Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
AULA 5
Após nos debruçarmos sobre os institutos mais importantes da teoria da norma penal e da teoria
infração penal: a sanção desta decorrente. Estamos, naturalmente, nos referindo às penas e às
Antes, porém, faremos breve incursão pela origem da pena de prisão, seu conceito, seus mais
importantes princípios reitores – vários, inclusive, de índole constitucional (Brasil, 1988) –, pelos
regimes penitenciários (fechado, semiaberto e aberto), passando, a seguir, a estudar cada uma das
detenção e prisão simples), penas restritivas de direitos (prestação pecuniária, perda de bens e
Percebe-se, pela análise da história do direito penal, que a privação da liberdade como forma de
apenamento é recente nas legislações, haja vista que preponderavam penas de morte, de mutilação,
direito canônico.
cultural de cada país, as penas tinham caráter atroz, normalmente com feição corporal, sendo certo
que a manutenção do agente por longo tempo na prisão tinha o objetivo de garantir a aplicação da
punição. O direito canônico, gradativamente, mudou a noção e a forma de aplicação das penas. De
acordo com aquela forma de legislação, o clérigo que praticasse atos passíveis de punição deveria
expiar seus pecados confinado numa célula, a fim de cumprir sua penitência. De célula originou-se
cela e, de penitência, derivou o substantivo penitenciária, local coletivo destinado ao cumprimento de
pena. Assim, conclui-se que a segregação da liberdade, na época de vigência do direito canônico, era,
na verdade, simples forma de garantir a aplicação das penas então previstas, que em sua maioria
[...] a retribuição imposta pelo Estado em razão da prática de um ilícito penal e consiste na privação
ou restrição de bens jurídicos determinada pela lei, cuja finalidade é a readaptação do condenado
ao convívio social e a prevenção em relação à prática de novas infrações penais.
Masson (2020, p. 459-460), após sustentar que a pena é uma espécie de sanção penal (outra é a
[...] privação ou restrição de determinados bens jurídicos do condenado, aplicada pelo Estado em
decorrência do cometimento de uma infração penal, com as finalidades de castigar seu responsável,
readaptá-lo ao convívio em comunidade e, mediante a intimidação endereçada à sociedade, evitar a
a. Princípio da reserva legal ou da estrita legalidade: a pena deve estar prevista em lei vigente
(conforme Código Penal – CP, art. 1º; e Constituição Federal de 1988 – CF/1988, art. 5º, inciso
XXXIX) (Brasil, 1940, 1988). Trata-se de cláusula pétrea. Origina-se da expressão latina nulla
b. Princípio da anterioridade: a lei que contiver a reprimenda já deve estar em vigor à época em
que for praticada a infração penal (conforme CP, art. 1º, e CF/1988, art. 5º, inciso XXXIX) (Brasil,
1940, 1988). Origina-se da expressão latina nulla poena sine previa lege.
responsabilidade pessoal: a pena não pode passar da pessoa do condenado. A pena de multa,
que é considerada dívida de valor para fins de cobrança, não poderá ser exigida dos herdeiros
do condenado falecido. Mostra-se presente, nesse princípio, o caráter retributivo da pena.
(Brasil, 1988).
sob nenhum fundamento, salvo as exceções legais previstas. Ex.: art. 181 do CP (Brasil, 1940).
poena sine culpa. Nesse princípio se mostra embutido seu caráter retributivo.
g. Princípio da humanidade ou da humanização das penas: o agente deve ser tratado de forma
urbana e civilizada durante toda a persecução penal (que abrange o inquérito policial e a ação
penal) e mesmo após sua condenação. Dessa forma, nossa legislação não admite penas
corporais, infamantes, cruéis, bem como de caráter perpétuo (CP, art. 75), salvo a pena de
morte, em caso de guerra declarada (CF/1988, art. 5º, inciso XLVII) (Brasil, 1940, 1988).
h. Princípio da intervenção mínima: a pena se mostra legítima somente nas situações realmente
ULTIMA RATIO
necessárias à tutela do bem jurídico ofendido.
Penas privativas de liberdade: aquelas que tolhem o direito de locomoção do condenado. São
elas: reclusão, detenção e prisão simples (essa última prevista somente em relação às
contravenções penais, conforme Decreto-Lei n. 3.688/1941) (Brasil, 1941a). Nossa legislação não
admite pena de caráter perpétuo. Desse modo, o máximo de tempo de cumprimento de pena
Penas restritivas de direitos: são aquelas que limitam a fruição ou gozo de um ou mais direitos
no art. 43 do CP, bem como na legislação penal especial. No CP, encontramos as seguintes
Pena de multa: prevista no preceito secundário de diversos tipos penais, essa modalidade
acaba por incidir sobre os bens do condenado. É importante diferenciar multa de confisco, pois
este último não é pena, mas, sim, efeito da condenação, conforme CP, art. 91, inciso II (Brasil,
1940).
declarada contra agressão estrangeira, conforme art. 5º, inciso XLVII, alínea a da CF/1988 e as
Ensina Galvão (2007, p. 477) que regimes penitenciários são “[...] categorias jurídicas que definem
o modelo de tratamento punitivo a ser dispensado ao condenado”. Ou, conforme Masson (2020, p.
477), “[...] o meio pelo qual se efetiva o cumprimento da pena privativa de liberdade”.
Cada regime possui regramento específico, tendo em vista disposição constitucional (art. 5º,
inciso XLVIII da CF/1988) determinar a individualização da pena, o que, em última análise, objetiva
preparar o apenado para o retorno à sociedade (Brasil, 1988). Os regimes penitenciários dispensam
tratamentos diferenciados aos apenados considerando a gravidade do delito praticado e a
consequente reprimenda imposta e de acordo com o merecimento do interno – este pode progredir
do regime penitenciário mais severo para o mais brando, ante a possibilidade de concessão de
benefícios.
No art. 33, parágrafo 1º, do CP, estão estabelecidos os regimes de cumprimento de pena,
As penas privativas de liberdade são uma espécie “[...] de sanção penal que retira do condenado
seu direito de locomoção, em razão da prisão por tempo determinado” (Masson, 2020, p. 477).
punições por cometimento de crimes) e prisão simples (esta voltada a punições por contravenções
penais). O regime inicial de cumprimento de pena (fechado, semiaberto ou aberto) será estabelecido
A pena de reclusão ode ser cumprida em qualquer dos regimes penitenciários, devendo ser
Agente primário, com pena superior a oito anos: começa o cumprimento de sua reprimenda
no regime fechado.
Agente primário, com pena superior a quatro anos mas que não exceda a oito anos:
Agente primário, com pena inferior ou igual a quatro anos: iniciará o cumprimento de sua
pena no regime aberto, o mesmo ocorrendo caso seja reincidente, mas a condenação anterior
É possível ser imposto ao condenado primário regime inicial mais grave que o atrelado
Tribunal Federal (STF): “A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada
718/2003: “A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação
idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada” (Brasil,
2003a).
A pena de detenção deve ser cumprida inicialmente em regime semiaberto ou aberto, podendo
regredir, conforme as circunstâncias, para o fechado. Fato é que não poderá o agente condenado à
pena de detenção iniciar seu cumprimento em regime fechado. Detenção é uma forma
temporária de privação de
liberdade, frequentemente
Quanto à escolha do regime inicial de cumprimento de pena, tem-se: utilizada durante investigações
ou antes de julgamentos.
pena igual ou inferior a quatro anos: regime aberto ou semiaberto – nesta última hipótese, se
as circunstâncias judiciais forem desfavoráveis, até porque o STF já decidiu não existir um direito
A pena de prisão simples deve ser cumprida em estabelecimento especial ou seção especial de
prisão comum sem rigor penitenciário (conforme Lei de Contravenções Penais, art. 6º), em regime
semiaberto ou aberto (Brasil, 1941a). Se a sentença penal for omissa quanto ao regime inicial de
cumprimento de pena, opta-se pelo mais favorável ao réu, ou seja, o que lhe for mais brando.
Na prisão simples, o regime inicial de cumprimento de pena pode ser semiaberto ou aberto, mas
jamais fechado, não podendo sequer haver regressão para este regime (na pior das hipóteses, o
sentenciado passa do regime aberto para o semiaberto – eis a diferença entre detenção e prisão
simples).
entrada em vigor da Lei n. 13.964/2019, o Pacote Anticrime (Brasil, 2019), havendo, atualmente, “[...]
várias escalas de valores, variando de 16% até 70% de cumprimento de pena no regime anterior, em
razão da natureza do crime, de eventual resultado morte e do perfil do condenado” (Masson, 2020, p.
486). Em síntese, os patamares de cumprimento de pena para progressão são os seguintes:
16% da pena, tratando-se de apenado primário e de o crime ter sido praticado sem violência
20% da pena, se o condenado for reincidente em crime cometido sem violência ou grave
ameaça à pessoa – a reincidência não precisa ser específica, pois, diante de um cochilo do
legislador, tem-se que, se o agente tiver sido condenado definitivamente por crime cometido
com violência ou grave ameaça à pessoa e, posteriormente, por infração praticada sem violência
ou grave ameaça à pessoa, o patamar de 20% será aplicado para a progressão do regime de
cumprimento de pena;
25% da pena, caso o condenado seja primário e o delito tenha sido praticado com violência ou
30% da pena, se o reeducando for reincidente em crime cometido com violência ou grave
ameaça à pessoa – a reincidência não precisa ser específica, bastando que as infrações tenham
sido cometidas com violência ou grave ameaça à pessoa; por outro lado, conforme
o agente cometeu um crime com violência à pessoa ou grave ameaça (exemplo: roubo), e é
reincidente em delito sem violência à pessoa ou grave ameaça (exemplo: furto), o montante exigido
para a progressão será de 25%. Como ele não é ‘reincidente em crime cometido com violência à
pessoa ou grave ameaça’, e diante da lacuna da lei, deve incidir o percentual mais favorável, previsto
no inciso III.
40% da pena, se o agente for condenado pelo cometimento de crime hediondo ou crime a este
60% da pena, se o condenado for reincidente na prática de crime hediondo, índice que se
aplica em decorrência de duas condenações em face de qualquer crime hediondo ou crime a
70% da pena, se o agente for reincidente em crime hediondo ou crime a este equiparado, com
Se a execução da pena foi iniciada no regime fechado, para a segunda progressão, do regime
semiaberto para aberto, deve ser cumprido o percentual cabível (16%, 20%, 25%, etc.) do restante
da pena, pois ‘pena cumprida é pena extinta’, ou seja, o percentual já pago ao Estado não pode
Nos crimes praticados contra a Administração Pública, para que ocorra a progressão do
outro requisito, conforme art. 33, parágrafo 4º do CP: deve o condenado comprovar a reparação do
dano causado ou a devolução do produto do ilícito praticado, isso acompanhado dos devidos
As penas restritivas de direitos são espécies das chamadas penas alternativas e, como regra, têm
caráter substitutivo, pois na sentença penal condenatória o juiz deverá aplicar a pena privativa de
cabível(eis), segundo art. 54 do CP (Brasil, 1940). Por outro lado, as penas restritivas de direitos são
autônomas, porque, uma vez aplicadas em substituição à pena privativa de liberdade, jamais poderão
ser com ela cumuladas, salvo as hipóteses previstas em lei penal especial, p. ex., o Código de Trânsito
Brasileiro (Brasil, 1997).
Normalmente, uma pena restritiva de direito tem a mesma duração da pena privativa de
liberdade aplicada (conforme art. 55 do CP), exceto nos casos de sua substituição por prestação
pecuniária ou perda de bens e valores, em face do disposto no parágrafo 4º do art. 46 do CP, bem
como em relação àquelas previstas no Código de Trânsito Brasileiro (Brasil, 1940, 1997).
Previstos no art. 44, incisos I, II e III do CP (Brasil, 1940), os requisitos para a aplicação das penas
a. que o crime seja culposo (qualquer que tenha sido a pena fixada) ou, em caso de ele ser
doloso, que não tenha sido praticado mediante violência ou grave ameaça e que a pena
privativa aplicada não seja superior a quatro anos: quanto à violência que impede a
substituição, deve-se considerar aquela praticada contra a pessoa. Assim, se para cometer o
crime o agente agiu com violência contra uma coisa, não há objeção quanto à substituição;
b. que o réu não seja reincidente em crime doloso: caso o agente seja reincidente em crime
culposo, não há qualquer objeção à substituição, porém o art. 44, parágrafo 3º do CP admite a
As regras para a substituição das penas privativas de liberdade por restritivas de direitos são:
se a pena fixada for igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou por
por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas penas restritivas de direitos.
Obs.: nas penas não superiores a dois anos, poderá o juiz optar pela concessão de sursis, caso
entenda ser essa a medida mais adequada à hipótese. Poderá, ainda, apesar da primariedade do réu,
entender que a substituição por multa, por pena restritiva de direitos ou pelo sursis seja insuficiente e,
desse modo, não proceder a essas, mantendo a pena privativa de liberdade em seu regime inicial
importância fixada pelo juiz, não inferior a um salário-mínimo nem superior a 360 salários-mínimos
(Brasil, 1940). O valor será fixado pelo juiz livremente, de acordo com o que for suficiente para a
causados à vítima.
será descontado de eventual condenação em ação de reparação de danos na esfera cível. A prestação
pecuniária não impede a propositura de ação de reparação de danos e, se o pagamento for realizado
a alguma entidade no lugar da vítima ou aos herdeiros desta, não poderá ser realizada a dedução
mencionada.
O art. 17 da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) proíbe, nos crimes praticados mediante
violência doméstica ou familiar contra a mulher, a substituição da pena por prestação pecuniária ou
O art. 45, parágrafo 3º do CP (Brasil, 1940) refere-se à perda de bens móveis ou imóveis ou
delito (o que for maior). Tem por fundamento o art. 5º, inciso XLVI, alínea b da CF/1988 (Brasil, 1988).
A pena não pode recair sobre o patrimônio ilícito do condenado, sendo certo, também, que não
pode alcançar bens de terceiros, haja vista o princípio da personalidade da pena, segundo o art. 5º,
inciso XLV da CF/1988 (Brasil, 1988). Em suma, pode atingir somente os bens que integram o
prestação social alternativa prevista no art. 5º, inciso XLVI, alínea a da CF/1988 (Brasil, 1940, 1988).
Somente é cabível quando o réu é condenado a pena privativa de liberdade superior a seis
meses.
As tarefas são realizadas à razão de 1 hora de tarefa por 1 dia de condenação; mas, se a pena
substituída for superior a 1 ano, é facultado ao condenado cumpri-la em período menor, nunca
inferior à metade da pena originalmente imposta, conforme art. 46, parágrafo 4º, e art. 55 do CP
(Brasil, 1940).
A lei não determina o número de horas semanais de trabalho do condenado, mas estabelece que
não deva haver prejuízo a sua jornada normal. Não há remuneração ao condenado e as tarefas são
Ressalte-se que a pena em tela será estabelecida pelo juiz sentenciante, cabendo ao magistrado
que responde pela vara de execução penal designar em qual entidade será prestado o serviço e,
ainda, determinar a intimação do condenado para cientificar-lhe de local, dia e horário em que deverá
cumprir pena, bem como alterar a forma de execução da pena, ajustando-a às eventuais modificações
ocorridas na jornada de trabalho do sentenciado. Por fim, deve a entidade em que o condenado
presta o serviço informar ao juízo da execução, mensalmente, por meio de relatório detalhado, as
atividades desenvolvidas pelo condenado, como também comunicar sua eventual ausência ou
Consideradas penas restritivas de direitos específicas ou que valem em sentido estrito, pois só
substituem as penas privativas de liberdade impostas pela prática de determinados crimes (salvo a
É prevista, entre outras interdições, a “[...] proibição do exercício de cargo, função ou atividade
pública, bem como de mandato eletivo” (Brasil, 1940), uma pena, portanto, específica, pois só pode
ser aplicada ao crime cometido no exercício efetivo (não eventual) do cargo, profissão, atividade,
ofício, cargo ou função, com violação de deveres inerentes a esse exercício (conforme art. 56 do CP)
(Brasil, 1940). O mandato eletivo, que tem prazo determinado, é exercido pelos integrantes do Poder
Originária da Alemanha, a limitação de fim de semana (art. 48 do CP) vem a ser a obrigação
imposta ao condenado de permanecer aos sábados e domingos, por cinco horas diárias, em casa de
albergado ou outro estabelecimento adequado, em que possam ser ministradas, durante sua
A casa de albergado consiste em prédio situado em centro urbano, separado dos demais
físicos contra fuga, além de instalações adequadas aos serviços de fiscalização e orientação dos
de cada semana de condenação à pena privativa de liberdade substituída. O juiz da execução deverá
determinar a intimação do condenado, cientificando-o do local, dias e horários para o cumprimento
da pena que lhe foi imposta. Trata-se de pena pouco aplicada, na prática, tendo em vista a quase
643). Fixado o número de dias-multa (entre 10 e 360, tomando-se como parâmetro o critério
trifásico previsto no art. 68 do CP: circunstâncias judiciais, atenuantes e agravantes genéricas e
causas de diminuição e de aumento de pena), deverá o juiz estabelecer o valor de cada dia-multa,
nesse caso tendo como parâmetro as condições financeiras do agente. O referido valor não
poderá ser inferior a um trigésimo do salário-mínimo mensal vigente à época do fato, nem superar
cinco vezes esse patamar. Para fixar o valor de cada dia-multa, o juiz se orientará pela situação
econômica do réu, conforme art. 60 do CP (Brasil, 1940).
Para calcular a pena de multa, o juiz utilizará um critério bifásico. Fixado o valor do dia-multa
no teto máximo, este poderá, ante a riqueza do acusado, ser considerado ineficaz, e o juiz poderá até
em dez dias, efetuar o pagamento da multa. Esta pode ser parcelada, conforme as circunstâncias,
desde que haja solicitação para isso. Efetuado o pagamento, o juiz decretará a extinção da pena.
A pena privativa de liberdade não superior a um ano pode ser substituída por multa, segundo art.
44, parágrafo 2º do CP, desde que preenchidos os requisitos do art. 44 do CP (Brasil, 1940).
Caso o condenado não pague a pena de multa, esta se tornará dívida de valor e, de acordo com
a Lei n. 13.964/2019 (Brasil, 2019), o legislador “[...] deixou bem claro o juízo competente para
executar a multa: execução penal. Naturalmente, em ação promovida pelo Ministério Público” (Nucci,
2020, p. 9).
As medidas de segurança são providências de caráter preventivo, que têm por objeto os agentes
aplicadas pelo juiz na sentença, por prazo indeterminado (até a cessação da periculosidade),
objetivando evitar que o agente que praticou um crime e se mostra perigoso venha a cometer novas
infrações.
As medidas de segurança têm como pressupostos:
confirmatório para se impor, contra ele, medida de segurança. Se o laudo pericial afirmar ser o agente
Conforme art. 386, parágrafo único, inciso III do Código de Processo Penal (CPP), o juiz absolverá
o réu quando reconhecer circunstância que o isente de pena, p. ex., a inimputabilidade por doença
mental e a sentença que impõe medida de segurança tem natureza absolutória (Brasil, 1941b).
Como, nesse caso, existe aplicação de medida de segurança, o que, em sentido amplo, não deixa de
ser uma espécie de sanção, a doutrina qualifica essa modalidade de sentença como absolutória
imprópria.
deste, em outro estabelecimento adequado (segundo art. 96, inciso I do CP), sendo essa medida
obrigatória quando a pena imposta for de reclusão. Ela perdurará por tempo indeterminado
uma vez averiguada, por meio de perícia médica, a periculosidade do agente, sendo que
referida perícia deverá ser realizada em prazo que variará de um a três anos ou,
antes de seu término. Estabelecida a medida detentiva, o agente será recolhido a unidade com
características hospitalares (de acordo com art. 99 do CP) e, não havendo vagas no sistema
público, podem ser utilizados hospitais particulares, mas a medida jamais será cumprida em
cadeia pública. Desinternado, o agente poderá ser novamente confinado caso pratique novo
b. De tratamento ambulatorial: sendo o fato punido com detenção, pode o condenado ser
submetido a tratamento ambulatorial (art. 96, inciso II do CP). O tratamento será por tempo
perícia médica a ser realizada após o decurso do prazo estabelecido na sentença, que varia de
um a três anos. Excepcionalmente, conforme determinação do juiz da execução (conforme art.
176 da LEP), a perícia poderá ser realizada antes do término do prazo antes referido (Brasil,
1940, 1984).
É possível, quando o agente praticar crime apenado com detenção, a aplicação de medida de
segurança detentiva, desde que o juiz, após exame criterioso, conclua que a periculosidade do
agente justifica seu internamento. Desse modo, num primeiro momento, a natureza da pena prevista
para o delito praticado norteia o julgador quanto à modalidade da medida de segurança a ser
aplicada.
De acordo com o art. 98 do CP, ao semi-imputável o juiz poderá aplicar a medida de segurança
ou reduzir a pena de um terço a dois terços, vez que aquele possui capacidade de compreensão
reduzida. É o chamado sistema vicariante, que substituiu o antigo duplo binário, pelo qual se
Observe que toca ao diretor do estabelecimento penitenciário em que estiver o agente enviar ao
medida de segurança então imposta. Referido laudo não supre o exame psiquiátrico.
A medida de segurança não pode ser aplicada provisoriamente, ou seja, antes de sentença penal
transitada em julgado.
É de observar, por fim, que, caso o agente tenha revogada sua medida de segurança e, no
intervalo de um ano, venha a praticar algum fato que demonstre sua inclinação à periculosidade,
NA PRÁTICA
Pode alguém ser condenado pela prática de homicídio consumado a pena inferior a seis anos –
pena mínima prevista – e cumpri-la em regime aberto? A resposta é afirmativa! Nos termos do
parágrafo 1º do art. 121 do CP, “Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor
social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço” (Brasil, 1940). Assim, se o Conselho de
Sentença (Tribunal do Júri) reconhecer a ocorrência de qualquer uma destas três hipóteses – relevante
valor social, relevante valor moral ou crime cometido sob o domínio de violenta emoção, logo em
seguida a injusta provocação da vítima –, deverá o magistrado, quando do cálculo da pena, reduzir-
lhe entre um sexto a um terço, tendo como baliza a pena mínima para o homicídio simples: seis anos.
Assim, um terço de seis (pena mínima para homicídio simples) é igual a dois anos; seis anos menos
dois dá igual a uma pena de quatro anos e uma pena de reclusão de até quatro anos pode vir a ser
FINALIZANDO
Após breve estudo da teoria da pena, notamos que há três tipos de pena em nosso sistema:
penas privativas de liberdade (reclusão, detenção e prisão simples), penas restritivas de direitos
(conforme rol previsto no art. 43 do CP) e penas de multa; e três regimes para o início de seu
cumprimento: fechado, semiaberto e aberto (Brasil, 1940). Além disso, os mais importantes princípios
pena e suas características, bem como as medidas de segurança, seus requisitos, forma de aplicação e
manutenção.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Brasília,
_____. Decreto-Lei n. 1.001, de 21 de outubro de 1969. Diário Oficial da União, Brasília, 21 out.
out. 2020.
_____. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro,
_____. Decreto-Lei n. 3.688, de 3 de outubro de 1941. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 3
______. Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984. Diário Oficial da União, Brasília, 13 jul. 1984.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm>. Acesso em: 9 out. 2020.
_____. Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997. Diário Oficial da União, Brasília, 24 set. 1997.
_____. Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Diário Oficial da União, Brasília, 8 ago. 2006.
_____. Lei n. 13.694, de 24 de dezembro de 2019. Diário Oficial da União, Brasília, 24 dez. 2019.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13964.htm>. Acesso
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n. 269, de 22 de maio de 2002. Diário da Justiça,
<https://ww2.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas-
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus n. 84.306, de 6 de março de 2007. Relator:
_____. Súmula n. 718, de 24 de setembro de 2003. Diário da Justiça, Brasília, p. 7, 9 out. 2003a.
_____. Súmula n. 719, de 24 de setembro de 2003. Diário da Justiça, Brasília, p. 7, 9 out. 2003b.
ESTEFAM, A.; GONÇALVES, V. E. R. Direito penal esquematizado: parte geral. 9. ed. Saraiva: São
Paulo, 2020.
GALVÃO, F. Direito penal: parte geral. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2007.
MASSON, C. R. Direito penal: parte geral. v. 1. 14. ed. São Paulo: Método, 2020.
NUCCI, G. de S. Curso de direito penal: – parte geral. v. 1. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020.
_____. Manual de direito penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020.