei, sob ameaça de aplicação da pena. É uma visão legislativa do fato.
Informa Teles (2006, p. 152) que “crime é, simplesmente, aquilo que a lei considera crime”.
Busca-se estabelecer porque determinado fato deve ser considerado criminoso ou não. Analisa-
se a essência do comportamento humano, sua razão motivadora. Assim, crime é a violação ou a
ameaça de violação de um bem penalmente protegido.
1.1.3 ANALÍTICO
Aqui, busca-se estabelecer os elementos estruturais do crime, seus componentes jurídicos. Assim,
crime é todo fato típico, ilícito e culpável.
diferenças relevantes entre as figuras jurídicas, uma vez que ambas são consideradas espécies do
O único critério seguro para distinguir crime de contravenção é a classificação realizada pelo
quanto aos crimes, a quantidade e a qualidade da pena atribuída à infração penal são diversas,
uma vez que pode ser cominada pena de reclusão, detenção ou multa, sendo as duas primeiras
as contravenções penais são apenadas com prisão simples e multa, isolada ou cumulativamente.
contravenções são apuradas somente por meio de ação penal de pública incondicionada (art. 17
do Decreto-lei n. 3.688/1941) (Brasil, 1941).
crimes, conforme art. 75 do CP (Brasil, 1940), com redação alterada pela Lei n. 13.964/2019
Como a prática de um delito pressupõe o emprego de uma ação ou omissão visando uma
finalidade, conclui-se que somente o ser humano possui capacidade para delinquir.
É o titular do interesse cuja ofensa constitui a essência do crime. É necessário questionar qual é o
interesse tutelado pela lei penal incriminadora e, assim, identificar seu titular.
homem, quando vítima de crime de homicídio (art. 121, caput, do CP) (Brasil, 1940), a pessoa
jurídica, quando vítima de fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro (art. 171,
parágrafo 2º, V, do CP) etc. (Brasil, 1940).
O homem não pode ser ao mesmo tempo sujeito ativo e passivo de crime. Quem lesa a si próprio
não comete nenhum delito. Porém, quem “lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as
consequências da lesão ou doença, com intuito de haver indenização ou valor de seguro", comete
estelionato (art. 171, parágrafo 2º, V, do CP), figurando como sujeito passivo a seguradora vítima da
O homem morto não pode ser sujeito passivo de crime, pois não é titular de direitos, mas pode
ser objeto material do delito, sendo seus familiares considerados sujeitos passivos (art. 138, parágrafo
A pessoa jurídica pode ser sujeito passivo material de crime, por exemplo, no crime de furto.
Objeto do crime vem a ser aquilo contra o que se dirige a conduta típica.
Objeto jurídico do crime é o bem-interesse protegido pela norma penal. Assim, a vida em relação
ao crime homicídio, a honra quanto ao crime de calúnia, o patrimônio quando da prática de furto etc.
Objeto material do crime é o objeto sob o qual recai a ação, ou seja, o homem ou a coisa sobre
que incide a conduta do sujeito ativo. O homem no caso de crime de lesões corporais, o documento
no caso de falsificação.
Analiticamente a maioria dos penalistas mundiais entende que crime é fato típico, antijurídico e
culpável.
necessário que esta provoque uma alteração no mundo exterior, que o modifique (crimes
c. Nexo causal: o resultado deve ter relação com a conduta praticada, vale dizer, é
Em regra, faltando um dos elementos acima, não teremos a caracterização do fato típico, sendo a
(conceito extraído de acordo com os postulados da teoria finalista da ação, adotada pelo direito penal
brasileiro).
a conduta pode se apresentar sob um aspecto positivo (um agir, um fazer alguma coisa, um
movimento muscular) e então teremos uma ação ou, em face de uma ausência de movimento,
somente o homem pode praticar uma conduta, não se podendo qualificar a ação praticada por
a. no ato reflexo: ato desprovido de vontade ou finalidade, sendo uma reação automática
b. na coação irresistível praticada por meio da força corporal: ocorre, por exemplo, quando
2.5.1 AÇÃO
A ação se exterioriza por meio de um movimento corpóreo (muscular) que se dirige a uma
finalidade (nem sempre a de praticar uma infração penal). Ex.: crime de homicídio (doloso ou mesmo
Assim, omissão implica “não fazer aquilo que o agente tinha o dever jurídico e a possibilidade de
crimes omissivos próprios ou puros: ocorrem por meio da inação do agente. A norma penal
ordena ao agente que aja, que atue e, não agindo, independentemente da causação de algum
resultado, o crime estará consumado. A conduta omissiva é descrita na lei, não sendo necessário
um resultado naturalístico. Ex.: omissão de socorro (art. 135, CP); abandono material (art. 244,
CP); abandono intelectual (art. 246, CP); omissão de notificação de doença (art. 269, CP) (Brasil,
1940). O delito se configura com a omissão pura e simples.
crimes omissivos impróprios (impuros ou comissivos por omissão): o agente tinha o dever
jurídico de agir, ou seja, não fez o que deveria ter feito. O agente é um garantidor. Há uma
norma dizendo o que deve o agente fazer e, ficando inerte, sua omissão tem importância causal
Assim, o omitente responde pela omissão e pelo resultado dela produzido, a não ser que este
não lhe possa ser atribuído por dolo ou culpa. É o caso da mãe que deixa de alimentar o filho,
levando-o à morte.
3.1 RESULTADO
O resultado pode ser considerado sob dois aspectos: jurídico ou naturalístico (material).
O resultado jurídico ou normativo se caracteriza, conforme Masson (2020, p. 207), pela “lesão ou
Quanto ao resultado, o CP adota a teoria naturalística, segundo a qual é possível existir crime
materiais: quando o tipo penal descreve uma ação e um resultado e este (resultado) é
necessário para a consumação da infração. Ex. homicídio (art. 121, CP) (Brasil, 1940);
uma ação e um resultado, o qual é dispensado para que se considere consumada a infração. Ex.
de mera conduta ou de simples atividade: o tipo penal em sua redação, apenas se limita a
descrever o comportamento do agente, consumando-se a infração sem que ocorra mudança no
mundo naturalístico (concreto). Ex.: crime de violação de domicílio (art. 150), omissão de
O direito penal é tipológico, ou seja, busca, por meio de tipos penais, descrever quais são os
Assim, o tipo penal incriminador vem a ser a descrição abstrata de um fato real que a lei proíbe,
ou, de forma mais técnica, vem a ser o conjunto de elementos descritivos do crime contidos na lei
penal.
Assim, o juiz comprova a tipicidade comparando a conduta praticada pelo agente, com a
descrição previamente existente no tipo penal, a fim de verificar se esta se amolda ou não a ela.
3.2.1 ELEMENTARES
São componentes fundamentais da figura típica sem os quais o crime não existe. Estão sempre
no caput do tipo incriminador.
existem concretamente no mundo e seu significado não exige juízo de valor. Ex.: matar (art.
b. Elementos normativos: são os que precisam de uma interpretação, pois seu correto
ser:
jurídica. Ex.: noção de documento público (art. 297, CP) (Brasil, 1940).
c. Elementos subjetivos do tipo: aqui o legislador destaca uma parte do dolo e a insere
quando o tipo penal exige alguma finalidade específica por parte do criminoso ao executar a
conduta. É, portanto, a finalidade especial descrita no tipo. Ex.: art. 159 do Código Penal
(extorsão mediante sequestro – Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem,
3.2.2 CIRCUNSTÂNCIAS
São os dados acessórios da figura típica, cuja ausência não a elimina. Sua função é tão somente
influir no montante da pena, seja para aumentá-la, seja para diminuí-la. Ex.: a pena do crime de furto
é aumentada de 1/3 se a subtração é praticada durante o repouso noturno (art. 155, parágrafo 1º).
a. permissivos ou justificadores: são aqueles que não descrevem fatos criminosos, mas
hipóteses em que estes podem ser praticados. São os que descrevem causas de exclusão de
ilicitude (antijuridicidade), previstas no art. 23 do Código Penal. Ex.: legítima defesa, descrita no
maioria dos tipos penais que se encontram na parte especial do CP. Ex.: arts. 155, 213, 330 etc.
(Brasil, 1940);
c. fechados: comportam a maioria dos tipos legais. São aqueles em que a descrição da
conduta é feita de modo detalhado, completo. Relacionam-se aos crimes dolosos. Ex.: arts. 121,
168, 250, todos do Código Penal (Brasil, 1940);
legislador descreve somente o resultado. Como a conduta pode ocorrer de maneiras diversas,
(subtrair, art. 155; violar, art. 184). Nos tipos compostos há pluralidade de ações que sempre
indicarão a prática de uma única infração (induzir, instigar ou prestar auxílio, art. 122; corromper
3.3.1 CONCEITO
Vem a ser a relação física natural de causa e efeito existente entre a conduta do agente e o
Somente os crimes materiais exigem a comprovação do nexo causal, apresentando então quatro
O CP adotou, no art. 13, caput, 2ª parte, a teoria da equivalência dos antecedentes, também
Para a teoria, causa é toda circunstância antecedente, sem a qual o resultado não teria ocorrido.
TEMA 4 – ILICITUDE E SUAS CAUSAS DE EXCLUSÃO
4.1 ILICITUDE
É a relação de antagonismo que se estabelece entre o fato típico praticado pelo agente e o
ordenamento.
Num primeiro momento, a ilicitude do fato típico é a regra e sua licitude a exceção.
a. estado de necessidade;
b. legítima defesa;
4.2.1 CONCEITO
Entende-se em estado de necessidade quem pratica um fato típico para salvar de perigo atual
(que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar) direito próprio ou alheio, cujo
Há o confronto de dois interesses legítimos e protegidos pelo direito, em que o agente, para
São eles:
para salvar direito próprio ou alheio. O commodus dicessus (saída mais cômoda = destruição do
bem) deve ser evitado quando houver outra maneira para afastar o perigo. O bem somente
deverá ser sacrificado quando não existir outro meio de se efetuar o salvamento;
proporcionalidade entre a gravidade do perigo que ameaça o bem jurídico do agente ou alheio
Conhecimento da situação justificante: o agente deve ter saber que age para salvar um bem
4.3.1 CONCEITO
Age em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta
Resta claro que o instituto tem por fundamento a repulsa a uma agressão, ou seja, um contra-
ataque.
efetivo ataque a um bem jurídico de alguém, perpetrado por um ser humano, ou seja, a
agressão é uma ação positiva (Brandão, 2003, p. 118). Como pressupõe ato humano, caso o
jurídico, não autorizada pelo direito. A ilicitude deve ser aferida de forma objetiva,
independentemente de se questionar se o agressor tinha ciência do caráter ilícito de sua
conduta;
c. agressão atual ou iminente: atual é a agressão que está ocorrendo e iminente é a que
está prestes a ocorrer;
inclusive, contra o próprio terceiro, como no caso em que se agride um suicida para evitar que
ele se mate;
e. utilização dos meios necessários: são os meios menos lesivos ao agressor e dispostos
ao alcance do agente que se defende;
f. moderação: não deve o agente ir além do necessário para proteger o bem jurídico
violado;
g. elemento subjetivo: o agente precisa saber que está agindo para se defender.
4.4.1 CONCEITO
Consiste na atuação do agente dentro dos limites conferidos pela lei. É o caso, por exemplo, dos
pais que aplicam, moderadamente, corretivos a seus filhos em decorrência do poder familiar, ou ainda
na hipótese de um particular dar voz de prisão a quem se encontra em flagrante (art. 301, CPP) (Brasil,
1941).
Determinados esportes são permeados por atos que contêm certo grau de violência em face do
contato físico, o que pode levar à ocorrência de lesões corporais ou até mesmo à morte de seus
praticantes. O praticante, desde que aja de acordo com as regras da modalidade esportiva, poderá
Conforme ensina Cunha (2020, 342, grifos do original), são “requisitos desta justificante: a
proporcionalidade, a indispensabilidade e o conhecimento do agente de que atua concretizando seu
Ofendículos são aparatos visíveis destinados à defesa da propriedade ou qualquer outro bem
jurídico da pessoa, tais como, cercas eletrificadas, cacos de vidros fixados em cima do muro, grades
com ponta de lança, dentre outros. São considerados lícitos desde que facilmente identificáveis e não
Alguns estudiosos situam os ofendículos como expressão de exercício regular de direito, outros
Irrepreensível é o raciocínio apresentado por Cunha (2020, p. 342) quando sustenta que
iminente, obviamente age o sujeito dentro dos limites de seus direitos, dando proteção ao seu
pela lei.
Compreende toda e qualquer obrigação derivada de lei (diplomas legais), bem como de decisões
judiciais. A palavra lei deve ser entendida em sentido amplo, abrangendo a lei propriamente dita,
como também decretos, regulamentos, portarias, ou seja, “qualquer diploma normativo emitido pela
Pode ser aplicada ao particular, pois, conforme Brandão (2003, p. 125), “um sujeito que presta
comento”.
Podem ser citados os seguintes exemplos de estrito cumprimento do dever legal: a execução de
pena de morte pelo carrasco; a morte de inimigo no campo de batalha, ocorrida em tempo de guerra;
prisão em flagrante levada a cabo por policiais; a realização de busca pessoal, nas hipóteses previstas
5.1 CULPABILIDADE
É o juízo de reprovação que recai sob o agente que praticou um fato típico e ilícito.
A imputabilidade vem a ser a capacidade mental, inerente ao ser humano de, ao tempo da ação
ou omissão, entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento.
A lei brasileira adota os critérios biológico (art. 27, CP) e biopsicológico (art. 26, parágrafo único,
Potencial consciência da ilicitude vem a ser a possibilidade que tem o agente imputável de
alguma maneira a prática da infração. Por isso o art. 29 do CP dispõe que “quem, de qualquer
modo, concorre para o crime, incide nas penas a este cominadas, na medida de sua
culpabilidade” (Brasil, 1940);
c. Liame subjetivo entre os agentes: não é necessário que haja um acordo prévio entre os
agentes, mas eles devem ter consciência de que contribuíram para a prática de uma mesma
infração. Isto é, é preciso haver um nexo psicológico entre os sujeitos para se considerar que
eles praticaram um crime em concurso. Caso não exista esse liame, haverá vários crimes
vontade do outro;
d. Identidade de infração penal: como todos os agentes contribuem para o mesmo evento,
respondem, em regra, pela mesma infração penal. Trata-se da aplicação da teoria monista, monística
ou unitária, adotada pelo CP. Excepcionalmente pode ser aplicada a teoria pluralista/pluralística, pela
qual os agentes respondem por tipos penais diferentes, apesar de buscarem o mesmo resultado, a
exemplo dos crimes de corrupção passiva e corrupção ativa (arts. 317 e 333, do CP, respectivamente)
e das figuras de aborto consentido (arts. 124 e 126, ambos do CP) (Brasil, 1940).
participação.
Autoria: considera-se autor de um crime a pessoa que executa a ação indicada pelo verbo que
consta no tipo (teoria restritiva), ou então quem controla a realização da conduta, mesmo não
Participação: partícipe é aquele que realiza atos que, de alguma forma, concorrem para o
crime, sem ingressar na ação nuclear típica. O partícipe deve querer colaborar com a conduta do
a vontade que o autor já possuía. No induzimento, o partícipe faz surgir a ideia criminosa na
mente do autor;
crime. Acontece durante os atos preparatórios ou executórios, mas não após a consumação do
NA PRÁTICA
A diferença entre o delito de associação criminosa, previsto no art. 288 do CP (Brasil, 1940), e o
instituto do concurso de agentes está no fato de que referido crime pressupõe no mínimo 3 (três)
agentes, os quais devem ter um grau de estabilidade no que se refere à duração do vínculo entre eles.
O concurso de agentes pode se caracterizar com 2 (dois) integrantes e o liame entre eles pode
ocorrer poucos instantes antes da prática da infração.
FINALIZANDO
Nesta aula, estudamos os elementos estruturais do conceito analítico de crime – fato típico,
2. que nosso sistema admite crimes sem resultado naturalístico (crimes formais e crimes de
mera conduta);
3. que o nexo causal implica uma relação física, de causa e efeito entre a conduta e o
resultado dela decorrente, tendo o CP adotado a teoria da conditio sine qua nom;
sua caracterização, quais sejam, estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do
dever legal e exercício regular de direito, sendo ponderados seus elementos e requisitos para
sua caracterização;
penal brasileira.
REFERÊNCIAS
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