1. Visão histórica
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era apenas de ÁRBITRO, onde se prestigiava a conciliação entre as partes e a
aplicação de pena só em último caso, aqui temos noticia da primeira aplicação
da hoje prestigiada composição ou arbitragem.
O processo, como se sabe, é uma forma que o Estado encontra na jurisdição para
resolver os conflitos de interesses.
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O processo penal encontra-se intimamente ligado com o Direito Penal. Este
último descreve os atos punidos com a norma repressiva e o Processo Penal
serve como um instrumento da aplicação das sanções jurídicas.
O processo penal não mais é do que uma série de atos coordenados que visam
aplicar a lei penal àqueles indivíduos que infringiram uma norma descrita como
crime no Direito Material.
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Observa-se claramente que a legislação pátria adota diferentes sujeitos com
funções absolutamente separadas e independentes entre si. O Delegado de
Policia tem a função de investigar e obter indícios de autoria e de materialidade.
O Ministério Público figurando como o autor da ação penal, e também tendo a
função de fiscal da lei, e o Magistrado independente, imparcial, analisando todas
as imputações e provas colhidas, deverá julgar a lide, aplicando ou não sanção
ao acusado.
3. O ato ilícito.
São com estes últimos atos que infringem dispositivos do Código Penal que são
amparados pelo Código de Processo Penal, que dá as partes o caminho para a
aplicação da pena correspondente ao crime infringido, sempre tendo em conta o
princípio da razoabilidade, onde a pena deve ser sempre proporcional ao delito
cometido.
4. “O jus puniendi”.
Como regra geral o direito de punir pertence ao Estado, que o procura através do
Ministério Público nas ações penais públicas incondicionadas e condicionadas.
Nestes tipos de ação penal, o interesse do Estado se sobrepõe ao interesse do
particular. Via de regra, as ações penais são sempre públicas incondicionadas,
reservando o legislador para o ofendido a titularidade das ações penais públicas
condicionadas (representação do ofendido) ou as ações penais privadas
(promovidas através de queixa crime). Somente o Estado através de seus órgãos
regularmente instituídos poderá aplicar a sanção penal correspondente. Caso o
cidadão resolva agir por conta própria, aplicando aquilo que comumente
chamamos de justiça pelas próprias mãos, poderá vir a responder pelo crime de
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exercício arbitrário das próprias razões1. Observe-se, no exemplo citado no
rodapé, que acusados a pretexto de cobrar uma dívida da vítima que deveria ser
realizada através de competente ação judicial preferiram usar de outros métodos
configurando, assim o delito em comento.
Para fins de que o leitor possa compreender esta idéia observe que a
apresentação da denuncia corresponde a fase postulatória. A fase de defesa é
completada com a apresentação da resposta à acusação ou defesa preliminar, a
fase de produção de provas corresponde a oitiva das testemunhas de acusação e
defesa, interrogatório do acusado e realização de audiências, a fase decisória se
completa com a prolação de sentença pelo magistrado, podendo se for o caso
ocorrer a fase recursal caso alguma das partes não concorde com a decisão
poderá recorrer da mesma, e em caso de condenação instaura-se a fase de
execução da pena, com a aplicação da Lei 7210/84 (Lei das Execuções
Criminais).
O processo penal nada mais é do que uma série de atos que compreendem fases
distintas:
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b) a produção das provas: neste passo deve ser lembrado que o processo penal,
no campo das provas, adota o princípio da verdade real, onde o juiz pode
interferir no campo probatório caso não esteja suficientemente convencido das
alegações das partes e dentro do processo penal são admitidos vários elementos
de prova como o interrogatório do réu, a prova documental, a prova pericial, a
busca e apreensão de pessoas e coisas, os indícios e também as declarações dos
ofendidos, que ganham capital importância no caso de crimes praticados às
escondidas;
Assim este caminho é distinto para cada crime, que depende DA PENA
APLICADA A CADA UM DELES. Assim, se o crime for apenado com pena
máxima superior a quatro anos o processo seguirá o rito ordinário; se a pena
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máxima for de até quatro anos no máximo o procedimento será o rito sumário;
se o crime for de menor potencial ofensivo terá a sua tramitação de acordo com
a Lei 9.099/95 e, por fim, apenas a título exemplificativo, se o crime for doloso
tentando ou consumado contra a vida, seguirá o rito do Júri Popular, dentre
outros, que muitas vezes são previstos em legislação esparsa como por exemplo
a lei de drogas etc.
Como o processo penal é uma ciência, esta ciência se interrelaciona com demais
ciências denominadas de ciências auxiliares, visando facilitar a sua
aplicabilidade prática. O processo penal relaciona-se com as seguintes ciências:
a) Política Criminal: pois esta ciência tema a função de propiciar critérios para
apreciação do valor da norma vigente e propõe o modelo de norma que vai
vigorar. Por razões de Politica Criminal certas sanções ou comportamentos
deixam de ser punidos como por exemplo a descriminalização do delito de
adultério e de sedução que não guardam mais qualquer aplicabilidade na
sociedade moderna.
c) Medicina Legal: tendo em vista que esta ciência tem como base averiguar a
inimputabilidade do réu, sobre sua sanidade mental, as sequelas produzidas pelo
crimososo na vítima, DOS QUAIS SE CONCLUI QUE O RESULTADO
FINAL DO PROCESSO ESTÁ INTIMAMENTE LIGADO AOS EXAMES
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PERICIAIS que são elaborados pelos peritos. Também a Medicina Legal
fornece ao operador do Direito a exata compreensão da causa mortis, os meios
empregados no crime (veneno, asfixia), os tipos de lesões (contundente,
cortante, perfurante) para que sejam instrumentos preciosos na busca da
aplicação do Direito.
e) Polícia Judiciária: porque esta ciência está voltada para a descoberta dos
autores do crime, da materialidade e do “modus operandi” de cada um desses
agentes.
a) Direito Constitucional: haja vista que a Constituição é a Lei Maior, razão pela
qual todas as matérias disciplinam as condutas humanas são subordinadas as
normas consitucionais, que visam a tutela da liberdade, em que se procura como
instrumento da realização da Justiça.
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7.Fontes do Direito Processual Penal.
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a) NO TEMPO: pelo princípio da imediatidade, ou seja, a LEI PENAL TEM
APLICABILIDADE IMEDIATA, SEM PREJUÍZO DA VALIDADE DOS
ATOS REALIZADOS.
IV- Analógica: forma de interpetação que serve para suprir certas falhas, pela
impossibilidade de descrição no texto penal, remetendo a outro que os englobe.
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V- Progressiva: é aquela que visa adaptar a norma ás necessidade atuais.
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ou produção de provas quando não se sinta convencido ou seguro dos elementos
probatórios produzidos pelas partes. Observe-se: “RECURSO ESPECIAL.
DIREITO PROCESSUAL PENAL. INDICAÇÃO DO ROL DE
TESTEMUNHAS EM MOMENTO POSTERIOR. PEDIDO TEMPESTIVO.
INEXISTÊNCIA DE PRECLUSÃO E VIOLAÇÃO DO CONTRADITÓRIO.
DEFERIMENTO MOTIVADO. PRINCÍPIO DA VERDADE REAL. 1. No
processo penal da competência do Tribunal do Júri, o momento adequado para o
acusado alegar tudo que interessa a defesa, com a indicação das provas que
pretende produzir, a juntada de documentos e a apresentação do rol de
testemunhas é a defesa prévia, nos termos do artigo 406, § 3º do Código de
Processo Penal. 2. Não há preclusão se a parte, no momento da apresentação da
defesa prévia, formula pedido de indicação de rol de testemunhas a posteriori;
tampouco há violação do contraditório se o magistrado defere o pedido em
busca da verdade real e diante da impossibilidade do contato do defensor
público com o acusado. 3. Recurso improvido. (Recurso Especial nº
1.443.533/RS (2014/0065295-8), 6ª Turma do STJ, Rel. Maria Thereza de Assis
Moura. j. 23.06.2015, DJe 03.08.2015)”.
3- PRINCÍPIO DA IMPARCIALIDADE
DO JUIZ: significa independência, decisões livres, desprovidas de coação ou
ameaças. Para tanto os magistrados, tem garantias da irredutibilidade de
vencimentos, inamovibilidade e vitaliciedade. No caso em que se constata
relação de parcialidade o prejudicado poderá se valer da exceção de suspeição
apresentada por escrito, e em separado, ou no caso de suspeição do Jurado
deverá opor a mesma verbalmente no Plenário do Júri.
Veja a propósito que se reconheceu a
violação do principio da imparcialidade quando o juiz extrapola os termos da
sentença de pronúncia: “PROCESSO PENAL. EXCESSO DE LINGUAGEM.
HOMICÍDIO. PRONÚNCIA. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO
PROVIDO. PRELIMINAR. NULIDADE DA PRONÚNCIA. ACOLHIMENTO
DE UMA DAS TESES ELENCADAS NOS AUTOS. A decisão de pronúncia é
mero juízo de admissibilidade para que o Tribunal do Júri possa julgar. Não se
pode, neste momento, realizar exame aprofundado da prova, pois se o juiz
expressa claramente o acolhimento de uma das teses elencadas nos autos estará
lesionando o princípio da imparcialidade. Nulidade da pronúncia. (Recurso em
Sentido Estrito nº 2011.001483-8 (3.0523/2011), Câmara Criminal do TJAL,
Rel. José Carlos Malta Marques. j. 20.07.2011, unânime, DJe 01.08.2011).
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5- PRINCÍPIO DO LIVRE
CONVENCIMENTO: consagrado no artigo 157 do CPP, impede que o Juiz
julgue o processo, utilizando-se de conhecimento que possua fora do processo.
O que não existe no processo, não existe no mundo jurídico. O principio do livre
convencimento divide-se em livre convencimento motivado (neste caso o juiz ao
condenar ou absolver o acusado deverá faze-lo de forma motivada sob pena de
nulidade) e livre convencimento imotivado que somente é adotado no Brasil no
caso de processos de competência do Tribunal do Juri onde o jurado para
absolver ou condenar o acusado utiliza-se de uma cédula grafada com os dizeres
“sim” ou “não” onde apenas deposita seu voto sem explicitar as razoes de seu
convencimento.
Neste diapasão anote-se: “APELAÇÃO
CRIMINAL. FALSIDADE IDEOLÓGICA. ART. 299, CAPUT, CP.
ABSOLVIÇÃO. INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE.
MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS. EXAME
GRAFOTÉCNICO. DESNECESSIDADE. DOSIMETRIA. Demonstradas nos
autos a materialidade e a autoria do crime de falsidade ideológica, de forma
eficiente, impõe-se a condenação do apelante. Não há que se falar em fragilidade
do conjunto probatório quando é indene de dúvidas que o réu fez-se passar por
outra pessoa ao assinar petição inicial de ação de revisão de cláusula contratual.
Ficou comprovado que o réu inseriu declaração falsa e alterou a verdade sobre
fato juridicamente relevante. "Pelo sistema de livre convencimento motivado,
o julgador é livre na formação de seu convencimento, não estando
comprometido por qualquer critério de valoração da prova, podendo optar
livremente por aquela que lhe parecer mais convincente". (Acórdão nº
523639, 20070110843626APR, Relator: SILVÂNIO BARBOSA DOS
SANTOS, Revisor: SOUZA E AVILA, 2ª Turma Criminal, Data de Julgamento:
21.07.2011, Publicado no DJE: 03.08.2011. Pág.: 142 - grifo nosso) Recurso
conhecido e não provido. (Apelação Criminal nº 20110111721737 (895030), 2ª
Turma Criminal do TJDFT, Rel. José Carlos Souza e Ávila. j. 17.09.2015, DJe
23.09.2015)”.
6- PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE:
vigora a publicidade absoluta, segundo a qual todos os atos processuais são
públicos. Alguns processos tem seu sigilo preservado como garantia para os
envolvidos como ocorre por exemplo em processos que apuram crimes sexuais e
nos delitos de drogas. Recentemente tivemos o exemplo de decretação de sigilo
em caso de interceptação envolvendo pessoas que detinham altos cargos do
Governo Brasileiro.
7- PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO:
diretamente relacionado com o princípio do “due process of law”, segundo o
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qual o acusado goza do direito de amplitude de defesa e contrapor-se a qualquer
prova contra ele produzida. Este principio é importante visto que o acusado tem
direito de conhecer previamente da imputação que lhe é imputada, das provas
que foram produzidas e tem o direito de contrapor-se a elas utilizando-se de
todos os meios probatórios que entender necessários ao exercício de sua defesa.
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deve existir entre o fato descrito na exordial acusatória com o fato pelo qual o
réu é condenado. O desrespeito a tal regra acarreta o que chamamos de
julgamento extra, ultra ou citra petita. II - Constatado que a denúncia relata a
prática do crime descrito no artigo 332, em concurso material com os
delitos elencados nos artigos 332 e 357, sendo os dois últimos na forma do
artigo 70, do CP e que a condenação restou restrita ao artigo 332 do CP, em
concurso formal com o crime tipificado no artigo 357, do mesmo diploma
legal, deve a sentença ser anulada. (Apelação Criminal nº 1750/RJ
(98.02.19259-7), 6ª Turma do TRF da 2ª Região, Rel. Juiz Sérgio Schwaitzer. j.
15.12.2004, unânime, DJU 15.02.2005).
12- PRINCÍPIO DA
INADMISSIBILIDADE DAS PROVAS OBTIDAS POR MEIO ILÍCITO:
prova produzida por meio ilícito não é admitida em nosso ordenamento jurídico.
Trata-se da teoria da arvore dos frutos envenenados. (Fruits of the poisons tree),
onde a prova ilícita uma vez produzida causa a nulidade das provas produzidas
de forma subsequente e que guardem qualquer relação com a prova
anteriormente produzida. Neste sentido observe-se: “PENAL/PROCESSO
PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. CRIME TRIBUTÁRIO.
DENÚNCIA RECEBIDA. DECLARAÇÃO DE NULIDADE. PROVA ILÍCITA.
QUEBRA DE SIGILO BANCÁRIO SEM AUTORIZAÇÃO JUDICIAL.
ANULAÇÃO DA AÇÃO PENAL MANTIDA. I - Modificando a sistemática
anterior, com a reforma do CPP, tornou-se possível ao magistrado, até mesmo,
absolver o réu sumariamente em algumas situações (Código de Processo Penal,
artigo 397) e, se, conforme o caso, o juiz pode absolver sumariamente o réu,
com muito mais razão pode acolher questões preliminares tendentes à rejeição
da denúncia ou ao reconhecimento de nulidades processuais, máxime quando se
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tem que o artigo 396-A do Código de Processo Penal expressamente permite ao
réu "arguir preliminares e alegar tudo o que interesse à sua defesa". II -
Verificando-se o desenrolar do procedimento administrativo instaurado para
apurar crimes tributários, anota-se, inicialmente, que o sigilo bancário dos réus
foi quebrado diretamente pelo Fisco, sem prévia autorização judicial para fins
de constituição de crédito tributário, o que enseja flagrante constrangimento
ilegal. Precedentes. III - Com efeito, a quebra do sigilo bancário para
investigação criminal deve ser necessariamente submetida à avaliação do
magistrado competente, a quem cabe motivar concretamente seu decisum, nos
termos dos artigos 5º, inciso XII e 93, inciso IX, da Constituição Federal. IV -
Não pode a Receita Federal, órgão interessado no processo administrativo e
tributário, sem competência constitucional específica, fornecer dados obtidos
mediante requisição direta às instituições bancárias, sem prévia autorização
judicial, para fins penais. V - Recurso ministerial improvido para manter a
declaração da ilicitude das provas obtidas por meio da quebra de sigilo
bancário dos recorridos e a rejeição da denúncia por ausência de justa causa
para o exercício da ação. (Recurso em Sentido Estrito nº 000.4584-
37.2013.4.03.6111, 11ª Turma do TRF da 3ª Região, Rel. Cecilia Mello. j.
07.04.2015, unânime, DE 14.04.2015)”.
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investigação e de pericia ao seu dispor na investigação, qualquer dúvida na
instrução ou nos elementos de prova, militará em favor do acusado.
Neste diapasão assinala-se:
“APELAÇÃO. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. MATERIALIDADE
INCERTA. INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. PRINCÍPIO DO "IN DUBIO PRO
REO". SENTENÇA CONDENATÓRIA REFORMADA. Caso permaneça incerta
e nebulosa a comprovação da materialidade delitiva, mesmo após exaustivos
procedimentos de investigação, presume-se inocente o acusado de constranger
mulher a com ele praticar ato libidinoso diverso de conjunção carnal, no
interior de Unidade Militar. O convencimento judicial apto a cristalizar um
juízo de condenação deve repousar sobre circunstâncias objetivas, com lastro
probatório nos autos; do contrário, impõe-se, como única medida, a absolvição.
Apelo defensivo provido. Decisão unânime. (Apelação nº 79-
67.2012.7.03.0103/RS, STM, Rel. José Américo dos Santos. j. 29.04.2014, DJe
13.05.2014)”.
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O dolo na conduta do réu de satisfazer a sua lascívia constrangendo a vítima à
conjunção carnal ou à prática de ato libidinoso diverso da conjunção carnal,
utilizando-se de violência, se coaduna com o previsto para o crime de estupro e
não com o de lesão corporal. 4. Recurso não provido. (Apelação nº 0005143-
12.2013.8.01.0001, Câmara Criminal do TJAC, Rel. Francisco Djalma. j.
19.11.2015)”.
15 - DIREITOS DO CIDADÃO
BRASILEIRO: A Constituição da República Federativa do Brasil, considerada
por muitos como a denominada Constituição cidadã, previu no artigo 5º.
Intitulado dos direitos e das garantias individuais, vários direitos ao cidadão
brasileiro, dentre eles, podemos citar os principais:
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liberdade, desde que primário, portador de bons antecedentes, com trabalho e
residência fixa, e desde que não estejam presentes os requisitos para a
decretação de sua prisão preventiva ou cautelar, sendo assim, prestigia-se a
orientação de que a prisão para ser decretada depende da existência de
elementos de prova de que a prisão é extremamente necessária;
i) fiança e liberdade provisória, que são
institutos que complementam o direito de liberdade, e apenas en passant, o
acusado terá direito a fiança na fase de investigação, a ser arbitrada pelo
Delegado de Polícia quando a pena máxima cominada ao crime for até quatro
anos, e em sendo superior a quatro anos a análise deste cabimento caberá ao Juiz
de Direito, que poderá também aplicar medidas cautelares alternativas à prisão.
Reserva-se a liberdade provisória sem fiança quando o acusado for pobre e não
tiver condições de adimplir o pagamento do valor fixado a titulo de fiança;
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exposição detida das razões de seu convencimento a respeito da materialidade
e dos indícios de autoria delitiva, sem, contudo, emissão de juízo de certeza
quanto à condenação nem incursão no mérito da causa. Deve o magistrado
ater-se aos limites da admissibilidade da acusação, submetendo o acusado a
julgamento pelo Tribunal do Júri, descrevendo os fatos imputados, os indícios
de autoria e a prova da materialidade delitiva. Trata-se, tão somente, de
decisão de viabilidade procedimental do Júri. 2. Ao tempo em que a lei limita a
fundamentação da sentença de pronúncia, o art. 93, inciso IX, da Constituição
da República, exige a explicitação suficiente dos fundamentos de qualquer
decisão judicial, sob pena de nulidade. 3. No caso dos autos, a sentença de
pronúncia carece de uma fundamentação mínima, quanto às qualificadoras,
pois a simples invocação das mesmas com a reprodução dos termos legais, não
constitui motivação idônea. Precedentes do STJ e desta 2ª Câmara
Especializada Criminal. 4. Recurso provido, contrariando o parecer do
Ministério Público Superior, para que outra sentença de pronúncia seja
proferida, atendendo ao disposto no art. 93, IX, da CF/88, inclusive quanto às
qualificadoras. (Recurso em Sentido Estrito nº 2013.0001.000477-2, 2ª Câmara
Especializada Criminal do TJPI, Rel. Erivan José da Silva Lopes. j. 21.05.2013
unânime).
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Estes princípios serão aqui relacionados
por guardarem com o Direito Processual Penal, intima e inseparável correlação,
e que são indissociáveis e que merecem uma análise por fazerem parte de um
estudo sistemático da matéria.
Reserva absoluta da lei - Assim, somente uma lei que tenha sido aprovada
através de um processo legislativo adequado pode criar crimes e suas
respectivas penas.
a) Princípio da dignidade da pessoa humana – (art. 1.º III e art. 5.º incisos III
e XLVII da CF) – no sentido de que todas as pessoas devem ser tratadas com
dignidade e não serem exposta a situações degradantes e vexatórias, além de não
se admitir algumas práticas que ofendam a dignidade do homem como ser
humano, tais como a tortura, tratamento desumano ou degradante, e ainda,
proíbem penas e morte (salvo m caso de guerra), prisão perpétua, trabalhos
forçados, banimento e outras penas cruéis.
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b) Princípio da Taxatividade e vedação ao emprego da analogia – a lei penal
deve ser precisa, uma vez que somente haverá crime se o fato considerado
criminoso se corresponder perfeitamente ao que estabelece a lei.
Assim, o princípio da taxatividade que deriva do princípio da legalidade ao
prever que “não haverá crime sem lei que o defina”, deixou claro que tem de
haver definição expressa da conduta delituosa com todas as suas
circunstâncias, para somente após verificar a perfeita pratica da conduta
delituosa pelo agente.
Desta forma, o princípio da taxatividade proíbe a utilização de analogia em
normas incriminadoras, pois, para se punir exige-se o perfeito enquadramento
da conduta ao texto da lei.
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autolesão quando for para fraudar seguro – Art. 171 do CP e também quem
auxilia a pratica do suicídio – art. 122 do CP);
f) Princípio da adequação social – importante princípio, uma vez que é ele que
orientará os legisladores e juristas, no sentido de se deixar de punir alguma
conduta, pelo fato de que a sociedade não mais afronta o sentimento social de
justiça. (obs. não revoga a lei, somente deixa-se de punir)
Assim, se uma conduta que é tida como criminosa pela lei, passa a ser aceita
pela sociedade como algo inofensivo a vida em sociedade, será invocado o
princípio da adequação social para revogar a lei (somente com uma lei é
possível revogar outra lei), ou, será utilizado pelo jurista, para deixar de punir
alguém sobre um fato criminoso.
Note-se: “PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIME AMBIENTAL. PESCA
DE PEQUENA QUANTIDADE DE PEIXES NO PERÍODO DO DEFESO.
FALTA DE ADEQUAÇÃO SOCIAL NA CONDENAÇÃO. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. APLICABILIDADE. RECURSO DESPROVIDO. 1. O
acusado foi denunciado, nos termos do art. 34, c/c art. 36 e art. 52, todos da Lei
9.605/98, por ter sido flagrado pescando em período proibido, no interior da
Estação Ecológica do Cuniã, tendo consigo uma espingarda Boito, três
malhadeiras, dois catitus abatidos, conduta que, a despeito da tipificação penal
formal, foi considerada pela sentença, de forma correta (e razoável), como
praticada em estado de necessidade (fl. 124). 2. Não fora isso, o fato de o
agente portar uma espingarda, duas redes de pescar e dois porcos do mato
abatidos, não justifica a instauração de ação penal em seu desfavor, por
absoluta falta de adequação social, o que aconselha a aplicação, em caráter
excepcional, do princípio da insignificância, causa supralegal de exclusão de
tipicidade. 3. Recurso em sentido estrito desprovido. (Recurso em Sentido
Estrito nº 0009860-09.2013.4.01.3200/AM, 4ª Turma do TRF da 1ª Região, Rel.
Olindo Menezes. j. 25.08.2015, unânime, e-DJF1 10.09.2015)
24
A jurisprudência tem prestigiado a tese do princípio da insignificância segundo
se observados dos seguintes julgados:
25
paciente, cuja absolvição sumária foi cassada em segunda instância, teria tentado
subtrair uma garrafa de whisky (R$ 32,00), ação que não se consumou por
circunstâncias alheias à sua vontade. 3. A tentativa de subtração de valor
equivalente a 4,5% do salário mínimo então vigente evidencia a escassa
ofensividade penal e social da conduta, reconhecida pelo Juiz de primeiro grau.
4. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para confirmar os
efeitos da liminar e restabelecer a decisão de primeiro grau, que absolveu
sumariamente o paciente. (Habeas Corpus nº 327.577/SP (2015/0144934-7), 6ª
Turma do STJ, Rel. Rogerio Schietti Cruz. j. 06.10.2015, DJe 29.10.2015).
a) O interesse:
b) o conflito de interesses:
26
quando um membro da coletividade infringe um interesse comum, qual seja, a
preservação da paz social evitando os atos criminosos.
c) a Relação Jurídica:
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A lide perturba a paz social, e é dever do Estado
preservar a paz social e no caso em que o direito objetivo foi violado cabe ao
ente estatal intervir, para restabelecer o “status quo ante”.
d) O processo:
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De outro lado temos, também para validação do
processo os denominados PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS. Os pressupostos
processuais tem grande importância porque deles dependem o
DESENVOLVIMENTO VÁLIDO E REGULAR DO PROCESSO.
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O processo penal tem como finalidade primordial e específica disciplinar
as normas jurídicas concernentes à aplicação e dosagem correta da pena,
atribuindo ao autor do fato típico a sanção correspondente a norma jurídica
violada.
Como foi visto, nosso ordenamento jurídico adota o sistema inquisitório,
ou seja, existe uma investigação anterior e se for caso um processo judicial em
seguida. Para melhor compreensão, a primeira fase é de investigação, de caráter
administrativo, e a segunda de julgamento, de característica judicial.
Dentro da processualística brasileira, o processo penal é o ramo mais
importante do Direito, haja vista que disciplina e decide sobre o “status
libertatis” do cidadão brasileiro.
O inquérito policial nada mais é do que o conjunto de diligências
realizadas pela polícia judiciária, com a finalidade de apurar a autoria e a
materialidade de uma infração penal, para que o titular da ação penal possa
ingressar em juízo pedindo a aplicação da lei ao caso concreto.
A persecução penal divide-se em duas fases distintas: a fase
administrativa e a fase judicial. A primeira fase é realizada através do Inquérito
Policial e a segunda fase é realizada em Juízo, pelo órgão acusatório (Ministério
Público ou o ofendido).
Note-se para aqueles que militam na esfera criminal: para aqueles delitos
cuja a pena máxima é igual ou inferior a dois anos, a fase investigatória se
realiza mediante termo circunstanciado de ocorrência, valendo dizer que a
competência para julgamento dos crimes de menor potencial ofensivo será do
Juizado Especial Criminal. Reserva-se, por exclusão, que o inquérito policial é
destinado a apuração de delitos que tenham pena máxima superior a dois anos.
Posto isto, concluímos que a finalidade do Inquérito Policial é a de
apurar a ocorrência de uma infração penal, sua materialidade e conseqüente
autoria.
O Inquérito Policial é uma peça meramente investigatória, escrita e
sigilosa. É através deste procedimento administrativo, realizado pela polícia
judiciária, que se colhem elementos e evidências necessárias para fundamentar
uma eventual ação penal.
São estas as principais características do inquérito policial:
30
b) Peça Escrita: o Inquérito Policial é sempre escrito, atualmente ele é
datilografado ou digitado.
31
ilegal, passível de impetração de ordem de Habeas Corpus contra a Autoridade
Coatora.
O Inquérito Policial é instaurado:
32
exclusivamente em inquérito policial, pois se viola o princípio constitucional do
contraditório” (RTJ 59/786 e 67/74). E ainda: “A prova consubstanciada
somente no inquérito policial, desagregada, portanto da garantia do
contraditório, não pode servir de exclusivo apoio para uma sentença
condenatória” (RT 751/679). JULIO FABBRINI MIRABETE aduz sobre o tema
que: “O inquérito policial tem valor informativo para a instauração da
competente ação penal, como instrução provisória, de caráter inquisitivo que é.
Não se pode, pois, fundamentar uma decisão condenatória apoiada
exclusivamente no inquérito policial, o que contraria o princípio
constitucional do contraditório” (in Código de Processo Penal Interpretado,
Atlas, p. 89).
33
A Autoridade Policial jamais poderá arquivar qualquer Inquérito
Policial, haja vista que se trata de atribuição do Juiz de Direito, após
manifestação do órgão do Ministério Público.
Sendo arquivados os autos de Inquérito Policial, pelo Juiz, a pedido do
Ministério Público não pode ser iniciada a Ação Penal sem novas provas. Veja a
este respeito a Súmula 524 do STF.
A classificação da infração penal pela Autoridade Policial é sempre
provisória, podendo ser alterada a qualquer tempo pela Denúncia ou pela
sentença.
O Réu Menor é aquela pessoa que é menor de 21 (vinte e um) anos e
maior de 18 (dezoito anos) quando da prática do delito.
Curador é aquela pessoa que acompanha o menor acusado evitando
constrangimento ou abusos contra ele na fase policial ou em Juízo. Age o
curador como defensor dos direitos do acusado na fase policial e na fase judicial.
Na fase policial a falta de curador constitui mera irregularidade, mas no
caso de prisão em flagrante delito a presença do curador é essencial, sob pena de
relaxamento da prisão em flagrante. Já na fase judicial, a ausência do curador
para defender os interesses do acusado implica em nulidade, pois se trata de
formalismo indispensável e necessário.
Como dito alhures, o curador pode ser qualquer pessoa, mas entendemos
que deve ser preferentemente um advogado, visto que o profissional é o
responsável pela defesa, do acusado em Juízo quando da ação penal. Não há
exigência legal quanto a qualidade profissional do curador nomeado para assistir
o acusado na fase policial, podendo a designação recair sobre acadêmico
estagiário ou qualquer pessoa idônea. Não pode, porém, ser curador, analfabeto
e sem condições de exercer o múnus.
A Identificação Datiloscópica nada mais é que a identificação criminal
do autor da infração penal através de uma planilha, onde é colhido pela
Autoridade Policial, os dados pessoais e sua identificação pelo meio de colheita
de impressões digitais.
A Constituição Federal dispõe que o civilmente identificado não será
submetido a identificação criminal. Utiliza-se para tal fim, a Carteira de
Identidade ou meio equivalente. Existindo dúvida a respeito da identidade do
acusado (v.g. quando há suspeita de uso de documento falso), poderá ser o
acusado identificado criminalmente. Tal procedimento ocorre nos casos em que
existem fortes presunções de autoria e materialidade do delito, quando existe
praticamente certeza e convicção de que o acusado seja o autor do crime a ele
imputado.
Se houver dúvida, é melhor que o acusado seja ouvido em Declarações,
sendo indiciado “a posteriori” quando existir nos autos elementos de convicção
que apontem o acusado como autor do delito. No meio policial indiciamento é a
mesma coisa de “fichado”.
34
Em termos jurídicos, pode-se conceituar indiciamento como
simplesmente “a formalização da acusação, por existir contra os acusados
elementos de convicção que levem a conclusão da autoria do delito”.
Existindo algum eventual vício no Inquérito Policial, este vício não
anula a ação penal, uma vez que se trata de peça meramente informativa,
inquisitória e administrativa. Nunca se deve falar em nulidade da ação penal por
vício contido no Inquérito Policial.
O mero indiciamento em inquérito policial não constitui
constrangimento ilegal a ser sanado por intermédio de hábeas corpus. Todavia,
já existe entendimento que o indiciamento de acusado após o oferecido de
denúncia é incabível, sendo o remédio heroico o instrumento jurídico para sanar
tal irregularidade.
A propósito do tema confira-se o seguinte entendimento:
HABEAS CORPUS. CRIME TIPIFICADO NA LEI 8.666/1993 (LEI
DE LICITAÇÕES). INDICIAMENTO FORMAL DETERMINADO PELO
JUÍZO APÓS O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. DESNECESSIDADE.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. 1. O indiciamento - ato
pelo qual a autoridade policial aponta determinada pessoa como a autora
do ilícito em apuração -, por si só, não configura constrangimento ilegal em
relação àquele que seja suspeito da prática de ilícito penal. No entanto,
quando o procedimento é formalizado após o recebimento da denúncia,
torna-se ato abusivo, desnecessário e injustificável. 2. No caso, o Juiz, ao
receber a denúncia, determinou, entre outras providências, o indiciamento
formal da paciente, o que revela a ocorrência do constrangimento ilegal. 3.
Ordem concedida para determinar a exclusão do indiciamento realizado em
desfavor da paciente. (Habeas Corpus nº 318.605/SP (2015/0053264-6), 5ª
Turma do STJ, Rel. Reynaldo Soares da Fonseca. j. 19.11.2015, DJe
25.11.2015).
O princípio do contraditório é inaplicável ao inquérito policial, posto que
inexista instrução criminal e sim investigação criminal de natureza inquisitiva.
Nada impede que a autoridade policial de uma circunscrição investigue
delito praticado em outra, que repercuta em sua competência.
A decisão condenatória baseada exclusivamente no inquérito policial
contraria o princípio constitucional do contraditório. Em outra oportunidade o
STF decidiu que o inquérito policial não pode servir como suporte para uma
decisão condenatória, porque as provas testemunhais só adquirem valor
probatório quando repetidas em Juízo.
O inquérito policial não é imprescindível ao oferecimento da denúncia
ou da queixa, desde que a peça acusatória tenha fundamento em dados de
informação suficientes à caracterização da materialidade e da autoria do delito.
O desconhecimento da autoria do crime não impede a instauração do
Inquérito Policial, haja vista que o inquérito tem como finalidade apurar a
materialidade e a autoria do delito. A autoridade policial ao tomar conhecimento
35
da prática de um crime deve sempre instaurar o Inquérito, não se trata de
faculdade, mas sim de dever. Nos crimes de ação penal pública condicionada a
representação, o delegado não pode instaurar o inquérito sem o oferecimento da
representação, que é uma condição de procedibilidade.
A não nomeação de curador a indiciado menor durante o Inquérito
Policial não tem nenhuma conseqüência.
Constitui constrangimento ilegal o desarquivamento de inquérito policial
e conseqüente oferecimento de denúncia e seu recebimento sem novas provas.
Ao revés, o desarquivamento de inquérito policial diante de outros elementos de
prova, não constitui nenhum constrangimento ilegal. Novas provas são somente
aqueles elementos probatórios que produzem alguma alteração probatória sobre
a materialidade e a autoria do delito, devendo ser inovadora.
É irrecorrível o despacho que determina o arquivamento ou
desarquivamento do Inquérito Policial, não cabendo recurso de qualquer
espécie. O arquivamento do inquérito policial não pode ser feito de oficio pelo
juiz, sem ouvir previamente o órgão do Ministério Público.
O inquérito policial é instaurado de acordo com a localidade que se
consumou a infração, também não se impede que o inquérito policial seja
distribuído pela competência em razão da matéria (tóxicos, roubo a banco,
delegacia da mulher).
O professor Júlio Fabrini Mirabete entende que a incomunicabilidade foi
revogada pela nova Constituição, asseverando que o preso, quando no país for
decretado o Estado de Sítio, é vedada a sua incomunicabilidade, entendendo
assim o legislador na situação especial, porque então não aplicá-la na situação
geral? Já o professor Damásio E. De Jesus entende de forma diversa.
O Delegado de Polícia tem livre arbítrio no Inquérito, pode ele, por
exemplo, ouvir 3 testemunhas, como ouvir 50 testemunhas, a sua função é
angariar provas e elementos sobre a materialidade e a autoria do delito.
O juiz ao deferir a dilação de prazo deve sempre fixar novo prazo para a
conclusão do Inquérito Policial, prazo este nunca superior a 30 (trinta dias).
Por fim, deve ser acrescentado que com o advento da Lei 9.009/95, não
se instaura mais inquérito policial nos crimes de menor potencial ofensivo 3 e nas
contravenções penais, mas sim um Termo Circunstanciado de Ocorrência.
Referida matéria será tratada com maior profundidade no capítulo
inerente aos Juizados Especiais Criminais.
36
Entretanto, existem delitos em que o interesse do ofendido à repressão do delito
se sobrepõe ao interesse do Estado.
Isto ocorre no caso dos crimes averiguados por intermédio da Ação Penal
Privada, segundo o qual o Estado transfere ao particular o direito de perseguição
e de acusação (jus acusationis).
De uma maneira bem didática, podemos assim distinguir quando a
titularidade é do Estado ou é do Particular.
A Ação Penal Privada tem início por intermédio de uma peça processual
denominada de Queixa Crime, que, grosso modo, é a mesma coisa que a
Denúncia, nos crimes de Ação Penal Pública Incondicionada ou Condicionada à
Representação. Deve ser mencionado que para a instauração de inquérito
policial ou de termo circunstanciado de ocorrência para apuração de delitos de
alçada privada, sempre será necessário que o ofendido apresente requerimento
por escrito a Autoridade Policial. Caso este requerimento seja indeferido pelo
Delegado de Policia, o interessado deverá apresentar recurso ao Secretário de
Segurança Pública, conforme fora anteriormente mencionado quando tratamos
do tema no capítulo do inquérito policial.
A Queixa Crime deve ter os mesmos requisitos da Denúncia, que são os
seguintes:
a) a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias;
b) a qualificação do acusado ou esclarecimentos que possam identificá-lo;
c) a classificação do crime;
d) quando necessário, o rol de testemunhas.
37
É requisito essencial que a procuração “ad judicia” outorgada ao
advogado do ofendido para a propositura da Queixa Crime contenha em seu
corpo, os poderes especiais que autorizam aquele profissional do Direito a
propor a Queixa Crime e que na própria procuração este narre
pormenorizadamente os fatos tidos como delituosos - “narração sucinta dos fatos
criminosos”4.
Também são requisitos da Queixa Crime, “ex vi” do artigo 43 do Código
de Processo Penal:
Nenhum crime apurado através de Ação Penal Privada pode ser feito
através do Ministério Público, pois falta a este legitimidade para agir, atuando o
Ministério Público na Ação Penal Privada, como apenas e tão somente “custos
legis”- fiscal da lei.
Para a instauração do inquérito policial nos crimes de ação penal privada,
a “conditio sine qua non” é o requerimento por escrito do ofendido à Autoridade
Policial para que ela comece o procedimento criminal contra o ofensor da norma
penal.
Antes do advento do Estatuto da Mulher Casada, a mulher não podia, sem
o consentimento (outorga uxória) do marido, promover a Ação Penal Privada,
segundo o que dispunha o artigo 35 do Código de Processo Penal.
Hoje, com o advento na nova Constituição Federal, a mulher pode
livremente promover e oferecer a Queixa Crime, mesmo sem a autorização de
seu marido.
Como em todos os demais crimes, o Inquérito Policial é desnecessário
para o oferecimento da Queixa Crime, desde que o ofendido possua em mãos
peças informativas com as quais se conclua a existência de indícios suficientes
de autoria e de materialidade. Caso contrário, o Inquérito Policial torna-se
necessário e pode até ocorrer que a Queixa Crime seja rejeitada pelo Juiz por
falta de justa causa. A Queixa Crime somente pode ser oferecida pelo ofendido
ou pelo seu representante legal.
Para sabermos se um crime se processa pelo intermédio de Ação Penal
Privada, basta atentarmos para a Parte Especial do Código Penal, onde constará
4
Observe-se que a queixa foi rejeitada neste caso, por defeito de representação: “APELAÇÃO CRIMINAL.
DEFEITO NO INSTRUMENTO DE PROCURAÇÃO. AUSÊNCIA DE MENÇÃO AO FATO DELITUOSO
NEM TAMPOUCO DOS ARTIGOS QUE TIPIFICAM A CONDUTA DOS QUERELADOS. AUSÊNCIA DE
ASSINATURA NA QUEIXA CRIME. REQUISITO ESSENCIAL. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 44 DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. TRANSCURSO IN ALBIS DO PRAZO PARA APRESENTAÇÃO DA
AÇÃO PENAL PRIVADA. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.
(Processo nº 0034043-59.2012.8.16.0021/0, 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais/PR, Rel. Leonardo Silva
Machado. Publ. 23.03.2015).
38
a expressão “somente se procede mediante queixa”. Contendo esta expressão o
crime será averiguado mediante Ação Penal Privada.
A Ação Penal Privada Personalíssima é aquela ação penal privada que só
pode ser promovida pelo ofendido. Somente o ofendido pode exercer o “jus
puniendi”. São exemplos de Ação Penal Personalíssima: o adultério (artigo 240
do Código Penal, dispositivo hoje revogado e cuja a menção é apenas e tão
somente a titulo de exemplo) e induzimento a erro essencial e ocultação de
casamento (artigo 236 do Código Penal). Neste passo, deve ser registrado que
atualmente a única possibilidade de ação penal privada personalíssima é o caso
de ocultação de vício de casamento (CP, art. 236), tendo em vista que o delito de
adultério foi revogado pela Lei 11.106/05, típico caso de abolitio criminis.
Temos os seguintes princípios da ação penal privada:
39
passar o prazo de seis meses e não ajuíza a queixa crime ou quando no caso
de ação penal publica condicionada deixa de representar contra o autor do
fato no prazo de seis meses, contados em ambos os casos, o prazo da data
em que o ofendido vem a ter o conhecimento de quem é o autor do fato, e
não da data de ocorrência do ilícito.
Caso haja a morte do ofendido, o direito de perseguir na ação penal
privada se transfere ao cônjuge, ascendente ou descendente, nesta ordem.
Deve ser observado que, no caso de ação penal personalíssima, se o
ofendido tenha falecido, opera-se a extinção da punibilidade do ofensor.
O Querelante é quem promove a Queixa Crime e pode ser o ofendido ou
seu representante legal (vítima). Denomina-se Querelado a pessoa contra quem é
proposta a Queixa Crime, ou seja, aquele que violou o tipo penal (réu ou
acusado).
Assim, quem promove a ação penal privada é o querelante e contra quem
é promovida a ação penal privada é o querelado.
A queixa-crime e conseqüentemente a ação penal privada tem algumas
particularidades que devem ser observadas, sob pena de extinção da
punibilidade, senão vejamos:
II- Renúncia: nos crimes apurados mediante ação penal privada, somente
o ofendido ou seu representante legal pode exercer o direito de queixa. Diante de
tal fato, nada impede que as partes desistam de iniciar o processo criminal contra
o ofensor da norma penal.
A renúncia do direito de queixa é a abdicação do ofendido ou de seu
representante legal no direito de promover a ação penal privada, extinguindo a
punibilidade do agente. Ela será possível antes do início da ação penal privada,
pois a renúncia obsta o oferecimento da queixa crime, isto se exercida dentro
dos seis meses previstos para o exercício da ação penal privada. A renúncia
então é um ato unilateral que ocorre antes de ser proposta a queixa crime.
São dois tipos de renúncia: a Expressa e a Tácita. A Renúncia Expressa é
aquela que consta uma declaração assinada pelo ofendido, por seu representante
legal ou pelo procurador com poderes especiais em que o ofendido não mais
deseja processar o seu ofensor.
40
Já a Renúncia Tácita consiste na prática de atos pelo ofendido
incompatíveis com a vontade deste ver ser processado o seu agressor. Por
exemplo, “A” injuria “B” e “A” posteriormente chama “B” para ser padrinho de
batismo de seu filho.
III- Perdão do Ofendido: é o ato pelo qual, iniciada a ação penal privada,
o ofendido ou seu representante legal desiste do seu prosseguimento. É causa de
extinção da punibilidade, e só cabível na ação penal privada. O perdão pode ser
oferecido na ação penal privada depois de iniciada a ação e até antes de transitar
em julgado a sentença e extinguirá a punibilidade do agente se aceito pelo
mesmo, não afetando eventuais direitos na seara cível.
Diferencia-se o perdão da renúncia, porque o perdão é um ato bilateral e
ocorre depois de ajuizada a queixa crime, e a contrário da renuncia, para
que ocorra a extinção da punibilidade pelo perdão, necessário se faz a
aceitação do querelado.
Temos o Perdão Processual que é aquele concedido nos autos da ação
penal privada; o Perdão Extraprocessual que é aquele concedido fora dos autos
da ação penal privada; o Perdão Expresso que é o perdão contido em declaração
assinada pelo ofendido, por seu representante legal ou por seu procurador com
poderes especiais e ainda temos o Perdão Tácito que resulta da prática de ato
incompatível com a vontade de perseguir na ação penal privada. Exemplos de
Perdão tácito são a readmissão do querelado pelo empregador querelante ou
apoio político ao Prefeito querelado.
Quanto à Titularidade do perdão, convém ressaltar que só o querelante
pode oferecer o perdão e que o instituto jurídico do perdão não se presume.
A Aceitação do perdão só se dá pelo querelado e constitui-se em um ato
bilateral, haja vista que depende da vontade do mesmo. Se o querelado é menor
de 21 anos e menor de 18 anos cabe a aceitação do perdão ao querelado ou a seu
representante legal, mas a aceitação de um e recusa de outro não produz efeito
jurídico algum.
Quando a proposta de perdão for feita de forma extraprocessual, como por
exemplo, uma Declaração e esta for juntada no processo, o querelado deve ser
intimado no prazo de 03(três) dias, sobre a aceitação ou não, e caso fique silente,
o seu silêncio será interpretado como aceitação tácita. Aceito o perdão pelo
querelado, extingue-se a punibilidade do agente, não se podendo mais provar
nada sobre a inocência daquela pessoa que aceitou o perdão.
41
a) quando iniciada esta, o querelante deixa de promover o andamento do
processo durante 30(trinta) dias seguidos, ou seja, o processo fica paralisado,
sem prática de ato processual pelo querelante pelo prazo de trinta dias, como por
exemplo, deixar de recolher uma diligência ou praticar qualquer ato processual;
b) quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo a sua incapacidade, não
comparecer a Juízo, para prosseguir o processo dentro de 60(sessenta dias) o
cônjuge, ascendente, descendente ou irmão;
c) quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado a
qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o
pedido de condenação nas alegações finais;
d) quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar
sucessores.
42
- QUAL OS RECURSOS DA REJEIÇÃO DA QUEIXA e DO SEU
RECEBIMENTO?
Caso o juiz não receba a denúncia ou a queixa crime, o recurso cabível será o
recurso em sentido estrito. Quanto a decisão que recebe a denuncia não
previsão no CPP, de qualquer recurso, todavia, o interessado poderá valer-se de
ordem de habeas corpus alegando por exemplo ausência de justa causa para o
exercício da ação pena.
- Ação Penal nos delitos sexuais: art. 225 (Lei 12.015/09) – ação penal
pública condicionada como regra geral. Na lei antiga a ação penal era
privada. Quando a vítima é menor de 18 anos ou vulnerável a ação penal
passa a ser a ação penal pública incondicionada.
A ação civil “ex delicto” tem como finalidade propiciar a reparação dos danos
causados à vítima por um agente que cometeu um crime. Obviamente que a
prática de um crime causa prejuízos a vitima, como por exemplo, o dano
material, o dano estético, as perdas e danos e até mesmo o dano moral, que
podem ser exigidos daquele que cometeu o ilícito penal, sendo portanto, um
efeito da sentença condenatória o direito da vítima em ser ressarcida ou
indenizada pelos prejuízos causados.
O Código Penal em seu artigo 91, I, aduz que a sentença condenatória como
efeito a de tornar certa a obrigação de reparar o dano. Observe-se que o artigo 91
do Código Penal afirma textualmente que torna certa a obrigação de reparar o
dano, e assim sendo, a sentença penal condenatória transitada em julgado não
permite mais ao autor do dano questionar a existência de dolo, culpa, na esfera
cível, eis que estas questões já foram decididas na esfera criminal.
Quando uma sentença transitada em julgado – aquela que não cabe mais recurso
de espécie alguma - , uma de suas características é a de se transformar em título
executivo, seja porque se transformou em imutável e indiscutível.
A sentença condenatória da esfera penal transforma-se em um título executivo,
da qual a sua característica mais marcante é a de que na esfera cível não mais se
discutirá se houve a culpa, o dolo, mas sim o valor devido a título de
indenização.
43
Não se discute o “an debeatur”, mas sim o “quantum debeatur”, em suma, a
discussão apenas debaterá valor dos danos, não se cogitando mais de outras
questões que já foram decididas na esfera cível.
A ação civil reparatória dos danos causados é promovida contra o autor do
crime, havendo sua falta, permite-se a substituição no polo ativo, no caso de
morte do ofendido pelo seu herdeiro ou pelo seu representante legal.
Não é nunca demais lembrarmos que, por preceito constitucional, que a pena
não passará da pessoa do criminoso, lembrando sempre que no caso de dano
quem responde pela sua ocorrência é o patrimônio do ofensor.
Não se discute sobre pena, mesmo porque a indenização não é pena, mas sim
decorrência e efeito da condenação. O patrimônio do ofensor passa a responder
pelos danos causados, e em caso de falecimento, o espólio passa a responder
pelos danos e os herdeiros deverão responder até os limites ou forças da herança,
qual seja, no quinhão ou percentual que haviam recebido.
Em se tratando de culpa é de suma importância lembrarmos alguns conceitos do
Direito Civil:
Culpa in eligendo – é a espécie de culpa que pune-se o agente pela má escolha.
É a culpa pela má eleição de funcionário ou de seu preposto;
Culpa in vigilando – é a espécie de culpa em que se visa coibir o descuido, a
falta de cuidado de pessoa ou coisa que estava sob a posse ou a vigilância do
agente.
44
Nada impede que o ofendido, concomitantemente, entre como uma ação na
esfera cível pleiteando a reparação do dano. Esta ação tem como fundamento
legal o artigo 185 do Código Civil.
A desvantagem de se entrar com a ação civil e a ação penal em conjunto, é a de
que primeiro pode se estar diante de decisões conflitantes, e no segundo caso o
ônus da prova é do autor na esfera cível, onde a responsabilidade civil é
extracontratual, o que significa que o autor deve provar a atitude culposa do
agente.
Nestas hipóteses, prevê a lei que o juiz do cível pode suspender o curso da ação
civil, até o julgamento na esfera penal. Só que há uma desvantagem, pois o
processo civil, fica suspenso por até um ano, não permitindo-se nova suspensão,
o que significa que, no mais dos casos do Direito Penal, em um ano quase não se
teve uma sentença de primeiro grau.
45
Mais duas observações: a indenização deve ser a mais completa possível e a
culpa concorrente no cível exclui a responsabilização civil, e havendo dano que
foi provocado pela vítima a indenização deve ser pela metade.
O caso fortuito e a força maior, a culpa exclusiva da vítima não dão ao agente o
direito indenizatório.
É importante salientarmos que:
a) existe independência entre a jurisdição civil e a jurisdição penal, e ambas as
ações podem ser propostas independentemente de qualquer condição de um
juízo ou de outro, mas deve se ter o cuidado de se suspender a ação civil até o
julgamento na esfera criminal no escopo de se evitar decisões conflitantes;
b) a condenação no crime, transforma-se em trânsito em julgado no cível, e
assim nasce o título executivo, despido da liquidez. Deve se tomar cautela
neste ponto, visto que não haverá titulo sem liquidez, e antes do ajuizamento
da ação de execução, deve a sentença penal ser liquidada. Caso isso não
ocorra, o interessado poderá insurgir-se contra esta execução através da
exceção de pré-executividade ou através de embargos do devedor, alegando a
ausência de liquidez, o que torna o titulo imprestável para o fim colimado;
c) os efeitos de uma sentença condenação abrange unicamente a parte que foi
denunciada no crime, não se estendendo ao responsável civil ou
representante legal e assim sendo, a ação de execução deve ser promovida
contra o réu exclusivamente, e caso se deseje acionar o responsável legal ou a
empresa visto que esta seria responsável objetivamente pelos atos de seus
prepostos deverá ajuizar a ação de conhecimento.
46
da ação penal, na posição de assistente de acusação, propondo meios de prova
no afã de produzir elementos de prova dos danos sofridos.
6
Manual de Processo Penal, 11ª. Edição, Editora Saraiva, São Paulo, 2008, p. 799.
7
Curso de Processo Penal, 4a. Edição, Editora Saraiva, 2009,p. 465
47
Novamente socorrendo-nos dos ensinamentos do professor EDILSON
MOUGENOT BONFIM ao comentar o principio da correlação este nos ensina
que: “no que diz respeito à causa de pedir, o principio da correlação constitui
garantia do réu. É que os fatos narrados pelo acusador constituirão, ao longo
do processo, os únicos fatos dos quais o acusado poderá e deverá se defender.
É contra aqueles fatos que se deve dirigir a prova de defesa. A inobservância
ao princípio da correlação, considerando fatos não narrados pela acusação ou
pela defesa, surpreenderia, de modo inaceitável as partes, impedindo-lhes o
exercício do contraditório e da ampla defesa. A sentença que não guardar
correlação com a acusação, será nula, porque incorrerá no cerceamento do
direito de defesa”8
Assim para que haja cominação de valor mínimo de indenização pelos prejuízos
causados pelo crime, em especial o dano material, necessário se faz que tal fato
seja devidamente narrado na denúncia ou na queixa crime, para que o acusado
possa se contrapor a acusação, exercendo seu direito de defesa, inclusive no
sentido de possa se insurgir contra a ocorrência do dano ou mesmo impugnar os
valores pretendidos. Neste caso, deve ser respeito o direito constitucional do
contraditório e da ampla defesa, devidamente assegurados no artigo 5º, inciso
LV da Constituição Federal.
Para que haja fixação dos danos na sentença necessário se faz com que haja
prova dos danos sofridos pelo ofendido, bem como ele traga aos autos prova da
ocorrência destes danos, cujo o ônus da prova a ele compete, sob pena de
configuração de sentença ultra petita, ou seja, o juiz decide o pedido, mas vai
além dele, dando ao autor mais do que fora pleiteado.
Necessário, pois, para que haja cumprimento do referido mandamento legal que
a parte lesada faça prova dos prejuízos causados pelo acusado no processo
crime, além deste pedido estar expressamente consignado na prefacial
acusatória.
8
Op. cit., p. 455
48
interesses ocorrentes. Trata-se do poder conferido ao Estado para decidir e
conhecer dos negócios e contendas surgidas no decorrer da vida em sociedade. É
o poder de fazer atuar o Direito num caso concreto, através das autoridades
judiciárias revestidas.
Deve ser assinalado que deve haver uma relação entre o pedido formulado e a
sentença a ser proferida, que é a aplicação do principio da correlação. O juiz não
pode decidir além daquilo que foi pedido pela parte, sob pena de proferir uma
sentença extra petita. A denúncia ou a queixa delimitam o poder jurisdicional do
Juiz, e assim sendo, a princípio jamais poderá o acusado ser condenado por
crime mais grave do que aquele descrito na denúncia, salvo, evidentemente as
hipóteses de mutatio libelli.
49
como a condução coercitiva e a prisão preventiva; o julgamento que é o dever do
juiz prolatar uma decisão evitando-se o non liquet (visto que jamais o juiz
poderá deixar de julgar alegando lacuna ou obscuridade da norma, devendo
fazer uso se for o caso da analogia, dos costumes, dos princípios gerais de
direito); e, por fim, a execução que se trata das medidas necessárias ao devido
cumprimento da decisão proferida.
PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO:
Pelo princípio do juiz natural o réu tem o direito de ser processado pelo Juiz
competente, que deve ter sido instituído antes da ocorrência do fato, assim
sendo, não se permite a criação dos chamados tribunais de exceção.
Pelo princípio da investidura a jurisdição somente pode ser exercida por quem
foi regularmente investido no cargo, ou seja, o Magistrado deve ter sido
aprovado em concurso público para exercício da magistratura.
50
o juiz anteriormente incompetente, pela não arguição desta situação no prazo
legal torna-se competente.
51
réu. O último critério e que somente será utilizado caso haja o desconhecimento
dos critérios anteriores (consumação e residência do réu) será a prevenção.
Assim para se fixar bem o tema: 1) competência sempre é fixada pelo lugar
onde se consumou a infração penal. Caso seja desconhecido o local onde a
infração penal se consumou passa-se ao segundo critério que é o domicilio ou
residência do réu. Sendo desconhecidos o local de consumação da infração
penal e sendo desconhecido também o local de domicilio ou de residência do
acusado, passa-se ao terceiro critério que é a prevenção (o juiz que primeiro
tomar conhecimento do fato ou praticar algum ato no processo torna-se
competente).
Também deve ser lembrado que temos a delegação de competência que consiste
na transferência provisória da competência, o que se dá, por exemplo, nos casos
de carta rogatória ou carta precatória. O instituto da prorrogação de competência
consiste na transformação do juízo incompetente em juízo incompetente, caso a
parte interessada não apresente no prazo legal, a exceção de incompetência.
52
COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA FUNÇÃO (foro especial), que são pessoas
que exercem cargo ou função pública que em razão deste cargo ou função tem o
privilégio de serem julgados em outros juízos diferentes do local onde se
consumou a infração penal, como por exemplo os Ministros de Estado,
Presidente da República que são julgados pelo Supremo Tribunal Federal.
53
O Domicílio é onde a pessoa estabelece sua residência com ânimo definitivo.
Residência é o local onde o agente fixa sua habitação. Quando o agente tiver
VÁRIOS DOMICÍLIOS, fixa a competência pela prevenção. Se o agente não
tiver domicílio fixa-se a competência pela Autoridade que em primeiro lugar
tomar conhecimento da prática do delito.
54
VINCULO QUE ENTRELAÇA DUAS OU MAIS AÇÕES A PONTO DE
EXIGIR QUE O MESMO JUIZ DELA TOME CONHECIMENTO E DECIDA.
No caso de crime que será julgado pelo Júri e outro crime que é de competência
de outro órgão: sempre prevalece o Júri, salvo o caso de foro privilegiado que
tem prevalência em relação ao crime do Juri. Imagine que uma pessoa cometa
um crime contra a vida e tenha foro privilegiado, neste caso prevalecerá o foro
privilegiado. Neste sentido anote-se: “RECURSO CRIME. PENAL.
PROCESSO PENAL. TRIBUNAL DO JÚRI. HOMICÍDIO QUALIFICADO.
RECURSO QUE IMPOSSIBILITOU A DEFESA DA VÍTIMA E MOTIVO
TORPE. SENTENÇA DE PRONÚNCIA. IRRESIGNAÇÃO DEFENSIVA.
55
ARGUIÇÃO DE DIVERSAS PRELIMINARES DE NULIDADE. TODAS
IMPROCEDENTES. MÉRITO. PROVA DA MATERIALIDADE E INDÍCIOS
SUFICIENTES DE AUTORIA. IN DUBIO PRO SOCIETATE.
IMPERATIVIDADE. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. DECISÃO
UNÂNIME. 1. Não há qualquer ilegalidade nas condutas formalizadas pela
autoridade policial responsável pelo Inquérito, mais precisamente na remessa de
cópias de seu inteiro teor ao STF e ao TJ local, em virtude do surgimento de
nomes de autoridades possuidores de foro privilegiado como participantes do
crime. Para além, não se pode olvidar que eventuais irregularidades na fase
inquisitorial não contaminam a ação, exaurida a função informativa do inquérito.
Precedentes do STJ. 2. É entendimento acertado que, em casos como tais, em
que vários réus são acusados da prática de crime doloso contra a vida, de
competência, assegurada constitucionalmente, do Tribunal do Júri, aqueles
réus que gozam de prerrogativa de foro, também prevista na Carta da
República, devem ser julgados na Corte do foro privilegiado. Todavia, não
há chamamento necessário daqueles que não a possuem, razão pela qual
devem ser julgados pelo Júri Popular. Precedentes do STJ. 3. O fato de o
Ministério Público não ter se contraposto às preliminares invocadas pela Defesa,
quando do oferecimento de resposta escrita à acusação, não vincula o
magistrado, que pode, segundo suas convicções, não as acolher, desde que
fundamentadamente. Com efeito, o juiz é livre para apreciar os pleitos aduzidos
no processo criminal. Sua atuação está relacionada ao princípio do livre
convencimento motivado, desde que, amparado em elementos constantes nos
autos, exerça seu dever constitucional de fundamentar suas decisões. Foi
exatamente dessa forma que procedeu o magistrado. Preliminar afastada. 4. No
mérito, há provas a amparar a tese acusatória. Isso é o que basta à manutenção
da sentença de pronúncia, mero juízo de admissibilidade, a permitir que a causa
chegue ao conhecimento do Júri. Somente aos jurados compete valorar
definitivamente a prova, concluindo pela procedência ou não da pretensão
56
condenatória dos crimes dolosos contra a vida e dos crimes a eles conexos. 5.
Recurso crime conhecido e improvido. Decisão unânime. (Recurso em Sentido
Estrito nº 0001177-39.1998.8.02.0001, Câmara Criminal do TJAL, Rel.
Sebastião Costa Filho. j. 22.05.2013).
Verifica-se a continência:
a) as ações tem as mesmas partes;
b) as ações tem a mesma causa de pedir;
c) só que o pedido de uma delas tem CONTEÚDO MAIS AMPLO E
ABRANGENTE DO QUE O DA OUTRA.
Dois juízes são igualmente competentes para a prática de um algum ato. Quando
algum deles pratica algum ato no processo (liberdade provisória, prisão
preventiva) por este ato passa a ser competente para a apreciação do processo.
57
COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO:
É o denominado foro especial, onde originariamente pela sua função o agente é
julgado e processado.
58
prolação da sentença, uma vez que há uma dependência lógica entre o conteúdo
da sentença e o incidente criado no processo.
Somente pode ser alegada em processo, sendo vedada a sua alegação em autos
de inquérito policial. Suspendem o processo até a decisão proferida na esfera
cível, sem necessidade de transito em julgado, não correndo neste período o
prazo prescricional.
59
CAPITULO VI- DAS DEFESAS PROCESSUAIS E INCIDENTES
PROCESSUAIS
60
pedido, legitimação para agir e interesse de agir), além de se voltar contra as
nulidades processuais e causas extintivas da punibilidade.
As denominadas QUESTÕES INCIDENTAIS: são referentes ao formalismo
processual, relacionando-se com o desenvolvimento VÁLIDO E REGULAR
DO PROCESSO, não se discutindo mérito da causa, mas tão somente aspectos
de matérias processuais.
Questões incidentais são acidentes no curso do processo entre o pedido e a
sentença de mérito. São denominadas também de PREJUDICIAIS, pois é um
obstáculo que se forma para a prolação de uma sentença de mérito e que devem
ser resolvidas antes da sentença de mérito.
61
deverá o interessado requerer que a suspeição conste da ata de julgamento, para,
se for o caso, em preliminar de recurso de apelação requerer a anulação do
julgamento.
A suspeição se dá entre a parte e o juiz9.
Para alguns doutrinadores, a exceção não suspende o processo e nem
corre em autos apartados, devendo ser alegada no prazo da defesa preliminar.
A Exceção de Incompetência não discute a relação de parte e juiz, mas
sim matérias inerentes ao local do julgamento (lembre-se em razão do lugar,
da matéria ou da pessoa), ou seja, como foi visto no capítulo sobre
competência se discutirá questões sobre a consumação do crime, ausência ou
prevalência de foro privilegiado, deslocamento de competência por prorrogação,
e só pode ser oferecida depois de oferecida a Denúncia, tanto pela
incompetência “ratione locci”, quanto para a competência “ratione materiae”,
“ratione personae”, no prazo de apresentação da defesa preliminar ou resposta à
acusação, em peça separada.
Acatada a exceção, o juiz remete os autos para o juiz competente. Se
julgada procedente, cabe recurso em sentido estrito, se não reconhecida não há
recurso próprio, podendo ser impugnada através de habeas corpus, alegando que
o processo encontra-se manifestamente nulo.
A Exceção de Ilegitimidade de Parte é o meio processual usado para
combater irregularidade referente ao exercício da ação penal pelo seu titular
(MP, querelante). Por questões óbvias a exceção de ilegitimidade de parte
somente poderá ser oposta pela defesa.
9
“SUSPEIÇÃO. ARGÜIÇÃO POR ADVOGADO EM NOME PRÓPRIO. ALEGAÇÃO DE INIMIZADE ENTRE
O ADVOGADO E O JUIZ. HIPÓTESES NÃO PREVISTAS EM LEI. EXCEÇÃO REJEITADA.
ARQUIVAMENTO. O advogado não tem legitimidade para, em seu próprio nome, opor exceção de suspeição,
já que, a inimizade capital, a que se refere o inciso I do artigo 135 do CPC, é do juiz com qualquer das partes, e
não do juiz com o advogado.” (TJ-MT; ExSusp 32560/2004; Sinop; Primeira Câmara Cível; Relª Desª Anglizey
Solivan de Oliveira; Julg. 24/07/2006)”
62
Deve ser destacado que as três exceções expostas anteriormente são
classificadas como exceções dilatórias, eis que não colocarão fim à relação
processual.
Já Exceções Peremptórias visam à extinção do processo e a Exceção de
Litispendência tem como fundamento o fato de que ninguém pode ser acusado
pela mesma infração penal, evitando-se o “bis in idem”. O pressuposto é a
existência de dois processos para a mesma infração penal. Só pode ser argüida
depois de efetivada a citação do réu.
A Exceção de Coisa Julgada é utilizada quando há ocorrência de outro
processo definitivamente julgado. A sentença tem o caráter de imutabilidade e
indiscutibilidade após o trânsito em julgado. Temos duas modalidades de
exceção de coisa julgada: coisa julgada formal e coisa julgada material.
A coisa julgada formal ocorre quando é referente a matéria processual,
não havendo mais recurso cabível. Já a coisa julgada material se refere à
qualidade da sentença quanto aos seus efeitos. No processo penal a sentença
pode ser revista em alguns casos: impronúncia quando surgirem novas provas da
autoria ou da materialidade e na revisão criminal.
Estas duas exceções que colocam fim ao processo, no meu entendimento
são matérias de ordem pública, e assim sendo, poderão ser alegadas em qualquer
grau de jurisdição, não sendo sujeitas à preclusão, visto que defendem princípios
reconhecidos mundialmente. Para que seja acolhida é necessário que se
demonstre de forma cabal que o acusado responde a imputações iguais
decorrentes de um mesmo fato, qual seja, duas acusações iguais.
No caso da exceção de litispendência necessário que se comprove a
existência de dois processos em curso, e no caso da exceção de coisa julgada
necessária a cabal demonstração da condenação anterior através de
documentação idônea. Nada impede que se alegue tais situações através de
habeas corpus, eis que a violação do principio do non bis in idem redunda na
hipótese de caracterização de processo manifestamente nulo.
63
As exceções são sempre opostas por escrito, oralmente é oposta no
Tribunal do Júri em relação ao jurado sorteado. São opostas em autos apartados,
sendo que a litispendência, as ilegitimidades de parte e da coisa julgada não
suspendem o curso do processo. Só suspende o andamento do processo a
exceção de suspeição.
Tanto a exceção de litispendência, quanto a exceção de coisa julgada, visam
preservar a segurança e a estabilidade das decisões judiciais, protegendo a coisa
julgada e o ato jurídico perfeito.
Devemos lembrar que no processo penal brasileiro, somente se admite a revisão
da sentença já transitada em julgada em favor do réu, quando o mesmo foi
condenado com base em depoimentos, exames ou documentos
comprovadamente falsos ou quando após a sua condenação surgem novas
provas de sua inocência, utilizando-se para tanto da revisão criminal.
Tanto a exceção de coisa julgada, quanto a exceção de litispendência devem
possuir os seguintes requisitos para extinção do processo:
a) mesmo réu;
b) mesmos fatos;
c) mesma imputação;
d) decisão transitada em julgado (para exceção de coisa julgada);
e) processos idênticos em curso (para a exceção de litispendência).
64
As exceções são sempre opostas por escrito, ORALMENTE é oposta no
Tribunal do Júri em relação ao jurado sorteado.
65
recurso em sentido estrito10, havendo decisão que pelo princípio da fungibilidade
admitiu o recebimento do recurso em sentido estrito como se apelação fosse da
decisão que indeferiu pedido de restituição.
10
PENAL E PROCESSO PENAL. RESTITUIÇÃO DE COISA APREENDIDA. DENEGAÇÃO. RECURSO
CABÍVEL. APELAÇÃO. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. VEÍCULO AUTOMOTIVO. INTERESSE.
AÇÃO PENAL. CONTRATO DE COMPRA E VENDA FRAUDULENTO. DÚVIDAS ACERCA DA
PROPRIEDADE DO BEM. 1. "A decisão singular que resolve questão incidental de restituição de coisa
apreendida tem natureza definitiva (decisão definitiva em sentido estrito ou terminativa de mérito), sujeitando-se,
assim, ao reexame da matéria, por meio de recurso de apelação, nos termos do art. 593, II, do Código de
Processo Penal". (MS 200105000478241, Desembargador Federal Rogério Fialho Moreira, TRF5 - Segunda
Turma, DJ - Data 09.07.2008 - Página 159 - Nº 130.) 2. Aplicação do princípio da fungibilidade recursal,
previsto no art. 579 do CPP, de modo a se admitir a interposição do recurso em sentido estrito como se apelação
fosse, pois não houve má-fé por parte do Recorrente e o recurso em sentido estrito foi interposto dentro do prazo
para interposição do recurso de Apelação. 3. Hipótese em que o juiz de primeiro grau recebeu a denúncia
oferecida pelo Ministério Público Federal contra o Requerente, pelo fato de ter, em tese, utilizado em processo
da Terceira Vara Federal contrato de compra e venda de veículo falso, crime previsto no art. 304 do Código
Penal, ressaltando-se que no processo, em trâmite na Terceira Vara Federal, a ré, mãe do recorrente, é acusada de
se apropriar indevidamente de numerário de RPVs de seus clientes, decorrente de ações previdenciárias, razão
pela qual foi determinada a busca e apreensão em sua residência, sendo encontrado, entre outros bens, a quantia
de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais). 4. O recorrente aduziu que a quantia citada (R$ 25.000,00), não
pertencia à sua mãe, mas, sim, a ele, pois teria sido decorrente da venda da sucata de um veículo Hilux, razão
pela qual interpôs, inicialmente, pedido de restituição da quantia apreendida, mas não logrou êxito, conforme
julgamento da eg. 2ª Turma deste eg. TRF da 5ª Região. (TRF 5ª Região, 2ª Turma, Rel. Francisco Barros Dias,
julgado em 19.10.2010, publicado em 28.10.2010). 5. O Recorrente pleiteou a restituição da quantia, decorrente
do ganho oriundo de contrato de compra e venda, mas, como não teve sucesso, passa, neste instante, a requerer a
restituição do veículo, que, sequer, seria de sua propriedade, devido à venda, aparentemente, realizada. 6.
"Ademais, o próprio recorrente ora informa que vendeu o veículo, ora reclama sua restituição como se legítimo
proprietário fosse, o que recrudesce a dúvida sobre a propriedade do bem, de forma que não lhe é devida
qualquer restituição". (Parecer da Procuradoria Regional da República) 7. Recurso improvido. (RSE nº 1630/PB
(0008453-60.2011.4.05.8200), 2ª Turma do TRF da 5ª Região, Rel. Francisco Barros Dias. j. 13.03.2012,
unânime, DJe 22.03.2012).
11
Em sentido contrário, contra o entendimento do cabimento do mandado de segurança para restituição de coisas
apreendidas temos: “PROCESSUAL PENAL. MANDADO DE SEGURANÇA. INDEFERIMENTO DE
PEDIDO DE RESTITUIÇÃO DE VEÍCULO APREENDIDO. FALTA DE INTERPOSIÇÃO DE RECURSO
PRÓPRIO: APELAÇÃO. NÃO CABIMENTO DA IMPETRAÇÃO. VIA INADEQUADA. SÚMULA 267 DO
STF. DECADÊNCIA. 1. Da decisão que indefere o pedido de restituição de coisa apreendida o recurso cabível é
o de apelação. Precedente desta Corte. 2. Embora queira fazer crer que se trata de terceiro, "vítima de fato
criminoso", em verdade o impetrante é réu na ação penal promovida pelo Ministério Público Federal, que tem
por objetivo a condenação de 04 (quatro) réus nas penas cominadas a crime de contrabando, no qual o veículo
apreendido foi utilizado. 3. Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial da qual caiba recurso
(Súmula 267 do STF). 4. O direito de requerer mandado de segurança extingue-se após o decurso de 120
(cento e vinte) dias, contados da ciência do ato impugnado pelo interessado. 5. Mandado de segurança que se
denega. (Mandado de Segurança nº 0040181-92.2011.4.01.0000/MT, 2ª Seção do TRF da 1ª Região, Rel.
Monica Sifuentes, Rel. Convocado Alexandre Buck Medrado Sampaio. j. 10.07.2013, unânime, DJ
18.07.2013)”.
66
Geralmente as coisas apreendidas são restituídas ao interessado, desde que este
comprove a propriedade da coisa ou quando estas não mais interessarem ao
processo (já foram periciadas). São restituídas após o trânsito em julgado,
podendo o prejudicado ingressar no inquérito policial com pedido de restituição
de coisas apreendidas.
67
medida preparatória para o ingresso da ação principal, ou mesmo pode ser
decretada em qualquer fase do processo, desde que haja fundado receio da
ocorrência do dano e desde que haja plausibilidade do direito invocado.
Muitas vezes tem a característica de ser um processo acessório, que visa
assegurar o provimento jurisdicional de medidas urgentes que sejam essenciais
para que haja eficácia no desenrolar do processo principal. Não visa satisfazer o
direito, todavia, tem importante relevância para que se garanta que o direito
perseguido no processo principal tenha plena eficácia.
68
A defesa que pode ser usada pelo prejudicado quando há a decretação do
sequestro dos bens são os embargos de terceiro onde deve alegar ou provar de
que os bens não foram adquiridos com proventos da infração delituosa ou pelo
terceiro que deve demonstrar que os mesmos foram adquiridos de forma onerosa
e que no momento da aquisição estava de boa-fé. Observe-se ainda, que por se
tratar de violação ao direito de propriedade, não fica excluída a utilização do
mandado de segurança, desde que este comprove a violação ao seu direito
líquido e certo de propriedade.
A segunda medida cautelar que pode ser usada para proteção do direito da
vítima é a medida cautelar de arresto. A diferença entre o arresto e o
sequestro, é que o arresto não exige que os bens a serem alvos da apreensão
judicial tenham sido adquiridos com proventos da infração criminosa,
exigindo apenas que os mesmos possam ser alvo de penhora.
69
pouca utilização na prática forense, estes institutos encontram-se abandonados e
esquecidos.
13
MANDADO DE SEGURANÇA. AÇÃO PERTINENTE. SEQUESTRO DE BENS. AUSÊNCIA DE
MOTIVOS PARA A CONSTRIÇÃO. Arts. 125 e 126 do CPP. A apelação da decisão que decretou sequestro de
bens, não tem efeito suspensivo, daí que cabível mandado de segurança, art. 5º, II, Lei 2.016/2009. Decisão que,
sem motivação, ordena sequestro de todos os bens, por fatos não provados, sem existir indícios veementes de
participação em supostos ilícitos e, mesmo se ocorridos, foram tempos depois das aquisições, não prevalece.
Conjecturas e ilações, e ter amizade com políticos influentes nada significa no campo penal, e nada induz que
justifique constrição genérica de bens. Pedido deferido. Negado provimento ao agravo da União Federal, eis que
as respectivas razões não demonstram a legalidade, tampouco necessidade da medida constritiva. (Mandado de
Segurança nº 2014.02.01.000843-9/RJ (11252), 1ª Turma Especializada do TRF da 2ª Região, Rel. Antônio Ivan
Athié. j. 05.11.2014, unânime, e-DJF2R 28.11.2014).
14
PROCESSO PENAL. MANDADO DE SEGURANÇA. CABIMENTO. SEQUESTRO. LEVANTAMENTO.
TERCEIROS AFETADOS PELA MEDIDA. 1. O mandado de segurança pode ser usado como meio de
impugnação do efeito material e imediato da decisão, para resguardo do direito ameaçado de lesão pelo próprio
tempo do Judiciário para processar o recurso, não se caracterizando, nesse caso, como substitutivo do recurso
próprio. 2. O sequestro de bens é medida assecuratória, necessária quando houver indícios veementes da
proveniência ilícita dos bens e risco de se ver frustrada a possibilidade de recuperação do erário público,
presentes na hipótese em tela. 3. A medida constritiva ora combatida encontra-se amplamente amparada pelos
arts. 91, I e II, "a" e "b", do CP e 4º, da Lei nº 9.613/98, em especial, a norma especial que trata de crimes de
"lavagem" ou ocultação de bens, direitos e valores. 4. Pelo cotejo das provas pré-constituídas com as
informações do Juízo impetrado, entendo restar devida e legal a medida adotada pelo magistrado,
inexistindo, a princípio, direito líquido e certo a ser amparado no presente mandamus. 5. Segurança
denegada. (Mandado de Segurança nº 9655/RJ (2008.02.01.010162-2), 2ª Turma Especializada do TRF da 2ª
Região, Rel. Liliane Roriz. j. 03.02.2009, unânime, DJU 09.02.2009, p. 25/26).
70
HIPOTECA LEGAL
71
prejuízos causados.17 Neste sentido, observe-se: “PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO
CRIMINAL. ESPECIALIZAÇÃO DE HIPOTECA LEGAL. CRIME CONTRA A ORDEM
TRIBUTÁRIA. ARTIGO 134 E SEGUINTES DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. PRESENÇA
DOS REQUISITOS AUTORIZADORES. MEDIDA DEFERIDA. APELO PROVIDO. 1. Nos
termos do artigo 134 do Código de Processo Penal, a especialização da hipoteca
legal sobre os imóveis do acusado depende apenas da certeza da infração e de
indícios suficientes de autoria. 2. Na hipótese dos autos, tais requisitos encontram-
se presentes, o que autoriza o deferimento da medida pleiteada. 3. A
especialização de hipoteca legal não constitui hipótese de responsabilização penal
objetiva, vez que somente visa a resguardar o futuro cumprimento de indenização
ao ofendido e o pagamento de penas pecuniárias e custas processuais em razão de
eventual condenação. Em caso de absolvição, a medida deixará de produzir efeitos.
4. O valor do tributo suprimido com a prática do crime constitui um elemento
relevante para se estabelecer o quantum da responsabilização civil do recorrido. 5.
Ressalte-se que o próprio Magistrado poderá corrigir o valor arbitrado, em caso de
verificação de excesso ou de insuficiência. 6. Também ficará resguardada ao juízo
de origem a possibilidade de substituição ou complementação dos imóveis
indicados, de acordo com a necessidade que o caso requerer. 7. Medida deferida.
Apelo provido. (Apelação Criminal nº 0003831-22.2004.4.03.6103/SP, 2ª Turma do
TRF da 3ª Região, Rel. Cotrim Guimarães. j. 27.04.2010, unânime, DE 06.05.2010).
17
“em um acidente de carro com lesões leves, o sujeito passivo está muito mais preocupado em
receber a reparação do dano patrimonial sofrido do que em ver o agente condenado
criminalmente.” (CAPEZ, 2003, p. 356).
72
trata de pedido de penhora em ação em que se busca a reparação de danos
causados pelo crime.
O artigo 3º. da Lei 8009/90 prevê expressamente ao colocar a reparação dos danos
causados pelo crime como uma causa em que não proteção do manto da
impenhorabilidade por ser o bem de família.18
Conforme nos ensina a autora MARIANA RIBEIRO SANTIAGO: “O inc. VI permite a
penhora do bem de família se o imóvel foi adquirido com produto de crime ou
para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou
perdimento de bens, estabelecendo uma ligação entre direito penal e direito
civil, para ressarcimento da vítima”19.
Neste sentido observa-se: “O bem de família pode ser objeto de penhora para
garantir a execução de sentença penal condenatória, nos limites do artigo 3º,
inciso VI, da Lei 8.009/90, excluída apenas a possibilidade de sua utilização para o
pagamento da multa penal e custas”.
Observe-se, no mesmo diapasão, o entendimento do SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA sobre a possibilidade de penhora em bem de família quando se objetiva a
reparação do dano causado pelo crime:
"(...) tendo em vista que a penhora visa garantir o cumprimento da indenização por
ato de improbidade administrativa, nos termos do art. 37, "caput" da Constituição
Federal e nos termos das disposições da Lei 8.429/92, notadamente, artigo 10,
incisos VIII e X, com lesão ao erário público, o bem de família não está isento de
penhora, como dispõe o inciso VI, do art. 3º, da lei 8009/90."
73
Também em termos de tutela dos direitos da vítima o ofendido ou seu
representante legal, poderá requerer na esfera cível que o ofensor seja condenado
a prestar alimentos em decorrência do ato ilícito. Pois bem, os alimentos devem
englobar valores monetários ou em espécie que sejam necessários para que seja
garantida a subsistência daqueles que foram vítima do ato criminoso.
Vejamos a respeito o artigo475-Q do Código de Processo Civil que dispõe
expressamente: “Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de
alimentos, o juiz, quanto a esta parte, poderá ordenar ao devedor constituição de
capital, cuja renda assegure o pagamento do valor mensal da pensão”.
Além de ter direito ao pensionamento por ato ilícito, a vítima tem o direito
também de que o juiz ordene ao devedor que providencie a constituição de capital
para que os rendimentos deste capital assegurem ao ofendido o pagamento mensal
da pensão alimentícia.
INCIDENTE DE FALSIDADE
74
INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL
75
internamento em manicômio judicial. Neste caso, o juiz estará proferindo uma
sentença absolutória imprópria, visto que absolverá o acusado, todavia aplicará
medida de segurança, consistente em internação ou tratamento ambulatorial, por
um período mínimo que irá durar de um a três anos. Findo este prazo,
novamente o sentenciado será submetido a nova pericia, desta feita designada
pelo Juizo da Vara da Execuções Criminais denominada de exame de cessação
de periculosidade, que se concluir que o mesmo se encontra recuperado cessará
a medida de segurança. Em caso contrário concluindo que a moléstia ainda
persiste, a internação ou tratamento ambulatorial continuará pelo período de um
a três anos, quando será novamente submetido o acusado ao exame de cessação
de periculosidade. Deve o leitor notar que a medida de segurança e a liberação
do acusado estará sempre condicionada a recuperação e cura da sanidade mental
do sentenciado.
No caso de a perícia considerar o réu relativamente incapaz, o juiz deve
reduzir a pena aplicada de 1/3 a 2/3 pela incidência do artigo 26, Parágrafo
Único do Código Penal. Neste caso, o Magistrado realizará a aplicação da pena
seguindo o sistema trifásico, e no cálculo da pena deverá reduzir a reprimenda
de um a dois terços, todavia, a pena será cumprida normalmente em
estabelecimento prisional, visto que o hospital de custódia somente é destinado
aos inimputáveis.
Essa perícia pode ser realizada “ex oficio” pelo Juiz, pelo Ministério
Público, ou a requerimento do advogado do réu ou de seus familiares.
Entretanto, necessário se faz, para o deferimento do incidente de insanidade
mental, que o réu apresente sinais visíveis de perturbação mental.
Uma das condições que o Direito Penal brasileiro exige para que um
agente seja punido por um ato ilícito é que ele tenha capacidade para entender
que a sua conduta feriu um bem jurídico e que esse agente deve ser
responsabilizado por seus atos, de acordo com a pena prevista para cada infração
penal cometida. Esse princípio é chamado de Imputabilidade.
Todavia, existem casos que o agente não pode ser responsabilizado
criminalmente, por faltar-lhe discernimento para distinguir o que é certo do que
é errado. Falta-lhe a capacidade, termo que significa a possibilidade do agente
de entender e de compreender que o ato que praticou é ilícito, e daí a razão da
instauração do incidente de insanidade.
Às vezes, pode faltar ao agente a capacidade derivada de alguma doença,
bebida, uso de drogas, que o levam a um desenvolvimento mental incompleto ou
retardado e que o torna inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do seu
ato.
Neste sentido temos o artigo 26 do Código Penal, e daí temos duas
conseqüências básicas:
76
a) Se o agente for inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do
ato, não haverá sentença de condenação, mas sim a substituição da pena por
medida de segurança.
77
O incidente de insanidade mental possui os seguintes efeitos práticos:
DAS PROVAS
78
A prova22 no processo penal segue um primordial princípio: o da
verdade real, onde o juiz pode por si produzir elementos probatórios para
julgar a lide.23
Difere do processo civil, onde o juiz fica preso aos elementos
probatórios fornecidos pelas partes – princípio da verdade formal -, onde o
autor, se não prova aquilo a que se propôs, tem como conseqüência a
improcedência da ação.
O princípio da verdade real é um dos mais importantes princípios sobre a
prova dentro do ordenamento jurídico processual brasileiro. O juiz não está
adstrito aos elementos de prova trazido pelas partes, e pode, quando não se
sentir convencido pelos elementos probatórios trazidos pelas partes, produzir
prova para formar seu convencimento. Assim ocorre por exemplo, quando o
Magistrado determina a oitiva de uma testemunha mesmo não sendo ela arrolada
pelas partes, quando requisita um documento ou determina a realização de uma
perícia. Este princípio autoriza o Magistrado a determinar a realização destas
provas mesmo que de oficio. 24
79
a) Comunhão das provas: significa que a prova produzida pode ser
usada por qualquer parte, significa que a prova produzida tem interesse comum,
pouco importando quem a produziu. Assim, por exemplo, se uma testemunha é
arrolada pela acusação e o seu depoimento é favorável a defesa, estes elementos
de convicção podem ser usados livremente de defesa, pouco importando se a
prova foi produzida pela outra parte. Não existe no processo penal aquela
afirmação de que a prova é da acusação ou da defesa, porque pelo princípio da
comunhão da prova o elemento de prova pertence ao processo e não a parte que
a produziu. Esclareça-se, por oportuno, que esta denominação de prova de
acusação e prova de defesa somente deve indicar para a parte que solicitou a
realização da prova25.
25
Princípio da Comunhão da Prova: em matéria processual penal é cediço que cabe às partes o ônus
probatório. Realizada a produção de prova, esta não deve ser entendida como de uso exclusivo
daquele que a levou aos autos, pois, depois de produzida, existirá sua comunhão. (vide a respeito
http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8821).
26
PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIME DE USO DE DOCUMENTO FALSO. ART. 304 DO CP.
CONVERSÃO DO JULGAMENTO EM DILIGÊNCIA, PELO JUÍZO. EXAME GRAFOTÉCNICO.
POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO DO MAGISTRADO. ORDEM
DENEGADA. I - "Pode o juiz, 'no curso da instrução ou antes de proferir sentença, determinar, de ofício,
diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante' (CPP, artigo 156), como também para sanar nulidade ou
suprir falta com vistas ao esclarecimento da causa. Aplicação do princípio do livre convencimento motivado ou
da busca da verdade real" (TRF/1ª Região, HC 2009.01.00.040471-7/PA, Relator Des. Federal Mário César
Ribeiro, 4ª Turma, unânime, e-DJF1 de 02.10.2009, p. 196). II - Hipótese em que, após as alegações finais, o
Juízo a quo, de ofício, converteu o julgamento em diligência, com fundamento no art. 156, inciso II, do CPP,
para a realização de exame grafotécnico. III - Ordem denegada. (Habeas Corpus nº 0012088-
85.2012.4.01.0000/MT, 3ª Turma do TRF da 1ª Região, Rel. Murilo Fernandes de Almeida. j. 23.04.2012,
unânime, DJ 27.04.2012).
80
célebre brocardo - o que não existe nos autos, não existe no mundo jurídico27.
Este princípio veda que o Magistrado se utilize de elementos probatórios que
não constem do processo para decidir a lide. Tal é realizado uma vez que se o
Magistrado julga a lide com elementos de convicção que não constam dos autos,
tal fato alija as partes de contraporem-se a prova, como por exemplo o
questionamento através de perguntas em audiência; no caso de pericia impede a
parte de formular quesito ou se desejar contratar um assistente técnico, enfim,
viola o principio do devido processo legal que exige que seja obedecido mais
dois outros princípios constitucionais que é o da ampla defesa e do contraditório.
27
O princípio da imediação visa aproximar o magistrado da prova oral para que, no momento da prolatação da
sentença, tenha condições de chegar o mais próximo da verdade, propiciando uma decisão justa.O juiz deve ter
relação direta com a prova oral, não admitindo, em hipótese alguma, que ela seja mediada por outra pessoa,
como, por exemplo, deixar claro para os advogados que não podem fazer perguntas diretamente às partes, ou
seja, às testemunhas, aos peritos ou assistentes técnicos.O objetivo do mencionado princípio é que o magistrado
constate diretamente se a testemunha está falando a verdade, para que, posteriormente, tenha melhores meios
para avaliar a prova oral. http://br.monografias.com/trabalhos3/admissibilidade-provas-ilicitas-processo-
penal/admissibilidade-provas-ilicitas-processo-penal2.shtml.
81
sobremaneira a democracia, garantindo a imparcialidade e isenção do julgador 28.
Pela publicidade dos atos processuais se garante a completa isenção dos
elementos de prova, evitando-se que ela seja produzida visando favorecer a
acusação ou a defesa.
28
A publicidade mostra-se como princípio norteador do Estado Democrático de Direito. Afinal, não se pode
falar em sua existência caso não se perceba a garantia de certos vetores norteadores, como a liberdade, a
igualdade e a legalidade em sua essência. Segundo Moraes dos Santos (2008, p. 174), "Na democracia, ao revés,
a coisa pública é gerida às claras, aos olhos de quem quiser ver". Contudo, para que tais valores sejam
assegurados, faz-se essencial que a população, por meio da divulgação dos atos da gerência estatal, possa
fiscalizar e controlar o exercício das funções legislativa, executiva e judiciária. Assim, a ideia de publicidade em
muito se confunde com o conceito de transparência, propiciando o efetivo controle da legalidade e legitimidade
dos atos da Administração Pública, do Poder Judiciário e dos legisladores. Porém, em casos especialíssimos, a
publicidade deverá ser limitada, como forma de garantir direitos fundamentais; ou seja, o coletivo será
sacrificado, em partes, a fim de que um bem individual seja protegido. Para tanto, deve-se usar da máxima
cautela para evitar que um dos pilares do Estado Democrático de Direito venha a ruir, dando vazão à construção
de um Estado Despótico, em que os governantes praticam atos de poder às ocultas, escudados pelo sigilo e pela
ausência de fiscalização.(vie a respeito http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/fortaleza/3653.pdf).
29
Processo Penal, 2000, p.41, v. 1
82
h) Audiência contraditória: a parte contrária tem o direito de
manifestar-se sobre a prova produzida, através de perguntas, perícias ou
impugnações. Trata-se da bilateralidade31. Isso é facilmente constatado quando
se observa que as partes tem o direito de arrolar o mesmo numero de
testemunhas, de requerer pericias, de juntar prova documental aos autos. Uma
vez deferida a prova, após a sua realização, a outra parte dispõe do direito de
fazer perguntas, quesitos, e no caso de juntada de documentos tem o direito de
ter acesso aos mesmos, e se entender cabível poderá requerer a submissão deles
30
Nos dizeres de Rogério Lauria TUCCI, a verdade real pode ser definida como "a reconstrução
atingível de fato relevante e metaprocessual, inquisitivamente perquirida para deslinde da causa
penal". Segundo o aludido princípio, o julgamento proferido no processo penal dever refletir, tanto
quanto possível, a realidade dos fatos analisados e, para tanto, a pesquisa do que efetivamente
aconteceu deve ser plena e ampla, a fim de que a realidade possa se transmitir com absoluta
fidelidade aos autos. Para Julio Fabbrini MIRABETI, o princípio da verdade real exclui "os limites
artificiais da verdade formal, eventualmente criados por atos ou omissões das partes, presunções
ficções, transações etc., tão comuns no processo civil". A reprodução da verdade no processo
penal deve ser feita através da busca das melhores provas em matéria criminal, sendo que o
Juiz não pode se contentar apenas com aquelas fornecidas pelas partes, salvo se forem
efetivamente as melhores. Para exemplificar, pode-se dizer que o depoimento de uma
testemunha que presenciou o evento criminoso deve ser mais valorado que o daquela que tão
somente tomou conhecimento do delito. A supremacia da verdade real no processo penal é
determinada pelo interesse público, presente tanto nas ações penais públicas quanto nas
privadas. Isso porque, para o exercício do jus puniendi, reservado ao Estado, mister se faz que a
verdade dos fatos seja efetivamente alcançada, sob pena de que muitas injustiças sejam
praticadas. Pode-se dizer que as regras processuais que permitem ao magistrado uma
participação efetiva na instrução processual penal são exemplos da adoção do princípio da
verdade real pelo ordenamento processual penal brasileiro.Nesse sentido, vale citar a regra
contida no art. 156 do CPP, que possibilita ao juiz a determinação de diligências
complementares, no curso da instrução ou antes de proferir sentença, quando necessárias para
sanar dúvidas sobre pontos relevantes. Vide a Respeito: http://jus.com.br/revista/texto/11160/a-
verdade-no-processo-penal-brasileiro#ixzz2Ldnv2Ezk
31
Mendes de Almeida, pode ser identificado quando a cada litigante é dada ciência dos atos
praticados pelo contendor. Por fim resume o contraditório como sendo "a ciência bilateral dos atos e
termos processuais e possibilidade de contrariá-los." MENDES DE ALMEIDA, Joaquim Canuto. A
contrariedade na instrução criminal. São Paulo. Saraiva. 1937. p. 104. Angélica Arruda Alvim o
contraditório significa que toda pessoa física ou jurídica que tiver de manifestar-se no processo tem o
direito de invocá-lo a seu favor. Deve ser dado conhecimento da ação e de todos os atos do processo
às partes, bem como a possibilidade de responderem, de produzirem provas próprias e adequadas à
demonstração do direito que alegam ter. contraditório é um princípio constitucional decorrente do
83
a exame pericial visando apurar sua veracidade. Em suma, no processo penal é
concedida a ambas as partes iguais direitos no requerimento de produção da
prova, na sua realização e na discussão da mesma, uma vez que toda prova pode
ser passível de contestação por uma outra contra-prova.32
O Objeto da prova são elementos de fato para esclarecer a quem julga. Objeto
da prova versa sobre as questões fáticas, ou sejam, provam-se os fatos. O Objeto
da prova, ou thema probandum”, escreve Frederico Marques, “é a coisa, fato,
acontecimento ou circunstância que deva ser demonstrado no processo” (...)
“Como o juiz se presume instruído sobre o direito a aplicar, os atos instrutórios
só se referem à prova das quaestiones facti. O juiz deve conhecer o Direito,
obrigação essa que é elementar para o exercício da jurisdição (jura novit curia).
Donde se segue que, abstratamente falando, constitui objeto de prova tão-só o
que diz respeito às questões de fato surgidas no processo”33.
direito de defesa. O processo, como conjunto de atos, deve ser estruturado contraditoriamente,
como imposição do devido processo legal que é inerente a todo sistema democrático onde os
direitos do homem encontrem garantias eficazes e sólidas.No processo de conhecimento, essa
igualdade deve consistir em dar a ambas as partes "análogas possibilidades de alegações e provas"; e
no processo de execução, em admitir, através de termos mais reduzidos, os necessários meios de
controle para evitar uma liquidação ruinosa dos bens do devedor . Aeste respeito confira-se: “O
principio do Contraditório”, Edna Luiza Nobre Galvão disponível em
http://jus.com.br/revista/texto/819/principio-do-contraditorio#ixzz2LeOiQIGJ
32
De forma mais didática e completa, Scarance apresenta como desdobramentos do direito á prova, verbis: "a) o
direito de requerer a produção; b) direito a que o juiz decida sobre o pedido de produção de prova; c) direito a
que, deferida a prova, esta seja realizada, tomando-se todas as providências necessárias para sua produção; d)
direito a participar da produção da prova; e) direito a que a produção da prova seja feita em contraditório; f)
direito a que a prova seja produzida com a participação do juiz; g) direito a que, realizada a prova, possa
manifestar-se a seu respeito; direito a que a prova seja objeto de avaliação pelo julgador." GRINOVER, Ada
Pellegrini, SCARANCE FERNANDES, Antônio, GOMES FILHO, Antônio Magalhães. Op. Cit. pp. 122-6;
FERNANDES SCARANCE, Antônio. Processo penal constitucional. São Paulo: RT, 3ª ed., 2002. pp. 71-5
33
A prova no processo penal, José Francisco Caligari, disponível em
http://www.justitia.com.br/artigos/299c16.pdf
84
No processo penal, somente no que diz respeito ao estado de pessoa é que se
observará a restrição à prova, imposta pela lei civil (art. 155, parágrafo único,
do CPP); isso quer dizer que um casamento se prova, também na esfera penal,
pela certidão de casamento extraída dos assentos do Registro Civil das Pessoas
Naturais. No mais, o processo penal brasileiro admite todo e qualquer meio de
prova, ainda que não expressamente previsto em nosso Código, o que autoriza
livremente a utilização das cartas psicografadas como elemento de prova dentro
de um processo criminal, respeitado evidentemente todos os entendimentos
contrários.
34
Segundo Tourinho as principais provas eram: a) prova da água fria: jogando o indiciado à
água, se submergisse, era inocente, se viesse à tona era culpado; b) prova do ferro em brasa: o
pretenso culpado, com os pés descalços, teria de passar por um chapa de ferro em brasa. Se
nada lhe acontecesse, era inocente, porém, se queimasse sua culpa era manifesta; c) a prova
judicium affae: o indivíduo devia engolir, de uma só vez, grande quantidade de alimento, que
era farinha de trigo. Se não o fizesse era culpado; d) prova do pão e do queijo: acusado devia
engolir um pedaço de pão e de queijo. Se não o conseguisse era condenado. Essa ordália era
aplicada aos velhos, mulheres, crianças, doentes; destinava-se especialmente aos suspeitos de
furto; e) prova da cruz: quando alguém fosse morto em rixa, escolhiam-se sete rixadoresque
eram levados à frente de um altar. Sobre este se punham duas varinhas, uma das quais
marcadas com uma cruz, e ambas envolvidas em pano. Em seguida tirava-se uma delas, se
saísse a que não tinha marca, era sinal de que o assassino não estava entre os sete. Se, ao
contrário, saísse à assinalada, concluía-se que o homicida era um dos presentes. Repetia-se a
experiência em relação a cada um deles, até sair à vara com a cruz, que se supunha apontar o
criminoso (TOURINHO, 1999, p. 240).
85
Sentimental: o juiz não precisa dar as razões de seu convencimento para a sua
decisão. No Brasil ainda existe, trata-se do júri, ou livre convencimento não
motivado. Conhecido também como princípio do livre convencimento não
motivado. O sistema da valoração secundum conscientiam ou da certeza moral
do juiz - ou ainda da íntima convicção - representa o oposto do sistema anterior
que deixava a critério de Deus a valoração da prova. A valoração da prova é
feita de forma livre, de acordo com a íntima convicção do juiz, sem necessidade
de que este motive suas decisões. A prova também não tem qualquer valor
tarifado. A lei nada diz ou estabelece sobre o valor das provas, cabe ao órgão
julgador, fundado em sua certeza moral, decidir sobre sua admissibilidade,
avaliação e introdução no processo. é o sistema que norteia o Tribunal do Júri,
onde os jurados não têm que motivar seus votos.
b) Convicção Legal: julgamento baseado na lei. O sistema da prova legal -
também conhecido como sistema da certeza moral do legislador ou ainda da
verdade legal ou formal - estabelece valores taxados ou tarifados da prova.
Nesse, a lei fixa detalhadamente o valor a ser atribuído a cada prova produzida
no processo, impondo ao juiz a observância de certos preceitos, não lhe
deixando praticamente qualquer margem de liberdade para apreciação da prova.
Cada prova então possuia um valor determinado, e o Juiz deveria apenas e tao
somente aquela tarifação para determinar a inocência ou culpabilidade do
acusado35.
35
O sistema da prova legal foi o que por primeiro esteve presente no ordenamento jurídico
brasileiro, em especial nos Códigos Estaduais, por influência do direito germânico e do processo
comum europeu, aos quais se filiaram, além das ordenações de Portugal, os já citados Códigos
Estaduais.]Este sistema de valoração da prova vigorava também no direito canônico. É usado, em
geral, nos regimes de pouca liberdade. PONTES DE MIRANDA, após explanar que neste sistema "a lei
fixava regra sobre quais as provas admissíveis, sobre o valor probante de cada meio probatório,
sobre a quantidade mesma de força probatória", levantou os pontos positivos e negativos deste
sistema, sintetizando-os dessa forma: "A vantagem, que se encarecia, era a de saber a parte, ao ter
de litigar, com que provas contava e como calcular o valor delas em relação ao adversário. Por outro
lado, o juiz, feito arrolador de valores de prova, lavava as mãos como Pilatos. Cavava-se assim,
muitas vezes, a separação entre a convicção do juiz e o que decidia. Ainda mais: a vida, em sua
exuberância e transformação, criava dificuldades insuperáveis, como a arrebentar esses grilhões
medievalescos. Vide a respeito : http://jus.com.br/revista/texto/10469/livre-apreciacao-da-
prova#ixzz2LecsW5Cs
86
também conhecido como sendo o princípio da persuasão racional 36. A
Constituição Federal exige que todas as decisões judiciais sejam motivadas sob
pena de nulidade. Assim, excetuando-se o julgamento pelo Júri, no caso de
absolvição, a análise do material probatório pelo juiz deve ser realizada para
condenar ou absolver o réu sempre de forma fundamentada explicitando os
motivos que o levaram a esta ou aquela convicção. Com as reformas do
ordenamento processual penal o princípio da persuasão racional foi
integralmente mantido, , com a ressalva de que não pode a sentença
condenatória se fundamentar unicamente na prova produzida na fase de
inquérito policial. Apenas e tão somente, ressalva-se as hipóteses daquelas
provas, normalmente periciais, que não podem ser repetidas, muitas vezes por
ter desaparecido o objeto a ser periciado.37
A prova pode ser requerida na fase de inquérito policial, sendo que nesta fase a
sua produção fica a critério da Autoridade Policial que preside a investigação.
Em juízo, pela acusação o rol de testemunhas acompanha a denúncia. Já pela
defesa deverá ser requerida quando da apresentação da defesa preliminar, poderá
também se requerida durante a instrução do processo, ou seu final no rito
ordinário na fase das diligências suplementares, havendo casos, dada a sua
relevância que poderá ser requerida em grau de recurso caso o Tribunal não se
sinta convencido das alegações das partes, poderá converter o julgamento do
recurso em diligência.
37
Cintra, Grinover e Dinamarco asseveram que "persuasão racional, no sistema do devido processo legal,
significa convencimento formado com liberdade intelectual mas sempre apoiado na prova constante dos autos e
acompanhado do dever de fornecer a motivação dos caminhos do raciocínio que conduziram o juiz á conclusão".
Barbora Moreira, citado por Scarance, bem aborda o tema, verbis: "Last but not least, trata-se de garantir o
direito que têm as partes de serem ouvidas e de verem examinadas pelo órgão julgador as questões que
houverem suscitado. Essa prerrogativa deve entender-se ínsita no direito de ação, que não se restringe, segundo a
concepção hoje prevalecente, á mera possibilidade de pôr em movimento o mecanismo judicial, mas inclui a de
fazer valer razões em juízo de modo efetivo, e, por conseguinte, de reclamar do órgão judicial a consideração
atenta dos argumentos e provas trazidos aos autos."
87
se estende a qualquer indagação por autoridade pública de cuja resposta possa
advir à imputação ao declarante da prática de crime, ainda que em
procedimento e foro diversos”
Continua o Mestre Sepúlveda Pertence: “É que a regra legal deve ser
interpretada conforme a Constituição Federal, ou seja, sem mitigar o privilégio
contra a auto-incriminação (nemo tenetur se detegere), erigida como garantia
fundamental pela CF/88 e aplicável, como ensinado, não apenas perante o
sistema jurídico e administrativo de repressão criminal, mas perante quaisquer
órgãos dos poderes executivo, judiciário ou legislativo.” 38
O privilégio contra a auto-incriminação, que significa não apenas o direito de
permanecer em silêncio, como até mesmo a possibilidade de negar, ainda que
falsamente, a prática da infração penal (CF. STF, HC 68929 - SP, Rel. Min.
Celso de Mello), abrange qualquer indiciado, acusado ou até mesmo
testemunha (STF, HC 75.244-8/DF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence).
88
teoria da inexibilidade de outra conduta ajusta-se à tese que se discute; como
colorário natural da autodefesa decorre o princípio de que ninguém é obrigado
a declarar a verdade se assumir, com essa declaração, o risco de ser
incriminado (RF 264/312; TJTJESP 60/396; RT 510/320, 519/317 e 353,
532/345, 552/323). Por essa razão, não pode ser responsabilizado pelo crime
de falso testemunho o autor de crime a ser apurado...." (ob. cit. 7ª ed., Atlas,
vol. 3, p. 397/398)
89
NULIDADE, COM RESSALVA DE ENTENDIMENTO EM CONTRÁRIO.
ELEMENTOS PROBANTES OBTIDOS POR FONTES INDEPENDENTES.
CONTINUIDADE DA PERSECUÇÃO CRIMINAL. PEDIDO
PARCIALMENTE DEFERIDO. 1. Caso peculiar, pois a escuta foi inicialmente
determinada por juiz competente; acidentalmente foi envolvido terceiro com
prerrogativa de foro; cindido o processo, foi remetido ao STJ, que não se
pronunciou especificamente sobre a prova, mas determinou outras diligências;
sobreveio perda da prerrogativa, pela aposentadoria do corrigente, com
devolução da competência ao mesmo juízo que determinou a escuta; este Juízo
validou a prova. 2. A letra da lei não resolve o impasse, motivo pelo qual a
solução deve ser construída judicialmente. 3. Desenvolvimento do tema na
jurisprudência, doutrina e direito comparado norte-americano (fruit of the
poisonous tree doctrine, caso Wong Sun v. United States, 1963). 4. O juiz,
terceiro neutro ao litígio, deve superar a assimetria informativa que mantém
relativamente às partes, para se tornar apto a resolver a disputa, o que supõe o
uso de mecanismos de revelação, como a escuta telefônica, configurando
conflito de direitos constitucionais, especialmente entre a moralidade
administrativa, segurança pública, eficiência, orçamento público, accountability
(transparência), dentre outros, em face dos direitos fundamentais ao
procedimento justo (devido processo legal) e à privacidade. 5. Princípios
constitucionais não são absolutos, sofrendo restrições na medida em que as
utilidades que a eles subjazem incompatibilizem entre si, no contexto real da
escassez de recursos: "estando frente a dois bens jurídicos, um deles tem que
ser sacrificado, ou um e outro têm de ceder algo para poderem subsistir - eis
uma relação de custos e benefícios" (Miranda, Jorge. Manual de Direito
Constitucional, Tomo IV, MIRANDA, Coimbra, Coimbra Editora, 5ª ed.,
2012, p 308-310). 6. Em seu sentido operacional, as intervenções restritivas
são "cargas coativas impostas concreta e individualmente ao titular de um
direito fundamental através de um ato dos poderes públicos (ex.: sentença
jurisdicional privativa de liberdade, ato expropriativo de propriedade,
proibição de uma manifestação pela autoridade administrativa)"
(CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Estudos sobre Direitos Fundamentais.
São Paulo, Revista dos Tribunais, 2008, p. 198). 7. O direito à privacidade
pode sofrer restrição em prol da segurança pública e da moralidade
administrativa, dentre outros. 8. O magistrado que determina a interceptação,
respeitando as regras de competência, não pode prever se, no curso da
investigação, acidentalmente será mencionado terceiro com prerrogativa de
foro. 9. A teoria da descoberta inevitável (caso Nix v. Williams, 1984)
excepciona a da árvore dos frutos envenenados. 10. O Tribunal competente
pode ratificar os atos decisórios, validando a interceptação acidental, se o juiz
não violou a regra de competência, tornando possível que prova seja considerada
lícita, ainda que determinada por juiz que se veio a saber incompetente. 11. No
caso, seria inevitável descoberta de supostas ações do corrigente em virtude da
90
lícita interceptação telefônica de terceiros, coautores do delito. 12. Competente o
Juiz da denúncia ou sentença para reconhecer se a prova é lícita, ratificando-a,
com fundamento nas exceções à teoria da árvore dos frutos envenenados. 13.
Precedente do STF ("não induz à ilicitude da prova resultante da
interceptação telefônica que a autorização provenha de Juiz Federal -
aparentemente competente, à vista do objeto das investigações policiais em
curso, ao tempo da decisão - que, posteriormente, se haja declarado
incompetente, à vista do andamento delas" - STF, HC 81260/ES, Rel. Min.
SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno - Publicação DJ 19.04.2002); 15.
Ad cautelam, contudo, determina-se a nulidade da prova, tendo em conta
decisão do STF no Inq 2842/DF, para resguardar a higidez do processo, evitando
futura proclamação de nulidade. 16. Havendo, no caso, provas obtidas por fontes
independentes (art. 157, § 2º do CPP) e que não possuam nexo de causalidade
com a aquela considerada ilícita, a instrução processual deve seguir em seus
ulteriores termos. 17. Pedido parcialmente deferido. (Correição Parcial nº
5019555-75.2014.404.0000, 7ª Turma do TRF da 4ª Região, Rel. Cláudia
Cristina Cristofani. j. 07.10.2014, unânime, DE 08.10.2014).
Da Interceptação Telefônica
91
derivadas a ilicitude, são, portanto, também, ilícitas. Por exemplo, se uma
pessoa é mencionada na escuta telefônica declarada ilícita não poderá ser
ouvida como testemunha. É a teoria dos frutos da árvore envenenada, criada
pela Suprema Corte dos Estados Unidos. 5. O juiz deverá verificar quais as
provas que derivaram da interceptação ilícita. (Habeas Corpus nº 0009653-
07.2013.4.01.0000/AM, 3ª Turma do TRF da 1ª Região, Rel. Tourinho Neto. j.
12.03.2013, DJ 22.03.2013).
Prova Emprestada
Ônus da Prova:
39
Sobre a validade da prova emprestada como elemento de prova, confira-se: PENAL. PROCESSO PENAL.
INVERSÃO DA ORDEM DE INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHAS. FALTA DE INTIMAÇÃO DA OITIVA
DE TESTEMUNHA POR MEIO DE CARTA PRECATÓRIA. PROVA EMPRESTADA. VALIDADE DOS
DEPOIMENTOS DE POLICIAIS. ESTELIONATO. RECEBIMENTO INDEVIDO DE SEGURO-
DESEMPREGO. MATERIALIDADE. AUTORIA. DOLO. PROVA. INSIGNIFICÂNCIA. NÃO
CABIMENTO. À luz do art. 212 do Código de Processo Penal, o juiz pode fazer questionamentos diretamente à
testemunha de forma subsidiária. Ausente demonstração de efetivo prejuízo à parte, não há de ser decretada a
nulidade. Intimada à defesa da expedição da carta precatória, é desnecessária a intimação da data da audiência no
juízo deprecado (Súmula 273 do STJ). Nomeado defensor ad hoc para o ato judicial e não tendo sido
demonstrado prejuízo à defesa, não procede à alegação de nulidade do processo. A utilização de prova
emprestada legalmente produzida em outro processo de natureza criminal não ofende os princípios
constitucionais do processo. Testemunho de policiais é válido, ressalvadas as hipóteses de evidente interesse
particular na investigação. A defesa não demonstrou qualquer inconsistência nas declarações do agente que
apontassem motivação pessoal no sentido de que os réus fossem condenados. As provas documentais reforçam a
validade do que foi relatado pelo policial. É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes lesivos ao
erário, como o estelionato ao seguro-desemprego. Precedentes do STJ e da Quarta Seção deste TRF.
Comprovados a materialidade, a autoria e o dolo dos réus, que, em conluio, mediante fraude, consubstanciada
em falsas anotações em Carteira de Trabalho e Previdência Social, obtiveram indevidamente o seguro-
desemprego, configura-se o delito de estelionato, previsto no artigo 171, § 3º, do Código Penal. (Apelação
Criminal nº 5004846-31.2012.404.7105, 7ª Turma do TRF da 4ª Região, Rel. Márcio Antônio Rocha. j.
20.01.2015, unânime, DE 21.01.2015).
92
as provas obtidas e conseguidas através da violação de normas de direito
adjetivo (normas processuais).
Cumpre ainda lembrar que o juiz pode complementar a prova, através do
princípio da verdade real, onde este busca o material probatório onde quer que
ele se encontre, uma vez que este não pode se eximir de julgar, adotando o “non
liquet”.
Prestigia a lei o ônus da prova, impondo a prova da alegação àquele que a faz. O
ônus prova é imposto a quem alega, mantendo, no terreno das provas o princípio
da verdade real. (cfr. art. 156, I e II)
93
processo.40 Entendo que o veto prestigia a celeridade, mas não o prejuízo da
prova ilícita no convencimento do julgador. Se a prova ilícita foi juntada e o
magistrado tomou conhecimento desta, no sentido de absolver ou condenar o
acusado, certamente seu convencimento já estará firmado em um sentido ou em
outro, todavia, procurará ele, com outros elementos de convicção, utilizar-se de
forma indireta da prova ilícita, no sentido de condenar ou absolver o réu. O mais
razoável seria determinar-se que outro juiz analisasse o feito, sem a prova ilícita
e com o convencimento preservado, para uma sentença ser proferida em
consonância com os elementos probatórios lícitos produzidos no processo. Essa
medida de afastamento do juiz quando reconhece a ilicitude da prova é salutar,
porque o mesmo ao tomar conhecimento da prova ilícita, poderá ter formado seu
convencimento de uma maneira ou de outra, no sentido de condenar ou absolver,
e assim sendo, seu julgamento não estaria isento e sim contaminado também
pela ilicitude da prova.
40
Razões do veto “O objetivo primordial da reforma processual penal consubstanciada,
dentre outros, no presente projeto de lei, é imprimir celeridade e simplicidade ao desfecho do
processo e assegurar a prestação jurisdicional em condições adequadas. O referido
dispositivo vai de encontro a tal movimento, uma vez que pode causar transtornos razoáveis
ao andamento processual, ao obrigar que o juiz que fez toda a instrução processual deva ser,
eventualmente substituído por um outro que nem sequer conhece o caso. Ademais, quando o
processo não mais se encontra em primeira instância, a sua redistribuição não atende
necessariamente ao que propõe o dispositivo, eis que mesmo que o magistrado conhecedor
da prova inadmissível seja afastado da relatoria da matéria, poderá ter que proferir seu voto
em razão da obrigatoriedade da decisão coligada.” Essas, Senhor Presidente, as razões que
me levaram a vetar o dispositivo acima mencionado do projeto em causa, a qual ora submeto à
elevada apreciação dos Senhores Membros do Congresso Nacional.
41
"Nos casos de convocação, licença, promoção, férias, ou outro motivo legal que impeça o Juiz que presidiu a
instrução de sentenciar o feito, o processo-crime será julgado, validamente, por outro Magistrado" (AgRg no
AREsp 395.152/PB, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 06.05.2014, DJe
13.05.2014).
94
delito e perícias. O exame pericial sempre será necessário, nos termos da
legislação vigente, sempre que o delito deixar vestígios.
Neste caso, é necessário às partes ou ao julgador recorrer a pessoas que
possuam conhecimento técnico especializado em algumas áreas. Essas pessoas,
então, são designadas de peritos e produzem laudos periciais.
No processo penal pátrio, segundo a Lei 8862/94 há necessidade de
laudo pericial assinado por dois peritos, sob pena de nulidade (Súmula 361 do
STF). Todavia, atualmente pela nova legislação basta um perito oficial para que
o laudo tenha sua validade jurídica, havendo necessidade de dois ou mais peritos
quando estes não forem peritos oficiais.
95
quesitos das partes) e a conclusão (parte final do laudo onde o perito conclui o
trabalho e apresenta o seu parecer final).
Corpo de delito é a coisa, pessoa, objeto que foi alvo do delito. O exame
de corpo de delito é o documento, exame realizado na coisa periciada.
Temos os seguintes tipos de exames periciais:
96
4. Também no local do crime é realizado um trabalho pericial, onde
são tiradas fotos do lugar do crime, posição do cadáver e das manchas de
sangue, que é de suma importância para os processo em geral, mormente em
processos julgado pelo Tribunal do Júri, onde também é realizada, na fase
policial, a reprodução simulada de crime, mais conhecida popularmente como
reconstituição.
42
PENAL E PROCESSO PENAL. APELAÇÃO MINISTERIAL. SENTENÇA QUE DESCLASSIFICOU O
DELITO DE LESÃO CORPORAL GRAVE PARA LEVE E DECLAROU EXTINTA A PUNIBILIDADE EM
FUNÇÃO DA OCORRÊNCIA DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. PLEITO DE
CONDENAÇÃO PELA PRÁTICA DO PRIMEIRO DELITO. IMPOSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE
LAUDO COMPLEMENTAR OU DE OUTRAS PROVAS, QUE COMPROVEM A INCAPACIDADE DA
VÍTIMA PARA O EXERCÍCIO DAS OCUPAÇÕES HABITUAIS POR MAIS DE TRINTA DIAS.
AUSÊNCIA DE PROVA INEQUÍVOCA SOBRE A MENCIONADA INAPTIDÃO. CONHECIMENTO E
DESPROVIMENTO DO APELO QUE SE IMPÕE. (Apelação Criminal nº 2014.021994-9, Câmara Criminal do
TJRN, Rel. Glauber Rêgo. j. 03.03.2015)
97
e) Exame grafotécnico: usado basicamente nos crimes contra
patrimônio – normalmente nos crimes de estelionato – para se identificar o autor
do escrito.
DO INTERROGATÓRIO DO ACUSADO
98
Primeiramente procede-se a identificação do acusado onde são feitas
indagações ao acusado sobre o seu nome, naturalidade, estado civil, filiação,
residência, profissão e o lugar onde exerce as suas atividades profissionais.
O réu quando do seu interrogatório terá opções pois, como se sabe o réu
não tem o ônus de provar e muito menos tem a obrigatoriedade de produzir
provas contra si, uma vez que esta obrigação é do órgão acusatório. Assim o réu
pode negar todos os fatos (negativa geral), pode assumir os fatos (confissão),
permanecer em silêncio ou mesmo assumir parcialmente a prática do delito.
O procedimento prático do interrogatório, na vida forense, normalmente
começa pela leitura da denúncia pelo magistrado, posteriormente o magistrado
pergunta ao acusado sobre os fatos descritos na denúncia e por fim indaga ao réu
se tem alguma inimizade ou suspeita pelas testemunhas arroladas pelo
Ministério Público ou pelo querelante. Também são facultadas perguntas pelo
advogado do acusado, pelo Ministério Público e pelo assistente de acusação se
houver.
O interrogatório é considerado como meio de prova da defesa e da
acusação, pelo princípio da comunhão das provas. A doutrina dominante
entende que o interrogatório é prova de defesa, pois normalmente o réu, ao ser
ouvido, apresenta a sua versão sobre os fatos articulados na exordial acusatória.
A partir da vigência da Lei 10.792 de 01 de dezembro de 2.003, o
interrogatório, doravante, necessita da participação do advogado. Reserva, ao
réu, o direito de antes de ser ouvido, ter entrevista reservada com seu defensor.
Exige o CPP que o interrogatório do réu seja realizado na presença de seu
defensor, que pode, após as perguntas realizadas pelo Juiz, fazer perguntas ao
interrogado, conforme se observa do artigo 188 do Estatuto Processual Penal.
Embora deva ser realizado no final da instrução, nada impede que o
interrogatório seja realizado em qualquer fase do processo, mesmo após a
prolação de sentença, ou seja reinterrogado em qualquer tempo, até mesmo em
grau de recurso. É prova de defesa, pois o réu apresenta, livre de qualquer vício
ou coação, sua versão sobre os fatos. Nada impede que o acusado permaneça
calado e não responda às perguntas, sendo este direito elevado a foro de
constitucional.
Caso o acusado confesse o delito, sua confissão tem valor relativo, como
todas as outras provas processuais penais e só será aceita se corroborada por
demais elementos de prova e de convicção.
O interrogatório deve ser digitado também sendo permitido que o mesmo
seja realizado por esteneotipia, assinado pelo juiz, pelo acusado, pelo defensor,
se estiver presente, e, no caso de réu menor, também pelo seu curador. Quando o
acusado é menor de 21 (vinte e um) anos é necessário, no interrogatório, a
presença de um curador, como fiscal de seus interesses.
Permaneço com o entendimento de que para o réu menor de 21 anos é
necessário a presença de curador, visto que muito embora a legislação civil
tenha alterado a capacidade para dezoito anos completos, a lei processual penal
99
somente pode ser alterada ou revogada por outra lei processual penal, fato que
inocorreu, permanecendo incólume o entendimento da necessidade de curador,
em minha modesta opinião, muito embora exista entendimentos em sentido
diametralmente oposto.
Normalmente o acusado é interrogado perante o juiz do local onde o
crime se consumou. Todavia, quando o acusado mora em Comarca diversa de
onde está sendo processado este é interrogado mediante carta precatória
O interrogatório é feito de forma oral pelo Juiz ao acusado através de
perguntas. Posteriormente, de acordo com as respostas dadas pelo acusado, o
juiz dita as respostas ao escrivão em obediência estrita ao seu conteúdo. Este ato
é chamado de transcrição.
O réu surdo é argüido por escrito e a sua resposta é oral.
O réu mudo é questionado de forma oral e por escrito dará as suas
respostas.
O réu surdo-mudo é interrogado por escrito e por escrito dará as suas
respostas.
No processo penal utiliza-se o tradutor ou interprete quando o acusado é
analfabeto ou quando não se comunica pela linguagem dos sinais ou labial, ou
quando o acusado for estrangeiro que não conhece o idioma pátrio.
100
Temos ainda a questão controvertida do acusado do menor de 21 anos.
Considera-se réu menor, o acusado maior de dezoito anos de idade e menor de
21 anos. Essa idade deve ser levada em conta pelo magistrado quando do
interrogatório do acusado. Se este quando do interrogatório judicial for menor de
21 anos, obrigatoriamente deverá ser assistido por um curador nomeado pelo
Juiz.
O curador pode ser qualquer pessoa maior, mas, na prática forense
normalmente o curador do réu menor é, na maioria dos casos, seu advogado que
patrocinará a sua defesa. Como dito anteriormente, permaneço com o
entendimento da necessidade do curador, haja vista que não houve qualquer
norma que alterasse dispositivo do Código de Processo Penal que abolisse tal
exigência.
Nos processos comuns, o réu é interrogado após o final da instrução
probatória.
No Plenário do Júri o réu ao final também antes do inicio dos debates,
mas sempre depois do sorteio dos sete jurados e da formação do conselho de
sentença.
Nos procedimentos regidos pela Lei 9.099/95, o acusado é interrogado
por último, após a colheita das provas.
Vale ressaltar, uma vez mais, que a qualquer tempo o réu pode ser
novamente interrogado, quando o juiz necessite de novos esclarecimentos para
julgamento do processo.
Um novo interrogatório pode a qualquer tempo ser realizado, a pedido
das partes ou até mesmo de ofício pelo juiz, pelo princípio da verdade real.
101
citado por edital; c) réu que não compareceu e não contratou advogado.
Observe-se que caso o acusado não compareça mas contrate advogado não
haverá suspensão do processo e nem do prazo prescricional.
DA CONFISSÃO
102
A retratação pode ser total ou parcial. No primeiro caso quando o
acusado muda todo o seu depoimento e no segundo caso quando muda apenas
parte de seu depoimento.
Ao confessar um crime, o acusado deverá agir de forma livre, o que
significa que sua confissão deve ser voluntária com intenção de dizer a verdade.
Tem-se como inválida a confissão obtida por defeitos do ato jurídico
como erro, dolo, coação, simulação ou fraude.
A Confissão Ficta ocorre apenas no Direito Civil, não se encontrando
presente no campo do Direito Processual Penal a presunção de veracidade,
devendo as acusações serem provadas de forma convincente para o nascedouro
de uma sentença penal condenatória.
Como já dito se o réu for citado por encontrar-se em lugar incerto e não
sabido, deverá ser citado por edital. Se não comparecer e nem constituir
advogado, o processo ficará suspenso, bem como o prazo prescricional.
Os Benefícios inerentes à confissão é que, confessando o crime, o infrator terá
em seu favor uma causa atenuante genérica. Pelo advento da Lei 9.807/99 em
seu artigo 13 poderá obter o perdão judicial ou redução de pena44.
103
um grande constrangimento e até mesmo situações de coação ou de ameaças
frequentes.
Isto quer me parecer, nos termos do artigo 201, § 5º do CPP, que a vítima
poderá intentar ação judicial para compelir o acusado ao pagamento de suas
despesas médicas e tratamento psiquiátrico e assistência jurídica, e caso, o
acusado não possua recursos financeiros poderá exigir do Estado tais
providencias através de ação própria.
104
A discussão da palavra da vítima nos Crimes praticado às Escondidas tem
merecido um certo destaque. Em certos crimes a palavra da vítima torna-se
indispensável, na ausência de demais provas. É o que ocorre nos denominados
delitos sexuais ou em roubos à mão armada. Neste caso, o magistrado deverá
agir com extrema cautela e se houver nas palavras da vítima coerência e
exatidão, pela natureza do crime e pela ausência de demais provas, poderá
prolatar decisão condenatória45.
105
optem pela absolvição do acusado, poderão estar colocando em liberdade um
contumaz agressor sexual. Por outro lado, caso a opção pela condenação, o
cárcere poderá contar com mais um inocente em suas fileiras. Eis o dilema do
magistrado. Imagine, agora a prova conta o acusado sendo formada pelo
depoimento de uma criança que, na fase policial alegou uma situação e em Juízo
apresentou versão inteiramente diversa daquela apresentada anteriormente, o
que de forma comum ocorre na prática forense.
a) imaturidade psicológica;
b) imaginação;
c) sugestibilidade;
d) imaturidade moral.
106
por pessoas próximas a ela, tende a ocultar-se atrás de um segredo familiar,
no qual a vítima não revela seu sofrimento por medo ou pela vontade de
manter o equilíbrio familiar. As consequências desse delito são nefastas
para a criança, que ainda se apresenta como indivíduo em formação,
gerando sequelas por toda a vida. Apesar da validade desse testemunho
infantil, a avaliação deve ser feita com maior cautela, sendo arriscada a
condenação escorada exclusivamente neste tipo de prova. Urge ressaltar que
o Juiz forma a sua convicção pela livre apreciação da prova. Não fica adstrito a
critérios valorativos e apriorísticos, sendo livre na sua escolha, aceitação e
valorização (doutrina). No caso em exame, a ausência das declarações da vítima
em Juízo e em sede extrajudicial não tem o condão de afastar a existência do
delito em questão e de sua autoria, eis que os depoimentos testemunhais
aliados à prova do laudo psicológico mostram-se aptos a embasar o decreto
condenatório. Provas suficientes a ensejar um juízo de condenação.
Sentença condenatória mantida. Considerando que a denúncia não descreve que
o crime foi praticado por mais de uma vez, não há como manter o aumento pela
continuidade delitiva. Recurso parcialmente provido. (Apelação nº 0154940-
08.2006.8.19.0001, 1ª Câmara Criminal do TJRJ, Rel. Marcus Basilio. j.
12.11.2013).
E ainda: “PENAL E PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL.
ESTUPRO DE VULNERÁVEL (QUATRO VÍTIMAS). MATERIALIDADE.
AUSÊNCIA DE VESTÍGIOS DE CONJUNÇÃO CARNAL.
IRRELEVÂNCIA, CONFORME A NATUREZA DO ATO
CONCUPISCENTE PRATICADO. AUTORIA. ALEGAÇÃO DE
INSUFICIÊNCIA DE PROVAS PARA A CONDENAÇÃO. SUPOSTA
FALTA DE CONFIABILIDADE NO DEPOIMENTO INFANTIL.
INOCORRÊNCIA. IMPORTÂNCIA DA PALAVRA DA VÍTIMA COMO
VETOR PROBATÓRIO. PENA. APLICAÇÃO DA CONTINUIDADE
DELITIVA. INVIABILIDADE. APELO CONHECIDO E IMPROVIDO. 1. O
crime de estupro de vulnerável encerra em seu tipo (art. 217-A, do CPB) uma
infinidade de atos concupiscentes que podem caracterizá-lo; destarte, a ausência
de vestígios de conjunção carnal, pericialmente constatada, não tem o condão,
por si só, de afastar a caracterização do delito, mormente quando as demais
provas evidenciam a prática de atos libidinosos diversos, como apalpadelas
nas genitálias, fricção do pênis na vagina e sexo oral. 2. Nos crimes contra a
liberdade sexual, praticados, geralmente, em circunstâncias furtivas, as
declarações da ofendida, prestadas durante a persecução criminal, ganham
especial relevância como vetor probante, desde que coerentes e
harmonizadas com os demais elementos de prova coligidos nos autos. 3.
Depoimentos de vítimas menores de idade não são destituídos de força
probante, em razão, apenas, da imaturidade natural dessa condição pueril.
Cabe ao magistrado sopesar, com cautela, o aspecto qualitativo das
palavras da vítima infante, no momento de valorar o conjunto probatório.
107
4. Se o acervo probatório do delito de estupro de vulnerável é composto por
declarações firmes e seguras de quatro vítimas, todas irmãs, corroboradas
por outros depoimentos testemunhais, inviável acolher o pleito absolutório.
5. Prevalecendo na jurisprudência a adoção da teoria objetivo-subjetiva, para a
caracterização do crime continuado, inviável a sua aplicação in casu, à vista do
contexto fático-probatório, revelador de autonomia de desígnios no
comportamento delituoso do réu. 6. Apelo conhecido improvido. (Processo nº
055497/2014 (162920/2015), 2ª Câmara Criminal do TJMA, Rel. José Luiz
Oliveira de Almeida. DJe 15.04.2015).
DA PROVA TESTEMUNHAL
108
falso testemunho seja prestado em Plenário, a testemunha poderá se retratar
até a votação dos quesitos e somente será processada por falso, se os jurados
votarem em quesitação na sala secreta que a testemunha calou, omitiu ou
falseou a verdade.
Existem pessoas que não prestam compromisso, e em razão deste fato
serão ouvidas como declarantes ou informantes. Essas pessoas abaixo
relacionadas podem ser ouvidas, mas, se mentirem, não respondem
criminalmente pelos seus atos. São elas: doentes mentais, deficientes mentais, os
menores de 14 anos, as vítimas e ofendidos, o ascendente, o descendente, o
cônjuge ou filho adotivo do acusado. Essas pessoas são ouvidas como
declarantes.
109
engenheiro), isto se o fato a ser testemunhado decorreu do exercício de sua
profissão. Esta proibição se faz necessária devido ao sigilo que se emprega a
certas profissões, podendo, se revelado, constituir crime ou infração
disciplinar.
110
Certas pessoas são inquiridas em local especial como o Presidente da
República, os Governadores, os Vice Governadores, os deputados, senadores e
os juízes de direito, Ministros e Desembargadores.
111
Ordem dos Advogados, passível de severa punição. O art. 342 do Código Penal
é um tipo próprio, é um crime de mão própria, só deve e pode ser praticado
pelas pessoas ali mencionadas, quais sejam: testemunhas, peritos, contador,
tradutor ou intérprete.
Criminalmente a questão deve ser tratada sobre o enfoque do crime em
questão. Neste caso há entendimento no sentido que o advogado pode ser
responsabilizado por participação no crime em questão. Observe-se: RECURSO
EM SENTIDO ESTRITO. FALSO TESTEMUNHO PRATICADO POR
ADVOGADO QUE INSTRUI TESTEMUNHA A MENTIR. ART. 342 DO
CÓDIGO PENAL. 1. A denúncia imputou à recorrida o crime previsto no art.
342 do CP. 2. O advogado que instrui a testemunha ou o informante a
mentir responde, na condição de partícipe, pelo crime de falso testemunho.
Precedentes do STF (RHC 81327/SP; HC 75037/SP; RHC 74395/SP). 3.
Recurso em sentido estrito provido. (Recurso em Sentido Estrito nº 0003150-
23.2012.4.01.3809/MG, 4ª Turma do TRF da 1ª Região, Rel. Hilton Queiroz. j.
27.08.2013, unânime, DJ 26.09.2013).
Por outro lado, o advogado não é obrigado a depor, na qualidade de
testemunha, contra seu cliente, mesmo porque tem reservado a si o sigilo
profissional, e assim sendo não pode ser compelido a tal situação. Observe-se:
“HABEAS CORPUS - FALSO TESTEMUNHO - ADVOGADO DA PARTE
INVESTIGADA - AUSÊNCIA DE COMPROMISSO E PRINCÍPIO DO
TENETUR SE DETEGERE - ATIPICIDADE DA CONDUTA -
TRANCAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL - ORDEM CONCEDIDA. A
testemunha ouvida perante a Promotoria de Justiça como suposto advogado da
parte investigada no inquérito civil, que não prestou compromisso, em
decorrência do disposto no art. 207, do CPP, não comete o crime de falso
testemunho, principalmente por não estar obrigado a prestar declarações
que possam incriminá-lo, em decorrência do direito de não produzir prova
contra si, insculpido na Constituição da República (art. 5º, inciso LXIII),
norma que garante status constitucional ao princípio do nemo tenetur se
detegere. (Habeas Corpus nº 1409608-42.2014.8.12.0000, 2ª Câmara Criminal
do TJMS, Rel. Ruy Celso Barbosa Florence. j. 03.11.2014)”.
112
este tipo de reconhecimento é que faz nascer o retrato falado que se trata de
desenho dos traços físicos de uma pessoa. Tem função de identificação de
possíveis autores de crimes, seja através do denominado “retrato falado”,
seja através dom reconhecimento de autores por meio de fotografias ou de
identificação no caso de prisão de um determinado acusado. Neste caso, a
identificação pessoal o pretenso acusado é colocado lado a lado com
pessoas parecidas para que a pessoa possa fazer o reconhecimento. Caso o
mesmo seja reconhecido será elaborado o auto de reconhecimento positivo,
e caso o reconhecimento seja fadado ao insucesso será elaborado o auto de
reconhecimento negativo.
No reconhecimento pessoal, o identificado deve ser colocado lado a lado
com pessoas semelhantes e dentre elas deverá ser apontado o autor do
delito.
Normalmente este tipo de prova é realizado na fase inquisitorial, e assim
sendo, não se admite a participação das partes, tendo elas apenas a função
de acompanhamento.
O valor de prova é relativo e deve ser corroborado por demais meios de
convicção46.
113
DA ACAREAÇÃO
PROVA INDICIÁRIA:
47
APELAÇÃO. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. PRELIMINARES REJEITADAS. NULIDADE DA
DENÚNCIA. INOCORRÊNCIA. CUMPRIMENTO DOS REQUISITOS DO ART. 41 CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL. CERCEAMENTO DE DEFESA. PERÍCIA CONJUNTA COM DROGAS
APREENDIDAS EM OUTROS AUTOS E CONVERSÃO DO JULGAMENTO EM DILIGÊNCIA PARA
ACAREAÇÃO DOS POLICIAIS. AUSÊNCIA DE NECESSIDADE; EXISTÊNCIA DE PROVAS
SUFICIENTES PARA A CONDENAÇÃO. PRINCÍPIO "PAS DE NULLITÉ SANS GRIEF".
MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS. VALIDADE DO DEPOIMENTO DOS POLICIAIS.
CONDIÇÕES E QUANTIDADES QUE EVIDENCIAM A DESTINAÇÃO À MERCANCIA CRIMINOSA.
CONDENAÇÃO CORRETA. REDUÇÃO DA MAJORAÇÃO DA PENA-BASE. RÉU MENOR DE VINTE E
UM ANOS NA DATA DOS FATOS. MANTIDO O REGIME INICIAL FECHADO. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO. (Apelação nº 0022951-63.2014.8.26.0562, 10ª Câmara de Direito Criminal do
TJSP, Rel. Francisco Bruno. j. 22.10.2015).
114
O indício é uma prova indireta decorrente da lógica. O indício não é prova,
mas de forma indireta leva a esta. Pela prova indiciária chega-se a constatação
de um fato a que se quer provar. Trata-se da indução, da presunção, que pode ter
uma conclusão falsa ou verdadeira. Normalmente, na prova indiciária as
premissas podem ser até verdadeiras, mas a conclusão muitas vezes não
corresponde a realidade.
115
Quando da ocorrência de um crime, a Autoridade Policial deve encetar todas as
investigações no sentido de identificar a autoria e a materialidade deste ilícito
penal. Além disso, é função da autoridade policial conseguir elementos
probatórios aptos à configuração da autoria do crime e a sua materialidade. È
uma de suas funções essenciais na fase de inquérito apreender armas, objetos,
cartas ou escritos que tenham relação direta ou indireta com a prática da infração
penal. Assim, podem ser apreendidos quaisquer objetos, coisas, papéis que
possuam relação direta ou mesmo indireta com a prática delituosa. Veja que
caso a coisa seja injustamente apreendida o prejudicado pode ser valer do pedido
de restituição de coisas apreendidas ou do mandado de segurança, como outrora
já fora delineado.
Assim o morador deve franquear a casa somente nos casos de flagrante delito,
desastre ou para prestar socorro. Fora desses casos é necessário o mandado
judicial que deve ser cumprido durante o dia (das 18 ás 06 da manhã).
BUSCA DOMICILIAR
116
por meios criminosos, para apreender instrumentos de falsificação, contrafação
ou contrafação ou objetos falsificados, para apreender armas e munições,
descobrir objetos necessários à prova da infração ou que sirvam de elementos
probatório para a defesa do réu, apreender vítimas de crime ou colher qualquer
elemento de convicção.
A busca domiciliar que deverá ser precedida de mandado judicial deverá ser
realizada durante o dia, somente podendo ocorrer à noite quando houver
expressa autorização do morador, devendo o mandado ser apresentado e lido ao
morador da casa.
Temos ainda a busca pessoal que é uma subdivisão da busca e apreensão, só que
usada na pessoa. È conhecida popularmente como revista ou como batida. Pode
ser usada pelos agentes da administração, tendo em vista o police power do
117
Direito Administrativo, e é usada quando existe fundada suspeita que alguém
porte arma proibida, ou se ache em posse de coisas obtidas por meios
criminosos, drogas ou até mesmo para configuração de prova de acusação ou de
defesa.
Os agentes públicos que praticam revista em pessoas – desde que haja fundada
suspeita – não cometem qualquer tipo de delito, caso não haja abuso, uma vez
que estão amparados pelas excludentes do exercício regular do direito e no
estrito cumprimento de um dever legal.
118
teremos ainda dois outros componentes: o advogado do acusado e o assistente de
acusação.
Assim os sujeitos que compõe a relação processual são divididos em
duas classes distintas:
Os Sujeitos Principais: são as pessoas que compõe uma relação
processual, e desta participam ativamente. JUIZ, AUTOR, E RÉU, e seu
defensor já que o direito de defesa é elevado a garantia de direito indisponível.
Os Sujeitos Auxiliares: são aquelas pessoas que não participam
ativamente do processo, mas são auxiliares do Poder Judiciário no desempenho
de suas funções. São os escrivães, oficiais de justiça, contadores, peritos,
interpretes, depositários e escreventes.
SUJEITOS PRINCIPAIS
MINISTÉRIO PÚBLICO
119
São garantias dos membros do Ministério Público, as mesmas previstas
para a Magistratura: Vitaliciedade, Inamovibilidade e Irredutibilidade.
O Ministério Público tem as seguintes funções: promover a ação penal
(papel parte); requisitar investigações; controle da atividade policial.
Além de autor nas ações penais públicas incondicionadas e condicionadas,
tem também a função de fiscal da lei ou CUSTOS LEGIS, podendo: a) pedir
absolvição / impetrar “habeas corpus” e até recorrer em favor do réu.
O ACUSADO
O DEFENSOR DO RÉU
120
instrumento de mandato. Também poderá substabelecer o instrumento de
procuração caso não deseje mais patrocinar a causa ou deseje que outro
profissional atue em conjunto com este. Isto muitas vezes se aperfeiçoa através
do substabelecimento que poderá ser outorgado com ou sem reservas de iguais
poderes.
No substabelecimento com reserva de poderes, o que antes era
mandatário outorga seus poderes para um terceiro, podendo atuar junto com ele,
ou com a prerrogativa de reassumir a conduta de mandatário a qualquer
momento.
Já o sem reserva de poderes, pode ser conceituado como renúncia do
poder de representação, uma vez que o ora outorgante, se desvincula de vez do
contrato, passando definitivamente todos os seus poderes ao novo mandatário.
No caso de renúncia ou de desistência da causa pelo advogado, este
deverá permanecer a disposição de seu cliente pelo prazo de dez dias, prazo este
em que se houver algum ato, audiência, prazo, ou recurso, e o réu não estiver
assistido por outro advogado, o profissional deverá cumpri-lo, e somente após o
decurso deste prazo estará liberado desta obrigação.
O direito de defesa é indisponível, deve ser exercido mesmo contra a
vontade do réu. Sendo um munus público, pois é indispensável à administração
da justiça.
Temos dois tipos de defesa. A defesa técnica que é exercida pelo
advogado e a auto defesa que é exercida pelo acusado, que tem direito de
participar das audiências e sua presença é indispensável quando se tratar de réu
preso.
A ausência do defensor, apesar de regularmente intimado, será suprida
pelo Juiz com a designação de advogado ad hoc (para o ato, para a audiência,
para o momento).
O Defensor constituído é o advogado contratado pelo réu em qualquer
momento do processo.
Quando o acusado não tem condições de arcar com o pagamento de seus
honorários, será defendido pelo Defensor Público ou pelo Defensor Dativo,
sendo que este não pode substabelecer, visto que a nomeação é considerada
como intuitu personae.
O defensor dativo é o advogado nomeado pelo juiz. Sua nomeação
poderá ser recusada pelo advogado por motivos de foro intimo.
Em processo penal deve se tomar cuidado com a chamada defesa
colidente. A defesa colidente é caracterizada quando um mesmo defensor
patrocina interesses de acusados que colidem, que se chocam, como por
exemplo, o caso de delação, onde um mesmo defensor faz a defesa de ambos os
réus, que se acusam mutuamente. Neste caso, sob pena de nulidade, deverá ser
nomeado um patrono diferente para cada acusado.
A defesa, como já explicamos, pode ser Direta (quando ataca o mérito)
ou Indireta (quando ataca o processo).
121
A falta de defesa constitui a nulidade absoluta, e sua deficiência a
nulidade relativa.
O defensor que abandona injustificadamente o processo fica sujeito a
pena de multa.48 Esse abandono deve ser injustificado e deve ser comunicado ao
Juiz para que intime o acusado a constituir novo defensor.Observe-se: “PENAL
E PROCESSUAL PENAL. MULTA DO ARTIGO 265 DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL. ABANDONO DA CAUSA CONFIGURADA.
MANUTENÇÃO DA MULTA APLICADA. 1. A sanção prevista no art. 265 do
Código de Processo Penal tem o objetivo de punir o advogado que deixa de
manejar a defesa do seu constituinte, deixando o acusado juridicamente
desamparado no que se refere à acusação que lhe é dirigida. 2. É dever do
procurador, principalmente aqueles constituídos, a defesa do acusado,
cabendo a garantia de tal prerrogativa ao Juízo que, entre outras
providências, pode, inclusive, indicar um defensor dativo quando houver
necessidade. 3. Configurado o abandono do processo, deve ser mantida a
multa estabelecida na sentença, conforme prevê o artigo 265 do Código Penal.
4. Apelação criminal improvida. (Apelação Criminal nº 0028479-
16.2008.404.7100, 8ª Turma do TRF da 4ª Região, Rel. Victor Luiz dos Santos
Laus. j. 25.02.2015, maioria, DE 14.04.2015).
A simples ausência a uma audiência, ou a não prática de um ato
processual, mesmo tendo sido o advogado regularmente intimado, não implica
necessariamente na incidência da multa, visto que a lei exige que o abandono
seja completo, ou seja, que seja demonstrado o intuito do advogado, sem justa
causa, abandonar a defesa de seu constituinte. Observe-se a respeito:
“MANDADO DE SEGURANÇA - ARTIGO 265, "CAPUT", DO CPP -
MULTA APLICADA POR AUSÊNCIA DO ADVOGADO EM AUDIÊNCIA -
DEVIDAMENTE INTIMIDADO - ANÁLISE DO CASO CONCRETO -
INEXISTÊNCIA DO ABANDONO DA CAUSA - ILEGALIDADE DA
MULTA - ORDEM CONCEDIDA. O abandono do processo, como
referenciado no caput, do art. 265 do CPP, deve ser entendido como aquele
de caráter definitivo, ou seja, aquele em que o advogado se afasta do
processo permanentemente. Eventuais ausências em audiências processuais até
podem dar ensejo a uma representação ético-profissional perante a OAB, desde
que se afigurem em manobras protelatórias de defesa, porém sem justificar a
multa aplicada. Segurança concedida. (Mandado de Segurança nº 1406819-
36.2015.8.12.0000, Seção Criminal do TJMS, Rel. Maria Isabel de Matos
Rocha. j. 09.12.2015).
A ASSISTÊNCIA
48
Art. 265. O defensor não poderá abandonar o processo senão por motivo imperioso, comunicado previamente
o juiz, sob pena de multa de 10 (dez) a 100 (cem) salários mínimos, sem prejuízo das demais sanções cabíveis.
122
No processo penal brasileiro a vítima é representada no processo criminal
pelo Estado, nas ações penais públicas, através do Ministério Público. A regra
no processo penal brasileiro é a de que as ações penais, em sua grande maioria,
são de iniciativa pública. Apenas e tão somente nas ações penais chamadas de
privadas é que o particular tem a iniciativa de ingressar com a ação penal
chamada de queixa crime.
49
Curso de Processo Penal, Editora Saraiva, p. 239
123
Na mesma esteira de entendimento temos a lição do professor
FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO 50: "Insta acentuar que,
quando se afirma que o assistente não auxilia o Ministério Público, quer-se
dizer com isto que o assistente não tem por função ajudá-lo a desincumbir-se da
tarefa que lhe é imposta por lei. É claro que, quando o assistente produz
provas, faz suas alegações, está, evidentemente, auxiliando o Ministério
Público, mas, assim agindo, está ele velando pela sorte do seu direito à
satisfação do dano".
Assim, somente ela ingressa na relação jurídica processual após o
Ministério Público ter oferecido a denúncia, como parte assistente, e não como
parte principal. Assim sendo, não pode, por exemplo, o assistente de acusação
aditar a denúncia oferecida pelo Ministério Público, como por exemplo, para
imputar ao ofensor a prática de crime mais grave do que aquela que foi
apresentada pelo Promotor Público51.
50
“(Processo penal, cit., v. 2, p. 447):
51
ADITAMENTO DA DENÚNCIA: "Não se reconhece ao assistente da acusação, legitimidade para aditar a
peça acusatória oferecida pelo Ministério Público, titular exclusivo da ação penal pública (CF, art. 129,1). Os
atos que o assistente da acusação pode praticar estão previstos na lei processual penal, não lhe sendo permitida
a iniciativa de modificar, ampliar ou corrigir a atividade do titular da ação penal" (Plenário, Pet. 1.030-
2/SE, rei. Min. limar Galvão, DJU, l2 jul. 1996, p. 23860).
124
Conforme nos ensina o professor JULIO FABBRINI MIRABETE:
“[...] o ofendido, sujeito passivo da infração penal por ser titular do bem
jurídico lesado ou posto em perigo pela conduta ilícita, pode propor a ação
penal privada exclusiva ou subsidiária da ação pública, e ainda oferecer
representação nos delitos apurados por ação penal pública a ela condicionada.
Além disso, o art. 268 lhe concede o direito de, facultativamente, auxiliar o
Ministério Público na acusação referente aos crimes que se apuram mediante
ação pública, incondicionada ou condicionada, dando-lhe, então, a
denominação de assistente (MIRABETE, 2007, p. 347)”.
52
Confira-se a respeito: “A atuação do assistente de acusação só é permitida no curso da ação penal e não na
fase pré-processual.” (TJRJ – CT 0008408-89.2011.8.19.0001 – 7ª C.Crim. – Rel. Des. Siro Darlan de Oliveira
– DJe 09.11.2011 – p. 19)
125
Direito líquido e certo, nas palavras do mestre Hely Lopes Meirelles, “é
o que se apresenta manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e
apto a ser exercitado no momento da impetração”53. Trata-se do direito sobre o
qual não paira quaisquer dúvidas, que pode ser aferido de plano, trata-se, pois do
direito indiscutível.
Celso Agrícola Barbi conceitua direito líquido e certo: "Como se vê, o
conceito de direito líquido e certo é tipicamente processual, pois atende ao
modo de ser de um direito subjetivo no processo: a circunstância de um
determinado direito subjetivo realmente existir não lhe dá a característica de
liquidez e certeza; esta só lhe é atribuível se os fatos em que se fundar puderem
ser provados de forma incontestável, certa, no processo. E isto normalmente só
se dá quando a prova for documental, pois esta é adequada, uma demonstração
imediata e segura dos fatos”.54
Como se viu o direito de participar do processo, de forma ativa pela
vítima ou por seus representantes legais, é um direito incontestável e
indiscutível. Havendo indeferimento do pedido de assistência de acusação, por
parte do Magistrado, por ausência de impugnação legal na legislação processual
brasileira, tem-se admitido a utilização do mandado de segurança ou da
correição parcial para garantir este direito ao interessado. Neste sentido,
observemos a posição da jurisprudência: ASSISTENTE DO M.P –
HABILITACAO DO OFENDIDO LEGITIMIDADE PARA FIGURAR COMO
ASSISTENTE VIOLACAO DO DIREITO LIQUIDO E CERTO SEGURANCA
CONCEDIDA MANDADO DE SEGURANÇA – PROCESSUAL PENAL –
DECISÃO QUE REVOGOU A HABILITAÇÃO DO IMPETRANTE COMO
ASSITENTE DA ACUSAÇÃO – IMPETRANTE QUE É A VÍTIMA DOS
CRIMES APURADOS NA AÇÃO PENAL – LEGITIMIDADE PARA FIGURAR
COMO ASSITENTE – INTELIGÊNCIA DO ART. 268, DO CPP – O ofendido
dos crimes apurados na ação penal possui legitimidade para figurar como
assistente da acusação ex vi do art. 268, do CPP. O assistente da acusação possui
não só o interesse jurídico de obter um título executivo, como também de
cooperar na busca da verdade substancial para a exata aplicação da sanção
penal. Para tanto, o art. 271, do CPP, lhe confere ampla participação nos atos de
instrução processual. A decisão que revoga a habilitação do ofendido como
assistente viola seu direito líquido e certo, previsto no CPP, de figurar na relação
jurídica processual. Concessão da segurança. (TJRJ – MS 0031085-
53
Barbi, Celso Agrícola. Direito Administrativo Brasileiro, 29ª edição, pág. 689
54
http://jus.com.br/revista/texto/3318/direito-liquido-e-certo-no-mandado-deseguranca#ixzz1tANEVTw8
126
53.2010.8.19.0000 – 6ª C.Crim. – Relª Desª Renata Cotta – DJe 22.06.2011 – p.
7).
55
O assistente de acusação tem legitimidade para recorrer de decisão absolutória nos casos em que o Ministério
Público não interpõe recurso. (Habeas Corpus nº 97.261/RS, 2ª Turma do STF, Rel. Joaquim Barbosa. j.
12.04.2011, unânime, DJe 03.05.2011).
127
Prazo é um período temporal, onde determinado ato deve realizar-se.
Termo compreende o dia que começa o prazo (a quo) e o dia que termina (ad
quem). Prazo inicial: dies a quo; Prazo final: dies ad quem.
O prazo pode ser comum (igual para as duas partes, tanto para o autor
quanto para o réu), próprio (prazo diferenciado para uma das partes), legal ou
judicial, pois todos os prazos são fixados pelo Código de Processo Penal.
A importância dos prazos é explicada porque elas se ligam aos conceitos
de citação e de intimação, pois existe o prazo após a citação que é para a
apresentação da defesa ou da resposta preliminar e o prazo da intimação que é o
lapso temporal onde deve ser praticado um ato no processo.
CITAÇÃO é o ato pelo qual o réu é chamado a juízo a fim de que se defenda.É
o ato pelo qual se leva ao conhecimento de alguém, qual seja, o réu de que uma
denúncia ou uma queixa-crime foi recebida pelo Poder Judiciário e de que foi
aberto prazo para que o acusado apresente a sua defesa ou resposta preliminar.
A citação pode ser REAL que é feita de forma PESSOAL ao réu, através de
MANDADO (ordem do juiz) e através de oficial de justiça. A citação real é
aquela que efetivamente ocorre no processo. Devemos nos lembrar que no
processo penal, temos a citação por hora certa (no caso do réu se ocultar a
citação) e também que não existe a citação por carta com aviso de recebimento,
vez que no processo penal a citação somente é válida se esta se dirigir única e
exclusivamente a pessoa a ser citada.
De outro lado, devemos mencionar que existe também a citação ficta, qual seja,
aquela em que o legislador presume, supõe e imagina que tenha ocorrido, e
temos como exemplo a citação por via editalícia.
128
diferente daquele onde é processado, a citação se faz através de CARTA
ROGATÓRIA. Caso o réu esteja respondendo a processo em Instância Superior
(como por exemplo nos casos de competência originária ou caso de prerrogativa
de função será citado ou intimado dos atos processuais através de carta de
ordem).
Urge salientar que o acusado preso será citado ou intimado dos atos do processo
pessoalmente, o mesmo ocorrendo com os Membros do Ministério Público, os
defensores dativos e os Defensores Públicos. A única exceção à esta regra é em
relação aos advogados constituídos que serão intimados da sentença através de
publicação nos órgãos incumbidos de dar ciência oficial dos atos, como o Diário
Oficial da União ou dos Estados.
CAPÍTULO PRISÕES
129
Nosso ordenamento jurídico somente prevê a prisão do cidadão brasileiro
em duas hipóteses: mediante auto de prisão em flagrante delito e/ou mediante
ordem escrita e fundamentada por parte da Autoridade Competente.
A prisão ilegal é aquela que é realizada fora das situações de flagrante
delito ou quando não há qualquer ordem judicial para segregamento do
indivíduo. Caso seja realizada uma prisão fora das situações acima descritas, tal
conduta poderá ser caracterizada como crime de abuso de autoridade, e no caso
de particular que pratica esta conduta, poderá ser caracterizada como
constrangimento ilegal ou cárcere privado e até mesmo denunciação caluniosa.
Neste caso, também poderá ser requerida, na esfera cível, a ação de
indenização por danos morais, materiais, lucros cessantes em face do Estado ou
da pessoa que realizou a custódia indevida.
Em nosso ordenamento jurídico temos dois tipos principais de prisão:
130
ordenamento jurídico pátrio, vez que prevalece o princípio da inocência. Dentro
da espécie da prisão cautelar, temos as seguintes espécies, previstas em nosso
ordenamento jurídico:
A) Prisão por Auto de Prisão em Flagrante Delito (Arts. 301 A 310 Do
CPP);
131
E) Prisão Resultante de Sentença Penal Condenatória 58 - (Art. 393,I, Do
CPP), em certos casos, devidamente recomendados, o acusado aguarda o
desfecho de seu recurso preso provisoriamente.
132
APELAÇÃ O CÍVEL. EXECUÇÃ O DE PRESTAÇÃ O ALIMENTÍCIA SOB O RITO DO
ART. 733 DO CPC. CONHECIMENTO PARCIAL. INADIMPLÊ NCIA DE DÉ BITO ALIMENTAR
EXTRAORDINÁ RIO E PRETÉ RITO. INTELIGÊ NCIA DO ART. 733 C/C A SÚ MULA Nº 309
DO STJ. REGRA NÃ O ABSOLUTA. ALIMENTOS QUE PERDERAM O CARÁ TER
EMERGENCIAL. EXECUÇÃ O QUE DEVE SE GUIAR PELO ARTIGO 732 DO CÓ DIGO DE
PROCESSO CIVIL. TEMPERAMENTO EM RAZÃ O DO CASO CONCRETO. SENTENÇA
MANTIDA. 1. É cabível a prisã o civil do alimentante inadimplente em açã o de execuçã o
contra si proposta, quando se visa ao recebimento das ú ltimas três parcelas devidas a
título de pensã o alimentícia, mais as que vencerem no curso do processo. Exegese do
artigo 733 do có digo de processo civil e da Sú mula nº 309 do Superior Tribunal de
justiça. 2. A natureza alimentar do débito nã o se altera em virtude do inadimplemento
do devedor. Entretanto, o decurso do tempo retira o cará ter emergencial dos alimentos,
razã o pela qual os alimentos pretéritos nã o devem ser executados mediante o rito
excepcional do artigo 733 do có digo de processo civil. 3. A execuçã o de prestaçã o
alimentícia extraordiná ria, relativa à despesa com excursã o, ficou desprovidos da funçã o
de garantia do bem da vida, e, portanto, da funçã o emergencial da execuçã o prevista no
artigo 733 do CPC. Recurso conhecido, em parte, e na parte conhecida, nã o provido. (TJ-
PR; ApCiv 1097796-7; Mandaguari; Décima Segunda Câ mara Cível; Relª Desª Rosana
Amara Girardi Fachin; DJPR 14/05/2014; Pá g. 533)
que se vencerem no curso do processo (Súmula nº 309). 3. Ordem concedida. Decisão unânime. (TJ-PE; HC
0002720-04.2014.8.17.0000; Sexta Câmara Cível; Rel. Des. Evandro Magalhães Melo; Julg. 10/06/2014; DJEPE
08/07/2014)
133
Súmula vinculante nº 25.
É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a
modalidade do depósito. (DJe-STF 23.12.2009)
134
veículo ao credor, é possível o cumprimento do comando sentencial
pelo equivalente em dinheiro, o que derrui a alegação de que a
condenação seria inútil. 3. O fato de ser possível o ajuizamento de
Execução não obsta que a satisfação do crédito seja buscada por
outros meios. 4. Da circunstância de estar o Réu representado por
curador especial não decorre sua impossibilidade de arcar com os
custos do processo. (TJ-MG; APCV 1.0702.10.044687-2/001; Rel.
Des. José Marcos Vieira; Julg. 26/06/2014; DJEMG 07/07/2014) CP
135
excepcional. Recurso negado. (TJSP – AI 218.292-5/4 – 1ª CDPúb. – Rel. Des.
Danilo Panizza – J. 15.05.2001)
Como segunda argumentação deve ser realçado que a penhora de
rendimentos da empresa, qual seja, o seu faturamento, configura-se como a
penhora da própria empresa. Os rendimentos da empresa geralmente são usados
para pagamento dos salários dos trabalhadores da empresa, compra de matéria
prima e pagamento de fornecedores, despesas estas necessárias ao exercício
profissional, o que de forma implícita e reflexa, estaria a decisão judicial
determinando a penhora de salários, que é proibido pela Carta Magna, que
somente é permitida em caso de débito alimentar.
136
Precedentes. Embargos de divergência recebidos. A penhora em dinheiro (art.
11, I, da L. 6.830/80 e art. 655, I, do CPC) pressupõe numerário existente, certo,
determinado e disponível no patrimônio do executado. A penhora sobre
percentual do movimento de caixa da empresa-executada configura penhora do
próprio estabelecimento comercial, industrial ou agrícola, hipótese só admitida
excepcionalmente (§ 1º do art. 11 da L. 6.830/80), ou seja, após ter sido
infrutífera a tentativa de constrição sobre os outros bens arrolados nos incisos
do art. 11 da LEF. Inteligência dos arts. 10 e 11 da L. 6.830/80 e dos arts. 655,
677 e 678 do CPC. (STJ - EDREsp. 48.959 - SP - 1ª S - Rel. Min. Adhemar
Maciel - DJU 20.04.98).
137
741002 – SBDI 2 – Rel. Min. José Simpliciano Fernandes – DJU
06.09.2001 – p. 540)
138
Na prática, possibilita a autoridade policial colher de imediato as provas
referentes à materialidade e a autoria do delito.
139
supostamente, era responsável pelo abastecimento de um ponto de venda de
drogas. Ademais, o paciente é reincidente específico e estava, inclusive,
cumprindo pena em regime aberto quando do cometimento do presente delito.
(TJ-MS; HC 4012987-39.2013.8.12.0000; Campo Grande; Primeira Câmara
Criminal; Rel. Des. Dorival Moreira dos Santos; DJMS 14/01/2014; Pág. 47)
É muito conhecida e até a prática de que basta ao autor do fato ficar
foragido durante certo tempo para que esteja fora do estado de flagrância, e
consequentemente se livrar da prisão. Entretanto, se, mesmo após este prazo, o
autor do fato estiver sendo perseguido, o estado de flagrância permanece,
podendo ele ser preso e autuado em flagrante.
O auto flagrancial possui dois sujeitos: o sujeito ativo (que é o condutor) e
o sujeito passivo (que é o conduzido).
140
Caso não existam testemunhas do delito, devem ser levadas à autoridade
policial duas pessoas que presenciaram a apresentação do conduzido.
Presentes todas essas pessoas, e constatando a autoridade policial que
existe crime “in these”, deve ser lavrado o auto de prisão em flagrante, e no
respectivo auto deve ser constado data, hora e local da lavratura do auto.
Depois disso, é ouvido o condutor, as testemunhas (que deverão ser
qualificadas) e, por último, ser ouvido e interrogado o conduzido.
O auto de prisão em flagrante deverá ser assinado pela autoridade policial,
pelo condutor, pelas testemunhas e pela vítima. Se o conduzido não quiser ou
não puder assiná-lo, duas testemunhas deverão fazê-lo depois de lida a peça na
presença de todos.
Findo o auto, a autoridade policial pode determinar a realização de
alguma diligência, remeter ao Meritíssimo Juiz de Direito cópia da lavratura do
auto de prisão em flagrante, expedir a nota de culpa, arbitrar fiança e colocar o
acusado em liberdade em determinados casos.
Nota de culpa é a comunicação ao conduzido, por escrito, no prazo de 24
horas, dos motivos pelos quais foi cerceado seu “status libertatis “, que deve ser
entregue no original. Se ele se recusar a assinar a nota de culpa deverão assiná-la
duas testemunhas.
Observação: No caso de prisão em flagrante, como vimos o Juiz deve ser
comunicado da ocorrência da prisão, onde ao receber o auto de prisão em
flagrante poderá conceder ao acusado a sua liberdade provisória mediante o
pagamento de fiança ou impor alguma medida cautelar substitutiva da prisão, o
relaxamento da prisão ou em casos mais graves pode converter a prisão em
flagrante em prisão preventiva.
141
O prazo para conclusão do inquérito é de dez dias para réu preso, exceto
nos casos de ser concedida fiança ou que o réu se livra solto, em que o prazo é
de trinta dias (art. 10, CPP).
Nenhuma participação tem o advogado no auto de prisão em flagrante,
cabendo a ele tão somente zelar pelos interesses de seu cliente, podendo ser
inclusive ser nomeado como curador ao réu menor.
Como vimos ao menor de 21 anos e maior de 18 anos de idade, a
Autoridade Policial deve nomear ao réu menor um curador, cuja formalidade é
essencial e caso desobedecida poderá dar ensejo ao relaxamento da prisão.
Todas as formalidades devem ser obedecidas, sob pena de invalidade do
auto como peça coercitiva e caso alguma formalidade seja ignorada ou
desobedecida pela Autoridade Policial deverá ingressar com pedido de
relaxamento de prisão em flagrante.
142
VII - Se o acusado é perseguido logo após a prática de um delito, para
que a prisão seja legítima, deve existir perseguição contra o mesmo, ou caso
contrário, se preso com instrumentos, objetos e papéis que façam presumir que
ele seja o autor do delito, este período de perseguição deve ser exíguo, para que
possa subsistir a prisão em flagrante.
143
Daí, temos três espécies de flagrante, que devem ser diferenciados nos
casos práticos, utilizando-se o intérprete da lei da teoria finalista da ação,
buscando identificar qual a real intenção do agente ao praticar o fato:
144
C) Flagrante Forjado: ocorre quando a polícia inventa um fato ou crime
visando prender ou prejudicar determinada pessoa. É um flagrante feito ao
arrepio da lei, podendo o policial ser processado por abuso de poder.
145
antecedentes, possui emprego e residência fixa e não existem os pressupostos
para a decretação de sua prisão preventiva. Observe-se:
HABEAS CORPUS. CRIME DE NARCOTRÁFICO (ARTIGO 33, DA
LEI Nº 11.343/06). DEFERIMENTO DE LIMINAR (FLS. 17/19).
CONCESSÃO DE LIBERDADE PROVISÓRIA À PACIENTE. A concessão
da ordem de habeas corpus em caráter liminar é figura de criação pretoriana e
destinada a casos excepcionais, nos quais se enquadra o presente. Verifica-se
que a paciente foi presa em flagrante pela prática, em tese, do delito de tráfico
de drogas, obtendo o auto respectivo a homologação judicial (fls. 31/32 do
apenso), tendo a mesma decisão convertido aludido flagrante em preventiva, na
forma do artigo 310 - II, do CPP. Inviável o exame aprofundado da prova no
âmbito estreito do habeas corpus, como é consabido, de modo que inviável
aquilatar a alegação de que a paciente não cometeu o delito de tráfico a ela
imputado. Resta analisar, apenas, se a paciente possui o direito de responder ao
processo em liberdade e, no caso concreto, compulsando os autos, penso que a
resposta é positiva. Vê-se que a paciente foi abordada pelos policiais em
operação de rotina, tanto que não havia mandado de busca em cumprimento;
trata-se de pessoa tecnicamente primária, pois não registra qualquer condenação
transitada em julgado; a paciente não foi flagrada na prática de ato de comércio
com a droga e, finalmente, houve a apreensão de apenas 30 pedrinhas de crack,
com peso aproximado de 4,4 gramas. É notória a natureza extremamente nociva
do crack, mas a quantidade apreendida, se não pode ser considerada como
inexpressiva, de vulto também não é, não se podendo afastar, de modo
categórico, a possibilidade de aplicação da redutora do artigo 33-§ 4º, da Lei nº
11.343/06, de substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de
direitos e da estipulação de regime carcerário diverso do fechado. Ora, se a
paciente não permanecerá recolhida ao cárcere na hipótese de sua eventual
condenação, não parece razoável mantê-la presa durante o trâmite do processo.
Cabível a concessão da ordem impetrada liminarmente, assegurando à paciente
o direito de responder em liberdade ao processo criminal a ser instaurado para
apurar o fato a ela imputado, mediante condições. Voto vencido. Liminar
ratificada. Ordem concedida, por maioria. (TJ-RS; HC 134138-
06.2014.8.21.7000; Cachoeira do Sul; Segunda Câmara Criminal; Rel. Des. José
Antônio Cidade Pitrez; Julg. 26/06/2014; DJERS 04/08/2014)
146
seguida, não havendo mais a necessidade de se terminar todo o auto para que
os participantes, ao final, assinem.
147
cautelares. O juiz poderá avaliar também eventuais ocorrências de tortura ou de
maus-tratos, entre outras irregularidades.
O projeto prevê também a estruturação de centrais de alternativas penais,
centrais de monitoramento eletrônico, centrais de serviços e assistência social e
câmaras de mediação penal, que serão responsáveis por representar ao juiz
opções ao encarceramento provisório.
A implementação das audiências de custódia está prevista em pactos e
tratados internacionais assinados pelo Brasil, como o Pacto Internacional de
Direitos Civis e Políticos e a Convenção Interamericana de Direitos Humanos,
conhecida como Pacto de San Jose62.
O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA entendeu que a ausência de realização
de audiência de custodia não torna ilegal a prisão, visto que o que a lei exige é
que a prisão seja comunicada no prazo de 24 (vinte e quatro) horas e não a
realização de qualquer ato processual de audiência de custódia. O ministro
Reynaldo Soares da Fonseca, relator no STJ, concluiu que “a observância à
necessidade de realização da audiência de custódia é questão ainda incipiente
em nosso país”, com implantação gradual nos estados. “Mesmo onde já há
norma estadual, como em São Paulo e no Rio de Janeiro, não se vislumbra, por
ora, a obrigatoriedade da realização de audiência de custódia sob pena de
ilegalidade da custódia cautelar”, afirmou.
62
A audiência de custódia é prevista na Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH), que ficou conhecida como "Pacto de San
Jose da Costa Rica", promulgada no Brasil pelo Decreto 678/92.Artigo 7º - Direito à liberdade pessoal (...)5. Toda pessoa presa, detida ou
retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada por lei a exercer funções judiciais (...)
63
Fonte Revista Consultor Jurídico, 5 de maio de 2016, 16h32-
CONJUR-
http://www.conjur.com.br/2016-mai-05/falta-audiencia-custodia-nao-torna-ilegal-prisao-
cautelar
148
Neste sentido observe-se: “PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO
ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. ACÓRDÃO EXTRA PETITA. NÃO
VERIFICADO. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA. AUSÊNCIA. NULIDADE.
NÃO CONFIGURADA. DECISÃO DO STF. MEDIDA CAUTELAR NA
ADPF Nº 347/MC-DF. PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO
CONCRETA. MEDIDAS ALTERNATIVAS. IMPOSSIBILIDADE. 1. Não se
constata julgamento extra petita, na medida em que para se concluir pela
possibilidade ou não do pedido alternativo de substituição da prisão preventiva
por medidas cautelares diversas da prisão, formulado na inicial do habeas
corpus, tem-se por necessário o exame dos fundamentos do decreto de prisão
preventiva. Preliminar rejeitada. 2. A jurisprudência dessa Corte Superior é
no sentido de que ausente regulamentação interna que discipline os
procedimentos para a audiência de custódia, não há se falar em ilegalidade
decorrente de sua não realização, além do que a decisão de prisão
preventiva supera a falta da audiência de custódia. Precedentes. 3. O
Supremo Tribunal Federal proferiu acórdão no julgamento de Medida Cautelar
na ADPF nº 347/MC-DF, "para determinar aos juízes e tribunais que,
observados os artigos 9.3 do Pacto dos Direitos Civis e Políticos e 7.5 da
Convenção Interamericana de Direitos Humanos, realizem, em até noventa dias,
audiências de custódia, viabilizando o comparecimento do preso perante a
autoridade judiciária no prazo máximo de 24 horas, contados do momento da
prisão" (ADPF 347/MC-DF, Rel. Min. Marco Aurélio, 09.09.2015). 4. A
decisão de preventiva fundou-se na conduta violenta e reiteração delitiva do
acusado, salientando o magistrado de piso que já se extrai o comportamento
agressivo do réu e sua personalidade voltada à prática de delitos, sempre com
violência contra a pessoa, conforme se verifica no documento de fls. 125 e
verso, comportamento que vem reafirmado de forma geral e quase unânime
pelas testemunhas ouvidas na inquisa; ...até porque várias das testemunhas
ouvidas afirmam temer o temperamento violento do acusado, dentre elas a
própria vítima GABRIEL...; ...o ora denunciado vem adotando comportamento
crescentemente violento, a julgar pelo já mencionado documento de fls. 125 e
verso, alguns adotados ainda na fase adolescente, sendo que as anotações
correspondentes à idade adulta não parecem ter culminado em efetiva
condenação. Assim, inviável a aplicação de medidas diversas da prisão. 5.
Recurso em habeas corpus improvido. (Recurso em Habeas Corpus nº 63.872/RJ
(2015/0229075-8), 6ª Turma do STJ, Rel. Nefi Cordeiro. j. 17.03.2016, DJe
01.04.2016).
149
Confira-se ainda: “HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. PRISÃO
PREVENTIVA. NECESSIDADE DE GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA.
ALEGAÇÃO DE NULIDADE POR AUSÊNCIA DE AUDIÊNCIA DE
CUSTÓDIA. AUSÊNCIA QUE NÃO CARACTERIZA
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. PERIGO CONCRETO À ORDEM
PÚBLICA. ORDEM DENEGADA. UNÂNIME. (Habeas Corpus nº 0804583-
42.2015.8.02.0000, Câmara Criminal do TJAL, Rel. José Carlos Malta Marques.
j. 17.02.2016)”.
Da Prisão Preventiva
Este tipo de prisão tem como finalidade a de que o acusado aguarde, preso,
o seu julgamento. Sendo uma medida cautelar, necessário se faz com que
estejam presentes os dois requisitos autorizadores de toda a medida cautelar que
são: o periculum in mora e o fumus boni júris.
Para a sua decretação necessária se faz a presença de, pelo menos, indícios
de autoria e materialidade de um delito.
As hipóteses para a sua decretação estão presentes no artigo 312 do Código
de Processo Penal, e são as seguintes:
150
c) Conveniência da instrução criminal: trata-se de um meio colocado
à disposição do ente estatal, para assegurar todas e quaisquer
provas que devam ser produzidas contra o criminoso, evitando-se
que as mesmas desapareçam ou que o acusado coaja testemunhas,
destrua provas ou apague vestígios ou mesmo suborne pessoas que
devam julgar ou que, a princípio, com seus depoimentos incriminem
o agente;
151
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSO
PENAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. PRISÃO PREVENTIVA.
SEGREGAÇÃO DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA NA GARANTIA
DA ORDEM PÚBLICA. ARGUMENTOS CONCRETOS.
DESCUMPRIMENTO DE MEDIDAS PROTETIVAS
ANTERIORMENTE IMPOSTAS. FUNDADO RECEIO DE
REITERAÇÃO CRIMINOSA. CONDIÇÕES SUBJETIVAS
FAVORÁVEIS. IRRELEVÂNCIA NA ESPÉCIE. RECURSO
ORDINÁRIO DESPROVIDO. 1. Segundo disposto no art. 313, inciso
III, do código de processo penal, a prisão preventiva, nos termos do
art. 312 do CPP, pode ser decretada em crimes que envolvam
violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente,
idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para o fim de garantir a
execução das medidas protetivas de urgência. 2. A custódia cautelar
do recorrente foi decretada somente após o descumprimento de
medidas protetivas anteriormente impostas, sendo imprescindível,
nesse sentido, para a garantia da ordem pública, notadamente em
razão do fundado receio de reiteração delitiva, dado o histórico de
agressões e ameaças à vítima. Precedentes. 3. As condições pessoais
favoráveis, tais como primariedade, bons antecedentes, ocupação
lícita e residência fixa, não têm o condão de, por si sós, desconstituir
a custódia antecipada, caso estejam presentes outros requisitos de
ordem objetiva e subjetiva que autorizem a decretação da medida
extrema. 4. Recurso ordinário desprovido. (Superior Tribunal de
Justiça STJ; RHC 43.425; Proc. 2013/0403772-7; RS; Quinta Turma;
Relª Min. Laurita Vaz; DJE 27/03/2014)
Prisão Temporária
152
ou quando deixar de fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua
identidade.
Como toda a decisão judicial, o despacho judicial para a decretação de
uma prisão temporária deve ser fundamentado, sob pena de nulidade.
O juiz não pode decretar a prisão temporária ex officio, uma vez que
somente são legitimados para requerê-la o Delegado de Polícia, que é o chefe
das investigações e o Ministério Público, como fiscal da lei e autor da futura
ação penal, ambos através do instituto da representação.
Quando preso temporariamente, o acusado deve ser submetido a exame de
corpo de delito quando de sua entrada no estabelecimento prisional. O mesmo
procedimento deve ser adotado quando de sua saída, devendo, também,
obrigatoriamente, ficar separado dos demais detentos.
O prazo de duração da prisão temporária é dividido em dois prazos:
05(cinco) dias para os crimes comuns e 30 (trinta) dias para os crimes rotulados
de hediondos, valendo ressaltar que a prisão temporária pode ser prorrogada por
mais uma única vez.
Em casos de prisão temporária, para a sua revogação utiliza-se de dois
recursos: um pedido de revogação, feito junto a Autoridade Judicial que
decretou a prisão temporária, e se indeferido, um pedido de “HABEAS
CORPUS”, junto ao Tribunal ad quem.
Oportuno o posicionamento do professor HERÁCLITO ANTÔNIO
MOSSIN, quanto à interpretação do caput e incisos do art. 1º da referida lei:
153
“O elenco de situações que admite a imposição da prisão por tempo
determinado é constitutivo de numerus clausus, não podendo ser
ampliado para outras hipóteses, mesmo porque em se cuidando de
medida limitativa da liberdade física do indivíduo, às vezes até
mesmo tida como odiosa, não se permite aplicação extensiva.”
154
As audiências deste procedimento, como dos outros procedimentos
adotados no regramento processual penal é que elas são unas e passam a ser
concentradas. Dessa forma, a realização de todos os atos processuais ocorre em
uma única audiência, ocasião em que são ouvidas a vítima, as testemunhas de
acusação e as testemunhas de defesa. O respeito ao interrogatório do réu que,
ao contrário do procedimento anterior, onde este era ouvido em primeiro
lugar, no novo procedimento será ouvido por último.
64
SENTENÇA DE ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO.
INADMISSIBILIDADE. INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. 1. Cabe apelação da
sentença de absolvição sumária (arts. 416 e 593, I. Cpp), ainda que se dê em razão da extinção da punibilidade
do agente (art. 397, IV. Cpp). A interposição de recurso em sentido estrito traduz erro grosseiro, é dizer, quando
nada justifica o manejo de um recurso pelo outro, por não haver nenhuma controvérsia sobre o tema. 2. Não
cabe, na hipótese, a aplicação do princípio da fungibilidade, pelo qual se permite a conversão do recurso errôneo
no recurso correto (instrumentalidade das formas), seja pela existência de erro grosseiro, seja pela inexistência de
dúvida objetiva ou razoável sobre o recurso correto a ser interposto, ou mesmo por inexistir divergência
jurisprudencial/doutrinária. 3. Não conhecimento do recurso em sentido estrito. (TRF 01ª R.; RSE 0000570-
93.2011.4.01.3311; BA; Quarta Turma; Rel. Des. Fed. Olindo Menezes; Julg. 19/05/2014; DJF1 28/05/2014;
Pág. 219)
65
PENAL E PROCESSO PENAL. APELAÇÃO. TENTATIVA DE HOMICÍDIO. DECISÃO DE
IMPRONÚNCIA. REQUERIMENTO DA ASSISTÊNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO PELA PRONÚNCIA.
POSSIBILIDADE. INDÍCIOS SUFICIENTES DE AUTORIA. RECURSO PROVIDO. I Para a pronúncia
vigora o principio in dubio pro societate, exigindose a existência de indícios da autoria lastreados em suporte
probatório idôneo. II Provimento ao recurso de apelação. (TJ-CE; APL 000041281.2004.8.06.0119; Primeira
Câmara Criminal; Relª Desª Maria Edna Martins; DJCE 18/06/2014; Pág. 97)
47102594 - APELAÇÃO. PENAL E PROCESSO PENAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO. Impronúncia de
ambos os agentes. Recurso ministerial. Descabimento. Ausência de indícios suficientes da autoria criminosa.
Suposições que não implicam na submissão dos réus ao tribunal popular do júri. Manutenção da decisão de
impronúncia. Recurso conhecido e desprovido. (TJ-CE; ACr 092931946.2000.8.06.0001; Primeira Câmara
Criminal; Relª Desª Francisca Adelineide Viana; DJCE 27/01/2014; Pág. 62)
155
Permanece ainda a regra da emendatio libelli, podendo o juiz condenar o
réu por fato mais grave desde que haja narração do fato de forma correta.
Havendo desclassificação para delito menos grave, deverão ser os autos
enviados ao juiz competente para que haja análise do processo.
As regras da intimação da sentença passam a ser as seguintes: a intimação
passa a ser pessoal ao acusado preso e ao seu defensor, mormente se dativo for.
Se o réu estiver em liberdade pode ser intimado por edital e se o defensor for
constituído, sua intimação será via imprensa.
SINÓTICO
DENÚ NCIA
CITAÇÃ O DO ACUSADO E FLUÊ NCIA DO PRAZO DA RESPOSTA
PRELIMINAR EM DEZ DIAS
156
ordem de “HABEAS CORPUS” junto ao Tribunal para tentar fazer cessar tal
coação.
157
condenado. Precedentes. 5. Necessidade de elementos suficientes
para autorizar a constrição provisória da liberdade, nos termos do
art. 312 do CPP. 6. Considerados o princípio constitucional da não-
culpabilidade (CF, art. 5º, LVII) E a ausência de indicação de
elementos concretos para basear a prisão preventiva, a manutenção
da condenação em sede de apelação, por si só, não é fundamento
suficiente para a custódia cautelar do paciente antes do trânsito em
julgado. Precedentes. 7. Ordem deferida para que seja assegurado ao
paciente o direito de recorrer do acórdão condenatório em liberdade
até o trânsito definitivo da condenação criminal.
(Supremo Tribunal Federal STF; HC 90.229-4; MG; Segunda Turma;
Rel. Min. Gilmar Mendes; Julg. 04/12/2007; DJE 02/05/2008; Pág.
136) CPP, art. 312 CF, art. 5
158
aguarde seu recurso em liberdade e evite o não conhecimento de seu recurso
pela deserção, vez que para apelar deverá recolher-se à prisão.
A regra que se tem adotado é: se preso está, preso aguardará o julgamento
de seu recurso. 67 Também é inadmissível segregar-se o réu quando condenado
ao regime aberto ou semiaberto, uma vez que a prisão cautelar será mais grave
do que a prisão definitiva.68
Argumenta-se também que este tipo prisional fere o princípio
constitucional da inocência, bem como o Pacto de San Jose da Costa Rica, sob
o fundamento de que é uma forma de se evitar o acesso do condenado ao duplo
grau de jurisdição com a imposição da prisão. Ressalte-se, ademais, que o
projeto do Novo Código de Processo Penal aboliu este tipo prisional, não
exigindo mais o recolhimento do acusado como condição de admissibilidade do
recurso de apelação.69
70
http://www.unibrasil.com.br/arquivos/direito/20092/wagner-de-oliveira-da-silva.pdf
159
seu julgamento, já que a prisão cautelar deve ser reservada aos casos de maior
gravidade.
O professor Guilherme de Souza Nucci, ao comentar o princípio da inocência
assinala: “A presunção de inocência tem alvo certo e principal: o dever de
provar a culpa é do órgão acusatório, pouco importando quem o constitui.
Naturalmente, provoca efeitos secundários, não menos relevantes: a restrição a
direitos individuais somente pode dar-se, contra o inocente, em situações
excepcionais; nenhuma anotação criminal comprometedora, feita por órgão
estatal, pode prejudicar o inocente; a intervenção penal estatal deve ser
mínima, pois a inocência é o estado natural das pessoas”.71
Antônio Magalhães Gomes Filho, sobre o princípio da presunção de inocência,
relata: “As prisões decretadas anteriormente à condenação, que numa visão
mais radical do princípio nem sequer poderiam ser admitidas, encontram
justificação apenas na excepcionalidade de situações em que a liberdade do
acusado possa comprometer o regular desenvolvimento e a eficácia da
atividade processual.”
Assim, as chamadas prisões cautelares (aquelas que ocorrem no curso do
processo sem que haja uma sentença condenatória com transito em julgado)
somente são admitidas em casos excepcionais ou extraordinários, ou quando se
comprovar que a segregação cautelar do indivíduo é imprescindível para o
processo ou a investigação criminal.
Referida lei ainda prestigia idêntico preceito elencado na Declaração Universal
dos Direitos Humanos72, no Pacto de San José da Costa Rica 73, e visa atender
e diminuir a quantidade de presos provisórios no Brasil, que hoje é estimada em
36% da população carcerária. A nova lei instituiu as medidas cautelares em
substituição a segregação cautelar, o aumento do valor da fiança e prevê a
decretação da prisão preventiva somente em último caso, quando se verificar
que a fiança ou a medida cautelar, ou as particularidades do caso, exigem pronta
resposta da sociedade através da segregação cautelar do cidadão.
Já as denominadas prisões cautelares são aquelas em que ainda não contra o
acusado uma sentença penal condenatória transitada em julgado, mas que podem
ocorrer na fase de investigação (inquérito policial) ou durante o curso do
processo criminal desde que absolutamente necessárias para o processo e para a
investigação, devendo estarem comprovados os requisitos inerentes a qualquer
medida cautelar como o perigo da demora e presença do direito invocado. No
direito brasileiro são a prisão em flagrante, a prisão preventiva e a prisão
temporária.
Segundo Fernando Capez “o preso provisório é aquele que teve sua liberdade
de locomoção despojada sem sentença penal condenatória transitada em
71
Princípios constitucionais Penais e Processuais Penais, p. 240.
72
"toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se prove sua
culpabilidade, conforme a lei e em juízo público no qual sejam asseguradas as garantias necessárias à defesa”
73
"Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove
legalmente sua culpa".
160
julgado, ou seja, aquele que aguarda julgamento do seu processo recolhido à
prisão. Esta provisoriedade se manifesta como medida cautelar necessária para
se atingir os fins colimados pelo Estado”.
A prisão provisória, afirma JulioFabrini Mirabete “refere-se a qualquer
espécie de prisão antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória,
podendo esta se dar em flagrante delito, preventivamente, por sentença de
pronúncia, por sentença condenatória recorrível, desde que demonstrado o
periculum in mora e o fumus boni iuris, bem como nos casos autorizadores da
prisão temporária.
O eminente Magistrado LUIZ FLÁVIO GOMES (Revista jurídica, n. 189, jul.
1994, Ed. Síntese, Porto Alegre – RS), lembra-nos que: " O eixo, a base, o
fundamento de todas as prisões cautelares no Brasil residem naqueles
requisitos da prisão preventiva. Quando presentes, pode o Juiz
fundamentadamente decretar qualquer prisão cautelar; quando ausentes, ainda
que se trate de reincidente ou de quem não tem bons antecedentes, ou de crime
hediondo ou de tráfico, não pode ser decretada a prisão antes do trânsito em
julgado da decisão".
Fiança, como sabemos, é uma garantia prestada pelo acusado em dinheiro, joias,
metais preciosos ou mesmo imóveis, para que este obtenha a sua liberdade,
mediante uma caução oferecida ao Estado. A fiança quando prestada fica
depositada em conta judicial nos autos do processo criminal ou do inquérito.
A fiança poderá ser concedida pelo Juiz de Direito ou pela Autoridade Policial.
Anteriormente era concedida tendo como parâmetro a pena mínima cominada ao
crime, bem como analisando a pena privativa de liberdade. Atualmente, para a
concessão da fiança, observa-se a pena máxima fixada no tipo penal para que se
determine quando a fiança será fixada pela Autoridade Policial ou pelo Juiz de
Direito.
Guilherme de Souza Nucci, ao analisar a fiança como um direito
constitucionalmente assegurado anota: “A prisão preventiva é uma
necessidade; a liberdade provisória, quando ocorrer prisão em flagrante, uma
regra. Compondo-se ambos os institutos, chega-se à conclusão de que,
havendo flagrante, deve-se colocar o indiciado em liberdade provisória, salvo
se estiverem presentes os requisitos da necessária prisão preventiva”.
Hoje, com o advento da nova lei, deve ser analisada a pena máxima
cominada ao crime. Caso a pena máxima cominada ao crime seja igual ou
inferior a quatro anos esta poderá ser arbitrada pelo Delegado de Polícia.
Caso a pena máxima cominada ao crime seja superior a quatro anos o pedido de
fiança deverá ser analisado e requerido perante o Juiz de Direito.
161
Assim, como vimos, doravante o critério para a concessão da fiança passa a ser a
pena máxima cominada ao crime e não mais a pena mínima anteriormente
observada pelo regramento processual.
Caso o acusado seja pobre e não tenha recursos para pagamento da fiança
poderá se valer de pedido junto ao Juiz para que seja convertida a fiança
em alguma outra medida alternativa diversa da prisão. Anote-se:
HABEAS CORPUS. PECULATO, FURTO E POSSE DE ARMA.
LIBERDADE PROVISÓRIA CONDICIONADA AO RECOLHIMENTO DE
FIANÇA. PACIENTE HIPOSSUFICIENTE. ORDEM CONCEDIDA PARA
ASSEGURAR A LIBERDADE PROVISÓRIA MEDIANTE A IMPOSIÇÃO
DE OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES. 1. A prisão preventiva deve ser
encarada como a ultima ratio no ordenamento processual, de modo que, por
importar em vulneração de importantes valores constitucionais, só deve ser
cogitada quando, além de estarem preenchidos todos os seus pressupostos legais,
afigurar-se como a única medida adequada ao acautelamento da ordem social e
do processo. 2. Noutro giro, ausentes os motivos que demandem a imposição da
medida extrema, a liberdade provisória assume condição de direito subjetivo do
acusado que, obviamente, não pode ser mantido em cárcere unicamente em
razão de não possuir condições econômicas de arcar com o valor da fiança. 3.
Ora, no caso presente, além do alto valor da fiança e da existência de prova de
sua baixa remuneração, há de se ponderar que o simples fato de ter permanecido
preso por mais de 08 (oito) meses é suficiente para que se presuma a
hipossuficiência do paciente, impondo-se, por este motivo, sua libertação sem a
necessidade de recolhimento de qualquer quantia, mantendo-se, por outro lado,
as outras medidas cautelares já fixadas pelo juiz de piso, a saber: A)
comparecimento em juízo a cada 60 (sessenta) dias para justificar suas
atividades; e b) proibição de ausentar-se da Comarca sem autorização. 4. Ordem
concedida. (TJ-ES; HC 0023375-80.2013.8.08.0000; Primeira Câmara Criminal;
Rel. Des. Sérgio Bizzotto Pessoa de Mendonça; Julg. 27/11/2013; DJES
05/12/2013)
3 - Valor da Fiança
A fiança para os crimes cuja pena máxima seja igual ou inferior a quatro anos,
que é fixada pela Autoridade Policial, tem como valor mínimo 01 (um) salário
mínimo e como máximo cem salários mínimos.
Já quando a pena máxima ultrapassa quatro anos e assim sendo a competência
para sua fixação é do Magistrado de Primeiro Grau, o valor mínimo será de
10(dez) salários mínimos, tendo como teto máximo 1oo (cem) salários
mínimos.74
74
No caso de réu pobre pode ser utilizado o pedido de conversão de fiança em outra medida cautelar utilizando o
critério da hipossuficiência do réu, segundo o julgado ora descrito: “HABEAS CORPUS. ART. 155, CAPUT,
DO CP. LIBERDADE PROVISÓRIA CONDICIONADA AO RECOLHIMENTO DE FIANÇA. PACIENTE
HIPOSSUFICIENTE. ORDEM CONCEDIDA PARA ASSEGURAR A LIBERDADE PROVISÓRIA SEM O
162
De forma estimativa o valor máximo a ser recolhido a título de fiança, no Brasil,
hoje é de 109 milhões de reais, aproximadamente.
Nesta linha de argumentação, precisa é a lição do professor Rômulo de
Andrade Moreira que aduz: “O valor da fiança será fixado pela autoridade
que a conceder entre um e cem salários mínimos quando se tratar de infração
cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for superior a quatro
anos e de dez a duzentos salários mínimos quando o máximo da pena privativa
de liberdade cominada for superior a quatro anos. Nada obstante tais limites,
se assim recomendar a situação econômica do preso, a fiança poderá ser
dispensada na hipótese do art. 350 (ver adiante), ser reduzida até o máximo de
dois terços ou ser aumentada em até mil vezes. A fiança poderá ser prestada
enquanto não transitar em julgado a sentença condenatória”.75
Para a fixação do valor da fiança deve ser levado em conta a condição
econômica- financeira do acusado.
Deve ser lembrado que não cabe arbitramento de fiança nos crimes
hediondos, de racismo, ou de grupos armados que atentem contra a
soberania nacional.
PAGAMENTO DE FIANÇA ARBITRADA. 1. Após a edição da Lei nº 12.403/11, o juiz ao receber o auto de
prisão em flagrante delito, nos termos do art. 310, incisos II e III, do Código de Processo Penal, deverá, após a
sua homologação, decretar a prisão preventiva do acusado ou conceder a liberdade provisória com ou sem
fiança. 2. Ausentes os requisitos que demandem a imposição da medida extrema, a liberdade provisória assume
condição de direito subjetivo do acusado que, obviamente, não pode ser mantido em cárcere unicamente em
razão de não possuir condições econômicas de arcar com o valor da fiança. 3. In casu, a fiança foi reduzida de
R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais) para o montante de 01 (um) salário mínimo, não tendo o paciente
recolhido tal valor, estando custodiado provisoriamente há mais de três meses, o que leva a crer que o paciente
seja hipossuficiente. Ademais, o paciente encontra-se assistido pela Defensoria Pública. 5. Não tendo o paciente
condições financeiras para arcar com o pagamento da fiança arbitrada, por força do art. 350, do CPP, não
podendo este permanecer segregado provisoriamente, sendo imperiosa a concessão da liberdade provisória sem
fiança, mediante o cumprimento das condições estabelecidas nos arts. 327 e 328, do mesmo diploma legal. 4.
Ordem concedida, ratificando a liminar a seu tempo deferida, a fim de conceder ao paciente a liberdade
provisória nos autos da ação penal º 0000761-16.2013.8.08.0054, independentemente do pagamento de fiança,
mediante as condições estabelecidas no art. 327 e 328, do CPP. (TJ-ES; HC 0029128-18.2013.8.08.0000;
Primeira Câmara Criminal; Rel. Des. Sérgio Bizzotto Pessoa de Mendonça; Julg. 19/02/2014; DJES 28/02/2014)
75
A PRISÃO PROCESSUAL, A FIANÇA, A LIBERDADE PROVISÓRIA E AS DEMAIS MEDIDAS
CAUTELARES - COMENTÁRIOS À LEI Nº 12.403/11- Artigo doutrinário inserido na Juris Plenum Ouro
nº 21, setembro de 2011.
163
Quando o acusado (ora afiançado) deixa de comparecer a algum ato do processo
ou quando descumpre de forma injustificada alguma medida cautelar imposta
em conjunto com a fiança ou pratica novo ilícito penal, este perde metade do
valor recolhido a título de fiança.
A fiança será restituída com juros e correção monetária quando esta for tornada
sem efeito (por exemplo concedida de forma indevida), quando o acusado for
absolvido ou quando for extinta a ação penal.
Se o réu fugir logo após haver apelado da sentença penal condenatória, não
haverá mais o fenômeno processual da deserção, que somente ocorre nos casos
de ação penal privada quando não há o recolhimento das custas processuais de
preparo do recurso.
A respeito confira-se: “CRIMINAL – HABEAS CORPUS – TRÁFICO –
APELAÇÃO NÃO CONHECIDA – RÉU FORAGIDO – DESERÇÃO –
INOCORRÊNCIA – ART. 595 DO CPP JULGADO INCONSTITUCIONAL –
REVISÃO DA JURISPRUDÊNCIA – SÚMULA Nº 347/STJ –
CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO – ORDEM CONCEDIDA – I-
O Supremo Tribunal Federal entendeu que o art. 595 do Código de Processo
Penal é inconstitucional, o que ensejou a revisão da jurisprudência da Quinta
Turma desta Corte. II- O conhecimento e julgamento do mérito do recurso de
apelação independem do recolhimento do réu à prisão, não havendo que se
falar em deserção, sob pena de ofensa ao Princípio do duplo grau de
jurisdição. Incidência da Súmula nº 347/STJ. Precedentes. III- Deve ser
anulado o acórdão impugnado, a fim de que o Tribunal de Justiça do Estado do
Rio Grande do Norte conheça e analise o mérito do recurso de apelação
interposto pela defesa. IV- Ordem concedida, nos termos do voto do Relator”76
76
(STJ – HC 175.209 – (2010/0101651-3) – 5ª T. – Rel. Min. Gilson Dipp – DJe 06.12.2010 – p. 536)
164
Liberdade Provisória sem Fiança
Este instituto anteriormente utilizado para os crimes que tinham pena máxima
superior a dois anos e desde que o acusado comprovasse sua primariedade, seus
bons antecedentes, emprego licito, residência fixa e quando não houvessem
requisitos para a decretação de sua prisão preventiva, hoje é reservado aos
acusados que não tenham condições financeiras para pagamento da fiança
fixada77 ou para quando o acusado age amparado por qualquer excludente da
ilicitude. Vide a este respeito o artigo 310 paragrafo único do CPP que dispõe:
Prisão Preventiva
Como foi dito a prisão preventiva é uma medida excepcional e somente deve ser
decretada em casos de extrema necessidade para a investigação ou para o
processo criminal. Com maior ênfase temos: “A prisão preventiva deve ser
decretada apenas quando absolutamente imprescindível, dada a sua natureza
excepcional, devendo ser demonstrado, concreta e objetivamente, qual é o
comportamento ou a situação que está colocando em risco a ordem pública ou
econômica, tumultuando a instrução criminal ou ameaçando a aplicação da
lei penal”.78
Tem cabimento nos crimes com pena máxima superior a quatro anos, nos crimes
hediondos, nos crimes de racismo, nos crimes que atentem contra a soberania
nacional, aos réus reincidentes, nos crimes praticados com violência doméstica,
familiar, contra a mulher, criança, adolescente, enfermo ou pessoa com
deficiência, ou para garantir a eficácia de medida cautelar ou quando houver
dúvida sobre a identidade do acusado. Permanecem ainda os demais requisitos
como a garantia da ordem pública, econômica, garantia da aplicação da lei penal
e quando descumprir o acusado a medida cautelar.
77
“HABEAS CORPUS. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. CRIMES DE LESÃO CORPORAL CULPOSA E
CONDUÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR EM ESTADO DE EMBRIAGUES. FIANÇA ARBITRADA EM
VALOR EXCESSIVO, CONSIDERANDO A CONDIÇÃO ECONÔMICA DO PACIENTE. PEDIDO DE
REVI-SÃO DO VALOR ARBITRADO NÃO EXAMINADO. ART. 350 DO CPP. FIANÇA PRESTA-DA
AINDA EM VALOR EXCESSIVO. Verificando o juiz a impossibilidade de ser prestada a fiança, poderá
conceder ao réu o benefício da liberdade provisória mediante compromisso. Ordem concedida”.
78
(TRF 1ª R. – HC 678116020104010000/BA – Rel. Juiz Fed. Conv. Murilo Fernandes de Almeida – DJe
11.02.2011 – p. 84) v88.
165
Saliente-se que não cabe decretação de prisão preventiva quando o acusado
pratica o fato agasalhado por qualquer excludente de ilicitude (legítima defesa,
estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal ou exercício regular
de um direito). Sob pena de nulidade deve ser suficientemente fundamentada, a
decisão que decreta a prisão preventiva(art. 93, IXda CF/88).
166
São características das medidas cautelares:
Prisão Domiciliar
167
anos. Saiu de 233 mil presos, em 2000, para 496 mil no ano passado - um salto
de 113%. Segundo dados do DEPEN (Departamento Penitenciário Nacional), do
Ministério da Justiça, só entre 2000 e 2005, a quantidade de presos subiu 55%,
somando 361 mil.
A prisão provisória, que inclui os flagrantes e as medidas cautelares, se
multiplicou nos últimos anos. Em 2010, eram 165 mil presos provisórios, cerca
de 40% do total de presos no ano. Desde 2005, quando os provisórios eram 91
mil, o aumento foi de 80%.
Mais de 36% dos encarcerados nas penitenciárias brasileiras são presos
provisórios. Somando a quantidade de presos nas delegacias, 56.514, mais a
população carcerária das penitenciárias, 417.712, o Brasil tem um total de
473.626 pessoas presas. São 152.612 presos provisórios. Os dados são do
Sistema de Informações Penitenciárias – INFOPEN, do Ministério da Justiça,
que recebe informações, pela internet, sobre os estabelecimentos penais e a
população prisional, direto das Secretarias estaduais de Segurança Pública. Um
terço dos presos não tem sentença penal condenatória transitada em julgado.
A conclusão a que se chega é a de que existem muitos presos provisórios no
Brasil aguardando julgamento, de sorte que vários deles poderiam estar em
liberdade mediante o pagamento de fiança ou mesmo em liberdade mediante
uma medida cautelar.
A Nova Lei vem em consonância com vários entendimentos de nossos Tribunais
Pátrios, e dentre eles destacamos os seguintes julgados:
168
Isso porque a liberdade, antes de sentença penal condenatória definitiva, é a
regra, e o enclausuramento provisório, a exceção, como tem insistido esta
Corte e o Supremo Tribunal Federal em inúmeros julgados, por força do
princípio da presunção de inocência, ou da não culpabilidade. (Superior
Tribunal de Justiça STJ; HC 97.809; Proc. 2007/0309983-6; SP; Sexta Turma;
Rel. Min. Og Fernandes; Julg. 09/03/2010; DJE 29/03/2010).
Na verdade o instituto da prisão preventiva que hoje através da Lei 12.403 é
uma exceção, anteriormente a referida lei era uma regra, de sorte que, as prisões
cautelares nada mais, nada menos, eram um cumprimento antecipado da pena,
sem que houvesse juízo de condenação.
Na verdade, devemos considerar a nova lei por outro aspecto: certamente a nova
lei diminuirá consideravelmente os presos provisórios já que estes poderão ser
agraciados com a imposição de medidas cautelares ou de fiança, reservando-se a
prisão preventiva para a sua real função que é a de ser reservada unicamente
para os casos excepcionais, graves em que a medida seja a última solução para a
defesa da sociedade.
Por outro lado, com a nova lei o instituto da fiança ganhou novos contornos e
nova roupagem, com a modificação de valores. Anteriormente a lei, poucos ou
raros eram os casos em que a fiança era fixada, optando, muitas vezes o
Magistrado por conceder a liberdade provisória sem qualquer obrigação, salvo a
do acusado comparecer a todos os atos processuais. Vários foram os casos em
que os réus diante de sentenças penais condenatórias simplesmente
desapareciam, fazendo com que aumentasse o número de mandados de prisão
para serem cumpridos pela Polícia brasileira. Não havia qualquer vinculação.
Com a nova lei, a fiança uma vez concedida, certamente trará os acusados para o
processo, uma vez que sua ausência implicará na perda de metade do valor pago,
fazendo com que o acusado, antes de empreender fuga, pense que poderá perder
o valor que havia pagado a título de fiança. Em suma, além de perder sua
liberdade, corre o risco de perder também o valor pago com a fiança.
Também, a nova lei, prestigiou a vítima que anteriormente era discriminada e
principalmente desamparada. Anteriormente quando o acusado era libertado,
sem qualquer pagamento, a vítima esquecida por nossos legisladores fica
completamente desamparada, eis que se desejasse a reparação dos danos
sofridos com o crime, deveria ingressar com ação judicial, provar o dano, e
ainda ter a sorte do acusado possuir patrimônio para lhe propiciar o
ressarcimento de seus danos.
A utilização do valor da fiança para pagamento dos danos causados pelo crime é
uma consequência da sentença penal condenatória, vez que o juiz criminal
depois de aplicar a pena ao acusado, deverá fixar o valor mínimo de
indenização.
Vejamos: “ao juízo criminal restou imposto o dever de, ao proferir sentença
penal condenatória, também condenar o réu ao pagamento de um valor mínimo,
em favor do ofendido ou de seus sucessores, como forma de reparar os danos
169
civis decorrentes da conduta ilícita praticada. Ressalva, no entanto, a lei
processual penal, a possibilidade de o interessado, além de desde logo executar
civilmente a sentença penal condenatória transitada em julgado, propor ação
de liquidação para apurar o quantum debeatur que entenda ser devido para
além do mínimo já fixado”79.
Ora, se o Juiz criminal quando da prolação da sentença condenatória deve fixar
valor mínimo para indenização pelos danos causados, o que constitui um direito
da vítima, foi necessário também criar um mecanismo para que este objetivo
fosse alcançado, e nada mais justo do que a fiança ser utilizada para este fim,
evitando-se, assim que a vítima ingresse com nova ação, uma vez que poderá ter
o valor recolhido a título de fiança para ser usado como um bem para garantia
do pagamento da dívida.
A nova lei, com a fiança procura corrigir esta flagrante injustiça: o valor pago a
título de fiança será usado para o pagamento das custas processuais e
primordialmente para o pagamento dos danos causados com o crime. De uma
forma ou de outra, aquele valor pago a título de fiança será usado para o
pagamento dos danos causados pelo crime, garantindo-se a vítima um valor para
que possa receber em caso de condenação do acusado, eis que o valor pago a
título de fiança fica depositado em conta judicial no próprio processo.
Suponhamos que o acusado não possua bens que possam amparar uma ação
executiva, com a nova lei, pelo menos o valor da fiança será usado para
minimizar o prejuízo sofrido pela vítima.
A lei é benéfica para o processo nestes três pontos: obriga o acusado a
comparecer aos atos processuais sob pena de perder metade do valor da fiança;
garante a vítima, mesmo que parcialmente, o valor para reparação do dano que
estará depositado no processo a título de fiança; e contribuirá para a diminuição
do percentual dos presos provisórios que aguardam julgamento, com a adoção
destes novos mecanismos substitutivos à prisão.
170
deste não o fazendo, o valor da fiança ser perdido. Por outro lado, nunca é
demais lembrarmos que a situação do sistema carcerário brasileiro é caótica.
Uma terça parte dos presos brasileiros são presos provisórios que aguardam
decisão da justiça. Além disso, a fiança poderá ser utilizada para pagamentos
dos danos causados pelo crime, garantindo, de forma menos que parcial uma
resposta para o pagamento imediato dos danos que somente ocorria após vários
e vários anos de demanda na esfera cível, isso se o acusado tivesse patrimônio
para pagamento da indenização.
É um novo mecanismo colocado a disposição do juiz criminal brasileiro, que
antes teria de optar entre decretar a prisão provisória do acusado ou permitir que
este respondesse o processo em liberdade, sem qualquer obrigação ou
compromisso. Finalmente, em muitos processos criminais, o tempo que o
acusado permanecia preso cautelarmente era muito maior do que a sanção
aplicada, fazendo com que a sanção cautelar fosse muito mais gravosa do que a
pena final.
CITAÇÃO é o ato pelo qual o réu é chamado a juízo a fim de que se defenda.É
o ato pelo qual se leva ao conhecimento de alguém, qual seja, o réu de que uma
denúncia ou uma queixa-crime foi recebida pelo Poder Judiciário e de que foi
determinado que ele apresente a resposta ou a defesa preliminar no prazo de dez
dias.
A citação somente ocorre uma única vez durante o processo. Diferencia-se da
intimação, uma vez que esta última, é a comunicação por parte do Judiciário
informando aos interessados que foi praticado um ato no processo. Já a
notificação, também usada em nossa legislação, é a ciência que é dada a alguém
de um despacho, decisão ou outro ato, para que a parte interessada seja
compelida a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, sob pena de aplicação de
alguma sanção.
A citação pode ser REAL que é feita de forma PESSOAL ao réu, através de
MANDADO (ordem do juiz) e através de oficial de justiça. A citação real é
aquela que efetivamente ocorre no processo. Devemos nos lembrar que no
processo penal, temos a citação por hora certa (no caso do réu)) e também não
existe a citação por carta com aviso de recebimento, vez que no processo penal a
citação somente é válida se esta se dirigir única e exclusivamente a pessoa a ser
citada.
171
De outro lado, devemos mencionar que existe também a citação ficta, qual seja,
aquela em que o legislador presume, supõe e imagina que tenha ocorrido, e
temos como exemplo a citação por via editalícia.
Urge salientar que o acusado preso será citado ou intimado dos atos do processo
pessoalmente, o mesmo ocorrendo com os Membros do Ministério Público, os
defensores dativos e os Defensores Públicos. A única exceção à esta regra é em
relação aos advogados constituídos que serão intimados da sentença através de
publicação nos órgãos incumbidos de dar ciência oficial dos atos, como o Diário
Oficial da União ou dos Estados.
De suma importância é a disposição contida no artigo 366 do Código de
Processo Penal. Caso o acusado esteja em local incerto e não sabido, será citado
por edital. Caso o mesmo, citado por edital, não compareça no dia aprazado e
nem constitua (contrate) um advogado, a conseqüência será a suspensão do
processo até a sua localização, podendo ser decretada a sua custódia cautelar, e
também o prazo prescricional, que durará até o termo final da prescrição do
delito a ele imputado.
172
A citação é importante porque através dela se consegue o chamamento do réu a
Juízo para que se defenda, assegurando o exercício da amplitude de defesa.
Com a citação, instaura-se o processo, sendo o mesmo instado a apresentar a sua
resposta a acusação ou defesa preliminar no prazo legal de dez dias.
Os Prazos para a citação por edital:
Regra Geral: 15 (quinze) dias - CPP, art. 361.
Exceções:
Réu que se encontra em lugar inacessível: 15 (quinze) dias CPP, art. 363,I,
cc.364.
Quando incerta a pessoa que deva ser citada: 30 (trinta) dias. CPP, art. 363, II,
cc. 364.
Réu no estrangeiro (lugar sabido ou não), sendo a infração afiançável:
30 dias (art. 367 do CPP).
DIFERENCIAÇÃO:
CAPITULO SENTENÇA
Para todo direito violado, a parte lesada tem direito a uma ação, necessária
para a garantia dos seus direitos. Por meio da atuação das partes, do direito de
ação, é que o Estado, pela atuação jurisdicional aplica o direito ao caso concreto.
O pedido do autor pode ser acolhido totalmente pelo Juiz,; nesse caso,
temos o que se denomina de sentença de procedência. Pode ocorrer também que
o Juiz rejeite todos os pedidos do autor, denominada, então, a sentença de
improcedência. Também pode ocorrer a hipótese do Juiz acolher em parte o que
foi pedido pelo autor, o que gera, então, a sentença de parcial procedência.
173
A função do Estado é a de garantir a paz social, pela atuação jurisdicional
que é exercida por meio da ação, que delimita o campo de atuação jurisdicional.
O campo de atuação do Poder Judiciário é delimitado pelo pedido formulado
pelo autor, no qual a atuação jurisdicional é delimitada àquilo que foi requerido
pelo autor em sua petição inicial.
A sentença de procedência é aquela que concretamente atua no mundo dos
fatos, transforma a desordem em ordem e garante a paz social. Já a sentença de
improcedência, não gera efeitos de natureza alguma no campo dos fatos, uma
vez que preserva o “status quo ante”.
A sentença de procedência gera um juízo de acolhimento do pedido do
autor; fica consignado que, no caso de sentença de improcedência, ela gera um
juízo de rejeição do pedido, haja vista que mantém o “status quo ante”.
Tal fato de se reconhecer na parte dispositiva a sucumbência, porque na
sentença de procedência somente o acusado, a princípio, poderia recorrer. Já na
sentença de improcedência somente o autor poderia recorrer, e por conseguinte,
havendo sucumbência reciproca como no caso de parcial procedência ambas as
partes podem impugnar a sentença através do competente recurso.
Desnecessário lembrar, que por princípio de ordem constitucional, todas
as decisões do Juiz devem ser motivadas. Também vale ressaltar que a sentença,
quando proferida pelo Juiz em regra geral, torna-se imutável para o juiz que a
proferiu: só pode ser alterada por recurso competente, ou corrigida, por meio de
embargos de declaração, quando possuir lacunas, obscuridade ou omissões.
A estrutura formal da sentença se divide em relatório, fundamentação e
parte dispositiva. Os tipos de sentença são intimamente ligados ao pedido
formulado pelo autor, que pode classificá-las em ações declaratórias,
constitutivas, condenatórias, e um último tipo, descrito por Pontes de Miranda,
como uma sentença de natureza mandamental.
A sentença é o ato processual, de atividade intelectiva do juiz, que põe fim
ao processo, julgando ou não o seu mérito. A sentença que aprecia o mérito é
174
denominada de sentença definitiva, e a sentença que extingue o processo sem
apreciar o mérito é denominada de sentença terminativa.
Já as decisões interlocutórias são aquelas decisões do Juiz que dirimem
questões levantadas no curso do processo relacionadas com a marcha ou
regularidade do processo, e exigem um pronunciamento do juiz sobre a questão,
sem adentrar no mérito da causa. Decisão interlocutória é o pronunciamento do
Juiz que, não coloca fim ao processo, resolve questão incidente ou provoca
algum gravame à parte ou interessado. Ainda que decida questão de mérito, se a
decisão não colocar fim ao processo é interlocutória, impugnável pelo recurso
em sentido estrito ou no caso de execução penal da Lei 7.210/84, impugnável
através de Agravo.
O conteúdo do ato é irrelevante para qualificá-lo, importa somente a
finalidade do mesmo ato: se ele extingue o processo é sentença, se não extingue
o processo é decisão interlocutória. Vale ressaltar que nas decisões
interlocutórias impugnáveis, previstas no artigo 581 do CPP, é que o juiz pode
voltar atrás na decisão, operando-se, assim, o efeito regressivo do recurso.
As sentenças proferidas na primeira fase do processo do Júri são
classificadas em sentença de pronúncia quando o juiz verifica que estão
presentes a autoria e a materialidade. Já sentença de impronúncia é aquela que é
proferida quando falta ou a autoria ou materialidade. Absolvição sumária ou
liminar é aquela sentença que o juiz verifica desde logo que presentes
encontram-se as causas excludentes de antijuridicidade ou causas de isenção de
pena e, ainda, a desclassificação é aquela decisão do juiz que importa na rejeição
do pedido anterior de crime mais grave, mas no acolhimento de uma nova
classificação de crime punido com pena menos gravosa.
A sentença condenatória impõe ao réu o cumprimento da pena ou da
medida de segurança. Além disso, tem como efeitos o de tornar certa a
reparação do dano, causa a perda em favor da União das armas e objetos
utilizados na prática delituosa, bem como causa a perda do cargo, mandato ou
175
função pública nos casos de condenação de até um ano nos crimes contra a
administração pública e de acima de quatro anos nos demais crimes. Acresça-se
que, em caso de crime contra filho, tutelado ou curatelado, causa a perda do
poder familiar e, também, em casos específicos, a inabilitação para dirigir. Caso
seja absolvido, deve ser colocado imediatamente em liberdade, as medidas
assecuratórias deixam de subsistir, e em caso de sentença absolutória imprópria,
ocasionará a aplicação de medida de segurança.
De forma clássica temos dois tipos principais de sentença:
a) sentença definitiva: aquela que põe termo ao processo, sem apreciar o seu
mérito.
b) sentença terminativa: aquela que põe termo a relação processual,
decidindo o mérito da causa.
176
1- Sentença Absolutória: cujo os fundamentos estão expressos no artigo 386 do
Código de Processo Penal.
São eles:
2- Sentença Condenatória:
Note-se que para a aplicação da pena, nosso sistema penal adota o sistema
trifásico. Na primeira fase, o Magistrado seguindo os ditames do artigo 59 do
Código Penal, aplica a pena base. A seguir, deverá analisar a presença das
circusntâncias agravantes e atenuantes genéricas, analisando, por fim a
existência de qualificadoras, causas gerais e especiais de aumento e
diminuição de pena. Posteriormente, chegando a pena final, deverá fixar o
177
regime de cumprimento de pena que poderá ser o fechado caso a reprimenda
imposta seja superior a oito anos, ou o acusado reincidente ou réu acusado da
prática de crime hediondo. Caso a reprimenda seja superior a quatro anos e
não exceda a oito anos, sendo o acusado primário, o regime será o regime
semi-aberto. Caso a reprimenda seja até quatro anos, o juiz poderá fixar o
regime aberto para inicio de cumprimento de pena. Também deve o juiz
analisar se é o caso de substituição da pena privativa de liberdade pela pena
restritiva de direito, quando o acusado é primário, e a pena não ultrapasse os
quatros anos e em crime culposo qualquer que seja a reprimenda. Caso a
pena seja até seis meses, poderá fixar apenas a pena de multa, se a pena é
superior a seis meses e não excede a um ano poderá fixar a multa ou uma
pena restritiva de direitos e caso a pena seja superior a um ano poderá fixar a
pena de multa e uma pena restritiva ou duas penas restritivas, todas elas
previstas no artigo 44 do Código Penal. Caso a substituição da pena não seja
possível e a reprimenda não ultrapasse dois anos, poderá o juiz suspender a
execução da pena por um período de dois a quatro anos, concedendo a
suspensão condicional da pena, conhecida entre nós como sursis.
Por fim, deverá decidir se o acusado pode recorrer da sentença em liberdade,
e somente determinar a custódia do acusado para recorrer se estiverem
devidamente presentes os requisitos para a decretação da prisão preventiva,
ou se o acusado permaneceu preso durante todo o processo.
Note-se que de uma sentença poderá caber: a) no prazo de dois dias caso a
sentença seja omissa, lacunosa, obscura ou contraditória os embargos de
declaração; b) para combater o fundamento da sentença e tentar reforma-la
através de recurso ao Tribunal, caberá o recurso de apelação, no prazo de
cinco dias; c) nos juizados especiais criminais o prazo para recurso é dez
dias, devendo ser apresentada a petição de interposição mais as razões do
recurso; d) em casos extremos, caso o acusado esteja preso, ou que lhe seja
determinada a prisão para recorrer deverá o interessado impetrar ordem de
habeas corpus junto ao Tribunal; e) caso a sentença já tenha passado em
julgado, e havendo provas novas de inocência ou que a sentença tenha sido
proferida com base em elementos de convicção comprovadamente falsos,
poderá o interessado ingressar com revisão criminal; f) no procedimento do
júri, em sua primeira fase da sentença de pronúncia caberá o recurso sem
sentido estrito, nos demais casos de impronuncia, absolvição sumária e
desclassificação, por ausência de previsão no recurso em sentido estrito, cujo
o artigo 581 do Código de Processo Penal é taxativo, caberá recurso de
apelação, e na segunda fase do procedimento do júri da decisão proferida
pelo Conselho de Sentença, caberá também recurso de apelação, não sendo
excluída, a apresentação de embargos de declaração e habeas corpus como
explicitado anteriormente.
178
EFEITOS DA CONDENAÇÃO
179
Público ou do querelante. Nosso ordenamento jurídico prevê a ocorrência da
reformatio in melius, que ocorre quando somente o Ministério Público apela,
todavia, neste caso, mesmo sem recurso do acusado, sua situação pode ser
melhorada. Por fim, temos a reformatio in pejus indireta, que ocorrerá quando
um recurso anterior anula a sentença que impôs uma pena, determinando ao Juiz
que aplique outra sentença, sendo que, nesta segunda sentença a pena aplicada
jamais poderá ser superior a pena que anteriormente foi aplicada, mas que foi
anulada.
OCORRÊNCIAS NA SENTENÇA:
180
crime culposo para doloso ou de lesão corporal grave para lesão corporal
gravissima.
NESTE CASO:
Para que seja aplicada pena ao agente no direito brasileiro necessário se faz com
que o agente seja imputável. Segundo Júlio Fabbrini Mirabete: “há
imputabilidade quando o sujeito é capaz de compreender a ilicitude de sua
conduta e de agir de acordo com esse entendimento. Só é reprovável a conduta
se o sujeito tem certo grau de capacidade psíquica que lhe permita
compreender a antijuridicidade do fato e também de adequar essa conduta a
181
sua consciência. Quem não tem essa capacidade de entendimento e de
determinação é inimputável, eliminando-se a culpabilidade”80
182
vem a ser o art. 64 do Código Penal francês, de 1810: 'Não há crime nem
delito, quando o agente estiver em estado de demência ao tempo da ação';
b) Sistema psicológico ou psiquiátrico - tem em conta apenas as condições
psicológicas do agente à época do fato. Diz respeito apenas às conseqüências
psicológicas dos estados anormais do agente. Sua base primeira é o Código
canônico: delicti sunt incapaces qui actu carent usu rationis. Em nosso país,
agasalhou a fórmula psiquiátrica o Código Criminal do Império (1830), nos
termos seguintes: 'Art. 10. Também não se julgarão criminosos: § 2. Os loucos
de todo gênero, salvo se tiverem lucidos intervalos e nelles commetterem o
crime'. Nesse sentido, ainda, os Códigos Penais da Áustria (1852); da Espanha
(1848); de Portugal (1886);
83
Curso de direito penal brasileiro. 2. ed. São Paulo: RT, 2001, p. 271/-272.
84
JOSÉ HENRIQUE PIERANGELI, Menoridade, Revista de Direito Penal Nº 20 - Jun-Jul/2003 - DOUTRINA
183
85
DAMÁSIO esclarece que o Código adotou o sistema biológico no mesmo
sentido MIRABETE 86e DELMANTO 87
184
Como é sabido, a medida de segurança, insere-se no gênero sanção penal, do
qual figura como espécie, ao lado da pena, todavia, aplicada aqueles que não
tem plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato.
Segundo leciona RENÉ ARIEL, in verbis: "Existem muitas situações nas quais
a conduta, embora típica e ilícita, não é culpável em face da existência de
causas de isenção de pena. Elas se referem, por exemplo, às condições pessoais
do sujeito ativo, como a doença mental, o desenvolvimento mental incompleto
ou retardado e a menoridade que, por si mesmas, acarretam a inimputabilidade
(CF, art. 228; CP, art. 26, parágrafo úniço, e art. 27). Também a embriaguez
completa, decorrente de caso fortuito ou força maior, poderá produzir no autor
a absoluta incapacidade para entender o caráter ilícito do fato ou determinar-
se de acordo com esse entendimento (CP, art. 28, § 1º).
185
virtude disso considera-se a sentença que a aplica como absolutória imprópria
91
91
". In Código de Processo Penal Comentado, Guilherme de Souza Nucci, 8ª ed., São Paulo: RT, 2008, p.689.
186
Todavia, urge ressaltar que para aplicação da medida de segurança é necessário
que haja suficiente prova da prática do delito e de que o acusado seja o seu
autor, e somente após devidamente comprovada a autoria e a materialidade é
que se pode absolver sumariamente o acusado.
92
(CELSO DELMANTO, Código Penal Comentado, Editora Renovar, 3ª Edição, 1.991, p. 147).
187
RVCr 2009.0001.001016-1; Câmaras Reunidas Criminais; Rel. Des. Joaquim
Dias de Santana Filho; DJPI 17/09/2009; Pág. 5).
A sentença que absolve o réu em razão de doença mental tem em seu conteúdo
preceito de condenação ao impor ao sentenciado o cumprimento de medida de
segurança seja no aspecto de internação ou de tratamento ambulatorial.
Indubitavelmente a medida de segurança impe graves restrições ao direito de ir e
vir do condenado. Júlio Fabrini Mirabbete preleciona no sentido do cabimento
da revisão criminal nos casos de imposição de medida se segurança salientando
que “a medida de segurança nada mais é do que uma sanção penal em sentido
amplo”93
93
Vide Código Penal Interpretado, p. 727.
188
por falta de provas ou mesmo comprovar que sua inimputabilidade foi
comprovada com fundamento em elementos falsos de prova94.
94
O laudo pericial realizado posteriormente ao momento do fato delituoso, em outro processo, não vale como
prova para reconhecer inimputabilidade do requerente. (TJ-PE; RVCr 0156529-1; Alagoinha; Seção Criminal;
Rel. Des. Marco Antônio Cabral Maggi; Julg. 08/05/2008; DOEPE 21/05/2008) CPP, art. 621
95
Código de Processo Penal Comentado, p. 988.
189
Primeiramente deve ser destacado que o único procedimento que, em primeira
instância, no Brasil permite o julgamento por um colegiado de juízes leigos é o
procedimento dos crimes dolosos contra a vida. Serão julgados pelo tribunal do
júri os crimes de homicídio simples e qualificado, o induzimento, instigação e
auxilio ao suicido, o infanticídio e o aborto, todos estes crimes na forma dolosa,
sejam eles tentados ou consumados e todos os crimes praticados com estes em
conexão. A única hipótese de um crime doloso contra a vida não ser julgado
pelo tribunal do júri é o crime doloso contra a vida praticado por pessoa que
detém foro privilegiado, razão pela qual, neste caso, prevalece o foro especial.
Em processos de crimes dolosos contra a vida, os princípios da continência e da
conexão não vigoram nos feitos de competência originária quando só um dos
acusados goza do foro privilegiado, devendo o processo ser desmembrado para
que os demais acusados sejam julgados pelo Tribunal do Júri.96
190
uma decisão de impronuncia. Desta decisão de impronúncia, o recurso cabível é
o recurso de apelação, valendo ressaltar que, em casos de impronúncia pode o
feito ser desarquivado com novas provas de autoria e de materialidade ate que
ultimado o prazo prescricional do delito imputado ao agente.98
191
se admite também a revisão, uma vez que por outro motivo, a impronuncia não
leva o réu a julgamento popular e assim sendo lhe é favorável não se admitindo
a revisão criminal pro societatis.
103
As hipóteses de cabimento da revisão criminal são aquelas taxativamente elencadas nos incisos do art. 621 do Código de Processo Penal.
4. Tratando-se de mera alegação superveniente ao processo findo, não se comporta, no âmbito da presente revisional, o exame do perdão
judicial ou da extinção da punibilidade (art. 168-A, § 3º, inciso II, do Código Penal e art. 9º, § 2º, da Lei nº 10.684/2003)." (TRF 1ª R. - RvCr
2005.01.00.007883-0/TO - 2ª S. - Rel. Des. Fed. Mário César Ribeiro - DJU 2 04.05.2007)
192
do processo, nos termos do artigo 449, no. 2 do Código de Processo Penal
Português.104
104
Nos casos em que for admitida a revisão de despacho que tiver posto fim ao processo, nos termos do artigo
449º, nº 2, o Supremo Tribunal de Justiça, se conceder a revisão, declara sem efeito o despacho e ordena que o
processo prossiga.
193
Esta regra também é adotada no Código Civil Francês (artigos 870 e 871), em Portugal
(Código Civil artigos 2.097 e 2.098), na Argentina (Código Civil artigo 3.940) e no
Código Civil Uruguaio (artigo 1.168).
A questão é a de ser analisada é se o condenado para se ver livre do processo apresenta
certidão de óbito falsa, poderá o processo ser reaberto? Um primeiro posicionamento
seria a resposta de que não seria possível, pois se assim agisse o Magistrado estaria ele
revendo a decisão absolutória em desfavor do acusado, o que seria proibido no
ordenamento jurídico brasileiro.
Todavia não é esta a posição de nossa doutrina e nem de nossa jurisprudência. A
princípio, a sentença do juiz que julga extinta a punibilidade do condenado diante de
uma certidão de óbito falsa enquadra-se no conceito de sentença inexistente. Nenhuma
conseqüência jurídica pode produzir e assim sendo, o processo pode ser reaberto. 105
O Supremo Tribunal Federal já legitimou a retomada da persecução penal, na hipótese
de decisão extintiva de punibilidade com base em certidão de óbito falsa, o que pode
ser considerado como um indicativo da possibilidade de adoção da revisão criminal
pro societate por nosso ordenamento jurídico.106
No julgamento do Habeas Corpus 84525/MG o ministro relator Carlos Velloso diz que "a
Suprema Corte já decidiu pela revogação de decisão que julga extinta a punibilidade do réu,
à vista de certidão de óbito falsa, já que não existe, no caso, coisa julgada em sentido estrito.
Caso contrário, o paciente estaria se beneficiando de conduta ilícita, qual seja, a
apresentação de certidão de óbito falsa, cuja responsabilidade penal poderá ser definida em
ação penal própria107
Em Portugal é cabível a revisão de decisões absolutórias (art. 449, n. 1, a, c.c. o art. 463, n. 3, do
CPP/98), possuindo o Ministério Público, inclusive, legitimidade ativa ampla para pleitear a revisio
em quaisquer decisões (condenatórias e absolutórias), incluindo a decisão de impronúncia.
105
PENAL – PROCESSUAL PENAL – HABEAS CORPUS – EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE AMPARADA EM
CERTIDÃO DE ÓBITO FALSA – DECRETO QUE DETERMINA O DESARQUIVAMENTO DA AÇÃO PENAL –
INOCORRÊNCIA DE REVISÃO PRO SOCIETATE E DE OFENSA À COISA JULGADA – FUNDAMENTAÇÃO –
ART. 93, IX, DA CF – I. – A decisão que, com base em certidão de óbito falsa, julga extinta a punibilidade do réu pode ser
revogada, dado que não gera coisa julgada em sentido estrito. II. – Nos colegiados, os votos que acompanham o
posicionamento do relator, sem tecer novas considerações, entendem-se terem adotado a mesma fundamentação. III. –
Acórdão devidamente fundamentado. IV. – H.C. indeferido. (STF – HC 84525 – MG – 2ª T. – Rel. Min. Carlos Velloso –
DJU 03.12.2004 – p. 00050)
106
(HC 55.901/SP e HC 60.095/RJ).
107
" (hc84525/MG. Julgado em 16/11/2004. Ministro relator: Carlos Velloso)
194
Na Itália, a legislação processual penal não prevê direta e expressamente a revisão pro societate, mas
considera inexistente a coisa julgada em caso de utilização de certidão de óbito falsa para a obtenção
da extinção da punibilidade. outros países, também, adotaram a revisão em prol da sociedade:
Alemanha (CPP atualizado em 1º de 1960); Alemanha Ocidental (CPP, par. 362); Noruega (CPP de
1º/07/1934, par. 415); Suíça (Lei Federal de Processo Penal, de 15/06/1934, art. 229, salvo os cantões
de Nidwald, Valais, Vaud e Genève); Suécia (Lei Processual de 18/07/1942, posta em vigor em
1º/01/1948, capítulo 58, par. 3º); Hungria (CPP, de 1951, alterado em 1954 e 1957, parágrafos 213 e
214); Iugoslávia (CPP de 1º/01/1954, par. 379); Tchecoslovaquia (CPP de 1956 que vigorou até
1961); Austria (CPP de 20/04/1960, par. 355); e, Russia (CPP de 27/10/1960, arts. 373 e 380). 108
Vicente Greco Filho, afirma que: "nem mesmo a extinção da punibilidade obtida com certidão de
óbito falsa tem sido admitida como revisível ou modificável após o prazo recursal respectivo. Apesar
das opiniões em contrário e da tentativa de considerar tal decisão inexistente (o que não é), a exceção
poderia ser perigosa fresta na garantia das liberdades e não deve, pois, ser admitida" Fernando da
Costa Tourinho Filho assevera que a revisão em favor da sociedade era possível quando, após ter sido
julgada extinta a punibilidade pela morte do agente, comprovava-se que ele estava vivo. 109
Na doutrina brasileira apenas os doutrinadores Basileu Garcia e Julio Fabbrini Mirabete são
contrários a reabertura do processo que foi extinto com fundamento em certidão de óbito
falsa. Esta posição já foi afastada pela jurisprudência que entende plenamente cabível a
reabertura de processo com base em certidão de óbito falsa, por considerar a sentença como
inexistente.O professor Basileu Garcia sustenta seu posicionamento porque a legislação
brasileira “não cogitou da hipótese de (reabertura de processo extinto com certidão de óbito
falsa) devendo se proceder a processo contra os responsáveis pela falsidade e pelo uso do
documento destinado a provar o óbito ficticio”110 Acompanhando o professor Basileu Garcia,
o professor Julio Fabbrini Mirabete sustenta “ainda que se demonstre a falsidade da prova do
óbito, não pode ser ela revista, porque não existe em nosso ordenamento jurídico a revisão
pro societatis. Somente será possível intentar-se uma ação penal pelos crimes de falsidade e
de uso de documento falso”111
A corrente majoritária assinala com a possibilidade de reabertura do processo, eis que se trata
de erro in procedendo. A este respeito: “Extinção da punibilidade pela morte baseada em
108
Jorge Alberto Romero, Da Revisão, apud Geraldo Batista de Siqueira, et al, Revisão Criminal:Titularidade
do Ministério Público, in Justitia 99/77, p. 76
109
(Op. cit. p. 438-39).
110
Instituições de Direito Penal, volume 2, p. 751
111
Manual de Direito Penal, volume 1, p.387
195
certidão de óbito falsa. É, até hoje, polêmica a questão se a decisão que extingue a
punibilidade pela morte do agente com base em certidão de óbito falsa pode ser objeto de
revisão criminal ou se pode ser anulada, por ter sido baseada em fato inexistente. O
entendimento dominante é que se a certidão de óbito é falsa a decisão de extinção da
punibilidade nela baseada não pode fazer coisa julgada, tendo em vista que a decisão se
fundamentou em fato juridicamente inexistente - Não houve a morte. O erro material não
transita em julgado, logo pode ser corrigido a qualquer tempo, desde que não ocorra a
prescrição da pena, in abstracto ou in concreto” 112
Caso o acusado seja pronunciado, será ele submetido a julgamento pelo Tribunal
do Júri. O tribunal do júri brasileiro é composto de um juiz togado e sete jurados
leigos que são competentes para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida.
No julgamento pelo Tribunal do Júri brasileiro, os jurados decidem se o acusado
é culpado ou inocente por maioria de votos.
A resposta é positiva. José Frederico Marques com sua peculiar sabedoria nos
ensina: “é pacifica a jurisprudência que admite a revisão criminal contra
decisões condenatórias com transito em julgado proferidas pelo Tribunal do
Júri”.113
112
(TRF 01ª R.; HC 2008.01.00.040310-1; GO; Terceira Turma; Rel. Juiz Tourinho Neto; Julg. 01/09/2008;
DJF1 12/09/2008; Pág. 74)
113
Op. cit. Volume III, p. 233.
196
Nessa circunstância, a atuação do tribunal competente se limitaria a apreciar as
condições de admissibilidade para o ajuizamento da aludida ação e, se for o
caso, anular a sentença impugnada. Para que houvesse novo pronunciamento
sobre o caso, contudo, a matéria deveria ser novamente apreciada por um
tribunal popular, sob pena de ofensa ao princípio constitucional da soberania dos
veredictos, previsto no art. 5º, inciso XXXVIII, alínea c de nossa Magna
Carta.114
115
(in "Direito Constitucional", Editora Atlas, 15ª ed., 2004, p. 111).
116
" (in "Código de Processo Penal Interpretado", Editora Atlas, 8ª ed., 2001, p. 1350).
197
tribunal do júri. Na ação de revisão criminal, a competência é sempre de
órgãos colegiados da jurisdição togada. Não obstante, temos para nós que a
revisão é perfeitamente possível mesmo em relação às decisões do Júri. E assim
nos parece porque o princípio da soberania dos veredictos e mesmo a garantia
do próprio Tribunal do Júri para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida
foram instituídos em favor dos interesses da defesa. E por isso são garantias
constitucionais individuais. Ora, a admissibilidade de uma revisão desses
julgados em favor do condenado mantém-se na linha da preservação dos
interesses da defesa, vedado que é, também a reformation in pejus (art. 626,
parágrafo único, CPP), devendo ser recebida como mais uma garantia posta à
disposição do cidadão" 117
Guilherme de Souza Nucci narra sobre o assunto: “ Caso, pois, entenda o réu
ter sido indevidamente condenado, poderá ingressar com a revisão criminal,
mas apenas para que o tribunal togado proceda ao juízo rescindente,
devolvendo ao júri o juízo rescisório. Cabe a este último a decisão de mérito,
avaliando se houve ou não o mencionado erro judiciário. Levemos sempre em
conta que a análise das provas do processo é relativa e ninguém pode garantir
que o tribunal togado seja o único habilitado a procedê-la com sucesso. Diante
disso, para compatibilizar a revisão criminal com a soberania dos veredictos,
sem que uma garantia supere a outra, pois estabeleceria indevida hierarquia
entre normas constitucionais, é preciso encaminhar o julgamento ao Tribunal
117
(in "Curso de Processo Penal", Editora Del Rey, 3ª ed., 2004, p. 890/891).
118
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. 10 ed. São Paulo: Atlas, 2000. p. 676.
198
Popular”. [...] Saliente-se que, da mesma forma que a revisão criminal é uma
garantia individual, também o é o Tribunal do Júri, embora a primeira seja
instrumento de proteção destinado aos condenados injustamente, enquanto o
segundo é garantia do devido processo legal e não da liberdade do réu. Pode o
júri condenar ou absolver, sem estar vinculado ao acusado. Assim sendo,
embora a revisão criminal seja uma proteção aos condenados vítimas de erro
judiciário, é preciso que se preserve, igualmente, a instituição do júri, lapidada
constitucionalmente para a condenação ou absolvição dos acusados da prática
de crimes dolosos contra a vida.” 119
199
RECURSOS DA DECISÃO DO PROCESSO DE REVISÃO CRIMINAL
200
Esse recurso tem cabimento quando a decisão recorrida contraria dispositivo de
ordem constitucional; quando a decisão recorrida declara a inconstitucionalidade
de tratado ou lei federal – decisão em ação declaratória de inconstitucionalidade
ou quando julgar válida lei ou ato de governo em desacordo com os preceitos
constitucionais.
Deve ser apresentado no prazo de 15(quinze) dias, devendo ser endereçado ao
Presidente do Tribunal recorrido. A petição deverá conter a exposição de fato e
de direito, a demonstração do cabimento do recurso e seu respectivo fundamento
legal e as razões e pedido de reforma. Quando houver divergência
jurisprudencial deverá ser feita prova da divergência mediante certidão ou cópia
do jornal oficial ou repertório atualizado de jurisprudência.
Recebido o recurso é aberta vista a parte contrária pelo prazo de 15(quinze) dias
para impugnação. Após, os autos irão conclusos ao Presidente do Tribunal para
decisão sobre a admissibilidade ou não do recurso. Isto é chamado de juízo de
prelibação. Caso haja indeferimento por parte do Presidente do Tribunal, os
recursos cabíveis são a carta testemunhável, ou o agravo de instrumento no
prazo de 05 (cinco) dias. Quando o Tribunal nega seguimento ao Agravo, cabe
no Agravo dirigido ao Supremo Tribunal Federal no prazo de 05(cinco) dias
para recebimento do agravo anterior.
O Recurso Extraordinário tem por objetivo rever decisões firmes, aquelas que
não caiba outra espécie de revisão judicial, mesmo julgadas em uma única ou
mais instâncias, em prol da tutela de preceitos constitucionais, cláusulas pétreas,
garantias fundamentais da cidadania e dos princípios gerais do direito, dentre
eles destacamos o duplo grau de jurisdição.
201
Seu processamento é igual ao do recurso extraordinário. Caso seja indeferido
cabe agravo de instrumento, no prazo de 05 (cinco) dias. No seu julgamento,
caso haja divergência entre os membros do Tribunal cabível é o recurso de
embargos de divergência no prazo de 15(quinze) dias.
Neste diapasão temos a SÚMULA 07 DO STJ: “Súmula nº 7. A pretensão de
simples reexame de prova não enseja recurso especial”.
Dispõe a Constituição Federal, no seu art. 105, III, que compete ao Superior
Tribunal de Justiça "julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única
ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos
Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:
"b) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face de lei federal;
"c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro
tribunal."
202
Logo, "questões jurídicas de índole eminentemente constitucional estão
afastadas do âmbito de conhecimento do especial." (STJ – 1ª. Turma – Resp. nº.
59.256-9/RS – Rel. Ministro Demócrito Reinaldo, 05/04/95), mesmo porque
para tais hipóteses o recurso cabível será o extraordinário (art. 102, III da
Constituição Federal).
Caso seja proferida a decisão nos autos de revisão, e o Acórdão for omisso,
lacunoso, obscuro ou contraditório caberá embargos de declaração para o
Relator do Acórdão. Os embargos declaratórios têm como finalidade primordial
aclarar ou esclarecer uma decisão judicial que se encontra omissa, obscura,
lacunosa ou ambígua. Trata-se de um recurso comum, que pode ser usado tanto
pela parte ativa no processo, quanto pela parte passiva. Os embargos
declaratórios podem ser interpostos contra a sentença ou contra o acórdão. É
interposto contra o julgador que prolatou a decisão.
203
Deverá ser apresentado ao Relator do Acórdão, podendo ser indeferido in limine
quando não preenchidos os requisitos legais. Da decisão que não recebe os
embargos de declaração, cabe o recurso em sentido estrito123. Além disso, é
pacífico na jurisprudência que os embargos de declaração não se prestam à
rediscussão da matéria124
Um dos efeitos dos embargos de declaração é que ele pode ser indeferido in
limine pelo juiz ou pelo Relator do Acórdão. Uma vez aceito, este suspende o
prazo para eventual recurso, como bem assinala o professor Júlio Fabrini
Mirabete, “tratando-se de suspensão e não de interrupção de prazo, são
descontados do lapso de tempo previsto para o recurso os dias transcorridos
até a interposição do recurso, a soma dos embargos de declaração” 125 Temos
ainda que o prazo para oposição de embargos de declaração deduzidos em
matéria penal é de dois dias, consoante disposto no art. 619 do CPP e no art. 263
do RISTJ. Incabível a aplicação, nesta Corte, dos prazos estabelecidos no
Regimento Interno do Tribunal a quo. Embargos declaratórios intempestivos não
têm o condão de suspender o prazo dos outros recursos, consoante precedentes
desta Corte. Agravo regimental que não se conhece. (Superior Tribunal de
Justiça STJ; AgRg-EDcl-AgRg-EDcl-Ag 634825; MG; Sexta Turma; Rel. Min.
Paulo Geraldo de Oliveira Medina; Julg. 28/03/2006; DJU 12/06/2006; Pág.
548)
Assim com quando temos uma sentença que julga o mérito de uma ação, e
havendo o trânsito em julgado, aquela matéria adquire os requisitos da
imutabilidade e da indiscutibilidade, não podendo mais ser alvo de nova ação ou
de novo pedido, sob pena de ofensa á coisa julgada, e se assim ocorrer, o novo
pedido poderá ser fulminado pela ocorrência da violação da coisa julgada.
123
RJDTACRIM 22/55
124
“Os embargos declaratórios são cabíveis para sanar ambigüidade, obscuridade, contradição ou omissão (art.
619 do CPP). In casu, inexiste omissão ou contradição quando no voto foi devidamente examinada a quaestio
juris suscitada, sendo impossível, pela presente via, o reexame de matéria já decidida. Recurso não provido.”
(TJ-ES; EDcl-ACr 024.03.013545-3; Segunda Câmara Criminal; Rel. Des. José Luiz Barreto Vivas; Julg.
22/11/2006; DJES 15/12/2006)
125
Código de Processo Penal Interpretado, p. 721
126
CPP português artigo 465
204
O Código de Processo Penal Brasileiro admite a hipótese de novo pedido de
revisão criminal se este vier embasado em novos elementos de convicção ou
novas provas. Já a legislação portuguesa, permite novo pedido de revisão desde
que lastreado em novo fundamento. Por exemplo, se em Portugal o condenado
ajuíza pedido alegando a ocorrência de provas falsas e este pedido for negado,
poderá fazer uso da revisão sob outro fundamento, que não seja a ocorrência de
prova falsa. No Brasil, pode haver a reiteração do pedido, desde que os
elementos de prova seja diversos. A diferença aqui é patente, uma vez que em
Portugal não se pode usar o mesmo fundamento, mas no Brasil o que se exige
são novos elementos de convicção, podendo o fundamento da revisão ser o
mesmo. No Brasil admite-se a revisão ou a reiteração do pedido se surgirem
provas inéditas (desconhecidas do julgador no primeiro pedido) chamadas de
provas substancialmente novas. Também se admite a reiteração do pedido
calcado nas chamadas provas formalmente novas, que eram elementos de
convicção já conhecidos do julgador, mas que ganham nova roupagem (uma
testemunha já ouvida mas que se recorda de algo que não foi alvo de
questionamento no depoimento anteriormente prestado).127
Como bem alertou o insigne Professor Eugênio Pacelli de Oliveira, "o pedido de
revisão somente poderá ser proposto uma única vez, salvo se fundado em novas
provas [art. 622, parágrafo único] [...] a medida é excepcional. Havendo nova
127
Guilherme de Souxa Nucci, Código de Processo Penal Comentado, p. 995.
128
(TJDFT – Proc. 20100020042956 – (434680) – Rel. Des. Fed. Mario Machado – DJe 27.07.2010 – p. 15)
205
prova, não submetida ao exame nos julgamentos anteriores, será possível a
renovação da ação." 129
129
[Curso de Processo Penal. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 739]
130
(...)". (Curso de Direito Processual Penal, 2ª ed., pág. 515)
131
REVISÃO CRIMINAL – REITERAÇÃO DE PEDIDO SEM NOVAS PROVAS – INADMISSIBILIDADE –
PEDIDO REVISIONAL NÃO CONHECIDO – Tratando-se de mera reiteração de pedido, desacompanhada de
nova prova, por força do art. 622, parágrafo único, do CPP, impõe-se o não conhecimento da ação. (TJMG –
RvCr 1.0000.09.509811-7/000 – 2º G.C.Crim. – Rel. Eduardo Machado – DJe 21.05.2010)
206
mesma. Neste sentido, temos que “a sentença que reconhece, categoricamente, a
inexistência material do fato impede a propositura da ação civil”132
Sobre o tema, com muita propriedade, temos a seguinte lição de Mossin Filho
(1999, p. 406) “a inexistência material do fato a que se refere o legislador
penal diz respeito aos fatos ou imputação vertida na denúncia ou queixa, não
guardando nenhum liame com o elemento normativo do tipo nem com a
comprovação do corpus delicti (elementos sensíveis do crime)”
Pois bem, certas decisões proferidas no juízo criminal não impedem o
ajuizamento de ação civil, como por exemplo o arquivamento de inquérito
policial, a rejeição de denúncia ou da queixa crime e a absolvição do acusado
por ausência de provas. Neste sentido, podemos citar que “a absolvição na ação
penal que resultou em insuficiência de provas na esfera civil não impede a
apreciação de culpa na esfera civil”133 e, ainda, o julgado do Tribunal de Alçada
Criminal do Estado de São Paulo, na esteira de que “não tendo sido reconhecido
categoricamente a inexistência material do fato (acidente de trânsito e o evento
homicídio e lesões corporais) e nem que o réu não foi o autor dos crimes
culposos, tal sentença não faz coisa julgada no cível.”134
Assim a questão ora proposta seria a seguinte: determinado individuo é
absolvido no juízo criminal por ausência de provas, e pretende ajuizar a revisão
criminal para modificar a causa de sua absolvição para a hipótese de
reconhecimento de causa excludente da antijuridicidade ou mesmo para que o
juízo criminal reconheça a inexistência material do fato, e assim sendo evitar o
ajuizamento e consequente procedência de ação civil de reparação de danos ou
mesmo o seu ajuizamento.
O raciocínio seria o de mudando o fundamento da sua absolvição para o
reconhecimento de causa excludente da antijuridicidade ou mesmo da
inexistência do fato, com isso, de forma reflexa obteria a extinção de ação civil
de indenização ou mesmo a sua procedência.
Precisamos focalizar a questão no sentido de que o acusado pode recorrer da
sentença criminal, antes de seu transito em julgado para obter a mudança do
fundamento da absolvição. Tal se faz através do recurso de apelação e cuja a
possibilidade jurídica é pacifica no ordenamento jurídico brasileiro uma vez
que . a sentença penal possui dois efeitos: a) o efeito principal que é a aplicação
da sanção penal; e b) o efeito secundário que é a obrigação de reparar o dano, a
perda do poder familiar, a proibição do direito de dirigir e a perda de cargo,
função pública etc. Obviamente a sentença penal condenatória produz uma
verdadeira interpenetração na esfera cível eis que impõe efeitos no campo penal,
132
Conforme STF, RTJ 52/136
133
Ver RTJ 77/516
134
Ver RT 560/100
207
no campo civil, do direito de família, do direito administrativo e até mesmo na
suspensão do direito de dirigir.
Neste sentido, ensina Julio Fabbrini Mirabete, 135“é possível apelar o réu
absolvido da decisão para obter modificação do fundamento legal quando
preenchido o necessário pressuposto do recurso (eventual prejuízo em tese) que
lhe confere legítimo interesse. Assim, por exemplo, se absolvido por
insuficiência de prova (artigo 386, II, IV e VI) pode pretender o reconhecimento
da inexistência do fato, diante dos efeitos diversos dessas decisões quanto a
responsabilidade civil136
Confira-se o entendimento da jurisprudência conferindo o direito ao acusado de
recorrer de sentença absolutória com a finalidade de mudar o fundamento
jurídico de sua absolvição com finalidade de impedir eventual ação de
indenização na esfera cível.137
Observa-se claramente dos textos doutrinários acima expostos, que é permitido
apelar da sentença de primeiro grau, desde que não esteja ela acobertada pelo
manto da coisa julgada.
Todavia, como o regramento processual brasileiro somente permite a revisão
criminal de sentenças condenatórias, não poderia o acusado ajuizar revisão
criminal com a finalidade de modificar a sentença de absolvição proferida para
um outro motivo e assim sendo evitar a ação civil. Tal conclusão ora se chega
uma vez que a mudança de fundamento de absolvição não está no rol de
cabimento da revisão criminal, e as sentenças absolutórias mesmo no caso de
mudança de fundamento de absolvição não estão previstas no ordenamento
jurídico brasileiro.
Neste sentido confira-se: “REVISÃO CRIMINAL – PROCESSUAL PENAL –
SENTENÇA ABSOLUTÓRIA – PRETENSÃO DA ALTERAÇÃO DA
FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO – IMPOSSIBILIDADE – AUSÊNCIA DE
INDICAÇÃO DA CAPITULAÇÃO DA ABSOLVIÇÃO – IMPOSSIBILIDADE
135
”. (Código de Processo Penal Interpretado. 7.ª edição.ed. Atlas. 1999).
136
No sentido acima temos que: “sentença que reconhece categoricamente a inexistência material do fato impede
a propositura de ação civil” (STF, RTJ 52/136).
137
“É possível apelar o réu absolvido da decisão absolutória, para obter modificação do fundamento legal de
sua absolvição, por que preenchido o necessário pressuposto recursal do eventual prejuízo em tese, que lhe
confere legítimo interesse” (RT 619/280)
“Conhece-se de apelação interposta por réu absolvido se a decisão absolutória teve por fundamento o n.º VI do
artigo 386 do CP – insuficiência de prova – e pretende o apelante seja reconhecido o disposto no n.º III do
mesmo dispositivo, isto é, não constitui infração penal o fato que lhe é imputado” (RT 598/332)
208
DE ALTERAÇÃO DAS RAZÕES DA ABSOLVIÇÃO – RECURSO NÃO
CONHECIDO – Com efeito o art. 621 do CPP só permite a revisão de sentença
condenatória, sendo, portanto, condição indispensável, para o seu
conhecimento, a decisão definitiva de mérito acolhendo a pretensão
condenatória, ou seja, impondo ao réu a sanção penal correspondente. Tanto a
doutrina como a jurisprudência não admitem o conhecimento de revisão
criminal de sentença absolutória, salvo em caso de absolutória com aplicação
de medida de segurança. Não é possível a correção ex offício das razões
absolutórias para alterá-las da ausência de provas para inexistência do fato,
pois tal esforço demanda análise aprofundada das provas e fatos, implicando
em novo juízo de valor que deve ser feito na instância singela, e não sem sede
revisional”138
E ainda: “REVISÃO CRIMINAL – AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTO –
SENTENÇA ABSOLUTÓRIA – NÃO CONHECIMENTO139
A doutrina aqui representada por Dante Busana entende ser incabível a revisão
criminal para se alterar fundamento da sentença absolutória vez que não é
possível no Brasil a revisão criminal de sentença absolutórias, asseverando que
neste caso, deve o autor ser considerado como carecedor do direito de ação
porque a revisão não se presta a análise os fundamentos de sentença de
absolvição.140
138
(TJMS – RvCr 2010.005455-4/0000-00 – S.Crim. – Relª Desª Marilza Lúcia Fortes – DJe 21.09.2010 – p.
41)
139
. (TJMG – RvCr 1.0000.08.481352-6/000 – 2º G.C.Crim. – Rel. Alexandre Victor de Carvalho – DJe
18.09.2009).
140
Vide a respeito, posicionamento de Dante Busana em decisão do Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo,
em JTACRIM 75/41 e Revista dos Tribunais 578/356.
209
ação de liquidação de sentença na esfera cível, para posteriormente obter o título
para o manejo da ação executiva. Neste ponto, o título seria ilíquido, como bem
demonstra o mestre Moacyr Amaral Santos (1994, p.220): [...] vale dizer, o
título deve necessariamente expressar certeza, liquidez e exigibilidade da
obrigação a que visa executar: certeza diz respeito à existência da obrigação;
liquidez corresponde à determinação do valor ou da individuação do objeto da
obrigação, conforme se trate de obrigação de pagar em dinheiro, de entrega de
coisa, de fazer ou não fazer; exigibilidade tem sentido de que a obrigação, que
se executa, não depende de termo ou condição nem está sujeita a outras
limitações. Título que não reúna tais requisitos não goza de eficácia executiva.
Para tanto, deveria o ofendido, no caso de sentença penal condenatória já
passada em julgado, socorrer-se da liquidação da sentença que deve ser
processada e apresentada junto ao Juízo Cível. Deve proceder à liquidação da
sentença através de artigos de liquidação, haja vista a necessidade de se alegar e
provar fato novo, ex vi do artigo 475 – E do Código de Processo Civil. A
liquidação por artigos é utilizada quando para apuração do valor devido, o
interessado deva demonstrar a ocorrência de fato, observando-se o procedimento
comum. Caso o interessado já possua o valor a ser pretendido através da ação
indenização, bastará ele requerer que a liquidação seja realizada por
arbitramento ou mesmo por simples cálculos aritméticos, onde deve ser
acompanhada de prévio demonstrativo dos valores apurados, apresentados de
forma discriminada.
210
Neste caso, o devedor será intimado na pessoa do seu advogado, tendo o prazo
de 15(quinze) dias para pagar o valor reclamado, sob pena de multa de 10% (dez
por cento) e expedição de mandado de penhora e avaliação de bens, podendo
oferecer a sua resposta através de impugnação, também no prazo de 15(quinze)
dias. Deve ser acrescido que caso o devedor alegue excesso de execução, deve
ele de pronto apresentar o valor que entende devido, sob pena de rejeição
liminar da defesa. Este pedido de impugnação não tem efeito suspensivo e, se
rejeitada ou acolhida, o recurso cabível será o agravo de instrumento.
Assim caso o Magistrado na sentença penal condenatória não fixe os valores de
indenização ou de reparação deverá o ofendido valer do procedimento de
liquidação de sentença previsto nos artigos 475 e seguintes do Código de
Processo Civil. Nunca podemos perder de vista ao analisar o tema em questão
que a responsabilidade civil é independente da responsabilização criminal.
Trata-se da aplicação do artigo 935 do Código Civil Brasileiro.141
A primeira delas diz respeito ao valor do dano sofrido pelo ofendido, e a este
compete a prova de que sofreu os prejuízos, demonstrando ao Juiz através de
elementos idôneos de prova os danos suportados pela ação delituosa. Neste
ponto, é que se tornas crucial que a vítima ingresse nos autos ao lado do titular
da ação penal, na posição de assistente de acusação, propondo meios de prova
no afã de produzir elementos de prova dos danos sofridos.
Ensina o professor FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO,
comentando sobre a sentença penal condenatória e seus efeitos: “Há um efeito
civil principal: a fixação do valor mínimo para a reparação dos danos
causados pela infração, considerando-se os prejuízos sofridos pelo ofendido
(introduzido pela Lei 11.719/2008).142
141
“A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do
fato ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal”
142
Manual de Processo Penal, 11ª. Edição, Editora Saraiva, São Paulo, 2008, p. 799.
211
experimentado”143 Da leitura atenta do trecho transcrito acima temos o
entendimento de que a vítima, caso o Juiz fixe o valor mínimo já ajuíze a
competente ação de execução de título judicial, socorrendo-se do procedimento
de liquidação de sentença caso pretenda receber maior valor do que aquele
fixado pelo Juiz, entendendo que seus danos foram maiores do que aquele valor
fixado pelo Juiz Criminal.
Todavia, a aplicação prática da fixação dos danos na sentença, merece algumas
considerações. A primeira delas diz respeito a obediência ao princípio da
correlação. Como sabemos o réu se defende dos fatos alegados na queixa crime
ou na denúncia. O principio da correlação pode ser considerado como uma
norma que obriga o Magistrado a decidir a lide nos termos em que foi proposta,
uma vez que o pedido formulado pelo autor delimita a atuação do poder
jurisdicional, devendo o magistrado obedecer quando da prolação da sentença os
fatos narrados na denúncia ou queixa144.
Novamente socorrendo-nos dos ensinamentos do professor EDILSON
MOUGENOT BONFIM ao comentar o principio da correlação este nos ensina
que: “no que diz respeito à causa de pedir, o principio da correlação constitui
garantia do réu. É que os fatos narrados pelo acusador constituirão, ao longo
do processo, os únicos fatos dos quais o acusado poderá e deverá se defender.
É contra aqueles fatos que se deve dirigir a prova de defesa. A inobservância
ao princípio da correlação, considerando fatos não narrados pela acusação ou
pela defesa, surpreenderia, de modo inaceitável as partes, impedindo-lhes o
exercício do contraditório e da ampla defesa. A sentença que não guardar
correlação com a acusação, será nula, porque incorrerá no cerceamento do
direito de defesa”145
Assim para que haja cominação de valor mínimo de indenização pelos prejuízos
causados pelo crime, em especial o dano material, necessário se faz que tal fato
seja devidamente narrado na denúncia ou na queixa crime, para que o acusado
possa se contrapor a acusação, exercendo seu direito de defesa, inclusive no
sentido de possa se insurgir contra a ocorrência do dano ou mesmo impugnar os
valores pretendidos. Neste caso, deve ser respeito o direito constitucional do
contraditório e da ampla defesa, devidamente assegurados no artigo 5º, inciso
LV da Constituição Federal. Para que haja fixação dos danos na sentença
necessário se faz com que haja prova dos danos sofridos pelo ofendido, bem
143
Curso de Processo Penal, 4a. Edição, Editora Saraiva, 2009,p. 465
144
PENAL E PROCESSO PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO. RECURSO DA
DEFESA. MÉRITO. ALEGAÇÃO DE QUE NÃO HOUVE PEDIDO EXPRESSO PARA CONDENAÇÃO DO
RÉU NA REPARAÇÃO PELOS DANOS CAUSADOS À VÍTIMA (ART. 387, IV, CPP). NECESSIDADE DE
SUBMISSÃO AO CONTRADITÓRIO E A AMPLA DEFESA. INDENIZAÇÃO EXCLUÍDA DA
CONDENAÇÃO. 1. Para que seja fixado na sentença o valor mínimo para reparação dos danos causados à
vítima, com base no art. 387, IV, do Código de Processo Penal, deve haver pedido formal por parte do Ministério
Público e/ou assistente nesse sentido, e ser oportunizada a defesa do réu, sob pena de violação ao princípio da
ampla defesa e do contraditório, o que não aconteceu nestes autos. 2. Recurso conhecido e Provido para retirar
da condenação tão somente o valor estabelecido nos termos do art. 387, IV, do CPP. (Apelação nº 0500007-
34.2014.8.01.0003, Câmara Criminal do TJAC, Rel. Pedro Ranzi. j. 10.12.2015).
145
Op. cit., p. 455
212
como ele traga aos autos prova da ocorrência destes danos, cujo o ônus da prova
a ele compete, sob pena de configuração de sentença ultra petita, ou seja, o juiz
decide o pedido, mas vai além dele, dando ao autor mais do que fora pleiteado.
Necessário, pois, para que haja cumprimento do referido mandamento legal que
a parte lesada faça prova dos prejuízos causados pelo acusado no processo
crime, além deste pedido estar expressamente consignado na prefacial
acusatória.
Neste caso, o ônus da prova dos prejuízos causados pelo crime compete ao
Ministério Público, ao querelante, ou mesmo ao ofendido, quando habilitar-se
nos autos como assistente de acusação.
146
‘Código de Processo Civil Comentado”, 3ª Edição, Editora Revista dos Tribunais, 1997, p. 615
147
“PRIMEIRAS LINHAS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL”, 2º VOLUME, 14ª EDIÇÃO, EDITORA SARAIVA, 1991, P.
274
148
(IN, “TEORIA E PRÁTICA DO PROCESSO CIVIL DE CONHECIMENTO”, 1ª EDIÇÃO, EDITORA SARAIVA, 1.989, P.
221).
149
(op. cit., p. 223).
213
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes". Conforme ensina a
professora TEREZA NASCIMENTO ROCHA DÓRO, comentando este
princípio aduz: “Esse princípio processual deriva da garantia constitucional de
que ninguém poderá ser privado de seus bens ou de sua liberdade sem o devido
processo legal. Além de existir um processo, deverá ele assegurar a completa
igualdade entre as partes, o contraditório e a ampla defesa. Essa ampla defesa
compreende conhecer O COMPLETO TEOR DA ACUSAÇÃO, DEBATÊ-LA,
ACOMPANHAR TODA E QUALQUER PRODUÇÃO DE PROVA,
CONTESTANDO-A SE NECESSÁRIO, SER DEFENDIDO POR ADVOGADO
E RECORRER DE DECISÃO QUE LHE SEJA DESFAVORÁVEL” (Princípios
do Processo Penal Brasileiro, p. 129- grifos do autor).
Não se pode de forma alguma impor-se surpresas no procedimento penal. Da
mesma sorte não poderia o Magistrado fixar valores sem qualquer base
probatória, sem qualquer justificativa, apenas pela imposição da lei. Já o
saudoso professor WOLGRAN JUNQUEIRA FERREIRA, definia o direito
do contraditório como “as partes se colocam em pé de igualdade. Como
acentua MAGALHÂES NORONHA (Curso de Direito Processual Penal, p. 311)
ficam excluídos os métodos inquisitoriais e secretos que provam dos meios
regulares da defesa, da oportunidade de ser ouvido e REFUTAR as acusações.
NÃO HÁ SURPRESAS OU IMPREVISTOS, MAS TUDO É FEITO AS
CLARAS COM CONHECIMENTO DAS PARTES”. (Comentários à
Constituição Federal, Volume 1, p. 213- grifos do autor).
214
instrução específica para impugnar o valor mínimo para o dano, é defeso ao
julgador optar por qualquer cifra, pois seria nítida a infringência ao princípio
da ampla defesa (Código de Processo Penal Comentado, Editora Revista dos
Tribunais, 2008, p. 691).
Assim para que haja efetivo cumprimento do artigo 387, Inciso IV do Código de
Processo Penal e o Magistrado na sentença pode fixar o valor mínimo de
indenização deverá haver pedido formal por parte do ofendido requerendo a
fixação de indenização, com a oportunidade do acusado se defender, bem como
sejam juntadas efetivas provas de sua ocorrência nos autos, sob pena de se
ofender os princípios da ampla defesa, do contraditório e da correlação. O
efetivo cumprimento do artigo 387, inciso IV do Código de Processo Penal deve
subordinar-se a duas condições. A primeira delas diz respeito a narração na
denuncia ou na queixa crime dos prejuízos sofridos pela vítima, como condição
essencial para a fixação dos danos na sentença criminal.
215
dano. (Apelação Criminal nº 5001865-67.2014.404.7102, 8ª Turma do TRF da
4ª Região, Rel. João Pedro Gebran Neto. j. 06.05.2015, maioria, DE
08.05.2015)”.
Não satisfeitas estas condições, restará a vítima apenas a opção de perseguir o
direito indenizatório na seara cível através do procedimento de liquidação de
sentença, nos termos do artigo 475 do Código de Processo Civil e não através de
ação de execução forçada vez que faltará ao titulo exeqüendo o atributo da
liquidez. Também é necessário dizer que não se pode fixar valor mínimo de
indenização na sentença criminal, sem que haja a este respeito pedido expresso
por parte do autor da ação penal, bem como prova dos danos sofridos150.
CAPITULO PROCEDIMENTOS
150
PENAL. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. ART. 1º, I E II, DA LEI Nº 8.137/90.
MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS, DOLO GENÉRICO. REPARAÇÃO MÍNIMA.
EFEITOS DA SENTENÇA. NECESSIDADE DE PEDIDO. 1. Comete crime contra a ordem tributária o agente
que suprime o pagamento de tributos mediante omissão de informações às autoridades fazendárias. 2. O
elemento subjetivo do tipo é o dolo genérico, bastando, para a perfectibilização do delito, que o agente tenha a
vontade livre e consciente de suprimir ou reduzir o pagamento de tributos. 3. A obrigação de indenizar surgida
como efeito da sentença condenatória (art. 91, I do CP) não torna necessariamente certa a indenização. Para a
fixação do valor mínimo a indenizar, é imprescindível que haja pedido expresso na inicial, quer do Ministério
Público Federal, quer da vítima, a fim de possibilitar o exercício do contraditório e da ampla defesa com relação
ao valor pretendido. 4. Apelação criminal desprovida. Concedida, de ofício, ordem de habeas corpus para afastar
a condenação na reparação do dano. (Apelação Criminal nº 5001865-67.2014.404.7102, 8ª Turma do TRF da 4ª
Região, Rel. João Pedro Gebran Neto. j. 06.05.2015, maioria, DE 08.05.2015).
216
Apresentação da defesa preliminar
Manifestação do MP sobre a defesa preliminar
Autos conclusos ao Juiz para apreciação da defesa preliminar:
Pode absolver sumariamente o acusado em caso de excludente de
antijuridicidade, culpabilidade, falta de justa causa e fato atípico
Audiência ÚNICA: oitiva da vítima, das testemunhas de acusação das
testemunhas de defesa, por ultimo do acusado
Terminada a instrução: abre a palavra as partes para
requerimentos suplementares. Havendo e deferidos, realiza-se a
audiência e os memoriais são apresentados posteriormente, por
escrito, no prazo de cinco dias
Não havendo requerimentos ou estes sendo INDEFERIDOS,
passa-se aos debates pelo prazo de 20 (vinte) minutos prorrogáveis
por mais 10(dez) minutos.
Sentença pelo juiz com a inovação de que este pode fixar danos
pelos prejuízos causados.
1- Rejeição da denúncia
217
Todo o processo começa com a fase postulatória. No processo penal como
outrora foi visto, o processo se inicia, na fase judicial, com a apresentação da
denúncia ou da queixa. O magistrado pode rejeitar a denúncia quando verificar
que a mesma é inepta, quando verifica a inexistência de pressuposto ou
condição para o exercício do direito de ação, o que inviabiliza o
desenvolvimento válido e regular do processo, ou quando observa a falta de
justa causa para o exercício da ação penal.
2- A resposta preliminar:
Foi abolida pela nova lei a defesa prévia. Anteriormente a defesa prévia era
apresentada após o interrogatório do acusado. Hoje, com a nova lei, houve a
substituição da defesa prévia pela resposta preliminar que deve ser apresentada
no prazo de 10(dez) dias e é obrigatória. Caso não seja apresentada deve o
Juiz designar defensor dativo para ofertá-la. Trata-se, pois de peça
processual obrigatória, onde devem ser apresentadas as teses de defesa,
documentos, especificação de provas, e principalmente é o momento
processual para que as testemunhas sejam arroladas.
Nesta resposta preliminar, obrigatória é que o acusado deve apresentar toda a
sua matéria de defesa, juntar documentos, requerer provas, e arrolar suas
testemunhas em número de 08(oito) testemunhas, requerendo a sua intimação
pessoal.
218
Não entendendo presentes estas situações, o juiz deverá receber a denúncia,
designando dia, local e hora para a audiência, intimando o acusado, seu
defensor, o Membro do Ministério Público, as testemunhas, assistentes etc.
Permite a lei que todos os atos da audiência sejam realizados por meios
eletrônicos.
PROCEDIMENTO SUMÁRIO:
A nova lei criou o procedimento sumário, utilizado para os crimes que possuam
pena máxima inferior a quatro anos.
O prazo para encerramento do procedimento sumário é fixado em
30(trinta) dias. As partes podem arrolar até 05(cinco) testemunhas. O
mesmo rito do procedimento ordinário é adotado no sumário, com a
219
resposta preliminar, possibilidade de absolvição sumária, audiência uma,
alegações orais e sentença.
Em quaisquer dos procedimentos, a testemunha, vítima que foi ouvida
mediante carta precatória não levará a suspensão dos processos, como
ocorria anteriormente.
151
Quadro cedido pelo Prof Gustavo Massari
220
221
222
223
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243
244
245
Infrações de
menor
potencial
ofensivo
- Inepta. (inciso I)
- preliminar;
- tudo que interessa defesa; Juiz nomeia defensor para
Poderá argüir - oferecer documentos e justificações apresentar defesa no prazo
(art. 396 A) - especificar provas; de 10 dias (art. 396 A § 2.º)
- arrolar testemunhas;
Juiz
Obs. Deverá ser realizada no prazo Obs. Deverá ser realizada no prazo
de 60 dias após recebimento da de 30 dias após recebimento da
denúncia ou queixa
246
denúncia ou queixa
- declarações do ofendido
- oitiva testemunha de acusação
Juiz em audiência deverá - oitiva testemunha defesa
(Art. 400 – Proc. Ordinário - esclarecimento perito
e art. 531 no Proc. Sumário) - acareações
- reconhecimento de coisas e pessoas
- interrogatório
Sentença em audiência
( art. 403 – Proc. Ordinário e art. 534 – Proc. Sumário)
247
Numero de testemunhas rito ordinário: 8 testemunhas e no sumário
05(cinco) testemunhas
b) quando da citação do acusado, este não é mais citado para ser interrogado. O
réu é citado para que apresente, no prazo de 10(dez) dias sua defesa preliminar,
de caráter obrigatório, onde deve apresentar sua argumentação de defesa,
exceções, documentos e arrolar suas testemunhas. No rito ordinário podem ser
arroladas até 08 (oito) testemunhas e no procedimento sumário até 05(cinco)
testemunhas. A resposta preliminar é obrigatória e não sendo apresentada deverá
ser nomeado advogado para apresentá-la;
c) recebendo a resposta preliminar, o Juiz abre igual prazo de 10(dez) dias para
o Ministério Público tomar conhecimento do que foi alegado e se manifestar nos
autos;
Pode o Juiz rejeitar a denúncia no caso de entender ser a Denúncia inepta, faltar
condições de desenvolvimento válido ou regular do processo, ausência de
pressuposto ou condição processual ou quando entenda não haver justa causa
para ação penal.
248
e) Caso o magistrado entenda que não é o caso de absolvição sumária, deve
receber a denúncia e designar data para a audiência de instrução debates e
julgamento, determinando a intimação das partes, das testemunhas. A presença
do réu preso em audiência passa a ser obrigatória.
Estes mecanismos foram criados para tornar a lei processual mais célere. Prevê a
lei a conclusão do rito ordinário em 60(sessenta) dias e do rito sumário em
30(trinta) dias. Prevê a lei multa ao advogado que abandonar injustificamente a
causa com valores de 10 a 100 salários mínimos.
Inova ao possibilitar a citação do réu que se oculta por hora certa, abolindo a
citação editalicia neste caso. Revoga o artigo 499 e 500 do Código de Processo
Penal, fazendo com os debates, antes realizados pela forma escrita no prazo de
três dias, passem a ser realizados oralmente. Quando a prova for realizada
através de carta precatória, prevê a nova lei que a precatória não suspenderá o
curso do processo.
Vincula o juiz ao processo ao prever que o juiz que preside a colheita da prova
seja o mesmo que prolate a sentença, e que o Juiz diante da presença de uma
249
causa de exclusão da tipicidade, culpabilidade, do fato atípico, da ausência de
justa causa, possa de imediato absolver sumariamente o acusado.
250
indícios da autoria e da prova de materialidade. Pode também, como na regra
anterior, o juiz fixar fiança para que o réu aguarde seu julgamento pelo Júri
Popular em liberdade.
O réu poderá ser absolvido se o fato não existiu, se não há prova da participação
do réu, se o fato a ele imputado é atípico ou se este agiu amparado por alguma
causa excludente da antijuridicidade ou da culpabilidade. Outra inovação
importante é a de que da sentença de pronuncia caberá o recurso de
apelação e não mais o recurso em sentido estrito.
Permanece ainda a regra da emendatio libelli, podendo o juiz condenar o réu por
fato mais grave desde que haja narração do fato de forma correta. Havendo
desclassificação para delito menos grave, deverão ser os autos enviados ao juiz
competente para que haja análise do processo.
SINÓTICO
DENUNCIA
RESPOSTA PRELIMINAR EM DEZ DIAS
251
ROTEIRO PRÁTICO DO JULGAMENTO PELO TRIBUNAL DO JÚRI
O juiz intima as partes para que no prazo de cinco dias para arrolarem
testemunhas (número de 05), e requerem provas- CPP- art. 422.
O juiz procede ao sorteio dos jurados: cada parte pode recusar até 03 jurados
sem qualquer justificativa. (CPP, 468)
¯
252
Formado o conselho de sentença, o Juiz Presidente procede ao compromisso
dos jurados (CPP, art. 472)
¯
253
¯
Observações:
254
O número de jurados passa a ser o seguinte: cidades com mais de um milhão de
habitantes o número de jurados passa a ser de 800 a 1.500 jurados. Nas
localidades com mais de 100 mil habitantes o número de 300 a 700 jurados e nas
comarcas com numero de habitantes menor que 100 mil habitantes o número de
jurados passa a ser de 80 a 400 jurados. (cfr. art 425)
Fica mantida a preferência no julgamento pelo Júri dos réus presos. O assistente
de acusação pode se habilitar no processo em até 05(cinco) dias antes do
julgamento. (cfr. art. 430).
255
Serão os jurados notificados pessoalmente ou por via postal através de carta com
aviso de recebimento (art. 433).
A idade para ser jurado é alterada e diminuída para dezoito anos de idade. Fixa a
nova lei multa para o jurado faltoso de 01(um) até 10(dez) salários mínimos. O
serviço do júri é obrigatório, mas a lei cria uma nova alternativa. Aqueles que
não desejam participar do júri por motivos de convicção religiosa ou política não
é obrigado a participar, todavia, pode ser compelido a substituir a sua
participação no Júri por trabalhos assistenciais e comunitários. A participação
como jurado garante ao cidadão a prisão especial. (cfr. arts. 436 e seguintes).
256
popular não poderás ser realizado sem a presença do réu se este estiver preso.
(vide a respeito o artigo 457)
Fica mantido o número mínimo de 15(quinze) jurados para inicio dos trabalhos.
Também a nova lei mantém a incomunicabilidade dos jurados. E em relação as
recusas também foi preservado o número de 03(três) recusas injustificadas.(art.
463).
257
O réu é interrogado após a oitiva das testemunhas e não em primeiro lugar como
era no procedimento anterior. Pode ele ser reperguntado pelo Ministério Público,
em primeiro lugar, e após pela sua defesa. No júri fica proibido o uso de
algemas durante o julgamento. (art. 474)
O prazo dos debates também foi alterado. O prazo de 02(duas) horas foi
reduzido para 1(uma) hora e 30(trinta) minutos para cada parte. O prazo da
réplica e da tréplica foi aumentado de meia hora, para uma hora para cada parte.
Havendo mais de um réu o prazo foi alterado de 03(três) horas para 2(duas)
horas e meia. O prazo para réplica e tréplica foi aumentado, para mais de um réu
em Plenário, para 02(duas) horas. (cfr. art. 476)
258
Talvez o ponto onde há maior incidência de nulidades processuais é na
elaboração dos quesitos a serem respondidos pelos jurados. Os quesitos deverão
ser redigidos pelo Juiz com a maior clareza e simplicidade possível. Os quesitos
devem versar, nesta ordem:
a) autoria;
b) materialidade;
c) se o réu deve ser absolvido;
d) diminuição da pena;
e) Aumento de pena;
VOTAÇÃO - SINTÓTICO
259
1- AUTORIA – SIM POR MAIORIA OU UNANIMIDADE – FIM DO
JURI
NÃO POR MAIORIA OU UNANIMIDADE –
PROSSEGUE
260
então, desta sentença, o recurso de apelação.(VIDE A RESPEITO O
ARTIGO 2. 3 E 4º. DA LEI 11.689 DE 09 DE JUNHO DE 2008).
2-abolição do artigo 406 do CPP, onde as partes não mais farão seus memoriais
por escrito, devendo faze-los oralmente em audiência no prazo de 20(vinte)
minutos, prorrogado por mais de 10(dez) minutos;
152
Alexandre Cebrian Araújo Reis e Outro, Sinopses Jurídicas – Processo Penal, Procedimentos, Nulidades e
Recursos, n. 15, p. 53
153
RT 603/425, 558/381, 591/429, 701/408, 460/332, 639/291
261
3- O réu é interrogado por último. O prazo para encerramento da primeira fase é
fixado pelo legislador em 90(noventa) dias;
INSTRUÇÃO EM PLENÁRIO
262
8- Sob pena de nulidade não pode o expositor se referir, como argumento, a
respeito das algemas, silêncio ou decisões anteriores do processo;
9- Podem os jurados pedirem ao expositor que demonstre a página que se
referem na sua exposição;
10- São mantidas as cédulas de “sim” e “não”, bem como a
incomunicabilidade dos jurados;
11- Os quesitos devem ser formulados da forma mais simples e clara
possível;
12- Votados por unanimidade os quesitos da autoria e da materialidade
de forma negativa, tal fato põe fim a votação;
13- Votados por unanimidade ou maioria o quesito de que o réu deve
ser absolvido, encerra a votação;
14- Somente depois de afastado o quesito da absolvição é que são
votados os quesitos da redução de pena e após os quesitos de majoração
da reprimenda;
15- Fica abolido o recurso do protesto por novo júri, em caso de
condenação a pena de reclusão por mais de vinte anos em um só
crime;
16- O juiz pode conceder aparte ao expositor pelo prazo de 03(três)
minutos, concedendo o prazo a posteriori
CAPÍTULO NULIDADES
Generalidades
O processo penal é um processo formal por sua própria natureza. Exige que o
juiz, as partes, cumpra determinadas formalidades que se tornam essenciais para
a validade do ato jurídico processual a ser efetuado.
Nulidades são vícios, defeitos, falhas que podem ocorrer durante o ato ou
durante o procedimento que podem levar a anulação do ato e ter como
consequência sua invalidação e a necessidade de nova realização com a
observância da fórmula ou da solenidade prevista.
As nulidades são classificadas em nulidades absolutas e nulidades relativas.
No Brasil em tema de nulidade adota-se o princípio do “pas de nullité sans
grief”, ou seja, nenhuma nulidade será decretada se não houver o efeito prejuízo
para a parte. Exige a lei pátria não só a existência da nulidade, mas também
prova de que a nulidade causou prejuízo a parte.154
De forma substancial, as nulidades são vícios, defeitos, falhas ou imperfeições
que podem tornar ineficaz o processo no todo ou em parte. Nosso Código de
Processo Penal adota o princípio do “pás de nullité sans grief”, ou seja, para
154
STJ – Processual Penal – Nulidade sem prejuízo – Inexistência (RSTJ 17/383)
263
que um ato seja declarado nulo será necessário que o interessado demonstre a
ocorrência da nulidade e que esta nulidade causou gravame à parte que o alega.
As nulidades, grosso modo, são classificadas em nulidades absolutas e
nulidades relativas. As nulidades absolutas são aquelas que ferem texto
constitucional, jamais são sanadas, podem ser alegadas a qualquer momento
e o prejuízo é presumido. Já as nulidades relativas, por seu turno, são
aquelas que violam legislação infraconstitucional, se não forem alegadas no
momento oportuno são sanadas e para que seja o ato declarado nulo torna-se
essencial a prova da existência de um prejuízo.
Não haverá a nulidade do ato, se este for praticado de forma diversa da prescrita
em lei e o objetivo for atingido. Este princípio é o da instrumentalidade. Os
atos que não tiverem sido praticados anteriormente ao ato nulo serão
conservados. Além disso, a parte que deu causa a nulidade não pode alegar a sua
ocorrência, uma vez que ninguém pode aproveitar-se de sua torpeza.
As nulidades que ocorrerem até a citação do acusado deverão ser arguidas até a
apresentação da resposta a acusação ou da defesa preliminar Aquelas nulidades
que ocorrerem na instrução criminal deverão ser alegadas na fase das alegações
finais ou nos debates orais. Caso haja uma nulidade que ocorra na sentença, esta
deverá ser alegada em matéria preliminar do recurso. Já no Tribunal do Júri a
alegação de nulidade deverá ser realizada de imediato, requerendo ao
magistrado que preside o Júri Popular, que a faça constar expressamente da ata
de julgamento e após argüida como matéria preliminar do recurso de apelação.
Neste ponto, urge lembrar que a preclusão temporal é o critério adotado pela
legislação brasileira, uma vez que se a nulidade não for argüida nestes
momentos processuais, considerar-se-á sanada.
264
sanadas, excetuando-se as nulidades absolutas que podem ser argüidas via de
“habeas corpus” ou mesmo de revisão criminal.
O Supremo Tribunal Federal editou diversas súmulas sobre nulidades que são as
de números 155, 156, 160, 162, 206, 351, 352, 361, 366, 431, 523, 564.
265
Temos como princípios das nulidades: a) princípio da instrumentalidade das
formas, ou seja, nenhuma nulidade será declarada se o ato praticado atingir a
sua finalidade, mesmo que a prática do mesmo decorrer de forma diversa do que
constar em lei; b) princípio do prejuízo que é decorrente de que nenhuma
nulidade será declarada se não houver prejuízo para a parte; c) princípio da
causalidade ou conseqüência, que trás em si, a conseqüência de que se não
houver com o ato posterior ao ato declarado relação de subordinação, a este não
será estendido os efeitos da nulidade.
Também é vedado à parte que deu causa a nulidade argúi-la, isto porque
ninguém pode aproveitar-se de sua própria torpeza (princípio do interesse).
266
produzidas contra o acusado em Plenário, evitando-se, assim a surpresa e
garantindo o princípio da paridade de armas.
Deve ser pontuado que a nova legislação aboliu a questão do libelo crime
acusatório, razão pela qual, neste caso, as nulidades da sentença de pronuncia
devem ser arguidas no recurso em sentido estrito, e nulidades posteriores à
pronuncia devem ser arguídas por intermédio de petição devidamente
protocolizada.
Ninguém pode ser condenado sem ser ouvido e o acusado nos procedimento do
Júri deve ser intimado para a sessão de julgamento, que se faz necessária, pois
como se sabe o seu interrogatório é considerado como prova da defesa.
Obviamente, se o acusado não comparece, no atual regramento o Júri pode ser
realizado sem a sua presença já que a lei não obriga a presença do réu no
julgamento, salvo no caso de réu preso que a sua presença é indispensável. Nada
impede que o juiz decrete a sua prisão preventiva. Todavia, a intimação para
que o acusado compareça em seu julgamento é indispensável, visto que além da
sua defesa técnica o réu pode também exercer a sua auto defesa. A intimação se
faz necessária, pois sem esta não se completa o “actum trium personarum”, e
viola o principio da amplitude de defesa.
Aqui existe violação de próprio mandamento processual do CPP, uma vez que
tal número encontra-se expressamente previsto no artigo 442, devendo o juiz na
falta do quorum legal adiar o Julgamento Popular. Deverá ele convocar os
jurados para o dia útil imediato ou transferir o julgamento para reunião periódica
posterior.
155
RSTJ 93/396-7
267
e) falta de sorteio de jurados do Conselho de Sentença em número legal e
sua incomunicabilidade.
Como se sabe é absoluta a nulidade do julgamento pelo júri, por falta de quesito
obrigatório.158
Saliente-se que anulado o julgamento do acusado, este ao ser julgado, deve ser
submetido a juízes leigos diversos dos juízes que participaram anteriormente.
156
RT 469/387
157
RT 729/519
158
Sumula 156 do Supremo Tribunal Federal.
159
Sumula 162 do Supremo Tribunal Federal.
160
Sumula 206 do Supremo Tribunal Federal
161
JTJ 201/320.
268
Esse tema já foi tratado no presente livro, todavia, nunca é demais lembrarmos
que a falta de defesa do acusado em processo criminal constitui nulidade
absoluta. Todavia, em se tratando de defesa deficiente só se anulará o processo,
se houver prova de que houve prejuízo evidente aos interesses do acusado.162
CAPÍTULO RECURSOS
162
Sumula 523 do Supremo tribunal Federal.
269
O recurso visa possibilitar o reexame das questões de fato e de direito por
Juízes diferentes e por um Juízo Colegiado. As fontes dos recursos são o Código
de Processo Penal, a Constituição Federal, os Regimentos Internos e as leis
extravagantes. São pressupostos do recurso: de que ele seja adequado ao caso
concreto e de que esteja ele no prazo fixado por lei.
270
Os efeitos dos recursos são: a) devolutivo (devolve a Instância Superior
todo o reexame da matéria de fato e de direito); b) suspensivo (a pena fica
suspensa até o julgamento de todos os recursos); c) o regressivo ou juízo de
retratação (cabível nos recursos de decisões interlocutórias nos casos de
recurso em sentido estrito ou de agravo em execução penal) e d) extensivo
(apenas os efeitos benéficos dos recursos são estendidos aos co-réus não
recorrentes, salvo no caso de provimento do inconformismo por questões
personalíssimas).
No Brasil é inadmissível a reformatio in pejus, qual seja, o agravamento
da situação do acusado em recurso manejado apenas pela defesa. Permite o
nosso ordenamento jurídico a reformatio in melius, qual seja, que a situação do
réu seja melhorada (redução de pena, absolvição e anulação do processo) mesmo
em recurso manejado apenas pela Justiça Pública. Também é de se destacar a
reformatio in pejus indireta, em que, se anulado o processo e se proferida
condenação, se houver necessidade de ser proferida nova sentença, essa deve ser
balizada pela condenação anterior, não se permitindo a aplicação de pena
superior àquela que foi anulada pelo recurso.
271
de regimes, livramento condicional) sem que haja necessidade de transito em
julgado da decisão.
272
CAPÍTULO– DO RECURSO DE APELAÇÃO
274
jurisprudencial a vontade deste último, embora existam
entendimentos em sentido contrário.
Deve ser acrescido que, nos termos 598 do CPP, a
vítima poderá apelar da sentença, o que chamamos de
apelação subsidiária. Neste diapasão, temos duas
situações: a primeira é a de que se esta estiver habilitada nos
autos seu prazo será de 05(cinco) dias. Caso não esteja
habilitada, o prazo será de 15 (quinze dias) e corre após o
término do prazo do Ministério Público. Em ambos os
casos, não haverá o efeito suspensivo.
Devemos observar que, nos termos do artigo 82 da lei
9.099, caberá recurso de apelação da decisão do juiz que
rejeita a queixa crime e julga o mérito nas infrações penais
de menor potencial ofensivo. Esta apelação deve ser
apresentada neste prazo, com a interposição e as razões
conjuntamente, e este recurso será julgado pelo Colégio
recursal que é composto por três juízes.
Deve ser observado que é possível ao réu absolvido
recorrer da sentença, com o intuito de mudar o
fundamento de sua absolvição, e assim sendo, evitar os
reflexos na seara cível ou até mesmo no âmbito
administrativo. Vejamos que: “o réu absolvido por
275
insuficiência de provas tem interesse recursal para pleitear
a modificação do non liquet, pois, poderá eventualmente,
livrar-se de outras conseqüências” (RT 762/596).
Nos termos do artigo 600, parágrafo quarto do Código
de Processo Penal, o réu, ao interpor o recurso de apelação,
poderá requerer que as razões de apelação possam ser
apresentadas em Segundo Grau. Neste caso, após a
remessa do processo ao Tribunal, a Secretaria intima o
defensor, via imprensa oficial, para que no prazo legal
ofereça as razões de seu inconformismo.
276
PRAZO PARA INTERPOSIÇÃO DO RECURSO DE
APELAÇÃO
277
Instância, desde que tal opção conste na petição de
interposição e que seja intimado para realizar tal mister.
278
b) Efeito Suspensivo: significa que a decisão não
pode ser executada, até que ocorra o julgamento do recurso;
c) Efeito Extensivo: significa que havendo concurso
de agentes, a decisão do recurso interposto por apenas um
dos réus beneficia os demais que não recorreram, se
fundado em motivos que não sejam de caráter pessoal,
aproveitando aos demais.
279
processual que se denomina de Contra Razões de Recurso.
Com as Razões do Recurso e as Contra Razões do Recurso,
o processo é enviado para a Instância Superior.
Reformatio in Pejus é um fenômeno processual que
ocorre quando a sentença combatida é agravada pelo
recurso, sem que o órgão acusatório tenha apelado,
requerendo a majoração da pena anteriormente fixada. Não
é admitida pelo nosso ordenamento jurídico.
Reformatio in Melius é um fenômeno processual que
ocorre quando a sentença combatida é reformada,
melhorando a situação do réu.
Se o juiz negar seguimento ao recurso de apelação,
cabe recurso em sentido estrito desta decisão e, se este ainda
negar seguimento ao recurso em sentido estrito, cabe ao
recorrente o recurso da Carta Testemunhável.
280
oportunidade para se manifestar sobre os documentos
juntados.
Uma observação se faz relevante: o simples fato do
Defensor não interpor o recurso não significa e nem traduz
inexistência ou deficiência da defesa, pois a questão de
interpor ou não o recurso, é questão de ordem técnica que
cabe ao advogado. A apelação sobe, via de regra, nos
próprios autos, em casos excepcionais previstos no artigo
601, Parágrafo Primeiro, via traslado.
Caso não haja a apresentação das razões de apelação,
o Juiz deve intimar o réu para, no prazo de 10(dez) dias
constituir novo advogado, sob pena de nomeação de
defensor dativo. Deve ser observado que, a ausência de
razões de apelação, ou mesmo que estas sejam apresentadas
de forma tardia, tais circunstâncias não impedem o
conhecimento do recurso de apelação.163
163
Revista dos Tribunais 386/292, 392/121, 404/373, 515/276, 519/331.
281
O recurso de apelação se extingue quando:
282
de Processo Penal, hoje revogado, não havendo mais esta
exigência.
283
permitindo ampliação. Todavia, uma minoria tem
entendimento que tais hipóteses são meramente
exemplificativas, podendo ser utilizado em casos
semelhantes, utilizando-se, para tanto, da interpretação
analógica.164
O recurso em sentido tem grande semelhança com o
agravo de instrumento do processo civil, e sua interposição
pode ocorrer tanto por petição, quanto por termo nos autos.
Todavia, de forma diversa do processo civil, onde o agravo
é apresentado direto em Segundo Grau, o recurso em
sentido estrito é apresentado em primeiro grau, processado,
e somente se o Magistrado manter a sua decisão é que este é
enviado a Segunda Instância.
Segundo expressa previsão legal, o recurso em
sentido estrito pode ser interposto em 05 (cinco) dias; e
depois de recebido, o prazo para apresentação das razões e
das contra razões é de 02 (dois) dias e pode subir para
apreciação do Tribunal de duas formas distintas: na primeira
forma, o recurso em sentido estrito sobe nos próprios
164
Taxatividade do recurso em sentido estrito: “RECURSO EM SENTIDO
ESTRITO. TAXATIVIDADE. "Impossibilidade de atacar decisões não elencadas no
rol do art. 581, do Código de Processo Penal, através do recurso em sentido
estrito”. (TJ-MG; RSE 1.0024.04.515239-4/001; Belo Horizonte; Quarta Câmara
Criminal; Rel. Des. William Silvestrini; Julg. 28/06/2006; DJMG”
284
autos e, na segunda, sobe por meio de traslado (instruído
com as principais cópias do processo, ficando o processo
originário em primeiro grau).
285
principal fica no juízo a quo. Em igual prazo, a parte
contrária apresenta sua resposta: as contra-razões (contra
minuta) do recurso, bem como indica as peças.
O Juízo de Retratação é permitido ao recurso em
sentido estrito ao juiz que reconsidere a sua decisão,
reformando a decisão anteriormente proferida.
Caso a parte recorrida se sinta prejudicada com a
reforma da decisão pelo juiz, mediante simples petição pode
requerer ao juiz que envie ao Tribunal os autos para
apreciação do recurso, independentemente de propositura de
novo recurso ou apresentação de novas razões ou contra
razões.
Caso o juiz negue seguimento ao recurso em sentido
estrito, cabe a parte prejudicada interpor o recurso
denominado de carta testemunhável.
286
após a apresentação das razões e das contra razões do
recurso para que este reforme ou mantenha a sua decisão,
sendo que neste segundo caso determina a remessa dos
autos ao Tribunal.
O Devolutivo é a reforma da decisão combatida; se
mantida, deve ser apreciada pela Instância Superior, pois
houve o exaurimento da instância inferior;
Na maioria dos casos, o recurso em sentido estrito,
não tem efeito suspensivo, mas ocorre nos casos de decisão
que julga quebrada a fiança e no caso de prolação de
sentença de pronúncia.
DOS PRAZOS
287
estrito, mas sim a hipótese de utilização do agravo em
execução penal, pela Lei 7.210/84.
Deve ser lembrado que todas as questões inerentes a
execução da pena (progressão de regimes, livramento
condicional, detração, remição) por serem
disciplinadas por regramento especifico que é a Lei
de Execução Penal, são impugnadas através de agravo
em execução penal.
288
DO PROTESTO POR NOVO JÚRI
289
Luiz Flávio Gomes, Doutor em Direito Penal pela
Faculdade de Direito da Universidade Complutense de
Madri, Mestre em Direito Penal pela USP, Diretor-
Presidente do IELF - Instituto de Ensino Jurídico e Autor do
curso de DP pela internet (www.iusnet.com.br))
290
endereçado ao próprio Juiz Presidente do Júri e não à
Superior Instância. Não havia necessidade de alegação de
qualquer tese defensiva, bastando apenas que a pena
imposta seja de reclusão por tempo igual ou superior a vinte
anos. Tratava-se de direito subjetivo do acusado, e somente
tinha cabimento uma única vez.
Neste ponto são necessárias algumas observações:
a) quando este recurso encontrava-se em vigor, a
pena de reclusão igual ou superior a vinte anos
deveria resultar de um só crime, ou ser resultado
de concurso formal ou crime continuado, que por
ficção legal, faz com que o crime seja considerado
único.
b) Este recurso tinha preponderância sobre todos os
demais recursos, vez que se interpostos dois
recursos (exemplo apelação e protesto por novo
júri), o que prevaleceria era este recurso ora em
estudo.
c) Deve ser assinalado que o revogado recurso
abrange apenas as decisões proferidas pelo Júri,
isto quer dizer que se a pena do réu fosse
291
exasperada em grau de apelação tal recurso não
será cabível.
d) Seu prazo era de cinco dias, e deveria quando em
vigor ser apresentado através de petição
endereçada ao Presidente do Tribunal do Júri.
e) Se fosse indeferido o protesto por novo júri, o
recurso cabível seria a apelação, tendo alguns
entendimentos que era cabível o mandado de
segurança, pois consideram que o direito a novo
júri quando a pena for superior a vinte anos é um
direito liquido e certo do condenado.
f) A fuga do acusado, que impedia o conhecimento
do recurso de apelação que também deixou de
existir, não causava a deserção do recurso.
g) Por fim, se fosse admitido o protesto por novo Júri
e realizado o segundo júri popular, a
jurisprudência dominante tem entendimento que
esta pena não pode ser superior a primeira sob
pena de se configurar a reformatio in pejus
indireta.167
167
“Não se pode admitir que no segundo julgamento, em decorrência de protesto por
novo júri – favor dispensado à liberdade – tenha resultado mais gravoso para o
acusado, a quem o recurso, privativo da defesa, visa beneficiar” (RT 575/365).
292
Este capítulo foi mantido para que o
prezado leitor conhecesse a integra deste recurso que foi
abolido em nosso ordenamento jurídico.
293
informações – e no caso de omissão quando algum dos
pontos afirmados pelas partes não foi alvo de apreciação
judicial.
Cumpre ressaltar que os embargos de declaração não
modificam qualquer decisão judicial, uma vez que quando
da prolatação da sentença, o juiz encerra a sua atividade
jurisdicional, mas apenas aclaram ou corrigem pontos
incorretos no decisium judicial.
Uma vez interpostos, os embargos de declaração
suspendem ou interrompem o prazo para interposição de
outro recurso? A questão não é pacifica em nosso
ordenamento jurídico, existindo autores que entendem que o
prazo é suspenso, outros no entanto que o prazo é
interrompido. A interposição dos embargos faz com que se
interrompam os prazos para interposição de recursos (ou
seja, eles param de correr e depois de decididos os embargos
voltam do zero, assim inicia-se novamente a contagem do
prazo). No Juizado Especial Criminal, no entanto, o efeito é
suspensivo (o prazo volta a correr de onde parou,
computando-se os dias já decorridos). Já se fez a analogia
com o Código de Processo Civil, o qual suspendia o prazo
para interposição de outro recurso, mas passou a entender
294
que a interposição de embargos de declaração (recurso se
interpõe) interrompe o prazo para interposição de outro
recurso. No entanto, com o advento da Lei n. 9.099/1995,
que disciplinou os embargos de declaração e, em matéria
criminal, afirma que a interposição do recurso em questão
suspende o prazo para interposição de outro recurso 168.
Neste diapasão, colhe-se da doutrina o seguinte
entendimento: “Assim, a analogia passou a determinar que,
no Processo Penal,os Embargos de Declaração não mais
causavam a suspensão e sim a interrupção do prazo para a
interposição de outros recursos. Por outro lado, com a
edição da Lei nº 9.099/95, passou-se a determinar que nos
processos que tramitam perante os Juizados Especiais
Criminais e Cíveis, os Embargos de Declaração, quando
opostos contra a sentença, suspendem o prazo para o recurso
(artigos 50 e 83 da 9.099/95), e contra Acórdãos,
interrompem, pela regra geral do CPCivil (STF - AI 451078
AgR/RJ). Assim, agora, a analogia deve ser aplicada tendo
em vista tal dispositivo de Processo Penal, que afasta a
168
Confira-se este posicionamento do STJ: “"Os embargos de declaração
manifestamente intempestivos não interrompem o prazo para interposição de outro
recurso". (AgRg no REsp 1230099/AM, Rel. Min. LAURITA VAZ, QUINTA
TURMA, DJe 30.10.2012). 3. Embargos de declaração não conhecidos. (EDcl nos
EDcl no AgRg no Agravo em Recurso Especial nº 756.477/SP (2015/0190877-0), 6ª
Turma do STJ, Rel. Maria Thereza de Assis Moura. j. 02.02.2016, DJe 19.02.2016).
295
incidência da norma processual civil, voltando os
Embargos a serem causa de suspensão do prazo para a
interposição dos demais recursos, quando opostos contra
sentença”169.
169
EMBARGOS DECLARATÓRIOS PODEM INTERROMPER OU SUSPENDER
OS PRAZOS, MESMO SE CONSIDERADOS SEM FUNDAMENTOPEDRO
PAULO GUERRA DE MEDEIROS- Advogado Professor Doutorando em Ciências
Jurídicas pela UMSA -Especialista em Processo Penal, Processo Civil MBA em
Direito Empresarial Artigo doutrinário publicado na Juris Plenum nº 86, janeiro de
2006.
296
deixa de apreciar algum fato ou fundamento da denúncia ou
das alegações finais.
O professor Júlio Fabbrini Mirabete entende não ser
possível a alteração da decisão através dos embargos de
declaração (caráter de infringência dos embargos), uma vez
que estes somente podem corrigir os erros materiais e as
contradições (Processo Penal, Editora Atlas, São Paulo,
2004, p, 488).
Deverá ser apresentado ao Relator do Acórdão,
podendo ser indeferido in limine quando não preenchidos
os requisitos legais. Da decisão que não recebe os embargos
de declaração, cabe o recurso em sentido estrito170. Além
disso, é pacífico na jurisprudência que os embargos de
declaração não se prestam à rediscussão da matéria171
Um dos efeitos dos embargos de
declaração é que ele pode ser indeferido in limine pelo juiz
ou pelo Relator do Acórdão. Uma vez aceito, este suspende
o prazo para eventual recurso, como bem assinala o
professor Júlio Fabrini Mirabete, “tratando-se de suspensão
170
RJDTACRIM 22/55
171
“Os embargos declaratórios são cabíveis para sanar ambigüidade, obscuridade,
contradição ou omissão (art. 619 do CPP). In casu, inexiste omissão ou contradição
quando no voto foi devidamente examinada a quaestio juris suscitada, sendo
impossível, pela presente via, o reexame de matéria já decidida. Recurso não
provido.” (TJ-ES; EDcl-ACr 024.03.013545-3; Segunda Câmara Criminal; Rel. Des.
José Luiz Barreto Vivas; Julg. 22/11/2006; DJES 15/12/2006)
297
e não de interrupção de prazo, são descontados do lapso de
tempo previsto para o recurso os dias transcorridos até a
interposição do recurso, a soma dos embargos de
declaração”172 Temos ainda que o prazo para oposição de
embargos de declaração deduzidos em matéria penal é de
dois dias, consoante disposto no art. 619 do CPP e no art.
263 do RISTJ. Incabível a aplicação, nesta Corte, dos prazos
estabelecidos no Regimento Interno do Tribunal a quo.
Embargos declaratórios intempestivos não têm o condão de
suspender o prazo dos outros recursos, consoante
precedentes desta Corte. Agravo regimental que não se
conhece. (Superior Tribunal de Justiça STJ; AgRg-EDcl-
AgRg-EDcl-Ag 634825; MG; Sexta Turma; Rel. Min. Paulo
Geraldo de Oliveira Medina; Julg. 28/03/2006; DJU
12/06/2006; Pág. 548)
172
Código de Processo Penal Interpretado, p. 721
298
acusado. Ou seja, para sua interposição necessário se faz
uma decisão de segundo grau, não unânime, desfavorável ao
acusado. Os embargos infringentes e de nulidade serão
restrito á matéria objeto da divergência.173
173
RT 554/431, JTACRESP 64/52, 70,83, RJTJERGS 173/68
174
A jurisprudência tem afastado a possibilidade de interposição dos embargos
infringentes nos casos de desacordo em desaforamento, habeas corpus, mandado de
segurança, agravo em execução penal.
175
RT 681/369
299
Quando o desacordo ocorrer em julgamento de habeas
corpus, por disposição legal, caberá recurso ordinário
constitucional e não embargos infringentes e de
nulidade.
A jurisprudência pátria não admite a interposição
deste recurso, em caso de divergência em julgamento de
habeas corpus176, em caso de embargos infringentes no
julgamento dos embargos infringentes177 e ainda no caso de
divergência no julgamento de agravo em sede de execução
penal.178
O recurso deve ser dirigido ao Relator do Acórdão.
Frise-se, por final, que não há necessidade do acusado
recolher-se à prisão para interposição dos embargos
infringentes e de nulidade.
DA REVISÃO CRIMINAL
176
STF – RT 584/469, 570/397, 581/312
177
RT 641/383
178
RT 670/272, RJTJESP 114/574, RT 670/292.
300
é uma verdadeira ação, assemelhada a ação rescisória no
âmbito do direito processual civil. Seu fundamento legal é
baseado na imutabilidade das sentenças transitadas em
julgado, que no direito criminal, podem ser revistas em
qualquer tempo. Seu cabimento cinge-se apenas nas
hipóteses expressamente previstas no artigo 621 do Código
de Processo Penal.
179
MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. 2. ed.
Campinas: Millennium, v. 4, 2000, 4 v.
301
ZAMORA, quando analisam a revisão criminal, afirmam, 'su efecto es
manifestamente constitutivo', mesmo porque seu objeto é desfazer
uma sentença com trânsito em julgado."
180
(Processo Penal, Ed. Saraiva, 12ª ed., 4º vol., págs. 450/451).
302
Júlio Fabbrini Mirabete comunga com esse mesmo entendimento,
asseverando que "A opinião mais aceita, realmente, é a de que a
revisão deve ser considerada como ação penal já que ela instaura
uma relação jurídico-processual contra a sentença transitada em
julgado. É, pois, uma ação de conhecimento de caráter constitutivo,
destinada a corrigir decisão judicial de que já não caiba recurso.".181
181
(Processo Penal, 3ª ed., Ed. Atlas, págs. 646/647.
182
MOSSIN, Heráclito Antônio. Curso de Processo Penal, Vol. 3, Ed. Atlas, São Paulo,
1998.
303
O posicionamento do professor Julio Fabbrini Mirabete nos dá a exata
noção de que a revisão criminal é uma ação autônoma e que não pode ser
considerada como uma nova apelação, e assim sendo, não se poderia se
afirmar que este instituto pode ser reconhecido como recurso. Vejamos: "A
revisão não é uma segunda apelação, não se prestando à mera
reapreciação da prova já examinada pelo juízo de primeiro grau e,
eventualmente, de segundo, exigindo, pois que o requerente apresente
elementos probatórios que desfaçam o fundamento da condenação. Há, na
verdade, uma inversão do ônus da prova, e os elementos probatórios
devem ter poder conclusivo e demonstrar cabalmente a inocência do
condenado ou a circunstância que o favoreça, não bastando aquelas que
apenas debilitam a prova dos autos ou causam dúvida no espírito dos
julgadores." 183
183
(In Código de processo penal interpretado. 5. ed. Atlas, 1997, p. 802)
184
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS PENAIS E PROCESSUAIS PENAIS, p. 252
304
Quanto aos seus efeitos podemos destacar que a
decisão pode: absolver o requerente, alterar a classificação
da infração ou mesmo modificar a pena, sendo inadmissível
a reformatio in pejus.
305
maioria das decisões dariam a impressão de que os erros judiciários
são coisa habitual.
306
As hipóteses de cabimento da revisão criminal são:
307
pública e com ela não só o direito do condenado como o de
todos, dês que à sociedade interessa sejam as suas leis
observadas e cumpridas com fidelidade
188
RT 692/254
308
7.2-. Quando a sentença condenatória for contrária à
evidência dos autos
309
produzidas, tais que umas prevaleçam sobre outras, em
detrimento da faculdade judiciária de sua livre apreciação
e da esfera própria – em via ordinária – de seu adequado
controle, incluído o da suposta nulidade dessa prevalência.
310
presenciado, não se encontrava no local em que esses
ocorreram, e assim sucessivamente.
A segunda previsão diz respeito à revisão quando a decisão
estiver baseada em exames comprovadamente falsos. Nesse
caso a palavra exame tem sentido de perícia, envolvendo,
assim, toda prova destinada ao levar o juiz elementos
instrutórios sobre normas técnicas e sobre fatos que
dependem de conhecimento especial.
Portanto, a falsidade documental ocorrerá, tanto quando o
documento original for divorciado da verdade, quer quando
posteriormente ocorra modificação, total ou parcial, em seu
conteúdo.
Nesse sentido, entende Fernando da Costa Tourinho Filho191:
[...] não basta a existência de depoimento mendaz, de
exame ou documento falso. É preciso, isto sim, que o Juiz,
ao proferir a decisão condenatória, tenha-se arrimado no
depoimento, no exame ou documento comprovadamente
falsos. Cabe ao requerente juntar o pedido a prova de
falsidade, a fim de que o juízo revisório simplesmente se
limite a constatar a falsidade. Se já foi reconhecida tanto
melhor.
191
Processo Penal. 1986, p. 348
311
Exemplificando caberia a revisão criminal em um processo
criminal quando após o trânsito em julgado da sentença,
surge um documento que inocenta o acusado ou uma
testemunha presencial que não foi ouvida ou uma
circunstância desconhecida que faça com que o sentenciado
não seja o autor do crime.
192
Op. cit, p. 351.
193
Op Cit.
312
poder conclusivo e demonstrar cabalmente a inocência do
condenado.
313
diminuição da pena previstas na Parte Geral do Código
Penal e as circunstâncias legais especiais ou específicas
compostas pelas causas de diminuição da pena elencadas na
Parte Especial.
Esse é o entendimento do Professor José Frederico
Marques194:Essa prova pode ter por objeto circunstâncias
que transforme o crime qualificado em crime simples, ou
este em delictum privilegiatum Na primeira hipótese cumpre
ao condenado demonstrar, com novas provas, que
determinada circunstância, agravadora do crime, realmente
não se verificou, enquanto que, na segunda hipótese, a
prova versará sobre a existência de circunstâncias não
apurada no processo condenatório. O pedido pode ter por
escopo, também, a desclassificação do crime, de modo a
impor-se ao réu pena mais leve.
O pedido de revisão criminal deverá ser apensado nos
autos do processo originário.
194
Op. cit., p. 351-2
314
O artigo 630 permite ao autor do pedido revisional a
possibilidade de se cumular a ação de revisão criminal com
pedido de reconhecimento à indenização. Por este
dispositivo, se julgada procedente o pleito revisional, o
Tribunal reconhece o direito à indenização que será
liquidada na esfera cível. Caso não haja o pedido de
reconhecimento de indenização, o prejudicado deverá
voltar-se a perseguir este dano através de ação ordinária. De
posse do acórdão, o interessado ingressa na seara cível com
pedido de liquidação, onde requererá ao Juiz que fixe os
danos através de simples cálculo aritmético, artigos de
liquidação ou mesmo por arbitramento. Apenas após esta
providência é que poderá o interessado se valer da ação
executória.
315
Como já foi afirmado anteriormente a revisão criminal é uma ação
rescisória, de caráter desconstitutivo, que permite, em casos a
discussão de matéria já amparada pelo manto da indiscutibilidade e da
imutabilidade.. Neste sentido temos a seguinte lição: “"A ação de
revisão criminal tem precisamente esse destino: o de permitir que a
decisão condenatória possa ser novamente questionada, seja a partir de
novas provas, seja a partir de atualização da interpretação do direito
pelos tribunais, seja, por fim, pela possibilidade de não ter sido
prestada, no julgamento anterior, a melhor jurisdição"195
195
Eugênio Pacelli de Oliveira, Curso de Processo Penal, 5ª edição, ed. Del Rey, fls.
709
196
in "Código de Processo Penal Comentado", Editora Revista dos Tribunais, 2002,
p. 889.
316
"o objetivo da revisão não é permitir uma 'terceira instância' de julgamento,
garantindo ao acusado mais uma oportunidade de ser absolvido ou ter
reduzida sua pena, mas, sim, assegurar-lhe a correção de um erro judiciário.
Ora, este não ocorre quando um juiz dá a uma prova uma interpretação
aceitável e ponderada. Pode não ser a melhor tese ou não estar de acordo
com a turma julgadora da revisão, mas daí a aceitar a ação rescisória
somente para que prevaleça peculiar interpretação é desvirtuar a natureza
do instituto"
197
Curso de Direito Processual Penal, p. 377
317
É lição de Bento de Faria: "as novas provas devem ser positivas, isto é,
devem demonstrar a evidência do que por elas se pretende provar. Não têm
pois, esse efeito as que apenas suscitarem dúvidas". Não discrepa desse
entendimento Espínola Filho198 que leciona: "não é preciso que as novas
provas por si sós evidenciem a inocência do condenado ou a circunstância
que determine ou autorize a diminuição especial da pena. Basta que,
reunidas a algumas das provas anteriormente produzidas, demonstrem
plenamente a inocência ou a circunstância em referência"
Sérgio de Oliveira Médici, em sua obra intitulada “revisão criminal ", São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000, 166/167 conceitua o que vem a
ser prova nova:
Paulo, 1980.
318
Neste sentido é a orientação de Ada Pellegrini Grinover, Antônio M. Gomes
Filho e Antônio Scarance Fernandes, in "Recursos no Processo Penal", ed.
RT, 3ª edição, p. 320:
319
ação penal cautelar preparatória, deve ser processada perante o juízo da
condenação..."
320
"Para a revisão, quando se trata de apresentação de "provas novas",
é necessário que seja ela produzida judicialmente, no juízo de 1º
grau, obedecendo-se ao princípio do contraditório, com a exigência,
portanto, da participação do Ministério Público. Sendo, inadmissível
a produção de provas durante a ação revisional, para ser ela obtida
necessária se torna a justificação criminal. Tal justificação,
verdadeira ação penal cautelar preparatória, deve ser processada
perante o juízo da condenação. Não se presta a fundamentar o pedido
revisional, depoimento extra judicial, ainda que por escritura pública.
De outra parte, documento não produzido na instrução do processo
onde foi o interessado condenado é prova nova que torna cabível o
conhecimento da revisão”.203
203
Código de Processo Penal Interpretado, Atlas, p. 1623.
321
E ainda com mais razão: "Insuficiência probatória. Não coexiste a revisão
com a dúvida. Inviável a procedência do pedido com base em mera
insuficiência de prova, porque a revisão exige juízo de certeza, com a
comprovação inquestionável do erro judiciário. Pedido revisional julgado
improcedente" (JTAERGS 105/41-2).
204
Op.cit.
322
obedecendo-se ao princípio do contraditório, com a exigência, portanto, da
participação do Ministério Público. Sendo, inadmissível a produção de
provas durante a ação revisional, para ser ela obtida necessária se torna a
justificação criminal. Tal justificação criminal,é verdadeira ação penal
cautelar preparatória, deve ser processada perante o juízo da condenação.
Não se presta a fundamentar o pedido revisional, depoimento extra judicial,
ainda que por escritura pública. De outra parte, documento não produzido
na instrução do processo onde foi o interessado condenado é prova nova
que torna cabível o conhecimento da revisão".
205
(TJ-RS; RVCr 70035187095; Viamão; Segundo Grupo Criminal; Rel. Des.
Gaspar Marques Batista; Julg. 13/08/2010; DJERS 02/09/2010)
206
(TJ-SP; RVCr 990.09.056071-1; Ac. 4441931; São Paulo; Quinto Grupo de
Direito Criminal; Rel. Des. Paulo Rossi; Julg. 24/02/2010; DJESP 13/07/2010)
207
Guilherme se Souza Nucci, Código de Processo Penal Comentado, 9ª edição,
2009, pág. 1016
323
Com efeito a justificação tem como escopo propiciar a obediência ao
principio constitucional do contraditório208, razão pela qual vários
pedidos revisionais foram indeferidos liminarmente quando
apresentados documentos ou declarações que foram produzidos sem a
participação do Ministério Público.
"As provas novas, para justificar a revisão, devem ser feitas em juízo,
obedecido o princípio do contraditório. Sem isso nada valem" (TJSC - RT
615/323).
"As novas provas devem ser positivas, isto é, devem demonstrar a evidência
do que por elas se pretende provar; não têm, pois, esse efeito as
declarações produzidas sem contraditório ou que venham apenas suscitar
208
"Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral
são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes."
324
dúvidas. A declaração particular, obtida sem observância das regras
estabelecidas às justificações judiciais previstas nos arts. 861 a 866 do
Código de Processo Civil (CPP, art. 31), é documento imprestável à instrução
de pedido revisional, não podendo ser considerada como elemento idôneo a
autorizar proclamação de inocência pela via invocada" (TJSC - JCAT 76/692-
3).
325
embora não obrigatoriamente, como resultado inevitável. O
contraditório, ademais, deve igualmente ser observado no
desenvolvimento do processo, para que ambos os protagonistas, em
franca colaboração com o juiz, possam efetivamente participar e
influir no provimento final”209.
209
Garantias Constitucionais do Processo em Relação aos Terceiros, Artigo
publicado na Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil nº 25 - Jul/Ago de
2008
210
21 SOUZA, José Barcelos. Poderes de investigação da defesa, palestra proferida
na IV Jornada Brasileira de Direito Processual Penal, Guarujá, São Paulo, 6/9 de
novembro de 2004.
326
evidentemente, caso tais provas refiram-se a depoimentos de
testemunhas, via de regra, poderão ser efetivamente produzidas via
justificação
211
Op.cit.
212
MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. v. II,
Campinas: Bookseller, 2002, p. 294.
213
GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES Jr., Antônio Magalhães; SCARANCE
FERNANDES, Antonio. Recursos no Processo Penal. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1996, p. 321.
327
E, novamente nos socorrendo de José Barcelos de Souza: "Em
verdade, ainda que no silêncio da lei, não se poderá excluir a
produção da prova diretamente nos autos da revisão, desde que
explicitados os fatos justificandos no pedido revisional, com a
indicação do rol de testemunhas. Então, ou o próprio relator
procederá à inquirição das testemunhas, reduzindo-se a termo os
depoimentos, ou expedirá carta de ordem para sua inquirição no
primeiro grau jurisdicional"214. Todavia, devemos nos lembrar que o
entendimento pacífico de nossos Tribunais já citados neste trabalho é
o de que a revisão criminal lastreada em alegação de novas provas
deve ser instruída com o pedido de justificação. O autor José Barcelos
de Souza firma o seu posicionamento na existência no direito
processual brasileiro do princípio da verdade real, onde o juiz não se
sentindo convencido, pode de oficio e sem requerimento das partes,
determinar a produção de provas para firmar seu convencimento, daí a
razão do mesmo sustentar a possibilidade de ele determinar a oitiva
das testemunhas ou de expedir a carta de ordem para a colheita da
prova.
Este pedido deve ser formulado pelo interessado perante o juízo que
proferiu a condenação, mediante petição, apresentando os motivos e
provas que pretende produzir, devendo ser intimado o representante
do Ministério Público para participar da colheita da prova, uma vez
que para a revisão criminal não se permite a apresentação de prova
214
Op. cit.
328
sem o crivo do contraditório. Atente-se para o fato de que
“Declarações prestadas extrajudicialmente, sem o devido
contraditório, e sem a participação do Ministério Público não têm
valor probante a ensejar a procedência do pedido de revisão. (TJ-PE;
RVCr 0177311-9; Garanhuns; Seção Criminal; Rel. Des. Marco
Antônio Cabral Maggi; Julg. 09/09/2010; DJEPE 23/09/2010)”.
215
"Instituições de Processo Penal", Ed. Del Rey, 1997, pág. 417
329
Caso haja o indeferimento do pedido pelo Magistrado o interessado
poderá recorrer desta decisão mediante o recurso de apelação. Alguns
Tribunais Brasileiros, tem entendido que também é cabível o habeas
corpus uma vez que o indeferimento imotivado de justificação pode
ocasionar cerceamento de defesa. 216
216
RTJERGS 203/227.
217
JTAERGS 105/58-9
330
do artigo 621, incisos, I, II e III, do código de processo penal. No
caso em comento, tendo a vítima do crime se retratado em
justificação criminal, afirmando não ser o requerente o autor do
crime, e considerando que a única prova de autoria e de
materialidade era o reconhecimento feito pela vítima, a absolvição
do requerente é medida que se impõe. (TJ-ES; RVCr
100090024231; Câmaras Criminais Reunidas; Rel. Des. Adalto Dias
Tristão; DJES 16/09/2010; Pág. 132)”
218
Para efeito de revisão criminal, o laudo pericial produzido em autos de
justificação judicial criminal constitui nova prova. (TRF 01ª R.; RVCr
2008.01.00.014795-5; AM; Segunda Seção; Rel. Des. Fed. Carlos Olavo; Julg.
14/07/2010; DJF1 02/08/2010; Pág. 7)
331
criminal. No direito brasileiro, ao contrario do direito português, o
pedido de revisão não admite a fase instrutória ou de produção de
prova, razão pela qual esta prova nova deve ser obtida mediante a ação
cautelar de justificação. Em suma para o cabimento da revisão
criminal a prova nova de inocência do condenado deve ser produzida
judicialmente mediante o pedido de justificação, sob pena de não
conhecimento do pedido de revisão.219
219
Justificação judicial não realizada - Afronta ao princípio do contraditório -
Preliminar acolhida - Não conhecimento da ação revisional. A ação de revisão
criminal não deve ser conhecida quando ajuizada com fundamento na existência de
novas provas (art. 621, inciso III, do código de processo penal), que não foram
submetidas à justificação judicial, sob pena de violação ao princípio do
contraditório. (TJ-MT; RC 32152/2009; Rondonópolis; Turma de Câmaras
Criminais Reunidas; Rel. Des. Luiz Ferreira da Silva; Julg. 03/12/2009; DJMT
19/02/2010; Pág. 44)
220
Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação
analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.
332
processamento e julgamento da justificação, pois é nesse Juízo que os
reflexos da medida irão se fazer presentes (...)"221.
221
FERRAZ, Mário Devienne. Medida cautelar de justificação no juízo criminal. In:
Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. São Paulo,
v. 26, n. 136, p. 31-33, maio/jun., 1992, p. 32.
222
WAMBIER Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil, v. 3: processo
cautelar e procedimentos especiais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 25.
223
GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Coleção Sinopses Jurídicas, vol.
12 – Processo de execução e cautelar. 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 1999, p.
107.
333
inquirição de testemunhas sobre os fatos alegados, sendo facultado ao
requerente juntar documentos. Ao interessado é lícito contraditar as
testemunhas, reinquiri-las e manifestar-se sobre os documentos, dos
quais terá vista em cartório por 24 (vinte e quatro) horas. No processo
de justificação não se admite defesa nem recurso. A justificação será
afinal julgada por sentença e os autos serão entregues ao requerente
independentemente de traslado, decorridas 48 (quarenta e oito) horas
da decisão. Saliente-se que no pedido de justificação, o juiz não se
pronunciará sobre o mérito da prova, limitando-se a verificar se foram
observadas as formalidades legais.
334
RVCR 2009.056332-7; Balneário Piçarras; Relª Desª Marli
Mosimann Vargas; Julg. 17/08/2010; DJSC 27/09/2010; Pág. 351)”
DO HABEAS CORPUS
335
autores, uma ação de cunho popular em que qualquer
cidadão pode impetrar para outros autores um recurso.
O habeas corpus de ofício trata-se de uma imposição
inserta no texto constitucional, que obriga o magistrado ou
qualquer juiz a relaxar toda e qualquer prisão ilegal. O
termo de ofício significa que, se ocorrer a prisão ilegal, o
magistrado pode relaxar a prisão, mesmo que não haja
provocação por parte do ofendido.
336
O referido recurso também denega a ordem. Neste
caso, a Autoridade Superior entende que não existe a coação
ou constrangimento ilegal, permanecendo a situação que
deu origem ao ajuizamento do writ.
Quando este julgamento ocorrer quando da apreciação
do habeas corpus, tal fato é significativo de que a situação
que deu origem ao pedido do remédio heróico cessou ou
deixou de existir.
O habeas corpus pode ser impetrado por qualquer
pessoa, por se tratar de instituto protetivo da liberdade e de
garantia constitucional, sendo, inclusive, válido o habeas
corpus impetrado por menor e por pessoa jurídica em favor
de seus diretores.
337
a) Impetrante: trata-se da pessoa que postula a ordem,
normalmente trata-se do subscrito e no mais das vezes
é o advogado.
338
a) Habeas Corpus Preventivo (Salvo-Conduto):
trata-se de uma modalidade usada quando houver a ameaça
‘a liberdade de ir e vir do paciente’. Sendo procedente o
pedido, expede-se em favor do paciente o salvo conduto,
isto é, uma ordem judicial em favor do mesmo impedindo
de ser preso ou de sofrer qualquer tipo de coação, decorrente
do fato originário da impetração. É utilizado quando o
constrangimento ‘a liberdade não se consumou, mas está em
vias de ocorrer.
339
considerado como uma ação, pode o impetrante requerer a
liminar, que nada mais é do que uma antecipação do
provimento final da ação, ou seja, antecipa-se o pedido
formulado pelo impetrante.
O habeas corpus pode ser interposto por qualquer
pessoa, inclusive pelo próprio paciente, tendo ou não
capacidade postulatória, uma vez que se trata de garantia
constitucional. Assim, nem mesmo o instrumento de
procuração é necessário, mesmo se tratando de uma ação.
Se a ordem de habeas corpus for negada em primeiro
grau, o impetrante pode renovar o pedido em instância
superior. Pode, ainda, neste caso, recorrer em sentido estrito.
Da denegação no Tribunal de Alçada ou de Justiça, poderá
ser interposto o recurso ordinário para o Superior Tribunal
de Justiça. Vale frisar que, em todos os casos, permite-se a
reiteração do pedido para a Instância Superior.
340
Já se decidiu cabível a concessão da ordem de habeas
corpus quando o juiz recebe denúncia ou queixa-crime em
que o fato descrito não é crime (atipicidade); nos casos em
que não existe prova de autoria ou materialidade em que a
ação penal é trancada por falta de justa causa; quando
alguém se encontra preso fora das situações de prisão em
flagrante ou sem ordem escrita da autoridade competente;
no caso de decretação de prisão preventiva sem a suficiente
fundamentação; nos casos de processos manifestamente
nulos, por falta de exame de corpo de delito, falta de citação
do acusado ou defeitos neste ou no caso de cerceamento de
defesa; nos casos em que manifesta extinção da
punibilidade; ou por falta de formalidade essencial ‘a
validade do ato’.
O pedido de informações decorre de que a autoridade
superior deve sempre dar oportunidade à Autoridade
Coatora de apresentar a sua versão dos fatos apresentados,
dando as razões pelas quais foram adotadas as medidas
combatidas na ordem de habeas corpus. A autoridade
superior deve solicitar informações à autoridade coatora, e
esta deve prestá-las no prazo de 24 (vinte e quatro) horas.
341
A apresentação do pedido de habeas corpus deve ser
feito em 03 (três) vias: a primeira via formará o caderno
processual, a segunda via será enviada a Autoridade Coatora
para que esta preste as informações e a terceira via para o
protocolo, comprobatório de que o pedido deu entrada no
Poder Judiciário.
342
observe-se: “HABEAS CORPUS. DIREITO
PROCESSUAL PENAL. SUBSTITUTIVO DE
RECURSO CONSTITUCIONAL. INADEQUAÇÃO
DA VIA ELEITA. PERMISSÃO OU ENTREGA
TEMERÁRIA DA DIREÇÃO DE VEÍCULO
AUTOMOTOR. ARTIGO 310 DO CÓDIGO DE
TRÂNSITO BRASILEIRO - LEI 9.503/1997.
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. FALTA DE
JUSTA CAUSA. ATIPICIDADE DA CONDUTA
NÃO VERIFICADA. 1. Contra acórdão exarado em
recurso ordinário em habeas corpus remanesce a
possibilidade de manejo do recurso extraordinário
previsto no art. 102, III, da Constituição Federal. Diante
da dicção constitucional, inadequada a utilização de
novo habeas corpus, em caráter substitutivo. 2. O
trancamento da ação penal na via do habeas corpus
só se mostra cabível em casos excepcionalíssimos,
quando manifesta a atipicidade da conduta, a
presença de causa extintiva de punibilidade ou a
ausência de suporte probatório mínimo de autoria e
materialidade delitivas. 3. Conformidade da descrição
da conduta atribuída à paciente ao crime previsto no art.
343
310 da Lei 9.503/1997. 4. Habeas corpus extinto sem
resolução do mérito. (Habeas Corpus nº 120.495/MG, 1ª
Turma do STF, Rel. Rosa Weber. j. 29.04.2014,
maioria, DJe 15.05.2014).
b) cidadão preso por mais tempo que a lei determina: neste
caso o habeas corpus pode ser concedido quando o
agente já cumpriu a sua pena, ou no caso, de o agente
estar preso por mais de 81 (oitenta e um) dias e ainda a
instrução de oitiva das testemunhas de acusação ainda
não se findou. Aqui se prestigia o principio
constitucional da duração razoável do processo.
Confira-se: “HABEAS CORPUS - EXCESSO DE
PRAZO PARA JUNTADA DE LAUDO
TOXICOLÓGICO DEFINITIVO - ENCERRAMENTO
DA INSTRUÇÃO CRIMINAL HÁ MAIS DE 06
MESES. FEITO QUE SE ENCONTRA PARALISADO
AGUARDANDO A JUNTADA DO LAUDO PARA
ABERTURA DE VISTA ÀS PARTES PARA
APRESENTAÇÃO DE MEMORIAIS -
CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO.
ORDEM CONCEDIDA. (Habeas Corpus nº
0000.12.000578-0, Câmara Única da Turma Cível do
344
TJRR, Rel. Mauro Campello. unânime, DJe
05.09.2012).
HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. SÚMULA
691/STF. AFASTAMENTO. HOMICÍDIO
QUALIFICADO. PRISÃO PREVENTIVA. EXCESSO
DE PRAZO PRISIONAL CONFIGURADO.
CONCESSÃO DA ORDEM. 1. Em casos teratológicos
e excepcionais, viável a superação do óbice da Súmula
691 desta Suprema Corte. Precedentes. 2. Embora a
razoável duração do processo não possa ser
considerada de maneira isolada e descontextualizada
das peculiaridades do caso concreto, diante do
decurso de mais de 4 (quatro) anos e 10 (dez) meses
sem que o paciente, preso preventivamente, tenha
sido julgado em primeiro grau e sem que tenha dado
causa à demora, não se sustenta a manutenção da
constrição cautelar. 3. Ordem de habeas corpus
concedida. (Habeas Corpus nº 126070/ES, 1ª Turma do
STF, Rel. Rosa Weber. j. 12.05.2015, unânime, DJe
25.06.2015).
c) quando quem ordenou a coação não tem
qualidade para fazê-lo: neste caso a Autoridade responsável
345
pela ordem não tem legitimidade para ordená-la, podendo,
conforme, o caso responder por crime de abuso de
autoridade. Por exemplo, no caso de toda e qualquer prisão
efetivada contra alguém, pela Autoridade Policial, fora das
hipóteses de prisão em flagrante ou sem ordem por escrito
da Autoridade Judicial.
d) Quando houver cessado o motivo que ordenou
a coação: neste caso, o motivo que determinou a existência
da coação não existe mais, quando por exemplo, alguém que
é preso de forma preventiva por garantia da ordem pública,
e que decorrido o processo não ficou demonstrado tal
ocorrência que deu origem à prisão do acusado.
e) Quando alguém não puder prestar fiança:
existem certos casos em que, para obter sua liberdade, o
indivíduo deve dar ao Estado em troca de sua liberdade,
uma garantia, que é a fiança. Temos como exemplo o caso
de um indivíduo que é preso por crime afiançável e a
Autoridade de forma injustificada, nega-se a arbitrar fiança
para que este responda o processo em liberdade ou mesmo
fixar a fiança em valores que o acusado não possua
condições de efetuar o pagamento.224
224
PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS.
ARTIGO 180 DO CP. ARBITRAMENTO DE FIANÇA. HIPOSSUFICIÊNCIA.
346
f) Quando o processo for manifestamente nulo:
como se sabe o processo penal brasileiro é extremamente
formal, e exige para a sua validade que sejam cumpridos
todos os requisitos previstos pelo nosso Código de Processo
Penal. Neste caso, a coação configura ofensa ao devido
processo legal, como por exemplo: a falta de citação do réu,
a falta de defensor ao réu, a falta de intimação para o
Defensor apresentar a defesa prévia ou as alegações finais.
g) Quando extinta a punibilidade: neste caso,
qualquer causa extintiva da punibilidade encerra o processo
e impede o prosseguimento do processo criminal. São
CONDICIONAMENTO DA LIBERDADE AO PAGAMENTO DA FIANÇA
ARBITRADA. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO ORDINÁRIO PROVIDO. Na
hipótese, configura constrangimento ilegal o condicionamento da liberdade
provisória ao pagamento de fiança arbitrada no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil
reais), não obstante seja o paciente hipossuficiente, inclusive sendo assistido
pela Defensoria Pública. Recurso ordinário provido para garantir a liberdade
ao recorrente, independentemente do pagamento de fiança, salvo se por outro
motivo estiver preso, e sem prejuízo da decretação de outras medidas
cautelares diversas da prisão previstas no art. 319 do Código de Processo Penal.
(Recurso em Habeas Corpus nº 63.700/DF (2015/0230709-7), 5ª Turma do STJ, Rel.
Félix Fischer. j. 23.02.2016, DJe 30.03.2016).
PROCESSUAL PENAL E PENAL. HABEAS CORPUS. LIBERDADE
PROVISÓRIA CUMULADA COM MEDIDA CAUTELAR DIVERSA DA
PRISÃO. FIANÇA. INCAPACIDADE DE PAGAMENTO. DISPENSA. 1. O
tempo decorrido de prisão, mais de um mês, concretamente demonstra a
incapacidade financeira para o pagamento da fiança no valor de R$ 500,00
(quinhentos reais), não podendo a pobreza constituir-se obstáculo à liberdade. 2.
Habeas corpus concedido, para dispensar o pagamento da fiança arbitrada, mantendo
as demais medidas cautelares diversas da prisão fixadas pelo juízo de primeiro grau.
(Habeas Corpus nº 343.743/SP (2015/0305618-0), 6ª Turma do STJ, Rel. Nefi
Cordeiro. j. 01.03.2016, DJe 09.03.2016).
347
aquelas cláusulas catalogadas no artigo 107 do Código
Penal, e são de forma exemplificativa: a decadência, a
perempção, a prescrição, o perdão, a renúncia, a anistia, a
graça, o indulto etc.
DO MANDADO DE SEGURANÇA
348
Na jurisprudência encontramos os seguintes
exemplos:
349
indeferimento, configura-se a figura da autoridade coatora,
dando margem ao ajuizamento do mandado de segurança.
350
Haverá abuso de poder quando o agente atua além dos
limites permitidos pela lei. Assim o mandado de segurança
terá cabimento quando o ato é eivado de ilegalidade ou
abuso de poder, emanado de autoridade pública ou agente
de pessoa jurídica no exercício de função pública que lese
direito do cidadão ou que seja contrário a lei. O prazo para
impetração do mandado de segurança é de 120 (cento e
vinte dias) a partir da ciência oficial do ato, cabendo pedido
de liminar. Após a Autoridade Coatora deverá prestar as
informações ao Juízo no prazo de 10(dez) dias. Da sentença
proferida nos autos de mandado de segurança caberá
apelação em primeiro grau, e no caso de decisão denegatória
em segundo grau, caberá recurso ordinário constitucional.
351
proferidas em grau de recurso junto aos Tribunais Estaduais.
Todos estes recursos estão previstos na Constituição
Federal.
Sobre o Recurso Ordinário, o Superior Tribunal de
Justiça (art. 105, II, a) diz:
352
última instância decididas pelos Tribunais Superiores,
quando a decisão for denegatória.”
Cabe Recurso Extraordinário – (art. 102, III, a, b,c)
quando se violar texto da Constituição Federal; declarar a
inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; julgar
válida a lei ou ato de governo em desacordo com o
mandamento constitucional.
Do Recurso Especial (Superior Tribunal de Justiça) –
CF/88 – art. 105, III, a, b, c
Contrariar texto de lei federal ou negar-lhe vigência
Julgar válida lei ou ato de governo em desacordo
com lei federal;
Dar interpretação divergente sobre lei federal que
outro Tribunal julgou.
Importante:
Violação de lei federal – Superior Tribunal de Justiça
Violação de Constituição Federal – Supremo
Tribunal Federal.
353
Especial Lei Federal STJ
Extraordinário Constituição STF
Ordinário HC/MS- TJ/TA STJ
Ordinário HC/MS- julgado pelo STF
STJ
354
instrumento, no prazo de 05 (cinco) dias. No seu
julgamento, caso haja divergência entre os membros do
Tribunal cabível é o recurso de embargos de divergência no
prazo de 15(quinze) dias.
355
denegatório, cabível é o recurso ordinário constitucional
para o Supremo Tribunal Federal;
356
Constituição Federal deverá ter sido objeto de impugnação
em recurso anterior. Trata-se também de recurso comum,
que pode ser apresentado por ambas as partes.
Esse recurso tem cabimento quando a decisão
recorrida contraria dispositivo de ordem constitucional;
quando a decisão recorrida declara a inconstitucionalidade
de tratado ou lei federal – decisão em ação declaratória de
inconstitucionalidade ou quando julgar válida lei ou ato de
governo em desacordo com os preceitos constitucionais.
Deve ser apresentado no prazo de 15(quinze) dias,
devendo ser endereçado ao Presidente do Tribunal
recorrido. A petição deverá conter a exposição de fato e de
direito, a demonstração do cabimento do recurso e seu
respectivo fundamento legal e as razões e pedido de
reforma. Quando houver divergência jurisprudencial deverá
ser feita prova da divergência mediante certidão ou cópia do
jornal oficial ou repertório atualizado de jurisprudência.
357
Presidente do Tribunal, os recursos cabíveis são a carta
testemunhável, ou o agravo de instrumento no prazo de 05
(cinco) dias. Quando o Tribunal nega seguimento ao
Agravo, cabe no Agravo dirigido ao Supremo Tribunal
Federal no prazo de 05(cinco) dias para recebimento do
agravo anterior.
DA CARTA TESTEMUNHÁVEL
358
outro caso mais freqüente é o caso do cabimento da carta
testemunhável após o indeferimento do protesto por novo
júri.
DA CORREIÇÃO PARCIAL
359
na fase processual, sem adentrar ao mérito da causa. Já o
Error in Judicando é quando o erro cometido pelo juiz é
relativo a decisão de mérito sobre o procedimento. A
correição parcial tem a finalidade de impugnar ato judicial
quando não haja recurso específico que cause tumulto
processual.
Neste caso, esse recurso é julgado pelas Câmaras dos
Tribunais de Justiça ou de Alçada e deve ser interposto no
prazo de cinco dias. Ele obedece ao rito do agravo de
instrumento ou do recurso em sentido estrito.
O recurso de Correição Parcial não possui efeito
suspensivo, devendo utilizar para obtenção deste efeito o
mandado de segurança. A correição é interposta perante o
juiz de direito com efeito de retratação.
São exemplos de error in procedendo: indeferimento
de pedido de incidente de insanidade mental, indeferimento
de pedido de ovas diligências, juiz que ouve testemunhas
arroladas fora do prazo legal ou arroladas de forma
tempestiva e não ouvidas.
São exemplos de error in judicando: demora do juiz
em proferir sentença, quando o juiz manda riscar expressões
360
injuriosas e quando o juiz relega a apreciação de pedido de
prisão preventiva futuramente.
O prazo para interposição deste recurso, que não está
previsto no Código de Processo Penal, mas sim nas leis
orgânicas de cada Tribunal, no Estado de São Paulo é de 05
(cinco) dias contados da data da ciência ou da publicação da
decisão que implicou em abuso ou tumulto processual.
361
A reabilitação apenas garante ao condenado o sigilo de suas
condenações, qual seja, o efeito primário não produzindo
qualquer efeito no âmbito do retorno ao cargo, emprego ou
função pública ou mesmo ao retorno do poder familiar,
tutela ou curatela. O condenado deve provar que foi
cumprido o lapso temporal de dois anos, demonstrar ao Juiz
da Condenação que teve domicílio no País durante este
tempo e dar efetiva demonstração de bom comportamento
público e privado. Deve ressarcir a vítima pelos danos
causados, salvo a hipótese de impossibilidade econômica
financeira.
Deve se dizer que, concedida a reabilitação, o Juiz
deve recorrer de ofício de sua decisão. Negado pelo Juiz, o
sucumbente pode valer-se do recurso de apelação ou mesmo
reiterar o pedido com novos documentos, novos fatos ou
novas provas.
A reabilitação será revogada se o beneficiário vier
novamente a ser condenado por outro crime, por decisão já
passada em julgado, desde que a pena não seja a de multa.
Se houver várias condenações deverá ser requerida a
reabilitação em cada processo de maneira individual e
separada. Por fim uma observação que se faz necessária: o
362
pedido de reabilitação é formulado perante o Juiz que
proferiu a condenação, desarquivando-se o processo de
conhecimento, e não ao Juiz da Execução.
CAPITULO EXECUÇÃO
363
Neste sentido temos decisões favoráveis no sentido de que
mesmo o processo estando pendente de julgamento é
possível ao acusado requerer benefícios junto a Execução
Penal, o que é considerado juridicamente como sendo a
execução provisória da pena.
A jurisprudência deste Supremo Tribunal não exige o
trânsito em julgado da condenação para que seja
possível a progressão de regime. Precedentes. (Supremo
Tribunal Federal STF; HC 92.634-7; PE; Primeira Turma;
Relª Min. Carmen Lúcia; Julg. 27/11/2007; DJE
15/02/2008; Pág. 74)
A execução provisória do julgado é plenamente possível,
constituindo mero efeito da condenação, razão pela qual, à
luz do Enunciado nº 716 da Súmula do Supremo Tribunal
Federal, “admite-se a progressão de regime de cumprimento
da pena ou a aplicação imediata de regime menos severo
nela determinada, antes do trânsito em julgado da sentença
condenatória”. (Superior Tribunal de Justiça STJ; HC
87.504; Proc. 2007/0171851-7; SP; Quinta Turma; Relª
Min. Laurita Hilário Vaz; Julg. 20/05/2008; DJE
09/06/2008)
A Vara das Execuções Criminais é um órgão especializado
da Justiça Comum que tem como finalidade fiscalizar os
direitos e deveres dos presos, bem como o cumprimento da
pena. Perante esse órgão é que são requeridos todos os
benefícios devidos aos detentos. Compõe-se de um Juiz de
Direito e um órgão do Ministério Público.
364
Como é sabido de todos, no Brasil temos três regimes de
cumprimento de pena, a saber: regime fechado, regime
semiaberto e regime aberto.
365
Condenado a pena superior a oito
Regime fechado
anos de reclusã o ou reincidente
ou condenado a pena por pratica
de crime hediondo que impõ e o
regime fechado como sendo o
inicio do cumprimento da pena
366
No caso de crime hediondo existe a previsão legal de que
aquele que pratica crime hediondo deverá cumprir a pena
pelo delito hediondo inicialmente em regime fechado.
Observações:
O regime fechado caracteriza-se pelo cumprimento da pena
corporal em estabelecimento prisional denominado
penitenciária, onde o agente fica recluso durante todo o
tempo. Já no regime semiaberto, um pouco menos rígido, o
condenado cumpre a sua reprimenda em estabelecimento
agrícola ou industrial, onde trabalha durante o dia, sendo
somente recolhido à noite. Já no regime aberto, o agente
cumpre a pena em estabelecimento aberto, trabalhando
durante o dia, e recolhendo-se à noite na casa do albergado.
Lembre-se, ademais, que em nosso País adota-se o sistema
progressivo, pelo qual o sentenciado passa de um regime
mais severo para um regime menos severo, depois de
cumprido pelo menos mais de um sexto da reprimenda
imposta e desde que possua bom comportamento carcerário.
A título de observação adota-se o sistema vicariante onde o
Juiz deve aplicar pena ao imputável e medida de segurança
ao inimputável sendo vedado a aplicação de ambas de forma
concomitante. No caso de prática de crime hediondo para
obter a progressão deverá cumprir 2/5 (dois quintos) da
reprimenda se primário ou 3/5(três quintos) se reincidente.
Lembre-se que no Brasil, quando da aplicação da pena,
adota-se o sistema vicariante ou unitário, segundo o qual
o juiz deve aplicar ou a pena ou a medida de segurança.
367
Com a reforma da parte geral do Código Penal, foi abolido o
regime do duplo binário ou dualista, pelo qual o juiz,
além de aplicar a pena, deveria também aplicar a medida de
segurança.
Para os crimes culposos (pouco importa o quantum de pena
aplicada) ou dolosos cuja a pena não ultrapasse os quatro
anos de reclusão há possibilidade de substituição da pena
privativa de liberdade pela pena restritiva de direitos 225,
conforme se observa do gráfico abaixo:
225
As penas restritivas de direito são a prestação de serviços à comunidade,
limitação de final de semana, proibição do exercício de cargo ou função,
proibição do exercício de profissão e suspensão do direito de dirigir veículos.
Existe também a limitação de final de semana, proibição de frequentar
determinados lugares, prestação pecuniária em favor da vítima, prestação
pecuniária inominada, perda de bens e valores.
368
busca a reintegração do preso ao meio social, através da sua
gradativa recolocação na sociedade. Diante disso,
encontramos tanto na legislação penal, quanto na legislação
processual, quanto na Lei 7.210/84, vários benefícios dentre
os quais devemos citar:
a) Progressão de Regimes: baseia-se no mérito do
condenado. Este passa de um regime de cumprimento de
pena em regime mais grave para um menos grave - desde
que tenha cumprido mais de um sexto da pena imposta e
que possua bom comportamento carcerário. (LEP – ART.
112). Com o advento da Lei 11.464 de 28 de março de
2.007, possibilita-se ao condenado pela prática de crime
considerado como hediondo (Lei 8.072/90) a possibilidade
de obter a progressão de regimes, desde que cumpridos mais
de 2/5 (dois quintos) da pena se primário, e mais de 3/5(três
quintos) se o crime for hediondo. O CONDENADO que
pratica crime contra a Administração Pública, deverá para
obter este benefício ressarcir os danos causados226.
226
RECURSO DE AGRAVO EM EXECUÇÃO. DECISÃO DE CONCESSÃO DE
PROGRESSÃO PARA REGIME ABERTO NA MODALIDADE PRISÃO
ALBERGUE DOMICILIAR SOB O SISTEMA DE MONITORAMENTO
ELETRÔNICO. INCONFORMISMO DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
INADMISSIBILIDADE. Como cediço, a Lei de execuções penais surgiu junto com
a Lei de reforma da parte geral do Código Penal, tendo por objetivo efetivar as
disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a
harmônica integração social do condenado e do internado. O legislador conferiu um
tratamento específico a cada um dos regimes de pena, dispondo no art. 95 que "em
cada região haverá, pelo menos, uma casa do albergado, a qual deverá conter, além
dos aposentos para acomodar os presos, local adequado para cursos e palestras". Por
certo, diante da ineficácia do estado em ampliar a capacidade dos estabelecimentos
compatíveis com a execução do regime aberto já existentes, não podem os apenados
suportar os prejuízos, vindo a cumprir sua pena em local inadequado, como pretende
o parquet, sob pena de ofensa aos princípios da legalidade, individualização e
humanidade da pena, corolários da dignidade humana insculpida no art. 1º, III, da
369
b) Livramento Condicional: trata-se de uma liberdade
antecipada do condenado, desde que tenha bom
comportamento carcerário e demonstre que tem aptidão para
o trabalho e que não mais irá delinquir. É cabível quando a
pena imposta exceder (for superior) a dois anos, nas
seguintes circunstâncias: a) réu primário: deve ter tenha
cumprido mais de 1/3 da pena; b) réu reincidente em crime
doloso: deve ter cumprido mais da metade da pena; c)réu
em crime hediondo: que tenha cumprido mais de 2/3 da
pena e que não seja reincidente específico (LEP, 131). O
termo reincidente específico está previsto na Lei de Crimes
Hediondos e consiste na reincidência de qualquer dos
crimes previstos em referido mandamento legal. Portanto,
reincidente específico é aquele acusado que pratica qualquer
crime previsto na Lei de Crimes Hediondos e a finalidade de
tal instituto é a de impedir o livramento condicional. Caso o
indivíduo pratique em concurso de crimes um crime
hediondo e outro crime que não seja hediondo, deverá
cumprir 2/3 do crime hediondo e 1/3 (um terço) se primário
ou metade, se reincidente, do crime remanescente.
Neste sentido temos que o reincidente específico é aquele
indivíduo pratica dois ou mais crimes, em que o crime
anterior e o posterior são da mesma natureza, isto é, ambos
370
previstos na Lei de Crimes Hediondos, pouco importando
qual seja o bem jurídico atingido pela conduta delituosa.
Trata-se de reincidência específica aquele que pratica
qualquer crime previsto na Lei de Crimes Hediondos, qual
seja, depois de condenado por crime hediondo, vem a
praticar qualquer outro crime hediondo.227
c) Detração: é o desconto, na pena imposta, do tempo de
prisão que o sentenciado ficou preso temporária ou
preventivamente. É admissível a detração da pena por prisão
decorrente de outro processo em que o réu foi absolvido,
desde que o delito pelo qual o réu cumpre pena tenha sido
praticado anteriormente ao seu encarceramento228. Outro
entendimento conduziria à esdrúxula hipótese “(...) de
‘conta corrente’ em favor do réu, que, absolvido no primeiro
processo, ficaria com um ‘crédito’ contra o Estado, a ser
usado para a impunidade de posteriores infrações penais.”
229
371
de para três dias trabalhados descontar um dia de pena (LEP
126). Tem-se entendido que, para obter este benefício deve
o sentenciado efetivamente ter exercido alguma atividade
laboral.230 Anote-se, por fim, que a prática de falta grave faz
com que o detento perca todos os dias remidos. Também
cabe a remição quando o condenado frequenta cursos
profissionalizantes, estuda durante o cumprimento da pena.
e) Suspensão Condicional da Pena – Sursis – Benefício
previsto no Código Penal. A pena é suspensa mediante o
cumprimento de determinadas condições, quando não for
superior a dois anos (LEP 156).
f) Unificação de Penas – o tempo de cumprimento da pena
corporal no Brasil não pode ultrapassar trinta anos. Por esse
instituto, as penas são juntadas em um mesmo processo.
Além disso, quando o agente pratica dois ou mais crimes
com as mesmas circunstâncias de lugar, tempo e modo de
execução, os crimes subsequentes podem ser considerados
juridicamente como continuidade do primeiro. É o que
230
AGRAVO EM EXECUÇÃO. REMIÇÃO DA PENA. BENEFÍCIO
PRETENDIDO POR REEDUCANDO. AUSÊNCIA DE ATIVIDADE
LABORAL. FALTA DE OPORTUNIDADE DE TRABALHO PELO ESTADO.
INADMISSIBILIDADE. Inexiste razão para o acolhimento da pretensão do
representante ministerial da instância singela, vez que o benefício da remição
somente pode ser alcançado ante a comprovação, pelo reeducando do exercício
de qualquer atividade laboral. Ausente prova nesse sentido e de rigor a
manutenção da decisão guerreada, máxime porque indemonstrado que ele tenha
se interessado pelo exercício daquela atividade ou tenha acionado a autoridade
competente no sentido de garanti-la. Recurso conhecido e improvido. (TJ-GO;
AG 623-1/284; Proc. 200502150534; Bom Jesus de Goiás; Segunda Câmara
Criminal; Rel. Des. Aluízio Ataídes de Sousa; Julg. 20/04/2006; DJGO
05/05/2006).
372
prevê o artigo 71 do Código Penal, ao contemplar a figura
do crime continuado.
g) Anistia – não é exercida pelo poder jurisdicional, mas
concedida pelo Congresso Nacional através de Lei, pela
qual o Poder Público deixa de punir certas condutas
delituosas. É de caráter geral.
h) Graça – também não é exercida pelo Poder Judiciário.
Trata-se de um perdão de caráter individual concedido a
determinada pessoa pelo Presidente da República.
i) Indulto – é um ato de caráter geral do Poder Público, um
perdão coletivo ou uma redução de pena, concedido
independentemente de provocação, em certas ocasiões, por
exemplo, às vésperas do Natal.
O INSTITUTO DA REABILITAÇÃO: Temos também um
instituto que possibilita ao sentenciado após o cumprimento
de sua reprimenda que seja assegurado o sigilo sobre as suas
condenações, com o intuito de preservar a sua dignidade
como pessoa humana e sua efetiva reintegração na
sociedade. Trata-se de um instituto processual que visa a
reintegrar o sentenciado à coletividade, depois de cumprida
ou extinta a sua pena, restabelecendo seus direitos. O
instituto visa a garantir o sigilo das condenações.
Para aqueles que não podem receber pena, em virtude de sua
inimputabilidade temos as medidas de segurança. Pode ser
cumpridas de forma reclusiva, que é a internação em
hospital psiquiátrico, ou na forma ambulatorial, dependendo
das conclusões de laudo pericial.
373
A lei de Execução Penal prevê o instituto das recompensas.
Estas são previstas na Legislação de Execução da Pena,
tendo em vista o bom comportamento do detento ou recluso,
a sua colaboração com o trabalho e a disciplina. São
recompensas dadas aos presos o elogio, as regalias e as
saídas temporárias.
Também prevê a Lei de Execução Penal a prisão albergue
domiciliar. É o cumprimento de pena na residência do
condenado, quando se tratar de condenado maior de setenta
anos, condenado acometido de doença grave, condenada
com filho menor ou deficiente físico ou mental, ou
condenada gestante. Prevista no artigo 117 da LEP.
As permissões de saída tem cabimento para os condenados
em regime fechado ou semiaberto e para os presos
provisórios. Estes podem obter autorização para sair do
estabelecimento prisional, com escolta policial, em casos de
falecimento ou doença grave do cônjuge, ascendente,
descendente ou irmão, ou em caso de tratamento médico.
(LEP art. 120).
As saídas temporárias, são cabíveis para os condenados em
regime semiaberto, (LEP 122), para visita à família,
frequência a curso supletivo ou profissionalizante etc.
Prazo de sete dias. Requisitos:
a) comportamento adequado;
b) cumprimento de mais de 1/6 da pena (se
primário) ou ¼ (se reincidente).
374
Baseado na autodisciplina do condenado, além de
benefícios, a lei de execução também prevê a regressão
de regimes. (LEP ART. 118). Consiste na transferência do
preso para regime mais grave, quando pratica crime doloso
ou falta grave, ou quando sofre condenação por crime
anterior, de modo que a soma das penas torne incompatível
o regime.
A execução da pena privativa de liberdade tem início com a
prisão do sentenciado, ordenando o juiz a expedição da guia
de recolhimento. Formam-se os autos de execução penal,
com a elaboração do cálculo de liquidação da pena.
Já em relação a pena de multa esta deve ser realizada pela
Fazenda Pública através de execução fiscal, uma vez que a
multa criminal é considera dívida de valor. Segue o
procedimento de lançamento da dívida ativa e, após, o
ajuizamento de ação executiva fiscal, com a penhora de
bens do executado.
E quando durante o cumprimento da pena o condenado
adquire uma doença mental? Como proceder? Neste caso,
condenado será internado em Hospital de Custódia e
Tratamento Psiquiátrico. Se o condenado não se recuperar, a
pena considera-se extinta pelo seu cumprimento, devendo
ele ser posto em liberdade. Restabelecendo-se o condenado,
volta ao efetivo cumprimento da pena, devendo o tempo em
que ficou internado ser descontado do tempo de
cumprimento da pena.
Todos estes benefícios que foram mencionados devem ser
requeridos na Vara das Execuções Criminais. A lei de
375
Execução Penal prevê que, das decisões proferidas em
execução penal, cabe o recurso de agravo, sem efeito
suspensivo, nos prazos e na forma do recurso em sentido
estrito (prazo de cinco dias interposição no juízo das
execuções, razões em dois dias endereçadas ao Tribunal,
presença do efeito regressivo).
376
participação, a qualquer título, em organizações criminosas,
quadrilha ou bando.
Da decisão que defere o pedido de inclusão do preso no
regime disciplinar diferenciado ou nega tal pretensão,
caberá o agravo em execução penal.
Também será disciplinado o uso de aparelho celular em
Presídio, o Projeto de Lei 7225/06, do Senado, que
considera como falta grave o fato de o preso ter em sua
posse, usar ou fornecer aparelho telefônico, de
radiocomunicação e todos e quaisquer meio de comunicação
eletrônico ou similar. Em seu substitutivo, apresentado em
Plenário pela Comissão de Constituição e Justiça e de
Cidadania, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP)
ampliou o texto para tornar mais explícita a proibição de o
preso usar esses aparelhos. A nova regra vale para as
penitenciárias administradas pela União, pelos estados ou
pelo Distrito Federal.
O projeto acrescenta, ao Código Penal (Decreto-lei
2848/41), artigo para tipificar o crime de omissão do diretor
de penitenciária (e de outros agentes públicos) em seu dever
de vedar ao preso o acesso a esses tipos de aparelho. A pena
será de detenção de três meses a um ano.
O Plenário da Câmara aprovou por unanimidade o Projeto
de Lei 7227/06, do Senado, que torna regra geral o uso da
videoconferência nos interrogatórios e nas audiências
judiciais das quais participe o juiz, o acusado preso e seu
advogado. Atualmente, a prática para ouvir o acusado é
377
transportá-lo até o fórum, devido à falta de segurança para o
comparecimento do juiz ao presídio.
Outro projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional é
que trata da prescrição intercorrente. Esse projeto mantém a
possibilidade de aplicação da prescrição retroativa, prevista
no Código Penal, com a contagem somente a partir do
recebimento da denúncia ou da queixa de um crime. A
matéria agora será votada pelo Senado.
Atualmente, esse tipo de prescrição pode ser contada a partir
da data do crime, o que acaba por isentar do cumprimento
de penas os criminosos com sentença transitada em julgado
que demoraram em ser proferidas pela Justiça.
378
recorrer ao Judiciário através do mandado de segurança ou
mesmo através do habeas corpus. Na aplicação da pena
disciplinar deverá sempre ser observado o princípio da
proporcionalidade.
379
COMETE FALTA GRAVE NO REGIME ABERTO.
TRANSFERÊNCIA DIRETA PARA O FECHADO.
IMPOSSIBILIDADE. JURISPRUDÊNCIA CITADA. O
sentenciado que pratica falta grave durante o cumprimento
de pena no regime prisional aberto deve ser regredido ao
semiaberto, e não ao fechado, pois se é vedada a
progressão por salto, imperativo também se impeça a
regressão pelo mesmo motivo. (TACRIM-SP; AG-Ex
1445055/1; Nona Câmara; Rel. Juiz Pedro de Alcântara;
Julg. 17/11/2004)
232
Vide a respeito TACRIM AE 583.843/5 – 9ª. Câmara, Relator Juiz Marrey
Neto.
380
A questão é polemica, todavia, partindo-se do
pressuposto que não há imprescritibilidade salvo nos
delitos expressamente previstos na ordem constitucional,
a jurisprudência firmou o entendimento no sentido de
que não havendo imposição de pena, e não há visto que o
juiz absolve o acusado e aplica a medida de segurança, o
cálculo deverá ser feito com base no máximo da pena
abstratamente cominada ao delito.
Para exemplificar. Suponha-se que uma acusada seja
processada por um crime de infanticídio (CP, art. 123).
Suponha-se que a mesma seja considerada inimputável.
Neste caso, o juiz profere uma sentença absolutória
imprópria e aplica a medida de segurança. Neste caso
para calculo da prescrição o operador do direito devera
considerar o máximo da pena do crime (no caso o
infanticídio pena de reclusão máxima de 06 anos).
Posteriormente deverá utilizar o artigo 109 do Código
Penal e descobrirá que a prescrição se dará em 12(doze)
anos, conforme o artigo 109, III do Código Penal.
381
E ainda: “Como as medidas de segurança não se
confundem com penas, o trato prescricional não pode ter
como parâmetro o quantum fixado pela decisium para
sua duração, mas sim o máximo da pena
ABSTRATAMENTE cominada ao ilícito pela lei nos
termos do artigo 97, parágrafo único, e 109 do CP” (RT
680/355).
A este respeito, vide JULIO FABRINI MIRABETE,
Execução Penal, Atlas, 1993, p. 417.
382
Com maior ênfase temos: “O Estado só poderá exigir o
cumprimento de medida de segurança de internação
(detentiva), se estiver aparelhado para tanto. A falta de
vaga pela desorganização, omissão, ou imprevidência do
Estado-Administração não justifica o desrespeito ao
direito individual, pois além de ilegal, não legitima a
finalidade de tal instituto” (RT 608/325);
“Estabelecimento adequado para cumprimento de
medida de segurança. Falta de vaga: ausência de
vagas para internação em Hospital psiquiátrico
ou estabelecimento adequado não justifica o
cumprimento de medida de segurança em
Cadeia, por isso, concede-se liberdade
provisória, mas condicionada a
TRATAMENTO AMBULATORIAL” (TJSP –
RT 608/325);
383
CÓDIGO PENAL. DOENÇA
MENTALSUPERVENIENTE. MEDIDA DE
SEGURANÇA SUBSTITUTIVA. DURAÇÃO. Havendo
medida de segurança substitutiva da pena privativa de
liberdade, a sua duração não pode ultrapassar o tempo
determinado para cumprimento da pena (Precedentes).
Ordem concedida. (Superior Tribunal de Justiça STJ; HC
54.057; Proc. 2006/0026902-8; SP; Quinta Turma; Rel.
Min. Felix Fischer; Julg. 12/09/2006; DJU 16/10/2006; Pág.
394)
Neste sentido observe-se o entendimento do Superior
Tribunal de Justiça: “A medida de segurança prevista na Lei
de Execuções Penais, hipótese dos autos, é aplicada quando,
no curso na execução da pena privativa de liberdade,
sobrevier doença mental ou perturbação da saúde mental,
sendo adstrita ao tempo de cumprimento da pena
privativa de liberdade fixada na sentença condenatória,
sob pena de ofensa à coisa julgada. VI. Verificado o
cumprimento integral da medida de segurança
substitutiva, deve ser determinada sua extinção. VIII.
Ordem concedida, nos termos do voto do Relator. (Superior
Tribunal de Justiça STJ; HC 55044; SP; Quinta Turma; Rel.
Min. Gilson Langaro Dipp; Julg. 23/05/2006; DJU
19/06/2006; Pág. 169)”
384
CONVERSÃO DE PENA PRIVATIVA DE
LIBERDADE EM MEDIDA DESEGURANÇA.
INTERNAÇÃO. MANUTENÇÃO. TEMPO DE
CUMPRIMENTO DA PENAEXTRAPOLADO.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. 2. ORDEM
CONCEDIDA.
1. Em se tratando de medida de segurança aplicada
em substituição à pena corporal, prevista no art. 183
da Lei de Execução Penal, sua duração está adstrita
ao tempo que resta para o cumprimento da pena
privativa de liberdade estabelecida na sentença
condenatória, sob pena de ofensa à coisa julgada.
Precedentes desta Corte.
2. Ordem concedida.
Acórdão
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são
partes as acima indicadas, acordam os Ministros da
Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça: "A
Turma, por unanimidade, concedeu a ordem de
habeas corpus, nos termos do voto da Sra. Ministra
Relatora." Os Srs. Ministros Og Fernandes, Sebastião
Reis Júnior e Alderita Ramos de Oliveira
(Desembargadora convocada do TJ/PE) votaram com
a Sra. Ministra Relatora. Presidiu o julgamento o Sr.
Ministro Og Fernandes.
Outras Informações
Não é possível que a medida de segurança, aplicada
em razão da superveniência de doença mental no
385
decorrer da execução penal, tenha duração superior
pena privativa de liberdade estabelecida na sentença,
pois caberá ao Ministério Público, se entender
necessário, em razão da não cessação da
periculosidade do agente, desde que estritamente
necessário à proteção dele ou da sociedade, buscar a
sua interdição perante o juízo cível.
(Superior Tribunal de Justiça STJ; HC 130162 / SP;
2009/0037291-1; Ministra Maria Thereza de Assis
Moura; Sexta Turma; DJe 15/08/2012).
386
prazo não é aproveitado para fins de detração ou efetivo
cumprimento de pena.
387
2.11 - Progressão de Regimes e os Crimes Hediondos
a) a questão do habeas corpus que julgou
inconstitucional a lei de crimes hediondos no tocante
a obrigatoriedade de cumprimento da reprimenda
em regime fechado de forma integral sem
possibilidade de progressão. Habeas corpus
número 82959 de 23 de fevereiro de 2006.
b) a lei nova que permitiu a progressão de regimes
fixando o percentual de 2/5 para os primários e 3/5
para os reincidentes (Lei 11.464 de 28 de março de
2007);
388
hediondos em regime integralmente fechado, restou
possibilitada a execução da sentença penal condenatória
desses feitos pelos outros regimes prisionais previstos no
ordenamento jurídico para a pena de reclusão, disciplinados
no art. 33 do Código Penal (fechado, semiaberto e aberto),
bem como a progressão para o sistema mais brando,
obedecidos os requisitos estabelecidos pelo art. 112 da LEP.
2. Esse entendimento, todavia, no que tange aos delitos
relacionados ao tráfico ilícito de entorpecentes, só tem
aplicação àqueles cometidos anteriormente à vigência da
Lei nº 11.464, de 28/3/07, haja vista que esse diploma
legal preconizou que nos crimes dessa espécie a pena
deverá ser inicialmente cumprida no regime fechado. 3.
Considerando que, no caso concreto, a traficância ocorreu
após a citada alteração legislativa, torna-se obrigatório o
regime inicial fechado. 4. Ordem denegada. (Superior
Tribunal de Justiça STJ; HC 106.460; Proc. 2008/0105932-
3; GO; Quinta Turma; Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima;
Julg. 05/02/2009; DJE 09/03/2009).
REGIME PRISIONAL. CRIME EQUIPARADO
À HEDIONDO. FIXAÇÃO NO ABERTO.
POSSIBILIDADE. DELITO COMETIDO
ANTES DA VIGÊNCIA DAS Leis 11.343/06 E
11.464/07. IMPOSIÇÃO DO MODO
INICIALMENTE FECHADO NA PARTE
DISPOSITIVA DO ACÓRDÃO.
FUNDAMENTAÇÃO QUE ESTABELECE O
CUMPRIMENTO NO ABERTO.
389
CONTRADIÇÃO SANÁVEL ATRAVÉS DA
VIA ELEITA. COAÇÃO ILEGAL
EVIDENCIADA. 1. Diante da declaração da
inconstitucionalidade do § 1º do art. 2º, com a
redação dada pela Lei n. 8.072/90,
perfeitamente possível, aos condenados por
crimes hediondos ou equiparados, a fixação de
quaisquer dos regimes prisionais legalmente
previstos, devendo a nova redação conferida ao
citado dispositivo legal pela Lei n. 11.464/07
atingir somente os casos posteriores à sua
entrada em vigor. 2. Tendo a sanção-básica sido
estabelecida no mínimo legalmente previsto para
o tipo, ante a ausência de qualquer circunstância
judicial desfavorável, e observada a quantidade de
pena definitivamente irrogada, assim como o
equívoco no aresto impugnado, que em seu corpo
estabeleceu o modo aberto e na parte dispositiva
impôs o fechado, de ser fixado o regime aberto
para o resgate da sanção corporal. 3. Ordem
concedida para, afastado o óbice constante no § 4º
do art. 33 e no art. 44 da Lei n. 11.343/06,
determinar que o Tribunal impetrado examine a
possibilidade de substituição da pena privativa de
liberdade imposta à paciente por restritivas de
direitos, e para fixar o regime aberto para o
cumprimento da sanção irrogada à condenada.
390
(Superior Tribunal de Justiça STJ; HC 96.672;
Proc. 2007/0297515-8; DF; Quinta Turma; Rel.
Min. Jorge Mussi; Julg. 20/05/2008; DJE
16/06/2008).
391
execução penal. 3. A decisão judicial sobre a
inclusão do preso em regime disciplinar será
precedida de manifestação do Ministério Público
e da defesa, o que não foi propiciado no presente
caso. 4. Desproporcional a imposição do regime
disciplinar diferenciado no seu prazo máximo de
duração, de um ano, sem uma individualização da
sanção adequadamente motivada (Inteligência do
artigo 57 da Lei de Execução Penal). 5. Ordem
concedida para determinar a transferência do
paciente do regime disciplinar diferenciado,
retornando para o Conjunto Penal de Feira de
Santana, onde se encontrava. Efeitos estendidos
aos demais presos na mesma situação.
(Superior Tribunal de Justiça STJ; HC 89.935;
Proc. 2007/0208711-7; BA; Sexta Turma; Relª
Min. Maria Thereza de Assis Moura; Julg.
06/05/2008; DJE 26/05/2008)
392
Fabianne Breton Baisch. j. 30.11.2005,
unânime).
“não existe no CP ou na LEP a figura da
suspensão do livramento condicional por quebra
de obrigação constante da sentença
concessiva,sendo ela admissível somente na
hipótese do artigo 145 da LEP – prática de outra
infração durante o seu curso”(TJPR, RT
704/378).
“PROCESSO PENAL. PENA. EXECUÇÃO.
LIVRAMENTO CONDICIONAL.
COMPARECIMENTO TRIMESTRAL EM
JUÍZO. DESCUMPRIMENTO. SUSPENSÃO
CAUTELAR. MANDADO DE PRISÃO.
EXPEDIÇÃO. CONTRADITÓRIO.
SUPRESSÃO. DEFESA. CERCEAMENTO. O
procedimento relativo à execução penal é judicial
(art. 194 da LEP) e, portanto, regido pelo
princípio da legalidade, demanda, em favor das
partes e acusados em geral, o exercício do
contraditório, para assegurar ampla defesa.A
jurisprudência desta Corte Superior é iterativa
no admitir a suspensão cautelar do livramento
condicional quando o liberado pratica nova
infração. A suspensão cautelar do livramento,
com expedição de mandado de prisão, sem a
oitiva do liberado ou de seu defensor, porque
lhe subtrai direito subjetivo, constitui
393
constrangimento ilegal.Ordem concedida, para
determinar o recolhimento do mandado de prisão
e, bem assim, que a Defesa Técnica seja ouvida,
em prazo a ser fixado pelo Juízo da Execução,
sobre o descumprimento das condições do
livramento condicional.” (HC 28.503/RJ, Rel.
Ministro PAULO MEDINA, SEXTA TURMA,
julgado em 02.03.2004, DJ 29.03.2004 p. 281).
Grifo nosso.
394
crimes da “mesma natureza” (os previstos no
mesmo dispositivo ou que, embora previstos em
dispositivos diversos, apresentassem caracteres
fundamentais comuns). Revogados há muito os
dispositivos (antigo artigo 47, 1º, II e 2º), deve-se
deduzir novo conceito para a expressão do próprio
texto da lei. O que se fez, foi criar uma categoria
especial de reincidência, a qual a lei chama de
“específica”, em que o crime antecedente e
posterior são da “mesma natureza”, ou seja, estão
ambos entre os citados no inciso V, do artigo 83
do CP, criado com o artigo 5º da Lei n.º:
8.072/90”.
395
“É possível o abatimento da sanção, desde que
o crime pelo qual o réu restou posteriormente
condenado tenha sido cometido antes do
período da segregação indevida” (RT 779/557).
(TJPR - Ac. 2235 - 3ª Câmara Criminal - Rel.
Des. Sonia Regina de Castro - j. 22.06.2006, DJ:
04.08.2006).
(Recurso de Agravo nº 0361961-6 (3234), 4ª
Câmara Criminal do TJPR, Rel. Ronald Juarez
Moro. j. 16.11.2006, unânime).
396
concessão da remição pelo trabalho e estudo
desempenhados em um mesmo período, desde que
respeitados os limites estabelecidos pelos artigos
33 e 126, §1º, da Lei de execução penal, forma
essa de se viabilizar a reinserção do condenado na
comunidade, através da maior qualificação
intelectual. (TJ-MG; AgExcPen
1.0000.08.483599-0/0011; Governador Valadares;
Segunda Câmara Criminal; Rel. Des. Renato
Martins Jacob; Julg. 02/04/2009; DJEMG
22/04/2009)
397
3. Embargos infringentes providos para a
prevalência do voto minoritário, que fixava
prazo mínimo para a internação.
(Emb. Infringentes na Apelação Criminal nº
19980210007964 (239242), Câmara Criminal
do TJDFT, Rel. Getúlio Pinheiro. j. 23.11.2005,
maioria, DJU 21.03.2006).
398
excepcional, permitir ao sentenciado, a quem se
determinou o cumprimento da reprimenda em
regime aberto, o direito de recolher-se em prisão
domiciliar. 2. Ordem concedida para permitir a
prisão domiciliar ao Paciente, enquanto não existir
vaga em estabelecimento prisional compatível
com o regime aberto, restabelecendo a decisão do
juiz da execução penal. (Superior Tribunal de
Justiça STJ; HC 118.207; Proc. 2008/0224543-4;
RS; Quinta Turma; Relª Min. Laurita Hilário Vaz;
Julg. 24/03/2009; DJE 20/04/2009)
399
Coordenadoria dos Estabelecimentos
Penitenciários do Estado de São Paulo
(COESPE)” (RJDTACRIM 14/187 e 17/184);
400
2.14 - Prescrição da Medida de Segurança
Neste sentido temos: “Medida de segurança. Não
havendo imposição de pena, a contagem do prazo
prescricional em relação a medida de segurança faz-se
pelo MÁXIMO DA PENA COMINADA EM ABSTRATO”
(JTAERGS 100/43).
401
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA.
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. FOLHA
DE ANTECEDENTES. CANCELAMENTO DE
REGISTRO. POSSIBILIDADE.
PRECEDENTES DO STJ. RECURSO
PROVIDO. 1. O Superior Tribunal de Justiça
firmou o entendimento no sentido de que, por
analogia aos termos do art. 748 do Código de
Processo Penal, devem ser excluídos dos
terminais dos Institutos de Identificação Criminal
os dados relativos a inquéritos arquivados, a ações
penais trancadas, a processos em que tenha
ocorrido a reabilitação do condenado e a
absolvições por sentença penal transitada em
julgado ou, ainda, que tenha sido reconhecida a
extinção da punibilidade do acusado decorrente da
prescrição da pretensão punitiva do Estado. 2.
Recurso provido para que sejam canceladas as
anotações realizadas pelo Instituto de
Identificação Ricardo Glumbenton-IIRGD
relativas ao Processo-Crime 240/92, em que
ocorreu o trancamento da Ação Penal nº 240/05.
(Superior Tribunal de Justiça STJ; RMS 24.099;
Proc. 2007/0098329-6; SP; Quinta Turma; Rel.
Min. Arnaldo Esteves Lima; Julg. 08/05/2008;
DJE 23/06/2008) CPP, art. 748
402
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA.
FOLHA DE ANTECEDENTES.
CANCELAMENTO DE REGISTRO.
POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DESTE
TRIBUNAL. RECURSO PROVIDO. 1. Este
Tribunal firmou o entendimento no sentido de
que, por analogia aos termos do art. 748 do
Código de Processo Penal, devem ser excluídos
dos terminais dos Institutos de Identificação
Criminal os dados relativos a processos em que
tenha ocorrido a extinção da punibilidade do
acusado decorrente da prescrição da pretensão
punitiva do Estado. 2. Recurso provido para que
sejam canceladas as anotações realizadas pelo
Instituto de Identificação Criminal-IIRGD
relativas ao Processo-Crime 403/92, em que
ocorreu a extinção da punibilidade do recorrente.
(Superior Tribunal de Justiça STJ; RMS 13.156;
Proc. 2001/0070432-0; SP; Quinta Turma; Rel.
Min. Arnaldo Esteves Lima; Julg. 08/05/2008;
DJE 23/06/2008)
403
Hediondos. Com o objetivo de facilitar o estudo, bem como
visualizar as alterações as alterações são apresentadas no
texto original com o comentário dos autores abaixo de cada
modificação.
O art. 50 da Lei no 7.210, de 11 de julho de 1984 – Lei de
Execução Penal, passa a vigorar acrescido do seguinte
inciso VII:
“Art. 50........................................................
......................................................................
VII– tiver em sua posse, utilizar ou fornecer
aparelho telefônico, de rádio ou similar, que
permita a comunicação com outros presos ou com o
ambiente externo.
404
suspensão ou restrição de direitos de visita, isolamento na
própria cela ou em local adequado), não se podendo aplicar
tal sanção isoladamente, sendo necessário para aplicação
desta sanção, um processo administrativo disciplinar,
garantindo ao detento o direito a ampla defesa e ao
contraditório. Este procedimento poderá ser revisto pela
autoridade judiciária (Juiz da Vara das Execuções
Criminais), naquilo que se revele em afronta aos direitos dos
acusados.
Apenas a título de esclarecimento a prática de falta grave
previstas no artigo 50 e 51 da Lei de Execução Penal pode
redundar a aplicação de advertência verbal, repreensão ou
restrição de direitos, isolamento na própria cela ou em cela
distinta, podendo ser aplicada pelo Diretor do próprio
estabelecimento prisional ou pelo Conselho Disciplinar.
Deve se levada em conta a pessoa do condenado, a
circunstância do fato e as consequências da falta disciplinar.
Para aplicação desta sanção necessário se faz a instauração
de processo administrativo disciplinar, assegurando ao
infrator o amplo direito de defesa, e a decisão proferida
deverá ser motivada sob pena de nulidade. Há
entendimentos de que havendo excesso na aplicação da
sanção pode o prejudicado impetrar o mandado de
segurança ou o habeas corpus.
Também prevê a Lei de Execução Penal uma medida
cautelar preparatória antes da aplicação da sanção
disciplinar que é o isolamento preventivo do sentenciado
pelo prazo máximo de dez dias, desde que o fato tenha
405
violado o interesse da disciplina e desde que necessário o
isolamento para apuração do fato, caso o sentenciado venha
a interferir na coleta da prova, descontando-se este tempo da
sanção aplicada de forma definitiva.
Deve ser lembrado que a prática de falta grave pelo detento
leva a perda dos dias remidos (trabalhados), por força do
artigo 50 a 52 da Lei de Execuções Penais. Além disso,
pode a falta grave ser considerada para fins e efeitos de
concessão, pelo Diretor do Presídio, do atestado de bom
comportamento carcerário, fazendo consignar tal fato, sendo
obstáculo a concessão de progressão de regimes ou do
livramento condicional.
Trata-se evidentemente de novatio legis in pejus
incriminadora e assim sendo sua aplicabilidade fica restrita
aos fatos praticados posteriormente à sua vigência, não
retroagindo. Para os fatos anteriores (posse de aparelho
celular em Presídio) antes da edição desta Lei, aplica-se o
entendimento sufragado pelo Superior Tribunal de Justiça
que a posse de aparelho celular em Presídio não constitui
falta grave tendo em vista a ausência de previsão legal a
respeito, aplicando a máxima do nullum crimen nulla poena
sine lege. Vide a este respeito o voto do ministro Gilson
Dipp do Superior Tribunal de Justiça proferido no
julgamento de um habeas corpus (HC 45278) em favor de
Celso Aparecido dos Santos.
O Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 –
Código Penal, passa a vigorar acrescido do seguinte art.
319-A:
406
“Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária
e/ou agente público, de cumprir seu dever de
vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de
rádio ou similar, que permita a comunicação
com outros presos ou com o ambiente externo.
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.”
407
3.1 - Alterações na Lei de Crimes Hediondos quanto a
Execução da Pena (Lei 11.464 de 28 de março de
2007)
O art. 2o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990,
passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura,
o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o
terrorismo são insuscetíveis de:
...
II –fiança. (Inciso com redação determinada pela
Lei 11.464/07)
408
da nova lei, uma vez que a lei nova mais benéfica retroage
em favor dos acusados.
409
pena. Entretanto os ministros Carlos Velloso, Joaquim
Barbosa, Ellen Gracie, Celso de Mello e Nelson Jobim
divergiram deste entendimento e votaram pela
constitucionalidade da proibição da progressão de regime de
cumprimento de pena. Em razão desta decisão, entendemos
que foi realizada a alteração na Lei.
410
aplicabilidade aos processos e fatos praticados antes da
vigência aos fatos posteriores a sua vigência.
411
dias, prorrogável por igual período em caso de
extrema e comprovada necessidade.” (NR)
412
DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS
413
Nos Juizados devem sempre ser intimados a VÍTIMA e o ACUSADO,
valendo constar que o advogado é presença indispensável nos
Juizados.
DA AUDIÊNCIA PRELIMINAR:
414
Representante do Ministério Público;
Autor do fato;
A vítima, se possível, o seu representante legal;
Os advogados representando as partes.
415
decisão que homologa o acordo firmado entre as partes, e que implica
na renúncia ao direito de queixa ou de representação, consoante dispõe
o parágrafo único do art. 74 da Lei 9.099/95. 2 - A ação penal relativa
ao delito de lesões corporais leves é condicionada à representação da
vítima. Tendo havido retratação da representação em juízo em razão
de composição civil acordada judicialmente, e antes da prolação da
sentença, incabível o prosseguimento do feito. No âmbito dos
Juizados Especiais, cujo objetivo maior é a pacificação social, deve
ser mitigada a aplicação do princípio da obrigatoriedade da ação
penal, prevalecendo a vontade da vítima de colocar fim ao
conflito. 3 - Por fim, não se verifica que a conduta do recorrido
Zion, vítima do crime de lesões corporais, tenha se subsumido no
tipo contravencional a ele imputado, de molde a inviabilizar o
acordo realizado e que cumpriu com a finalidade maior do
Juizado. RECURSO IMPROVIDO. (Recurso Crime nº 71004417572,
Turma Recursal Criminal dos Juizados Especiais Cíveis e
Criminais/RS, Rel. Cristina Pereira Gonzales. j. 02.09.2013, DJ
04.09.2013).
416
passa a ser condição de procedibilidade: “Segundo o art. 88,
dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de
lesão corporal leve e lesão corporal culposa, além das hipóteses onde
já se a exige previstas no Código Penal e na legislação especial. Até
então, essa era uma situação em que a ação penal era pública
incondicionada, isto é, não dependente de representação, de modo
que a exigência beneficia o autor do fato, refletindo na própria
punibilidade. A regra, portanto, de índole material retroage à data do
fato e se aplica aos processos pendentes, como direito subjetivo
público do infrator. Que dizer, feitos criminais em andamento perante
a Justiça Federal que tenham por objeto lesões culposas ou dolosas
leves com pena mínima igual ou inferior a um ano terão de se
conformar à nova exigência, suspendendo-se sua tramitação e
intimando-se a vítima ou ofendido para a iniciativa.
Essa providência deve dar-se tanto em primeiro grau como em
segundo ou mesmo na instância especial, originária ou não.
Quando se cuidar de hipótese acontecida após a vigência da lei nova,
a representação funciona como condição de procedibilidade natural,
mas quando o processo estiver em andamento (exceto nos casos
transitados em julgado, pois aqui do mesmo modo se deve fazer a
ressalva(49)) a inovação importa numa condição ulterior de
procedibilidade ou condição de prosseguibilidade, daí por que a
própria lei, no art. 91, confere, para esse último caso, prazo de 30
dias sob pena de decadência234.
234
A LEI Nº 9.099/95 E A JUSTIÇA FEDERAL - ASPECTOS CRIMINAIS
MANOEL LAURO VOLKMER DE CASTILHO- Juiz do TRF da 4ª RegiãoArtigo
doutrinário publicado em Coletânea Doutrinária, outubro de 1999.
417
PROCEDIMENTO DA LEI 9.099/95:
ACEITAÇÃO DA PROPOSTA:
418
REINCIDÊNCIA: a aplicação da pena restritiva de direitos e de
multa não gera reincidência. É REGISTRADA APENAS PARA
EFEITO DE NÃO SER MAIS APLICADO O BENEFÍCIO
PELO PRAZO DE CINCO ANOS. Não há que se falar em
reincidência quando da aceitação da proposta, visto que a decisão que
aplica a transação penal, não se trata de sentença penal condenatória.
419
Devidamente citado, o infrator recebe cópia da denúncia oral, e já sai
ciente da designação da Audiência de Instrução e Julgamento, onde
poderá trazer as suas testemunhas. ESTE REQUERIMENTO DE
TESTEMUNHAS DE DEFESA DEVE SER FEITO NO PRAZO
DE ATÉ CINCO DIAS DA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO,
DEBATES E JULGAMENTO.
DA AUDIÊNCIA:
Palavra as partes;
Prolação de decisão.
420
RECURSO: o recurso cabível para as decisões do Juizado é o recurso
de apelação, com uma ressalva, tanto a peça de interposição como as
razões recursais devem ser apresentadas no prazo de 10 (dez) dias.
Prazo contado da data da realização de audiência. Cabe apelação
também da decisão que rejeita a denuncia ou a queixa crime em sede
de Juizados Especiais Criminais.
DA SUSPENSÃO DO PROCESSO:
235
APELAÇÃO. PROCESSUAL PENAL. LESÃO CORPORAL SIMPLES (ART.
129, CAPUT, DO CP). CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO.
CONDENAÇÃO POR JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL. COMPETÊNCIA
PARA CONHECIMENTO DO RECURSO. TURMAS RECURSAIS DOS
JUIZADOS ESPECIAIS. 1 - Enquanto integrante do Tribunal de Justiça como
Órgão de segunda instância, falece de competência a Turma Criminal para
conhecimento do recurso de apelação interposto em face de condenação por crime
de menor potencial ofensivo, como o é a lesão corporal simples (art. 129, caput, do
CP). 2 - À luz do art. 61 c/c art. 82, caput, ambos da Lei nº 9.099/1995, bem como a
teor do art. 13, inciso I, alínea "c", c/c art. 34, ambos do Regimento Interno das
Turmas Recursais dos Juizados Especiais do Distrito Federal, compete a essas
Turmas conhecer em segundo grau dos recursos relativos aos crimes de menor
potencial ofensivo, notadamente, como no caso, da apelação criminal em face de
condenação firmada por Juizado Especial Criminal. 3 - Declinada a competência
para uma das Turmas Recursais. (Apelação Criminal nº 20120810003414 (923964),
2ª Turma Criminal do TJDFT, Rel. César Laboissiere Loyola. j. 25.02.2016, DJe
07.03.2016).
421
DESDE QUE O ACUSADO NÃO ESTEJA SENDO
PROCESSADO POR OUTRO CRIME, OU TENHA SIDO
CONDENADO POR OUTRO DELITO,
422
10.09.2002 (recebimento da denúncia) e 31.10.2003 (sentença
condenatória). 5. Apelação conhecida e parcialmente provida.
(Apelação Criminal nº 4074/RJ (1999.51.01.049184-8), 3ª Turma
Especial do TRF da 2ª Região, Rel. Juiz José Antônio Neiva. j.
14.12.2004, unânime, DJU 25.02.2005). Referência Legislativa: Leg.
Fed. Súmula nº 723 do STF
CONDIÇÕES OBRIGATÓRIAS:
Reparar o dano;
Proibição de frequentar determinados lugares;
Proibição de ausentar-se da comarca onde reside;
Comparecimento mensal a juízo para comprovar as suas
atividades.
423
REVOGAÇÃO FACULTATIVA: se no curso do processo vier a ser
processado por CONTRAVENÇAÕ PENAL ou descumprir
qualquer das outras condições impostas.
424
A vítima para ver processado seu ofensor deve representar a
Autoridade sua vontade, tendo para isso prazo decadencial de trinta
dias.
Deve ser intimada para exercer a sua vontade. Ficando silente ou não
representando extingue-se a punibilidade do agente.
EXECUÇÃO DA PENA:
425
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