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MANUAL BÁSICO DE
DIREITO MÉDICO
E DA SAÚDE
TRIÊNIO 2022/2024
COMISSÃO DE DIREITO
MÉDICO E DA SAÚDE
Solange da Cunha Pacheco - Milena Motta de Assumpção - Fernanda Melo - Josélia Motta de
Assumpção - Juliana Lessa Béhar - Karla Galindo Kiuchi - Monique Magalhães Moraes - Pedro Porto
Alves - Renata Fernandes - Vanessa da Silveira Viana - Camila Silveira Barcellos - Sergio de Souza Alves
PREFÁCIO
A OAB Niterói traz agora aos advogados e advogadas mais este subsídio
formativo na área de Direito, especificamente do Direito Médico e da Saúde.
Iniciativa dessa Comissão temática, vem em um momento de grandes
mudanças no setor, e os profissionais do Direito precisam sempre estar
atualizados para saberem lidar assertivamente em suas causas.
Com essa publicação, seguimos com os trabalhos de estudo e
aperfeiçoamento da legislação, além de zelar pela advocacia e pelos cidadãos
que buscam seus direitos. Ao defender a Constituição, a ordem jurídica do
Estado Democrático de Direito, os direitos humanos e a justiça social, a OAB
Niterói contribui com a consolidação das instituições democráticas e da
cidadania brasileira.
Dou meus parabéns à Comissão de Direito Médico e da Saúde, com a certeza
de que este livro alcançará grande êxito no que se propõe.
Pedro Gomes
Presidente da OAB Niterói
AGRADECIMENTOS
OAB Niterói
Gestão triênio 2022/2024
Presidente - Pedro Gomes
Diretor Geral da ESA - Júnior Rodrigues
Presidente:
Vice-presidente:
MILENA MOTTA DE ASSUMPÇÃO
Membros Delegados:
FERNANDA MELO
JOSÉLIA MOTTA DE ASSUMPÇÃO
JULIANA LESSA BÉHAR
KARLA GALINDO KIUCHI
MONIQUE MAGALHÃES MORAES
PEDRO PORTO ALVES
RENATA FERNANDES
VANESSA DA SILVEIRA VIANA
Médicos Colaboradores:
CAMILA SILVEIRA
SERGIO DE SOUZA ALVES
Revisão:
BERNARDO BASTOS GUIMARÃES
Designer gráfico:
ANA BEATRIZ PEREIRA XAVIER DE SOUZA
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MEMBROS DA COMISSÃO
Instagram: @advma.advogados
Site: www.advogadosma.com
Milena Motta de
Assumpção
Instagram: @fernandamelo.advogada
Site: www.fernandamelo.adv.br
Fernanda Melo E-mail: contato@fernandamelo.adv.br
Instagram: @advma.advogados
Site: www.advogadosma.com
Josélia Motta de
Assumpção
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MEMBROS DA COMISSÃO
Instagram: @advma.advogados
Site: www.advogadosma.com
Instagram: karlakiuchiadv
Karla Galindo Kiuchi
E-mail: pedroportoalves1@gmail.com
Instagram: pedroportoalves
Pedro Porto Alves
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MEMBROS DA COMISSÃO
Advogada Especialista em Direito Médico e da saúde. Especialização
em Direito da Medicina - Centro de Direito Biomédico da
Universidade de Coimbra, Portugal. Especialista pelo Instituto
Paulista de Direito Médico e da Saúde. Pós graduanda em Processo
Civil pela UERJ. Membro da Associação Brasileira de Advogados –
ABA. Delegada da Comissão de Direito Medico e da Saúde da OAB
Niterói. Curso Pratica de Fim de vida – Prof. Luciana Dadalto
Imersão em Direito na Harmonização Orofacial - CEOI –
Florianopolis/SC Curso de Biodireito e Complice em saúde – Bioeticas
Renata na pratica.
Site: Renatafernandes.adv.br
Fernandes
Email: renata@renatafernandes.adv.br
Instagram: @drarenata.fernandes
Sergio de
Souza Alves
Camila Silveira
Barcellos
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APRESENTAÇÃO
O direito à saúde está previsto nos ações judiciais, ou administrativas,
artigos 6º e 196º da Constituição junto aos Conselhos de Classe, como
Federal e o objetivo é que esse direito CRM, CFM e outros.
seja garantido por políticas públicas. Médicos, enfermeiros, advogados,
No Brasil, a relação entre direito e farmacêuticos, psicólogos,
saúde ganhou sua versão atual há odontólogos, administradores de
pouco mais de 25 anos, a partir da clínicas e hospitais estão a cada dia
Constituição de 1988, e sua sendo pressionados pela quantidade
cristalização foi fruto de amplos de normas e regulamentações
debates com grupos de pressão,
relacionadas com o seu exercício
sociedade civil e Estado.
profissional. De um lado, pacientes
A progressiva constitucionalização
estão em busca do seu direito à
que os direitos sociais tiveram na
saúde, à prestação de um serviço
década de 1980, associada aos
com qualidade e ao reparo de algum
desafios de implementação efetiva
dano causado proveniente da prática
por parte do Estado, fez que tais
em procedimento de saúde. Do outro
direitos fossem cada vez mais
submetidos ao crivo das instituições lado, profissionais e instituições de
jurídicas para sua efetivação. O saúde procuram seus direitos na
Direito Médico tem um papel defesa contra uma acusação indevida
importante nesse cenário de e também orientações jurídicas para
proteção jurídica às partes envolvidas atuar de modo preventivo.
nos direitos relacionados à saúde, Em alguns casos, ocorre a
havendo necessidade de uma visão negligência, imperícia ou
mais crítica e profunda do imprudência, e o profissional ou a
profissional especializado nessa área. instituição médica têm respondido
Direito Médico e da Saúde é uma financeiramente por suas ações ou
área em expansão e extremamente omissões, podendo chegar até
importante para atender as mesmo a deixar de trabalhar em sua
demandas judiciais relacionadas à área com a perda do direito ao
saúde. Este trabalho de introdução exercício profissional.
ao Estudo do Direito Médico e da Nos últimos anos, o número de
Saúde tem o escopo de apresentar ao conflitos envolvendo a área da saúde
advogado noções básicas para aumentou e tornou-se frequente
aquele que pretende conhecer os perante os tribunais de Justiça. As
direitos e deveres, vinculados às principais ações judiciais são movidas
questões jurídico-legais, dos contra planos de saúde e hospitais, e
profissionais, instituições de saúde e estão relacionadas com Direito Civil e
pessoas que utilizam dos serviços Direito do Consumidor. A saúde e o
destes, para prevenção ou defesa em direito são campos bastante
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politizados no Brasil. As instituições embrionária, como: Código de Defesa
jurídicas e sanitárias têm sido do Consumidor e o Exercício da
testemunhas desse processo, que Medicina, Código de Ética Médica e o
influencia decisivamente a Novo Código de Processo Ético-
sociabilidade e o estabelecimento de Profissional, Sistema Único de Saúde,
estratégias de reivindicação de Telemedicina, O Erro Médico e a
direitos pelos atores sociais. Iatrogênia, Publicidade Médica e
Há ações judiciais que buscam o Sigilo Médico, Cirurgia Plástica –
deferimento de pedidos sobre estes e Obrigação de Meio ou de Resultado,
outros assuntos. O resultado é a Relação Médico – Paciente, Home
intensificação do protagonismo do Care, Complance na Area da Saúde,
Judiciário na efetivação da saúde e Violência Obstétrica e Testamento
uma presença cada vez mais
Vital. E, ainda, conhecer bem os
constante desse Poder no cotidiano
documentos médicos mais
da gestão em saúde. Seja em uma
importantes para um bom
pequena comarca ou no plenário do
desempenho da medicina e para
STF, cada vez mais o Judiciário tem
defesa médica em ações judiciais ou
sido chamado a decidir sobre
administrativas.
demandas de saúde, o que o alçou a
ator privilegiado e que deve ser
considerado quando o assunto é
política de saúde.
O Direito Médico precisa ser
valorizado e aplicado como meio
consultivo e preventivo, a fim de
examinar os riscos, condutas e
assessorar juridicamente os
profissionais da saúde e instituições,
com o objetivo de evitar as ações
judiciais.
Estamos em um momento de grande
complexidade e interesse na relação
da saúde, ética médica e direito.
Nesse cenário em que o papel do
profissional especializado em Direito Solange da Cunha Pacheco, Presidente da Comissão
Médico está no centro das atenções, de Direito Médico e da Saude - OAB/Niterói.
o advogado que pretende atuar
Este trabalho tem a finalidade de
nesta área precisa se debruçar de
forma aprofundada em temas como
auxiliá-lo a dar os primeiros passos no
os que vamos abordar de forma Direito Médico e da Saúde.
Boa leitura!
6
SUMÁRIO
01 DOCUMENTOS MÉDICOS (SOLANGE DA CUNHA PACHECO) ....................... 8
17 CONCLUSÃO ............................................................................................................................ 96
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CAPÍTULO
01
DOCUMENTOS MÉDICOS
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CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA – RES. (1931/2009) –
CAPÍTULO X – DOCUMENTOS MÉDICOS
É vedado ao médico:
• Art. 80. Expedir documento médico sem ter praticado ato profissional que o justifique, que seja
tendencioso ou que não corresponda à verdade.
• Art. 81. Atestar como forma de obter vantagens.
• Art. 82. Usar formulários de instituições públicas para prescrever ou atestar fatos verificados na
clínica privada.
• Art. 83. Atestar óbito quando não o tenha verificado pessoalmente, ou quando não tenha prestado
assistência ao paciente, salvo, no último caso, se o fizer como plantonista, médico substituto ou em
caso de necropsia e verificação médico-legal.
• Art. 84. Deixar de atestar óbito de paciente ao qual vinha prestando assistência, exceto quando
houver indícios de morte violenta.
• Art. 85. Permitir o manuseio e o conhecimento dos prontuários por pessoas não obrigadas ao sigilo
profissional quando sob sua responsabilidade.
• Art. 86. Deixar de fornecer laudo médico ao paciente ou a seu representante legal quando aquele for
encaminhado ou transferido para continuação do tratamento ou em caso de solicitação de alta.
• Art. 87. Deixar de elaborar prontuário legível para cada paciente.
§ 1º O prontuário deve conter os dados clínicos necessários para a boa condução do caso, sendo
preenchido, em cada avaliação, em ordem cronológica, com data, hora, assinatura e número de
registro do médico no Conselho Regional de Medicina.
§ 2º O prontuário estará sob a guarda do médico ou da instituição que assiste o paciente.
• Art. 88. Negar, ao paciente, acesso a seu prontuário, deixar de lhe fornecer cópia quando solicitada,
bem como deixar de lhe dar explicações necessárias à sua compreensão, salvo quando ocasionarem
riscos ao próprio paciente ou a terceiros.
• Art. 89. Liberar cópias do prontuário sob sua guarda, salvo quando autorizado, por escrito, pelo
paciente, para atender ordem judicial ou para a sua própria defesa.
§ 1º Quando requisitado judicialmente, o prontuário será disponibilizado ao perito médico nomeado
pelo juiz.
§ 2º Quando o prontuário for apresentado em sua própria defesa, o médico deverá solicitar que seja
observado o sigilo profissional.
• Art. 90. Deixar de fornecer cópia do prontuário médico de seu paciente quando de sua requisição
pelos Conselhos Regionais de Medicina.
• Art. 91. Deixar de atestar atos executados no exercício profissional, quando solicitado pelo paciente
ou por seu representante legal.
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PRINCIPAIS DOCUMENTOS MÉDICOS
Os profissionais do ramo de medicina têm autorização para prescrever diversos
documentos médicos. Mas, neste artigo, elencamos os mais importantes na
rotina de trabalho.
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Prontuário Médico
Atestado médico
Essa documentação
É o documento por
meio do qual o médica passou a ser
médico afirma um digital em muitas
fato e, normalmente, instituições de saúde,
indica um período de pela facilidade de
tempo em que o armazenagem dos
paciente deve se manter afastado
dos dados e por agilizar a pesquisa de
de suas atividades habituais, para
informações. No prontuário, os
recuperação. Em razão do princípio
profissionais de medicina registram
do sigilo médico, o diagnóstico da
doença só pode ser informado no todo o histórico do paciente.
atestado, por meio do CID, quando O prontuário, assim como os demais
expressamente autorizado pelo documentos médicos aqui
paciente. Recomenda-se, inclusive, apresentados, é um documento
que essa autorização seja dada por sigiloso, sendo considerado um dos
escrito, no próprio documento. documentos médicos mais
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importantes, que fica sob a guarda do
Receituário
médico ou da instituição que assiste o
Muito parecido com
o prontuário, o
paciente.
receituário lida com O prontuário é um documento único,
as informações formado por um conjunto de
disponibilizadas nas informações, que são anexadas a cada
receitas. Ou seja, avaliação feita pelo médico do
trata-se do conjunto de dados sobre paciente, em ordem cronológica, com
o que foi repassado aos pacientes data, hora, assinatura e número de
até aquele momento. Este CRM, de forma a constarem, em um
documento, muitas vezes, é só documento, todos os dados
dispensado pelo profissional da clínicos necessários para a boa
saúde, sendo essas informações condução do caso.
acrescentadas no próprio prontuário
Este documento é fundamental para
médico.
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que haja efetiva comunicação entre
Receita membros de uma equipe
É uma documentação multiprofissional e para a
em que o médico continuidade do tratamento do
repassa ao paciente as paciente.
medicações para o Além disso, um prontuário bem
tratamento. Além elaborado é imprescindível para uma
disso, algumas vezes descreve boa defesa em eventuais demandas
recomendações e cuidados éticas ou judiciais.
necessários.
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PRINCIPAIS DOCUMENTOS MÉDICOS
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Termo de consentimento
Relatório médico livre e esclarecido
O relatório é um O termo de consentimento
documento emitido tem ganhado cada vez
pelo médico assistente, mais destaque no meio
no qual o profissional médico. Ele está
faz um resumo do relacionado ao dever do
caso, médico de manter o paciente bem. Essa
documentação médica passou a ser
descrevendo todos os fatos ocorridos, digital em muitas instituições de saúde,
sem emitir opinião. pela facilidade de armazenagem dos
É um documento integrante do ato dados e por agilizar a pesquisa de
médico. Normalmente, é elaborado informações. No prontuário, os
quando o paciente está sendo profissionais de medicina registram todo
encaminhado ou transferido para o histórico do paciente, procedimentos
continuação do tratamento em outro médicos aos quais será submetido.
local ou por outro profissional, bem A ideia de formalizar este dever em um
como nos casos de solicitação de alta. documento escrito - e assinado pelo
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paciente - tem por objetivo atestar que o
Laudo médico médico concedeu todas as informações
O laudo médico é um que devia ao paciente, que este as
documento técnico, de compreendeu e, após, consentiu no
caráter jurídico, tratamento. Trata-se, portanto, de um ato
elaborado por um que abrange duas etapas: o
médico perito, que se esclarecimento do paciente e, em
seguida, seu consentimento.
manifesta acerca de fatos a ele
Por esta razão é importante que o termo
submetidos.
de consentimento seja elaborado em
A partir da análise de um conjunto de
linguagem simples e acessível, e que seja
documentos (exames, atestados,
redigido especificamente para cada caso,
prontuários, etc.), o especialista faz uma
a fim de se evitarem padronizações e
auditoria e chega a uma conclusão que
informações genéricas.
terá efeitos jurídicos, orientando a
Diante das crescentes demandas em
opinião de outras pessoas, como por
face dos profissionais de saúde é
exemplo, de magistrados.
importante que estes comecem a
enxergar os documentos que elaboram
como meio de prova da boa prestação de
seus serviços, e até como meio de defesa,
caso venham a ser questionados em
relação a algum ato médico praticado.
Dada a importância desses documentos
é indispensável o acompanhamento por
um profissional especializado para uma
boa orientação acerca da sua elaboração.
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Documentos
Tanto para o paciente como para o
médico e o dentista é fundamental, necessários em
em um processo judicial de Direito
Médico, utilizar provas documentais
um processo de
como: Direito Médico
·Contrato Particular - se houver
Prontuário Médico - Físico ou Digital
·Termo de Consentimento Informado
- TCI
·Exames e/ou Laudos
·Relatórios
·Atestados
·Fotos
·E-mails e troca de mensagens
via celular ou qualquer rede social
·Notas Fiscais e Recibos
Existem casos específicos em que os
documentos serão suplementares
aos elencados acima, como uma
avaliação de outro profissional,
documentos de novas cirurgias e
internações, por exemplo.
É de fundamental importância a
orientação de um advogado
especialista em Direito Médico para o
paciente que pretende interpor uma
demanda judicial, para que não se
torne uma aventura jurídica, sob o
risco de condenação por litigância de
má-fé ou também ao pagamento de
custas judiciais e honorários de
sucumbência.
Por outra, o profissional da saúde ou
instituição que apresentar uma
defesa inconsistente, além de correr
o risco de sofrer uma condenação
poderá responder um processo ético-
profissional frente ao Conselho
Regional de Medicina (CRM) ou
Conselho Regional de Odontologia
(CRO).
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CAPÍTULO
02
A RELAÇÃO
MÉDICO – PACIENTE
14
A RELAÇÃO MÉDICO – PACIENTE
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ROBERT VEATCH DEFINIU
QUATRO MODELOS DE RELAÇÃO
MÉDICO – PACIENTE BEM ATUAIS
Modelo paternalista:
O médico toma as decisões em
nome da beneficência, sem
valorizar os valores, a cultura e a
opinião do paciente, que está
submisso. É uma relação
autoritária, a autonomia do
paciente é desvalorizada.
Modelo tecnicista:
O médico informa e executa os procedimentos necessários, mas
deixa a decisão inteiramente sob a responsabilidade do paciente. O
médico é acomodado, não se compromete com a decisão.
Modelo colegial:
Médico adota uma posição de “colega” do paciente, não levando em
conta a inevitável assimetria existente.
Modelo contratualista:
As habilidades/conhecimentos do médico são valorizadas,
preservando-se sua autoridade, mas deseja e valoriza a participação
ativa do paciente, que vai resultar em uma efetiva troca de
informações e um comprometimento de ambos.
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PADRÕES COMUNS DE
COMPORTAMENTO DOS MÉDICOS
Padrão paternalista:
Adota atitudes protetoras. Trata o
Padrão rotulador:
paciente como uma criança
indefesa. Tem sempre um pronto
diagnóstico rotulado que agrada o
paciente.
Padrão agressivo:
A agressividade pode ser um
sintoma da síndrome de Burnout Padrão otimista:
ou ter sua origem em problemas
pessoais. Não vê dificuldade em nada, tudo
lhe parece simples e sem
Padrão frustrado: gravidade, não sabe reconhecer os
casos de prognóstico ruim.
Quase sempre pessimista, torna-se
agressivo com os pacientes. Frieza
na relação médico – paciente.
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A RELAÇÃO MÉDICO – PACIENTE
Como já dissemos, a relação médico – com boa aptidão técnica para realizar
paciente sofreu inúmeras mudanças no procedimentos, mas isso não os tornava
decorrer do tempo. Não apenas a figura bons médicos, pois, apesar de técnicos,
do médico de família, na área clínica, não eram humanos com seus
estava deteriorada, mas também na pacientes. Por isso, as faculdades estão
área cirúrgica, onde médicos cirurgiões investindo no ensino não só das
mandavam descer o fígado, o baço, o matérias técnicas, como a semiologia e
intestino, não se referindo ao paciente a clínica médica, mas também no eixo
pelo seu nome, mas sim pelo órgão que das humanidades, como a psicologia
precisava ser operado, tratando o médica, na qual os alunos estudam de
paciente como se fosse uma “coisa” sem fato a relação médico – paciente,
importância. aprendendo a serem mais humanos;
Há a imperiosa necessidade do médicos que não olham apenas a
estabelecimento da confiança na doença, mas sim o paciente, não só
relação com o paciente. Por exemplo, com olhar clínico, mas com olhar
uma gestante que sonha em ter parto humanizado, tentando se colocar no
normal, humanizado, ficar na hidro, não lugar dele, entendendo seus anseios,
receber analgesia, faz todo o plano de suas angústias, despindo-se de
parto e o médico passa o pré-natal qualquer preconceito, visando sempre
inteiro dizendo que o parto dela será prestar um bom atendimento, fazendo
lindo, mas na hora H comunica que a com que seu paciente se sinta seguro e
mulher não tem dilatação e, por isso, confortável até para fazer confissões e,
precisará fazer cesariana. Isso, muitas então, diagnosticar doenças das quais
vezes,, porque não quer perder tempo as pessoas, muitas vezes, têm
esperando a gestante ter a dilatação preconceitos, como as IST (Infecções
completa de 10 cm para que o bebê Sexualmente Transmissíveis).
possa nascer, frustrando totalmente o Podemos concluir que um bom médico
sonho dessa mulher, de parir de forma é aquele que não trata apenas a
natural seu filho. Ou o médico alega que doença, mas sim o doente com todas as
circular de cordão é indicativo de suas peculiaridades e anseios; aquele
cesárea, para que a gestante fique com que se coloca no lugar do paciente, que
receio de perder seu bebê e faça uma o trata como gostaria de ser tratado,
cirurgia desnecessária. que estabelece uma relação de
Tais atitudes ferem de morte a relação confiança com o outro; que se despe de
médico – paciente baseada na todos os preconceitos e tem como
confiança, e a gestante, por única meta de vida cuidar, visando
acreditar fielmente no seu médico, sempre o bem-estar do seu paciente,
acaba acatando a opinião dele, uma vez que saúde não é ausência de
renunciando ao sonho de parir doença, mas o completo bem-estar
naturalmente por causa de uma físico e mental. Um médico
mentira. humanizado coloca sempre o paciente
Caso ainda pior quando o médico em primeiro lugar e não mede esforços,
pratica violência obstétrica, como será não só para chegar a um bom
abordado em capítulo próprio. diagnóstico como também para que
As faculdades de medicina ensinavam seu paciente esteja bem fisicamente e
os médicos a serem médicos técnicos, emocionalmente.
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CAPÍTULO
03
O SIGILO MÉDICO
PROFISSIONAL
19
O SIGILO MÉDICO PROFISSIONAL
20
A IMPORTÂNCIA DO SIGILO MÉDICO
21
GARANTIAS ÉTICAS E LEGAIS DA
CONFIDENCIALIDADE NA ATIVIDADE MÉDICA
22
GARANTIAS ÉTICAS E LEGAIS DA
CONFIDENCIALIDADE NA ATIVIDADE MÉDICA
23
GARANTIAS ÉTICAS E LEGAIS DA
CONFIDENCIALIDADE NA ATIVIDADE MÉDICA
24
CAPÍTULO
04
JUDICIALIZAÇÃO
DA SAÚDE
25
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE
26
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE
27
CAPÍTULO
05
CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR E O EXERCÍCIO
DA MEDICINA
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CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E O EXERCÍCIO DA MEDICINA
29
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E O EXERCÍCIO DA MEDICINA
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CAPÍTULO
06
RESPONSABILIDADE
MÉDICA
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RESPONSABILIDADE
ADMINISTRATIVA DO MÉDICO
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RESPONSABILIDADE
PENAL DO MÉDICO
Todo cidadão está obrigado à observância das leis e, caso incorra em ilícito,
deverá responder por isto. No caso do ilícito penal, as consequências são
pessoais, no sentido de ter que suportar penas de restrição de direitos ou
mesmo de liberdade.
Para Guilherme de Souza Nucci (2013, p.117), crime, no conceito analítico, é
fato típico, antijurídico e culpável. Não importando a corrente (causalista,
finalista ou funcionalista), o delito tem três elementos indispensáveis à sua
configuração, dando margem à condenação. Sem qualquer um deles, o juiz é
obrigado a absolver.
Quando o paciente é vítima de um ilícito penal causado pelo médico ou este
profissional viola normas que regulamentam a profissão, responderá na
esfera criminal pelo ilícito.
Aqui devemos verificar a conduta culposa do agente (médico), observando se
a imprudência, negligência ou imperícia estão presentes no caso concreto
em análise.
Imprudência médica será sempre caracterizada por uma ação, terá sempre o
caráter comissivo. Uma conduta intempestiva, insensata, precipitada, na
visão de Genival Veloso de França.
Negligência médica sempre será caracterizada pela falta de ação. Aqui, o
médico deixa de observar os deveres profissionais diante de determinado
caso concreto. Algumas formas de negligência médica são o abandono de
doente, a omissão/retardo de tratamento, caligrafia do médico, entre outras.
Imperícia médica é caracterizada quando o médico executa de forma
errônea um ato por falta de conhecimentos técnicos da profissão. Existe
divergência doutrinária a respeito da imperícia. Para uma parte da doutrina,
o médico nunca poderá ser considerado imperito, uma vez que a graduação
em medicina o habilita à realização de todo ato médico. Noutro giro, parte da
doutrina entende que um ortopedista poderia ser considerado imperito caso
realizasse uma cirurgia ginecológica de salpingectomia bilateral (retirada de
trompas), se dela resultasse um dano à paciente.
Não fica de fora a conduta médica dolosa a ser verificada caso a caso e com
base na melhor doutrina de conceituação desse instituto, devendo ser
ressaltado que as condutas dolosas são raras.
Em todas as hipóteses, o nexo de causalidade entre a ação/omissão médicas
deve ser observado.
33
RESPONSABILIDADE
CIVIL DO MÉDICO
34
RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO
35
CONCLUSÃO
36
CAPÍTULO
07
COMPLIANCE NA
ÁREA DA SAÚDE
37
COMPLIANCE NA ÁREA DA SAÚDE
38
COMPLIANCE NA ÁREA DA SAÚDE
39
CONCLUSÃO
40
CAPÍTULO
08
CIRURGIA PLÁSTICA:
OBRIGAÇÃO DE MEIO
OU DE RESULTADO
41
CIRURGIA PLÁSTICA: OBRIGAÇÃO DE MEIO OU DE RESULTADO
42
CIRURGIA PLÁSTICA: OBRIGAÇÃO DE MEIO OU DE RESULTADO
43
CONCLUSÃO
44
CAPÍTULO
09
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE:
SAÚDE PÚBLICA, PRIVADA
E SUPLEMENTAR
45
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: SAÚDE PÚBLICA, PRIVADA E SUPLEMENTAR
Integralidade: O Estado se
compromete a disponibilizar todo e
qualquer tipo de atenção à saúde,
desde o básico ao mais complexo,
desde a vacina ao transplante.
46
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: SAÚDE PÚBLICA, PRIVADA E SUPLEMENTAR
47
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: SAÚDE PÚBLICA, PRIVADA E SUPLEMENTAR
48
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: SAÚDE PÚBLICA, PRIVADA E SUPLEMENTAR
49
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: SAÚDE PÚBLICA, PRIVADA E SUPLEMENTAR
50
CAPÍTULO
10
TELEMEDICINA
51
TELEMEDICINA
52
EVOLUÇÃO REGULATÓRIA
A Declaração de Tel Aviv é um Abaixo transcritos, temos os artigos
documento internacional, da Resolução CFM 1643/2002:
reconhecido pelo Brasil, que dispõe Art. 1º Definir a Telemedicina como
sobre Responsabilidades e Normas o exercício da Medicina através da
Éticas na Utilização da utilização de metodologias
Telemedicina. Resultou da 51ª interativas de comunicação
Assembleia Geral da Associação audiovisual e de dados, com o
Médica Mundial, realizada no ano objetivo de assistência, educação e
de 1999. Dessa declaração nasceu pesquisa em Saúde.
definição da telemedicina, seus Art. 2º Os serviços prestados
princípios, as responsabilidades do através da Telemedicina deverão
médico e do paciente, e normas ter a infraestrutura tecnológica
éticas que devem ser apropriada, pertinentes e obedecer
minimamente seguidas para sua às normas técnicas do CFM
utilização. pertinentes à guarda, manuseio,
No Brasil, a Resolução CFM 1.643/02 transmissão de dados,
(20 anos atrás), utilizou a confidencialidade, privacidade e
Declaração de Tel Aviv para garantia do sigilo profissional.
orientação do que seria a Art. 3º Em caso de emergência, ou
telemedicina, mas a resolução foi quando solicitado pelo médico
genérica e omitiu a forma de responsável, o médico que emitir o
atendimento, modalidades, laudo a distância poderá prestar o
critérios de coleta, armazenamento devido suporte diagnóstico e
e desenvolvimento do sistema ou terapêutico.
plataforma. Art. 4º A responsabilidade
Em 2018, a Resolução CFM nº 2.227 profissional do atendimento cabe
revogou a Resolução CFM 1.643/02, ao médico assistente do paciente.
definindo e disciplinando a Os demais envolvidos responderão
telemedicina como forma de solidariamente na proporção em
prestação de serviços médicos que contribuírem por eventual
mediados por tecnologias. Mas dano ao mesmo.
essa resolução, apesar de mais Art. 5º As pessoas jurídicas que
abrangente, mais específica e prestarem serviços de
detalhada, foi revogada em 22 de Telemedicina deverão inscrever-se
fevereiro de 2019, cedendo-se a no Cadastro de Pessoa Jurídica do
manifestações de médicos e Conselho Regional de Medicina do
entidades representativas da estado onde estão situadas, com a
classe, os quais alegaram que respectiva responsabilidade
elaboração dessa resolução de técnica de um médico
2018 se deu à revelia de suas regularmente inscrito no Conselho
opiniões e sugestões.
53
EVOLUÇÃO REGULATÓRIA
54
CAPÍTULO
11
O ERRO MÉDICO E A
IATROGENIA
55
O ERRO MÉDICO E A IATROGENIA
56
O ERRO MÉDICO
Na esfera da culpa, podemos dizer casos de profissionais que realizem
que a negligência é um ato omissivo atos típicos de uma área de
ou omissão danosa, é a falta de especialização, a falta de capacitação
cuidado por parte do profissional em profissional acaba por lhe trazer uma
não realizar as diligências, as presunção de culpa.
condutas necessárias e esperadas, Dito isso, o erro médico pode ser
atuando com desídia. Podemos citar, entendido como mau resultado ou
a título de exemplo, situação em que resultado adverso, decorrente da
o profissional realiza cirurgia em ação ou omissão do médico, por
membros trocados, não se inobservância de conduta técnica.
atentando a um fato que poderia ser Vale dizer que não se inserem na
facilmente constatado caso existisse responsabilização por erro médico as
melhor diligência. limitações impostas pela própria
No tocante à imprudência, esta natureza da doença, assim como as
existe como um ato comissivo de lesões produzidas deliberadamente
falta de cautela, onde o profissional pelo médico para tratar um mal
ultrapassa os limites, sem se maior. As falhas desencadeadas pela
preocupar com as consequências limitação técnica da profissão ou por
dos seus atos, ou seja, o médico tem equipamentos médicos também não
conhecimento sobre o risco da merecem ser abarcadas pelo dever
atitude tomada, mas mesmo assim de indenizar.
ignora os deveres de cuidado. Assim, nem sempre que, pela
Como última forma de atuação de um profissional médico,
culpabilidade, a imperícia pode ser ocasionar-se dano ao paciente, este
compreendida como a falta de deverá ser considerado erro médico,
domínio, de competência ou de haja vista a possibilidade de
habilidade no exercício da medicina. existência de erros escusáveis.
Quanto a essa modalidade, é É justamente nesse ponto que surge
importante pontuar que, por força a figura da iatrogenia, que não se
de lei, todo médico é apto a realizar confunde com erro médico e, como
qualquer procedimento profissional será visto mais adiante, caracteriza-se
a partir do registro no Conselho de como escusável, não levando à
Medicina, porém, só poderá se dizer responsabilização. Tem-se aqui uma
especialista com a obtenção de forma de excludente da
Registro de Qualificação de responsabilidade do profissional, o
Especialista (RQE). Desta forma, em que será esmiuçado.
57
A IATROGENIA
Conforme foi abordado anteriormente, As lesões ou sequelas previsíveis e
o médico, no exercício de sua atividade esperadas são aquelas que, antes
profissional, lida com bens jurídicos mesmo da realização da intervenção,
tutelados pelo direito que são de já se tem previsão de sua ocorrência.
extrema relevância. Justamente por Na sua atuação, o médico deve
isso lhe é exigida uma atuação sopesar os danos possíveis ao
pautada na melhor técnica possível, a paciente, informando-o das
fim de evitar danos ao seu paciente. possibilidades e riscos, bem como
Porém, existem situações que, em deve adotar a melhor técnica a ser
que pese o melhor agir por parte do utilizada, ainda que cause sequelas.
profissional, ainda assim danos Podemos citar, a título de exemplo, o
poderão sobrevir. Cabe aqui a caso de um procedimento de
análise caso a caso, para identificar mastectomia com necessidade de
as situações de possível retirada total do seio para tratamento
responsabilização e as situações em de câncer. Já quanto às lesões
que o dano se dá de maneira previsíveis e inesperadas, são aquelas
independente da observância das que no momento da realização do
técnicas mais apropriadas. procedimento não há indícios de sua
Nesse ponto surge a iatrogenia, que ocorrência ou de que sequelas
não se confunde com o erro médico, sobrevirão. Como exemplo, um
este gerador de responsabilidade paciente que possua alergia a um
civil, haja vista ser considerada um medicamento determinado, mas
erro escusável. desconheça essa condição, tornando,
Daí podemos entender que as lesões portanto, totalmente imprevisível o
iatrogênicas são aquelas previsíveis, conhecimento também por parte dos
esperadas ou inesperadas, oriundas profissionais. Logo, por mais que
de um procedimento médico, que são fosse previsível a alergia do paciente
incapazes de levar à responsabilização ao medicamento ministrado, em
civil, ao passo que as lesões oriundas razão da não informação por parte
do erro médico decorrem também do deste não se espera lesão
atuar médico, porém, estão inseridas Desta forma, existem intervenções
no campo do ilícito, posto que cujos danos são previstos, esperados,
decorrentes de atitudes culposas de e até mesmo planejados, posto que a
negligência, imprudência ou lesão causada se mostra como
imperícia. Diante da possibilidade de condição necessária para o alcance
previsibilidade ou não, podemos de um bem maior, ou seja, a única
realizar a divisão das lesões forma de se atingir um resultado
iatrogênicas em dois grupos, que mais favorável ao paciente.
veremos a seguir. .
58
A IATROGENIA
59
CAPÍTULO
12
A PUBLICIDADE
EM SAÚDE
• A publicidade médica
• A publicidade odontológica
60
A PUBLICIDADE EM SAÚDE
61
A PUBLICIDADE MÉDICA
Na área médica, a publicidade É insuscetível de controle judicial de
pode ser definida como anúncios legalidade a violação de preceito ético
ou qualquer outro tipo de instituído pelo órgão profissional
comunicação através de meios ou legalmente competente. São
veículos de mídia que visam atingir notoriamente sabidos os malefícios e
o consumidor final, sendo dissabores causados com a
configurada como uma divulgação divulgação de imagens de pessoas
do exercício da medicina. Dessa pelas redes sociais, além de configurar
forma, temos na Resolução CFM captação de clientela. O médico está
1974/11 um manual sobre a sujeito à disciplina deontológica
publicidade médica. estabelecida pelo órgão profissional.
Neste artigo, iremos apresentar Pouco importa que o eventual abuso
algumas das principais regras de seja reprimido pela lei civil ou pelo
publicidade médica, explicando as Código de Defesa do Consumidor
obrigações e proibições segundo decorrente de relações contratuais do
as normas do Conselho Federal de médico com o seu paciente”.
Medicina. Igualmente, as selfies em situações de
Um dos assuntos mais atuais a trabalho e atendimento são proibidas
respeito é o chamado "antes e pelas regras de publicidade médica,
depois". A Resolução CFM 1974/11 uma vez que o CFM entende que o
preceitua em seu art. 3º – É vedado ato quebra o anonimato e a
ao médico: g) Expor a figura de seu privacidade inerentes às práticas
paciente como forma de divulgar médicas.
técnica, método ou resultado de O Conselho Federal de Medicina
tratamento, ainda que com autoriza as instituições de saúde a
autorização expressa do mesmo, divulgarem os equipamentos.
ressalvado o disposto no art. 10 Contudo, utilizar a promoção de
desta resolução. aparelhagem e tecnologia como
Nesse sentido, cabe colacionar o forma de demonstrar maior
entendimento do TRF 1ª Região, capacidade técnica ou garantia do
em julgado sobre publicidade sucesso do tratamento não é
médica: “A vedação prevista no art. permitido.
3º, alínea “g” da Resolução É comum que os médicos queiram
1.974/2011 não exige lei específica comprovar sua expertise e
porque não se trata de “condições profissionalismo por meio da
ou qualificação para o exercício de publicidade. Mas no momento de
profissão” (Constituição, art. 5º/XII e realizar as divulgações é preciso se
22/XVI). Ao contrário disso, visa atentar à comunicação que será
preservar a ética profissional do utilizada.
exercício da medicina.
62
A PUBLICIDADE MÉDICA
63
A PUBLICIDADE ODONTOLÓGICA
A propaganda odontológica é agora é possível fazer essa
indispensável para fazer a apresentação de resultados finais,
divulgação dos serviços oferecidos desde que com autorização prévia
pelas clínicas e consultórios. No do paciente ou do seu representante
entanto, existem algumas regras legal, através de Termo de
que precisam ser seguidas para Consentimento Livre e Esclarecido
não se ferir o Código de Ética (TCLE).
Odontológica. De toda forma, continua sendo
Aprovado pelo Conselho Federal de infração apresentar vídeos desses
Odontologia (CFO), por meio da procedimentos mostrando o
Resolução CFO-118/2012, o Código “durante”, senão com o objetivo de
traz em seu capítulo 14 as regras de fazer publicações científicas. Logo, a
anúncio, propaganda e filmagem com celular ou outros
publicidade. Assim, regulariza o dispositivos deve se limitar à criação
modo como deve ser feita a de materiais de conscientização ou
comunicação e a divulgação em de apresentação da clínica.
odontologia. Insta observar que em todas as
Neste artigo, iremos apresentar publicações deve constar o nome do
algumas das principais regras de profissional, bem como o número da
publicidade odontológica, sua inscrição, sendo vedada a
explicando as obrigações e divulgação de casos clínicos de
proibições segundo as normas do autoria de terceiros.
CFO. Diferentemente de como acontece
O Código de Ética Odontológica para empresas e profissionais de
permite a divulgação das outros segmentos, o marketing para
diferentes técnicas utilizadas pelo dentistas não pode fazer a
profissional para fazer os divulgação de preços dos
procedimentos e tratamentos tratamentos oferecidos. Também
odontológicos. Vale dar atenção a não deve falar a respeito de
uma pequena alteração das regras promoções, ofertas ou qualquer
sobre a apresentação de casos outro desconto do gênero. O motivo
“antes e depois”. é que o Código prevê como infração
A Resolução CFO-196/2019 a comercialização da odontologia.
modificou o que estava disposto no Também caracteriza-se como
artigo 44 da Resolução 118/2012, infração a realização de sorteios ou a
que apontava como infração ética oferta de prêmios, seja por meio de
a veiculação de imagens no concursos, seja pela aquisição de
momento do diagnóstico e após a algum bem ou realização de
finalização do tratamento, o tratamentos, procedimentos e outros
famoso “antes e depois”. Com isso, serviços prestados pelo especialista.
64
A PUBLICIDADE ODONTOLÓGICA
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CAPÍTULO
13
DO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA
E O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO
ÉTICO-PROFISSIONAL
• Do sigilo profissional
• Do uso de blogs e páginas pessoais
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DO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA E O NOVO
CÓDIGO DE PROCESSO ÉTICO-PROFISSIONAL
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DO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA E O NOVO
CÓDIGO DE PROCESSO ÉTICO-PROFISSIONAL
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DO SIGILO PROFISSIONAL
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DO SIGILO PROFISSIONAL
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DO USO DE BLOGS E
PÁGINAS PESSOAIS
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DO USO DE BLOGS E PÁGINAS PESSOAIS
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DO USO DE BLOGS E PÁGINAS PESSOAIS
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O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO
ÉTICO-PROFISSIONAL
Dessa feita, aduz o artigo 951 do CC: representante legal após esclarecê-lo
“Art. 951. O disposto nos art. 948, 949 e sobre o procedimento a ser realizado,
950 aplica-se ainda no caso de salvo em caso de risco iminente de
indenização devida por aquele que, morte.”
no exercício de atividade profissional, Ainda, a título de esclarecimento,
por negligência, imprudência ou cabe ressaltar, capítulos VI, VII, VIII
imperícia, causar a morte do paciente, tratam sobre vedações ao médico
agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou ante a transplante de órgãos e
inabilitá-lo para o trabalho.” tecidos, relações entre médicos e
Nesse prisma, denota-se notória remuneração profissional,
correlação do Código de Ética Médica respectivamente.
com o artigo 951 CC, eis que mediante Nos capítulos seguintes aduz-se
a junção de tais, salientando-se sobre sigilo profissional, já
inclusive a responsabilidade civil anteriormente tratado, documentos
subjetiva do médico, resta claro o médicos, auditoria e perícia médica,
direito à indenização quando, por ensino e pesquisa médica,
negligência, imprudência ou publicidade médica, também
imperícia, causar a morte do paciente, anteriormente tratado e, por fim,
agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão ou disposições gerais.
inabilitá-lo para o trabalho, Outrossim, quanto ao Novo Processo
denotando-se, ainda, a importância Ético-Profissional, serão também
do Direito Médico para com a nossa dispostas nesse trabalho as suas
sociedade. principais considerações. Vejamos:
Outrossim, veja-se, se entende-se por Primeiramente, insta salientar que o
Direito Médico o ramo jurídico que Conselho Federal de Medicina
abrange leis e regulamentos próprios, apresenta o Novo Código de Processo
bem como de outras áreas do Direito, com diversas e imperiosas
com objetivo de orientar a relação atualizações.
entre a medicina e a ciência jurídica, in Isso se deu, principalmente, devido à
casu, inclusive, como se pode notar, pandemia pela qual atravessamos,
utilizando-se ainda do Código de Ética sendo então possível a realização de
Médica a título de fundamentação, inúmeros atos processuais de
conforme resta claro mediante maneira eletrônica.
jurisprudências pertinentes anexadas Com isso, no discorrer do referente
ao fim desse manual. texto foram dispostas várias
Ainda, no capítulo IV, destaca-se: enfatizações ante a possibilidade de
“É vedado ao médico: uso de recursos tecnológicos, senão,
Art. 22. Deixar de obter vejamos conforme artigos
consentimento do paciente ou de seu pertinentes abaixo colacionados:
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O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO ÉTICO-PROFISSIONAL
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O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO ÉTICO-PROFISSIONAL
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O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO ÉTICO-PROFISSIONAL
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CONCLUSÃO
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CAPÍTULO
14
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
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VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
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VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
E MARCOS LEGAIS
Ao longo da história, as mulheres Porém, apesar da disseminação
vêm sendo vítimas de diversas dessas experiências, a OMS aponta
formas de violência. Segundo a que atualmente não há consenso
Organização Mundial da Saúde internacional sobre como esses
(OMS), violência é a imposição de problemas podem ser
um grau significativo de dor e cientificamente definidos e medidos.
sofrimento evitáveis. Não se encontra uma definição única
Nesse sentido, destaca-se a para a violência obstétrica.
violência obstétrica como um tipo Alguns definem a violência contra
específico de violência contra a mulheres nas instituições de saúde e
mulher. discutem em maior detalhe sobre
O descaso e o desrespeito com as quatro tipos de violência: negligência
gestantes na assistência ao parto, (omissão do atendimento), violência
tanto no setor público quanto no psicológica (tratamento hostil,
setor privado de saúde, têm sido ameaças, gritos e humilhação
cada vez mais divulgados pela intencional), violência física (negar o
imprensa e pelas redes sociais por alívio da dor quando há indicação
meio de relatos de pacientes que técnica) e violência sexual (assédio
se sentiram violentadas. Da mesma sexual e estupro). Alguns definem a
forma, esses dados têm sido violência obstétrica como violência
analisados pela Ouvidoria do psicológica, caracterizada por ironias,
Ministério da Saúde, a qual ameaça e coerção; outros, como
computou que 12,7% das queixas violência física, por meio da
versavam sobre o tratamento manipulação e exposição
desrespeitoso, incluindo relatos de desnecessária do corpo da mulher,
terem sido mal atendidas, não dificultando e tornando desagradável
serem ouvidas ou atendidas em o momento do parto. Incluem
suas necessidades e terem sofrido condutas como mentir para a
agressões verbais e físicas. paciente quanto a sua condição de
Segundo a OMS, gestantes do saúde, para induzir cesariana eletiva,
mundo todo sofrem abusos, ou de não informar a paciente sobre
desrespeito, negligência e maus- a sua situação de saúde e
tratos durante o parto nas procedimentos que são necessários.
instituições de saúde. Essas Além disso, a violência obstétrica
práticas podem ter consequências compreende o uso excessivo de
adversas para a mãe e para o bebê, medicamentos e intervenções no
principalmente por se tratar de um parto, assim como a realização de
momento de grande práticas consideradas desagradáveis
vulnerabilidade para a mulher. e muitas vezes dolorosas, não
81
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA E MARCOS LEGAIS
82
PLANO DE PARTO PREVINE
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
A violência obstétrica é aquela Não se menosprezam a necessidade
praticada por qualquer pessoa e a importância da ciência e de um
dentro do campo da assistência, que bom profissional da saúde para esse
vai da gravidez até o pós-parto. evento tão grandioso na vida de
Pode ser pelo médico, enfermeiro, qualquer mulher.
fisioterapeuta, por qualquer O que se questiona são as
profissional que pratique dano a intervenções desnecessárias ou sem
essas mulheres. Realizar o seu consentimento, violando sua
procedimentos sem informar, sem autonomia, já que a mulher é a
pedir autorização. Realizar toques protagonista na hora do parto, e não
sucessivos por várias pessoas. Deixar o médico.
a mulher de dieta zero, fazer
lavagem intestinal e impedir o
acompanhante de livre escolha.
Tudo isso é violência obstétrica.
Uma forma de prevenir a violência
obstétrica é fazer o Plano de Parto,
que é um documento em que a
mulher diz o que quer e o que não
quer durante o parto. Este deve ser
respeitado, salvo em caso de risco
de vida da mãe e/ou do bebê. O
Plano de Parto deve ser entregue na
hora da internação, para ser
anexado ao prontuário, e outra cópia
fica com a mulher.
83
CAPÍTULO
15
TESTAMENTO VITAL
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TESTAMENTO VITAL
85
TESTAMENTO VITAL
no contexto da Covid-19, estar ciente e pela qual tudo deve ser feito, mesmo
consciente de que poderá ficar em que o tratamento seja inútil e cause
estado tão grave que não seja mais sofrimento atroz ao paciente terminal.
possível falar-se em reversão da doença. Quer dizer, na realidade, não objetiva
Assim o Testamento Vital será a voz do prolongar a vida, mas o processo de
paciente quando, diante de um estado morte, e por isso também é chamada
de saúde grave, ele não puder mais de “morte lenta”, motivo pelo qual
falar. admite-se que o médico suspenda
É importante mencionar alguns procedimentos e tratamentos,
institutos do Biodireito: garantindo apenas os cuidados
(a) eutanásia, também chamada “boa necessários para aliviar as dores, na
morte”, “morte apropriada”, suicídio perspectiva de uma assistência
assistido, crime caritativo, morte integral, respeitada a vontade do
piedosa, assim entendida aquela em paciente ou de seu representante
que o paciente, sabendo que a doença legal.
é incurável ou ostenta situação que o
levará a não ter condições mínimas de Vale à pena colacionar, na íntegra, a
uma vida digna, solicita ao médico ou a decisão proferida nos autos da Ação
terceiro que o mate, com o objetivo de
Civil Pública n°1039-86.2013.4.01.3500,
evitar os sofrimentos e dores físicas e
proposta pelo Ministério Público em
psicológicas que lhe trarão com o
face do Conselho Federal de Medicina,
desenvolvimento da moléstia; o que,
tendo como discussão a aplicabilidade
embora todas as discussões a favor e
da Resolução n° 1995/2012, que dispõe
contra, a legislação brasileira não
sobre as diretivas antecipadas de
permite;
(b) ortotanásia, que vem a ser a morte vontades dos pacientes.
no seu devido tempo, sem prolongar o
sofrimento, morte sem prolongar a Processo n° 103986.2013.4.01.3500/
vida por meios artificiais, ou além do Classe: 7100 Ação Civil Pública
que seria o processo natural, o que Requerente: Ministério Público
vem sendo entendido como possível Federal
pela legislação brasileira; quer dizer, o Requeridos: Conselho Federal de
médico não é obrigado a submeter o Medicina
paciente à distanásia para tentar salvar Decisão – Cuidam os autos de ação
a vida; civil pública proposta pelo Ministério
(c) distanásia, também chamada Público Federal em face do Conselho
“obstinação terapêutica” Federal de Medicina, visando à
(L’archementthérapeutique) e suspensão da aplicação da Resolução
“futilidade médica” (medical futility), n° 1995/2012.
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TESTAMENTO VITAL
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TESTAMENTO VITAL
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TESTAMENTO VITAL
zelar pelo perfeito desempenho ético a sua vontade quanto aos cuidados e
da Medicina e pelo prestígio e bom tratamentos médicos que deseja
conceito da profissão. Eis o inteiro receber ou não na hipótese de se
teor: encontrar em estado terminal e
Art. 2º O Conselho Federal e os irremediável.
Conselhos Regionais de Medicina são Igualmente, em exame
os órgãos supervisores da ética inicial,entendo que a Resolução é
profissional em toda a República e ao constitucional e se coaduna com o
mesmo tempo, julgadores e princípio da dignidade da pessoa
disciplinadores da classe médica, humana, uma vez que assegura ao
cabendo-lhes zelar e trabalhar por paciente em estado terminal o
todos os meios ao seu alcance, pelo recebimento de cuidados paliativos,
perfeito desempenho ético da sem o submeter, contra sua vontade,
a tratamentos que prolonguem o seu
medicina e pelo prestigio e bom
sofrimento e não mais tragam
conceito da profissão e dos que a
qualquer benefício.
exerçam legalmente.
No mais, a manifestação de vontade
Autorizado pelo citado dispositivo
do paciente é livre, em consonância
legal, o Conselho Federal de Medicina
com o disposto no art.107 do Código
editou a ResoluçãoCFMn°1.995/2012
Civil, que somente exige forma
dispondo sobre as diretivas especial quando a lei expressamente
antecipadas de vontades dos estabelecer. É de se observar que a
pacientes, tendo em vista que ”por Resolução apenas determina ao
um lado, o tema diretivas médico o registro no prontuário da
antecipadas de vontade situa-se no manifestação de vontade que lhe for
âmbito de autonomia do paciente e, diretamente comunicada pelo
por outro, que este conceito não foi paciente, não tendo determinado a
inserido no Código de Ética Médica forma de comunicação.
brasileiro recentemente aprovado” Da mesma forma, para a validade das
(fls. 27 e verso). diretivas antecipadas de vontade do
Assim, em análise sumária, entendo paciente devem ser observados os
que o Conselho Federal de Medicina requisitos previstos no art. 104 do
não extrapolou os poderes Código Civil, não sendo necessário
normativos outorgados pela Lei n° que a Resolução reitere a previsão
3.268/57, tendo a Resolução CFM n° legal.
1995/2012 apenas regulamentado a Sendo assim, ausente plausibilidade
nas alegações contidas na petição
conduta médica ética perante a
inicial, indefiro a liminar”.
situação fática de o paciente externar
Fonte
1. DADALTO, Luciana. Testamento Vital. 5ª ed. Indaiatuba: São Paulo, 2020.
2. AGRAVO DE INSTRUMENTO PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL Nº 70065995078 (Nº CNJ: 0284885- 31.2015.8.21.7000).
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CAPÍTULO
16
HOME CARE
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HOME CARE
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HOME CARE
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HOME CARE
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HOME CARE
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HOME CARE
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CONCLUSÃO
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MANUAL BÁSICO DE
DIREITO MÉDICO
E DA SAÚDE
COMISSÃO DE DIREITO
MÉDICO E DA SAÚDE
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