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Capítulo 9

DIREITO PENAL Em outras palavras, a


contravenção é uma violação de menor
9.1O CONCEITO DO DIREITO PENAL gravidade, quando comparada ao
crime. Portanto, as penas impostas às
Conforme brilhantemente elucida contravenções são menos severas que
Magalhães Noronha, o direito penal “é as penas determinadas para os crimes
o conjunto de normas jurídicas que previstos no Código Penal.
regulam o poder punitivo do Estado,
tendo em vista os fatos de natureza Importante ressaltar que o
criminal e as medidas aplicáveis a quem Código Penal não é a única legislação
os pratica”.1 existente que trata sobre o crime ou
Em outras palavras, o direito delito. Existem outras leis, com caráter
penal caracteriza os crimes e determina especial, conhecidas como leis
as penas, que serão aplicadas, nos extravagantes penais, que dispõem
termos da Lei de Execução Penal (Lei sobre crimes e respectivas penas. Como
Federal nº 7.210 de 1984), quando exemplo, temos o Código de Trânsito
suceder, no mundo, o fato previsto na Brasileiro – CTB (Lei Federal nº 9.503 de
norma penal. 1997) –, a Lei Maria da Penha (Lei
Federal nº 11.340 de 2006) e a Lei de
9.2CRIME, DELITO E CONTRAVENÇÃO Crimes Hediondos (Lei Federal nº 8.072
Primeiramente, convém destacar de 1990).
que, no Brasil, crime e delito são
sinônimos. 9.3FONTES DO DIREITO PENAL
No Brasil, somente a União
Dito isto, em sentido bem Federal tem competência para legislar
genérico, não há diferença entre crime sobre direito penal, conforme
e contravenção. Contudo, no tocante às categoricamente prescreve o inciso I do
consequências penais existem art. 22 da CF 1988.
diferenças pontuais, conforme veremos
a seguir. Portanto, é do Poder Legislativo
da União Federal que decorre a fonte
Quando a descrição de uma de produção do direito penal.
conduta proibida está descrita no
Código Penal (Decreto-lei nº 2.848 de 9.4PRINCÍPIOS QUE ORIENTAM O
1940) tem-se o crime, e, quando é a Lei DIREITO PENAL
de Contravenção Penal (Decreto-lei nº
3.688 de 1941) que descreve a conduta O principal princípio do direito
proibida, tem-se uma contravenção penal intitula-se princípio da legalidade
penal. Desta forma, surgem as ou princípio da reserva legal.
diferenças mais específicas, visto que as
penas para as condutas descritas na Lei Referido princípio está explícito
de Contravenção Penal são somente tanto no inciso XXXIX do art. 5º da CF
duas, quais sejam, prisão simples e quanto no art. 1º do CP da seguinte
multa, sendo que a prisão simples, em forma, respectivamente: “não há crime
nenhuma hipótese, poderá estender-se sem lei anterior que o defina, nem
por mais de cinco anos. pena sem prévia cominação legal” e
“não há crime sem lei anterior que o responsabilidade penal, e estão
defina. Não há pena sem prévia subordinados às normas da legislação
cominação legal”. especial, conforme prediz o art. 228 da
CF.
Em simples palavras, o princípio
da legalidade ou da reserva legal O sujeito passivo do crime é a
determina que só haverá crime e pena, vítima ou o ofendido. Em outras
caso exista previsão na lei. palavras, é a pessoa que sofre a ação
do sujeito ativo.
Outro importante princípio do
direito penal é o princípio do in dubio 9.6 PENAS
pro reo, também conhecido como
princípio do “favor rei”. No direito penal brasileiro
existem três categorias de penas: as
O princípio do in dubio pro reo privativas de liberdade, as restritivas de
implica que, na dúvida, interpreta-se direito e as de multa, conforme
em favor do acusado, pois a garantia da dispõem o caput e incisos do art. 32 do
liberdade e a presunção da inocência CP.
devem prevalecer.
A pena privativa de liberdade
Convergindo neste mesmo retira do sujeito ativo condenado o
sentido está o princípio da direito à liberdade, mantendo-o isolado
irretroatividade da lei penal, o qual da sociedade.
está disposto no inciso XL do art. 5º da
CF nos seguintes termos: “a lei penal Referida pena está prevista no
não retroagirá, salvo para beneficiar o art. 33 do CP e subdivide-se em: pena
réu”. de reclusão e detenção.

Esse último princípio consiste em A pena de reclusão é direcionada


exprimir que a lei penal é irretroativa, aos crimes mais graves. Deve ser
porém poderá retroagir para beneficiar cumprida em regime fechado,
o réu. semiaberto ou aberto.

Sendo assim, em breve exposição, Por sua vez, a pena de detenção


temos alguns dos principais princípios incidirá para os crimes de menor
que norteiam o direito penal. gravidade. Será cumprida no regime
semiaberto ou no regime aberto, salvo
9.5 SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO necessidade excepcional de
DO CRIME transferência ao regime fechado.

O sujeito ativo ou agente é a No regime fechado a execução da


pessoa que pratica o fato considerado pena ocorre em estabelecimento de
na norma jurídica como crime. segurança máxima ou média. Já no
regime semiaberto, a execução da pena
No ordenamento jurídico deverá ocorrer em colônia agrícola,
brasileiro, os menores de 18 anos são industrial ou estabelecimento similar e,
inimputáveis, ou seja, não passíveis de por fim, no regime aberto, a execução
da pena é feita em casa de albergado ocorrer quando a pena tenha duração
ou em estabelecimento adequado, ou inferior a um ano; quando o crime é
ainda, em residência particular quando culposo; quando o réu não é
o condenado possuir mais de 70 anos, reincidente; ou quando a culpabilidade,
doença grave, filho menor de idade ou os antecedentes, a conduta social e a
possuir deficiência física ou mental ou personalidade do condenado, bem
estiver gestante. Além disso, o STJ, por como os motivos e as circunstâncias
sua vez, entende que o condenado a indicarem que essa substituição é
regime aberto deve cumprir a pena na suficiente.
casa do albergado e, na sua falta, ser
colocado em prisão domiciliar. A pena de multa está
determinada no art. 49 do CP. De
O regime aberto pode ser acordo com esse artigo, a multa
aplicado desde o início do “consiste no pagamento ao fundo
cumprimento da pena a condenados penitenciário da quantia fixada na
não reincidentes, cuja pena seja igual sentença e calculada em dias-multa.
ou inferior a quatro anos. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no
máximo, de 360 (trezentos e sessenta)
O condenado ao regime aberto dias-multa. § 1º O valor do dia-multa
deverá, fora do estabelecimento e sem será fixado pelo juiz não podendo ser
vigilância, trabalhar, frequentar curso inferior a um trigésimo do maior salário
ou exercer outra atividade autorizada, mínimo mensal vigente ao tempo do
permanecendo recolhido durante o fato, nem superior a 5 (cinco) vezes
período noturno e nos dias de folga. esse salário”.

A pena restritiva de direitos está Nota-se pela disposição do


disposta no art. 43 do CP. Ela se supramencionado artigo que a
subdivide em: prestação pecuniária, quantidade de dias--multa é fixada pelo
perda de bens e valores, prestação de juiz na sentença, e não pela norma
serviço à comunidade ou a entidades penal.
públicas (para condenações superiores
a seis meses de privação de liberdade), Convém destacar que a pena de
que é feita em entidades assistenciais, multa não pode ser convertida em
interdição temporária de direitos, como privativa de liberdade, pois sua
de dirigir veículo e, por fim, limitação cobrança é feita pela Fazenda Pública.
de fim de semana.
No Código Penal brasileiro, a
Importante destacar que o art. 44 pena de multa foi modificada no
do CP determina que as penas aspecto de sua conversão, isto com o
restritivas de direitos são autônomas e advento da Lei Federal nº 9.268 de
substituem as penas privativas de 1996. Antes desta lei, convertia--se a
liberdade em alguns casos. Compete pena de multa em pena de detenção
citar alguns casos, para melhor quando o condenado solvente deixava
compreensão do leitor, em que as de pagá-la. No entanto, hoje, quando
penas restritivas de direitos poderão não quitada, passa a ser considerada
substituir as penas privativas de dívida de valor, cuja cobrança ocorre
liberdade. Por exemplo, isto poderá segundo a legislação relativa à dívida
ativa da Fazenda Pública (Lei Federal nº As excludentes de ilicitude estão
6.830 de 1980). elencadas no art. 23 do CP. São as
seguintes: estado de necessidade,
Existe ainda a pena de prisão legítima defesa e estrito cumprimento
simples para as contravenções penais, de dever legal ou exercício regular de
que são infrações penais de menor direito.
lesividade. O cumprimento ocorre sem
rigor penitenciário, em Entende-se por estado de
estabelecimento especial ou seção necessidade a existência de perigo
especial de prisão comum, em regime atual e inevitável e a não provocação
aberto ou semiaberto. voluntária do perigo pelo agente. Já a
legítima defesa nada mais é do que a
Sursis é a suspensão condicional ação praticada pelo agente para repelir
da pena, que está fixada no art. 77 do injusta agressão a si ou a terceiro,
CP, nos seguintes termos: “A execução utilizando-se dos meios necessários
da pena privativa de liberdade, não com moderação. No caso de estrito
superior a 2 (dois) anos, poderá ser cumprimento do dever legal, o agente
suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) que cumpre o seu dever proveniente
anos, desde que: I – o condenado não da lei, não responderá pelos atos
seja reincidente em crime doloso; II – a praticados, ainda que constituam um
culpabilidade, os antecedentes, a ilícito penal. No entanto, prescreve o
conduta social e personalidade do parágrafo único do art. 23 do CP que “o
agente, bem como os motivos e as agente, em qualquer das hipóteses
circunstâncias autorizem a concessão deste artigo, responderá pelo excesso
do benefício; III – Não seja indicada ou doloso ou culposo”; em outras
cabível a substituição prevista no art. palavras, em casos nos quais exista
44 deste Código”. excesso por parte do agente, este será
responsabilizado por tal, caso
Depreende-se do referido artigo verificado dolo ou culpa. Por fim, em
que a concessão do sursis está caso de exercício regular de direito,
subordinada à verificação das aquele que exerce um direito garantido
condições preestabelecidas nos por lei não comete ato ilícito.
respectivos incisos.
A culpabilidade consiste na
9.7. CAUSAS QUE EXCLUEM A possibilidade de se considerar alguém
ILICITUDE E CULPABILIDADE culpado pela prática de uma infração
penal. Em outras palavras, na
Inicialmente, cumpre enunciar culpabilidade, afere-se apenas se o
que a excludente de ilicitude ocorre agente deve ou não responder pelo
quando, em uma dada situação, um crime cometido.
indivíduo está autorizado a praticar
uma conduta que, em tese, seria O Código Penal estabelece como
considerada crime. Portanto, em elementos da culpabilidade os
poucas palavras, nas hipóteses de seguintes: a imputabilidade; a potencial
exclusão da ilicitude, não há crime. consciência da ilicitude e a exigibilidade
de conduta diversa.
A imputabilidade é a capacidade I – a reincidência;
de entender e querer. Via de regra,
todos são imputáveis. Entretanto, II – ter o agente cometido o
existem causas de exclusão da crime:
imputabilidade, as quais estão descritas
no caput do art. 26 do CP; por exemplo, a) por motivo fútil ou torpe;
a doença mental, o desenvolvimento
mental incompleto ou retardado. b) para facilitar ou assegurar a
execução, a ocultação, a impunidade
A potencial consciência da ou vantagem de outro crime;
ilicitude ocorre quando o agente tem
condições suficientes para saber que o c) à traição, de emboscada, ou
fato praticado está juridicamente mediante dissimulação, ou outro
proibido e que é contrário às normas recurso que dificultou ou tornou
mais elementares que regem a impossível a defesa do ofendido;
convivência. Contudo, como causa de
excludente, temos o erro de proibição. d) com emprego de veneno, fogo,
Como exemplo deste, podemos citar a explosivo, tortura ou outro meio
tradição dos índios de matar crianças insidioso ou cruel, ou de que podia
deficientes; isso ocorre porque, para os resultar perigo comum;
índios, o fato de matar crianças
deficientes não é visto como crime, e) contra ascendente,
como homicídio, mas sim como um descendente, irmão ou cônjuge;
fator cultural.
f) com abuso de autoridade ou
A exigibilidade de conduta diversa prevalecendo-se de relações
é verificada pela expectativa social de domésticas, de coabitação ou de
um comportamento diverso do que foi hospitalidade, ou com violência contra
adotado pelo agente. São causas de a mulher na forma da lei específica;
excludente a coação moral irresistível e
a obediência hierárquica. g) com abuso de poder ou
violação de dever inerente a cargo,
9.8 CIRCUNSTÂNCIAS AGRAVANTES E ofício, ministério ou profissão;
ATENUANTES DA PENA
As circunstâncias agravantes, em h) contra criança, maior de 60
outras palavras, que aumentam a (sessenta) anos, enfermo ou mulher
condenação, estão estabelecidas nos grávida;
arts. 61 e 62 do CP.
i) quando o ofendido estava sob a
Para melhor compreensão do imediata proteção da autoridade;
assunto, convém expor literalmente o
art. 61 do CP em sua íntegra. In verbis: j) em ocasião de incêndio,
naufrágio, inundação ou qualquer
Art. 61. São circunstâncias que calamidade pública, ou de desgraça
sempre agravam a pena, quando não particular do ofendido;
constituem ou qualificam o crime:
l) em estado de embriaguez e) cometido o crime sob a
preordenada. influência de multidão em tumulto, se
não o provocou.
Ademais, o art. 63 do CP
conceitua a agravante reincidência da Outrossim, dispõe o art. 66 do CP:
seguinte forma: “Verifica-se a “A pena poderá ser ainda atenuada em
reincidência quando o agente comete razão de circunstância relevante,
novo crime, depois de transitar em anterior ou posterior ao crime, embora
julgado a sentença que, no País ou no não prevista expressamente em lei”.
estrangeiro, o tenha condenado por
crime anterior”. Ante o exposto, estão pontuadas
todas as circunstâncias agravantes e
As circunstâncias atenuantes, ou atenuantes da pena.
seja, que reduzem a pena, estão
dispostas nos incisos I, II e II, da alínea a 1NORONHA, Edgar de Magalhães.
até a alínea e do art. 65 do CP, nos Direito penal. 20. ed. São Paulo:
termos seguintes: Saraiva, 1982. p. 12.

I – ser o agente menor de 21


(vinte e um), na data do fato, ou maior Disposições criminais na
de 70 (setenta) anos, na data da Constituição Federal, art. 5º:
sentença; “XXXIX - não há crime sem lei anterior
que o defina, nem pena sem prévia cominação
II – o desconhecimento da lei; legal;
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para
beneficiar o réu;
III – ter o agente: XLI - a lei punirá qualquer discriminação
atentatória dos direitos e liberdades
a) cometido o crime por motivo fundamentais;
de relevante valor social ou moral; XLII - a prática do racismo constitui
crime inafiançável e imprescritível, sujeito à
pena de reclusão, nos termos da lei;
b) procurado, por sua espontânea XLIII - a lei considerará crimes
vontade e com eficiência, logo após o inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia
crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as a prática da tortura, o tráfico ilícito de
consequências, ou ter, antes do entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os
definidos como crimes hediondos, por eles
julgamento, reparado o dano; respondendo os mandantes, os executores e os
que, podendo evitá-los, se omitirem;
c) cometido o crime sob coação a XLIV - constitui crime inafiançável e
que podia resistir, ou em cumprimento imprescritível a ação de grupos armados, civis
de ordem de autoridade superior, ou ou militares, contra a ordem constitucional e o
Estado Democrático;
sob a influência de violenta emoção, XLV - nenhuma pena passará da pessoa
provocada por ato injusto da vítima; do condenado, podendo a obrigação de reparar
o dano e a decretação do perdimento de bens
d) confessado espontaneamente, ser, nos termos da lei, estendidas aos
perante a autoridade, a autoria do sucessores e contra eles executadas, até o
limite do valor do patrimônio transferido;
crime; XLVI - a lei regulará a individualização da
pena e adotará, entre outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens; LXII - a prisão de qualquer pessoa e o
c) multa; local onde se encontre serão comunicados
d) prestação social alternativa; imediatamente ao juiz competente e à família
e) suspensão ou interdição de direitos; do preso ou à pessoa por ele indicada;
XLVII - não haverá penas: LXIII - o preso será informado de seus
a) de morte, salvo em caso de guerra direitos, entre os quais o de permanecer
declarada, nos termos do art. 84, XIX; calado, sendo-lhe assegurada a assistência da
b) de caráter perpétuo; família e de advogado;
c) de trabalhos forçados; LXIV - o preso tem direito à identificação
d) de banimento; dos responsáveis por sua prisão ou por seu
e) cruéis; interrogatório policial;
XLVIII - a pena será cumprida em LXV - a prisão ilegal será imediatamente
estabelecimentos distintos, de acordo com a relaxada pela autoridade judiciária;
natureza do delito, a idade e o sexo do LXVI - ninguém será levado à prisão ou
apenado; nela mantido, quando a lei admitir a liberdade
XLIX - é assegurado aos presos o provisória, com ou sem fiança;
respeito à integridade física e moral; LXVII - não haverá prisão civil por dívida,
L - às presidiárias serão asseguradas salvo a do responsável pelo inadimplemento
condições para que possam permanecer com voluntário e inescusável de obrigação
seus filhos durante o período de amamentação; alimentícia e a do depositário infiel;
LI - nenhum brasileiro será extraditado, LXVIII - conceder-se-á "habeas-
salvo o naturalizado, em caso de crime comum, corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar
praticado antes da naturalização, ou de ameaçado de sofrer violência ou coação em sua
comprovado envolvimento em tráfico ilícito de liberdade de locomoção, por ilegalidade ou
entorpecentes e drogas afins, na forma da lei; abuso de poder;
LII - não será concedida extradição de ”
estrangeiro por crime político ou de opinião;
LIII - ninguém será processado nem
sentenciado senão pela autoridade
Introdução ao Estudo do Direito
competente; Paulo Nader
LIV - ninguém será privado da liberdade
ou de seus bens sem o devido processo legal; 201.DIREITO PENAL
LV - aos litigantes, em processo judicial Direito Penal é o ramo do Direito
ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa,
Público que define os crimes,
com os meios e recursos a ela inerentes; estabelece as penalidades
LVI - são inadmissíveis, no processo, as correspondentes e dispõe sobre as
provas obtidas por meios ilícitos; medidas de segurança. Na definição de
LVII - ninguém será considerado culpado Mezger “é o conjunto de normas
até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória;
jurídicas que regulam o poder punitivo
LVIII - o civilmente identificado não será do Estado, ligando ao delito, como
submetido a identificação criminal, salvo nas pressuposto, a pena como
hipóteses previstas em lei; consequência”.10 A missão deste ramo,
LIX - será admitida ação privada nos na visão de René Ariel Dotti, “consiste
crimes de ação pública, se esta não for
intentada no prazo legal;
na proteção de bens jurídicos
LX - a lei só poderá restringir a fundamentais ao indivíduo e à
publicidade dos atos processuais quando a comunidade”.11 Além da denominação
defesa da intimidade ou o interesse social o Direito Penal, a mais divulgada
exigirem; atualmente, esse ramo é também
LXI - ninguém será preso senão em
flagrante delito ou por ordem escrita e
designado por Direito Criminal.
fundamentada de autoridade judiciária Enquanto a primeira denominação faz
competente, salvo nos casos de transgressão referência à consequência jurídica a
militar ou crime propriamente militar, definidos que está sujeito o autor do crime, a
em lei;
segunda se reporta ao conceito nuclear essenciais ao bem-estar da
do ramo, que é o crime. Alguns autores coletividade. Por esse motivo o Código
criticam a expressão Direito Penal, por Penal é considerado, por alguns, como
não abranger uma parte importante o código moral de um povo e o ilícito
desse ramo, que são as medidas de penal é referido, às vezes, como ilícito
segurança. Outros nomes foram moral. Giulio Battaglini explica as
sugeridos: Direito Repressivo (Puglia); razões: “enquanto nos demais ramos
Direito Restaurador ou Sancionador do Direito a Moral é, antes de mais
(Valdés); Direito de Defesa Social nada, critério de valoração (com
(Martinez); Direito Protetor dos exceção da instituição do matrimônio
Criminosos (Dorado Montero) etc. que, no Direito Civil, é regulada por leis
de ética natural), no Direito Penal o
Antes de atingir a atual fase, em conteúdo material do preceito se
que o titular dos jus puniendi é o constitui principalmente de normas
Estado, o Direito Penal passou por morais (direito natural).”
diversas etapas: a) vingança privada; b)
composição voluntária; c) composição Quanto às infrações penais, os
legal; d) repressão do Estado. sistemas jurídicos apresentam dois
Primitivamente, a vítima ou seus critérios básicos. Alguns países, como a
familiares reagiam à lesão do direito, Alemanha, França e Bélgica, adotam
pela própria força (v. item 193). Na fase uma divisão tricotômica: crime, delito e
da composição voluntária a vítima contravenção, cujos conceitos se
entrava em acordo com o criminoso e distinguem apenas sob o aspecto de
trocava o seu perdão por uma gravidade do ilícito. Nesse sistema, o
compensação econômica. delito é infração mais grave do que a
Posteriormente, esse critério de contravenção e mais leve do que o
composição, instituído naturalmente crime. Em outros países, como o nosso,
pelas partes, foi adotado pelas adota-se apenas uma divisão
legislações, que impunham ao infrator dicotômica: crime ou delito e
um pagamento à vítima. Finalmente, no contravenção. Não há uma distinção
período de humanização do direito, ontológica entre crime e contravenção.
para o qual César Beccaria (1738-1794) O critério é o quantitativo. Daí Nélson
contribuiu decisivamente, com a sua Hungria haver cognominado a
obra Dei Delitti e delle Pene, o Estado contravenção por “crime anão”. A
detém o monopólio do direito de punir distinção maior é quanto às penas e o
e o faz mediante critérios científicos seu cumprimento.
que objetivam, de um lado, a
intimidação e, de outro, a readaptação O ponto maior de convergência
social do criminoso. da Dogmática Penal reside no conceito
de crime e seus elementos
A Moral, que exerce grande constitutivos. Costuma ser definido
influência em toda a árvore jurídica, como ação humana, típica, ilícita e
manifesta-se de uma forma mais culpável. A) Ação Humana: somente o
intensa no ramo penal. Ao definir as homem possui responsabilidade
infrações, a Dogmática Penal lida com o criminal. As pessoas jurídicas não
mínimo ético, ou seja, com os podem ser sujeito ativo do crime. A
princípios morais mais relevantes e responsabilidade criminal é apenas a de
seus dirigentes. Nem os irracionais, conceito de crime. O penalista italiano
como se admitia outrora, são Giulio Battaglini defendeu-a, mas
imputáveis. Não obstante, em nosso prevalece, contudo, a opinião contrária,
País, a Lei nº 9.605/98 prevê a e o argumento mais forte foi
responsabilidade criminal da pessoa apresentado por Sauer, ao afirmar que
jurídica que, sob determinadas o crime é o pressuposto da pena, ou
condições, agride o meio ambiente. As seja, esta é o efeito jurídico da prática
penas previstas são restritivas de do crime.
direitos. Os requisitos básicos para a
responsabilidade penal são: idade
mínima de dezoito anos e
discernimento. B) Típica: a tipicidade
consiste no fato de a ação praticada
enquadrar-se em um modelo de crime
definido em lei. Prevalece, no Direito
Penal, o princípio de estrita legalidade:
nullum crimen, nulla poena, sine lege
(não há crime e nem há pena sem lei).
Este é um princípio de vital importância
para a segurança jurídica dos
indivíduos. Como decorrência lógica,
não se admite a analogia em matéria
penal para efeito de enquadramento da
conduta em tipos de crime e fixação de
penas. Discute-se a respeito da
aplicação da analogia in bonam partem
que favorece ao acusado. Rocco,
Bettiol, Delitala e outros admitem-na,
enquanto Nélson Hungria, Von Hippel,
Asúa e outros a ela se opõem. C) Ilícita:
a ação praticada é contrária ao Direito.
O antijurídico penal pressupõe sempre
a tipicidade. D) Culpabilidade: é o
elemento subjetivo da ação. Para haver
crime é necessário que o agente da
ação tenha agido intencionalmente ou
com imprudência, negligência ou
imperícia. Chama-se crime doloso o
praticado com deliberação e vontade;
culposo, quando não desejando
conscientemente o resultado da ação, o
agente não o impede. Em matéria
penal, portanto, não há qualquer
aplicação da teoria objetiva da
responsabilidade ou da
responsabilidade sem culpa. Questiona-
se quanto à inclusão da punibilidade no

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