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Capítulo 1: Parte 1
Capítulo 1
A Ciência Penal
A Ciência Penal
1.1 História do Direito Penal
Desde a Antiguidade até hoje verificamos grandes mudanças nos institutos criminais. Se analisarmos
a pena, por exemplo, podemos traçar a seguinte evolução: perda da paz ou vingança indeterminada,
vingança limitada pela lei do talião, composição voluntária, composição legal e pena pública (BRUNO,
1956, p. 70 e 71).
Conforme ensina Aníbal Bruno, nas sociedades antigas, onde ainda não havia um órgão que
até mesmo mágico. E a punição, que era a vingança, visava aplacar a ira dos deuses
(BRUNO, p. 66).
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ACapítulo 1: Parte
religião sempre esteve 1
muito presente no Direito Penal. Algumas normas podem servir de
exemplo: Leis de Manu, Índia, sécs. 12 ou 13 a.C., e Pentateuco ou Torá, dos hebreus, 1250 a.C. Até
hoje normas com cunho religioso são utilizadas pelo Direito Penal de inúmeros países, em especial
os orientais.
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prisão.
VÍDEO
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Capítulo 1: Parte 1
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O segredo dos seus olhos, direção de Juan José Campanella, 2009. O filme trata de um crime bárbaro,
levando à reflexão sobre punição estatal, proporcionalidade e vingança privada.
Remontando às sociedades mais primitivas, a vingança privada era um ato de guerra entre tribos e
não uma pena (BRUNO, p. 68). Entre os membros do grupo a pena era a expulsão, e essa pena
equivalia à pena de morte, pois dificilmente o indivíduo conseguiria sobreviver fora dos domínios de
Procedendo dessa maneira poderia haver a completa dizimação de grupos inteiros. Surge, assim, a
lei do talião, visando aplicar certa proporcionalidade ao Direito Penal. Como exemplo, podemos
Da vingança o Direito Penal evoluiu para a composição. Por esse método o autor do delito
“comprava” a sua liberdade. Em vez da vingança de sangue era oferecido um valor sufi ciente para
CURIOSIDADE
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Capítulo 1: Parte 1
Porém, todos esses métodos são de ordem privada. Com a evolução social e uma maior organização
estatal, aproximadamente a partir do séc. XII, o Estado afastou a vingança privada e assumiu o
poder-dever de aplicar a vingança pública. Torna-se dever do Estado manter a ordem e fazer
justiça.
As partes envolvidas perdem o direito de buscar por si próprias uma solução. A nova postura é
submeter-se a um poder externo, que é o Estado. Este substitui a vítima durante o processo.
Durante a Idade Média e a Moderna, o direito visava a proteção do príncipe e da religião. Suas
insegurança e justificado terror” (BRUNO, p. 86). O direito era instrumento para que a nobreza e o
— (BRUNO, p. 86)
Esses excessos criaram na consciência comum a exigência da imediata reforma das leis penais, e
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Capítulo mais
Personagem 1: Parte 1 desse período é sem dúvida Cesare Beccaria, que publicou em 1764 a
importante
obra Dos delitos e das penas. Essa obra é um marco no Direito Penal, pois visava romper com o
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Dos delitos e das penas, Cesare Beccaria. A obra é um marco do Direito Penal, rompendo com
Vivendo sob a égide do Iluminismo – de cunho racionalista e jusnaturalista – podemos afirmar que
Beccaria sofreu a influência de filósofos como Locke, D’Alembert, Diderot, Hume, Montesquieu,
Rousseau e Voltaire.
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Capítulo
As 1: Parte
ideias de Beccaria 1 aceitas e incluídas, mesmo que de modo ainda embrionário, na
foram
legislação de diversos países, como Rússia (1767), Toscana (1786), Áustria (1787), França (1791 e
1810) e na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) (FRAGOSO, 1959, p. 43 e 44).
CURIOSIDADE
O Direito Penal brasileiro sempre recebeu influência do direito penal europeu, em especial dos
italianos e alemães.
O Livro V das Ordenações Filipinas, de 1603, foi a legislação penal utilizada no Brasil
durante o período colonial. Essa legislação refletia o espírito dominante à época, que não
Outra característica das Ordenações é a extrema crueldade das penas, que também eram
CURIOSIDADE
VÍDEO
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Capítulo 1: Parte 1
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Milk, direção de Gus Van Sant, 2008. É baseado na vida do político e ativista gay Harvey Milk, que foi o
primeiro homossexual declarado a ser eleito para um cargo público na Califórnia. O filme mostra a luta e o
preconceito sofrido pelos homossexuais quatro séculos após as Ordenações Filipinas.
No Brasil temos o exemplo de Tiradentes, que foi condenado à morte pelo crime de lesa-majestade,
e, após ser enforcado, teve seu corpo esquartejado e seus membros fincados em postes e colocados
à beira das estradas como “exemplo” para os demais súditos da coroa. Era a intimidação pelo terror.
O Direito Penal desse período era visto como primeira ou única opção. As condutas hoje abarcadas
por outras áreas do direito, como o administrativo ou civil, recebiam tratamento penal. Ex. Título
LXXXI – Dos que dão música de noite (pena de prisão por 30 dias, multa e perda dos instrumentos
musicais e armas).
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Capítulo
Ex. 1:–Parte
Título XXXIII 1 e mulheres solteiras. A pena era de açoite, multa e degredo para a
Dos rufiões
África. Porém, se o homem fosse escudeiro, a pena seria de multa e degredo para fora da vila. Resta
SAIBA MAIS
Uma questão que deu margem a dissídio no Parlamento durante a aprovação do projeto foi a pena
Venceram os primeiros, sob o argumento de que os escravos não temeriam nenhum outro castigo.
Não obstante os elogios recebidos, esse Código mantinha resíduos de uma sociedade escravocrata.
A crítica da sociedade da época era que o caráter liberal do Código contribuía com o aumento da
Com o fim da escravidão e o advento da República, novamente se fazia necessária a ruptura com o
velho, e, assim, a elaboração de novos diplomas legais. Em 1890 foi promulgado o Código Penal,
Não obstante as críticas, cabe ressaltar que esse código aboliu a pena de morte e instalou o
adotada a Consolidação das Leis Penais de Vicente Piragibe, publicadas sob a denominação
Entre o final do séc. XIX e início do séc. XX houve um grande desenvolvimento da ciência penal.
novo Código. O Código Penal de 1940 foi originado no projeto de Alcântara Machado, revisado por
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uma Comissão de que participavam Nelson Hungria, Roberto Lyra, Costa e Silva, entre outros. O
Capítulo 1: Parte 1
Código foi inspirado no Código Rocco de 1930, porém sem adotar a pena de morte e de prisão
Nasce no período entre guerras, em pleno Estado Novo, de índole ditatorial, onde
Francisco de Assis Toledo (TOLEDO, p. 63), “o curioso é que, fruto de um Estado Ditatorial
e influenciado pelo código fascista, manteve a tradição liberal iniciada com o Código do
Império”.
Em 1984, a Lei nº 7.209 substituiu toda a Parte Geral do Código Penal, alterando profundamente
certos institutos como o erro, as penas e o concurso de agentes. Com o advento da Constituição
Federal em 1988, houve outras alterações e adequações, como a Reforma no Título dos Crimes
CURIOSIDADE
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Capítulo 1: Parte 1
Jornada pela Liberdade (Amazing Grace), direção de Michael Apted, 2006. Filme sobre a
campanha contra a escravidão liderada por William Wilberforce, um famoso abolicionista inglês,
Solomon Northup, um negro livre nascido no Estado de Nova Iorque que foi sequestrado em
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Capítulo 1: Parte 1
Amistad, direção de Steven Spielberg, 1997. Após uma rebelião, um navio negreiro é tomado
por seus escravos. Capturados, param em terras norte-americanas, onde geram uma enorme
A Vida de David Gale, direção de Alan Parker, 2003. Advogado e ativista contra a pena de
morte, é preso, acusado de estuprar e assassinar uma colega. No corredor da morte, ele pede
O controle social pode ser formal e informal. O informal é aquele aplicado pela família, escola, igreja,
partido político, opinião pública, vizinhos, clube. Nem sempre será suficiente para solucionar
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Capítulo
Das 1: Parte
necessidades 1 decorrentes da vida em sociedade surge o Direito, que visa garantir
humanas
O fato que contraria a norma legal, ofendendo ou pondo em perigo um bem jurídico tutelado, é um
Os princípios penais decorrem da Constituição Federal de 1988 que deu forma, na República
à propriedade.
—
Dessa forma, a limitação a esses direitos ou garantias constitucionais somente se justifica quando a
medida de segurança.
CURIOSIDADE
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Capítulo 1: Parte 1
CONCEITO
O Direito penal é o ramo do direito público que se encarrega de selecionar condutas atentatórias
aos mais importantes bens jurídicos — justamente aqueles considerados essenciais para a vida em
sociedade —, sancionando-as com uma pena criminal ou medida de segurança. Tem por função
1.3.2 Fontes
ordenamento jurídico, somente a União possui competência legislativa para criar normas penais (CF,
ATENÇÃO
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Capítulo 1: Parte 1
Apenas a União, por meio do Congresso Nacional, é autorizada a legislar sobre o Direito Penal. Isso
significa que os governadores e prefeitos não podem criar novos crimes ou revogar os existentes.
Note-se que o parágrafo único do dispositivo constitucional citado prevê que lei complementar
poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas acerca de matérias penais.
Somente a lei pode servir como fonte primária e imediata do direito penal, porquanto não há
crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal (CF, art. 5º, XXXIX, e
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Fonte formal
Capítulo mediata
1: Parte 1
Tais fontes formais sofrem importante limitação como decorrência do princípio da legalidade (CF,
art. 5º, XXXIX, e CP, art. 1º). Não se admite que de seu emprego resulte o surgimento de crimes não
previstos em lei ou, ainda, a agravação da punibilidade de delitos já existentes. Os princípios gerais
trotes acadêmicos, por exemplo, traduzem uma prática reconhecida e costumeira, de modo que
possíveis infrações, como injúria (ex.: referir-se ao calouro como “bicho”) ou constrangimento ilegal
(ex.: obrigar o novato a fazer “pedágio”), são consideradas permitidas à luz do art. 23, III, do CP
CURIOSIDADE
Os costumes, além disso, representam importante recurso interpretativo, sobretudo no tocante aos
elementos normativos presentes em alguns tipos penais (p. ex., a expressão “ato obsceno” no art.
233 do CP).
Anote-se também que os costumes não revogam lei penal (art. 2º, § 1º, da LINDB).
CONCEITO
em “aplicar, a um caso não contemplado de modo direto ou específico por uma norma jurídica, uma
norma prevista para uma hipótese distinta, mas semelhante ao caso não contemplado” (DINIZ, Lei de
REFLEXÃO
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ACapítulo 1:deixar
analogia visa Parte 1
o Direito mais justo? Imagine a seguinte situação: o art. 128, II, do CP admite o
aborto praticado por médico em caso de estupro. No caso do aborto realizado por enfermeiro,
2º) encontro no ordenamento jurídico de uma solução legal semelhante, vale dizer, uma regra
Funda-se a analogia no princípio ubi eadem legis ratio, ibi eadem dispositio.
Em direito penal, contudo, somente se admite a analogia in bonam partem, ou seja, aquela utilizada
em benefício do sujeito ativo da infração penal. Exemplo: o Código Penal somente autoriza a reação
perigo “atual”, nada dispondo sobre a excludente de ilicitude se o agente visava escapar de um
perigo “iminente”; este, contudo, também se considera abrangido pela norma permissiva, por
Proíbe-se, de outra parte, a analogia in malam partem, isto é, em prejuízo do sujeito ativo da infração
penal, justamente por importar a criação de delitos não previstos em lei ou no agravamento da
os exemplos: o art. 63 do CP defi ne como reincidente aquele que comete crime depois de ter sido
O art. 7º da Lei das Contravenções Penais, por sua vez, estipula ser reincidente o agente que pratica
uma contravenção penal depois de ter sido condenado definitivamente por outro crime, no Brasil ou
Na combinação dos dispositivos nota-se uma lacuna: não é reincidente o autor de um crime
praticado após ter sido ele irremediavelmente condenado por uma contravenção penal. Em
suma, se o agente for condenado de modo definitivo por uma contravenção penal e, após,
cometer outra contravenção, será reincidente, mas, se praticar um crime, será primário!
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Capítulo
Tal 1:legislador
omissão do Parte 1gera uma situação injusta, que não pode ser corrigida pelo emprego da
analogia, causando reincidência em ambas as situações, sob pena de agravar a punição de um fato
1ª) analogia “legis”: dá-se com a aplicação de uma norma existente a um caso semelhante;
2ª) analogia “juris”: ocorre quando se baseia num conjunto de normas, visando retirar
elementos que possibilitem sua aplicabilidade ao caso concreto não previsto (p. ex. trata-se do
BIBLIOTECA
Última parada 174, direção de Bruno Barreto, 2008. Conta a história de Sandro, morto pela
polícia quando sequestrou o famoso ônibus 174, no Rio de Janeiro. Mostra a história por outro
ângulo, contando a vida de Sandro desde o nascimento até o dia do crime. Esse olhar é comum
na criminologia.
O Direito Penal é apenas um dos objetos de estudo das Ciências Penais. Há a dogmática penal, a
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Capítulopenal
Dogmática 1: Parte 1
é a “disciplina que se ocupa da interpretação, sistematização e desenvolvimento (...)
dos dispositivos legais e das opiniões científicas no âmbito do direito penal” (Claus Roxin,
Funcionalismo e imputação objetiva no direito penal, p. 186-187). Este livro, portanto, representa um
visa tal ciência auxiliar o direito penal a encontrar uma solução para as causas
—
A política criminal, por sua vez, corresponde à que deve ser implementada no combate à
se, além disso, deveria também orientar o aplicador do direito diante da norma posta (posição
moderna).
SAIBA MAIS
O direito penal pertence ao direito público, pois seu objeto refere-se primordialmente às relações do
Estado com particulares em razão de seu poder soberano, atuando na tutela do bem-estar coletivo.
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Capítulo 1:
Dependendo Partese1trate o sujeito passivo, é possível que o Direito Penal assuma uma outra
de quem
velocidade, ou uma outra forma de atuação. Trata-se de concepção criada por Günther Jakobs em
que o direito penal do cidadão teria como escopo garantir a vigência da norma (o indivíduo que
comete o crime desrespeita a norma, a qual, por meio da pena aplicada, mostra que permanece
prática de delitos ou praticam fatos de extrema gravidade, como ações terroristas) tem como
finalidade combater perigos. Neste, o infrator não é tratado como pessoa, mas como inimigo a ser
Cuida-se de concepção polêmica, rejeitada pela maioria dos autores, os quais sustentam que jamais
BIBLIOTECA
A vila, direção de M. Night Shyamalan, 2004. O medo como forma de controle social utilizado
no filme pode ser utilizado como analogia para interpretar o mundo pós 11 de setembro.
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A Ciência Penal
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