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Professora Ana Paula Correia de Souza

Direito Processual Penal I

NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

HISTÓRIA DO DIREITO PROCESSUAL PENAL

Antes de tratar da história do Direito Processual Penal, faz-se necessário fazer uma
breve explanação acerca da história da pena, visto que o processo penal é o caminho necessário
para se alcançar a pena.

A ideia de pena nasceu na época primitiva, em que a pena estava ligada ao


sentimento de vingança. A organização jurídica começou a surgir quando o homem primitivo,
que já procurava viver em sociedade, pois fora dela se sentia desprotegido, passou a adotar o
chamado vínculo de sangue, em que vigorava a tutela recíproca entre os membros de uma
mesma sociedade com membros de uma descendência comum. Daí surgiu a ideia de vingança
de sangue, em que os membros de uma determinada família, clã ou tribo teriam o dever sagrado
de matar um membro de uma outra “comunidade” se um de seus companheiros tiver sido
morto.

A vingança não encontrava limites e com isso, muitas, vezes, delitos leves eram
reprimidos severa e desproporcionalmente. Outras vezes, em razão do poderio e da influência
do infrator, a consequência era a impunidade.

Com o surgimento do Estado, representado inicialmente pelas religiões,


começaram a surgir regras de Direito Penal com conotação de divindade, cujas penas variavam
desde a expulsão à eliminação do transgressor, sacrifício que se oferecia aos deuses.

A ideia de vingança foi dando lugar às penas públicas na medida em que foi sendo
reconhecida a autoridade de um chefe a quem era deferido o poder de castigar em nome dos
súditos.

No Direito Romano os crimes eram divididos em Delitos Públicos - praticados


contra a segurança da cidade e o parricídio, em Delitos Privados - praticados contra
particulares.

Assim, ao se tratar naquela época de um delito privado o estado era o árbitro para
solucionar o eventual litígio, que através das provas colhidas e apresentadas pelas próprias
partes chegava-se a uma decisão. A função do Estado era apenas de árbitro, onde se prestigiava
a conciliação entre as partes e a penalidade era aplicada apenas em último caso.

No processo penal público, ocorreu a época uma evolução, ao contrário do privado,


que este último foi abandonado quase que totalmente.

A evolução do processo penal em Roma foi ainda maior quando o condenado


passou-se a ter a chance de recorrer perante ao povo em comício (provocatio ad populum), no
qual anteriormente o acusado não detinha de nenhuma garantia a sua defesa.

Assim na exposição do renomado doutrinador Fernando da Costa Tourinho Filho


tem-se o seguinte acerca do assunto:

Processo Penal Público, em Roma, fases interessantes. No


começo da Monarquia não havia nenhuma limitação ao poder de
julgar. Bastava a notitia criminis para que o próprio Magistrado se
pusesse em campo, a fim de proceder às necessárias investigações.
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Direito Processual Penal I

Essa fase preliminar chamava-se inquisitivo. Após as investigações, o


Magistrado impunha a pena. Prescindia-se da acusação. Nenhuma
garantia era dada ao acusado. Não havia limites ao arbítrio dos Juízes.
Era o processo denominado cognitivo.

Para moderar o arbítrio do Juiz, surgiu a provocatio ad populum, com intenso


colorido de apelação. O condenado tinha a faculdade de recorrer da decisão para o povo reunido
em comício.

No último século da República surge em Roma uma nova forma de procedimento:


a acusatio, ficando a administração da justiça a cargo de um tribunal popular; composto
inicialmente por senadores e, depois, por cidadãos.

Ao longo do tempo a acusatio, cedeu lugar a outra forma de sistema que ficava a
cargo do senado e depois do imperador.

Nesse procedimento cita-se a obra do renomado doutrinado Júlio Fabbrini


Mirabete, que assim o explica:

Os poderes do Magistrado, diz Manzini, foram invadindo a


esfera de atribuições já reservadas ao acusador privado a tal extremo
que, em determinada época, se reunia no mesmo órgão do Estado
(magistrado) as funções que hoje competem ao Ministério Público e
ao Juiz?

Este tipo de sistema pode-se visualizar sob a ótica de ser a base primordial que
consagrou o sistema inquisitivo.

No processo penal germânico também ocorreu a distinção entre os crimes privados


e públicos, no qual, para os crimes públicos, o processo era administrado pelo rei, príncipe,
duque ou conde, através de uma Assembleia, para este tipo de procedimento incumbia o ônus
da prova ao réu, que através de sua defesa deveria provar sua inocência. A aplicação da sanção
era severa e nenhuma garantia era dada ao acusado, ficando a punição a cargo do julgador.

Nos Delitos Privados, os crimes eram punidos com a Vingança Privada e, mais tarde,
pela Composição. A chamada vingança privada encontrou limites na Lei de Talião, (olho por olho
e dente por dente), impondo limites à reação do ofendido, evoluindo posteriormente para a
composição dos danos como forma de reparação do dano e de despenalização, vez que em
alguns crimes a vítima não objetiva a prisão do infrator, mas desejava ser apenas ressarcida dos
danos causados.

As principais provas eram os ordálios, ou Juízos de Deus, e o juramento. O acusado


jurava não ter praticado o crime de que era processado, e tal juramento podia ser fortalecido
pelos Juízes, os quais declaravam sob juramento que o acusado era incapaz de afirmar uma
falsidade. Essa prova do juramento baseava-se na crença de que Deus, conhecendo o passado,
pode castigar aquele que jura falsamente.

VOCÊ SABIA?
A ordália ou “juízo de Deus” nada mais era do que punições corporais
impostas aos acusados pelos juízes (água fervente, ferro em brasa, fogo, água
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envenenada...), caso em que, se o acusado sobrevivesse, significaria que Deus


o absolveu de seus pecados, sendo, em razão disso, perdoado pela justiça
humana.
— Provação pelo fogo: O acusado deveria andar de três a nove passos
segurando um ferro em brasa. Suas mãos eram enfaixadas e as
pessoas esperavam três dias. Ao retirar as ataduras, se a ferida
estivesse sarando, a pessoa era considerada inocente. Se a ferida
apresentasse inflamação ou pouco avanço na recuperação dos
ferimentos, a pessoa era considerada culpada.
— Provação pela água quente: Bem parecida com a provação pelo
fogo, esta ordália consistia em fazer a pessoa acusada mergulhar a
mão em um caldeirão de água fervente. Mesmo raciocínio da cura
indicando culpa ou inocência.
— Provação da cruz: Duas pessoas ficavam frente a frente com os
braços estendidos, tal qual Jesus na cruz. O que primeiro baixasse os
braços era considerado culpado. Esta ordália em especial foi proibida
pelo rei Luis I, o Pio, filho de Carlos Magno, pois ele considerava a
prática uma blasfêmia a Jesus.
— Provação pela água gelada: A pessoa ficava imersa, provavelmente
só com a cabeça para fora de um lago com águas congelantes durante
um certo tempo. Se saísse dali sem estar sofrendo muito com o frio,
estava livre da acusação. Isso quando a pessoa não morria tentando
provar a inocência! Uma variação da ordália fazia a pessoa ser
amarrada e jogada em qualquer rio ou lago. Se ela boiasse, era
culpada, já que segundo os acusadores, a água não receberia um corpo
impuro, sujo com um crime.

A prática das ordálias caiu em desuso com a chegada da época conhecida como
Baixa Idade Média, por volta do ano 1100. Gradativamente as regiões que tinham este costume
deixaram de lado as ordálias, substituindo por outros métodos de julgamento um pouco mais
racionais e menos desumanos.

O Direito Canônico, ou Direito Penal da Igreja, apareceu na história para defender


os interesses da igreja, sua forma até o século XII, era do tipo acusatório, sendo assim, não
haveria um juízo sem acusação. Quem acusava devia apresentar aos Bispos, Arcebispos ou
Oficiais a acusação por escrito, juntamente com as devidas provas colhidas no trâmite da
instrução, sendo que não era permitido a época punir o acusado ausente.

Passados um século após a chegada do processo penal acusatório, este foi deixado
de lado pela jurisdição eclesiástica, dando lugar ao processo inquisitivo, como bem remonta tal
situação o autor Fernando da Costa Tourinho Filho:
Do século XIII em diante, desprezou-se o sistema acusatório,
estabelecendo-se o ‘inquisitivo’. Muito embora Inocêncio III houvesse
consagrado o princípio de que Tribus modis processi possit: per
accusationem, per denuntiationem et per inquisitionem, o certo é que
somente as denúncias anônimas e a inquisição se generalizavam,
culminando o processo inquisitivo, per inquisitionem, por tornar-se
comum.

Com o sistema inquisitivo em prática, foram tomadas medidas drásticas acerca do


processo penal naquela época, uma vez que foram abolidas a acusação nos crimes que tratava
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de ação penal pública, também abolido foi a publicidade do processo, no qual o magistrado
procedia ex officio em segredo, também secretamente eram procedidos os depoimentos das
testemunhas, bem como o interrogatório do acusado, este era realizado mediante torturas. A
tortura só cessava quando o imputado expresse a vontade de confessar. Se confessa durante os
tormentos e, para que a confissão seja válida, deve ser confirmada no dia seguinte.

Percebe-se que nenhuma garantia era protegida ao acusado. Através de denúncia


anônima iniciava-se o processo, da mesma forma não permitia qualquer tipo de defesa pelo
acusado, sob a alegação de que esta poderia criar obstáculos na descoberta da verdade. O Santo
Ofício (Tribunal da Inquisição), instituído para reprimir a heresia, o sortilégio etc., era por demais
temido.

Observa-se que até a Idade Média, a pena privativa de liberdade só tinha o caráter
de custódia, pois as penas propriamente ditas eram, na maioria das vezes, bárbaras.

Com a adoção do inquisitivo pela jurisdição eclesiástica, foi-se dominando tal


procedimento pela Europa continental, por países com legislações laica, como explica Fernando
da Costa Tourinho Filho:
O sistema inquisitivo, estabelecido pelos canonistas, pouco a pouco
dominava as legislações laicas da Europa continental, por países com
legislação laica, convertendo-se em verdadeiro instrumento de
dominação política.
A Itália foi um dos países que adotou o sistema inquisitivo, tanto é que
até os dias atuais pode-se encontrar esculturas em forma de leão, com
sua boca aberta, as bocas da verdade (Boccas della Verità) destinadas
a receber as denúncias secretas dos alcagüetes e digiti duri.
Na Espanha, vigorou o Código chamado Libro de lãs leyes, mais
conhecido com o nome de Lãs Siete Partidas.
Outro país que adotou o sistema inquisitivo foi a Alemanha, criando
várias leis, na qual a mais importante foi a Lei Imperial de 1503,
conhecida como Constitutio Criminalis Carolina, tal lei foi instituída
para punir os delitos contra a religião, a paz pública e a honra. Eram
secretos o lugar e a forma do processo. Não se conheciam o acusador,
os Juízes e até mesmo a sentença.
Na França, o sistema inquisitivo também foi adotado, no qual era
proibido a defesa pelo acusado. O Processo também corria em
segredo, no qual se o acusado era considerado inocente não precisava
abdicar de um defensor, no entanto se considerado culpado, ele era
indigno de defesa.

O processo iniciava-se de ofício. Acusador e julgador eram uma só pessoa.


Torturava-se o imputado para conseguir-lhe a confissão. O processo penal era totalmente
inquisitivo, no qual era escrito, secreto e não contraditório e era composto de três fases:

- A primeira, que a fase das informações, restringia-se às averiguações, à colheita


de provas. Tais averiguações eram realizadas secretamente;

- A segunda, que era a da instrução preparatória;

- A última, a do julgamento.
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As fases que tratam esse tipo de sistema inquisitivo eram presididas e instruídas
por um magistrado, no qual este podia também exercer o papel de acusador, acerca de tal
procedimento, o interrogatório do acusado era realizado secretamente e sempre precedido de
juramento.

O acusado até a fase do interrogatório desconhecia acerca das provas apuradas em


seu desfavor, e o magistrado, verificando que o crime que apurava-se era de pouca relevância,
nesse casos então ele (magistrado) atribuía-lhe as regras do Processo Civil, no entanto se grave
fosse o crime cometido pelo acusado, seguia o rito do processo extraordinário, sendo assim a
instrução daria lugar ao princípios do processo inquisitivo.

Desta forma, renomado doutrinador, Fernando da Costa Tourinho Filho, remonta


como realizava-se o sistema inquisitivo:
Renovam-se os depoimentos, precedidos de juramento, na ausência
do acusado. Interrogava-se o réu, a quem o Juiz impunha a obrigação
de prestar juramento. Faziam-se as acareações. (...) Os resultados das
investigações e da instrução formavam os cahiers du procés, os autos
do processo. O julgamento era realizado ante um tribunal formado do
lieutenant criminel e de seus assessores. O processo, lido na ausência
do réu. Um relator, que podia ser o próprio lieutenant, expunha ao
tribunal os resultados da instrução. Antes de ser julgado, o acusado
era novamente interrogado, sem a presença do Defensor. Caso só
existissem presunções e indícios graves, completava-se a prova com a
tortura, cuja finalidade era obter a melhor das provas: a confissão…

Na medida em que o sistema inquisitivo tomava conta dos processos em toda


Europa Continental, na Inglaterra após o IV Concílio de Latrão, que fez com que deixasse de
existir os “Juízos de Deus”, passando a tratar o acusado como um gentleman, sendo que nesse
país dominou-se a instituição do júri, deixando a cargo do povo sua persecução.

Na Inglaterra, portanto, havia o grande Júri e o pequeno Júri. Assim, quando


acontecesse um crime, o acusador no uso de suas atribuições abdicava do justice of peace,
ordem de detenção, ou citação do acusado. Sob a ótica do magistrado verificava-se se a
acusação tinha fundamento, em caso positivo o mesmo emitia um warrant contra o réu.

Conforme explicação do doutrinador Fernando da Costa Tourinho Filho, “o grande


Júri (composto de vinte e três membros) ou Júri de acusação manifestava-se, tão somente, sobre
a procedência da acusação”.

A votação se sucedia por maioria absoluta, no qual se o grande júri entendia que a
acusação se dava por procedente, era o acusado levado ao Juiz presidente do pequeno Júri, para
que este, perguntasse ao réu se o mesmo era culpado ou inocente.

Se o acusado confessasse o crime, a ele era imputado a pena, no entanto se negado,


o pequeno Júri se reunia, composto de doze jurados, para a matéria ser debatida e ao final o
Juiz fazia um resumo, e os jurados proferiam o veredicto.

A pena capital começou a ser questionada, pois não demonstrava ser um


instrumento eficaz diante do aumento da criminalidade.
 A colaboração da Igreja neste ponto da história é significativa, pois
deve-se a Igreja a introdução no Direito da chamada pena de reclusão
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(onde os religiosos ao se verem diante do pecado, recolhiam-se a uma


cela para purificarem seus pecados e ficavam reclusos em penitencia).

No século XVIII, surgiu um movimento de abolição do sistema inquisitivo, formado


por ideias revolucionárias do Iluminismo, nos quais cita-se Monstesquieu, que condenava as
torturas, Beccaria que defendia o direito de punir dentro dos limites da justiça, Voltarie que
censurou a Ordonnance de Luiz XIV, no qual tal lei parecia conduzir o magistrado a ser inimigo
do acusado.

Desta forma, com a pressão e o combate ao sistema inquisitivo, vários foram as


jurisdições que passaram a abolir as torturas,

Assim, com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 26/08/1789, as


ideias revolucionárias do Iluminismo foram de fato aceitas.

O Processo Penal pós Revolução Francesa sofre modificações, adotando um


inquisitivo e acusatório, chamado de misto. No que tange a esse sistema inovador a época, o
mesmo trouxe consigo três fases:

- A da Polícia Judiciária;

- A da instrução e

- A do julgamento

Acerca da instrução preparatória, os princípios do sistema inquisitivo eram ainda


aceitos neste tipo de processo penal. O processo, dirigido por um Magistrado, desenvolvia-se
por escrito, secretamente e sem ser contraditório. A defesa era nula durante a instrução
preparatória. Na sessão de julgamento tornava-se acusatório o processo: oral, público e
contraditório.

No século XIX, vem à tona um novo movimento no sentido de abolir o sistema


inquisitivo da fase instrutória, restou inexitosa tal pretensão, no entanto foi-se permitido a
intervenção da defesa, demonstrando dessa forma, que não demoraria muito tal sistema seria
abolido da fase instrutória.

PROCESSO PENAL BRASILEIRO:

Com a vinda da Família Real em 1808, as leis passaram a ser editadas no Brasil e se
comutavam as penas. A igreja foi uma poderosa instituição e seu representante, Papa Inocêncio
II, elaborou formas para o início do procedimento criminal. Em 1822 ocorreu a independência
do Brasil, a partir de então, houve a possibilidade do país formar ordenamento penal e
processual penal próprio.

Em 1824 foi outorgada a primeira Constituição Brasileira, poder moderador, a qual


dispunha com precisão o Princípio da Legalidade: “nenhum cidadão pode ser obrigado a fazer
ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de lei” (Artigo 5º inciso II da CF). Vale dizer
que em 1830 houve a edição do Código Criminal, que veio solucionar a definição de tipos penais
e algumas normas proibindo certas condutas. Em 1832, foi instituído o primeiro Código de
Processo Criminal de Primeira Instância, o qual foi liberal e oferecia muitas garantias de defesa
aos acusados.
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Direito Processual Penal I

A Constituição Federal Republicana de 1891 aboliu a pena de morte, salvo em caso


de guerra.

A legislação processual penal foi unificada com a Carta de 1934 e com o advento da
Carta Constitucional de 1937, providenciou- se a promulgação do atual Código de Processo
Penal. A carta outorgada no Brasil aboliu torturas e outras penas cruéis.

No ápice da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), surge o Código de Processo


Penal, Decreto Lei 3.689, de 3 de outubro de 1941, vigente nos dias atuais, o qual manteve o
inquérito policial e o procedimento escrito. O Código foi criado por Getúlio Vargas durante o
período do Estado Novo. Tinha como princípio a culpabilidade, priorizava-se a segurança
pública. A redação original ressalta a questão de reforçar os poderes dos agentes policiais e a
ampliação da liberdade probatória do juiz. O interrogatório do réu era realizado como meio de
prova e não como meio de defesa. Quando o acusado fosse falar no seu depoimento era prova
contra ele e se o indivíduo ficasse em silêncio era considerado culpado. A redação original,
entretanto, traz características de preceitos fascistas.

A Constituição Federal de 1988, que redemocratizou o país, atribuiu ao Ministério


Público a exclusividade de exercício da ação penal pública, instrumento utilizado pelo Ministério
Público para postular ao Estado a aplicação de uma sanção decorrente de uma infração penal.
A ação penal objetiva a aplicação da lei, ou seja, é o direito de evocar-se o poder judiciário para
a aplicação do direito.

DIREITO PROCESSUAL PENAL FUNDAMENTAL


CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941
(Entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 1942)
TÍTULO I - Disposições Preliminares;
TÍTULO II - Do Inquérito Policial;
TÍTULO III - Da Ação Penal;
TÍTULO IV - Da Ação Civil;
TÍTULO V - Da Competência;
TÍTULO VI - Das Questões e Processos Incidentes;
TÍTULO VII - Da Prova;
LIVRO I: TÍTULO VIII - Do Juiz, Do Ministério Público, Do
Processo penal em geral Acusado e Defensor, Dos Assistentes e Auxiliares Da
Justiça;
TÍTULO IX - Da Prisão, Das Medidas Cautelares e Da
Liberdade Provisória;
TÍTULO X - Das Citações e Intimações;
TÍTULO XI - Da Aplicação Provisória de Interdições de
Direitos e Medidas de Segurança;
TÍTULO XII - Da Sentença.
LIVRO II: TÍTULO I - Do Processo Comum;
Dos processos em espécie TÍTULO II - Dos Processos Especiais.
LIVRO III: TÍTULO I - Das Nulidades;
Das nulidades e dos recursos em geral TÍTULO II - Dos Recursos em Geral.
TÍTULO I - Disposições Gerais;
LIVRO IV: TÍTULO II - Da execução das penas em espécie;
Da execução TÍTULO III - Dos Incidentes da execução;
TÍTULO IV - Da Graça, Do Indulto, Da Anistia e Da
Reabilitação;
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TÍTULO V - Da execução das medidas de segurança.


LIVRO V:
Das relações jurisdicionais com autoridade
TÍTULO ÚNICO
estrangeira

LIVRO VI: ___________


Disposições gerais
DIREITO PROCESSUAL PENAL COMPLEMENTAR
LEIS EXTRAVAGANTES

Lei 1.408/1951 – prorroga o vencimento de prazos judiciais; Lei 4.898/1965 – regula o processo de
responsabilidade nos casos de abuso de poder; Lei 5.256/1967 – dispõe sobre a prisão especial; Lei
7.210/84 – Institui a Lei de Execução Penal; Lei 7.960/1989 – Dispõe sobre prisão temporária; Lei
9.099//1995 – Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências

O instrumento por meio do qual se concretiza e se pode exercer o poder-dever


punitivo (jus puniendi) é o processo penal, cujo titular exclusivo é o Estado. Sem limites
procedimentais claros e definidos, a realização prática do Direito Penal é desordenada e fonte
inesgotável de injustiças.

Jus puniendi ≠ Jus persequendi in judicio. O primeiro diz respeito


ao poder-dever de punir, o qual é exclusivo do Estado. O segundo diz
respeito ao direito de ajuizar a ação, pedir instauração e seguir com o
processo, o qual é outorgado pelo Estado ao particular, como nos
casos de ações penais privadas.

Em regra:

Estado detentor
do jus puniendi,
por meio de um
terceiro
imparcial (juiz)

DEVIDO
PROCESSO

Estado como
detentor do Investigado ou
direito de ação, acusado, como
detentor do direito
atuando por de ver preservada
meio do sua liberdade e
Ministério integridade moral.
Público
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Existe uma relação imprescindível entre o delito, o processo e a pena, de modo que
são complementares. A pena é um efeito jurídico do delito e do processo, consequentemente.
No entanto, o processo não pode ser considerado como um efeito jurídico da pena, visto que o
processo surge da necessidade de impor uma pena ao delito por meio de normas
preestabelecidas.

PROCESSO
DELITO PENA
Completo e efetivo*

*Se o processo termina antes de desenvolver-se completamente (arquivamento, sursis) ou se


não se desenvolve de forma válida (nulidade), não pode ser imposta uma pena.

O DIREITO PROCESSUAL PENAL EM RELAÇÃO AOS OUTROS RAMOS DO DIREITO BRASILEIRO

A partir da definição do direito como um conjunto de normas que disciplina as


relações sociais em um determinado grupo, parte-se para a divisão do próprio direito em dois
ramos, público e privado. A divisão se justifica por existirem diferentes níveis de relação jurídica
entre os cidadãos entre si e entre esses e o Estado, a Administração Pública.

As relações jurídicas entre os cidadãos particulares ocorreriam dentro do direito


privado. Já as relações nas quais estaria presente o Poder Público, ou mesmo o interesse público,
seriam pautadas pelo direito público.

São Ramos do Direito Privado, basicamente, o Direito Civil e Comercial.

São Ramos do Direito Público:

- Externo: Internacional Público e Internacional Privado;

- Interno: Constitucional, Administrativo, Tributário, Penal e Processual.

Diante do fato do Direito processual Penal advir do Direito Público, onde predomina
o interesse público sobre o interesse particular, verifica-se que o mesmo se relaciona com outros
ramos do Direito:

a) Direito Constitucional: Todas as matérias que disciplinam a conduta humana se


subordinam às normas constitucionais, por ser ela a Lei Maior;
b) Direito Administrativo: Através do processo são reguladas a aplicação das
sanções administrativas disciplinares e a respectiva aplicação da pena;
c) Direito Comercial: Reserva ligação com o direito falimentar, visto que a falência
pode ser fraudulenta e constituir delitos;
d) Direito Internacional: Conduz a adoção de normas comuns entre países,
visando a aplicação de uma só lei para reprimir condutas criminosas;
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e) Direito Processual Civil: Em ambas as matérias existe uma que engloba os


conceitos básicos do processo que é a Teoria Geral do Processo.

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