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FACULDADE NOBRE DE FEIRA DE SANTANA

BACHARELADO EM DIREITO

DANIELA ALMEIDA FRÓES DA MOTTA CRUZ

PRISÃO NO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL E A ORDEM PÚBLICA

Feira de Santana

2015
FACULDADE NOBRE DE FEIRA DE SANTANA

BACHARELADO EM DIREITO

DANIELA ALMEIDA FRÓES DA MOTTA CRUZ

PRISÃO NO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL E A ORDEM PÚBLICA

Trabalho apresentado ao Curso de


Direito da Faculdade Nobre de Feira
de Santana, para avaliação da
disciplina Direito Processual Penal I.
Professor: Armando Duarte Mesquita
Júnior

Feira de Santana

2015
Tenho em mim todos os sonhos do
mundo.

Fernando Pessoa
O Direito Penal surgiu com o intuito de regular a vida em sociedade,
com o escopo de deixar claro aos cidadãos o que a lei permite, e o que é
passível de pena. Para tanto, obedece princípios gerais de direito penal.

Antes da conceituação de crime, importa conhecer o que é e a que se


destina o Direito Penal, bem como perceber as mudanças deste ao longo do
tempo.

O Direito Penal não deve ser percebido apenas como recurso para
possibilitar a ação Estatal sobre os mais preciosos interesses do cidadão, como
a vida, e a liberdade. Deve ser visto como aquele que garante ao indivíduo a
possibilidade de proteger-se de qualquer tentativa do Estado de tangenciar
seus direitos.

Importa falar sobre os tipos de Direito Penal, dividindo-se entre


Objetivo e Subjetivo. O Direito Penal Objetivo é trazido pelas Leis, pela norma
escrita. O Direito Penal Subjetivo refere-se ao fato de o Estado criar suas
normas e executar as decisões condenatórias pronunciadas pelo Judiciário.
Desvela-se o direito de punir, que não se atém apenas à execução da
condenação. O jus puniendi concebe um ciclo, no qual o Legislativo elabora as
leis, definindo as figuras típicas, e o Poder Judiciário, que passado o devido
processo legal e a condenação, executa a decisão.

O Direito Penal busca alcançar 3 objetivos na sociedade: diminuir a


violência na comunidade através da prevenção do crime; diminuir a violência
do Estado através da diminuição das punições; e preservar direitos e garantias
individuais. Com isso, a Instituição Penal pretende interferir cada vez menos na
vida dos indivíduos, é a ciência do dever-ser, coloca à disposição do povo o
modo correto de agir, e o que está suscetível a penalidades.

A concepção de punição, bem como imposição de pena segue o


homem desde a pré-história. Os povos primitivos não conheciam ainda o que
seria causalidade, culpa, reprovabilidade, porém, se algo de ruim se instalava
sobre a comunidade, indicava que a divindade que protegia o grupo havia sido
afrontada. De modo que, um indivíduo ou um grupo deveriam ser
responsabilizados, o que resultava em sacrifícios como forma de resgatar a
proteção do Deus.
A culpa não era imposta necessariamente aquele que causou o mal,
tampouco a estipulação da penalidade, posto que não havia ainda este
entendimento.

Capez (2006) assinala que a lei de Talião surgiu como primeira


limitação, referenciada na bíblia como “olho por olho, dente por dente”. O
Código de Hamurabi é assinalado como a gênese do conceito de Talião. A
estipulação de limites no que diz respeito à ordem foi responsável por suplantar
o direito punitivo primitivo.

Os romanos de logo dissociaram o conceito de punição da religião.


Com a evolução do Estado Romano, os crimes deixaram de ser privados,
absorvendo um caráter público. Neste período, localizado entre os séculos II e
III d.C já havia a distinção entre dolo e culpa.

O direito penal germânico trouxe características próprias à ideia de


direito penal já existente. Consideravam o direito costumeiro e a
responsabilidade objetiva, não subordinada a dolo ou culpa. Brandão (2008)
sublinha que se notava forte presença da justiça privada, competindo ao
indivíduo ou sua família a punição. Gradualmente foi sendo possível substituir a
pena por pagamento de indenizações ou outras prestações.

Com o advento do direito canônico, buscou-se impor ordem à Igreja.


Paulatinamente a Igreja passou a influenciar a sociedade, de modo que o
direito canônico passou a ser utilizado em toda a sociedade. Para Brandão
(2008) a principal punição passa a ser a pena restritiva de liberdade, com o
escopo de levar o criminoso ao arrependimento de seus pecados, para então
retornar ao convívio social. A partir daí criou-se a terminologia penitenciária,
que dá nome ao atual sistema de penas.

Como consequência das influências do direito romano, germânico e


canônico, ergue-se o direito penal comum, que ao logo do tempo chegou ao
direito penal atual.

Com a reforma do Código Penal Brasileiro e suas alterações


provenientes da Lei 7.209/84 que repaginou a Parte Geral do Código de 1940
silenciou tal definição, restando à mesma para a doutrina penal brasileira.
O dicionário da língua portuguesa, Aurélio, por sua vez traz a noção de
crime:

s.m. Qualquer violação grave da lei moral, civil ou religiosa; ato


ilícito; contravenção: cometer um crime de assassínio. / Ato
condenável, de conseqüências desagradáveis: seria um crime
deixá-lo sozinho. / Dir. Ato ilícito de maior gravidade para o
qual a lei comina sanção de natureza penal. // Dir. Crime
culposo, aquele em que o agente deu causa ao resultado por
imprudência, negligência ou imperícia. // Dir. Crime doloso,
crime em que o agente quis o resultado ou assumiu o risco de
produzi-lo.

Quanto à doutrina, uma diversidade de conceitos povoa o âmbito


penal, de forma demasiada frente aos outros ramos do direito. Esse
descomedimento de conceitos faz-se necessário por ser um ramo que tutela
um bem jurídico muito precioso ao ser humano, o direito a liberdade. De tal
modo, tem-se a necessidade de uma construção dogmática robusta, a fim de
proporcionar segurança jurídica suficiente à pacificação social.

Numa grande variedade de conceitos, a doutrina traz ao cenário penal


a possibilidade de dois conceitos, material e formal. Para Junqueira (2013) a
compreensão Material de crime persegue a essência da conduta criminosa,
analisando-a como ação do homem, consciente ou não, que fere ou oferece
risco de grave lesão ao bem jurídico (vida, a liberdade, a honra, o patrimônio)
essencial para o convívio social, que não poderia ser agasalhado sem a
intervenção penal. Na concepção Formal de crime averigua-se um caminho,
uma estratégia para organizar a instrumentalização penal. Com o intuito de
promover segurança jurídica, foi necessário dividir o crime em frações.

Há uma polêmica sobre quantas dessas frações formam a idéia formal


de crime. Nesse diapasão Damásio de Jesus (2004) e Mirabete (1999)
concordam que o crime é fato típico e antijurídico. Entendendo-se como fato
típico, aquele inerente ao comportamento humano, de maneira positiva ou
negativa; e antijurídico, por contrariar o ordenamento jurídico brasileiro.

Prevalece no Brasil a percepção tripartite, de que o crime é fato típico,


antijurídico e culpável, por haver a possibilidade de ser o agente
responsabilizado pelo delito penal. Tal entendimento é defendido pelos
doutrinadores Bittencourt (2013) e Prado (2006).

Cumpre assinalar ainda, a existência de uma Teoria Quadripartida,


adotada por Marinucci (1998) e Garcia (2008), que considera o crime fato
típico, antijurídico, culpável e punível. Prevalecendo a ideia da atuação do
Poder Punitivo próprio do Estado.

Destarte, cumpre conceituar Prisão: a expressão possui sentido vasto,


podendo ser interpretada como o local em que são acondicionados os presos,
até o ato de capturar o sujeito, perpassando ainda pela prisão- pena, tratando
da relação processual penal.

Uma vez esclarecido o verbete Prisão, cabe esmiuçar os tipos de


Prisões vigentes no Código de Processo Penal.

O Artigo 283 da Lei 12.403/2011 traz:

Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por


ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente, em decorrência de sentença condenatória
transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do
processo, em virtude de prisão temporária ou prisão
preventiva. 
Hodiernamente existem 3 tipos de prisões cautelares: Prisão
Preventiva, com o subtipo Prisão Domiciliar conforme dispõe o artigo 318 do
CPP; Prisão em Flagrante e Prisão Temporária, os quais serão analisados.

- Prisão em Flagrante: Com previsão no artigo 302 CPP, é uma medida


pré-cautelar que pode ser realizada por qualquer do povo.

Art. 302.  Considera-se em flagrante delito quem:


I - está cometendo a infração penal;
II - acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou
por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor
da infração;
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas,
objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.
É a prisão que ocorre no momento da ação ou logo após a realização
de ato criminosa ou Infração de Menor Potencial Ofensivo, lavrando-se Termo
Circunstanciado e não Auto de Prisão em Flagrante como no primeiro tipo.

A captura do agente transgressor da Lei por pessoa comum se dá


através de ato administrativo e mediante a prova do crime e fortes indícios de
autoria, seguido de condução do sujeito à presença da autoridade policial.

A Prisão em Flagrante fundamenta-se sob a finalidade de evitar, se


possível a consumação do crime, a fuga do criminoso ou a comprovação do
fato. Possui natureza pré-cautelar, não dependendo de ordem judicial, devendo
ser convertida em Prisão Preventiva estando presentes os requisitos do artigo
312 CPP:

Art. 312.  A prisão preventiva poderá ser decretada como


garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a
aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do
crime e indício suficiente de autoria. 
Parágrafo único.  A prisão preventiva também poderá ser
decretada em caso de descumprimento de qualquer das
obrigações impostas por força de outras medidas cautelares
(art. 282, § 4o).

- Prisão Preventiva: Com previsão no artigo 311 e seguintes do Código


de Processo Penal,é aquela decretada antes do trânsito em julgado da
sentença penal. A Lei Processual Penal autoriza que seja decretada a Prisão
Preventiva durante a persecução penal, desde que seja imprescindível a
manutenção da Ordem pública, econômica, por conveniência da instrução
criminal, ou para garantir a aplicação da Lei Penal, quando houver existência
de crime e indícios de autoria e materialidade, como traz o artigo 312 CPP.

Ordem Pública é um dos pilares da Prisão Preventiva, e diz respeito a


tranquilidade do povo, paz na sociedade. O Artigo 144 da Constituição Federal
de 1988 ordena que é dever do Estado, direito e reponsabilidade de todos a
preservação da Ordem Pública e integridade física e patrimonial, de tal maneira
que, se esta tranquilidade estiver sob ameaça é possível a determinação da
Prisão Preventiva, com a finalidade de evitar que, o agente permanecendo
solto continue infringir a Lei.
O Supremo Tribunal de Justiça comunga do entendimento de que, a
indispensabilidade à coibição da prática de novos crimes é motivo suficiente
para a decretação da Prisão Preventiva. Muito embora o STF possua tal
entendimento, não se considera a mera gravidade do fato ou clamor social por
ele causado. Resta serem demonstrados o risco que a sociedade sofrerá caso
o indivíduo continue em liberdade, bem como analisada a probabilidade do
cometimento de novos crimes.

Quanto à conveniência da instrução criminal, tem-se que, importa


preservar a prova processual, garantindo que esta seja adquirida e conservada
sob as formas da Lei, desonerada de qualquer interferência iniqua do agente.

Ressalte-se que em momento algum a Prisão Preventiva deverá ser


decretada com o intuito de coagir o sujeito a colaborar com a investigação/
apresentação de provas.

No tocante à garantia da aplicação da Lei Penal, é uma maneira de


asseverar a futura aplicação da pena, que poderá restar fracassada caso o
agente não seja recolhido preso.

A fumaça do bom direito “fumus boni juris” deve estar presente no


sentido de indicar existência de crime e indícios de autoria.

Somente pode ser ordenada pelo juiz, de ofício no curso da Ação


Penal, ou mediante provocação na fase investigativa; podendo ainda ser
requerida pelo Ministério Público. Saliente-se por oportuno, que a Prisão
Preventiva não possui prazo máximo, posto que a jurisprudência entende que a
duração deve obedecer a necessidade concreta de cada caso.

É importante dizer que a Prisão Preventiva se apresenta como ultima


ratio para os casos de descumprimento de outras medidas cautelares, como
dispõe o artigo 282,§ 4º CPP, para a concessão da Prisão Cautelar devem ser
observadas as condições de admissibilidade do artigo 313 CPP, a saber:

Art. 313.  Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a
decretação da prisão preventiva: 
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade
máxima superior a 4 (quatro) anos; 
II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em
sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no
inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código Penal;
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a
mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com
deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de
urgência;
IV - (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
Parágrafo único.  Também será admitida a prisão preventiva
quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou
quando esta não fornecer elementos suficientes para
esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em
liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese
recomendar a manutenção da medida. 

O artigo 314 CPP dispõe sobe casos em que não é cabível a Prisão
Preventiva, situações em que o agente fato típico, porém amparado por alguma
excludente de ilicitude, que sâo: legítima defesa, estado de necessidade, estrito
cumprimento do dever legal e exercício regular de direito, como traz o artigo 23
do Código Penal.

Art. 314.  A prisão preventiva em nenhum caso será decretada


se o juiz verificar pelas provas constantes dos autos ter o
agente praticado o fato nas condições previstas nos incisos I, II
e III do caput do art. 23 do Decreto-Lei n o 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código Penal. 
Nesse passo, a doutrina majoritária brasileira entende que, mesmo não
havendo previsão legal, havendo indícios de excludente de culpabilidade não
existe razão para ser decretada prisão preventiva. O dispositivo legal também
não se pronunciou quanto as Descriminantes Putativas, para tanto aplica-se
que quando houver indícios de que o erro era inevitável não se recomenda a
Prisão Preventiva. No erro que recai sobre pressupostos fáticos da situação
justificante – erro permissivo, não se admite aplicação da ultima ratio.

Na seara das Prisões Preventivas, faz-se mister comentar a respeito da


Prisão Domiciliar, que é a medida substitutiva a Prisão Preventiva, encontrando
amparo nos artigos 317 e 318 do CPP, trazendo especificações:

Art. 317.  A prisão domiciliar consiste no recolhimento do


indiciado ou acusado em sua residência, só podendo dela
ausentar-se com autorização judicial. 
Art. 318.  Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela
domiciliar quando o agente for: 
I - maior de 80 (oitenta) anos;
II - extremamente debilitado por motivo de doença grave;
III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de
6 (seis) anos de idade ou com deficiência;
IV - gestante a partir do 7 o (sétimo) mês de gravidez ou sendo
esta de alto risco. 
Parágrafo único.  Para a substituição, o juiz exigirá prova
idônea dos requisitos estabelecidos neste artigo. 

- Prisão Temporária: Uma das modalidades da prisão cautelar,


instituída sob a égide da Lei nº 7.960/89.O artigo 1º da Lei traz os requisitos
para a decretação da Prisão Temporária, a saber:

Art. 1° Caberá prisão temporária:


I - quando imprescindível para as investigações do inquérito
policial;
II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer
elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade;
III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer
prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação
do indiciado nos seguintes crimes:
a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°);
b) seqüestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e
2°);
c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);
e) extorsão mediante seqüestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°,
2° e 3°);
f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223,
caput, e parágrafo único);
g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua
combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único);
h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223
caput, e parágrafo único);
i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°);
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou
medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, combinado
com art. 285);
l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal;
m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro
de 1956), em qualquer de sua formas típicas;
n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro
de 1976);
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de
junho de 1986).
Natureza de persecução penal, e deflagrada no curso da investigação
criminal, com a finalidade de polir a perquirição do crime. Não há a
possibilidade de ser decretada durante a fase judicial, para isto faz-se eficaz a
Prisão Preventiva.

Como a lei acerca da Prisão Temporária é demasiadamente abstrata,


dá lugar a interpretações muito flexíveis. Observando-se essa elasticidade na
interpretação da Lei, convencionou-se que, para a decretação da Prisão
Preventiva, é necessária a presença de qualquer dos dois incisos (I e II),
cumulativamente com o inciso III. Portanto, o STJ enuncia que caberá a prisão
temporária quando for imprescindível às investigações do Inquérito Policial, ou
quando o indiciado não possuir residência fixa, ou não fornecer elementos
necessários sobre sua identidade, e quando houver fundadas razões de autoria
ou participação nos crimes que a lei elenca, entre eles, o crime de estupro.
(RHC 42.106-SP, 6ª T., rel. Maria Thereza de Assis Moura, 12.12.2013, v.u. )

No entanto, ainda são volúveis os requisitos, de modo que, a


autoridade policial, ao apontar para a decretação da Prisão Temporária deve
fundamentar o pedido, explanando de maneira clara e objetiva as razões para
o cerceamento da liberdade do suspeito.

Essa modalidade de Prisão somente pode ser decretada pelo


Magistrado, sob provocação do Ministério Público ou Autoridade Policial, pelo
prazo de 5 (cinco) dias, prorrogáveis por mais 5 (cinco) dias em casos de
extrema e comprovada necessidade. Caso careça de comprovação para a
dilação da Prisão, pode-se configurar abuso de autoridade.

Após a nota introdutória acerca do Direito Penal, do modo primitivo de


punir visto ao longo da história do Direito, e, após explanação sobre Prisões no
Código de Processo Penal Brasileiro, faz-se mister relativizar a necessidade de
punir com a presunção de inocência garantida pela Constituição Federal de
1988.
Instituída no artigo 5º, LVII, CF/88, a Presunção de Inocência é um dos
princípios basilares do Direito, tendo especificidade no âmbito penal, por
custodiar a liberdade individual. O artigo em comento enuncia: “ninguém será
considerado culpado até transito em julgado de sentença penal condenatória”. 
Observando-se ser a Constituição Lei suprema, toda a legislação
infraconstitucional deve obedecer os princípios ali presentes.

É sabido que o Estado tem o dever de punir aqueles que agem em


desconformidade com a legislação, podendo imputar sanção aos que cometem
injuridicidade. Todavia esse perfil punitivo do Estado deve coabitar como a
liberdade de cada indivíduo, posto que a liberdade não pode ser cerceada
senão em cumprimento a Lei.

Por conseguinte, na busca por punir ato ilícito o Estado deve conferir
ao agente todas as garantias constitucionais que lhe são de direito, permitindo
inclusive, que este apresente defesa e não tenha sua liberdade privada, senão
sob os ditames da Lei, considerando que o indivíduo só será considerado
culpado passado o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.

Saliente-se que o Princípio em discussão traz o vocábulo “presunção”


devendo ser entendido como algo provável, presumido, um meio de prova, e
busca assegurar um direito abstrato.

Importa deslindar a Presunção de Inocência á luz dos conhecimentos


de Aury LOPES JÚNIOR (2006):

a) É um princípio fundante, em torno do qual é constituído todo


o processo penal liberal, estabelecendo essencialmente
garantias para o imputado frente à atuação punitiva estatal.
b) É um postulado que está diretamente relacionado ao
tratamento do imputado durante o processo penal, segundo o
qual haveria de partir-se da idéia de que ele é inocente e, por
tanto, deve reduzir-se ao máximo as medidas que restrinjam
seus direitos durante o processo (incluindo-se, é claro, a fase
pré-processual).
c) Finalmente, a presunção de inocência é uma regra
diretamente referida ao juízo do fato que a sentença penal faz.
É sua incidência no âmbito probatório, vinculando à exigência
de que a prova completa da culpabilidade do fato é uma carga
da acusação, impondo-se a absolvição do imputado se a
culpabilidade não ficar suficientemente demonstrada.
À vista disso, infere-se que desde a gênese do ato criminoso, o
imputado é presumidamente inocente, não lhe cabe o dever de provar nada,
posto que sua inocência já está presumida e garantida pela Constituição
Federal. A presunção de inocência deve ser combatida por quem o acusa, sem
que ele tenha qualquer dever de ajudar nessa desconstrução.

Nesse sentido, nota-se um possível conflito entre o direito


constitucionalmente amparado e as Prisões Cautelares, amplamente discutido
na doutrina penal brasileira, e na qual verificam-se duas correntes.

A primeira corrente defende que as prisões cautelares são importantes


e necessárias, e não prejudica a Presunção de Inocência; e a segunda corrente
que diz o contrário, que as prisões cautelares ofendem o princípio da
Presunção de Inocência.

Preliminarmente, cabe dizer que o STF se posicionou no sentido de


dizer que o princípio da presunção de inocência não iria impedir a prisão do
agente após sentença condenatória. Foi elaborado entendimento de que a
presunção de inocência não permitiriacolocar o réu no rol dos culpados, no
entanto, não impossibilitaria a execução penal provisória da sentença
condenatória. Ainda que, fossem sujeitas a recursos para efeitos suspensivos,
como o especial e extraordinário.

As prisões cautelares não molestam o princípio da presunção da


inocência, posto que são observados pressupostos e fundamentos que
fundamentam tais medidas, sendo aplicadas em casos extremos, e como
última providência.

José Frederico Marques (2000) enuncia:

A fim de tornar menor o risco que possa correr a Justiça, e com


o intuito de sacrificar ao mínimo a liberdade do réu enquanto
não houver sentença condenatória imutável, procura a lei
cercar a prisão preventiva de cautelas e pressupostos, sem os
quais não se pode privar o réu, com o carcer as custodiam, da
sua liberdade de ir e vir. (...) É, por isso que, além jurisdicional
indeclinável, para a decretação, procura o legislador, com
medidas eficazes, cercar o réu de garantias, só admitindo a
sua prisão quando verificar o juiz todas as condições
imprescindíveis para a decretação da medida ou providência
cautelar.
É possível concluir que as prisões cautelares são necessárias para a
manutenção da ordem nas relações humanas buscada pelo Direito Penal,
tendo sua utilização restrita, observadas regras penais e analisados os casos
em sua individualidade.

Sobre o princípio da presunção de inocência do acusado,


compreendeu-se que a idéia principal é proteger o indivíduo, a fim de que este
não seja penalizado com pena ou julgamento da sociedade antes da sentença
penal condenatória com trânsito em julgado, não conflitando diretamente com
as Prisões Cautelares.
REFERÊNCIAS

BIANCHINI, Alice; MARQUES, Ivan Luís; GOMES, Luiz Flávio; CUNHA,


Rogério Sanches; MACIEL Silvio.PRISÃO E MEDIDAS CAUTELARES. Ed.
Revista dos Tribunais.

BITENCOURT, Cezar Roberto, Tratado de Direito Penal - Vol. 1 - Parte


Geral. 19ª Ed. Editora Saraiva (edição Digital), 2013.

BRANDÃO, Cláudio.  Curso de Direito Penal: Parte Geral. Rio de Janeiro,


Forense, 2008.

CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 13 ed. São Paulo, Saraiva


2006.

JESUS, Damásio Evangelista de. Código penal anotado. 15 ed. São Paulo,
Saraiva, 2004.

LOPES JÚNIOR, Aury.(PRISÕES CAUTELARES). Ed. Saraiva.

LOPES JÚNIOR, Aury. Introdução Crítica ao Processo Penal. 4 ed. rev.


amp. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.

MENDONÇA, Andrey Borges de. PRISÃO e outras MEDIDAS CAUTELARES


PESSOAIS. Ed. Método.

MIRABETE, Julio Fabbrini. Código penal interpretado. São Paulo, Atlas,


1999.

PRADO, Luiz Regis. Tratado de Direito Penal Brasileiro. São Paulo, RT,
2013.

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