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ILICITUDE ................................................................................................................................. 81
CULPABILIDADE...................................................................................................................... 100
Para o autor, o Direito Penal tem uma dupla função ou dulpa missão:
a) Primeira missão - ético-social: o Direito Penal tem por finalidade amparar os valores
fundamentais elementares da vida em sociedade. O Direito Penal não quer proteger, em um
primeiro momento, bens jurídicos, e sim os valores sociais, de modo a criar na mente das pessoas
uma função pedagógica: fazer com que as pessoas ajam de acordo com as normas jurídicas, dentro
da sociedade organizada;
b) Segunda missão – protetiva: num segundo momento, o Direito Penal tem como função
proteger bens jurídicos.
2. Jakobs
O Direito Penal não tem por finalidade amparar ou proteger bens jurídicos, e sim reafirmar
a vigência da norma, ou seja, confirmar o reconhecimento da vigência da norma.
Ex.: quando alguém mata outrem, ele viola a norma que diz é proibido matar (art. 121, CP).
O agente nega a vigência da norma (“pra mim, essa norma não vale”). A partir daí, surge o Direito
Penal para reafirmar a vigência da norma.
Em suma, com a prática do crime, o agente nega a vigência da norma. O direito Penal surge
para, perante a coletividade, reafirmar a vigência da norma: “olha, sociedade, aquele agente violou
a vigência da norma; por isso, eu Direito Penal estou aplicando uma pena a ele para demonstrar que
a norma continua em vigor, então podem continuar vivendo a vida de vocês normalmente”.
Portanto, segundo Jakobs, o Direito Penal seria a negação da negação do agente. Isso
porque, quando o agente pratica um crime, ele nega a vigência da norma. Por sua vez, o Direito
Penal incide e nega a negação do agente, reafirmando a vigência da norma.
3. Vertente Brasileira – GRECO
Para a vertente brasileira, o Direito Penal tem como função proteger bens jurídicos. Mas
todos os bens jurídicos? Não, o Direito Penal protege apenas um fragmento dos bens jurídicos;
apenas os bens mais elementares e importantes para a vida em coletividade (vida, patrimônio,
administração, honra e etc).
A tarefa de escolher os bens jurídicos que serão protegidos é do legislador, orientado pelos
princípios da fragmentariedade, intervenção mínima e subsidiariedade. Diante disso, o legislador
vai selecionar os bens mais importantes para a vida em coletividade.
Mas como o Direito Penal ou o legislador faz isso (protege os bens jurídicos)?
Através de um instrumento legislativo chamado TIPO PENAL com dois preceitos. O preceito
primário é uma conduta e o preceito secundário é a sanção penal.
Obs.: Numa prova objetiva, adote a posição da doutrina brasileira, de Rogério Greco. Na
prova discursiva ou oral, cite as três vertentes.
1.1. Legalidade
I – Origem: na Idade média, vigorava o sistema das ordálias - o agente caminhava sobre
brasas ardentes; se o pé dele queimasse, ele era culpado; se não queimasse, ele era inocente.
Por sua vez, no Absolutismo, vigorava a Teoria do Direito Divino, segundo a qual, o rei era
escolhido por Deus, logo, ele só respondia perante Deus. O rei reunia as funções da legalidade e da
Justiça. Portanto, o Direito Penal era aquilo que o rei queria.
Feruerbach então começou a questionar os abusos do Direito Penal, no séc. XIX, e buscou na
Magna Carta de 1215 todo o fundamento do Direito Penal, à luz do princípio da legalidade. A Carta
Magna, que visava conter o abuso de poder do rei, dizia que nenhum homem livre será detido nem
preso e nem despojado de sua propriedade, de suas liberdades e livres usos, nem perturbado de
maneira alguma, a não ser em virtude de um juízo legal de seus pares e segundo as leis do país.
Portanto, surge uma obrigação por parte do rei de só criar crimes e penas por meio de LEIS.
Feuerbach trouxe isso pro Direito Penal e enxergou a necessidade de se criar o Direito Penal
a partir de normas previstas em Lei. O direito Penal passa então a ser uma ciência dogmática e
organizada. Surge a expressão nullum crimen, nullum poena sine legem.
Art. 5º, XXXIX, CF - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal;
Art. 1º, CP - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia
cominação legal.
III – Roxin: segundo ele, o Direito Penal surge como fator de contenção dos abusos do Estado.
Em suas palavras: o princípio da legalidade é um instrumento que protege o cidadão do próprio
Direito Penal.
V – Finalidade: o princípio da legalidade serve para trazer segurança jurídica. Com o princípio
da legalidade, eu posso fazer tudo aquilo que a lei não proíbe. Por outro lado, se eu fizer algo
proibido por lei, eu posso ser punido.
VI – Nullum crimen, nulla poena sine lege: o axioma possui quatro vertentes:
a) PRAEVIA: proibição da retroatividade da lei penal (art. 5, XL, CF). Temos aqui o princípio
da irretroatividade da lei penal mais severa. Nenhuma lei pode retroagir em prejuízo do acusado, a
fim de conferir segurança jurídica não apenas ao réu, mas para toda a coletividade.
Isso vem exposto na Súmula 471 do STJ: os condenados por crimes hediondos ou
assemelhados cometidos antes da vigência da Lei n 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art.
122 da Lei n 7.210/84 (LEP) para a progressão de regime prisional.
b) SCRIPTA: todo crime e toda pena tem que estar escrito no papel, como já previa a Magna
Carta. Mais uma vez, o fundamento é a segurança jurídica. A consequência é a proibição de criação
de crimes e penas por meio de costumes. Em outras palavras, só a lei escrita pode prever crimes e
penas.
Assim, os costumes não podem criar e nem revogar crimes e penas. Todavia, os costumes
servem como fonte hermenêutica, ou seja, servem como fonte de interpretação. Ex.: art. 155, §1º,
CP – furto praticado durante o repouso noturno. O repouso noturno vai ser definido pelos costumes
locais, porque o repouso noturno de São Paulo não é o mesmo repouso noturno de Coroatá/MA.
ATENÇÃO – Casa de prostituição e adequação social: o STF entendeu no Info 615 que NÃO
compete ao órgão julgador descriminalizar conduta tipificada formal e materialmente pela
legislação penal. Segundo a defesa, o caráter criminoso do fato estaria superado por força dos
costumes. O STF entendeu que se há norma escrita criminalizando o fato, os costumes não podem
revogar o crime.
Obs.: Jogo do bicho: o STJ entende que o jogo do bicho continua sendo contravenção,
porque não se admite que uma lei possa perecer pelo desuso (REsp 30.705/SP).
Por isso, uma conduta parecida não é típica, porque não se adequa perfeitamente ao tipo
penal. Ex.: Art. 172, CP – o tipo fala em duplicata; se eu falsifico uma nota promissória, não pratico
o crime, porque, apesar de nota promissória e duplicata serem títulos de crédito parecidos, não são
iguais, logo, não há adequação típica perfeita.
ATENÇÃO – Associação para o tráfico não é equiparado a hediondo: o STJ entende que o
crime de associação não é hediondo e nem equiparado, porque não se encontra no rol taxativo legal
dos crimes hediondos e equiparados.
Da mesma forma, o crime de homicídio qualificado privilegiado não é crime hediondo, por
falta de previsão legal, ie, não integra o rol taxativo dos crimes hediondos.
CUIDADO - Hibridismo penal: está ligado ao concurso de pessoas nos crimes patrimoniais.
O concurso de pessoas no furto é uma qualificadora, aumentando a pena de 2 a 8 anos. A
qualificadora é aplicada na primeira fase na dosimetria da pena, então, a pena base já começa em
2 anos. Por sua vez, no roubo, o concurso de pessoas funciona como uma causa de aumento de
pena, de 1/3 até 1/2. Diante disso, questiona-se: é possível aplicar o concurso de pessoas como
causa de aumento ao crime de furto, e não como qualificadora?
Se fosse possível, a pena do furto ficaria menor, porque ainda que a fração máxima de 1/2
fosse aplicada na pena mínima do furto simples, 1 ano, a pena ficaria em 1 ano e 6 meses, logo a
pena ficaria menor que 2 anos, patamar inicial do furto qualificado. Ora, aqui eu teria analogia in
bonam partem, porque melhoraria a situação do acusado.
Todavia, o STF chamou isso de hibridismo penal, e negou essa possibilidade analogia, porque
segundo o STF, a analogia pressupõe omissão legal. Ocorre que há previsão legal expressa de furto
qualificado pelo concurso de pessoas. Ora, se não há lacuna na lei, não cabe analogia (Info 499 e
Info 501).
O STJ sedimentou o tema na Súmula 442: É inadmissível aplicar, no furto qualificado pelo
concurso de agentes, a majorante do roubo.
d) CERTA: a lei penal deve ser clara, certa, precisa, proibindo-se conceitos vagos e
imprecisos. Ex.: Adultério – a lei falava apenas que era crime cometer adultério, mas não dizia no
que consistia o adultério. Beijo na boca fora do casamento é adultério? A doutrina se dividia, logo,
havia muita insegurança jurídica. Ao fim, o crime acabou sendo revogado.
Ex.2: Art. 4, Lei 7.492/86: gerir fraudulentamente instituição financeira. O que é gerir
fraudulentamente? Da mesma forma, o parágrafo único do mesmo dispositivo fala em gestão
temerária, mas não diz no que isso consiste. A lei é muito vaga e imprecisa.
Ex.3: art. 5, Lei Antiterrorismo: a lei fala que é crime praticar atos preparatórios, mas não
explica o que é isso.
VII – Medida provisória: MP pode prever crime e pena? Medida provisória não é lei, mesmo
que tenha força de lei. Por isso, o art. 62, §1º, I, b, CF, proíbe expressamente a edição de medida
provisória relativa a Direito Penal.
I - relativa a:
Por outro lado, uma segunda corrente, minoritária, entende que a CF e o CP não abrangem
expressamente medida de segurança, logo, por uma intepretação literal, não se aplica o princípio
da legalidade às medidas de segurança.
Por sua vez, uma segunda corrente, minoritária, entente que não se aplica o princípio,
porque a medida de segurança tem finalidade de tratamento curativo, logo, pressupõe-se que a
nova lei traz um tratamento mais eficaz, que merece, portanto, ser aplicado desde logo (Hungria).
1ª fase - Cominação: feita pelo legislador ao estipular uma pena mínima e máxima na lei
penal incriminadora. Quando o legislador fixa a pena do furto em 1 a 4 anos, está individualizando
a pena. Diante do roubo, o legislador entende que é um crime mais grave, porque há violência ou
ameaça, então a pena cominada é maior que a de furto.
3ª fase – Execução da pena: feita pelo julgador da Execução Penal, na fase do cumprimento
da pena, concedendo progressão de regime, livramento condicional, reconhecer a remissão da pena
pelo trabalho ou pelo estudo.
II – Crimes hediondos: a lei 8072/90 previa que os condenados por crimes hediondos e
equiparados cumpririam a pena em regime integralmente fechado. Ocorre que regime de pena faz
parte da individualização da pena, e a CF manda individualizar a pena; vem a lei e diz que a pena
para todos deve ser integralmente fechado. Diante disso, o regime integralmente fechado viola a
individualização da pena?
Para a primeira corrente, SIM, porque a CF manda individualizar a pena de acordo com cada
réu, e a lei está generalizando. Logo, o regime integralmente fechado é INCONSTITUCIONAL (Zaffa).
Porém, uma segunda correte entendia que NÃO havia violação do princípio da
individualização da pena, porque a CF determina que a lei regulará a individualização da pena. Ora,
foi o que a lei dos crimes hediondos fez: regulou a individualização, impondo regime fechado para
todos. Ademais, a lei teria obedecido o princípio na fase da cominação (Greco).
Após, houve a Reclamação 4335 junto ao STF, quando, finalmente, foi dado efeito ultra
partes para a declaração de inconstitucionalidade do regime integralmente fechado.
Ocorre que, para serem coerentes com o STF, todos os Tribunais começaram a adotar a tese
do STF, no HC 82.959, declarando a inconstitucionalidade do regime integralmente fechado.
Obs.: Teoria do Comércio entre Juízes (Garapon): para essa teoria, a ordem jurídica de um
país soberano pode ser aplicada em outro país soberano sem que isso fira a soberania daquele país.
Como regra geral, não é possível aplicar o diploma de outro país no Brasil, em respeito à soberania.
Porém, para Garapon, seria possível a aplicação do diploma estrangeiro, sem violação da soberania
nacional, desde que a ordem jurídica estrangeira seja mais eficaz. Assim, seria possível utilizar a
previsão legal alemã de que o controle difuso tem efeitos erga omnes e aplicar no Brasil. Mas
ninguém falou nisso ao tempo da decisão inicial do STF no HC82.959.
Depois disso, o legislador alterou a lei e passou a prever o regime INICIALMENTE FECHADO,
ao invés de integralmente fechado. Assim, a lei está até hoje (Lei 11.464/07).
Ora, a lei continuou inconstitucional, porque continuou impondo o mesmo regime para
todos, de forma genérica, impedindo, por conseguinte, a individualização da pena. Com efeito, na
sentença, após aplicar a pena, o juízo fica impedido de impor regime distinto do fechado. Por isso,
o STF e o STJ reconheceram a inconstitucionalidade da Lei mais uma vez. O STF, no Info 672, e o STJ,
no HC 384.773.
III – Lei de Drogas: no art. 33, §4º, a Lei prevê a redução de pena de 1/6 a 2/3, mas veda a
substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, assim, como o art. 44. Por isso,
nenhum condenado por tráfico de drogas poderia usufruir da substituição por restritiva de direitos.
Ora, se a previsão legal é genérica, impede que o juízo aplique no caso concreto a
substituição da PPL por PRD. Por conseguinte, viola o princípio constitucional da individualização da
pena.
Por isso, o STF entendeu no Info 604 pela inconstitucionalidade do art. 44 e 33, §4º, Lei de
Drogas, no que toca à vedação de substituição da PPL por PRD, por violar o princípio da
individualização da pena. Não apenas isso, mas o STF comunicou sua decisão ao Senado, que editou
a Resolução nº 5/2012, SUSPENDENDO o art. 33, §4º, LD, na parte que proíbe a substituição, em
respeito à decisão do STF (esqueceu de suspender o artigo 44 também, mas mesmo assim continua
valendo a jurisprudência do STF e do STJ).
1.3. Culpabilidade
É um princípio constitucional implícito. Segundo Santiago Mir Puig, a culpabilidade é um
princípio genérico que possui três vertentes:
b) Elemento medidor da aplicação da pena: segundo Beccaria, para aplicar a apena, o juízo
deve achar a pena justa, necessária e suficiente. Nesse sentido, a culpabilidade funciona como
fundamento e limite da pena, prevista no art. 59 do CP, consistindo em um juízo de reprovação
pessoal.
ATENÇÃO – Versare in re illicita: consistia numa fórmula que pregava ser o agente
responsável por todas as consequências de seus atos, incluídas as decorrentes de caso fortuito.
Ocorre que, no caso fortuito, não há dolo e nem culpa. Por essa razão, essa fórmula não tem mais
aplicabilidade.
i) Art. 73, §2º, Lei 4728/65 (disciplina o mercado de capitais): segundo esse dispositivo, em
caso de pessoa jurídica, a responsabilidade penal recairá sobre todos os seus diretores. Ora, esse
artigo estabelece responsabilidade penal coletiva e objetiva. Por isso, o dispositivo é
inconstitucional.
ii) Art. 3, Lei de Contravenções Penais: diz que quando a lei exigir, deve-se perquirir dolo e
culpa do agente, ou seja, segundo a lei, o dolo e a culpa só seriam verificados quando a lei exigir.
Ora, em qualquer hipótese, sempre se deve perquirir dolo ou culpa, independentemente de a lei
exigir ou não, sob pena de se incidir em responsabilidade objetiva.
ATENÇÃO – Homicídio culposo no trânsito (art. 302, CTB): o MP diz que o agente estava na
direção do veículo automotor e matou a vítima. Segundo o STJ, não basta dizer que o agente estava
na direção do veículo do automotor. A denúncia deve narrar no que consistiu a culpa, descrevendo
no que consistiu a violação do dever de cuidado, sob pena de inépcia e configuração de
responsabilidade penal objetiva (Info 553).
Por essa razão, o Direito Penal deve intervir o mínimo possível na vida das pessoas.
Obs.: O contrário disso é o Direito Penal máximo, que não é aceito no Brasil.
Em suma, o Direito Penal intervém na última fase do controle social, ou seja, se aquele bem
jurídico pode ser tutelado no âmbito de outro Direito (civil, administrativo, tributário...), deve-se
evitar o Direito Penal. Antes de se recorrer ao Direito Penal, devem-se esgotar todos os meios
extrapenais de controle social. Isso porque o Direito Penal não é a prima ratio, e sim a ultima ratio.
1.6. Subsidiariedade
1.7. Insignificância
I – Introdução: O Direito Penal tem por finalidade a proteção de bens jurídicos, de modo que
só haverá a intervenção do Direito Penal, quando há lesão a um bem jurídico por ele protegido. Há
situações em que realmente há lesão a um bem jurídico, mas a lesão não é significativa a ponto de
justificar a intervenção do Direito Penal. Nesses casos, aplica-se o princípio da insignificância.
III – Consequência: a conduta se adequa ao tipo penal, ou seja, ela tem tipicidade formal
(adequação perfeito da conduta do agente ao tipo penal), mas não há tipicidade material. Logo, a
incidência do princípio da insignificância afasta a tipicidade material da conduta, tornando o fato
ATÍPICO.
Parte da doutrina entende que o princípio da insignificância não pode ser aplicado pelo
julgador, e que somente o legislador poderia prever tais situações. Tanto é assim que o legislador
previu infrações de menor potencial ofensivo, aplicando regime mais brando e específico. Todavia,
a doutrina majoritária entende pela aplicação do princípio pelo julgador, em determinadas
situações.
Os requisitos do STF dizem tudo e nada ao mesmo tempo, porque é pura tautologia. Ora, se
a conduta tem mínima ofensividade, a lesão é inexpressiva, do mesmo modo que a periculosidade
é ausente e o grau de reprovabilidade é mínimo.
Uma pessoa foi detida, porque furtou um saco de biscoito do mercado. Há uma lesão
significativa ao patrimônio do mercado? Claro que não. Diante disso, o delegado de polícia poderia
deixar de lavrar o APF?
O STJ entende que NÃO. No Info 441, o STJ decidiu que no momento em que toma
conhecimento de delito, a autoridade policial tem o dever de agir e efetuar o ato prisional. O juízo
acerca da incidência do princípio da insignificância é realizado apenas em momento posterior pelo
Poder Judiciário. Logo, o delegado NÃO pode deixar de lavrar o APF com base no princípio da
insignificância.
Obs.: Todavia, há um Enunciado, nº 10, do Congresso Jurídico dos Deltas RJ, asseverando
que o delegado pode, mediante decisão fundamentada, deixar de lavrar o APF, justificando o
afastamento da tipicidade material com base no princípio da insignificância, sem prejuízo de
eventual controle externo.
VI – Crimes no âmbito de violência doméstica contra a mulher: a Súmula 589 do STJ enuncia
que não se aplica o princípio da insignificância aos crimes e contravenções penais praticados contra
a mulher em contexto de violência doméstica.
TEORIA DA NORMA
1. Norma e Lei
Por sua vez, norma é aquilo que se retira da lei. A lei não traz norma, ela traz o dispositivo.
A norma é abstraída da leitura da lei. Portanto, a norma é fruto da interpretação da lei.
Em outras palavras, a lei é apenas o veículo da norma. O legislador cria a norma e usa a lei
como ferramenta para publicar a norma.
Diante disso, é possível dizer que a norma penal é a proibição ou o mandamento contido na
lei. Nesse sentido, Belling dizia que quando o agente comete um crime, ele não viola a lei; ele viola
a norma. Ex.: A lei é “matar alguém”, a norma é “é proibido matar”. Portanto, o agente age de
acordo com a lei, mas contrário à norma. O agir conforme a lei é justamente a tipicidade formal.
a) Permissivas justificantes: a norma não incrimina, na verdade, ela permite agir. São as
causas de exclusão da ilicitude.
c) Explicativas: elas explicam o conteúdo de alguma outra norma. O art. 150, §4º, CP, diz que
o se considera domicílio para o crime de invasão de domicílio.
d) Complementares: não incrimina, não permitem, não explicam, mas são normas que dizem
como se aplicam as outras normas. Ex.: art. 68 e art. 59 – aplicação da pena.
Há duas hipóteses:
Para a primeira hipótese, conduta e resultado ocorreram ao mesmo tempo. Ex.: A atira em
B, e B morre na mesma hora. Nesse caso, o momento em que o crime é considerado praticado é
exatamente o dia da conduta e do resultado.
Para a segunda hipótese, conduta e resultado NÃO ocorrem ao mesmo tempo. Ex.: A atira
em B em 20.08, mas B só morre em 15.09. Nessa segunda hipótese, há três teorias sobre o tempo
do crime:
I – Teoria da Atividade (art. 4, CP): para essa teoria, considera-se praticado o crime no
momento da CONDUTA, independente do momento do resultado;
O Código Penal brasileiro adotou a Teoria da Atividade, como positiva o artigo 4, CP.
Diferença entre aborto e homicídio: a supressão da vida antes do início do parto é aborto;
ao passo que a supressão da vida após o início do parto é homicídio.
Portanto, no exemplo, o agente atirou antes do início do parto, logo, a conduta se deu antes
do início do parto. Ora, como o CP adotou a teoria da atividade, o crime praticado é aborto, pois o
agente praticou a conduta (tiro) antes do início do parto.
3.2.1. Atividade
A lei penal nasce, cresce e morre. Ela nasce pelo devido processo legal legislativo e morre,
em regra, pela revogação por lei posterior que trate do mesmo tema.
Entre o seu nascimento e sua morte, a lei produz, em regra, vigência e eficácia (pode ter
vigência e não ter eficácia, como lei em vacatio legis). Esse período é chamado de período de
atividade da lei.
Portanto, atividade da lei penal é o período dentro do qual, a lei penal produz, em regra,
vigência e eficácia.
Pois bem, essa lei vai reger todos os fatos praticados durante seu período de atividade. A
isso se chama princípio do TEMPUS REGIT ACTUM. Em outras palavras, a lei só se aplica aos fatos
praticados durante seu período de atividade.
Destarte, aos fatos praticados antes do início da validade da lei, bem como aos fatos
praticados depois do período de atividade da lei, ela não pode ser aplicada.
3.2.2. Extratividade
Rogério Greco diz que extratividade é a capacidade que a lei tem de se movimentar no tempo
regulando fatos ocorridos durante a sua vigência, mesmo depois de ter sido revogada, ou retroagir
no tempo, a fim de regular situações ocorridas anteriormente à sua vigência, desde que benéficas
ao agente.
Portanto, nos casos de extratividade é possível aplicar a lei penal aos fatos praticados antes
de sua vigência ou depois de sua revogação, desde que seja benéfica ao agente.
Assim, a eficácia da lei penal no tempo em regra segue a atividade, mas excepcionalmente,
segue a extratividade. Só se trabalha com extratividade, quando houver sucessão de leis no tempo.
a) A lei posterior é mais severa do que a lei anterior (lex gravior ou novatio legis in pejus):
nesse caso, a lei posterior NÃO PODE RETROAGIR em hipótese nenhuma – irretroatividade absoluta.
Isso decorre do Princípio da irretroatividade da lei penal mais severa, prevista no art. 5, XL,
CF.
Art. 5, XL, CF - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
Ex.: a antiga Lei de Drogas previa a pena do tráfico de 3 a 15 anos; por sua vez, a nova Lei de
Drogas prevê a pena de 5 a 15 anos. Ora, como a nova Lei de Drogas prevê pena mais severa, ela
não pode retroagir para alcançar os fatos praticados na vigência da lei anterior.
Ex.2: A Lei de Execução Penal sempre previu o prazo de 1/6 para progressão de regime; a Lei
11.464/07 passou a prever que, para os crimes hediondos, o prazo para progressão para os
primários é de 2/5, e aos reincidentes, é 3/5. Ora, sendo assim, se o crime hediondo foi praticado
antes de 2007, não se aplica o novo prazo de 2/5 ou 3/5, pois não se aplica a lei nova mais severa.
Nesse sentido, o STJ editou a Súmula 471.
Súmula 471 do STJ. Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados
cometidos antes da vigência da Lei n. 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art.
disposto no art. 112 da Lei n. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para a progressão
de regime prisional.
b) Lei posterior mais benéfica do que a lei anterior (lex mitior ou novatio legis in mellius):
se a lei posterior é mais benéfica do que a anterior, ela SEMPRE RETROAGIRÁ. Isso decorre do
princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica (art. 5, XL, CF e art. 2, p. único, CP).
Ex.: para a antiga Lei de Drogas, o crime de porte de drogas para uso possuía pena de 6 meses
a 2 anos; ao passo que a nova lei de Drogas prevê apenas pena de advertência, prestação de serviços
à comunidade, frequência a curso. Nesse caso, como a nova Lei de Drogas é mais benéfica, ela deve
RETROAGIR para se aplicar aos fatos praticados na vigência da lei antiga.
ATENÇÃO – A nova lei mais benéfica pode descontruir uma sentença já transitada em
julgado?
SIM, o art. 2, p. único, CP, preconiza que a lei posterior mais benéfica se aplica aos fatos
anteriores, ainda que decididos por sentença transitada em julgado.
CUIDADO – É possível a aplicação da lei penal mais benéfica, ainda em vacatio legis?
A lei em vacatio legis tem vigência, mas não tem eficácia. Diante disso, questiona-se sua
aplicação.
A primeira corrente defende que SIM, é possível retroagir, ainda que em período de vacatio,
desde que em benefício do agente, em respeito ao princípio da retroatividade da lei penal mais
benéfica (GRECO).
Todavia, uma segunda corrente entende que NÃO, porque a lei penal em vacatio não tem
eficácia, logo, não pode ser aplicada (DAMÁSIO).
c) Lei posterior aboliu o crime, tornando o fato impunível (abolitio criminis): está prevista
no artigo 2, caput, CP.
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar
crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença
condenatória.
A abolitio criminis possui natureza jurídica de causa de extinção da punibilidade (art. 107, III,
CP).
Pela leitura do dispositivo, a abolitio faz cessar os efeitos penais, como execução da pena
privativa ou restritiva, pagamento de multa e etc. Todavia, os efeitos civis permanecem
(indenização da vítima).
Pois bem, a abolitio declara extinta a punibilidade, mas quem será o responsável por
declarar a abolitio?
ii) Se a abolitio ocorreu no curso da execução da pena: nesse caso, o responsável é o juízo
da execução penal, com base no art. 66, I e II, LEP, assim como Súmula 611 do STF;
iii) Se a abolitio ocorreu no curso do inquérito policial: o Delegado de Polícia NÃO pode
reconhecer a abolitio e declarar a extinção da punibilidade. Ora, a autoridade policial não pode
arquivar inquérito policial; somente o juízo pode determinar arquivamento, porque só ele tem
jurisdição. Portanto, ao constatar a abolitio, o delegado faz constar no relatório a existência da
abolitio e remete o IP ao Ministério Público. Diante disso, o MP faz a promoção de arquivamento e
requerê-lo ao juízo, porque o MP também não tem jurisdição e, logo, não pode determinar
arquivamento. Quando o processo chega para o juízo, ele pode somente determinar arquivamento
ou pode declarar extinta a punibilidade;
Obs.: Se, mesmo presente a abolitio, o MP denuncia o acusado, a ação penal carece de justa
causa (prova da existência do crime e indícios suficientes de autoria). Destarte, o juízo deve rejeitar
a denúncia.
iv) Se a abolitio ocorreu antes da instauração do IP: nesse caso, não há indícios de prática
de crime. Portanto, o delegado não deve nem instaurar IP.
d) Lei posterior tem alguns preceitos mais severos e outros mais benéficos que a lei
anterior: nesse caso, seria possível combinar as leis, em suas partes mais benéficas, para encontrar
uma regra mais benéfica ao agente?
Há divergência na doutrina.
A primeira corrente defende que SIM. Se o juízo fizer isso, ele está apenas aplicando os
preceitos constitucionais da retroatividade da lei mais benéfica e da irretroatividade da lei mais
severa. Essa é a posição de Frederico Marques, Bitencourt, Prado e Greco. Em doutrina, essa é a
posição majoritária.
Uma segunda corrente entende que NÃO, porque, ao assim agir, o juízo estaria criando uma
lex tertia sem autorização constitucional, ou seja, o Judiciário estaria legislando. Essa é a posição de
Nelson Hungria e Fragoso.
Por sua vez, na jurisprudência, a matéria está pacífica. O STJ editou a súmula 501 para
enunciar que é VEDADA a combinação de leis. Da mesma forma, o STF, no Info 727, já decidiu pela
impossibilidade de combinação das leis.
Se durante a consumação alongada do crime permanente, entra em vigor uma lei mais
severa, ela será aplicada, se a sua vigência é anterior à cessão da permanência.
Nesse sentido, o STF editou a súmula 711: A lei penal mais grave aplica-se ao crime
continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da
permanência.
CUIDADO – A súmula 711 não representa exceção à irretroatividade da lei mais severa,
porque aqui não se fala em extratividade; o crime ainda está se consumando, ou seja, o agente
ainda consumava o crime, quando a nova lei mais severa entrou em vigor. Logo, aplica-se a teoria
da atividade – tempus regit actum.
Da mesma forma, quanto aos crimes continuados, por ficção jurídica, entende-se que eles
representam um crime só. Ora, se a lei mais severa entra em vigor durante a sua prática, aplica-se
a lei mais severa, em respeito ao tempus regit actum.
Obs.: Delmanto, isolado, entende que no caso dos crimes continuados, deveria ser aplicada
a lei antiga aos crimes praticados antes da vigência da nova lei, e a lei nova aos crimes praticados
após sua vigência.
Se há dúvida sobre qual a lei mais severa ou mais benéfica, o que o juízo deve fazer?
O CP brasileiro não traz nenhuma solução. Por sua vez, o CP espanhol preconiza que, em
caso de dúvida, deve ser ouvido o réu.
Rogério Greco defende que deve ser aplicado o mesmo entendimento no Brasil.
São leis programadas para durar apenas por um determinado período de tempo específico.
I – Lei temporária: a lei traz o tempo de vigência expresso. Ex.: essa lei vigorará entre os dias
20.01.2018 e 20.01.2019; foi o caso da Lei da Copa.
II – Lei excepcional: dura por um período excepcional, como uma enchente, uma catástrofe
natural. Ela começa a vigorar quando se instala o período de exceção e dura até cessar esse período.
Ex.: surto de dengue.
São auto-revogáveis, porque são revogadas independente da edição de lei posterior. Elas
vão durar pelo prazo previsto em lei ou pela cessação do período excepcional, automaticamente
sendo revogadas após o implemento dessas condições.
São ultrativas, porque se aplicam mesmo após já terem sido revogadas. Logo, aos fatos
praticados durante sua vigência elas serão aplicadas, mesmo após sua revogação.
ATENÇÃO - Ora, sendo assim, a ultratividade das leis excepcional e temporária não viola o
princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica?
Ex.: A pena de roubo é de 4 a 10 anos. Imagine que vem uma lei e diz que, durante a copa, a
pena de roubo passa a ser de 10 a 15 anos. Essa é uma lei temporária, logo, quando a copa acabar,
cessa sua vigência e volta a vigorar a pena de 4 a 10 anos. Se o agente pratica o crime na vigência
da lei temporária, mas só é condenado após sua revogação, será aplicada a pena de 10 a 15 anos,
em razão da ultratividade da lei temporária.
Mas o que acontece se após isso, vem uma lei posterior e passa a prever a pena de roubo de
8 a 12 anos? A lei é mais severa que a primeira, mas é mais benéfica que a lei temporária. Dessa
forma, a lei posterior mais benéfica pode retroagir e derrubar a lei temporária?
A primeira corrente defende que deve prevalecer a norma mais benéfica posterior, pois o
princípio da retroatividade da lei mais benéfica está previsto na CF, ao passo que a ultratividade da
lei temporária está prevista no CP. Portanto, prevalece o dispositivo constitucional, devendo ser
aplicada a norma mais favorável (ZAFFARONI).
Mas a corrente majoritária entende que deve prevalecer a lei temporária, a fim de
resguardar a validade e eficácia da lei temporária. Se assim não fosse, ninguém ia obedecer a lei
temporária (Hungria, Fragoso, Damásio).
4. Norma penal em branco
4.1. Origem
Teve origem na época imperial na Alemanha. Naquela época, existiam leis nacionais, que
tinham um alto grau de generalidade abstração; por isso, elas não conseguiam atender todas as
necessidades das províncias. Por isso, permitiu-se que cada província pudesse editar suas próprias
leis locais para complementar a lei nacional, em ordem de atender suas necessidades específicas.
MEZGER chamava essas leis de tipos em branco. Por sua vez, Binding dizia que a lei penal em
branco seria um corpo em branco em busca de sua alma.
Há matérias que mudam a toda hora, são muito voláteis, de modo que necessitam de
regulamentação constante, e não seria possível aguardar todo o trâmite do processo legislativo. Por
isso, permite-se a complementação por lei penal em branco.
4.2. Conceito
Quando o preceito primário se mostra incompleto, lacunoso, de modo que não é possível
defini-lo adequadamente, é necessária uma outra norma para complementar o preceito primário.
Ex.: Lei de Drogas – a Lei não diz o que são drogas; por isso, é necessária a complementação por
outra norma para dizer o que são drogas.
Em suma, lei penal em branco é aquela cujo preceito primário (conduta proibida ou
mandada) se mostra lacunosa, incompleta, necessitando de outro dispositivo legal para sua
integração ou complementação.
a) Razões técnicas: por razoes técnicas, é necessária a lei penal em branco, porque a
complexidade de determinadas classes de delitos impedem sua precisão dentro do Direito Penal.
Ex.: todo dia entram novas drogas no Brasil; se fosse necessário o processo legislativo inteiro para
incriminar a venda dessas novas drogas, o estrago já estaria feito;
c) Tutela de bens jurídicos supra individuais: os bens não meramente individuais precisam
de uma maior volatilidade de regulamentação; eles precisam de regulamentação mais constante.
As novas formas de criminalidade (econômica, ambiental) justificam a utilização da lei penal em
branco.
4.4. Classificação
A norma penal em branco pode ser classificada em homogênea e heterogênea, no que toca
à fonte de produção da norma penal.
A lei penal em branco homogênea ainda pode ser dividida em homovitelina e heterovitelina:
a) Homovitelina: o tipo em branco e o complemento estão na mesma lei. Ex.: o art. 333, CP,
diz que é crime de corrupção passiva oferecer dinheiro a funcionário público. O art. 327, CP, traz o
conceito de funcionário público. Portanto, o art. 333 é norma penal em branco homogênea
homovitelina, porque as duas normas estão no CP.
b) Heterovitelina: o tipo em branco e o seu complemento estão em leis diversas. Ex.; o art.
235, CP, traz o crime de contrair novo casamento, já sendo casado. Mas é o artigo 1511, CC, que diz
o que é casamento. Portanto, como são normas previstas em leis diversas, o art. 235, CP, é norma
penal em branco homogênea heterovitelina.
O art. 5, XXXIX, CF, traz o princípio da legalidade: não há crime sem lei prévia que o defina.
Na lei penal em branco homogênea, o complemento está em outra lei. Contudo, na heterogênea, o
complemento está previsto em ATO INFRALEGAL, e não em outra lei.
Diante disso, uma primeira corrente da doutrina diz que a norma heterogênea viola o
princípio da legalidade, porque todo preceito primário deve ter previsão em lei. Logo, como na
norma heterogênea, o complemento da conduta está em ato infralegal, derivado do Poder
Executivo, ela viola tanto o princípio da legalidade, como a separação dos poderes (o Poder
Legislativo que deveria prever, por meio de lei, o complemento da conduta). Entendem assim,
GRECO, ZAFFA e Nilo Batisita.
Já uma segunda corrente sustenta que NÃO há violação ao princípio da legalidade, porque
para atender a esse princípio, basta que o tipo penal esteja previsto em lei. Não há nenhum
problema em só o complemento estar previsto em ato infralegal. Essa é a posição majoritária, de
Mirabete e Capez.
Já uma segunda corrente entende que NÃO retroage e não gera a abolitio, porque só haveria
abolitio se o tipo penal fosse revogado. Nesse caso, a só revogação do complemento não tem o
condão de gerar abolitio, porque o tipo penal permanece íntegro. Essa é a posição de José Frederico
Marques (minoritária).
O STF decidiu no Info 578 conforme a primeira corrente. No caso em tela, a portaria da
ANVISA deixou de prever o cloreto de etila como entorpecente, em 07.12.2000. Só perceberam o
erro em 15.12.2000, quando devolveram o cloreto à lista. Diante disso, o STF decidiu pela abolitio
do tráfico de cloreto de etila, porque o fato ocorreu antes do dia 15.12 de 2000, quando o cloreto
foi devolvido à lista. Portanto, o STF entendeu pela abolitio, retroagindo os efeitos da exclusão do
cloreto de etila da lista da ANVISA, para os fatos praticados antes de 15.12.2000.
Ex.: art. 38 da Lei 9605/98. A lei diz que é crime destruir floresta considerada de preservação
permanente. O art. 6, da Lei 12.651/12, que vai dizer o que é floresta de preservação permanente.
Mas esse artigo fala que as florestas de preservação permanente são aquelas declaradas de
interesse social pelo Chefe do Poder Executivo.
A lei penal incompleta traz o preceito primário completo, mas o preceito secundário é
incompleto, necessitando de complemento.
CUIDADO – Artigo 304 do CP: é o crime de uso de documento falso. O artigo precisa de
complementação tanto no preceito primário quanto no preceito secundário. Portanto, o art. 304,
CP, é norma penal em branco homogênea e, ao mesmo tempo, é lei penal incompleta ou imperfeita.
5.1. Conceito
O nome não é muito apropriado, porque o conflito não se dá entre normas, e sim entre tipos
penais. Por isso, o Professor espanhol Santiago Mir Puig chama isso de concurso de leis, mas isso
também não é tão técnico. Por sua vez, Luis Regis Prado chama de concurso aparente de leis penais,
mas também não é acurado, porque o conflito se dá entre tipos penais.
Pois bem, conflito aparente de normas ocorre, quando para um determinado fato,
aparentemente, incidem dois ou mais tipos penais.
Belling conceitua assim: relação que medeia entre duas leis penais, pela qual, enquanto uma
é excluída, a outra é aplicada.
Santiago Mir Puig conceitua assim: fala-se em concurso de leis, quando um fato é incluível
em vários preceitos penais, de que só um pode aplicar-se, posto que sua aplicação conjunta
pressuporia bis in idem. Isso acontece sempre que um dos preceitos bastar, por si só, para apreender
todo o desvalor do fato ou fatos concorrentes. Concorre então um só delito.
Por fim, José Frederico Marques diz que haverá conflito aparente de normas sempre que a
conduta delituosa puder encaixar-se em vários tipos penais aparentemente.
5.2. Requisitos
Destarte, são requisitos do conflito aparente de normas:
5.3. Finalidade
Ora, sendo assim, a finalidade do concurso aparente de normas é evitar o bis in idem. Em
outras palavras, como eu tenho mais de um tipo penal incidente a um único fato, eu não posso
aplicar todos os tipos penais; apenas um será aplicado a fim de evitar o bis in idem.
I – Especialidade: representa o brocardo latino lex especial derrogat lex generali. Temos dois
tipos penais, que no plano abstrato, aparentemente, são iguais. Todavia, um dos tipos tem um
elemento a mais, chamado por Nelson Hungria de elemento especializante.
Assim, o tipo especial descreve todos os elementos do tipo geral, mas possui um elemento
especializante a mais.
De se notar que não importa se um tem a pena maior que o outro; o que importa é apenas
a existência do elemento a mais. Portanto, a gravidade das penas não é fator determinante para o
princípio da especialidade; o que importa é ter ou não esse elemento a mais.
Ex.: crime de furto x crime de roubo – o crime de roubo tem todos os elementos do furto,
mas tem três elementos a mais - violência própria, ameaça e violência imprópria. Por isso que o
crime de roubo é especial em relação ao furto.
Temos dois tipos penais que protegem o mesmo bem jurídico, com graus diferentes de
proteção. Eu tenho um tipo menos grave e um tipo mais grave.
Segundo Fragoso, existe subsidiariedade, quando a norma que define o tipo menos grave
está abrangido pelo tipo mais grave.
Em outras palavras, o tipo menos grave está contido no tipo mais grave. O crime mais grave
é chamado de tipo principal, enquanto o tipo menos grave é chamado de tipo subsidiário. Por isso,
Nelson Hungria chama o tipo subsidiário de soldado de reserva.
Destarte, o conflito aqui é resolvido pela preferência ao tipo principal (mais grave), afastando
a incidência do tipo subsidiário, de forma que o tipo subsidiário só incide, quando, no caso concreto,
o tipo principal não puder ser aplicado.
a) Expressa: o próprio tipo penal subsidiário já deixa expresso que ele só será aplicado, se o
fato não constituir crime mais grave. Ex.: crime de disparo de arma de fogo – o agente só responde
por disparo, se o fato não constituir crime mais grave, como homicídio;
b) Tácita: o tipo penal não deixa claro que é subsidiário, mas é possível chegar a isso por
interpretação sistemática. Ex.: o crime de constrangimento ilegal está contido no crime de roubo;
no crime de estupro; no crime de extorsão; mas em todos os casos, a lei não deixa expresso que o
tipo é subsidiário; chega-se a essa conclusão através da interpretação sistemática.
III – Consunção: representa o brocardo latino lex consumens derrogat legem consumptam.
Aqui, também, não se leva em consideração a gravidade dos crimes, assim como no princípio da
especialidade.
a) Crime progressivo: um dos crimes constitui o meio necessário ou uma fase normal de
preparação ou de execução para um crime diverso. Temos aqui, então, o crime meio e o crime fim.
Destarte, o dolo do agente é de praticar o crime fim, mas para chegar a este crime fim, ele
passa necessariamente pelo crime meio, ou seja, não tem como chegar ao crime fim, sem passar
pelo crime meio antes. Por essa razão, o crime meio é chamado de crime de ação de passagem.
Ex.: no crime de homicídio, não tem como matar sem lesionar anteriormente. Portanto, a
lesão é crime meio necessário para chegar ao crime fim homicídio.
Nesse caso, como o dolo é de praticar o crime fim, o crime meio é absorvido pelo crime
fim. O crime meio é considerado ante factum impunível ou fato anterior penalmente impunível.
Portanto, o agente responde só pelo crime fim.
Ex.2: Súmula 17 do STJ – quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencial lesivo,
fica por esse absorvido. Nesse caso, o crime menos grave, estelionato, absorve o crime mais grave,
o falso.
ATENÇÃO – O STJ entendeu no Info 597 que, quando o falso se exaure no descaminho, sem
mais potencialidade lesiva, aquele é por esse absorvido como crime fim, condição que não se altera
por ter pena mais leve que este.
De se notar que não importa se o segundo crime é mais grave que o primeiro crime. NÃO se
analisa a gravidade dos crimes, e sim a mudança de dolo. Nesse caso, o segundo crime afasta a
aplicação do primeiro crime. Portanto, o agente responde apenas pela prática do segundo crime.
Ex.: inicialmente, o agente tem o dolo de torturar a vítima, começa a torturar, mas antes de
acabar a tortura, decide matar a vítima. Assim, ainda durante a execução da tortura, o agente muda
o dolo e passa a ter o dolo de homicídio. Portanto, o agente responde apenas pelo homicídio.
Diante disso, a diferença entre o crime progressivo e a progressão criminosa é que naquele,
há apenas um dolo, ao passo que na progressão, há dois dolos. Além disso, no crime progressivo, o
dolo é um só e se mantém, não muda; já na progressão, há mudança de dolo.
c) Post-factum impunível: aqui temos dois tipos penais que protegem o mesmo bem
jurídico. O primeiro crime causa a lesão ao bem jurídico; quando o agente pratica o segundo crime,
não causa nova lesão ao bem jurídico. Por isso, se não há nova lesão, o segundo crime será um fato
posterior irrelevante para o Direito penal, um post-factum impunível.
Ex.: Crime de falsificação de documento x uso de documento falso: quando o agente falsifica
o documento, ele já causa lesão ao bem jurídico – fé pública; dessa forma, quando ele usa o
documento falso, não há nova lesão, pois a fé pública já foi lesionada quando da falsificação.
Portanto, o crime de uso é post-factum impunível.
Diante disso, o agente responde apenas pelo primeiro crime. No exemplo dado, o agente
responde apenas pelo crime de falsificação de documento; de modo que o segundo crime é apenas
post-factum impunível. Em outras palavras, o fato posterior é mero exaurimento do primeiro fato.
Em suma, no crime progressivo, há um dolo só; ao passo que, na progressão, há dois dolos,
com mudança de dolo; e por fim, no post-factum impunível, há lesão ao mesmo bem jurídico.
Obs.: O princípio da alternatividade não é um princípio solucionador do conflito aparente
de normas, porque estamos diante de um tipo misto alternativo. Ora, se temos um tipo só com
vários verbos típicos, não se fala em conflito aparente de normas, porque não há mais de um tipo.
Há duas hipóteses:
i) Teoria da atividade: preconiza que o local do crime é o local onde conduta comissiva ou
omissiva foi praticada;
ii) Teoria do resultado: considera-se o crime praticado no local onde ocorreu o resultado;
iii) Teoria da intenção: considera-se praticado o crime no local em que o resultado deveria
ocorrer, segundo a intenção do agente. Essa teoria é muito criticada, porque não explica os crimes
culposos e preterdolosos, em que o agente não tem intenção;
iv) Ubiquidade ou mista: considera-se praticado o crime tanto no local em que ocorreu a
conduta, como no lugar em que ocorreu o resultado. Essa teoria foi adotada pelo CPP, no art. 6.
6.2.1. Introdução
Esses conceitos estão relacionados à soberania. De acordo com a soberania, a lei penal tem
vigência em todo o território nacional. Entretanto, pode acontecer de os efeitos da lei penal
brasileira transcenderem o território nacional, e seja aplicada em fato cometido fora do território
nacional.
O art. 5 do CP diz que se aplica a lei penal brasileira ao crime cometido no território nacional.
Isso representa a territorialidade.
Art. 5º, CP - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras
de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.
Além disso, temos Mar Territorial, que é a faixa legal ao longo da costa brasileira, que forma
a plataforma continental até 12 milhas marítimas a partir do litoral brasileiro, conforme a Lei
8617/93.
Art. 5, § 2º, CP - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo
de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se
aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo
correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.
6.2.2. Extraterritorialidade
Obs.: Nessas hipóteses, a lei penal brasileira PODE ser aplicada, mas sua aplicação não será
obrigatória; vai depender de Tratados e Convenções internacionais.
I - Princípio da Personalidade Ativa (art. 7, II, b, CP): A lei brasileira será aplicada, quando o
autor da infração penal for brasileiro. Leva-se, portanto, em consideração a nacionalidade do
agente;
II - os crimes:
III – Princípio da Defesa, Real ou proteção: não tem previsão legal. Preconiza que a lei
brasileira será aplicada, quando o bem jurídico lesionado for protegido pelo direito brasileiro. Não
se considera, portanto, as condições de nacionalidade do autor ou da vítima. Ex.: falsificação de
moeda nacional no estrangeiro;
IV – Princípio da Justiça Universal ou Cosmopolita (art. 7, II, a, CP): aplica-se a lei brasileira
se o Brasil se obrigou a reprimir o crime praticado por meio de Tratado internacional. Exs.: tráfico
de drogas; lavagem de dinheiro; violência doméstica contra a mulher; tortura; genocídio;
7.1.1. Origem
Tem origem no Estado Absolutista, quando vigorava a Teoria do Direito Divino, para a qual
o rei era escolhido por Deus. O rei era o Estado, a legalidade e a justiça.
Ora, se o rei era escolhido por Deus, ele só respondia perante Deus. O parlamento ficou
insatisfeito com a situação e criou um mecanismo de defesa contra o rei. Nasce aí a imunidade do
parlamento, uma forma de proteção contra o rei.
I – Imunidade material (art. 53, caput, CF): os parlamentares federais são invioláveis por
quaisquer de suas opiniões, palavras e votos, ou seja, crimes que em tese seriam praticados por
opiniões, palavras e votos, como a calúnia, injúria, difamação.
O parlamentar exerce sua função por meio de palavras, votos e opiniões. Por isso, ele precisa
ser livre para se expressar com tranquilidade, sob pena de comprometer a função de parlamentar.
a) Exigência do nexo funcional (em razão da função): as palavras, votos e opiniões devem
ser expressadas no exercício da função;
b) Não há limite territorial: as palavras, opiniões e votos continuam protegidos mesmo que
praticados fora do Congresso, desde que respeitado o nexo funcional.
ATENÇÃO – O STF entendeu no Info 865 que o crime de divulgação de informação falsa sobre
instituição financeira fica afastado pela imunidade do parlamentar relativa às opiniões, palavras e
votos, por haver ligação entre o que foi veiculado e o exercício do mandato parlamentar, ou seja,
foi praticado em razão da função.
A segunda corrente sustenta que é causa que opõe à formação do crime (Basileu Garcia).
A quarta corrente defende que é causa funcional de exclusão ou isenção de pena (Damásio).
A sétima corrente defende que é causa de incapacidade penal por razões políticas (José
Frederico Marques).
A oitava corrente diz que é causa de exclusão da tipicidade. Essa é a posição do STF e da
jurisprudência dominante.
II – Imunidade processual (art. 53, §3º a §5º, CF): após a emenda 35/2001, a CF passou a
prever que após o recebimento da denúncia pelo STF, a Casa Legislativa será comunicada e poderá
sustar o processo, suspendendo também a prescrição.
III – Imunidade prisional (art. 53, §2º, CF): desde a expedição do diploma (e não a posse), os
membros do CN não podem ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os
autos serão remetidos à Casa respectiva para que resolva sobre a prisão.
Significa que a Casa poderá RELAXAR A PRISÃO. Essa é a única hipótese de relaxamento de
prisão fora do Poder Judiciário.
IV – Imunidade de testemunho (art. 53, §6º, CF): os parlamentares não serão obrigados a
testemunhar sobre as informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato.
V – Imunidade de foro (art. 53, §1º, c/c art. 102, I, b, CF): é o foro especial por prerrogativa
de função (não se chama foro privilegiado).
A CF nunca delimitou o foro especial aos crimes praticados em razão do cargo; pelo
contrário, ela sempre previu o foro amplo e genérico, aplicável a qualquer crime.
Todavia, o STF, num entendimento recente, publicado no Info 900, deu uma interpretação
diferente e restritiva. O STF decidiu que o foro especial por prerrogativa de função só se aplica aos
crimes relacionados à função de parlamentar.
Portanto, os crimes devem ter sido praticados durante o exercício do cargo e relacionados
às funções desempenhadas. Ademais, após o fim da instrução, o processo continuará com o Tribunal
respectivo, mesmo com a perda do mandato.
Dessa forma, os fatos praticados antes do exercício e sem relação com o cargo não mais
serão julgados pelos Tribunais referentes ao foro especial.
CUIDADO – O STJ manteve o foro especial para crime comum praticado por Desembargador,
mesmo que sem relação com a função (Info 639).
Obs.: Parlamentar afastado para ser Ministro do Poder Executivo mantém as imunidades?
Ora, o foro especial se dá em razão das funções. Logo, como ele saiu do cargo, ele perde as
imunidades do cargo de parlamentar federal.
Art. 27, § 1º, CF - Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais,
aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral,
inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença,
impedimentos e incorporação às Forças Armadas.
Nesse sentido, o STF entendeu no Info 939 que os deputados estaduais têm direito às
imunidades formal e material e à inviolabilidade conferida aos congressistas.
Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o
interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara
Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta
Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos:
VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e votos no
exercício do mandato e na circunscrição do Município;
Nesse sentido, o STJ entendeu no Info 617 que os juízes de primeiro grau podem impor a
parlamentares municipais medidas cautelares sem necessidade de autorização da Câmara, porque
eles não têm essa imunidade.
7.2.1. Origem
Sua origem está no art. 5 do CP, que traz o princípio da Territorialidade Temperada.
Além disso, a imunidade está prevista na Convenção de Viana. O diplomata tem imunidade
devido à grande importância de sua função em país estrangeiro.
A imunidade diplomática abrange o diplomata, sua família, seus objetos de trabalho, seus
documentos de trabalho.
A imunidade de jurisdição não pode ser renunciada pelo agente diplomático, porque só
quem pode fazer isso é o Estado acreditante.
Portanto, o diplomata não pode ser julgado no país acreditando, mesmo que o crime não
tenha relação com a função.
Todavia, o diplomata pode ser detido em flagrante para impedir que ele continue praticando
um crime. Porém, a detenção deve ser seguida da comunicação ao Estado acreditante para tomar
as medidas cabíveis. Mesmo nessa hipótese, ele não poderá ser julgado no país acreditando.
Há duas correntes:
A primeira corrente, majoritária, defende que é uma causa pessoal de exclusão de pena
(Bitencourt e Fragoso).
Já a segunda corrente diz que é uma causa de exclusão da jurisdição nacional (Damásio).
TEORIA DO CRIME
1. Conceito de crime
Para o conceito material, crime é toda conduta que causar lesão ou que gerar perigo ao bem
jurídico tutelado.
Para o conceito forma, crime é toda conduta prevista em lei como criminosa, delituosa, como
infração penal, sob ameaça de uma sanção.
Perceba que os dois conceitos são, embora diversos, são inseparáveis, porque se a conduta
é prevista em lei como crime, é porque causa lesão ou expõe à lesão bem jurídico, e vice-versa.
Há quatro correntes:
Uma primeira corrente defende que o crime é tão somente o fato típico. Essa corrente é
muito antigo e não é mais utilizada.
Uma segunda corrente entende que o crime é fato típico e ilícito. Para a segunda corrente,
culpabilidade não é elemento do crime, e sim tão somente pressuposto para aplicação da pena. Seu
fundamento é que o art. 23 do CP diz que, quando presente causa excludente da ilicitude, não há
crime. Por sua vez, no art. 25, quando a lei exclui culpabilidade, a lei diz que não há pena. Essa é a
posição de Damásio e Mirabete, mas é minoritária.
Uma terceira corrente defende que o crime é fato típico, ilícito e culpável. Portanto, a
culpabilidade integra sim o crime, e não mero pressuposto de pena. Ora, a aplicação da pena
depende não apenas da culpabilidade, mas também da ilicitude e da tipicidade. Essa é a corrente
majoritária, apoiada por Nelson Hungria. Da mesma forma, Welzel diz que o fato típico, a ilicitude
e a culpabilidade convertem a conduta humana em crime.
Por fim, uma quarta corrente sustenta que o crime é fato típico, ilícito, culpável e punível.
Essa é uma corrente também minoritária.
FATO TÍPICO
1. Introdução
O fato típico é uma conduta, dolosa ou culposa, comissiva ou omissiva; que gera um
resultado. Entre a conduta e o resultado deve haver um nexo de causalidade, a relação de causa e
efeito entre conduta e resultado. Por fim, ainda deve haver tipicidade, formal ou material.
2. Conduta
2.1. Introdução
O crime não surge de eventos naturais, como terremotos, enchentes e etc. Da mesma forma,
animais não dão causa a crimes. Crime é sempre oriundo de uma conduta humana.
2.2. Teorias da conduta
O direito penal moderno é um direito penal da conduta. Com efeito, Welzel dizia que a
tipicidade, a antijuridicidade e a culpabilidade são os três elementos que convertem a ação em
delito.
2.3. Teoria causalista, causal, causal-naturalista ou sistema causalista (Von Liszt, Beling e
Radbruch)
I – Conceito: essa Teoria era chamada de Teoria causalista da ação. Destarte, não se falava
ainda em conduta, falava-se apenas em ação. Portanto, a única forma de conduta relevante era a
conduta comissiva, ou seja, conduta praticada mediante ação.
Para essa teoria, ação humana é simplesmente um movimento corporal voluntário que
causa uma modificação no mundo exterior. Dessa forma, a manifestação de vontade é toda
conduta resultante de um movimento corporal.
II – Elementos: Para essa teoria, a ação humana era composta de três elementos:
V – Mezger: criticava a teoria causalista, porque ela se limitava a perguntar o que foi causado
pelo agente e não o que agente quis com sua ação. Separava, assim, a vontade e a finalidade, de
modo que bastava a vontade de praticar a conduta, independentemente de sua finalidade. Mas a
finalidade é o próprio conteúdo da vontade. Inobstante, o conteúdo da vontade, a finalidade, só
seria analisado lá na culpabilidade. Em suma, a teoria causalista só perguntava se o agente quis
realizar a ação, e não o que ele quis – o ato foi voluntário? Sim. Então há ação.
b) Não explicava também os crimes omissivos. Ora, no crime omissivo, não há movimento
corporal, portanto, não há ação (“Do nada, nada surge” – Maurach).
c) Não explicava o especial fim de agir: porque a conduta não tinha finalidade, quanto mais
especial fim de agir.
I – Origem: Welzel critou a Teoria finalista, com base nos ensinamentos filosóficos de Platão
(doutrina finalista do mundo – “Fédon”); Aristóteles (“Metafísica”); Santo Tomás de Aquino (“tudo
que existe na natureza, existe para um fim”); Kant e Hegel (fizeram a dissociação entre finalidade e
religião).
Por fim, a formulação final de Welzel veio com Hartman, que dizia que a ação percorre três
estágios: primeiro, o homem antecipa mentalmente seus objetivos; depois ele coloca em
movimento os meios adequados para alcançar seus objetivos; por fim, o homem consegue realizar
seus objetivos.
II – Finalidade: Welzel escreveu sobre o sistema finalista pela primeira na obra “Causalidade
e ação”. Já no seu livro “Direito Penal Alemão”, ele diz que a ação humana é exercício de uma
atividade final. Destarte, Welzel acabou com a separação insustentável entre a vontade e seu
conteúdo, ou seja, não se admitia mais conduta sem finalidade.
Para Welzel, toda ação humana tem uma finalidade, de forma que não se concebe uma
ação humana sem nenhuma finalidade.
Por essa razão, a ação é um acontecer final e não um acontecer meramente causal, porque
o homem pode prever as consequências de sua conduta.
III – Crime doloso x crime culposo: Welzel criticava a teoria finalista, porque ela não explica
os crimes culposos. Ora, nos crimes culposos, o agente não tem a intenção de provocar o resultado.
Diante disso, Welzel reformulou sua Teoria Finalista, e passou a dizer que, no dolo, o agente
tem a finalidade de provocar um resultado ilícito, ou seja, sua finalidade é ilícita. Por sua vez, na
culpa, o agente tem a finalidade de obter um resultado lícito, ou seja, sua finalidade é lícita, mas
os meios utilizados por ele para tanto são descuidados (o agente viola o cuidado necessário de
tráfego por imprudência, negligência ou imperícia).
Além disso, a Teoria finalista explica o tipo complexo, que contém elementos objetivos
(descritivos e normativos); e elementos subjetivos, que representam o dolo e o especial fim de agir,
trazidos para a conduta pela Teoria finalista (a teoria causalista só falava em dolo na culpabilidade,
e nem sequer conseguia explicar o especial fim de agir).
I – Coação física irresistível: aqui há uma força física exercida sobre a vítima, excluindo a
conduta, porque retira toda a voluntariedade da conduta. Portanto, quem responde pelo crime é o
coator, e não o coagido (que sequer praticou conduta).
Em outras palavras, como não há conduta, o fato praticado pelo coagido é atípico.
II – Movimentos reflexos: mais uma vez, não há conduta voluntária, como o agente que leva
um susto e acaba acertando um tapa em outrem. Como não há voluntariedade, não há conduta, de
modo que o fato é atípico.
2.7. Dolo
2.7.1. Introdução
Como vimos, com a teoria finalista de Welzel, o tipo penal passou a conter elementos
objetivos e subjetivos. O elemento subjetivo é justamente o dolo, ou seja, o dolo e a culpa passaram
a estar dentro do tipo.
Dolo, segundo o art. 18, I, CP, é quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de
produzi-lo. Portanto, o CP não traz o conceito de dolo, limitando-se a trazer suas espécies.
2.7.2. Conceito
Num conceito mais amplo, dolo seria toda ação consciente levada pela decisão de ação, ie,
pela consciência do que se quer (o elemento intelectual) e a decisão de querer realizá-lo (o
elemento volitivo). Ambos elementos juntos, como fatores criadores de uma ação real, constituem
o dolo.
2.7.3. Elementos
O dolo tem dois elementos: volitivo e cognitivo.
Esses dois elementos sempre devem estar juntos. Não pode haver vontade sem consciência
e nem consciência sem vontade, para fins de dolo.
a) Volitivo: é a vontade, ou seja, o conteúdo da conduta. Ela deve abranger o nexo causal e
o resultado. Ex.: homicídio – vontade de matar (resultado) e vontade de furar com uma faca (nexo
causal).
Além disso, a vontade tem quer ser incondicionada e ainda capaz de influenciar
diretamente o resultado criminoso.
b) Cognitivo: é a consciência atual sobre a conduta que estou praticando. Ex.: se eu saco uma
arma e disparo contra você, eu tenho consciência que estou te matando.
Essa consciência também deve abranger todos os elementos objetivos do tipo penal:
resultado, nexo causal e conduta. Ex.: se o tipo é subtrair coisa alheia móvel, deve haver consciência
sobre todos os elementos – subtração e coisa alheia móvel.
O dolo pode ser direto (de primeiro ou segundo grau) e indireto (eventual ou alternativo).
a) Primeiro grau: é o dolo mais comum. Nele, primeiramente, o agente faz a representação
mental do resultado; depois, ele quer o resultado diretamente; e por fim, ele atinge o resultado;
Ex.: quero matar um político em um avião, boto uma bomba no avião e acabo matando todos
os passageiros. Em relação ao político, há dolo de primeiro grau; em relação aos demais,
passageiros, há dolo de segundo grau.
ATENÇÃO – Para que esteja presente o dolo de 2º grau, também deve estar presente o dolo
de 1º grau, porque é uma consequência necessária da conduta dolosa de 1º grau.
Obs.: Alguns autores falam em dolo de 3º grau. Boto uma bomba no avião pra matar um
político (dolo de 1º grau); acabo matando os demais passageiros (dolo de 2º grau); e uma das
passageiras está grávida, de modo que acabo matando o feto também (dolo de 3º grau). HABIB
critica essa classificação, sob a razão de que é infundada; segundo ele, a morte do feto também é
dolo de 2º grau.
CUIDADO – Dolo eventual x Dolo direto de 2º grau: os dois primeiros passos são idênticos,
mas no dolo de 2º grau, o resultado é uma consequência necessária, ou seja, o resultado
necessariamente vai acontecer (ele não só assume risco; ele sabe que o resultado vai acontecer
necessariamente). Já no dolo eventual, o resultado pode ocorrer ou não, basta assumir o risco de
causar o resultado.
i) Objetiva: o resultado criminoso é indefinido, mas a vítima é definida. Ex.: quero jogar uma
pedra no Carlos; posso mata-lo ou lesioná-lo, tanto faz. Nesse caso, ele responde por homicídio
doloso (se Carlos morre) ou lesão dolosa (se Carlos só é lesionado);
ii) Subjetiva: o resultado criminoso é definido, mas a vítima é indefinida. Ex.: quero matar
alguém, levo uma metralhadora pro shopping e saio atirando, tanto faz quem eu matar, contando
que eu mate alguém.
CRÍTICA – GRECO diz que o dolo alternativo é totalmente desnecessário. Ora, todas essas
situações, eu resolvo com dolo eventual. Se eu quero matar alguém, não importa quem, eu assumo
o risco de matar o A ou de matar o B. Da mesma forma, se eu quero acertar o Carlos, matando ou
lesionando, eu assumo o risco de matá-lo ou lesioná-lo, ou seja, mais uma vez dolo eventual.
Há três teorias principais do dolo, que buscam quando eu realmente tenho dolo:
I – Teoria da Vontade: para essa teoria, existe dolo, quando o agente fizer a representação
mental do resultado; quiser o resultado diretamente; e quando ele obtiver o resultado.
A teoria da vontade, portanto, foi adotada para explicar o dolo direto de 1º grau.
III – Teoria da representação: essa teoria sustenta que existe dolo, quando o agente
simplesmente e tão somente fizer a representação mental do resultado.
Essa teoria não foi adotada por nenhuma espécie de dolo, porque é muito genérica.
2.8. Culpa
2.8.1. Noções
A culpa vem prevista no art. 18, II, CP, mas o dispositivo não traz o conceito de culpa, e sim
apenas as formas de manifestação de manifestação da conduta culposa.
A lei e a sociedade esperam que nós sempre observemos um dever objetivo de cuidado.
Destarte, toda vez que alguém violar esse dever de cuidado e der causa a um resultado criminoso,
previsto em lei, responderá por um crime culposo.
2.8.2. Conceito
A culpa consiste numa conduta que, inobservando o dever objetivo de cuidado, causa um
resultado não querido, porém objetivamente previsível.
O Código Penal Militar traz um bom conceito de culpa no art. 33, II.
Luis Regis Prado diz que o crime culposo consiste em um comportamento mal dirigido a um
fim penalmente irrelevante.
ATENÇÃO – Crime doloso x Crime culposo: como diz Welzel, no crime doloso, pune-se a
finalidade ilícita; no crime culposo, pune-se o meio descuidado.
Significa que o crime culposo é uma exceção no Direito Penal. A maioria dos tipos penais só
admite a conduta dolosa; poucos admitem a forma culposa.
Art. 18, Parágrafo único, CP - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser
punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.
2.8.4. Estrutura
Há duas correntes:
Já a segunda corrente sustenta a Teoria do risco permitido. Essa teoria diz que só há crime
culposo, se o agente criar ou incrementar um risco proibido. Ex.: o agente anda de bicicleta a noite
sem o farol aceso e acaba atropelando alguém; ele criou um risco proibido; por isso, praticou um
crime culposo.
Ex.2: duas pessoas andam numa rua e um carro vem descontrolado na direção de uma das
pessoas; a outra pessoa empurra a que seria atropelada, salvando sua vida, mas acaba ocasionando
uma fratura no braço da pessoa; o agente não responde por lesão culposa, porque não criou e nem
incrementou um risco proibido; pelo contrário, ele diminuiu um risco.
A evolução social e a revolução industrial trouxeram para nosso convívio atividades que são,
por si só, arriscadas, como dirigir um veículo automotor. Ao praticar essas condutas, todos temos
que observar o dever de cuidado. Por isso, a falta de diligencia devida na prática do nosso tráfego
social representa a inobservância do dever objetivo de cuidado.
Diante disso, BECK diz que nós vivemos na sociedade de risco. Quanto mais arriscada a
atividade, com mais vigor o agente deve observar o dever de cuidado, ou seja, a elevação do risco
é proporcional ao dever de observância de cuidado. Ex.: quem vai andar de bicicleta não vai ter o
mesmo cuidado de quem está pilotando um avião.
Portanto, a conexão interna significa que é necessário que o desvalor do resultado (lesão
ao bem jurídico) decorra diretamente da conduta desvalorada (violação do dever de cuidado).
Segundo Zaffaroni, devemos considerar como agiria uma pessoa de prudência mediana no
lugar do agente, no momento da conduta, levando em consideração as circunstâncias do caso
concreto, a experiência comum. Se ainda assim, o resultado persistir, havia previsibilidade objetiva;
se o resultado não persistir, não havia previsibilidade objetiva.
A imprevisibilidade do resultado desloca o caso para uma situação de caso fortuito. Ex.: se
eu ponho o pé pra você tropeçar, é previsível que você caia e se lesione; pode ser até que você caia
e bata a cabeça no chão e morra. Por outro lado, se estamos na praia, e eu botar o pé pra você
tropeçar, você pode até se lesionar, mas mesmo que você bata a cabeça na areia, você não vai
morrer. Mas se havia uma pedra em baixo da areia, invisível, e você cai justamente em cima da
pedra, batendo a cabeça, não havia previsibilidade do resultado morte. Por isso, nesse caso, o
agente não responde por homicídio culposo.
O princípio da confiança tem muita incidência nas atividades de cooperação. Preconiza que
quem atende adequadamente ao cuidado objetivo exigido pode confiar que os demais
coparticipantes da mesma atividade também operem cuidadosamente.
O exemplo clássico é atravessar o sinal verde sem parar, confiando que ninguém vai furar o
sinal vermelho e bater no seu carro.
Portanto, se o agente atuar dentro daquilo que dele se espera, ele não viola o dever objetivo
de cuidado, por causa do princípio da confiança; pelo contrário, ele observa o dever objetivo de
cuidado. Assim, desaparece o primeiro elemento do crime culposo: inobservância do dever objetivo
de cuidado. Logo, não se fala em crime culposo.
a) Negligência: é um não agir, um não fazer, ou seja, é uma omissão. O agente deixa de fazer
algo a que estava obrigado de acordo com o dever objetivo de cuidado. Ex.: o agente não liga o farol
do carro de noite e acaba atropelando alguém;
b) Imprudência: há um agir, um fazer, uma conduta comissiva. O agente faz algo, violando o
dever objetivo de cuidado. Ex.: o agente sai com o carro sem os freios funcionando.
a) Culpa consciente: é a culpa com previsão do resultado pelo agente no momento em que
pratica a conduta. Nesse caso, o agente faz a previsão, mas crê que não vai gerar o resultado. Ex.: o
agente dirige em alta velocidade; ele prevê o risco de atropelar alguém; mas ele não assume o
resultado, pois crê que não vai atropelar ninguém, já que dirige bem; se ele acaba atropelando
alguém, ele age com culpa consciente.
Todavia, o agente NÃO ASSUME O RISCO de praticar o resultado; ele crê piamente que não
vai praticar o resultado. Essa é a diferença entre culpa consciente e dolo eventual.
b) Culpa inconsciente: é a culpa sem previsão pelo agente no momento em que pratica a
conduta. Nesse caso, o agente não faz a previsão do resultado, mas viola o dever objetivo de cuidado
e acaba causando um resultado criminoso. Ex.: o agente caminha para trás sem olhar e acaba
pisando no pé de alguém e causando uma lesão; aqui, o agente não previu que poderia pisar no pé
de alguém; mas violou o dever objetivo de cuidado, porque andou para trás sem olhar; portanto,
age com culpa inconsciente.
c) Culpa imprópria: é aquela que decorre de erro de tipo permissivo, nas descriminantes
putativas.
2.9.1. Introdução
Beling dizia que quando um agente pratica um crime, ele não viola a lei, ele viola a norma. A
lei diz: matar alguém; a norma é: não matar. Então o agente não viola a lei (ele age conforme a lei);
ele viola a norma.
Destarte, norma penal é a proibição ou o mandamento contido na lei. Se a norma traz uma
proibição, ela traz um não fazer; logo, viola-se a norma, realizando o fazer, por meio de uma ação.
Por outro lado, se a norma traz um mandamento, ela traz um não fazer; logo, o agente viola a norma,
realizando um não fazer, ou seja, por meio de uma omissão.
Portanto, nos crimes comissivos, viola-se a proibição contida na norma. Por sua vez, nos
crimes omissivos, viola-se o mandamento contido na norma.
I - Omissão própria: aqui, há uma violação do dever de agir GENÉRICO. Ora, se ele é genérico,
esse dever se dirige a todos. Portanto, qualquer pessoa pode praticar uma omissão própria. Ex.:
crime de omissão socorro.
Segundo NAGLER, essas pessoas específicas devem estar expressamente previstas em lei.
Pra o autor alemão, essa pessoa indicada pela lei como alguém que tem o dever de agir específico
é chamada de garante.
a) Tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: a expressão lei deve ser
interpretada aqui lato sensu, abrangendo decreto, portaria, constituição. Portanto, os pais por seus
filhos, os policiais e bombeiros, os médicos da rede pública são garantidores, segundo essa primeira
possibilidade.
De se notar que o garantidor não tem o dever de impedir o resultado a qualquer custo; ele
apenas precisa cumprir seu dever de agir. Ex.: bombeiro não precisa entrar em prédio que já está
desabando, pois não precisa sacrificar sua vida; policial tem o dever de agir para impedir um roubo,
mas não é obrigado a enfrentar sozinho uma gangue de cinco homens fortemente armados.
Nesse caso, se o bombeiro ou o policial deixam de agir, porque não podiam, sob risco de
perderem a vida, sua conduta é atípica. Pelo contrário, se eles podem agir, mas não o fazem,
respondem pela omissão imprópria, ou seja, pelo resultado criminoso.
O agente garantidor responde resultado criminoso, mas pode ser tanto na forma dolosa
como na culposa. O bombeiro pode deixar de salvar alguém, porque é seu desafeto; nesse caso,
responde por homicídio doloso por omissão imprópria. Por outro lado, o bombeiro pode deixar de
salvar alguém por negligência (não observou que ainda havia alguém no prédio, porque estava
distraído); nesse caso, responde por homicídio culposo por omissão imprópria.
ATENÇÃO - Em suma, o garantidor sempre vai responder pelo resultado criminoso. Porém,
nunca responde por omissão de socorro, porque sua omissão é imprópria, ou seja, decorrente da
violação de dever de agir específico, previsto na lei.
O crime omissivo impróprio admite tentativa, como no caso do salva vidas que não corre ao
socorro de alguém que se afogava, porque era seu desafeto; ocorre que um terceiro corre e
consegue salvar a vítima. Nesse caso, o salva vidas tentou matar a vítima por omissão imprópria,
mas não obteve o resultado por circunstâncias alheias à sua vontade.
3. Resultado
3.1. Introdução
3.2. Classificação
a) Crimes de mera conduta: como o nome sugere, esse crime não tem resultado material;
eles só possuem conduta, não se fala em resultado. Ex.: violação de domicílio – agente pula e muro
e entra na casa; não houve qualquer modificação no mundo exterior.
b) Crimes formais: esses crimes têm resultado, porém o crime se consuma com a prática da
conduta, ou seja, não há necessidade de ocorrência do resultado para o crime ser consumado. Por
isso, eles também são chamados de crimes de consumação antecipada.
Destarte, assim como os crimes de mera conduta, os crimes formais também se consumam
com a simples prática da conduta. Ex.: crime de extorsão – Súmula 96 do STJ – o crime se consuma
com a prática da conduta de privação de liberdade; a obtenção do resgate representa apenas
exaurimento.
c) Crimes materiais: esses crimes têm resultado material, e a ocorrência desse resultado é
necessária para a consumação do crime, ou seja, não basta a conduta, é necessária para a
consumação, a obtenção do resultado.
4. Nexo de causalidade
4.1. Conceito
O nexo causal é o elo que liga a conduta praticada pelo agente ao resultado criminoso por
ela produzido.
Por essa razão, só é possível estudar nexo causal nos crimes em que é necessária a ocorrência
do resultado para sua consumação, ou seja, só se fala em nexo causal nos crimes materiais. Ora,
nos crimes formais e de mera conduta, não há necessidade de ligar conduta ao resultado, porque o
crime se consuma com a mera prática da conduta.
Assim, também é possível falar em nexo causal em crimes omissivos impróprios, porque são
crimes materiais.
Para essa teoria, causa é a condição relevante para o resultado. Funda-se num juízo de
relevância.
Relevante é tudo aquilo que for previsível no momento da conduta. De outro lado,
irrelevante é tudo que for imprevisível para o homem prudente.
Ex.: O agente joga um balde de água na represa cheia, que já está no seu limite, o que causa
uma inundação. Quando ele jogou o balde de água, não era previsível que apenas isso causaria a
inundação, logo, o balde de água é irrelevante, de modo que o agente não responde pelo crime de
inundação.
Para essa teoria, causa é a força que produz um fato, de modo que entre as condições do
resultado, causa é aquela que contribui mais eficazmente do que as outras para a produção do
resultado.
Para essa teoria, existe um embate entre os elementos que destroem a situação presente e
os elementos que devem manter a situação presente. A causa é o resultado de uma luta de uma
força contra a outra, ou seja, nesse embate, observa-se qual o elemento preponderante que venceu
a luta.
Para essa teoria, causa é a última condição humana que aparece na cadeia causal. Portanto,
aqui não se discute se foi a causa mais eficaz ou a mais adequada; e sim apenas se foi a última
condição humana da cadeia de causas.
Para essa teoria, a causalidade jurídica é de ordem prática, de forma que a causa vai ser
definida de acordo com o juízo de valor do intérprete no caso concreto. Portanto, é o intérprete que
escolhe a causa responsável daquele resultado ilícito, de acordo com o caso concreto.
Essa ideia é boa por dar mais liberdade ao intérprete, mas é ruim, porque dá azo ao exagero,
ao arbítrio do intérprete.
O autor diz que o ser humano é provido de consciência para prever os efeitos de
determinadas causas. Portanto, o nexo causal depende de dois elementos: um elemento positivo e
um elemento negativo.
O elemento positivo significa que o ser humano com sua ação deu lugar a uma condição do
evento positivo, antecedente do resultado. Por sua vez, o elemento negativo significa que o
resultado não decorre de fatores excepcionais.
4.2.9. Teoria da Equivalência dos antecedentes causais ou Teoria da conditio sine que non ou
Teoria da equivalência dos antecedentes ou Teoria da Condição simples ou Teoria da condição
generalizada (Von Buri, Glaser e Mill)
Para essa teoria, considera-se causa a ação ou a omissão sem a qual o resultado não teria
ocorrido, como ocorreu no caso concreto, ou seja, todos os fatos ocorridos antes do resultado se
equivalem, desde que sejam indispensáveis à produção daquele resultado.
Portanto, diferente da Teoria da Causalidade Adequada, onde há apenas uma causa (a mais
adequada), todos os fatos antecedentes e indispensáveis à produção do resultado se equivalem, e,
consequentemente, em princípios, todos eles são causa.
Portanto, todos os fatos anteriores que são indispensáveis para ocorrência do resultado são
considerados causa e todos são equivalentes.
Para saber se o fato é indispensável para ocorrência do resultado, deve-se fazer o processo
mental de eliminação hipotética de THIEM. Significa que se deve suprimir um dos fatos
mentalmente e observar o que acontece com o resultado: se o resultado permaneceu igual, aquele
fato não é causa. Por outro lado, se eu suprimir mentalmente aquele fato e o resultado não ocorre
mais como ocorreu, aquele fato é causa.
Ex.: o agente quer matar a vítima; ele compra arma e munição; ele sai de casa; ele passa
numa cafeteria e toma um café; ele vai de encontro à vítima; ele atira contra a vítima e causa sua
morte.
Nesse caso, se eu suprimo o tiro, o resultado morte não mais ocorre, logo o tiro é causa. Da
mesma forma, se eu suprimo a ida de encontro à vítima, o resultado morte também não ocorre,
logo também é causa. Pela mesma razão, se eu suprimo a compra da arma e da munição, eu elimino
o resultado morte, logo também é causa. Por outro lado, se eu suprimo a parada para o café, o
resultado morte continua igual, logo a parada para o café não é causa.
CRÍTICA - Ocorre que a Teoria da causalidade adequada sofreu críticas de BIDING, porque,
segundo o autor, ela provocava o regresso ao infinito. No exemplo dado, a fabricação da arma foi
causa, porque suprimindo a fabricação da arma, não há mais morte. Da mesma forma, se os pais do
agente não tivessem se encontrado e gerado o filho, não teria morte, logo também é causa.
Por sua vez, FRANK afastou a crítica do regresso ao infinito, sob o fundamento de que não
há causa se não há dolo e num culpa. Logo, o fabricante da arma não dá causa à morte, porque não
agiu com dolo e nem culpa; da mesma forma, os pais do agente não tiveram dolo e nem culpa em
relação à morte da vítima. Portanto, a análise do dolo e da culpa interrompe o regresso ao infinito.
Em suma, para analisar se o fato anterior for causa, devemos seguir alguns passos:
ATENÇÃO – Mas o que é ato preparatório e o que é ato executório, dentre as causas?
No exemplo dado, o tiro é o único ato executório; ao passo que todos os demais são atos
preparatórios (compra da arma e da munição; sair de casa; ir de encontro à vítima).
4.4. Concausas
4.4.1. Conceito
Como já vimos, a causa do resultado criminoso sempre será uma conduta humana dolosa ou
culposa, comissiva ou omissiva.
Contudo, existem outras causas que, além da conduta do agente, também produzem o
resultado. Essas outras causas são chamadas de concausas.
Essa independência pode ser total ou absoluta; ou pode ser uma independência relativa.
Por essa razão que se fala em concausas absolutamente independentes e em concausas
relativamente independentes.
Claro que NÃO, porque o que deu causa ao resultado não foi a conduta do agente, e sim a
concausa. Dessa forma, com base no art. 13 do CP, eu não posso atribuir o resultado ao agente,
porque ele não lhe deu causa.
Logo, aqui, o agente nunca responderá pelo resultado consumado, porque não deu causa
ao resultado. Nesse caso, o agente responderá apenas pela tentativa do crime que queria praticar.
Se eu suprimo mentalmente o tiro, a vítima ainda morre pela queda, logo, o agente não deu
causa ao homicídio consumado, de modo que não responde pelo art. 121, na forma consumada.
Porém, o agente ainda tentou matar a vítima, então responde apenas por tentativa de homicídio.
Nesse caso, o tiro rompe o nexo causal entre a conduta do agente, envenenamento, e o
resultado morte. Logo, o agente não responde por homicídio consumado, e sim por tentativa de
homicídio.
i) O agente tinha o dolo de matar e sabia da hemofilia: responde por homicídio consumado;
ii) O agente tinha o dolo de matar, mas não sabia da hemofilia: responde por homicídio
consumado;
iii) O agente tinha o dolo de lesionar, e sabia da hemofilia: responde por lesão corporal
seguida de morte. Ele não responde homicídio, porque seu dolo era só de lesionar;
iv) O agente tinha o dolo de lesionar, mas não sabia da hemofilia: responde por lesão
corporal leve (art. 129, caput, CP). Não responderá por lesão corporal seguida de morte, porque o
resultado morte não lhe era previsível, já que não sabia da hemofilia, sob pena de configuração de
responsabilidade objetiva.
Excluir a imputação não significa que o agente não vai responder por nada; na verdade,
significa que o agente não responde pelo resultado consumado, mas vai sim responder pela
tentativa.
Além disso, o fato de o dispositivo falar em concausa que por si só produziu o resultado não
transforma a concausa em absolutamente independente. Ela permanece sendo relativamente
independente.
A análise que se deve fazer é se o resultado produzido por si só pela concausa é uma
consequência natural da conduta do agente.
Ex.: o agente atira contra a vítima; a vítima é levada em uma ambulância para o hospital;
mas no caminho, a ambulância bate em outro carro e a vítima morre por causa do acidente. Nesse
caso, a morte por acidente de trânsito não é consequência natural do tiro. Logo, o acidente é
concausa relativamente independente que POR SI SÓ produziu o resultado morte. Por isso, o agente
responde apenas pela tentativa de homicídio.
Ex.2: o agente atira contra a vítima; a vítima é levada ao hospital, e enquanto está em
recuperação, o hospital pega fogo, e a vítima morre queimada. Nesse caso, o incêndio não é
consequência natural do tiro. Logo, o incêndio é concausa relativamente independente que POR SI
SÓ produziu o resultado morte. Por isso, o agente responde apenas pela tentativa de homicídio.
Por outro lado, se o resultado é SIM uma consequência natural da conduta do agente, a
concausa NÃO foi por si só a causa do resultado. Logo, não se exclui a imputação, de modo que o
agente responde pelo crime consumado.
Ex.: o agente atira contra a vítima; a vítima é levada ao hospital, onde contrai uma infecção
hospitalar, morrendo em razão dessa infecção. Nesse caso, a infecção hospitalar é consequência
natural de se dar um tiro e levar alguém ao hospital. Logo, a infecção é concausa relativamente
independente que NÃO por si só produziu o resultado. Por isso, não há exclusão da imputação, de
modo que o agente responde pelo homicídio consumado.
Ex.2: o agente atira contra a vítima; a vítima é levada ao hospital, mas não tem médico, leito
e nem remédio (falha do sistema de saúde), morrendo em razão da omissão do atendimento
médico. Nesse caso, o STJ entendeu que, em nosso sistema de saúde público, a omissão de
atendimento médico é consequência natural de dar um tiro e lavra alguém ao hospital. Logo, a
omissão de atendimento médico é concausa relativamente independente que NÃO por si só
produziu o resultado. Por isso, não há exclusão da imputação, de modo que o agente responde pelo
homicídio consumado.
4.5.1. Introdução
I – Finalidade: Roxin critica a teoria da conditio sine qua non, sob o fundamento de que seu
alcance é muito amplo, razão pela qual, ela provoca o regresso ao infinito.
Para evitar o regresso ao infinito, Roxin dizia ser necessário limitar a causalidade.
É bem verdade que a teoria finalista já limitava o regresso ao infinito, pela utilização do dolo
e da culpa. O regresso seria interrompido quando não houvesse mais dolo ou culpa.
Contudo, para a realização do tipo objetivo, não basta a mera relação de causalidade. Por
isso, a teoria da imputação objetiva busca limitar o alcance da teoria da causalidade, sem apelar
para a análise de dolo ou culpa (por isso, o nome objetivo).
Em outras palavras, a teoria busca a solução para a causalidade no tipo objetivo, sem
perquirir o tipo subjetivo. Assim fazendo, a teoria busca a não imputação (ao invés da imputação)
do fato ao agente.
a) Diminuição do risco: segundo Roxin, as ações que diminuam o risco não são imputáveis
ao tipo objetivo, apesar de serem causa do resultado em sua forma concreta e de estarem
abrangidos pela consciência do agente.
Destarte, se o agente diminui o risco ao bem jurídico, ainda que o agente dê causa ao
resultado conscientemente, o resultado não pode ser imputado a ele.
Em outras palavras, se o agente, com a sua conduta, diminuir um risco já existente para o
bem jurídico, o resultado advindo daí não pode ser a ele imputado.
Ex.: A vê que uma pedra foi arremessada contra a cabeça de B; por isso, A empurra B e a
pedra acerta apenas seu braço. Ora, A diminuiu o risco já existente (pedrada na cabeça de B).
Portanto, a lesão ao braço de B não pode ser imputada a A.
Ex.2: O bombeiro entra em um prédio em chamas para salvar uma criança; alcança a criança
e joga ela pra fora do prédio; a criança quebra o braço. A lesão à criança não pode ser atribuída ao
bombeiro, porque a criança iria morrer; o bombeiro na verdade diminuiu o risco.
b) Criação de um risco juridicamente relevante ou criação de um risco proibido: o resultado
somente pode ser imputado ao agente se a sua conduta criar um risco juridicamente relevante. Caso
contrário, o resultado não pode ser imputado ao agente.
Ex.: O agente sabe que está acontecendo guerra na Síria; por isso, ele dá uma passagem de
avião ao seu inimigo, para que ele vá para a Síria, torcendo para que ele morra lá. Ocorre que a
compra da passagem não é um risco proibido e nem relevante. Da mesma forma, o resultado morte
foi gerado pela guerra e não pela compra da passagem. Logo, a morte deve ser atribuída ao acaso.
Ex.2: O agente que vende uma arma não pode ser responsabilizado pela morte provocada
por um assassino. A venda de arma é um risco permitido. Logo, a venda de arma não cria um risco
proibido. A morte não decorre exclusivamente da conduta do agente de vender a arma. Portanto,
o agente não pode responder pelo homicídio.
Aqui vigora o princípio da confiança: confia-se que cada um agirá dentro daquilo que se
espera dele, ou seja, atendendo adequadamente às expectativas.
c) Aumento do risco permitido: o resultado só pode ser imputado ao agente se ele aumentar
o risco permitido.
Assim, se de alguma forma ele aumenta o risco da ocorrência do resultado, ele pode
responder pelo resultado. Por outro lado, se o agente não aumenta o risco, o resultado não pode
ser imputado a ele.
Ex.: Dirigir no trânsito é arriscado, mas é um risco permitido. Por isso, quem respeita as
regras de trânsito e acaba se envolvendo em um acidente, não pode ser responsabilizado pelo
resultado.
Porém, se o risco permitido for ultrapassado pelo agente, ou seja, se ele aumenta o risco
permitido, desrespeitando as normas de trânsito (dirigindo em alta velocidade, dirigindo na
contramão, dirigindo olhando para o celular), ele pode ser punido pelo resultado.
d) Âmbito de proteção da norma de cuidado ou esfera de proteção da norma como critério
de proteção: é preciso que o resultado esteja abrangido pelo fim de proteção da norma de cuidado.
Deve ser analisado o sentido protetivo de cada tipo penal, ou seja, qual é o alcance da finalidade da
norma violada. A pergunta é: o que aquela norma quer proteger?
Se o resultado estiver fora do alcance de proteção da norma, ele não pode ser imputado ao
agente.
Ex.: Dois ciclistas pedalam um atrás do outro, no escuro, sem farol. O ciclista da frente colide
com uma pessoa, porque não a viu. Se o ciclista de trás estivesse com o farol ligado, ele teria
iluminado o caminho, de modo que o acidente não teria ocorrido.
O ciclista da frente responde por lesão corporal, porque o dever de acender o farol tem por
fim evitar colisões. O ciclista da frente criou o perigo por pedalar sem farol. Nesse caso, o resultado
não pode ser imputado ao ciclista de trás, porque o fim do dever de acender o farol é iluminar o
caminho para evitar suas próprias colisões e não colisões alheias.
Com efeito, o enfarte pelo susto não está compreendido no fim das normas sobre
ultrapassagem. Nesse caso, o motorista que fez a ultrapassagem irregular não pode responder por
homicídio culposo.
Ex.: Na tempestade, A pede para B, condutor do barco, que atravesse um rio perigoso. B
alerta do perigo, mas A insiste. O barco vira e A morre. Nesse caso, B não pode responder pela morte
de A.
Ex.2: O passageiro insiste para o motorista correr além do limite de velocidade permitido. O
motorista obedece; há um acidente e o passageiro morre. Nesse caso, o motorista não pode
responder pela morte do passageiro.
Ex.3: O dono do carro está bêbado e sem condições de dirigir; seu amigo pede para ir de
carona com ele, mesmo o dono do carro alertando que é perigoso. O amigo morre em acidente
provocado pela embriaguez. Nesse caso também não há responsabilidade penal do motorista.
I – Fundamento: Jakobs fundamenta sua teoria na Teoria dos Papéis: no nosso contrato
social, cada pessoa exerce um papel na sociedade, de acordo com os padrões daquela sociedade –
chamados de expectativas normativas. Por isso, espera-se que cada um de nós pratique nossas
condutas de acordo com aquilo que se espera de nós.
Quem exercer seu papel de forma deficiente, responde juridicamente pelo resultado daí
advindo. Por outro lado, se todos se comportam de acordo com seus papeis, qualquer resultado
será atribuído ao acaso.
II – Linhas mestras: Diante de seus fundamentos, Jakobs elabora quatro linhas mestras:
a) Risco permitido: não é possível uma sociedade sem riscos. O risco, portanto, inerente à
configuração da sociedade deve ser tido como risco permitido.
Assim, se a pessoa realiza esse risco, mas atendendo a seu papel na sociedade, não pode
responder por nenhuma consequência advinda da sua conduta.
b) Princípio da confiança: cada cidadão cumpre seu papel, na confiança de que os demais
também o farão. Essa confiança é justamente a expectativa normativa.
Ex.: Eu atravesso no sinal verde, confiando que as outras pessoas do sentido oposto
respeitarão o sinal vermelho. Logo, se houver um acidente, porque você furou o sinal vermelho, eu
não posso responder pelo resultado, porque atravessei no sinal verde e confiei que você iria
respeitar o sinal vermelho.
c) Proibição de regresso: ainda que a conduta do agente contribua para o resultado
criminoso, se ele estiver apenas exercendo o seu papel na sociedade, o resultado não pode ser
atribuído ao agente.
Ex.: O padeiro vende um pão para o A, dizendo que está comprando o pão para envenenar
B. Mesmo que o padeiro soubesse do intento criminoso de A, ele não responde pela morte, porque
estava apenas respondendo pelo seu papel de vender pães.
Ex.2: A pega um táxi até a casa de B, dizendo que está indo para lá pra matar B. Ainda assim,
o taxista não responde pela morte de B, porque está apenas cumprindo seu papel de dirigir o táxi.
Veja que esses elementos cotidianos (pão e táxi) estão sempre disponíveis na sociedade, ou
seja, são permitidos. A proibição deles não tem o condão de evitar o comportamento do agente.
Por isso, o padeiro e o taxista não respondem pelo resultado morte, porque estavam apenas
exercendo seus papéis na sociedade.
ii) Grupo 2 - ações a próprio risco: a vítima que participa de atividades arriscados, fá-lo a seu
próprio risco.
Ex.: A vítima que pratica esportes radicais pratica uma conduta perigosa a próprio risco.
Nesse caso, nenhuma responsabilidade pode ser imputada ao instrutor do esporte, porque
a vítima se colocou em risco.
5. Tipicidade
5.1.1. Conceito
b) Adequação típica indireta ou mediata: a doutrina alemã chama de adequação típica por
dupla via.
Exs.: A conduta típica é matar alguém; a conduta do agente é tentar matar alguém; os
agentes mataram a vítima (conduta no plural, ao passo que o tipo está no singular); o agente é salva
vidas e viu a vítima se afogar, mas não o salvou, resultando na morte na vítima.
Essas três condutas seriam atípicas, porque não se adequam perfeitamente ao tipo penal.
Todavia, ao acrescentar o artigo 14, II, CP, ao primeiro exemplo; o art. 29 ao segundo exemplo e o
art. 13, §2º, ao terceiro exemplo; as condutas passaram a ser típicas. Isso porque esses três últimos
artigos deram adequação típica às condutas.
Portanto, essas normas – art. 14, II; art. 29; art. 13, §2º - estendem essas condutas à
adequação típica. Por isso, essas normas são chamadas de normas de extensão (ou normas de
adequação típica por subordinação indireta ou mediata ou por dupla via).
Em suma, aqui, há necessidade de dois dispositivos legais: o tipo legal + a norma de extensão.
A tipicidade material busca aferir o grau de lesão ao bem jurídico tutelado. Por isso que aqui
se analisa a aplicação do princípio da insignificância.
5.4. Tipicidade Conglobante
5.4.1. Fundamento
Zaffaroni defende que a tipicidade não pode ser resumida num mero juízo de adequação
entre a conduta do agente e a norma penal. Essa tipicidade meramente legal não é mais suficiente
para resolver a questão da adequação típica.
Na verdade, a tipicidade deve ser analisada de acordo com todo o ordenamento jurídico, e
não só com o Direito Penal.
5.4.2. Antinormatividade
Isso porque o Direito é uma coisa só – Princípio da Unidade do Ordenamento jurídico. Por
isso, o Direito Penal não pode proibir uma conduta que outro ramo do Direito obrigue ou fomente,
sob pena de quebra da unidade da ordem jurídica.
Ex.: Não pode ser típica (furto) a conduta do oficial de justiça que penhora os bens do
executado, porque a penhora pelo oficial de justiça é obrigada ou fomentada pelo CPC. Portanto, a
conduta do oficial de justiça não é antinormativa, porque está de acordo com o CPC. Logo, sua
conduta carece de tipicidade conglobante – conduta atípica.
5.4.3. Vertentes das condutas obrigatórias ou fomentadas
Ex.: O oficial de justiça que realiza penhora na casa do executado cumpre um dever
processual civil. Logo, a conduta do oficial de justiça não é típica (invasão de domicílio ou furto),
porque não é antinormativa.
II – Intervenções cirúrgicas: podem ser intervenções com fins terapêuticos e sem fins
terapêuticos:
a) Com fins terapêuticos: o Direito Civil fomenta as intervenções cirúrgicas com fins
terapêuticos. Logo, como são condutas fomentadas pela ordem jurídica, não são atos
antinormativos. Ex.: cirurgia de ponte de safena;
b) Sem fins terapêuticos: nesse caso, a conduta é apenas permitida pelos outros ramos do
Direito, mas não são fomentadas e nem obrigatórias. Logo, essa conduta é típica, porque é
antinormativa. Porém, o médico age no exercício regular do direito, desde que haja consentimento
do paciente (se não houver consentimento do paciente, o médico responde por lesão corporal). Ex.:
cirurgia plástica.
III – Lesões desportivas: as atividades esportivas são fomentadas ou incentivadas pela Lei.
Logo, se as regras esportivas forem cumpridas, as condutas não são antinormativas, logo, o atleta
não pratica figura atípica. Ex.: Boxeador que acerta vários socos no outro boxeador e acaba
causando sua morte.
Por outro lado, se as regras do esporte forem desrespeitadas, as condutas praticadas fora
das regras não são fomentadas, logo, as condutas são típicas.
IV – Princípio da Insignificância: deve-se aferir o grau de lesão ao bem jurídico. Se a lesão
for ínfima, a conduta será penalmente atípica, abrangida pela atipicidade conglobante.
Se não aplicarmos a tipicidade conglobante, as condutas que são obrigadas por outros ramos
do Direito, seriam típicas, mas seriam lícitas, porque o agente age em estrito cumprimento de um
dever legal. Ex.: oficial de justiça que cumpre mandado de penhora.
Por sua vez, as condutas fomentadas por outros ramos do Direito, seriam típicas, mas seriam
lícitas, porque o agente agiria em exercício regular do direito. Ex.: boxeador que lesiona o outro
dentro do ringue.
De outro lado, as condutas praticadas em legítima defesa ou estado de necessidade não são
fomentadas e nem obrigadas por outros ramos do Direito. Na verdade, essas condutas são apenas
permitidas ou toleradas pela Lei. Logo, são atos antinormativos e, por conseguinte, são fatos típicos.
A maior parte da doutrina, bem como a jurisprudência, trabalham apenas com a tipicidade
formal e a tipicidade material.
ILICITUDE
1. Introdução
Porém, a ilicitude não é exclusiva do Direito Penal. Na verdade, ela é importada do Direito
Civil. Com efeito, qualquer conduta que viola a norma jurídica é ilícita, como furar o sinal vermelho;
não pagar um tributo e etc.
3. Espécies
b) Ilicitude material: é a conduta que causa lesão ou expõe a lesão um bem jurídico tutelado.
A doutrina moderna critica essa divisão, sob o fundamento de que, embora diversas, há uma
confusão entre a ilicitude formal e a material. Ora, se eu pratico uma conduta proibida pela norma,
eu causo lesão a um bem jurídico tutelado. Logo, os conceitos estão interligados; não dá pra
conceber um sem o outro.
Para saber quando a conduta é ilícita, precisamos estudar antes as fases de evolução do tipo
penal. São três fases de evolução:
I – 1ª Fase – Função descritiva do tipo penal (Binding): Para Binding, o tipo penal tem como
única função descrever uma conduta, ou seja, o tipo penal apenas descrevia uma conduta proibida
ou mandada. Para Binding, portanto, não havia nenhuma relação entre tipo penal e ilicitude.
Essa teoria também ficou conhecida como teoria do tipo avalorado, porque o tipo não tinha
nenhum valor ligado à ilicitude; ele apenas descreve a conduta.
Também é conhecida como teoria do tipo acromático, ou seja, tipo sem cor, porque o tipo
não trazia nenhuma cor da ilicitude.
II – 2ª Fase – Função indiciária do tipo penal ou Teoria da Ratio Cognoscendi (Mayer): para
o autor, o tipo penal realmente descreve uma conduta, mas sua função não é apenas essa. Isso
porque o tipo penal tem a função de indiciar a conduta.
Para Mayer, tipo penal e ilicitude são coisas diferentes, mas o tipo penal funciona como um
indício de ilicitude, ou seja, o tipo penal não traz a certeza da ilicitude, mas traz um indício dela.
Logo, como indício que é, ainda pode ser afastado.
III – 3ª Fase – Confusão entre tipo penal e ilicitude ou Teoria da ratio essendi (Mezger):
para o autor, tipo penal e ilicitude são a mesma coisa.
Mezger trouxe a ilicitude para dentro do tipo penal. Assim, tipo penal e ilicitude passaram a
ser um a razão de ser do outro.
Portanto, para essa teoria, a exclusão da ilicitude acarreta, por consequência, a exclusão da
tipicidade.
Daí surge a Teoria dos Elementos Negativos do Tipo, pela qual a exclusão da ilicitude
acarreta a exclusão da tipicidade.
5. Teoria adotada
A teoria adotada foi a Teoria da Função Indiciária do tipo penal de Mayer ou Teoria da ratio
cognoscendi.
Seu fundamento é a teoria do reconhecimento das normas de cultura. Explico: para Mayer,
a cultura exerce grande influência sobre as normas do Estado. Por isso, os interesses gerais, a cultura
local daquela coletividade é levada para a ordem jurídica, para a legislação. Ex.: em alguns países, é
permitido o uso de drogas e o aborto; em outros países, essas condutas são criminosas.
Toda legislação que separa condutas proibidas de condutas permitidas está determinando
qual norma de cultura foi adotada. Em outras palavras, o legislador decide o que é lícito e o que é
ilícito de acordo com as normas de cultura vigentes no local.
Portanto, se a conduta é proibida por um tipo penal, já há indícios de que ela contraria as
normas de conduta e, por conseguinte, é ilícita. Se a conduta fosse lícita, ela não estaria prevista no
tipo penal como proibida.
Em suma, a mera previsão no tipo penal já traz o indício de sua ilicitude, até prova em sentido
contrário.
A ilicitude se faz presente quando for praticado um tipo penal, ou seja, não há necessidade
de se preocupar com a presença da ilicitude, e sim com a presença do tipo penal. Por isso, a nossa
preocupação deve ser acerca de quando a ilicitude está ausente; que são justamente as causas
excludentes da ilicitude.
6.1. Introdução
6.2.1. Origem
Encontra-se referência à legítima defesa no Código de Manu, aperfeiçoado posteriormente
pelo Direito Romano.
Além disso, na Lei de Moisés, também já havia referência à legítima defesa: se o ladrão for
apanhado, forçando uma casa, for ferido e morrer; o que o ferir não será punido. Veja que a legítima
defesa tinha um cunho patrimonial.
Da mesma forma, a lei das 13 tábuas permitia matar o ladrão que atacasse durante a noite.
Hoje, qualquer direito pode ser legitimamente defendido, desde que utilizados os meios
moderados, ou seja, vedado o excesso.
6.2.2. Fundamento
b) Reafirmação do Direito: quando me defendo, estou reafirmando o meu direito de não ser
lesionado ou de não ser morto.
Além disso, a legítima defesa autoriza a lesão de bem mais valioso do que o defendido.
I – Teoria da Coação Moral (Puffendorf): quem se defende frente a um perigo iminente não
pode ser responsabilizado penalmente. Isso porque esse agente age em um estado de insanidade
ou perturbação mental. Com efeito, aquele perigo ou agressão gera no agente essa perturbação
mental.
Significa que o agente está numa situação de inimputabilidade. Por isso, não é punido.
II – Teoria da Escusa Legal (Geyer): fundamenta-se na ideia de retribuição do mal pelo mal.
A conduta do ofendido, aquele que se defende de uma agressão, pode até ser reprovável, mas não
pode ser punida. Isso porque há apenas a compensação de um mal por outro mal.
III – Teoria do Exercício de um Direito (Kant): a legítima defesa é um direito. Kant reconhece
na legítima defesa um direito a ser exercido por uma pessoa que sofre uma agressão injusta.
O Direito Penal brasileiro não adotou nenhuma das teorias acima elencadas. A que mais se
aproxima do Direito Penal brasileiro é a Teoria do Exercício de um Direito de Kant.
I – Elementos objetivos:
Obs.: Nesse caso, a defesa deve se dá contra o animal, e não contra o humano que o utiliza
como instrumento. Isso porque a legítima defesa sempre deve visar a cessação da agressão. Ora, se
eu reajo contra o humano, o animal ainda irá me atacar, então não é legítima defesa (resultado: eu
vou ser estraçalhado pelo animal e ainda vou responder por homicídio doloso do humano).
Portanto, a reação deve ser contra o animal para cessar seu ataque.
De qualquer forma, a agressão humana é analisada de forma objetiva. Significa que será
legítima defesa contra a ação de um inimputável ou de um menor de 18 anos, sempre vedado o
excesso (não pode dar um tiro numa criança de cinco anos que vem te bater com uma vassoura).
Ex.: A agride B do nada. B pode revidar, agindo em legítima defesa, porque a agressão de A
é injusta.
Contudo, contra a reação de B, A não pode revidar em legítima defesa, porque a reação de
B é justa, já que praticada em legítima defesa. Logo, se A ainda agredir B, estará provocando mais
uma vez uma agressão injusta, de modo que B pode revidar de novo, agindo em legítima defesa.
Por outro lado, imagine que B revida a agressão injusta de A, e mesmo após ter conseguido
cessar a agressão de A, B continuou agredindo A. Veja que a nova agressão de B (após a cessação
da agressão de A) configura um EXCESSO. Portanto, agora A está sofrendo uma agressão injusta,
logo, nessa hipótese, A pode revidar a agressão de B, atuando em legítima defesa.
Temos aqui a legítima defesa sucessiva – a legítima defesa contra o excesso de quem se
defende.
c) Agressão atual ou iminente: agressão atual é aquela que está acontecendo no momento.
d) Agressão contra direito próprio ou de outrem: por isso, a legítima defesa pode ser própria
(defesa de direito próprio) ou de terceiro (defesa de direito de outrem).
Infelizmente, também não há um critério objetivo para limitar os meios necessários. Mais
uma vez, a análise deve ser feita no caso concreto.
De qualquer forma, na análise do caso concreto, devem ser analisados três fatores:
iii) O meio de defesa pode ser mais grave, desde que seja o único que o agredido tinha à
disposição.
Art. 23, Parágrafo único, CP - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo,
responderá pelo excesso doloso ou culposo.
ATENÇÃO – Excesso por causas emocionais: o excesso por causas emocionais pode se dar
por elementos astênicos e elementos estênicos.
As causas astênicas são ligadas ao medo, susto, perturbação. Por medo, pavor, pânico, a
pessoa agredida pode se exceder.
Por sua vez, os elementos estênicos estão ligados à irritação, ódio, cólera.
Não cabe legítima defesa nesse caso, porque a agressão proveniente de estado de
necessidade não é injusta.
SIM.
Ex.: A ameaça B; e B começa a andar armado com medo de A. O A vai ao encontro de B para
se desculpar, mas quando B avista o A, pensa que A vem ao seu encontro para matá-lo. Por isso, B
saca uma arma e atira contra A, mas erra o tiro. Diante disso, A atira contra B e o mata.
Veja que o B agiu em legítima defesa putativa, porque achou que A iria agredi-lo. Por seu
turno, A se viu diante de uma agressão injusta por parte de B, porque apenas iria se desculpar com
ele e B atirou contra si. Portanto, A agiu em legítima defesa real (diante de uma agressão humana,
atual e injusta) contra a agressão de B, que atuou em legítima defesa putativa.
A Lei nº 13.964/19 trouxe uma novidade ao artigo 25 do Código Penal – o seu parágrafo
único:
A verdade é que essa alteração não é tão substancial, porque isso já era considerado legítima
defesa. O legislador apenas explicitou uma hipótese que já era considerada legítima defesa.
Ex.: O agente mantém uma vítima refém num assalto a ônibus; diante disso, um sniper atira
e mata o agente, como aconteceu no Rio de Janeiro.
Vejam que isso não é e nem nunca foi estrito cumprimento de um dever legal, porque não
existe dever de matar nessa hipótese. Portanto, essa hipótese sempre foi caso de legítima defesa,
e agora continua sendo, mas apenas de forma mais explícita.
Por fim, importa ressaltar que o parágrafo único destaca que apenas haverá legítima defesa
nesse caso, se os requisitos do caput do art. 25 forem observados, especialmente em relação aos
meios necessários utilizados de forma moderada.
6.3.1. Noção
No estado de necessidade, temos dois bens jurídicos tutelados em conflito numa situação
de perigo, de modo que a lei permite o sacrifício de um dos bens a fim de salvar o outro.
Nesse caso, deve haver uma ponderação de valores entre o bem sacrificado e o bem salvo.
A primeira corrente defende que o estado de necessidade é uma faculdade do agente, e não
direito do agente. O estado de necessidade não é direito, porque para cada direito, deve haver um
dever. Ora, sendo assim, se o estado de necessidade for direito daquele que agente que sacrifica
um bem jurídico, haveria um dever da outra pessoa se sujeitar ao sacrificado de seu bem. Ex.: num
incêndio, a pessoa que mata a outra para se salvar teria o direito de estado de necessidade, ao passo
que a pessoa que morre teria o dever de entregar sua vida para salvar a outra.
Já a segunda corrente sustenta que o estado de necessidade é um direito, mas não em face
daquela pessoa que sofre o sacrifício, e sim em face do Estado, que tem o dever de reconhecer o
estado de necessidade caso estejam presentes os requisitos legais. Essa é a corrente majoritária
(Damásio).
I – Teoria Unitária: para essa teoria, se o bem sacrificado for um bem de menor ou igual
valor em relação ao bem salvo, temos um estado de necessidade justificante. Exs.: sacrifico
patrimônio para salvar a vida; sacrifico uma vida para salvar outra vida.
Se o bem sacrificado for de maior valor que o bem salvo, não se fala em estado de
necessidade, de modo que há crime e não se exclui a ilicitude.
II – Teoria Diferenciadora: para essa teoria, se o bem sacrificado for de menor valor que o
bem salvo, temos um estado de necessidade justificante (ex.: sacrifico patrimônio para salvar vida).
Por outro lado, se o bem sacrificado for de maior ou igual valor ao bem salvo, temos um estado de
necessidade exculpante (sacrifico vida para salvar vida).
No estado de necessidade justificante, haveria a exclusão da ilicitude. Por sua vez, o estado
de necessidade exculpante exclui apenas a culpabilidade.
O Direito Penal brasileiro adotou a Teoria Unitária e a Teoria Diferenciadora, ou seja, as duas
teorias foram adotadas.
Com efeito, a Teoria Unitária foi adotada pelo Código Penal comum; ao passo que a Teoria
Diferenciadora foi adotada pelo Direito Penal Militar.
6.3.5. Classificação
a) Defensivo: o agente sacrifica a própria fonte do perigo. Ex.: um pitbull vem na minha
direção pra me atacar; eu saco uma arma e mato o animal; nesse caso, sacrifiquei a própria fonte
do perigo;
b) Agressivo: o agente sacrifica um bem jurídico diverso daquele que constitui a fonte do
perigo. Ex.: incêndio em uma sala; mato um inocente para tentar me salvar; nesse caso, sacrifiquei
a vida de um inocente (bem jurídico diverso da fonte do perigo) para me salvar.
I – Elementos objetivos:
a) Perigo atual: o perigo que acontece naquele momento. Esse perigo pode decorrer de uma
ação humana ou não (eventos naturais, animais e etc).
Veja que no estado de necessidade, diferente da legítima defesa, a lei não fala em perigo
iminente, apenas em perigo atual. Diante disso, aplica-se ou não o perigo iminente ao estado de
necessidade?
Uma primeira corrente defende que SIM; o estado de necessidade abrange o perigo
iminente, em analogia ao artigo 25, que trata da legítima defesa (Bittencourt e Greco).
Por outro lado, uma segunda corrente sustenta que NÃO; o estado de necessidade não
abrange o perigo iminente, porque se o legislador quisesse abranger o perigo iminente, ele teria
dito expressamente, como disse quando tratou da legítima defesa (Nucci).
b) Que não provocou por sua vontade: o agente não pode ter provocado o perigo atual; se
o agente deu causa à situação de perigo, ele não pode alegar depois o estado de necessidade.
Mas qualquer forma de provocação do perigo impede o estado de necessidade, seja ela
dolosa ou culposa?
Uma primeira corrente sustenta que apenas a provocação dolosa do perigo impede o estado
de necessidade, porque a lei fala em vontade. Vontade denota dolo. Por isso, se o agente causou o
perigo culposamente, cabe estado de necessidade (Bento de Faria, Aníbal Bruno, Fragoso, Greco).
De outro turno, uma segunda corrente sustenta que tanto a provocação dolosa como a
culposa do perigo impedem o agente de alegar estado de necessidade, porque a palavra vontade
não denota só dolo. Seria injusto o agente que violou um dever objetivo de cuidado por descuido
se salvar depois, sacrificando um bem jurídico alheio e alegando estado de necessidade (Nucci,
Hungria, Toledo). Essa é a posição majoritária.
c) Não podia de outro modo evitar: no estado de necessidade, o sacrifício do bem jurídico
tem que ser a última hipótese; eu só posso sacrificar um bem jurídico se não houver outra forma de
salvar o outro bem jurídico.
e) Cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se: aqui trabalha-se com a
teoria unitária e a ponderação de bens – só se pode sacrificar um bem de menor ou igual valor que
o bem salvo para que haja estado de necessidade.
Se o bem sacrificado for de maior valor que o bem salvo, não há estado de necessidade, logo,
há crime. Nesse caso, mesmo havendo crime, a pena pode ser diminuída de um a dois terços, se for
razoável o direito ameaçado (§2º).
II – Elemento subjetivo: o agente deve saber que está agindo em estado de necessidade, ou
seja, ele deve ter consciência sobre a existência de todos os elementos objetivos.
Destarte, a proibição legal não se aplica aos demais garantidores previstos no art. 13, §2º,
CP.
Art. 24, § 1º, CP - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o
dever legal de enfrentar o perigo.
b) Dever legal: é um dever previsto em uma norma jurídica, em sentido amplo (lei, decreto,
portaria, instrução normativa e etc.)
Ora, quem tem deveres de agir previstos em normas jurídicas são apenas os funcionários
públicos. Logo, essa excludente é direcionada a um funcionário público ou quem esteja no exercício
de uma função pública.
Além disso, deve haver o requisito subjetivo: o funcionário público deve ter consciência de
que está agindo em estrito cumprimento do dever legal.
Ex.: Policial vai prender um agente, que reage; ele utiliza da força necessária e acaba
quebrando o braço do agente. Ele está agindo em estrito cumprimento do dever legal, logo, exclui-
se a ilicitude, de modo que ele não responde por lesão corporal.
Também não tem previsão específica e própria, assim como o estrito cumprimento, apenas
a previsão genérica do art. 23.
A excludente existe, porque a mesma coisa não pode ser ao mesmo tempo um direito e um
crime.
a) Direito: não há mais um dever, e sim um direito do agente. Ademais, qualquer direito
pode justificar a excludente, seja ele de caráter público, privado, penal ou extrapenal. Ex.: qualquer
pessoa tem o direito de prender outrem em flagrante;
b) Exercício regular: os atos devem ser apenas os estritamente necessários para o exercício
do direito. Destarte, o excesso decorre justamente do exercício irregular do direito.
Por fim, o agente deve ter o elemento subjetivo, ou seja, deve ter consciência de que está
agindo em exercício regular do direito.
6.6.1. Conceito
Obs.: Cachorro é ofendículo? Depende. Se for um cão de guarda, pode ser considerado
ofendículo. Por sua vez, se for um cachorro apenas para companhia, não é ofendículo.
Obs.: Defesa mecânica pré-disposta – parte da doutrina sustenta que seria uma espécie de
ofendículo oculta.
ATENÇÃO – Cerca elétrica: a Lei 13.477 regulamenta a instalação e uso da cerca elétrica.
Segundo a lei, a cerca deve estar a uma altura compatível com a finalidade; altura mínima do solo
para não causar acidentes; choque não mortal. Por fim, a cerca deve ser visível e deve conter avisos
que alertem sobre sua existência e risco (inclusive para pessoas analfabetas).
A primeira corrente defende que se trata de exercício regular do direito, ou seja, quando o
agente instala os ofendículos, ele age no direito regular de garantir sua vida e patrimônio. Essa é a
posição de Aníbal Bruno, mas é minoritária.
Já uma segunda corrente diz que se trata de legítima defesa, ou seja, quando o invasor se
lesiona na cerca elétrica, o agente está apenas defendendo seu patrimônio e a sua vida. Essa é a
posição de Hungria, Noronha e Toledo e é majoritária.
Por fim, uma terceira corrente sustenta uma dupla natureza jurídica: num primeiro
momento, o ofendículo consiste em exercício regular do direito; e num segundo momento,
legítima defesa pré-ordenada. Portanto, no momento da instalação da ofendícula, o agente age em
exercício regular do direito, mas quando a ofendícula é utilizada e lesiona o invasor, há legítima
defesa pré-ordenada. Essa é a posição de Bittencourt.
a) Bem disponível: o bem jurídico tutelado deve ser disponível, logo, não abrange a vida e
os bens ligados ao Estado, pois estes são bens indisponíveis. Por sua vez, são disponíveis a honra, o
patrimônio, a integridade física;
b) Consentimento válido: significa que o consentimento não pode ser obtido com nenhum
vício de vontade, como ameaça, fraude, constrangimento, mediante erro e etc.
c) Capacidade para consentir: o titular do bem deve ter capacidade para consentir. Como
regra, são apenas o maior de 18 anos e o mentalmente são.
6.8.1. Introdução
Imagine que um bombeiro é chamado para dois incêndios, em prédios distantes. Ele vai a
um dos prédios e o outro prédio pega fogo, resultando na morte de uma pessoa. Diante disso, o
bombeiro responde pela morte dessa pessoa, como garantidor que é?
Ou imagine que o Dr. Tenma é o único cirurgião do Hospital. Nesse momento, chegam duas
pessoas em risco, precisando de cirurgia, uma criança e um idoso. Diante disso, Dr. Tenma resolve
fazer a cirurgia na criança, salvando sua vida, mas isso resulta na morte do idoso. Dr. Tenma
responde pela morte do idoso?
Nesses casos, não há estado de necessidade, porque no estado de necessidade não há dever
de sacrificar um bem para salvar o outro; na verdade, há apenas uma permissão para fazê-lo. Por
sua vez, na colisão de deveres, não há mera permissão, e sim verdadeiro dever de agir.
6.8.2. Espécies
Há duas formas de colisão de deveres:
I - Dever de agir x Dever de agir: essa forma ainda se subdivide em duas outras hipóteses:
a) Um dos deveres de agir é superior ao outro: o médico se depara com um paciente que
tem uma epidemia que pode causar um genocídio. Ele tem dois deveres de agir: comunicar a
autoridade pública sanitária para evitar a epidemia ou guardar o sigilo médico.
Nesse caso, a comunicação à autoridade pública é um dever de agir muito superior, porque
evita uma epidemia mortal. Logo, o médico deve cumprir o dever superior; e quanto ao
descumprimento do dever inferior, apesar de configurar o crime de violação do sigilo médico, o
agente não responde por esse crime, pela exclusão da ilicitude por colisão de deveres.
b) Os dois deveres de agir são equivalentes: Dr. Tenma precisa salvar os dois pacientes que
precisam de cirurgia. Nesse caso, como os deveres são equivalentes, Dr. Tenma pode cumprir
qualquer um dos deveres de agir. Por isso, ele não responde pela morte do outro paciente em que
não fez a cirurgia, por exclusão da ilicitude – colisão de deveres equivalentes.
Obs.: Imagine agora que Dr. Tenma está sozinho no Hospital e dois pacientes chegam no
Hospital precisando de cirurgia: uma criança e o prefeito da cidade. Isso não é critério distintivo,
logo, status profissional, classe social, idade, chance de sobreviver, não importam. O que importa é
que são duas vidas humanas, dois bens jurídicos equivalentes.
a) Um dos deveres é superior: nesse caso, o agente também deve cumprir o dever superior,
seja ele de agir ou de omitir. Se o dever inferior descumprido configurar crime, o agente não
responde por ele, pela exclusão da ilicitude por colisão de deveres.
A doutrina alemã sustenta que nesse caso, prevalece o dever de omitir, ou seja, o médico
deve deixar o respirador com o primeiro paciente, porque já há uma situação consolidada – o
primeiro paciente já está com o respirador. É possível que se retirar o respirador do primeiro
paciente para dar ao novo paciente, ambos os pacientes morram. Por isso, é mais seguro manter o
respirador com o A, e garantir sua vida.
Por outro lado, se o médico cumpre o dever de agir, ie, retira o respirador do primeiro
paciente e o entrega ao novo paciente, resultando na morte do primeiro paciente, o médico vai
responder pela morte do primeiro paciente.
ATENÇÃO – Se o novo paciente que chega é filho do paciente, e o médico retira o respirador
do primeiro paciente e o entrega ao seu filho, mesmo que resulte na morte do primeiro paciente, o
médico responde por sua morte, mas pode ser absolvido pela exclusão da culpabilidade pela
inexigibilidade de conduta diversa.
CULPABILIDADE
1. Introdução
Segundo Santiago Mir Puig, a culpabilidade é um princípio que possui três vertentes:
Welzel já dizia que o que converte a conduta humana em crime é ela gerar um fato típico,
ilícito e culpável.
Entretanto, deve-se notar que quando se analisa a tipicidade e a ilicitude, olha-se apenas
para o fato. Todavia, quando se analisa a culpabilidade, olha-se para o agente, ou seja, o juízo de
reprovação recai sobre o agente (juízo de reprovabilidade pessoal).
Beccaria dizia que só se justifica uma pena, se ela for justa. Pena justa, por sua vez, é aquela
necessária e suficiente para a reprovação e prevenção do crime.
Assim, o que é mais grave? Uma pessoa qualquer receber vantagem indevida ou um policial
receber uma vantagem indevida? A reprovabilidade da conduta do policial é maior.
Destarte, ninguém pode responder por um resultado absolutamente imprevisível, sem que
tenha agido com dolo ou culpa. Nesse caso, o resultado é deslocado para o caso fortuito ou a força
maior.
Por essa razão, também são vedadas quaisquer formas de responsabilidade penal coletiva,
subsidiária, solidária ou sucessiva. Isso porque, no Direito Penal, a responsabilidade é sempre
pessoal e subjetiva.
a) Lei 4728/65 – disciplina os crimes praticados em âmbito de mercado de capitais: o art. 73,
§2º, dessa lei, diz que todos os diretores da pessoa jurídica seriam punidos. Ocorre que isso é
claramente uma responsabilidade penal objetiva e coletiva, porque não se afere dolo ou culpa de
cada um dos diretores. Logo, esse dispositivo é inconstitucional por violar o princípio da
culpabilidade;
b) Lei de Contravenções Penais: o artigo 3º diz que só se deve perquirir dolo ou culpa quando
a lei estabelecer. Ora, sempre se deve aferir dolo ou culpa por parte do agente, independentemente
de a lei afirmar. Por isso, esse artigo também é inconstitucional por prever hipótese de
responsabilidade penal objetiva;
c) Homicídio culposo no CTB: Não basta que a denúncia diga que o acusado estava na direção
de veículo automotor. A denúncia precisa demonstrar no que consistiu a violação do dever objetivo
de cuidado, ou seja, o acusado estava em ziguezague, em alta velocidade, furou o sinal... Se a
denúncia não descrever no que consistiu a culpa, ela será inepta (Info 553 do STJ). Portanto, mais
uma vez, incorre-se em responsabilidade penal objetiva.
Sempre se discutiu se os crimes são praticados por livre arbítrio do agente ou fruto de
determinismo.
Pelo livre arbítrio, o agente pratica o delito de acordo com sua vontade própria. Ele não é
influenciado por fatores externos, ou seja, nenhum fator alheio a sua vontade o influencia à prática
do crime. O agente sabe o que é certo e o que é errado e escolhe livremente. Logo, ele deve
responder penalmente por seus atos.
De outro lado, pelo determinismo, o agente pratica o crime, influenciado por fatores
externos ou exógenos, ou seja, o ambiente em que ele está inserido, a educação e a instrução que
ele recebeu, as pessoas que o rodeiam, tudo isso influencia o agente na prática da infração penal.
Todos esses fatores influenciam e determinam o agente, de forma tal que ele é conduzido a praticar
o delito.
Diante disso, o determinismo pode servir como uma hipótese de exclusão da culpabilidade,
mas isso não vai acontecer. Logo, o determinismo serviria apenas para diminuir ou atenuar a pena
do agente.
Obs.: A coação física ou moral, mas sobretudo a física, aniquila o livre arbítrio. Portanto,
nesse caso, um fator externo físico o leva à prática da infração penal.
2. Teorias da Culpabilidade
Para a teoria psicológica, culpabilidade é tão somente um vínculo psicológico entre o agente
e o crime por ele praticado.
Esse vínculo psicológico era justamente o DOLO ou a CULPA. Portanto, o dolo e a culpa não
eram considerados elementos da culpabilidade (a culpabilidade nem tinha elementos), e sim, a
própria culpabilidade (Culpabilidade = Dolo + Culpa). Logo, dolo e culpa não estavam na conduta, e
sim dentro da culpabilidade, porque vigorava a Teoria Causalista da Ação.
Aqui, a culpabilidade já ganha três elementos. Mas atente que a teoria continua sendo
psicológica. O que aconteceu foi o acréscimo de elementos normativos ao fator psicológico que já
existia.
Portanto, o dolo e a culpa foram mantidos dentro da culpabilidade, mas aqui viraram os
elementos psicológicos da culpabilidade (alguns autores entendem que o dolo e a culpa estavam
junto com a potencial consciência da ilicitude).
Acresceram-se a eles a imputabilidade, a potencial consciência da ilicitude e a exigibilidade
de conduta conforme o Direito, como elementos normativos da culpabilidade.
Diante disso, ainda vigorava aqui a Teoria Causalista da conduta, tendo em vista que dolo e
culpa ainda estavam dentro da culpabilidade.
Como o nome diz, para essa Teoria, a culpabilidade possui apenas elementos puramente
normativos: imputabilidade; potencial consciência da ilicitude; e a exigibilidade de conduta
conforme o Direito.
O elemento psicológico – dolo e culpa – foi transferido para a conduta, porque Welzel
defendia que não existe conduta desprovida de finalidade. Ora, a finalidade do crime não pode estar
dentro da culpabilidade, e, por consequência, o dolo e a culpa devem ser deslocados para a conduta.
Obs.: Por tudo isso, Welzel foi considerado o pai da revolução copernicana do Direito Penal.
ATENÇÃO - Dolo Normativo x Dolo Natural: Para a Teoria psicológica-normativa, o dolo era
elemento psicológico da culpabilidade, analisado juntamente com a potencial consciência da
ilicitude - elemento normativo da culpabilidade. Por essa razão, ele era chamado de dolo normativo.
Logo, era o conceito de dolo que vigorava para a Teoria causalista da conduta e para a Teoria
psicológica-normativa.
Por outro lado, o dolo natural é o dolo considerado para a Teoria normativa pura. Isso porque
o dolo saiu da potencial consciência da ilicitude, saiu da culpabilidade, e foi deslocado para a
conduta. Ele é chamado de dolo natural, porque migra para a conduta despido da potencial
consciência da ilicitude (sem a roupagem normativa). Logo, o dolo natural é o dolo que vigorava
para a Teoria Finalista.
Diante disso, diz-se que, com a passagem da Teoria Psicológica-Normativa para a Teoria
Normativa Pura, houve uma bifurcação das consciências. Isso porque a consciência potencial da
ilicitude ficou na culpabilidade, ao passo que a consciência do dolo migrou para a conduta.
A consciência presente do dolo é a consciência plena, real e total da conduta que o agente
pratica. Essa conduta vem descrita no tipo penal, em seu preceito primário (ex.: matar alguém).
Assim, no fim das contas, a consciência deve abranger todos os elementos do tipo penal.
Por outro lado, a consciência da culpabilidade é potencial e pessoal, recaindo não sobre a
conduta, mas sim sobre a ilicitude, ou seja, é a possibilidade de saber que aquela conduta é ilícita,
que a conduta é proibida.
3. Elementos da Culpabilidade
3.1. Imputabilidade
O CP não define quem é o imputável, e sim o inimputável. Assim, por exclusão, o inimputável
é o maior de 18 anos e o mentalmente são, porque eles têm discernimento mental para entender
o que estão fazendo. Portanto, apenas eles têm a capacidade de responder penalmente pelo fato
criminoso praticado.
Significa que, na situação concreta, era possível se exigir do agente uma conduta diversa e
lícita, ou seja, conduta conformada ao direito.
ATENÇÃO – Zaffaroni defende que todos os elementos da culpabilidade poderiam se resumir
a um único elemento: a exigibilidade de conduta diversa. Ora, se o agente não tem imputabilidade
(menor de 18 anos ou deficiente mental, ele não sabe o que está fazendo, logo, não se pode exigir
dele uma conduta diversa. Da mesma forma, se o agente não tem potencial consciência da ilicitude,
não é possível exigir dele uma conduta diversa. Apesar de genial, o entendimento de Zaffaroni não
foi adotado.
4.1. Inimputabilidade
4.1.1. Critérios
O Código Penal adotou dois critérios para definir quem são os inimputáveis:
a) Critério Biológico (art. 27, CP): os menores de 18 anos são inimputáveis, de modo que não
respondem por crimes, mas ficam sujeitos ao ECA (atos infracionais);
b) Critério biopsicológico (art. 26, caput, CP): aqui, o agente não tem nenhuma capacidade
de entender o caráter ilícito do fato, por doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou
desenvolvimento mental retardado. Nesse caso, o agente é isento de pena.
Art. 26, Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente,
em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental
incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito
do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
4.1.2. Procedimento
O menor de 18 anos (critério biológico) será apreendido, levado à Polícia especializada, onde
se lavra o auto de infração por ato infracional. Depois, o adolescente deve ser apresentado
incontinente ao Ministério Púbico, que pode representar o adolescente ou oferecer remição. Ao
final, o adolescente receberá uma medida socioeducativa (ou absolvido).
Por sua vez, o doente mental (critério biopsicológico) pode receber medida de segurança.
Por isso, ele deve ser processado e só ao final desse processo, ele pode receber medida de
segurança. Durante o processo, ele deve ser submetido ao exame de insanidade mental para aferir
se ele era inimputável e se tal inimputabilidade gerou nele a incapacidade de entender a ilicitude
do fato. Ao final, o juízo pode absolver impropriamente o doente mental, aplicando-lhe medida de
segurança.
4.1.3. Embriaguez
O artigo 28 do Código Penal diz que não excluem a imputabilidade a emoção e a paixão;
assim como a embriaguez.
I - a emoção ou a paixão;
b) Culposa: o agente não quer se embriagar, mas viola o dever de cuidado e acaba ficando
bêbado. Também não exclui a imputabilidade;
c) Pré-ordenada: o agente se coloca em estado de embriaguez para praticar o crime. Não só
não exclui a imputabilidade, como é agravante de pena (art. 61, II, l, CP);
I – Coação moral irresistível: não se confunde com a coação física irresistível, porque esta é
uma causa de exclusão da conduta, em que o agente não faz nenhuma escolha mental; ele
simplesmente é usado como uma ferramenta.
Por sua vez, a coação moral irresistível é uma causa de exclusão da culpabilidade, em que o
agente se depara com uma escolha “impossível”. Ex.: mate aquela pessoa ou eu mato o seu filho.
De se notar que a coação moral precisa ser irresistível; se ela for resistível, ela não exclui o
crime, mas pode atenuar a pena (art. 65, III, c, CP). Ex.: mate aquela pessoa ou eu destruo seu carro.
Ademais, a irresistibilidade da coação deve ser analisada de acordo com a situação concreta.
Nesse caso, o coagido não responde por nada, ao passo que o coator responde pelo crime,
como autor mediato do crime.
II – Obediência hierárquica: pressupõe uma relação entre duas pessoas regida pelo Direito
Público, onde se tem um superior hierárquico e um subordinado, como acontece entre militares,
juiz e assessor, diretor do presídio e carcereiro. Pois bem, o superior hierárquico emite uma ordem,
e o subordinado obedece a ordem, cometendo um crime.
Veja que aqui também temos uma hipótese de autoria mediata, porque o subordinado é o
instrumento do superior hierárquico. Por isso, o superior responde sempre pela prática do crime.
Por sua vez, o subordinado responde também?
Portanto, caso a ordem seja manifestamente ilegal, por violar um dos fatores acima, o
subordinado que a obedece também responde em coautoria, porque tinha consciência da ilicitude
de seu ato, bem como lhe era exigida conduta diversa: desobedecer a ordem.
É o caso da empresa que está quase falindo, e o empresário ao invés de pagar o tributo, ele
usa o dinheiro para pagar os salários dos funcionários, por exemplo.
5. Co-culpabilidade
TEORIA DO ERRO
1. Introdução
Erro, para o Direito Civil, é a falsa noção ou percepção da realidade. Por essa razão, erro é a
antítese da consciência, ou seja, onde houver erro, não há consciência e vice-versa.
Ora, se o erro incide, quando falta consciência, trabalha-se com o erro dentro das
consciências do delito: a consciência como elemento do dolo, dentro da conduta; e a consciência
potencial da ilicitude, dentro da culpabilidade.
A consciência como elemento do dolo é a consciência plena, real e total sobre a conduta que
o agente está praticando. Ex.: tenho consciência de que estou furando o bucho do meu desafeto
com uma faca. Por outro lado, a consciência da culpabilidade não é total e nem plena; na verdade,
como o nome sugere, ela é potencial, ou seja, é a possibilidade de atingir a consciência da ilicitude,
da proibição. Ex.: tenho consciência de que matar alguém é proibido.
Portanto, a primeira consciência é a consciência do que se faz (eu sei que estou matando
meu inimigo); ao passo que a segunda consciência recai sobre a proibição da conduta (eu sei que
matar é proibido, é ilícito).
Diante disso, pergunto: é possível ter uma consciência e não ter a outra?
SIM. Eu sei o que estou fazendo, mas não sei que é proibido. Ex.: eu sei que estou caçando
jacaré, mas não sei que isso é proibido. Da mesma forma, eu sei que é proibido, mas não sei que
estou fazendo isso. Ex.: eu sei que transportar droga é errado, mas alguém coloca droga na minha
mochila sem eu ter visto e transporto sem saber; eu sei que o transporte de droga é ilícito, mas não
sabia que estava transportando.
Pois bem, se faltar qualquer uma das consciências (elemento do dolo e elemento da
culpabilidade), o agente incide em erro.
Destarte, se faltar a consciência como elemento do dolo, o agente erra, porque lhe falta a
consciência sobre algum dos elementos do tipo, ou seja, o agente erra sobre algum dos elementos
do tipo. Por isso, o agente incide em erro de tipo.
De outro turno, se falta a consciência como elemento da culpabilidade, o agente erra, porque
lhe falta a consciência sobre a ilicitude, sobre a proibição da conduta, ou seja, o agente erra sobre
a proibição da sua conduta. Por isso, o agente incide em erro de proibição.
2. Erro de Tipo
O erro de tipo essencial ocorre, quando o agente erra sobre algum dos elementos do tipo,
ou seja, quando lhe falta consciência sobre algum elemento do tipo.
a) Invencível (inevitável ou escusável): o agente não tinha como evitar o erro, ie, qualquer
pessoa de cautela mediana também incidiria no mesmo erro.
O erro elimina a consciência como elemento do dolo. Logo, o erro exclui o dolo.
Nesse caso, o agente NÃO agiu com descuido, porque qualquer pessoa de cautela mediana
também cometeria o mesmo erro. Logo, o erro de tipo essencial invencível também exclui a culpa.
Portanto, aqui, o agente não responde por nada, porque sua conduta é ATÍPICA, por ausência
de dolo e de culpa.
b) Vencível (evitável ou inescusável): o agente tinha como evitar o erro, mas não evitou,
porque agiu com descuido, ie, outra pessoa de cautela mediana teria evitado o erro.
Aqui também o erro elimina a consciência como elemento do dolo, logo, o erro exclui o dolo.
Por outro lado, culpa é justamente o descuido. Aqui, o agente errou, porque agiu com
descuido; outra pessoa de cautela mediana evitaria o erro. Logo, o erro de tipo vencível permite a
punição por culpa.
O erro de tipo essencial vencível está previsto no artigo 20, caput, CP, permitindo a punição
da forma culposa, se ela estiver prevista em lei (princípio da excepcionalidade do crime culposo).
Portanto, se o crime não possui modalidade culposa, o agente não responde por nada.
Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo,
mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.
Ex.1: O caçador está caçando veados e ouve um barulho atrás do arbusto; pensando que era
um veado, atira e acerta outra pessoa, causando-lhe a morte. O caçador agiu em erro, porque ele
até tinha consciência que estava atirando para matar, mas não sabia que estava atirando em alguém
(pensava que era um veado). Logo, ele errou sobre um elemento do tipo do art. 121 – matar alguém.
Se o caçador achava que era o único na mata, caçando; ele não agiu com descuido; logo, trata-se de
erro de tipo invencível. Portanto, o agente não responde por nada. Por outro lado, se a mata estava
cheia de caçadores; ele agiu com descuido; logo, trata-se de erro de tipo vencível. Portanto, o agente
responde pela modalidade culposa.
Ex.2: O policial vê uma caçamba de entulhos no meio da rua e começa a treinar tiros na
caçamba; acontece que um mendigo dormia dentro da caçamba sem que o policial soubesse. Os
tiros acabam por atingir o mendigo dentro da caçamba. Portanto, mais uma vez, o policial errou
sobre um elemento do tipo do art. 121, pois não sabia que estava matando alguém. Nesse caso, o
agente agiu com descuido, porque uma caçamba no meio da rua não é lugar pra prática de tiros;
ele, pelo menos, deveria ter dado uma olhada dentro antes de atirar. Logo, pratica erro vencível, de
modo que responde pela modalidade culposa.
Ex.3: O agente sai de uma festa, pega sua bicicleta e vai embora. Ocorre que ele pegou a
bicicleta de outra pessoa, pensando que era sua, porque eram idênticas. O agente subtraiu bem
móvel alheio, mas errou, porque pensava que se tratava de sua própria bicicleta. Portanto, o agente
atuou em erro de tipo essencial. Ocorre que antes de levar a bicicleta, ele deveria ter verificado se,
de fato, tratava-se da sua; portanto, o erro era vencível. Logo, o agente responderia pela
modalidade culposa. Contudo, não existe furto culposo, de modo que o agente não responde por
nada.
a) Erro na execução (aberratio ictus): está previsto no art. 73 do CP. Trata-se de erro durante
os atos executórios do crime. O agente não erra sobre a pessoa da vítima, mas, por erro na
execução, atinge pessoa diversa daquela que pretendia atingir. Ex.: o agente mira no seu pai, mas
erra no disparo, atinge a pessoa que estava ao lado do seu pai, causando-lhe a morte.
Nesse caso, o agente responde pelo crime que pretendia cometer. Portanto, ele responde
pela morte de seu pai, como se o tivesse lhe atingido; de modo que incide a agravante de crime
contra ascendente.
Por outro lado, se o agente acerta tanto a pessoa que pretendia como pessoa diversa, dá-se
a aberratio ictus com unidade complexa (em contraponto à unidade simples, em que se atinge
apenas a pessoa diversa).
Nesse caso, o agente responde pelos crimes praticados em concurso formal. Ex.: o agente
atira contra seu pai, mas erra na hora do tiro e acerta pessoa diversa e seu pai. Ele responde pelo
homicídio doloso de seu pai e pelo homicídio culposo da pessoa diversa.
b) Erro sobre a pessoa: está previsto no art. 20, §3º, do Código Penal. Aqui, o agente não
erra sobre a execução, e sim sobre a pessoa. A execução é perfeita, mas a pessoa da vítima não é
aquela que o agente pretendia ofender. Ex.: o agente avista seu desafeto numa festa com uma
calça jeans e camisa branca; ocorre que o desafeto vai embora sem que o agente veja; o agente vê
uma pessoa com roupas muito parecidas, pega um copo e arremessa contra essa pessoa; o
arremesso de copo foi perfeito, atingindo a pessoa, mas não era o desafeto, e sim pessoa diversa.
Nesse caso, o agente responde pelo crime como se tivesse atingido a pessoa pretendida,
logo, no exemplo dado, o agente responde como se tivesse causado lesão em seu desafeto.
Art. 20, § 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta
de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima,
senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.
Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na
execução do crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde
por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado
pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.
Por outro lado, se o agente quer matar seu desafeto, mas erra na execução e acaba
acertando seu carro, em tese, ele responderia apenas pelo dano. Porém, não existe dano culposo,
então o agente não responderia por nada (muito pouco para quem queria matar alguém). Diante
disso, a doutrina entende que o agente deve responder pelo seu dolo, ou seja, no exemplo, o agente
deve responder por tentativa de homicídio.
d) Erro sobre o objeto: trata-se de erro sobre o objeto material do crime. Ex.: o agente quer
furtar anel de ouro branco, mas acaba furtando um anel de prata.
Nesse caso, o agente responde pelo mesmo crime, sem diferença nenhuma. No exemplo
dado, o agente responde por furto do mesmo jeito.
CUIDADO – Se o erro sobre objeto configurar crime impossível, a conduta se torna atípica.
Ex.: o agente quer furtar a bicicleta de outrem, mas se confunde e acaba levando sua própria
bicicleta; ora, subtração de coisa própria não é crime, logo, a conduta é atípica, em razão do erro
sobre o objeto. Da mesma forma, se o agente quer transportar cocaína em um ônibus, mas erra a
sacola, e acaba carregando um saco de farinha. O crime de tráfico é impossível por erro sobre o
objeto, logo, a conduta do agente é atípica.
e) Erro sobre o curso causal (aberratio causae): trata-se de erro sobre o nexo causal do
crime. O agente cogita praticar um crime, seguindo determinado plano, mas o resultado do crime
acaba ocorrendo por razões diversas. Ex.: o agente quer matar o inimigo com um tiro; ele desfere o
tiro e pensa que o inimigo morreu; enterra o inimigo e vai embora; ocorre que o inimigo sobreviveu
ao tiro e morreu por sufocamento decorrente do enterro.
Portanto, o agente obtém o resultado pretendido, mas por causa diversa da pretendida. O
agente responde pelo crime da mesma forma. Logo, o erro sobre o nexo causal não muda nada.
ATENÇÃO – Dolo geral: o agente pratica a primeira conduta e pensa que obteve o resultado
com a primeira conduta. Depois, ele pratica uma segunda conduta com outra finalidade, e só então
ocorre o resultado. A isso se chama de dolo geral.
No erro de proibição, o agente sabe o que faz, mas não sabe que o que faz é ilícito.
O erro de proibição direto é mais comum; está previsto no artigo 21 do Código Penal. Ele
incide sobre uma norma de proibição.
Nesse caso, o agente responde pelo crime, com direito à redução de pena de 1/6 a 1/3.
Ex.1: Holandês usa maconha no Brasil, pensando que aqui também o uso de maconha é
permitido. Veja que o holandês sabe o que está fazendo, ie, ele tem consciência que está fumando
maconha. Todavia, ele não sabe que o uso de maconha é ilícito no Brasil. Por isso, ele age em erro
de proibição. Ocorre que o holandês tinha possibilidade de atingir a consciência de que usar
maconha é proibido no Brasil, logo, age em erro de proibição vencível e, por conseguinte, responde
pelo crime, com redução da pena.
Ex.2: Agente caça jacaré de papo amarelo. Ele sabe que está caçando jacaré, mas não sabe
que é crime caçar essa espécie de jacaré. Por isso, atua em erro de proibição. Se o agente não tinha
como saber dessa proibição, age em erro de proibição invencível, de modo que é isento de pena.
Por outro lado, se ele tinha como saber da proibição, age em erro de proibição vencível e, por
conseguinte, responde pelo crime ambiental com redução de pena.
Ex.3: Agente tem um pássaro curió em sua gaiola sem autorização do IBAMA. Ocorre que
isso é crime ambiental, se não houver autorização do IBAMA. Se o agente não tinha como saber
dessa proibição, age em erro de proibição invencível, de modo que é isento de pena. Por sua vez,
se tinha como saber da proibição de sua conduta, age em erro de proibição vencível, respondendo
pelo crime com redução de sua pena.
ATENÇÃO – O erro de proibição não recai sobre a lei, porque o desconhecimento da lei é
inescusável, como preconiza o art. 21 do CP. O erro de proibição recai sobre a norma. Ora, a ilicitude
não está na lei, e sim na norma. Você pode até conhecer a lei dos crimes ambientais, mas não sabia
da norma incriminadora da conduta de manter pássaro curió sem autorização do IBAMA.
3.2. Erro de proibição indireto
O erro de proibição direto é o erro sobre norma penal incriminadora. Por sua vez, o erro de
proibição indireto incide sobre norma permissiva (por isso, também é chamado de erro de
permissão). As normas permissivas são justamente as causas excludentes da ilicitude.
Nesse sentido, o erro de proibição indireto incide em duas hipóteses: sobre a existência da
norma permissiva ou sobre os limites da norma permissiva.
Na primeira hipótese, o agente pensa que existe uma norma permissiva, mas na verdade
ela não existe. Ex.: pai espanca o filho desobediente, pensando que existe uma norma que lhe
permite fazer isso, em razão de sua autoridade parental. Ocorre que não existe essa norma, de
modo que o agente age em erro de proibição indireto sobre a existência da norma permissiva.
Na segunda hipótese, a norma permissiva até existe, mas o agente pensa que os limites da
permissão são mais abrangentes do que realmente são. Ex.: o agente é atacado por um inimigo;
mas depois que consegue cessar as agressões, continua atacando seu inimigo até matá-lo, pensando
que ainda está dentro da legítima defesa; ele errou sobre os limites da legítima defesa. Por isso, age
em erro de proibição sobre os limites da permissão.
a) Invencível: o agente não tem como atingir a consciência de que aquela norma permissiva
não existe ou de que ultrapassou seus limites. Nesse caso, ele é isento de pena;
b) Vencível: o agente tem como atingir a consciência de aquela norma permissiva não existe
ou de que ultrapassou seus limites. Nesse caso, ele responde pelo crime com redução de pena de
1/6 a 1/3.
a) Invencível: o agente não tinha como saber da existência do dever de agir. Por isso, ele é
isento de pena;
b) Vencível: o agente tinha como saber da existência do dever de agir. Por isso, ele responde
pelo crime com pena reduzida.
4. Descriminantes putativas
O agente erra por pensar estar agindo em legítima defesa, estado de necessidade e etc.
I – Teoria Extremada: para essa teoria, toda e qualquer espécie de erro incidente em
descriminante putativa será um erro de proibição.
Portanto, se o agente incide em erro invencível, ele é isento de pena. De outro turno, se ele
incide em erro vencível, responde pelo crime com redução de pena.
a) O erro incide sobre uma situação fática: aqui, temos um erro de tipo permissivo. Com
efeito, a norma incriminadora forma um tipo incriminador; ao passo que uma norma permissiva
forma um tipo permissivo. Pois bem, nesse caso, o agente erra sobre o fato, porquanto imagina uma
situação fática que na verdade não está ocorrendo.
Ex.: o agente está sentado num bar; seu desafeto vem em sua direção e bota a mão no bolso;
o agente pensa que o desafeto irá lhe matar, por isso, atira primeiro e mata o desafeto; mas o
desafeto apenas iria tirar o celular do bolso. O agente pensa estar agindo em legítima defesa, porque
erra quanto à situação fática (pensou que o desafeto iria sacar uma arma e atirar). Logo, ele agiu
em legítima defesa putativa.
De acordo com o art. 20, §1º, do CP, o erro de tipo permissivo pode ser:
ii) Vencível: nesse caso, o agente responde pela modalidade culposa, se houver previsão
legal desta. Se não houver previsão legal da modalidade culposa, o fato é atípico.
Art. 20, § 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas
circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima.
Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como
crime culposo.
Por um lado, pode-se dizer que se trata de erro de tipo, por causa do nome e do artigo em
que está previsto (art. 20). Além disso, o erro vencível resulta em responsabilidade pela modalidade
culposa, assim como o erro de tipo.
Todavia, também é possível dizer que se trata de erro de proibição, porque se o erro for
invencível, o agente é isento de pena, excluindo a culpabilidade.
Na verdade, o erro de tipo permissivo é um erro misto ou híbrido, porque tem características
do erro de tipo e do erro de proibição.
ATENÇÃO - A teoria limitada foi a teoria adotada pelo Direito Penal brasileiro.
CONCURSO DE PESSOAS
1. Conceito
Ocorre o concurso de pessoas, quando duas ou mais pessoas concorrem para a consumação
do delito.
2. Aplicabilidade
Os crimes podem ser praticados por uma ou mais pessoas, que são chamados de crimes
unissubjetivos ou crimes de concurso eventual.
Por outro lado, há crimes que só pode ser praticados por mais de uma pessoa em concurso.
São os chamados de plurissubjetivos ou de concurso necessário. Ex.: associação criminosa.
O tema do concurso de pessoas só se aplica aos crimes unissubjetivos, porque nos crimes
plurissubjetivos, a pluralidade de pessoas já figura como elemento do tipo.
3. Requisitos
Portanto, se o agente pratica sua conduta, mas ela não influenciar em nada o resultado, sua
conduta não tem relevância causal. Logo, o agente não será considerado coautor e nem sequer
partícipe. Ex.: empresto meu carro para você transportar drogas (seria partícipe); ocorre que você
deixa o carro em casa e decide ir de ônibus; nesse exemplo, minha conduta não teve nenhuma
influência no resultado do crime, porque meu carro não foi usado.
O vínculo pode ser unilateral, ou seja, pode ser que um dos agentes adira a conduta do outro
sem que o outro saiba. Ex.: um vigia de uma fábrica sabe que um grupo de furtadores ronda a região
a noite, buscando oportunidades; diante disso, ele deixa a porta aberta, por raiva do patrão; os
ladrões passam, veem a porta aberta e aproveitam a oportunidade. O vigia aderiu à conduta dos
ladrões, porque eles não sabiam da atuação do vigia. O vigia é concorrente para o crime.
As teorias buscam responder a seguinte questão: quantos crimes são praticados, quando
estamos diante de concurso de pessoas?
I – Teoria monista ou unitária: para essa teoria, apenas UM crime é praticado, de modo que
coautores e partícipes praticam o mesmo crime;
II – Teoria Dualista: para essa teoria, dois crimes são praticados. Os autores praticam um
crime e os partícipes praticam outro crime;
III – Teoria Pluralista: para essa teoria, há um crime para cada concorrente, logo, se são três
concorrentes, três crimes são praticados. Portanto, há tantos crimes quantos forem os
concorrentes.
De acordo com o artigo 29 do Código Penal, a teoria adotada foi a MONISTA ou UNITÁRIA,
pelo menos em regra, porque o dispositivo fala apenas em um único crime. Todavia, em hipóteses
excepcionais, adota-se a teoria pluralista.
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este
cominadas, na medida de sua culpabilidade.
Ex.: quando uma mulher grávida procura um médico para fazer o aborto com o
consentimento da gestante; ela pratica o crime de aborto, previsto no art. 124 do CP; ao passo que
o médico pratica o crime do art. 126 do CP (provocar aborto com consentimento da gestante).
Portanto, aqui, não há um crime só; há um crime para cada concorrente, logo, aplica-se a Teoria
Pluralista.
Obs.: No crime de aborto, a mulher sempre responderá pelo crime do art. 124 do CP.
Ex.2: o empreiteiro oferece propina para o governador, a fim de realizar uma obra; o
empreiteiro pratica o crime de corrupção ativa, enquanto o governador pratica o crime de
corrupção passiva. Mais uma vez, adota-se a teoria pluralista.
Diante das exceções em que se adota a teoria pluralista, diz-se que no Brasil, não se adotou
a Teoria Monista pura; mas sim a Teoria Monista mitigada ou matizada ou temperada.
5. Autoria
Esse conceito restringe as hipóteses de autoria. Esse critério faz distinção entre autor e
partícipe.
b) Teoria objetivo-material: para essa teoria, a distinção entre autor e partícipe reside na
maior contribuição do autor para o resultado criminoso. Em outras palavras, autor é aquele que tem
maior contribuição para o resultado.
Esse conceito amplia as hipóteses de autoria. Para essa teoria, não há distinção entre autor
e partícipe.
Ela se baseia num sistema unitário de autoria, ou seja, todo aquele que concorrer para o
crime será autor.
Esse conceito não foi adotado no Brasil, porque o CP faz menção expressa à existência do
partícipe.
A distinção entre autor e partícipe dá-se com base na atitude interna do agente, nos
seguintes moldes: autor é aquele que age com vontade de autor, ou seja, é aquele que deseja o fato
criminoso como próprio, de modo que age com animus autuoris. Por sua vez, o partícipe age com
vontade de partícipe, ou seja, ele só quer auxiliar alguém; ele não quer o fato criminoso para si. Por
isso, diz-se que ele age com animus socci.
Esse critério foi utilizado no caso da banheira na Alemanha. A mãe da criança implorou para
que sua irmã afogasse a criança na banheira, porque não tinha coragem para tanto. Segundo o
Tribunal alemão, a mãe foi autora, porque queria o crime para si; tinha o ânimo de autora. Por sua
vez, a irmã foi considerada partícipe, porque não queria o crime para si, apesar de ter praticado o
fato típico de afogar a criança.
A expressão domínio do fato foi empregada pela primeira vez por Hegler em 1915, atrelada
à culpabilidade do agente. Porém sua primeira formulação deu-se por Lobe em 1933, quando se
criaram critérios para a Teoria do Domínio do Fato.
Todavia, essa teoria só ganhou eco em doutrina penal por força de Welzel em 1939,
referindo-se ao domínio final do fato como critério determinante de autoria. Por fim, em 1963,
Roxin deu à Teoria do Domínio do Fato contornos mais concretos.
Para a vertente de Welzel, autor é todo aquele que tem o domínio sobre o fato, ou seja, o
autor é o senhor do fato criminoso, tendo as rédeas do crime em suas mãos. Por isso, o autor
determina o crime como ele quer, começando e acabando quando ele quer.
Destarte, o autor não precisa executar pessoalmente o crime, porque ele planeja o crime
como ele quer e delega a execução do crime para seus subalternos.
Por isso, diz-se que o autor é aquele que tem o SE (o crime vai ser praticado?) e o COMO
(quais os meios e o modus operandi do crime?).
Por sua vez, para Roxin, o domínio do fato serve para distinguir autor e partícipe, no sentido
de como o agente será punido: será punido como autor ou como partícipe?
De qualquer forma, para Roxin, o autor é a figura central do acontecer típico, ou seja, é
aquele que atua com o domínio do fato. Em outras palavras, o autor é a figura central do delito;
possuindo significado central na infração penal.
Por sua vez, a participação é uma causa de extensão da punibilidade, ie, é uma figura
secundária. O partícipe, desse modo, contribui em caráter secundário.
Portanto, a Teoria de Roxin é restritiva, pois autor é apenas a figura central do delito; ao
passo que tudo que for secundário, que girar em torno do autor, é apenas participação.
a) Domínio da ação: está ligada à autoria imediata. Aqui, o agente tem o domínio sobre a
própria ação.
É o domínio de quem pratica pessoalmente o tipo penal. Ex.: o autor aperta o gatilho e mata
a vítima.
Portanto, autor é aquele que realiza pessoalmente a conduta criminosa, ou seja, é autor,
porque domina a própria ação quem age a pedido ou mando de outrem; e quem age em erro de
proibição inevitável determinado por terceiro (art. 21, CP).
i) Coação exercida sobre o homem da frente: o autor coage um terceiro, seu instrumento,
para que pratique a conduta criminosa. Isso faz com que o autor seja considerado o autor mediato
do crime, de modo que o terceiro, como mero instrumento, não responde pelo fato. A
responsabilidade penal é do homem de trás, o autor (princípio da responsabilidade);
ii) Erro: o autor domina a vontade de alguém que age em erro, ou seja, o homem de trás tem
um conhecimento superior ao homem da frente, porque o homem da frente está em erro. O homem
da frente é mera marionete do homem de trás;
iii) Domínio por meio de um aparato organizado de poder: é autor mediato o agente que,
servindo-se de uma organização estruturada e apartada da ordem jurídica, emite uma ordem que
vem a ser cumprida por meros executores, facilmente substituíveis. Ex.: chefe da máfia; ditador.
c) Domínio funcional do fato: aqui, há uma ação coordenada com divisão de tarefas, ou
seja, se duas ou mais pessoas partem de uma decisão conjunta de praticar o fato e contribuem para
a realização do delito, elas terão o domínio funcional do fato.
Nesse caso, cada um será coautor do fato como um todo. Por consequência, há imputação
recíproca para um e para outro, ou seja, os coautores respondem pelo mesmo crime.
Por outro lado, para Roxin, há quatro hipóteses em que NÃO se aplica o domínio do fato:
II – Delitos de mão própria: são delitos que exigem a atuação pessoal do agente e que, por
isso, não admitem coautoria e nem autoria mediata. Ex.: falso testemunho;
III – Delitos culposos: os crimes culposos são regidos por um sistema unitário de autor, de
modo que não se distingue autor de partícipe. Qualquer forma de contribuição para crime culposo
será considerada autoria;
IV – Crimes omissivos: não são regidos pelo domínio do fato, porque este pressupõe controle
ATIVO do curso causal. Ora, o controle ativo exige uma ação, logo, não pode ser aplicado em crime
omissivo.
5.5. Conclusão
Autoria direta é aquela em que o agente elabora e executa o crime pessoalmente. Ex.: o
agente atira na cabeça da vítima e a mata.
Por sua vez, a autoria direta é diferente, porque o agente se vale de outrem para praticar o
crime em seu lugar (domínio da vontade de Roxin).
b) Coação moral irresistível (art. 22): o coator é o autor mediato, enquanto o coagido é o
instrumento;
I – Crimes de mão própria: são crimes que exigem atuação pessoal do agente, ou seja, só o
agente pessoalmente pode praticar o crime. Ex.: falso testemunho.
Portanto, esses crimes não admitem autoria mediata, já que o autor não pode se valer de
ninguém para praticar o crime em seu lugar.
Da mesma forma, não se admite coautoria, porque não há como dividir as funções com mais
ninguém.
Todavia, admite-se a participação. Com efeito, o advogado que instrui a testemunha a mentir
atua como partícipe (instigação).
Obs.: O STF entende que é possível a coautoria nos crimes de mão própria, no caso do
advogado que instrui a testemunha a mentir. Infelizmente, o STF errou, porque o caso é de
participação.
IV – Autor por convicção: segundo Maurach, é o autor comum, mas que age por alguma
convicção política, filosófica, sociológica, religiosa e etc. Ex.: terrorista.
V – Autoria de escritório: é o agente que elabora o plano criminoso, mas atua no escritório.
É uma espécie de autoria mediata.
VI – Autoria colateral: duas pessoas querem praticar o mesmo crime, mas uma não sabe da
existência da outra. Ex.: A e B, sem saber da existência um do outro, atiram ao mesmo tempo contra
C, resultando em sua morte.
Se a perícia apontar que o tiro responsável pela morte partiu de A, ele responde por
homicídio consumado, enquanto B responde por tentativa de homicídio (e vice versa).
VII – Autoria incerta: na hipótese anterior, se não for possível precisar quem é o autor do
crime, ambos respondem por tentativa de homicídio, para evitar responsabilidade penal objetiva.
6. Coautoria
6.1. Introdução
Por isso, diz-se que na coautoria, adota-se a Teoria do domínio funcional do fato, porque
cada um tem domínio sobre a sua função, sua tarefa, na prática do delito.
Há duas correntes:
A corrente majoritária defende que o momento de adesão deve ser até a consumação do
crime.
Porém uma segunda corrente minoritária defende que a adesão pode ocorrer até o
exaurimento do crime (Nilo Batista).
7. Participação
7.1. Conceito
Por isso, se o crime foi tentado para o autor, também o é para o partícipe. Da mesma forma,
se o crime foi praticado em legítima defesa pelo autor, também houve legítima defesa por parte do
partícipe. Isso porque a participação é acessória e segue o principal, a autoria.
II – Teoria da acessoriedade limitada: para que haja participação, basta que a conduta do
autor configure fato típico e ilícito.
III – Teoria da acessoriedade máxima: para que haja participação, a conduta do autor precisa
ser típica, ilícita e culpável.
I – Moral: A participação moral, por sua vez, pode ser por induzimento ou instigação:
a) Induzimento: quando o partícipe faz a ideia criminosa nascer na mente do agente, ou seja,
o agente ainda não pensou em praticar o crime;
II – Material: é aquela em que o partícipe fornece algum bem, como no caso em que
empresta uma arma, um carro, uma corda e etc.
A primeira corrente defende que o partícipe também será beneficiado com a desistência
voluntária e o arrependimento eficaz, de modo que o partícipe também só responderá pelos atos
já praticados (lesão corporal, por auxílio material). Essa é a posição majoritária.
Por outro lado, uma segunda corrente entende que a desistência e o arrependimento não
se estendem ao partícipe, porque o início da execução já é suficiente para que o partícipe responda
pelo seu dolo (no exemplo, tentativa de homicídio, por auxílio material).
Uma primeira corrente defende que NÃO há se admite participação em crimes omissivos,
porque só concorre para o crime omissivo quem tem dever de agir e o viola. Portanto, só caberia
coautoria.
Uma segunda corrente entende que SIM, cabe participação, desde que o partícipe
convenção alguém a se omitir, ou seja, o partícipe dissuade o autor de cumprir o dever de agir.
Nesse caso, o autor responde pelo crime omissivo e o agente que o dissuadiu responde como
partícipe. Essa é a posição majoritária.
A primeira corrente sustenta que SIM, cabe autoria, bastando que duas pessoas violem
conjuntamente e previamente ajustadas o dever de agir. Ex.: duas pessoas passam na rua e veem
um indivíduo atropelado na rua; e as duas decidem negar socorro. Essa é a posição majoritária.
Uma segunda corrente entende que NÃO cabe coautoria, porque o dever de agir é
indecomponível, ou seja, não é possível decompor o dever de agir entre várias pessoas. Essa é a
posição de Nilo Batista, minoritária. Nesse caso, todos os agentes seriam autores do seu próprio
crime omissivo.
7.6. Concurso de pessoas em crime culposo
A primeira corrente diz que NÃO cabe participação, porque a participação é sempre dolosa
e em crime doloso. Não é possível contribuir para aquilo que não se quer. Essa é a posição de
Damasio de Jesus e Celso Delmanto; assim como é a posição positivada no Código Penal alemão.
Essa é a corrente majoritária.
Já uma segunda corrente entende que SIM, é possível a participação em crime culposo,
bastando que o partícipe instigue o autor a violar o dever de cuidado objetivo. Ex.: o carona diz ao
motorista para dirigir rápido e furar sinais, de modo que acaba atropelando uma pessoa.
Uma primeira corrente diz que NÃO cabe coautoria, porque o dever de cuidado é
indecomponível, ou seja, não se pode decompor o dever de cuidado. Por isso, há tantos autores
quanto forem os crimes culposos. Cada agente responde pelo seu próprio crime culposo. Essa é a
posição de Nilo Batista, Juarez Cirino dos Santos e Zaffaroni.
Já uma segunda corrente entende possível a coautoria em crime culposo, bastando que mais
de uma pessoa, em ato conjunto, violem o dever objetivo de cuidado. Essa é a posição de Nelson
Hungria e é a majoritária.
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este
cominadas, na medida de sua culpabilidade.
Nesse cenário, o partícipe que contribui com bem abundante, ou seja, que realiza
participação desnecessária mereceria uma causa de diminuição.
7.8. Desvio subjetivo de conduta ou cooperação dolosamente distinta (art. 29, §2º, CP)
O dispositivo legal deveria dizer concorrer ao invés de participar, porque esse instituto se
aplica tanto ao partícipe quanto ao coautor. Ademais, ao invés de dizer que lhe será aplicada a pena
deste, o artigo deveria preconizar que o agente vai responder pelo crime menos grave.
Duas ou mais pessoas se ajustam previamente para a prática do crime, porém durante o ato
executório, um dos agentes desvia sua conduta para praticar um crime mais grave do que aquele
previamente ajustado.
A consequência é que aquele agente que desviou sua conduta responderá pelo crime mais
grave. Por sua vez, o agente ou agentes que não desviaram a conduta NÃO respondem pelo crime
mais grave, e sim pelo crime inicialmente ajustado.
Portanto, o artigo 29, §2º, CP, refere-se ao agente que não desviou a conduta.
Entretanto, se o resultado mais grave era previsível ao agente que não desviou a conduta,
em que pese ainda responder pelo crime menos grave, sua pena será aumentada de metade.
7.9. Teoria das circunstâncias (art. 30, CP)
Antes de mais nada, para entender o artigo 30 do CP, é necessário saber o que é elemento
e o que é circunstância.
Elemento é tudo aquilo que integra o tipo penal. Por sua vez, circunstância é o que está em
volta do tipo, influenciando apenas na pena.
Portanto, o artigo 30 diz que as circunstâncias de caráter pessoal não se comunicam entre
os concorrentes. Ex.: a circunstância de o agente ser filho da vítima é uma circunstância pessoal,
logo, o filho sofrerá a agravante de pena, enquanto o concorrente não responde com agravante,
porque a circunstância não se comunica a ele.
Por outro lado, se essa circunstância pessoal for elemento do tipo, comunica-se com o
concorrente. Ex.: a condição pessoal de ser funcionário público no crime de peculato é elemento do
tipo, logo, essa circunstância se comunica ao concorrente que não é funcionário público. Por isso, o
concorrente, apesar de não ser funcionário público, também responde por peculato assim como o
concorrente funcionário público, e não por furto.
TEORIA DA PENA
1. Conceito de pena
Pena é sanção penal imposta pelo Estado, mediante o devido processo legal, ao autor de
uma infração penal, como retribuição pelo seu ato ilícito e prevenção de delitos futuros, desde que
autorizado pela lei (princípio da legalidade).
É uma resposta penal do Estado. Mesmo na ação penal privada, a sanção é imposta pelo
Estado. O Estado apenas concede ao particular a iniciativa da ação. Porém, uma vez condenado,
quem executa a pena é o Estado.
2. Finalidades da pena
O Direito Penal tem por finalidade precípua proteger os bens jurídicos tidos como mais
importantes e relevantes para o convívio em sociedade, em razão do princípio da fragmentariedade.
Nesse momento, vigorava a Teoria do Direito Divino que preconizava que o rei era escolhido
por Deus. Ora, se o rei era escolhido por Deus, ele só poderia responder perante Deus, de modo que
não podia ser responsabilizado pelos atos praticados em terra.
Esse castigo, portanto, era uma retribuição por ter atentado contra o Rei (e contra Deus).
Logo, a ideia aqui era realmente de pena como punição e de retribuição. Não se pensava
em prevenção ou ressocialização.
O poder continua sendo exercido pelo soberano, a quem competia assegurar a paz interna
a e a defesa da sociedade. Portanto, nesse momento já não se falava mais em Teoria do Direito
Divino.
Destarte, quem praticasse um delito já não atentava mais contra Deus. Na verdade, quem
praticasse infração pena, quebrava as regras do contrato social, razão pela qual, era considerado
um traidor (por ter quebrado a confiança de obedecer as regras do contrato social).
Logo, aqui a pena tinha como função castigar o traidor; e restaurar o contrato social,
quebrada pela prática de um crime (Carrara, Kant, Hegel).
Com efeito, Kant via a lei como um imperativo categórico, ou seja, como um mandamento
que deveria ser cumprido desvinculado de qualquer finalidade. Cumpre-se a lei, porque deve ser
cumprida, independentemente de qualquer finalidade. Logo, quem viola a lei, viola um imperativo
categórico, e por isso, não merece ser reconhecido como cidadão. Por isso, essa pessoa pode ser
punida impiedosamente (mais uma vez, a pena tem função de retribuição, punição e castigo).
Hegel também defendia essas ideias. Ele dizia que a pena é a negação da negação do Direito.
Isso porque a ordem jurídica é a manifestação da vontade geral; assim, quando o agente pratica um
crime, ele mostra que não se sujeita às normas de convívio social; logo, ele está negando a vigência
dessas normas (está negando a vontade geral). Ora, se ele está negando a vontade geral, ao praticar
um delito (negação do Direito), quando se aplica a pena a esse agente, o que se faz é mostrar à
coletividade que aquela negação do agente não prevalece. Por isso, a coletividade pode seguir sua
vida normal, confiando na vigência da norma. Portanto, a pena nega a negação do Direito praticada
pelo agente (crime), restabelecendo a vigência e a imposição da vontade geral. Em outras palavras,
a pena é a reafirmação da vontade geral.
Feruebach criou a Teoria da Coação Psicológica, que resume bem as teorias preventivas. A
coação física, forçando o agente criminoso a ficar preso, não é suficiente. Por isso, é necessária uma
outra coação psicológica, gerando no agente uma coação a não praticar o crime, ou seja, gerando
uma intimidação no agente que pensa em praticar um crime.
Essa coação psicológica deve ter uma força maior do que a vontade de praticar um crime,
pois só assim o agente não praticará a infração penal. Isso faz com que a pena funcione como um
elemento de intimidação geral.
Essa teoria sofre críticas, porque segundo Roxin, a teoria não considerou um aspecto
importante do psiquismo do agente – a confiança do agente em não ser descoberto -, por isso, a
teoria não funcionaria. Ora, o mero fato de existirem crimes prova que a prevenção geral não
funciona (se funcionasse, ninguém praticava crime).
i) Positiva: significa que a pena cria na mentalidade da coletividade a ideia de que as pessoas
devem se comportar de acordo com as normas;
ii) Negativa: consiste justamente na intimidação, ou seja, fazer com que as pessoas não
pratiquem crimes;
i) Positiva: consiste na ressocialização do agente, para que ele não volte a delinquir no futuro;
ii) Negativa: consiste na ideia de que a manutenção do agente no cárcere impede a prática
de novos delitos.
III – Teorias mistas, ecléticas ou unificadoras: unifica as duas primeiras teorias. Logo, ela
preconiza que a pena tem duas finalidades: retribuição e prevenção geral e especial (positiva e
negativa).
O artigo 59 do Código Penal trabalha com a Teoria Mista, então podemos afirmar que o
Código Penal brasileiro adotou a teoria mista, eclética ou unificadora.
Welzel sustenta que a pena tem dupla missão: função ético-social e função protetiva de bens
jurídicos.
Em outras palavras, o Direito Penal, antes de proteger bens jurídicos, pretende fazer com
que as pessoas ajam conforme o Direito, criando nelas essa consciência jurídica (função
pedagógica).
A aplicação da pena teria a função de reafirmação desses valores, fazendo com que as
pessoas ajam conforme o Direito. Portanto, para Welzel, a finalidade da pena é a imposição de
padrões éticos.
Já para Jakobs, o Direito Penal não tem por finalidade proteger bens jurídicos; o Direito Penal
se preocupa com a vigência da norma. Isso porque nós vivemos em um contrato social, de modo
que nos obrigamos a seguir as normas que vigoram nesse contrato social. Dessa forma, toda vez
que o agente pratica um crime, ele viola a vigência da norma (é proibido matar de acordo com a
norma, mas eu não tô nem ai, essa norma não vale pra mim).
Quando o Direito Penal aplica a pena, ele nega a conduta do agente que violou a norma,
reafirmando e reforçando a vigência da norma para a coletividade (negativa da negativa do Direito
de Hegel).
Jakobs preconiza que nós convivemos com expectativas cognitivas (que tudo ocorra
normalmente na nossa vida) e normativas (que as pessoas sigam as normas de conduta). Para a
construção de sua teoria, o autor trabalha com a defraudação dessas expectativas.
A defraudação das expectativas normativas (expectativa de que as pessoas se comportem
de acordo com a norma jurídica) deve ser combatida com a pena criminal. Portanto, a pena é um
instrumento de reação à defraudação da expectativa normativa.
CRÍTICA – Santiago Mir Puig diz que se a função da pena fosse reafirmar a vigência da norma,
bastaria uma simples declaração a esse respeito; não haveria necessidade de aplicar pena.
Todavia, a prevenção geral deve ser expressada com um sentido limitador do poder punitivo
estatal. Isso porque o Direito Penal é um instrumento de controle social, mas é um controle
formalizado, ou seja, a pena como instrumento de coerção deve se submeter a determinadas
limitações.
Assim, a finalidade preventiva da pena tem limite nos direitos e garantias fundamentais do
cidadão.
O artigo 32 do CP prevê três espécies de pena: pena privativa de liberdade; pena restritiva
de direitos e pena de multa.
A pena privativa de liberdade comporta duas espécies: reclusão e detenção (art. 33, CP).
a) A reclusão se destina a delitos mais graves, ao passo que a detenção se destina a delitos
menos graves;
CUIDADO – A detenção pode ser cumprida em regime fechado, pela regressão de regime. O
que não pode acontecer é o regime inicial fechado.
c) Caso haja concurso de crimes apenados com reclusão e detenção, a pena de reclusão será
executada em primeiro lugar, conforme artigo 76 do CP;
d) Se o crime for punido com reclusão, a medida de segurança aplicada ao inimputável será
a internação; enquanto o crime punido com detenção resulta em medida de segurança de
tratamento ambulatorial;
e) Se o crime for punido com reclusão, os efeitos secundários da sentença serão perda do
poder familiar, tutela ou curatela; por outro lado, se o crime for punido com detenção, não há esse
efeito;
Por sua vez, o regime semiaberto deve ser cumprido em colônia agrícola, industrial ou
similar.
Por fim, o regime aberto deve ser cumprido em casa de albergado, que deve ser mais
próxima do centro urbano.
a) Quantidade de pena aplicada: pena superior a 8 anos – regime fechado; pena superior a
4 e menor ou igual a 8 anos – regime semiaberto; pena menor ou igual a 4 anos – regime aberto.
b) Reincidência: para iniciar no regime semiaberto ou aberto, o acusado deve ser não
reincidente. Portanto, o reincidente inicia o cumprimento da pena no regime fechado,
independentemente da quantidade de pena.
CUIDADO - Se o acusado for reincidente, e o crime for apenado com detenção, como não se
admite regime inicial fechado, o acusado, mesmo reincidente, vai iniciar o cumprimento da pena no
regime semiaberto.
O artigo 63 do Código Penal define quem é o reincidente – o agente que comete novo crime
depois de transitada em julgada a sentença que o tenha condenado por crime anterior.
Art. 63 - Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de
transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado
por crime anterior.
Por sua vez, o artigo 7 da Lei de Contravenções Penais preconiza que é reincidente o agente
que tenha praticado nova contravenção após o trânsito em julgado de crime ou contravenção
anterior.
Todavia, a lei não prevê como reincidente o agente que comete novo crime após ter sido
condenado por contravenção penal. Logo, a única hipótese que não gera reincidência é se o agente
praticou primeiro uma contravenção e depois um crime.
ATENÇÃO – O juízo pode fixar regime mais severo do que o admitido pela lei?
Sim, de acordo com a súmula 719 do STF, desde que haja motivação idônea para tanto.
Ocorre que a jurisprudência não diz o que é motivação idônea Sabemos apenas o que não é
motivação idônea. Isso porque a súmula 718 do STF enuncia que a opinião do juízo sobre a gravidade
em abstrato do crime não constitui motivação idônea para imposição de regime mais severo do que
o admitido pela lei.
Da mesma forma, o STJ editou a súmula 440 do STJ, enunciando que a gravidade em abstrato
do delito não serve para fundamentar fixação de regime mais severo do que o admitido pela lei.
Sim, conforme a súmula 269 do STJ, o juízo pode fixar regime semiaberto para o acusado
reincidente condenado à pena inferior ou igual a 4 anos, se as circunstâncias forem favoráveis.
ATENÇÃO – Se o crime for contra a Administração Pública, o artigo 33, §4º, CP, estabelece
mais um requisito para a progressão de regime: a reparação do dano que o agente causou ou a
devolução do produto do ilícito praticado.
Obs.: Se o agente foi condenado à pena superior a 30 anos de prisão (ex.: 120 anos). O
requisito objetivo deve ser calculado com base na pena aplicada (120 anos) ou com base na pena
máxima que ele poderia cumprir (30 anos – art. 75, CP)?
O STF enunciou na Súmula 715 do STF que a pena a ser considerada para o cálculo do
requisito objetivo do livramento condicional ou da progressão de regime deve ser a pena aplicada
(no exemplo, 120 anos).
Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser
superior a 40 (quarenta) anos.
Primeiramente, por se tratar de lei mais severa ao réu, ela não pode retroagir para alcançar
os fatos pretéritos à entrada em vigor da Lei n. 13.964/19.
Logo, a súmula 715 do STF se mantém inalterada, de modo que o cálculo da progressão de
regime e demais direitos da execução penal deve ser feito sob a pena total aplicada; e não a pena
máxima de 40 anos.
Exame criminológico é um exame que visa verificar se o preso pode progredir sem voltar a
praticar novos delitos. Ocorre que não há estrutura suficiente para realizar os exames
criminológicos. Por isso, a Lei 10792/03 suprimiu o requisito do exame criminológico, que estava
previsto no artigo 112 da LEP.
CUIDADO – No Info 782, o STF decidiu que o inadimplemento da pena de multa aplicada
impediria a progressão de regime, salvo no caso de absoluta impossibilidade do pagamento da
multa pelo apenado. Todavia, a lei não prevê o pagamento da multa como requisito para a
progressão, logo, a decisão do STF foi contra legem.
III - Progressão per saltum: a progressão per saltum, aquela que se dá direto do regime
fechado para o regime aberto, não é admitida pela jurisprudência pátria, de acordo com a súmula
491 do STJ.
IV – Forma de cômputo do prazo para progressão: o prazo para progressão deve ser contado
com base no total da pena no tempo restante?
Imagine que o agente foi condenado à pena de 6 anos em regime fechado. Após cumprir o
percentual necessário para progredir para o regime semiaberto, o novo cálculo da progressão para
o regime aberto deve ser feito mais uma vez com base na pena total (6 anos) ou apenas no tempo
restante (6 anos menos tempo cumprido para progredir para o semiaberto)?
O cálculo é feito com base no restante de pena a ser cumprida, porque pena cumprida é
pena extinta.
V – Regressão de regime: consiste no passeio do regime mais brando para o regime mais
rigoroso. Está positivada no artigo 118 da LEP.
A regressão pode se dar per saltum, ou seja, do aberto para o fechado diretamente, sem
passar pelo semiaberto?
SIM, de acordo com a jurisprudência, porque a própria lei (art. 118, LEP) permite a
transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos. Logo, se é para qualquer regime, pode ser
tanto o semiaberto como o fechado.
b) Sofrer condenação por crime anterior, cuja pena somada ao restante da pena em
execução, torne incabível o regime (art. 111, LEP);
Contudo, o STJ possui julgados no sentido de que algumas medidas cautelares, como o
recolhimento noturno e a monitoração eletrônica implicam em restrição da liberdade tão severa
que dão direito à detração também.75
3.2.1. Introdução
Por fim, na legalização, a conduta passa a ser legalizado, ou seja, deixa de ser infração penal
e infração civil (extrapenal). Em outras palavras, a conduta passa a ser adequada à ordem jurídica.
a) Pena não superior a 4 anos se o crime for doloso e não tiver violência ou grave ameaça
à pessoa;
c) Réu não reincidente em crime doloso: contudo, até mesmo ele pode ser beneficiado com
a substituição se for socialmente recomendável e a reincidência não for no mesmo crime;
CUIDADO – Lei de falências: no artigo 168, §4º da Lei 11.101/05, consta que a PPL pode ser
substituída por PRD, se forem cumpridos dois requisitos: em caso de falência de microempresa ou
empresa de pequeno porte; e não tratar de prática habitual de condutas fraudulentas por parte do
falido.
3.2.3. Conceito
As penas restritivas de direito são espécies de sanção penal alternativas à pena de prisão
que visam evitar os males que a prisão causa aos indivíduos, conferindo à pena maior efetividade
das finalidades retributiva e preventiva.
São penas autônomas (em relação à PPL) e substitutivas, como enuncia o artigo 44, caput,
do CP.
Como são medidas substitutivas, na sentença, o juízo não pode aplicar diretamente a PPL;
ele precisa primeiro aplicar a PPL e, apenas depois substituir a PPL por PRD.
a) Prestação pecuniária (art. 45, §1º e 2º, CP): consiste no pagamento de dinheiro à vítima,
não inferior a um salário mínimo e nem superior a 360 salários mínimos.
Obs.: De acordo com o art. 45, §2º, CP, se a vítima aceitar, a prestação pecuniária pode
consistir em coisas e serviços de outra natureza, diversos de dinheiro. Ex.: prestação de serviço
como pedreiro; pagamento de cestas básicas.
Contudo, para uma corrente doutrinária, essa disposição é inconstitucional, por violação ao
princípio da legalidade da pena. Por outro lado, uma segunda posição majoritária defende a
constitucionalidade do dispositivo, porque a própria CF prevê que a lei pode prever outras formas
de penas além das previstas na CF.
b) Perda de bens e valores (art. 45, §3º, CP): o agente perde bens imóveis ou móveis e
valores lícitos, em favor do Fundo Penitenciário Nacional.
ATENÇÃO – Diferença para o art. 91, II, b, CP: este dispositivo não é pena, e sim mero efeito
da condenação; além disso, o bem perdido aqui é produto de crime, ou seja, ilícitos.
ATENÇÃO MÁXIMA – Pacote anticrime: já que estamos falando do artigo 91, CP, importa
dizer que a Lei n. 13.964/19 trouxe um novo dispositivo – o artigo 91-A, do CP, cuja redação é a
seguinte:
Art. 91-A. Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine pena
máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão, poderá ser decretada a perda, como
produto ou proveito do crime, dos bens correspondentes à diferença entre o valor
do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível com o seu rendimento
lícito.
§ 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-se por patrimônio
do condenado todos os bens:
I - de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o benefício
direto ou indireto, na data da infração penal ou recebidos posteriormente; e
II - transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação irrisória,
a partir do início da atividade criminal.
§ 2º O condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou a
procedência lícita do patrimônio.
§ 3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo
Ministério Público, por ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da
diferença apurada.
§ 4º Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da diferença apurada e
especificar os bens cuja perda for decretada.
§ 5º Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações
criminosas e milícias deverão ser declarados perdidos em favor da União ou do
Estado, dependendo da Justiça onde tramita a ação penal, ainda que não ponham
em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a ordem pública, nem ofereçam
sério risco de ser utilizados para o cometimento de novos crimes.
Pois bem, conforme o artigo 91-A, do CP, o acusado pode ser condenado a uma nova perda
de bens, porém agora esses bens não precisam estar diretamente relacionados ao crime
processado.
Contudo, isso só irá incidir se a pena máxima prevista em lei (e não a pena aplicada
concretamente pelo juízo) for superior a 6 anos de reclusão, salvo no caso de bens utilizados por
milícias e organizações criminosas, que podem ser perdidos, independentemente de oferecer risco
à segurança ou ofender a moral ou ordem pública.
Como vimos, o artigo 91 do CP prevê a condenação à perda dos bens frutos da prática
criminosa. Já o art. 91-A do CP prevê a condenação à perda dos bens que não estão
comprovadamente vinculados àqueles crimes pelos quais ele foi condenado, mas são bens
incompatíveis com seu rendimento legal e declarado.
Não bastasse isso, o patrimônio não precisa estar registrado no nome do condenado. Isso
porque, muitas vezes, os bens são registrados sob a propriedade de outras pessoas (laranjas).
Portanto, os bens perdidos não precisam estar sob a titularidade direta do condenado, mas também
podem ser bens dos quais ele usufrui, mas não os tem registrado sob sua propriedade.
De qualquer forma, em todo caso, o condenado pode deixar de perder os bens, se provar
que o patrimônio tem origem lícita ou é compatível com seus rendimentos. Entretanto, esse
dispositivo tende a ser criticado pela doutrina, porque a lei traz uma inversão do ônus da prova em
desfavor do condenado. Com efeito, a lei atribui o ônus de provar a licitude ou compatibilidade dos
bens ao condenado, e não à acusação.
Inobstante, a lei deixa claro que a perda dos bens só pode ocorrer se o Ministério Público
requerer essa medida expressamente, indicando inclusive a incompatibilidade e a diferença
apurada. Isso é importante para possibilitar o contraditório e a ampla defesa do acusado, assim
como ocorre no caso de condenação à reparação dos danos à vítima. Ademais, ao final a
condenação deve ser específica, indicando o valor incompatível com o rendimento do condenado e
os bens perdidos.
Art. 47 - As penas de interdição temporária de direitos são: (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)
I - proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de
mandato eletivo; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de
habilitação especial, de licença ou autorização do poder público;(Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III - suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo. (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
IV – proibição de freqüentar determinados lugares. (Incluído pela Lei nº 9.714, de
1998)
V - proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exame públicos.
De qualquer forma, o tempo que o agente já cumpriu de sua pena restritiva deve ser
descontado da pena privativa de liberdade em que se converte (detração da PRD na PPL). Contudo,
a lei estabelece um saldo mínimo de 30 dias, ou seja, se faltavam menos de 30 dias para o agente
finalizar o cumprimento da PRD; ele ainda deverá cumprir pelo menos 30 dias de PPL.
CRÍTICA – Esse saldo mínimo de 30 dias é um incremento de pena sem qualquer fundamento
para tanto.
Em regra, duram o mesmo tempo da pena privativa de liberdade substituída, salvo no caso
de prestação de serviços à comunidade.
Art. 55. As penas restritivas de direitos referidas nos incisos III, IV, V e VI do art. 43
terão a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída, ressalvado o
disposto no § 4o do art. 46.
Todavia, na Lei de Drogas, havia previsão legal no artigo 33, §4º, da Lei de Drogas, vedando
a substituição da PPL por PRD nos delitos previstos nessa lei. O STF, diante disso, considerou que a
vedação genérica da substituição viola o princípio da individualização da pena, de modo que essa
previsão é inconstitucional (Info 604 do STF).
Ato contínuo, o Senado editou a Resolução 5/2012, dando efeitos erga omnes à decisão do
STF no Info 604.
3.3.1. Conceito
3.3.2. Espécies
IV – Substitutiva (art. 44, §2º, CP): a multa pode substituir a PPL, quando a condenação for
igual ou inferior a 1 ano.
1º passo - número de dias multa (art. 49, caput, CP): são no mínimo 10 e no máximo 360
dias-multa.
A quantidade de dias multa deve ser proporcional à aplicação da pena privativa de liberdade.
Logo, se a PPL foi fixada no mínimo legal, é proporcional que a pena de multa fique no mínimo ou
próxima do mínimo de 10 dias.
2º passo – valor de cada dia-multa (art. 49, §1º, CP): o valor do dia multa será fixado
respeitado o patamar de 1/30 até 5 vezes o salário mínimo vigente ao tempo do fato.
§ 1º - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um
trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior
a 5 (cinco) vezes esse salário.
O critério para fixação desse valor é principalmente a situação econômica do réu. Por essa
razão, se o réu for muito rico, o juízo pode TRIPLICAR o valor máximo da pena de multa.
Portanto, o juízo vai definir a quantidade de dias multa, por exemplo, 10 dias; e depois o
valor de cada dia multa, por exemplo, mil reais. O valor da pena de multa será 10.000 reais.
Por essa razão, com a lei n. 9.268/96, a multa passou a ser considerada dívida de valor. Logo,
a multa não paga não pode mais ser convertida em prisão. A solução é a execução da pena de multa,
nos termos da lei de execução fiscal.
Mas de quem é a legitimidade para executar a pena de multa?
Há controvérsia:
Uma primeira posição defender ser do Ministério Público a legitimidade para executar a
pena de multa, porque ela continua tendo a natureza de sanção penal (Bitencourt, Nucci e Greco).
A súmula 171 do STJ enuncia que é vedada a substituição da prisão por multa, quando forem
aplicadas cumulativamente pena privativa de liberdade e pena de multa, previstas em lei especial.
Isso porque, caso fosse possível, a pena seria de multa mais multa.
Essa súmula não tem qualquer sentido ou fundamento legal, mas visou especificamente
proibir que os crimes da Lei de Drogas fossem punidos com pena de multa mais multa.
Por não ter sentido e nem fundamento, a doutrina critica a súmula. No entanto, ela ainda
está vigente e ainda é aplicada pelo STJ.
A medida de segurança não configura pena, e sim uma espécie de sanção penal autônoma.
A sanção penal é gênero que abrange duas espécies: a pena e a medida de segurança.
4.2. Sistemas
I – Duplo binário: por esse sistema, ao réu poderia ser aplicada uma pena mais uma medida
de segurança.
Portanto, aqui, temos uma dupla punição pelo mesmo fato, o que implicava bis in idem,
razão pela qual esse sistema foi abandonado.
II – Vicariante: por esse sistema, ao réu só pode ser aplicado uma pena OU uma medida de
segurança.
4.3. Conceito
4.4. Destinatário
A medida de segurança se destina ao penalmente inimputável pelo critério biopsicológico
(art. 26, caput, do CP) e ao semi-imputável (art. 26, parágrafo único, do CP).
A primeira diferença está ligada à finalidade: a pena tem duas finalidades - retribuição e
prevenção. Por sua vez, a medida de segurança tem por finalidade apenas a prevenção (visa evitar
que o inimputável pratique novos crimes).
No que toca ao tempo de cumprimento, a pena tem tempo certo de cumprimento – a pena
aplicada pelo juízo. Por sua vez, a medida de segurança tem apenas um tempo mínimo de
cumprimento previsto em lei, não possuindo prazo legal máximo (porém, como veremos, a doutrina
e a jurisprudência já limitaram esse prazo).
Art. 96. As medidas de segurança são: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
I - Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em
outro estabelecimento adequado; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - sujeição a tratamento ambulatorial.
O critério para aplicação de uma espécie ou outra está previsto no artigo 97 do CP é a espécie
de pena privativa de liberdade aplicada ao delito praticado pelo inimputável. Dessa forma, se a pena
é de reclusão, a medida de segurança deve ser a internação. Por outro lado, se a pena for de
detenção, a medida de se segurança é o tratamento ambulatorial.
Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26).
Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz
submetê-lo a tratamento ambulatorial.
O artigo 97, §1º, do Código Penal preconiza que o prazo máximo da medida de segurança é
indeterminado, cessando apenas quando a perícia médica constatar que não mais existe
periculosidade.
A doutrina critica esse posicionamento legal, porque se não existir prazo máximo, teríamos
uma sanção penal de caráter perpetuo, vedada pela Constituição. Destarte, o prazo máximo deve
ser o limite máximo cominado de pena àquele delito.
Da mesma forma, o STJ enunciou esse posicionamento doutrinário na súmula 527: o tempo
de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente
cominada ao delito praticado. Logo, se o crime foi de roubo, cuja pena máxima é de 10 anos, o prazo
máximo da medida de segurança também é de 10 anos.
Por sua vez, o STF entende que o limite máximo da medida de segurança seria de 30 anos,
ou seja, o limite máximo de cumprimento de pena no Brasil.
ATENÇÃO - Como o limite foi aumentado pelo pacote anticrime, o posicionamento do STF
tende a ser no sentido de que o limite máximo é de 40 anos, conforme a nova redação do art. 75 do
CP.
A medida de segurança que vimos até aqui é aquela autônoma, aplicada ao final do processo
penal ao inimputável ou semi-imputável.
Por sua vez, essa medida de segurança é substitutiva, porque apenas substitui a PPL aplicada.
O réu nesse caso é um semi-imputável que recebeu uma pena na sentença, quando de sua
condenação. Ocorre que, durante a execução da pena, ele passa a precisar de tratamento, de modo
que o juízo da execução penal substitui a PPL anteriormente aplicada por uma medida de segurança.
A sentença que aplica medida de segurança tem natureza jurídica absolutória imprópria.
Ela só pode ser aplicada após o trâmite regular de um processo penal, onde será realizada a
perícia médica, que determinará se o réu é inimputável ou não.
Portanto, na sentença, o juízo absolve o réu, mas lhe impõe medida de segurança
(internação ou tratamento ambulatorial).
5.1. Conceito
O sursis da pena é uma forma de cumprimento da pena privativa de liberdade com nítida
natureza descarcerizadora, fundamentada em política criminal, que se destina a evitar o
recolhimento à prisão dos condenados a uma pena de curta duração, permitindo o seu
cumprimento em liberdade, mediante a satisfação de algumas condições. Ao final, gera a extinção
da pena privativa de liberdade, se não houver a sua revogação.
NÃO, o artigo 80 do Código Penal é expresso no sentido de que só cabe sursis em caso de
aplicação de pena privativa de liberdade.
III – Probation of first offenders act: nesse sistema, o juízo reconhece a suspensão do
processo e permite ao réu ficar em liberdade, cumprindo o período de prova. Portanto, aqui, o juízo
não reconhece a culpa do réu. Todavia, se o réu descumprir as condições no período de prova, o
processo será reiniciado.
IV – Sistema alemão: nesse sistema, o juízo aplica uma pena ao réu, mas sem condenação;
o juízo suspende a pena e o réu vai cumprir o período de prova. Se o réu praticar novo delito durante
o período de prova, ele terá que cumprir a pena aplicada.
Como vimos, o sursis da pena está previsto no Código Penal; ao passo que o sursis processual
está previsto na Lei do JECRIM.
A primeira diferença é que no sursis da pena, o que se suspende é a execução da pena. Por
sua vez, no sursis processual, o que se suspende é o processo.
O sursis da pena não influencia em nada a prescrição do crime. Por seu turno, no sursis
processual, o prazo prescricional fica suspenso, enquanto durar o período de prova.
Não bastasse isso, quem revoga o sursis penal é o juízo da execução penal (art. 66, III, d, LEP);
ao passo que quem revoga o sursis processual é o juízo do processo penal.
Por fim, se o réu descumprir as condições do sursis penal, este será revogado e ele irá
cumprir a pena que já lhe foi aplicada. Por sua vez, se o réu descumprir as condições do sursis
processual, este será revogado e o processo será retomado.
De outro lado, se o réu cumprir as condições do sursis penal, sem revogação, a consequência
é a extinção da pena privativa de liberdade. Já se o réu cumprir as condições do sursis processual,
sem revogação, a consequência é a extinção da punibilidade.
5.4. Condições
a) Legais (art. 78, CP): prestação de serviços à comunidade; limitação de fim de semana;
b) Judiciais (art. 79, CP): o juízo pode fixar outras condições além das legais, desde que essas
condições sejam adequadas ao fato criminoso e à situação pessoal do condenado.
Se o juízo da condenação impôs apenas as condições legais, mas não impôs nenhuma
condição judicial, o juízo da execução NÃO pode impor as condições judiciais, porque o momento
de imposição das condições é o momento da prolação da sentença, sendo de competência do juízo
da condenação. O juízo da execução penal não tem competência para fixar as condições judiciais do
sursis penal.
Predomina que o sursis penal é um direito subjetivo do réu, caso os requisitos legais sejam
preenchidos. Esse é o entendimento que prevalece na doutrina e pacífico na jurisprudência.
ATENÇÃO – O acusado pode recusar o sursis penal e preferir cumprir a pena privativa de
liberdade?
Como vimos, após aplicação da pena privativa de liberdade, o juízo concederá o sursis penal,
caso estejam presentes os seguintes requisitos:
I – Requisitos objetivos:
CUIDADO – A lei de crimes ambientais prevê a concessão do sursis se a pena aplicada não
for superior a 3 anos (art. 16, Lei 9.605/98).
III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código.
Obs.: Por conta desse requisito, a PRD esvaziou o sursis. Na prática, é difícil verificar a
concessão do sursis, porque o sursis é subsidiário à PRD. Todavia, o sursis ainda pode ser aplicado
em crimes com violência ou grave ameaça, porque não cabe PRD nesse caso.
II – Requisitos subjetivos:
a) Réu não reincidente em crime doloso (art. 77, I, CP): não abrange reincidência em
contravenção dolosa; e nem reincidência em crime culposo.
CUIDADO – Se o primeiro crime doloso foi punido apenas com pena de multa, o acusado
ainda terá direito ao sursis penal.
a) Simples (art. 77, c/c art. 78, §1º, CP): é o sursis penal comum que estudamos até aqui; o
juízo concede o sursis penal e o réu fica sujeito às condições de prestação de serviços à comunidade
e limitação de fim de semana e judiciais;
b) Especial (art. 78, §2º, CP): se o condenado reparar o dano causado, salvo impossibilidade
de fazê-lo, bem como as circunstâncias judiciais forem favoráveis, o juízo pode substituir as
condições do §1º pelas condições do art. 78, §2º, CP, que são mais brandas;
c) Etário (art. 77, §2º, CP): se o condenado for maior de 70 anos de idade, o sursis pode ser
concedido se a pena não for superior a 4 anos, mas, nesse caso, o período de prova será maior –
de 4 a 6 anos;
d) Humanitário (art. 77, §2º, CP): se o condenado for doente, caso a doença não possa ser
tratada no sistema penitenciário, o sursis pode ser concedido se a pena não for superior a 4 anos,
mas, nesse caso, o período de prova será maior – de 4 a 6 anos.
a) Natureza do crime;
b) Personalidade do agente;
c) Intensidade da pena.
O artigo 81, §2º, CP, determina que o período de prova será prorrogado se o acusado está
sendo processado por novo crime ou contravenção.
De se notar que essa prorrogação é automática, não dependendo de pedido pelas partes.
De qualquer forma, o mero fato de o réu estar sendo indiciado em inquérito policial não
serve para prorrogar o período de prova; é necessário o novo processo.
a) Obrigatória (art. 81, CP): se o acusado for condenado por crime doloso; não reparação do
dano ou a frustração da pena de multa; descumprimento das condições do art. 78, §1º;
Art. 81 - A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário: (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - é condenado, em sentença irrecorrível, por crime doloso; (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)
II - frustra, embora solvente, a execução de pena de multa ou não efetua, sem
motivo justificado, a reparação do dano; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
III - descumpre a condição do § 1º do art. 78 deste Código. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)
CRÍTICA – O não pagamento da multa, de acordo com o artigo 51 do CP, gera dívida de valor
que pode ser executada, e não mais a prisão do réu. Ora, se o não pagamento de multa não pode
ser convertido em prisão, também não deveria ensejar a revogação do sursis, porque resultaria na
prisão do réu pelo não pagamento da multa.
b) Facultativa (art. 81, §1º, CP): o sursis pode ser revogado se o condenado descumpre
qualquer outra condição imposta; ou se o réu for condenado por crime culposo ou contravenção.
Caso o réu cumpra todas as condições impostas, expirado o prazo do período de prova,
considera-se extinta a pena privativa de liberdade, nos termos do artigo 82 do Código Penal.
Art. 82 - Expirado o prazo sem que tenha havido revogação, considera-se extinta a
pena privativa de liberdade.
Há duas correntes:
A primeira corrente, majoritária, defende que a extinção da pena é automática, porque o
que extingue a PPL é o mero decurso do período de prova (Bitencourt e Luis Regis Prado).
Por outro lado, uma segunda corrente sustenta que a extinção da PPL não é automática,
necessitando de decisão do juízo, porque se o juízo verificar que o réu está sendo processado, deve
prorrogar o período de prova (Greco).
SIM, com base no artigo 15, III, da CF. Da mesma forma entende o STF.
Dessa forma, uma vez cumpridas as condições e extinta a PPL, o réu retoma seus direitos
políticos.
Da mesma forma que cabe substituição da PPL por PRD em crimes hediondos e equiparados,
também deveria caber sursis penal. No entanto, STF e STJ possuem entendimentos discordantes.
O STJ entende, em regra, cabível o sursis penal (HC 187.874). Por sua vez, o STF possui
julgados no sentido de que NÃO cabe sursis em crimes hediondos e equiparados (HC 101.919).
6.1. Introdução
De se notar pela leitura do inciso V que cabe livramento condicional em crimes hediondos e
equiparados, desde que haja o cumprimento de mais de 2/3 da pena pelo réu. Todavia, se o réu for
reincidente específico em crimes hediondos ou equiparados, não caberá livramento condicional.
Todavia, nos crimes de tráfico de drogas, de acordo com a Lei de Drogas, o prazo para
livramento condicional é de 2/3 da pena (e não mais de 2/3, como preconiza o CP).
De qualquer forma, se o réu foi condenado a vários crimes, as penas destes devem ser
somadas, a fim de calcular o prazo para o livramento condicional.
ATENÇÃO MÁXIMA – Pacote Anticrime: a Lei n. 13.964/19 alterou o artigo 83, III, do CP. A
nova redação é a seguinte:
III - comprovado:
Portanto, mesmo que tenha cumprido os demais requisitos, o reeducando que tenha
cometido uma falta grave nos últimos 12 meses, não poderá obter o livramento condicional.
6.4. Revogação
Se o réu não cumprir as condições impostas quando do livramento, este será revogado. A
revogação pode ser obrigatória ou facultativa:
a) Obrigatória (art. 86): se o réu for condenado à PPL com sentença transitada em julgado
por crime cometido durante a vigência do livramento condicional; ou por crime anterior ao
livramento condicional;
Todavia, se o réu praticar um crime durante a vigência do livramento condicional, o juízo não
poderá extinguir a pena enquanto não transitar em julgado a sentença do processo que apura esse
crime. Isso porque caso o réu seja condenado, o livramento será revogado – suspensão do
livramento.
Art. 89 - O juiz não poderá declarar extinta a pena, enquanto não passar em julgado
a sentença em processo a que responde o liberado, por crime cometido na vigência
do livramento.
CONCURSO DE CRIMES
1. Introdução
Ocorre concurso de crimes, quando uma ou mais pessoas praticam dois ou mais crimes.
O Código Penal reconhece três espécies de concurso de crimes: concurso material ou real
(art. 69, CP); concurso formal ou ideal (art. 70, CP); e crime continuado (art. 71, CP).
2.1. Requisitos
O artigo 69 do Código Penal traz dois requisitos para configuração do concurso material:
Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou
mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de
liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de
reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela.
2.2. Espécies
De acordo com o artigo 69, do CP, o sistema de aplicação da pena adotado pelo concurso de
crimes é o do cúmulo material, ou seja, o juízo irá somar as penas dos crimes praticados.
Primeiro, o juízo faz a dosimetria isolada de cada crime; e depois vai somar as penas
definitivas que já calculou. Ex.: o agente foi condenado por dois crimes de roubo; o primeiro roubo
foi simples e o agente recebeu a pena mínima de 4 anos; o segundo roubo foi tentado, de modo
que com a diminuição da pena, esta ficou em 2 anos. Ao final, o juízo soma as penas, chegando à
pena final de 6 anos.
§ 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa
de liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a
substituição de que trata o art. 44 deste Código.
Por sua vez, o artigo 69, §2º, do CP, determina que as penas restritivas de direito compatíveis
serão cumpridas de forma simultânea. Por sua vez, as penas restritivas de direito incompatíveis
serão cumpridas de forma sucessiva. Ex.: o agente recebeu uma PRD de prestação de serviços e uma
PRD de prestação pecuniária; como são PRDs compatíveis, o agente as cumprirá de forma
simultânea. Por outro lado, se o agente recebe uma PRD de prestação de serviços no fim de semana;
e uma PRD de limitação de fim de semana; tais PRDs são incompatíveis, logo, o agente cumprirá
primeiro uma delas, e quando acabar, cumpre a outra (de forma sucessiva).
3.1. Requisitos
O artigo 70 do Código Penal traz dois requisitos para configuração do concurso formal:
Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais,
somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade.
As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa
e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto
no artigo anterior.
3.2. Espécies
c) Próprio ou perfeito: o agente pratica apenas uma conduta com dois ou mais resultados
culposos; ou com resultados dolosos e outros culposos, ou seja, sempre deve haver um resultado
culposo. Em outras palavras, o agente não age com dolo em relação a todos os resultados; no
mínimo um dos resultados sempre terá que ser culposo. Ex.: agente dirigindo e olhando para o
celular, perde o controle do carro e mata três pessoas – três homicídios culposo – concurso formal
próprio.
d) Impróprio ou imperfeito: o agente pratica apenas uma conduta doloso que dá causa a
vários resultados dolosos. Nesse caso, todos os resultados de sua conduta são dolosos, ou seja, o
agente age com dolo em relação a todos os resultados. Segundo o Código Penal, aqui, o agente tem
desígnios autônomos. Ex.: adolescente entra em uma sala de cinema e dá uma raja de metralhadora
nas pessoas – pratica vários homicídios dolosos – concurso formal impróprio.
O sistema de aplicação da pena adotado pelo Código Penal para o concurso formal ou ideal
varia, de acordo com a natureza do concurso – próprio ou impróprio.
CUIDADO – Concurso formal benéfico (art. 70, p. único, CP): se aplicando o sistema da
exasperação, a pena ficar maior do que seria em caso de soma das penas; deve-se desprezar o
aumento, e utilizar o critério do cúmulo, somando-se as penas.
Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art.
69 deste Código.
4.1. Introdução
O crime continuado foi criado para beneficiar o réu. Por essa razão, foi criada uma ficção
jurídica, pela qual imagina-se que todos os crimes praticados são continuação de um só, ou seja,
considera-se que há apenas um crime, sendo os demais apenas continuação desse.
Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou
mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de
execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como
continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou
a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.
4.2. Requisitos
O artigo 71 do Código Penal prevê dois requisitos para configuração do crime continuado:
Uma primeira corrente sustenta que crimes da mesma espécie são crimes previstos no
mesmo tipo penal, ainda que em forma derivada (um tentado, um consumado, um simples, outro
qualificado e etc). Ex.: três furtos; dois roubos; quatro homicídios. Essa era a posição de Hungria; e
essa é a posição do STF e do STJ (Info 569).
Já uma segunda corrente defende que crimes da mesma espécies são crimes que protegem
o mesmo bem jurídico. Ex.: roubo e extorsão (tipos diversos, mas protegem o mesmo bem jurídico
– patrimônio); corrupção passiva e concussão (mesmo bem jurídico – Administração Pública). Essa
corrente é defendida por Fragoso, Luis Regis Prado, Greco.
I – Teoria subjetiva: para essa teoria, o que caracteriza o crime continuado é a programação
mental inicial do agente, ou seja, há crime continuado, quando o agente pretende desde o início
praticar vários crimes de forma parecida;
II – Teoria objetiva: para essa teoria, só importam elementos objetivos para saber se há
crime continuado, ou seja, basta analisar se o agente praticou todos os crimes nas mesmas
condições de tempo, lugar, maneira de execução e outros fatores semelhantes;
independentemente se o agente queria desde o início praticar todos os crimes de forma
semelhante.
III – Teoria objetivo-subjetiva ou mista: para essa teoria, haverá crime continuado se o
agente já tinha a programação mental inicial, associada à prática dos crimes nas mesmas condições
de tempo, lugar, maneira de execução e outros fatores semelhantes.
Por outro lado, Greco sustenta isoladamente que deve ser adotada a Teoria objetivo-
subjetiva ou mista, porque, além do que está expresso no CP (requisitos objetivos), deve-se levar
em conta também o dolo do agente. Da mesma forma, o STJ entende que a teoria adotada no crime
continuado é a teoria mista (HC 280.587).
a) Mesmas condições de tempo: significa uma certa periodicidade entre os vários crimes
praticados, ou seja, deve haver uma conexão temporal entre as condutas, de modo que se permita
observar um ritmo e uma uniformidade entre os crimes.
CUIDADO - Sonegação de imposto de renda: o imposto de renda é declarado uma vez por
ano, logo, ele só pode ser sonegado uma vez por ano. Ora, sendo assim, não há como o intervalo
entre um crime de sonegação e outro ser inferior a 30 dias. Inobstante, a jurisprudência entende
cabível o crime continuado no caso de sonegação fiscal de IR, já que este só pode ser declarado e
pago uma vez por ano.
b) Mesmas condições de lugar: significa uma conexão espacial, de modo que a prática das
condutas deve ocorre em localidades próximas.
Nesse sentido, a jurisprudência entende que existe essa conexão espacial, até mesmo
quando os crimes são praticados em cidades vizinhas.
c) Mesma maneira de execução: significa que os crimes foram praticados seguindo o mesmo
modus operandi (modo, estilo e forma semelhantes). Ex.: dois roubos praticados em concurso de
dois agentes, mediante uso de arma de fogo, abordando a vítima quando abre o portão de sua casa.
d) Outros fatores semelhantes: abrange qualquer condição igualmente objetiva, desde que
não configure mesmo tempo, lugar ou maneira de execução.
ATENÇÃO – Se faltar algum dos requisitos, mesmo que preenchidos todos os outros,
haverá crime continuado?
SIM, mesmo que falte algum dos requisitos, e desde que preenchidos todos os outros, ainda
pode ser caracterizado o crime continuado.
A súmula 605 do STF diz que não se admite crime continuado nos crimes contra a vida.
Ocorre que essa súmula é muito antiga, anterior à Lei n. 7.209/84, que acrescentou o parágrafo
único do artigo 71.
Diante disso, o próprio STF já deu início ao procedimento de cancelamento da súmula 605.
Como visto acima, o artigo 71, p. único, CP, prevê a figura do crime continuado específico ou
qualificado. Os requisitos para sua configuração são:
a) Crimes dolosos;
b) Vítimas diferentes;
Nesse caso, de acordo com a lei, a pena será aumentada de até o triplo, observadas as
circunstâncias pessoais do agente.
Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com
violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade,
os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os
motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou
a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do
art. 70 e do art. 75 deste Código.
De acordo com o artigo 71 do Código Penal, o sistema de aplicação da pena adotado no crime
continuado é o sistema da exasperação.
A pena (qualquer uma, se os crimes forem iguais; ou a mais grave, se os crimes são distintos)
será aumentada de 1/6 a 2/3. O critério utilizado para aplicar o aumento também é a quantidade
de crimes: 2 crimes – 1/6; 3 crimes – 1/5; 4 crimes – 1/4; 5 crimes – 1/3; 6 crimes – 1/2; 7 ou mais
crimes – 2/3.
CUIDADO – Roubo praticado contra várias vítimas dentro de ônibus é crime continuado ou
concurso formal?
O STJ entende que se trata de concurso formal impróprio, conforme Info 551.
Por outro lado, no mesmo informativo, o STJ destacou que se o crime de roubo é praticado
contra o cobrador, subtraindo seu relógio, bem como o dinheiro do ônibus, entende-se que há crime
único.
Diante disso, podemos dizer que as causas de extinção da punibilidade são hipóteses
previstas em lei (penal ou extrapenal), por meio das quais o Estado abre mão do exercício do
poder punitivo (jus puniendi), motivado por questões de política criminal.
2. Classificação
b) Extraordinárias: são as hipóteses previstas no artigo 107 do Código Penal. Esse rol é
exemplificativo, porque há outras causas previstas em outros artigos do Código Penal, e até mesmo
fora do CP. Ex.: pagamento do valor sonegado em crimes contra a ordem tributária.
3. Espécies
Com efeito, não é possível punir os descendentes e herdeiros do réu, porque a pena não
pode passar da pessoa do condenado, em respeito ao princípio da intranscendência.
O artigo 62 do CPP exige a apresentação da certidão de óbito para provar a morte do réu.
ATENÇÃO – Certidão de óbito falsa: se o juízo extinguiu a punibilidade com base em certidão
de óbito falso, pode haver novo julgamento após a descoberta da falsidade do documento?
Há duas correntes:
Uma primeira corrente defende que NÃO pode haver novo julgamento, porque não existe
revisão criminal pro societate. Assim, uma vez declarada extinta a punibilidade em razão da morte
do réu, essa decisão faz coisa julgada material, de modo que após seu trânsito em julgado, torna-se
imutável.
Por outro lado, uma segunda corrente sustenta que SIM, pode haver novo julgamento (novo
processo ou retomada do antigo processo), porque a declaração de extinção da punibilidade teve
como fundamento um fato juridicamente inexistente. Se não aconteceu a morte, a decisão judicial
não produz nenhum efeito jurídico. Essa é a posição do STF – Info 613; e do STJ.
Uma primeira corrente da doutrina diz que NÃO é possível, sob pena de se desvirtuar o
instituto da anistia, pois este foi criado para ter como destinatários os crimes políticos, militares e
eleitorais. Essa é a posição de Bitencourt.
Todavia, uma segunda corrente defende que, SIM, é possível a aplicação da anistia a crimes
comuns, porque não há vedação para tanto. Como a anistia se trata de norma garantidora de
direitos, sua interpretação deve ser extensiva. Além disso, a lei de crimes hediondos veda a anistia
para os crimes hediondos e equiparados, que são crimes comuns; logo, a contrário senso, a anistia
é permitida para outros crimes comuns que não sejam hediondos e equiparados. Essa é a posição
de Greco.
São institutos muito semelhantes, porque ambos são causas de extinção da punibilidade,
concedidos pelo Presidente da República.
Todavia, há uma diferença entre os dois: o indulto é coletivo (só lembrar do indulto de
natal); ao passo que a graça é individual.
A lei 8.072/90, no art. 2, I, preconiza que não cabe anistia, graça e indulto para o agente que
pratica crimes hediondos e equiparados.
Ocorre que a CF, no art. 5, XLIII, vedou apenas a graça e a anistia para os agentes que
praticassem crimes hediondos e equiparados.
Há duas correntes:
Uma primeira corrente sustenta que a vedação do indulto pela lei dos crimes hediondos é
inconstitucional, porque a lei fez uma vedação que a Constituição não fez. A interpretação da norma
constitucional deve ser restritiva, porque se trata de norma que restringe direito. Ora, se a
Constituição, hierarquicamente superior, não vedou o indulto, a Lei também não poderia vedar.
Essa é a posição de Toledo, Scarance e Alberto Silva Franco.
Por outro lado, uma segunda corrente defende que a vedação do indulto pela lei dos crimes
hediondos é constitucional, porque a Constituição teria vedado o indulto, no art. 5, XLII, quando
vedou a graça. Segundo essa corrente, a vedação da graça inclui a vedação do indulto, porque
ambos seriam institutos semelhantes. Essa é a posição do STF – Info 745.
3.3. Abolitio Criminis (art. 107, III, CP)
Ocorre quando uma lei posterior deixa de considerar um crime previsto em lei anterior como
tal. Essa lei posterior retroage para beneficiar o réu.
A abolitio criminis faz cessar os efeitos penais: cumprimento da pena; reincidência; nome do
réu lançado ao rol dos culpados, ainda que já decididos em sentença condenatória transitada em
julgado. Portanto, a abolitio criminis desconstitui a coisa julgada.
ii) Se a abolitio ocorrer durante o cumprimento da pena, após o fim do processo, quem
declara a extinção da punibilidade é o juízo da execução penal (art. 66, I e II, LEP), conforme a súmula
611 do STF.
iii) Se a abolitio ocorrer no curso do inquérito policial, a autoridade policial fará o relatório,
dizendo que houve abolitio criminis; e remete o IP ao Ministério Público, que pode arquivar o
inquérito, nos termos do art. 28 do CPP.
iv) Se a abolitio ocorrer antes mesmo da instauração do inquérito policial, não há razão para
instaurar IP, porque o fato não é mais criminoso. Logo, não há mais justa causa para instaurar IP.
Por fim, a perempção é uma sanção aplicada ao querelante, na ação penal de iniciativa
privada. Ocorre, quando após o oferecimento da queixa-crime, o querelante não dá andamento ao
processo. Ora, se o querelante não dá andamento ao processo, presume-se que ele desistiu do
processo.
3.5. Retratação do agente, quando a lei admite (art. 107, VI, CP)
a) Artigo 143 do CP – crimes contra a honra: o agente que se retrata da calúnia ou difamação
antes da sentença (1º grau), fica isento de pena;
b) Art. 342, §2º, do CP – falso testemunho: a testemunha que mente em juízo pode se
retratar antes da sentença (1ª instância).
É o perdão concedido pelo juízo, nos casos previstos em lei. Os casos admitidos pela lei são:
art. 121, §5º, CP; art. 129, §8º, CP; art. 140, §1º, CP; art. 176, p. único, CP; art. 180, §5º, CP; art. 242,
p. único, CP; art. 249, §2º, CP; art. 38, §2º, LCP; art. 29, §2º, Lei 9.605/98.
Ocorre quando as consequências do crime são tão graves ao próprio agente que a sanção
penal se mostra desnecessária.
Art. 120 - A sentença que conceder perdão judicial não será considerada para
efeitos de reincidência.
ATENÇÃO – Para a concessão do perdão judicial, a vítima precisa ser parente do acusado?
Não se exige que a vítima seja parente do agente; o que se exige é um laço afetivo entre
autor e vítima, ou seja, uma relação de afeto preexistente entre ambos, conforme Info 542 do STJ.
Obs.: Perdão judicial no Código de Trânsito Brasileiro – o artigo 300 do CTB trazia a previsão
do perdão judicial para os crimes de homicídio culposo e lesão culposa na direção de veículo
automotor. Ocorre que esse dispositivo foi vetado, porque o próprio CTB permite em seu texto
expressamente a aplicação do Código Penal de forma subsidiária. Destarte, como já há previsão de
perdão judicial no CP, não há necessidade de nova previsão no CTB.
Ocorre que o art. 107, IX, CP, só admite o perdão judicial nos casos previstos em lei; e o CTB
não tem essa previsão, porque foi vetada.
Inobstante, como a razão do veto foi expressa no sentido de que se aplica o perdão judicial
ao CTB por aplicação do CP, entende-se pacificamente que é admitida a concessão do perdão judicial
aos crimes de trânsito.
4. Prescrição
4.1. Conceito
A prescrição nada mais é do que a influência do tempo nas relações entre o Estado e o
agente, fazendo com que o Estado não possa mais punir o réu.
Obs.: Como eu sei que uma norma de Direito Penal ou de Direito Processual Penal?
A simples previsão no Código Penal não garante que a norma seja de Direito Penal. Da
mesma forma, o simples fato de estar previsto no CPP não garante que a norma seja processual. Na
verdade, se a norma versar sobre jus puniendi – nascimento ou extinção -, terá natureza penal ou
material. Por sua vez, se a norma versar sobre o processo – início, meio e fim -, a norma terá
natureza processual.
Ora, a prescrição é norma que trata do jus puniendi; logo, é norma de natureza material,
Por essa razão, o prazo da prescrição é contado de acordo com o Direito Penal, ou seja, trata-
se de prazo penal. Portanto, o primeiro dia será computado, ao passo que o último dia do prazo será
excluído.
O Estado exerce a pretensão punitiva contra o acusado no momento em que ele forma um
título executivo contra ele - a sentença penal condenatória transitada em julgado. A partir desse
momento, nasce para o Estado pretensão executória, ou seja, a partir da sentença condenatória, o
Estado pode executar o título, forçando o acusado a cumprir a pena.
i) Formação do título executivo: na PPP, o Estado ainda não formou o título executivo judicial
contra o acusado, porque não exerceu a pretensão punitiva no prazo legal. Por sua vez, na PPE, o
Estado formou o título executivo contra o acusado, mas ele não o executa;
ii) Perda de um direito: na PPP, o Estado perde o direito de punir. Já na PPE, o Estado perde
o direito de executar a condenação;
iii) Reincidência: na PPP, não há reincidência do acusado, porque não houve sentença
condenatória com trânsito em julgado; portanto, o acusado continua sendo primário. Por outro
lado, na PPE, já houve sentença condenatória com trânsito em julgado, logo, há reincidência;
portanto, o acusado se torna reincidente;
iv) Execução civil: na PPP, não houve formação do título executivo, logo não cabe execução
civil do título. Por outro lado, na PPE, já houve sentença condenatória com trânsito em julgado, logo,
houve formação do título; por conseguinte, a vítima pode realizar a execução civil desse título.
O artigo 109 determina que o prazo prescricional varia de acordo com a pena máxima
cominada ao tipo penal. Portanto, o critério para cômputo do prazo é a pena máxima do crime.
De acordo com a pena máxima, o artigo 109 do CP prevê qual o prazo prescricional. Ex.: O
crime de furto simples possui pena máxima de 4 anos; o artigo 109 prevê que a pena máxima de 4
anos prescreve em 8 anos. Logo, o prazo da PPP do furto simples é de 8 anos.
Na pena máxima, computam-se circunstâncias judiciais? Atenuantes e agravantes? Causas
de aumento e de diminuição?
a) Circunstâncias judiciais: NÃO são computadas, porque a lei não traz um percentual de
aumento, cabendo ao juízo dosa-las no caso concreto;
b) Agravantes e atenuantes: NÃO são computadas, porque a lei também não traz o
percentual de agravamento ou atenuação, cabendo mais uma vez ao juízo dosá-las;
c) Causas de aumento e diminuição: SIM, são computadas. Nesse caso, para conseguir obter
a pena máxima em abstrato, busca-se a maior pena possível.
De outro turno, se as causas forem fixas, simplesmente se aplica a fração fixa (ex.: 1/3) na
pena máxima em abstrato, e depois, analisa-se o prazo prescricional previsto no art. 109, CP.
O termo inicial da PPP está previsto no artigo 111 do Código Penal será:
a) Consumação do crime: como regra geral, o termo inicial da PPP é a data da consumação
do delito;
b) Tentativa: em caso de crime tentado, o termo inicial da PPP é a data em que cessa a
atividade criminosa. Dessa forma, se o crime consistir em um ato só, o cômputo inicial é a data
desse ato; se o crime consistir em vários atos, a data inicial é quando cessarem tais atos;
c) Crimes permanentes: nesse caso, o termo inicial da PPP é o dia em que cessou a
permanência. No crime permanente, o agente controla a permanência, ou seja, ele que sabe
quando começa e quando termina o crime; logo, o termo inicial da PPP é o dia em que o agente
decide cessar a permanência;
d) Bigamia e falsificação documental: o termo inicial da PPP é o dia em que o fato se tornou
conhecido. Esses crimes são praticados de forma clandestina (escondida), então para evitar a
prescrição, o termo inicial só começa a partir do momento em que o fato criminoso se tornar
conhecido;
4.5.2. Critério
A PPE regula-se pela pena aplicada, ou seja, o critério para contagem da PPE é a pena
concretizada na sentença.
Destarte, computa-se a PPE com base na pena aplicada na sentença, considerando o prazo
prescricional previsto no artigo 109 do CP.
Portanto, não há que se preocupar com a descoberta da pena máxima em abstrato, porque
já há pena aplicada.
ATENÇÃO - Da mesma forma que a PPP, na PPE, em caso de concurso de crimes, calcula-se
a prescrição em cada crime isoladamente. Portanto, se for concurso material, considera-se cada
crime isoladamente, sem somar as penas; e se for concurso formal ou crime continuado, considera-
se a pena do crime sem a causa de aumento do art. 70 ou do art. 71 – Súmula 497 do STF.
Por fim, deve-se aumentar o prazo prescricional em 1/3, caso o condenado seja reincidente.
Esse aumento só incide na PPE, conforme súmula 220 do STJ.
a) Aumento de 1/3 (art. 110, CP): se o condenado for reincidente, o prazo da PPE é
aumentado de 1/3.
Esse aumento não é aplicável à PPP, sendo restrito à PPE, conforme súmula 220 do STJ.
b) Redução pela metade (art. 115, CP): os prazos da PPP e da PPE são reduzidos de metade,
se o criminoso era ao tempo do crime menor de 21 anos; ou ao tempo da sentença, maior de 70
anos.
Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era,
ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior
de 70 (setenta) anos.
As hipóteses de suspensão do prazo prescricional estão previstas no artigo 116 do CP, em rol
exemplificativo. São elas:
a) Questão prejudicial: a prescrição será suspensa enquanto não for resolvida em outro
processo a questão prejudicial.
Questão prejudicial é toda questão jurídica, cuja solução constitua um pressuposto para a
decisão da controvérsia principal submetida a juízo. Ex.: o agente está sendo acusado pelo crime de
furto de um objeto, mas há processo cível questionando a propriedade do objeto, pois o acusado
diz ser o dono dele; a propriedade do objeto é questão prejudicial ao mérito do processo penal de
furto.
Destarte, a questão prejudicada deve ser julgada antes da questão principal de mérito
(prejudicada), porque ela influencia diretamente na questão de mérito. Elas até podem vir julgadas
no mesmo ato judicial, mas mesmo assim, o juízo deve passar primeiro pena análise da prejudicial.
A questão prejudicial pode existir autonomamente, ou seja, pode ser ajuizada ação
autônoma para resolver a questão prejudicial.
Essas são as hipóteses previstas no art. 116 do CP, mas há outras hipóteses previstas em
outros artigo do CP e em leis extravagantes.
ATENÇÃO MÁXIMA – Pacote anticrime: A Lei n. 13.964/19 alterou o artigo 116, II, do CP e
acrescentou outras duas causas de suspensão do prazo prescricional.
Por fim, ainda há outra causa nova de suspensão, prevista no artigo 116, IV, do CP:
O Pacote anticrime legalizou o acordo de não persecução penal, que já estava previsto em
âmbito de Resolução do CNMP.
O acordo de não persecução penal é uma proposta de acordo ministerial ao acusado, para
que o MP não ofereça denúncia; desde que o acusado se comprometa a cumprir determinadas
medidas.
Destarte, enquanto o sujeito ainda estiver cumprindo as condições acordadas ou quando ele
descumprir tais condições e rescindir o acordo, não corre o prazo prescricional, pois está suspenso
(muito semelhante ao que ocorre na suspensão condicional do processo, como veremos a seguir).
d) Suspensão condicional do processo: uma vez concedida e aceito sursis processual, fica
suspenso o processo e também o prazo prescricional, enquanto durar o período de prova, em que
o acusado está cumprindo as condições.
e) Art. 366 do CPP: se o acusado for citado por edital e não comparecer e nem tiver defesa,
o processo ficará suspenso, assim como o prazo prescricional.
f) Art. 368 do CPP: se o acusado estiver no estrangeiro em lugar sabido, será citado por carta
rogatória, mas enquanto esta não for cumprida, o prazo prescricional fica suspenso.
h) Súmula vinculante 24: enquanto o processo administrativo fiscal que apura se realmente
houve supressão ou redução no pagamento de imposto durar, a prescrição do crime contra a ordem
tributária fica suspensa.
A interrupção pode se dar até mesmo quando o recebimento da denúncia ocorre apenas em
2º grau. Com efeito, quando o juízo de 1º grau rejeita a denúncia, e o MP interpõe RESE contra essa
decisão, o Tribunal pode dar provimento ao recurso ministerial. Nesse caso, essa decisão do Tribunal
já vale como o recebimento da denúncia, conforme súmula 709 do STF. Portanto, nessa hipótese, a
interrupção da prescrição ocorre no momento da decisão do Tribunal que dá provimento ao RESE
do MP.
b) Pronúncia: a pronúncia ocorre quando o juízo dá sinal verde para que o réu seja
submetido ao Tribunal do Júri. Essa decisão também interrompe o prazo prescricional.
Caso os jurados desclassifiquem o crime doloso contra a vida para outro crime, que não é
competência do júri, no Plenário do Júri, quem irá julgar este crime desclassificado é o juízo
presidente do Tribunal do Júri. Nesse caso, como a infração foi desclassificada para um delito que
não é mais de competência do júri, a decisão de pronúncia ainda terá o efeito de interromper o
prazo prescricional?
Uma primeira corrente defende que a decisão de pronúncia não mais irá ter o efeito de
interromper o prazo prescricional, porque se os jurados entendem que aquele delito não é de
competência do júri, deve-se considerar que ele nunca o foi. Ora, sendo assim, todas as decisões
que o consideraram como crime de competência do júri perdem seus efeitos, inclusive a decisão de
pronúncia. Logo, no caso de desclassificação pelos jurados, para essa corrente, a decisão de
pronúncia perderia o efeito de interromper o prazo prescricional.
Todavia, o STJ, na súmula 191, entende que, mesmo com a desclassificação pelos jurados, a
decisão de pronúncia permanece com o efeito de interromper o prazo prescricional.
c) Decisão confirmatória da pronúncia: caso o réu tenha sido pronunciado, e a defesa tenha
interposto um RESE contra a decisão de pronúncia, o Tribunal irá julgar o RESE. Se o Tribunal negar
provimento ao RESE, ele está confirmando a pronúncia. Nesse caso, a decisão do Tribunal que
confirma a pronúncia interrompe o prazo prescricional novamente.
Por sua vez, a data publicação do acórdão condenatório é a data da sessão de julgamento
pelo Tribunal, e não a data da publicação no órgão de imprensa. Isso porque o julgamento do
acórdão pelo Tribunal é público, logo, já se considera o dia da sessão de julgamento.
f) Reincidência: a reincidência também interrompe o prazo da PPE. Imagine que o réu foi
condenado com trânsito em julgado por um crime; a partir desse momento, começa a correr o prazo
da PPE; se ele inicia o cumprimento da pena, interrompe-se o prazo da PPE; da mesma forma, se ele
foge e depois é recapturado, a data da continuação do cumprimento da pena com sua recaptura
interrompe mais uma vez o prazo da PPE.
ATENÇÃO - O dia que interrompe o prazo da PPE é a data da prática do novo crime ou a
data do trânsito em julgado da sentença condenatória pelo novo crime?
Greco entende que só se interrompe o prazo da PPE, quando o réu for condenado com
trânsito em julgado pelo novo crime, em respeito ao princípio da presunção de inocência.
Todavia, prevalece que o prazo será interrompido na data do prática do novo crime,
independentemente de sentença condenatória irrecorrível pelo novo fato.
4.9.1. Conceito
4.9.2. Pressupostos
a) Princípio da aplicação da pena justa: a prescrição retroativa toma como base a pena
aplicada na sentença. Considera-se que desde o início essa era a pena justa do réu. Logo, essa pena
deve ser considerada para computar a prescrição (no lugar da pena máxima em abstrato);
Logo, em respeito à segurança jurídica, a prescrição retroativa só deve ser calculada após a
estabilização da pena (para se obter maior prazo prescricional possível para aquela pena), com o
trânsito em julgado para a acusação ou com o improvimento de seu recurso.
Antes de 2010, as balizas da prescrição retroativa eram: período entre a data dos fatos e a
data do recebimento da denúncia; e o período entre o recebimento da denúncia e a publicação da
sentença condenatória.
Ocorre que a Lei nº 12.234/2010 vedou a prescrição retroativa entre o recebimento da
denúncia e a data dos fatos. Portanto, a prescrição retroativa só pode ser contada agora entre a
sentença condenatória e o recebimento da denúncia.
Como a lei trouxe norma mais gravosa para o réu, a previsão legal é irretroativa
(irretroatividade da nova lei mais severa). Logo, para os crimes praticados antes da Lei n.
12.234/2010, ainda existe prescrição retroativa entre o recebimento da denúncia e a data dos fatos.
4.10.1. Conceito
Ex.: O agente foi condenado a 1 ano de pena em 10.05.2005; o acórdão condenatório foi
publicado em 19.09.2009. A pena de 1 ano prescreve em 4 anos, conforme o artigo 109 do CP.
Portanto, entre a publicação da sentença condenatória e a publicação do acórdão condenatório já
transcorreu prazo superior a 4 anos. Portanto, ocorreu a prescrição superveniente entre a
publicação da sentença condenatória e a publicação do acórdão condenatório.
4.10.2. Pressupostos
a) Princípio da pena justa: considera-se a pena aplicada na sentença para fazer o cálculo do
prazo prescricional;
b) Trânsito em julgado para a acusação ou improvimento do seu recurso: para garantir que
o cálculo do prazo prescricional seja feito com a maior pena possível.
4.11. Prescrição no concurso de crimes (art. 119)
Assim, no concurso material, não será calculado o prazo prescricional sobre a soma das
penas; e sim sobre cada uma das penas de cada um dos crimes isoladamente.
Destarte, o cálculo da prescrição virtual é feito com base na futura prescrição retroativa. Ex.:
o agente praticou um furto simples em 08.04.2010; o juízo recebe a denúncia apenas em
13.06.2016. Ocorre que, em caso de condenação, o acusado receberia a pena mínima de 1 ano;
logo, ocorreria a prescrição retroativa em 4 anos entre a data dos fatos e a data do recebimento
(antes da mudança da Lei n. 12.234/2010). Por essa razão, o juízo reconhece a prescrição virtual
para evitar o prosseguimento de um processo fadado à prescrição.
ITER CRIMINIS
1. Introdução
O iter criminis é o caminho percorrido pelo agente até alcançar o resultado por ele
pretendido.
Ele é composto por quatro fases: cogitação, preparação, execução e consumação.
2.1. Cogitação
Trata-se da primeiro passo do iter criminis. É uma fase interna, mental. É ela que dá início ao
fato criminoso. Weltzel já dizia que todo crime nasce na mente do agente.
A cogitação é uma fase não punível, por se tratar de uma fase interna, que reside apenas na
mente do agente; em respeito ao princípio da lesividade.
2.2. Preparação
A preparação já é uma fase externa representada pelos atos materiais que vão proporcionar
ao agente a prática do crime (atos preparatórios).
CRÍTICA - Esses atos não são mais preparatórios; e sim atos próprios da execução. A
associação criminosa, por exemplo, não é ato preparatório, porque se trata de crime autônomo.
Portanto, se o ato é tipo autônomo, sua prática deixa de ser ato preparatório, e passa a ser ato
executório. Por essa razão, serão punidos como atos executórios que são.
2.3. Execução
A execução também é uma fase externa. É o ato por meio do qual o agente pratica a conduta
típica.
Os atos executórios já serão puníveis, porque com o início da execução, já é possível punir o
agente, no mínimo, pela tentativa.
ATENÇÃO – Preparação x Execução: qual a diferença entre os atos preparatórios e os atos
executórios?
a) Teoria Subjetiva ou subjetiva limitada ou Teoria do plano do autor: para essa teoria, a
execução começa, quando o agente exterioriza, de modo seguro e inequívoco, a sua intenção de
praticar a infração penal. Portanto, a execução começa quando o agente se coloca em direção à
realização do tipo, de acordo com seu plano.
Todavia, essa teoria é muito abstrata e coloca a execução como um ato muito distante, razão
pela qual não é adotada.
b) Teoria objetivo-formal ou da ação típica (Beling) para essa teoria, começa a execução,
quando o agente pratica a conduta descrita no núcleo verbal do tipo penal. Ex.: furto – começa a
execução, quando o agente subtrai bem móvel alheio.
Essa teoria também é adotada por alguns doutrinadores e uma pequena parte da
jurisprudência.
d) Teoria da univocidade (Carrara): para essa teoria, os atos preparatórios são equívocos,
porque podem gerar dúvidas, já que podem ser dirigidos a um fim lícito ou ilícito (é possível comprar
uma arma para matar alguém ou para me proteger, com a devida permissão); ao passo que os atos
executórios são unívocos, porque eles somente se dirigem à prática de uma conduta criminosa;
e) Teoria da hostilidade ao bem jurídico (Mayer): para essa teoria, o ato executório é aquele
que coloca o bem jurídico em uma situação de perigo concreto, ou seja, é o ato que ataca o bem
jurídico. Dessa forma, o ato preparatório não causa perigo concreto ao bem jurídico.
2.4. Consumação
Pois bem, se tudo sair conforme cogitado, preparado e executado, o agente chegará até a
consumação, momento em que o agente lesa ou expõe a perigo o bem jurídico tutelado.
Todavia, se o crime for plurissubsistente, a execução é composta por vários atos; logo, é
possível perceber um espaço temporal entre o início da execução e a consumação.
Além disso, em alguns casos, o agente pode esgotar os atos executórios e, ainda assim, a
consumação não ocorre, porque o agente atua para evitar a consumação (arrependimento eficaz);
ou porque fatores externos a sua vontade impedem a consumação do crime (tentativa); ou ainda,
porque, mesmo depois de esgotados os atos executórios, o acusado jamais atingiria o resultado,
pelo meio ineficaz ou por objetivo absolutamente impróprio (crime impossível).
Portanto, se o agente inicia a execução, ele terá duas possibilidades: ou ele consuma o crime;
ou ocorrerá algum dos institutos acima: desistência voluntária, tentativa, arrependimento eficaz ou
crime impossível.
Os dois institutos também são conhecidos como tentativa abandonada ou ponte de ouro.
3.2. Fundamentos
a) Política criminal;
b) Estimular o agente a não consumar o delito: ou seja, estimular o agente a não produzir o
resultado criminoso anteriormente cogitado;
Uma primeira corrente defende que a desistência voluntária e o arrependimento eficaz são
causas pessoais de exclusão ou extinção da punibilidade por razões de política criminal. Essa é a
posição de Alberto Silva Franco e Aníbal Bruno.
Já uma segunda corrente sustenta que os institutos, na verdade, possuem natureza jurídica
de causa de exclusão da tipicidade, ou seja, a conduta sequer chega a se adequar ao tipo penal.
Essa é a posição de Fragoso, Bitencourt e Damásio.
3.4.1. Definição
3.4.2. Requisitos
a) Objetivo: interrupção definitiva do processo executório pelo agente, ou seja, o agente não
prossegue na execução, razão pela qual o crime não se consuma;
Se a tentativa for perfeita, ou seja, o agente esgotou todos os atos executórios; ele deixou
de consumar o crime por razões alheias a sua vontade, e não por desistir do intento. Nesse caso,
pode ocorrer arrependimento eficaz, a depender do caso.
Enfim, a desistência voluntária, em regra, configura uma conduta negativa – um não fazer -,
ou seja, não prosseguir na conduta executória.
Nos crimes omissivos impróprios, a desistência voluntária será possível, mas nesse caso, ela
será representada por uma conduta positiva – um fazer. Ex.: a mãe é garantidora de seu bebê, e
deixa de amamenta-lo, para mata-lo; porém, quando percebe que o bebê está começando a
definhar, ela desiste de seu intento e começa a amamentar. Portanto, a desistência consiste em um
fazer.
Obs.: Só é possível desistência voluntária em crimes plurissubsistentes, ou seja, não é
admitida a desistência voluntária em crimes unissubsistentes, porque a execução precisa consistir
em mais de um ato para que possa ser interrompida.
b) Subjetivo: a desistência precisa ser voluntária, mas não precisa ser espontânea, ou seja, a
desistência não precisa nascer do interior do agente e nem precisa de motivo. Por isso, a desistência
pode ser sugerida ou convencida por outrem, mas ninguém pode obrigar o agente a desistir. Ex.: o
agente vai até a casa de seu inimigo para mata-lo; rende o inimigo e aponta a arma para sua cabeça;
assim que ia puxar o gatilho, o inimigo começa a chorar e implora por sua vida; o agente desiste – a
desistência foi voluntária, porque ninguém obrigou o agente, mas não foi espontânea, porque a
vítima convenceu o agente a não matá-la.
Ex.: o agente possui apenas um projetil na sua arma; atira na vítima, mas não a mata por
circunstâncias alheias a sua vontade. Nesse caso, não há desistência voluntária, porque o agente já
havia esgotado os atos de execução; há sim tentativa – o agente queria matar a vítima, mas não
pôde, porque não tinha mais munição.
Por sua vez, uma segunda corrente sustenta que NÃO há desistência voluntária, porque o
agente desistiu só porque entendeu que com meios mais eficientes, poderá repetir o seu intento
em outra ocasião, ou seja, o agente não desistiu, porque se mantém na intenção de consumar o
delito. Por isso, não haveria desistência voluntária.
3.5.1. Definição
Da mesma forma que a desistência voluntária, aqui também o agente inicia os atos
executórios; contudo, ele esgota os atos executórios; e após esgotá-los, arrepende-se e passa a agir
em sentido contrário para impedir a consumação do crime inicialmente cogitado.
3.5.2. Requisitos
Há dois requisitos – um objetivo e outro subjetivo:
b) Subjetivo: voluntariedade. Não precisa ser espontâneo; basta que seja voluntário.
c) Incompatíveis com crimes culposos: no crime culposo, o agente nunca quis produzir o
resultado;
Ex.: dois agentes atentam contra a vítima de uma pessoa; um deles se arrependeu e levou a
vítima ao Hospital; o outro nada fez; o arrependimento se comunica ao agente que nada fez?
Uma primeira corrente entende que NÃO se comunica, porque os institutos têm caráter
subjetivo, logo, só se aplica a quem desistiu ou a quem se arrependeu.
Já uma segunda corrente defende que há SIM comunicabilidade, porque os institutos têm
caráter misto – objetivo e subjetivo. Isso porque o artigo 15 do CP torna a conduta atípica, logo,
aplica-se a regra do art. 31 do CP (a participação não é punível, se o crime não chega sequer a ser
tentado).
4.1. Definição
Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado
o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato
voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.
4.3. Objeto
O arrependimento posterior se aplica a qualquer crime que seja compatível com o instituto,
e não apenas os crimes patrimoniais (dolosos ou culposos).
4.4. Fundamento
a) Proteção da vítima;
4.5. Requisitos
a) Natureza do crime: o crime deve ser sem violência ou grave ameaça à pessoa.
Por outro lado, a violência contra a coisa não afasta o arrependimento posterior.
Da mesma forma, se a violência contra a pessoa foi culposa, também não se afasta o
arrependimento, porque a intenção da lei era impedir o instituto no caso de violência dolosa.
b) Reparação do dano ou restituição da coisa: deve ser voluntária, ou seja, livre de coação
ou moral; mas não precisa ser espontânea e nem depende de motivo.
Uma primeira corrente defende que a reparação deve ser total, mas se a vítima aceitar a
reparação parcial, é possível aplicar o arrependimento posterior. Essa é a posição majoritária.
Já uma segunda corrente entende que a reparação precisa ser total, salvo se a coisa não
possa mais ser restituída (ex.: destruição da coisa); e se houver a reparação parcial e a vítima aceitar.
Essa é a posição de Greco.
Por fim, uma terceira corrente defende que a reparação pode ser parcial. Essa é a posição
do STF, no Info 608.
Imagine que o pai do acusado que repara o dano, em nome de seu filho. O filho faz jus ao
arrependimento posterior?
Uma primeira corrente defende que a reparação deve ser pessoal, ou seja, não pode ser feita
por terceiros, porque neste caso, perde a voluntariedade, que é um dos requisitos.
Já uma segunda corrente sustenta que a reparação NÃO precisa ser pessoal, porque a
preocupação da lei é reparar o dano à vítima, logo, não importa quem reparou o dano; e sim que a
vítima teve o dano reparado.
Obs.: Restituição da coisa resultante de busca policial não gera arrependimento posterior,
porque quem devolveu a coisa foi a polícia, logo, não foi ato voluntário.
Segundo a doutrina, basta que o agente repare voluntariamente o dano. A aceitação pela
vítima não é um dos requisitos do arrependimento posterior. Portanto, caso a vítima recuse a
reparação, mesmo assim, o agente tem direito à diminuição.
ATENÇÃO – Súmula 554 do STF: no estelionato mediante emissão de cheque sem provisão
de fundos, caso o seu pagamento seja efetuado antes do recebimento da denúncia, obsta-se o
prosseguimento da ação penal.
A súmula 554 do STF traz hipótese mais benéfica que o arrependimento posterior. Portanto,
ela continua sendo aplicada, mesmo após a vigência do artigo 16 do CP; aplicando-se somente ao
estelionato mediante emissão de cheque sem fundos.
4.6. Consequências
4.7. Comunicabilidade
Se dois agentes praticam um crime sem violência contra a pessoa, e apenas um deles repara
o dano à vítima antes do recebimento da denúncia, o outro agente que não reparou faz jus também
ao arrependimento posterior?
5.1. Introdução
Para Feuerbach, apenas a tentativa perigosa poderia ser punida. Exigia-se assim que a ação
humana, em seus aspectos externos, estivesse em relação causal com o resultado desejado, ou seja,
a ação devia ter uma relação de causa e efeito com o resultado.
Por consequência, distinguia-se o meio e o objeto da ação frustrada. Além disso, distinguia-
se a impossibilidade absoluta e a absoluta relativa, em relação ao meio e ao objeto.
Como resultado, dizia-se que a tentativa era absolutamente impossível, quando o ato do
agente, em relação ao meio ou ao objeto, em hipótese nenhuma poderia conduzir ao resultado. Por
outro lado, a tentativa seria relativamente impossível, quando o meio ou o objeto, em tese ou a
princípio eram apropriados, mas no caso concreto, eles se mostravam inapropriados.
5.2. Conceito
Segundo, Von Liszt, dá-se a tentativa impossível, quando um ato voluntário tendente a um
certo resultado é inadequado para produzi-lo. A tentativa impossível apresenta-se, às mais das
vezes, mas não exclusivamente, como crime frustrado e, portanto, pode ser tanto tentativa acabada
como inacabada.
Por sua vez, a tentativa será perigosa, quando o ato suscita possibilidade iminente de realizar
o resultado, ou seja, aquele resultado é possível de ser produzido pela prática do ato pelo agente.
Como saber então se a tentativa era perigosa ou não perigosa?
Primeiro passo: a ação humana não deve ser analisada de forma generalizada, ou seja, a
análise da ação humana não pode ser genérica; a análise deve atender às circunstâncias particulares
daquele caso concreto (análise caso a caso). Por isso, só se pode saber se a ação foi ou não perigosa,
de acordo com o caso concreto;
Segundo passo: devem ser consideradas também as circunstâncias conhecidas pelo agente
no momento da ação, e não as circunstâncias conhecidas após a ação. Em outras palavras, além de
analisar o caso concreto, o juízo deve remontar ao momento da conduta do agente, para ver qual
era a consciência do agente no momento da prática da conduta;
Terceiro passo: a tentativa será não perigosa, quando a ação do agente se mostrar
completamente inadequada para a produção do resultado, de acordo com as circunstâncias
conhecidas pelo agente no momento da ação, e de acordo com o caso concreto. De outro giro, se
houver alguma possibilidade de aquela ação gerar o resultado, trata-se de uma tentativa perigosa.
I – Teoria subjetiva: para que haja tentativa, basta que haja por parte do agente a vontade
de praticar o crime, ou seja, essa teoria volta os olhos para a intenção do agente; por isso, é
subjetiva. Ela não leva em consideração o meio e nem o objeto, porque basta a vontade do agente
(o agente é punido por sua intenção);
IV – Teoria objetiva temperada, moderada ou matizada: essa teoria também olha para o
meio e para o objeto do crime, mas para ela, quando o meio ou o objeto for relativamente inidôneo,
haverá tentativa. Em contrapartida, se o meio ou o objeto para atingir o resultado for
absolutamente inidôneo, haverá crime impossível.
Essa foi a teoria adotada pelo Código Penal, como se vê pela leitura do artigo 17.
Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por
absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.
a) Meio: é tudo aquilo que o agente utiliza no ato executório. Esse meio precisa ser
absolutamente ineficaz para que haja crime impossível;
b) Objeto: é a pessoa ou a coisa sobre a qual recai a conduta criminosa. Esse objeto precisa
ser absolutamente impróprio para que haja crime impossível.
Ora, se o agente já sabia que o meio ou o objeto eram inidôneos, ele na verdade não queria
praticar o crime; e no crime impossível, o agente deve querer praticar o crime. Ex.: o agente quer
envenenar a vítima com veneno de rato; ele serve açúcar à vítima, pensando ser veneno; ele age
em erro; o crime é impossível. Se o agente souber que se trata de açúcar, ele não queria matar a
vítima.
De acordo com a súmula 145 do STF enuncia que não há crime, quando há flagrante
preparado. Nesse caso, temos um exemplo de crime impossível, porque o crime nunca poderia
acontecer, já que a polícia estava lá para intervir e nunca deixaria que ele ocorresse.
Para Greco, essa súmula também deveria ser aplicada ao flagrante esperado, já que a
autoridade policial também está à espera da execução. Porém, essa posição é minoritária e não é
encampada pela jurisprudência.
Já no delito putativo (ou crime de ensaio), o crime sequer existe, ou seja, o agente quer
praticar uma conduta que pensa ser criminosa, mas na verdade aquela conduta nem é crime. Ex.: o
agente furta um bem para usar – ocorre que furto de uso não é crime.
Ex.: agente atira na vítima já morta – o bem jurídico vida correu perigo: NÃO; o crime poderia
se consumar: NÃO; logo, trata-se de crime impossível.
Ex.2: agente atira na vítima com uma arma velha e munição velha – o bem jurídico vida
correu perigo: SIM; o crime poderia se consumar: SIM; logo, trata-se de tentativa.
ATENÇÃO - Súmula 567 do STJ: o agente furta um objeto em um local com vigilância por
câmeras de segurança. Isso é crime impossível ou tentativa?
Basta responder as perguntas - o bem jurídico tutelado correu perigo: SIM, porque o agente
já colocou em perigo o patrimônio da vítima; o crime poderia se consumar: SIM, pois o ladrão
poderia driblar a segurança. Logo, é caso de tentativa.
6.1. Conceito
Tentativa é a realização incompleta do tipo objetivo, de acordo com Luiz Regis Prado.
O crime é tentado, quando se opera o ato voluntário dirigido ao resultado que a lei incrimina,
sem que o resultado se produza, segundo Von Liszt.
Portanto, na tentativa, o dolo do agente é consumar o crime; ele inicia a execução do crime;
mas, por circunstâncias alheias à vontade do agente, ele não consegue consumar o delito.
ATENÇÃO – Pode haver tentativa, quando o agente atua com dolo eventual?
Uma primeira corrente entende que é possível a tentativa em dolo eventual, porque mesmo
que o agente não queira o resultado, ele inegavelmente faz previsão mental desse resultado, e
assume o risco de praticá-lo; ou seja, o resultado entra na órbita da vontade do agente. Essa é a
posição de Hungria e é a majoritária.
Já uma segunda corrente defende que não é possível tentativa em dolo eventual, porque a
expressão vontade contida no art. 14, II, CP, limitou a possibilidade do instituto da tentativa
somente ao dolo direto; ou seja, só pode haver tentativa, quando a conduta do agente é
finalísticamente dirigia a algum resultado, o que não abrange o dolo eventual. Essa é a posição de
Greco.
b) Teoria objetiva: essa teoria se baseia no perigo a que o bem jurídico é exposto. Caso o
agente não consiga atingir a consumação por circunstâncias alheias a sua vontade, deve haver uma
redução de pena.
De acordo com o Código Penal, a tentativa é punida com a mesma pena do crime
consumado, mas com a aplicação da causa de diminuição, conforme preconiza o artigo 14, p. único,
do CP.
Contudo, o Código Penal Militar admite uma exceção: o juízo pode aplicar à tentativa a pena
do crime consumado, excepcionalmente.
O crime de atentado, por sua vez, previsto no artigo 352 do CP (evadir-se ou tentar evadir-
se o preso), pune da mesma forma a consumação e a tentativa.
Diante das exceções, diz-se que a teoria adotada no Brasil é a teoria objetiva mitigada ou
temperada.
a) Tentativa branca ou incruenta: o objeto material do crime não é atingido. Ex.: o agente
atira duas vezes contra a vítima, mas não acerta nenhum tiro;
b) Tentativa cruenta ou vermelha: o objeto material é atingido, mas mesmo assim o crime
não se consuma. Ex.: agente acerta dois tiros na vítima, mas ela não morre;
c) Tentativa perfeita ou acabada: o agente esgota os atos executórios, mas mesmo assim
não consuma o crime. Ex.: agente esvazia o tambor da arma contra a vítima, mas não a mata;
d) Tentativa imperfeita ou inacabada: o agente não esgota os atos executórios. Ex.: o agente
atira uma vez contra a vítima, mas quando ia atirar pela segunda vez, é impedido por terceiros.
f) Crimes habituais: são aqueles em que uma conduta única não gera a consumação; apenas
a prática reiterada da conduta gera a consumação.
Uma primeira corrente entende que não cabe tentativa nos crimes habituais, porque eles só
se consumam com a reiteração; portanto, ou há a reiteração, e o crime está consumado; ou não há
reiteração, e o fato nem sequer é crime. Essa é a posição majoritária (Fragoso).
Já uma segunda corrente defende que cabe tentativa nos crimes habituais, quando o agente
inicia a cadeia de atos com a intenção de habitualidade, como o falso médico que faz um consultório
para atender várias pessoas por muito tempo, mas é impedido na primeira consulta. Essa é a posição
de Greco.
g) Crimes unissubsistentes: são aqueles em que não se pode fracionar a execução, de modo
que ou o agente executa e consuma o crime ou o agente não chega sequer a executar o crime, e o
fato é penalmente irrelevante;
A lei 7.170/83 é a Lei da Segurança Nacional. Os crimes previstos nessa lei são punidos
apenas na modalidade tentada.
Crime complexo é aquele crime único que é formado pela união de dois ou mais tipos
autônomos. Ex.: latrocínio – união de roubo e homicídio.
Mas o que acontece quando um dos crimes se consuma e a outro é tentado, o crime
complexo se consuma ou é tentado?
Quando um dos crimes é tentado, todo o tipo complexo fica tentado. Ex.: o agente consumou
o roubo, e tentou matar a vítima – latrocínio tentado.
Pelo mesmo raciocínio, se o roubo for tentado e o homicídio for consumado, também
teríamos latrocínio tentado. Esse é o entendimento majoritário da doutrina. Todavia, não é assim
que o STF entende.
Nesse sentido, o STF editou a súmula 610, pela qual, quando o roubo for tentado e o
homicídio for consumado, haverá latrocínio consumado.