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UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA

RICARDO GOMES DE SOUSA

IRRETROATIVIDADE DA LEI E ABOLITIO CRIMINIS

Santana de Parnaíba

2015
RICARDO GOMES DE SOUSA

R.A.: C61931-0

IRRETROATIVIDADE DA LEI E ABOLITIO CRIMINIS

Trabalho acadêmico apresentado a


Universidade UNIP, para a obtenção de
nota na Atividade Prática Supervisionada
(APS) curso de Direito na matéria de
Direito Penal.

Orientador: Prof. Dr. Fernando Tadeu


Marques.

Santana de Parnaíba

2015
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4

2. IRRETROATIVIDADE DA LEI ................................................................................ 6

3. ABOLITIO CRIMINIS .............................................................................................. 8

4. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 11

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 12


1. INTRODUÇÃO

O Direito Penal de acordo com o conceito jurídico é o conjunto de leis criadas


pelo Estado que ligam ao crime, com as penalidades como implicação. Não compete
ao Direito Privado, contudo ao Direito Público, ou seja só o Estado mais precisamente
o Poder judiciário tem o poder de julgar e punir de acordo com o crime cometido.
O Direito Penal ele é dividido por diversas categorias, como por exemplo: o
Direito Penal Militar, Direito Penal aéreo, Direito penal trabalhista, Direito Penal
eleitoral e etc. Todos esses são classificados como Direito Penal comum (onde atua
e se sobrepõe a todos cidadãos). Também existe o Direto penal especial (que atua a
uma determinada categoria de cidadãos, conforme sua particular qualidade).
O Direito Penal é dividido em: Direito Penal matéria (que é as comportamentos
típicos e constitui sanções), e o Direito Processual Penal (que é um complemento do
Direito Penal). Além disso possui princípios fundamentais como: o princípio da
legalidade ou da reserva legal (determina que não há crime sem lei anterior que o
defina, nem pena sem cominação legal), o princípio da proibição da analogia (o
conhecimento da legalidade impede a adaptação típica por relação dos fatos), o
princípio da anterioridade (não há crime que sem lei anterior que o defina, nem pena
sem cominação legal. Para que haja crime é preciso que o ocorrido tenha sido
cometido depois que lei entrasse em vigor), o princípio da fragmentariedade (não
protege todos os bens jurídicos de violações, só os mais importantes e não administra
todas as lesões, mas só as mais graves), o princípio da intervenção mínima (restringe
a liberdade do legislador no sentido de evitar a definição dispensável de crimes e a
imposição de penas injustas e cruéis), o princípio da ofensividade (é a conduta
aplicada quando ofende um bem jurídico), o princípio da insignificância (é chamado
de crimes de bagatela ou delitos de lesão mínima, é adotado nos casos de furtos de
objetos materiais insignificante), o princípio da culpabilidade (é o sujeito que poderá
ser responsabilizado por sua conduta e consequentemente está passível de punição),
o princípio da humanidade (o réu deve ser tratado com dignidade e humanidade,
proibindo penas degradantes, cruéis e etc.), o princípio da proporcionalidade da pena
(a pena deve ser proporcional ao crime da proporcionalidade da pena), o princípio do

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estado de inocência (ninguém deve ser considerado culpado senão em transito em
julgado, artigo 5°, inciso LVII da Constituição Federal), princípio da igualdade (o
delinquente não pode ser discriminado em razão da cor, religião, sexo e etc.), o
princípio do ne bis in idem (ninguém pode ser punido mais de uma vez por uma mesma
infração penal, ou seja, ninguém pode sofrer duas penas pelo do mesmo crime ou
ninguém pode ser autuado e julgado pelo mesmo fato duas vezes) e o princípio da
irretroatividade da lei penal (a lei não pode retroagir a não ser para beneficiar o réu).
Após explicar basicamente os princípios fundamentais do Direito Penal o
presente trabalho irá abordar o princípio da irretroatividade da lei Penal e o abolitio
criminis (abolição do crime). No abolitio criminis trata-se da lei futura anula o tipo penal
incriminador, ocorrendo o fato a ser estimado irregular. São classificados como leis
penais do tempo.

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2. IRRETROATIVIDADE DA LEI

O Princípio da Irretroatividade da Lei Penal no seu conceito etimológico é a


qualidade do que não é retroativo, isto é, do que não tem efeito sobre o passado ou
sobre fatos passados, mas de acordo com a Constituição Federal artigo 5°, inciso XL
diz que: “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;”. Com isso, permanece
separada a probabilidade de uma lei nova (mais severa) danificar os acontecimentos.
A retroação só pode acontecer se a lei nova for mais branda ao réu do crime cometido.
A Irretroatividade da lei constitui que um novo fato não tem força para abordar
coisas que se fizeram sob domínio do caso então existente.
Aplicadas as leis, quer dizer que a lei nova não atinge, com o seu vigor, as ações
jurídicos que se praticam antes que surgisse com os efeitos que dela originaram. Em
princípio, as leis são irretroativas: não retrocedem para desviar os seus efeitos aos
atos passados. Regulam somente os atos que se sucederem à sua divulgação, os
fundamentais assuntos favoráveis à "irretroatividade" das leis é a garantia dos direitos
individuais e a segurança das relações jurídicas, diante da dúvida e dos riscos de uma
alteração futura.
Portanto, o princípio da irretroatividade da lei penal, também tem a finalidade de
proteger o indivíduo contra o próprio legislador, impedindo-o de criminalizar novos
comportamentos, já praticadas por aquele, que, ignorando tal ocasião, não tem como
nem porque evitá-la.
De convênio com o ordenamento as leis retroagem, em preceito, quando
expressamente aprontam consequências retroativos ou pela natureza de suas
próprias regras. Em benefício do princípio da "retroatividade" existe uma razão de
ordem social: a lei nova deve arquitetar a melhor maneira de regular verificada
situação; é admissível, por isso, que ela se aplique a todos os casos, até mesmo,
retroativamente. A retroatividade ou irretroatividade, como princípios incondicionais,
não são aceitáveis diante o direito atual. Sendo de tal modo, o princípio fundamental
que conduz a matéria, pode ser com referente brandura assim estabelecido: a lei pode
retroagir em alguns casos e não pode retroagir em outros. Um exemplo de
irretroatividade da lei penal é o caso da Operação Arqueiro e Ouro de Tolo que

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ingressou na Justiça com pedido de trancamento da ação penal que é resultado da
denúncia do Ministério Público Estadual (MPE) de um esquema de corrupção lotado
na Setas (Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social) que desviou no
mínimo R$ 8 milhões. Trata-se do empresário Lídio Moreira dos Santos, proprietário
da LM dos Santos Espaço Editora Gráfica e Publicidade Ltda., que impetrou habeas
corpus, no dia 2 de outubro. (FOLHAMAX, 2014)
A defesa alega que o tipo penal somente foi publicado em momento posterior aos
fatos descritos nos autos. Ou seja, a lei não pode retroagir para prejudicá-lo. O habeas
corpus foi impetrado para combater a decisão que recebeu a denúncia em relação ao
delito do art. 2° da Lei 12.850/2013 (que diz: “Promover, constituir, financiar ou
integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas
correspondentes às demais infrações penais praticadas.” E a Lei 12.850/2013 “Define
que a organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de
obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal; altera o
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); revoga a Lei no
9.034, de 3 de maio de 1995; e dá outras providências.”), diante do princípio da
irretroatividade da lei penal, haja vista que o fato atribuído ao empresário no
aditamento da denúncia se encerrou em dezembro de 2012, ou seja, antes da vigência
da Lei 12.850/2013”. Conforme o Ministério Público Estadual (autor da ação), no
esquema pra desvios, Lídio Moreira teria recebido R$ 985,6 mil da Secretaria de
Trabalho e Assistência Social (Setas), sob o comando de Roseli Barbosa, para a
produção dos livros que seriam utilizados nos cursos do programa Qualifica Mato
Grosso VII. (FOLHAMAX, 2014)
A quantia foi recebida no dia 20 de dezembro de 2012, após a empresa ser
contratada com dispensa de licitação. O julgamento do habeas corpus será feito pelo
desembargador Rondon Bassil Dower Filho, da Segunda Câmara Criminal do Tribunal
de Justiça de Mato Grosso. No dia 5 de outubro, o desembargador Orlando de Almeida
Perri, que atuava em substituição legal no caso, determinou que fossem colhidas
informações para avaliar o pedido de liminar. (FOLHAMAX, 2014)

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3. ABOLITIO CRIMINIS

O Abolitio Criminis é o termo em latim que significa abolição do crime, e diz que
a lei futura permite apreciar o crime um fato, que interrompem o cumprimento e as
implicações penais de uma sentença condenatória. Ingressando em vigor a lei nova
deve ser reconhecida e declarada na primeira e segunda instância. Também é
chamada de novatio legis (nova lei).
O abolitio criminis está apurado no artigo 2° do Código Penal que diz: “Ninguém
pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em
virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.”
Como a lei deixou de ser uma infração, o Estado perde a vontade de atribuir ao
agente nenhuma pena, motivo pela qual atua a extinção da punibilidade que está
prevista no artigo 107, inciso III que relata: “pela retroatividade de lei que não mais
considera o fato como criminoso;”, que é fundamentado no princípio da retroatividade
da lei mais benéfica, por isso a abolitio criminis retroage, alcançando o autor de
determinado fato, anteriormente tido como típico. Esse deverá ser colocado em
liberdade (se tivesse sido preso) e seus antecedentes criminais limpo e não
considerado mais delituoso. O delito desaparece, juntamente com todos os seus
reflexos penais, mas permanece os efeitos civis, e não terá peso se o indivíduo vier a
cometer outro fato ilícito.
Um exemplo de abolitio criminis é: A exclusão de substância que compõe
“lança-perfume’” da lista de entorpecentes proibidos pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) durante oito dias garante que comercialização da droga
não configure crime no período. Com esse entendimento, o ministro do Supremo
Tribunal Federal Celso de Mello, em decisão monocrática, concedeu Habeas Corpus
para invalidar sentença de uma pessoa condenada por tráfico de drogas depois de ter
transportado frascos de droga. Exclusão do cloreto de etila da lista da faz projetar os
efeitos da norma mais benéfica. No entendimento do ministro, relator do caso, trata-
se de caso de abolitio criminis temporária "pelo fato de referida exclusão, embora por
um brevíssimo período, descaracterizar a própria tipicidade penal da conduta do
agente". (CONJUR, 2015)

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No caso narrado no Habeas Corpus 120.026, um homem foi preso em flagrante
pela Polícia Rodoviária Federal com 6 mil frascos de “lança-perfume”, no dia 12 de
novembro de 2000, e condenado a 3 anos e 9 meses de prisão pelo crime de tráfico
de entorpecentes. (CONJUR, 2015)
Acontece que, em 7 de dezembro de 2000, a Anvisa editou a Resolução
104/2000, que excluiu o cloreto de etila da relação constante na lista de substâncias
psicotrópicas de uso proibido no Brasil (Portaria SVS/MS 334/98). Em 15 de dezembro
do mesmo ano, a substância foi reincluída na lista por uma nova portaria. O ministro
Celso de Mello enfatizou em sua decisão que, “antes mesmo do advento da
Resolução Anvisa 104/2000, o STF já havia firmado entendimento no sentido de que
a exclusão do cloreto de etila da lista de substâncias psicotrópicas vedadas editada
pelo órgão competente do Poder Executivo da União Federal faz projetar,
retroativamente, os efeitos da norma integradora mais benéfica, registrando-
se abolitio criminis em relação a fatos anteriores à sua vigência, relacionados ao
comércio de referida substância, pois, em tal ocorrendo, restará descaracterizada a
própria estrutura normativa do tipo penal em razão, precisamente, do
desaparecimento da elementar típica substância entorpecente ou que determina
dependência física ou psíquica”. (CONJUR, 2015)
O ministro menciona em sua decisão precedente da 2ª Turma do STF (no julgamento
do HC 94.397) segundo o qual os fatos ocorridos antes da primeira portaria da Anvisa
"tornaram-se atípicos" (não configuram crime). Assim, a condenação decretada pela
primeira instância, e mantida pelo Superior Tribunal de Justiça, não observou os
critérios firmados pela jurisprudência do STF. (CONJUR, 2015)
A decisão do ministro Celso de Mello que concedeu o Habeas Corpus foi: “Em
suma: a análise dos fundamentos invocados pela parte ora impetrante leva-me a
entender que a condenação penal proferida pelo magistrado federal de primeira
instância, e mantida pelo E. Superior Tribunal de Justiça, não observou, quanto aos
frascos de “lança perfume”, os critérios que a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal, apoiada em expressivo magistério doutrinário, firmou no tema ora em análise.
Sendo assim, e pelas razões expostas, defiro o pedido de “habeas corpus”, para julgar

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extinta a punibilidade do ora paciente, apenas em relação ao delito de tráfico de
entorpecentes, tal como definido na legislação então vigente no momento da prática
criminosa (Lei nº 6.368/76, art. 12, 11 Documento assinado digitalmente conforme MP
n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas
Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 8610557. HC 120026 / SP
“caput”, c/c o art. 18, I e III).” (CONJUR, 2015)

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4. CONCLUSÃO

A irretroatividade da lei penal e o abolitio criminis são classificados como a lei


penal de tempo, para benefício do agente causador de um crime de acordo com o
artigo 5°, inciso XL da Constituição Federal e pelos tratados internacionais de Diretos
Humanos no qual o Brasil assinou.
Contudo os artigos do código penal se relaciona com os artigos da Constituição
como o artigo 1°, inciso III que trata da dignidade da pessoa humana. Existindo algum
benefício ao réu, a lei penal deverá retroagir. A lei temporária recebe ultratividade
compulsória, com base em lei ordinária (artigo 3° do Código Penal que diz: “A lei
excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas
as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua
vigência.”), mas sem base constitucional. Haverá uma patente abolitio criminis, pois
os arts. 30 a 33 desta Lei deixarão de vigorar. Ninguém mais será processado ou
punido com base neles. A circunstância penal de descriminalização das condutas
deve retroagir para beneficiar todos os que foram e estão sendo processados ou
punidos por conta desses preceitos não mais existentes na legislação penal brasileira.

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri (in memorian). Dicionário universitário jurídico,


organização; atualização de Guaracy Moreira Filho. 18. ed. São Paulo: Rideel, 2014.

CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral. 14. ed. Vol. 1. São Paulo:
Saraiva, 2010.

DAMÁSIO, de Jesus. Direito penal: parte geral. 33. ed. Vol. 1. Brasil: Saraiva, 2012.

JUSBRASIL. Disponível em:


<http://www.jusbrasil.com.br/topicos/297106/irretroatividade-da-lei-penal>. Acesso
em: 01 de novembro de 2015.

DICIONÁRIO UOL. Disponível em:


<http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php>. Acesso em: 02 de
novembro de 2015.

CURIA, Luiz Roberto. CÉPEDES, Livia. ROCHA, Fabiana Dias. Vade Mecum
Compacto. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2015

FOLHAMAX. Disponível em: <http://www.folhamax.com.br/politica/empresario-usa-


brecha-na-lei-para-escapar-de-acao-por-fraude-de-r-8-mi/64277>. Acesso em: 8 de
novembro de 2015.

JUSBRASIL. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/topicos/289971/abolitio-


criminis>. Acesso em: 8 de novembro de 2015.

REVISTA CONSULTOR JURÍDICO. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2015-


jun-01/transportar-substancia-liberada-anvisa-nao-configura-trafico>. Acesso em: 8
de novembro de 2015.

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