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DISCIPLINA:

CRIMINOLOGIA
AULA 01

Prof. Carlos Roberto Bacila


CONVERSA INICIAL
Nesta aula, estudaremos a parte histórica do crime e da pena, bem como
sua evolução. O estudo da História é imprescindível para a compreensão de
diversos institutos ligados ao crime que decorreram de acidentes históricos
específicos, como a prática da vingança privada e individual até os dias atuais;
a existência do “bode expiatório”; a injustiça do talião aplicada no passado
somente para os estigmatizados pobres; e a pena nos dias atuais, fortemente
direcionada aos estigmatizados pobres, da raça, da religião e de gênero.
Veremos também como a Escola Clássica não resolveu o problema da
injustiça social do Direito Penal, nem tampouco a Escola Positiva conseguiu
desenvolver-se sem uma gama enorme de estigmas.
CONTEXTUALIZANDO
Abordaremos alguns temas importantes, os quais você confere a seguir:

Vingança privada, vingança divina e vingança pública e o surgimento dos


estigmas

Inquisição medieval

O Iluminismo e a "descoberta" dos Direitos Humanos

O texto digital

O texto de opinião

TEMA 1 – VINGANÇA PRIVADA, VINGANÇA DIVINA E VINGANÇA PÚBLICA


E O SURGIMENTO DOS ESTIGMAS
Os nossos ancestrais mais antigos viviam em igualdade de condições.
Não havia ricos e pobres, distinções raciais ou discriminações.
As desigualdades começaram por questões aleatórias, que estudaremos
mais adiante, quando discutirmos a respeito dos estigmas.
Nas sociedades primitivas, a resposta ao crime era feita, em um primeiro
momento, de forma individual (vingança privada individual). Quando a vítima
era atacada, por exemplo, com um golpe, respondia da mesma maneira ou até
de forma mais agressiva, com a finalidade de matar seu oponente.

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Com o passar do tempo, as pessoas organizaram-se em famílias, clãs e
tribos e planejavam a resposta ao delito praticado de forma conjunta ou em
grupo. Essa forma de punição denominou-se vingança privada coletiva.
Com o encantamento das pessoas com os fenômenos da natureza, a
explicação para trovões, raios e doenças passou a ser mística. Então, na esfera
penal, passamos a ter uma vinculação religiosa. Houve até sacrifícios de
pessoas para satisfazer os deuses. É o período da vingança divina.
Tanto a vingança privada quanto a vingança coletiva mostraram-se
procedimentos desvantajosos para resolver conflitos sociais porquanto eram
desproporcionais ao delito. Para atender a uma forma mais justa de punição,
desenvolveu-se a vingança pública.
A vingança pública procurou a proporcionalidade, estabelecendo o talião.
Quando a pena era exatamente igual ao crime praticado, chamava-se talião
material. Era o “olho por olho, dente por dente” previsto em todas as leis da
Antiguidade. Mas, às vezes, o talião material não era adequado. Por exemplo,
como punir o estelionatário? A pena consistia em lhe cortar o nariz. Este era o
talião simbólico.
O problema desse sistema é que se privilegiava os ricos, pois eles
escapavam do talião ao pagar uma composição em bens ou animais, já que o
dinheiro não existia na época. Esse aspecto atrapalhou a igualdade e justiça que
se poderia obter com o talião por intermédio de uma pena proporcional.
A composição, portanto, era uma forma de fazer com que os ricos não sofressem
as penas físicas. Na Babilônia, se alguém praticasse um furto poderia evitar o
talião se pagasse dez vezes mais o que furtou.
Se alguém furtasse um carneiro, deveria pagar dez deles. Mas somente
os ricos cumpriam o pagamento de composição. Então, o sistema que vigorava
por meio da vingança pública já era influenciado pelo estigma do pobre e de
outros estigmas.
Para mais informações sobre , vingança divina e vingança pública e o
surgimento dos estigmas acesse o material on-line e assista à videoaula do
professor Carlos Roberto Bacila.

TEMA 2 – INQUISIÇÃO MEDIEVAL


Roma evoluiu rapidamente da vingança privada para a divina e,
posteriormente, para a pública. O sistema romano era do tipo acusatório, com

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as partes de acusação, de defesa e o juiz bem definidas no processo. Este era
oral e público. Mas, a partir do Século IV d.C., o imperador Constantino converteu
Roma em um Estado Cristão, monoteísta e o processo se concentrou nas mãos
do juiz inquisidor. O método de investigação usado nessa época era a tortura e
a confissão mediante sofrimento e medo. Eles eram suficientes para obter a
condenação. A heresia era uma acusação grave e consistia em contrariar os
ditames da igreja.

TEMA 3 – O ILUMINISMO E A "DESCOBERTA" DOS DIREITOS HUMANOS


O processo penal cruel e injusto, abordado no fim do Tema 2, somente
seria reavaliado no período do Iluminismo, no século XVIII. Beccaria foi o
pensador que mais se destacou na área penal com a publicação do livro Dos
delitos e das penas, no qual o autor critica o sistema inquisitorial estabelecido.
Essa obra dá início à alteração do modelo existente, pois trouxe ideias para o
surgimento de um direito penal mais coerente, humano e com base na legalidade
(Bacila, 2016).

TEMA 4 – A ESCOLA CLÁSSICA


O ambiente do Iluminismo favoreceu o surgimento da Escola Clássica, a
qual teve como maior inscrito o professor Francesco Carrara. Essa Escola
sustentava o livre arbítrio das pessoas para optarem entre cumprir ou não as
leis. A ideia de que todos eram iguais perante a Lei falhou porque os estigmas
influenciavam a aplicação da lei. Os estigmas mais importantes: pobreza,
mulher, religião e raça (Bacila, 2015).

TEMA 5 – A ESCOLA POSITIVISTA


O fundador dessa Escola, o médico italiano Césare Lombroso, realizou
pesquisas com criminosos em prisões e reformatórios. Ele também analisou
cadáveres para formular a teoria que explicitava: os criminosos tinham
características físicas próprias, ou seja, eles eram diferentes anatomicamente
das pessoas “normais”. Para isso, bastava-se observar a estrutura óssea, o
formato do rosto, o contorno do nariz ou a cor da pele e poderia identificar-se
visualmente um criminoso (Bacila, 2016).

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A pesquisa de Lombroso já se mostrava altamente estigmatizadora e
equivocada desde o início, uma vez que os presos – alvos da pesquisa – eram
basicamente pessoas pobres e estigmatizadas, pois a influência política, a
corrupção e a não investigação de muitos outros crimes deixavam de levar para
a prisão outros criminosos, pois não eram estigmatizados (Bacila, 2016).
Fato é que a Escola Positivista influenciou muito a criminologia dos
séculos XIX, XX e XXI, gerando diversos seguidores que ainda defendem a
teoria lombrosiana atualmente e continuam disseminando as ideias
estigmatizadoras dela.

TROCANDO IDEIAS
Para melhor compreensão do conteúdo, sugerimos o vídeo:

EADELTA – Escola Nacional de Polícia Judiciária. Livro: Criminologia e


estigmas. TVADFP Vídeos, 25 jun. 2015. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=XmwLPn3vTqg

REFERÊNCIAS

BACILA, C. R. Criminologia e estigmas: um estudo sobre os


preconceitos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2015.

______. Introdução ao Direito Penal e à Criminologia. Curitiba:


InterSaberes, 2016.

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