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Como nos explica Michael Foucault, as primeiras sanções sociais eram tidas como
“um fenômeno inexplicável a extensão da imaginação dos homens para a barbárie e a
crueldade”. (Foucault, 2002)
Até o sec. XVIII a prisão serviu apenas para a contenção e guarda dos réus, até o
momento do julgamento. Prisão Custódia: Antessala de suplícios. Neste período as penas
se resumiam à: Pena de morte; Penas Corporais; Penas infamantes.
Vinganca Divina - Nesta fase começa-se a esboçar um poder de coesão social capaz
de estabelecer condutas sob pena de castigos. A diferença é que aqui quem é ofendido
pelas atividades delituosas são os deuses.
Vinganca Pública – A pena deixa de ter o caráter religioso e passa a ser uma sanção imposta
por uma autoridade pública, ou seja, seu agente de punição não mais é o próprio ofendido ou
mesmo o sacerdote, e sim o monarca (rei, princípe, regente). Esse período foi marcado por
penas cruéis (morte na fogueira, roda, esquartejamento, sepultamento em vida) para se
alcançar o objeivo maior que era a segurança do monarca. Com o pder do Estado cada vez
mais fortalecido, o caráter religioso foi sendo dissipado e as penas passaram a ter o intuito de
intimidar para que os crimes fossem prevenidos e reprimidos. A pena é simplesmente
vingança.
Período marcado pelas penas cruéis (morte na fogueira, roda, esquartejamento, sepultamento
em vida) para se alcançar o objetivo maior que era a segurança da classe
dominante. (Vingança Pública)
IDADE MÉDIA
A gênese da idade Média se deu no século V, com a queda do Império Romano do Ocidente
que foi dominado pelos povos germânicos. Seu término ocorreu no século XV, com o fim do
Império Romano do Oriente e o declínio de Constantinopla. O final desse período histórico
também tem como marco o surgimento da peste negra, doença que dizimou a população
europeia (CALDEIRA, 2009, p. 263).
DIREITO GERMÂNICO
DIREITO CANÔNICO
DIREITO PENAL COMUM
Iniciaremos a análise desse período histórico a partir do declínio do Império
Romano, momento em que Roma começou a ser invadida pelos povos bárbaros. O Direito
Germânico se estendeu do século V ao século XI d. C. (ZAFFARONI, et al., 2003, p. 167) .
Ressalta-se que os povos germânicos sofreram quase as mesmas modificações que
os povos da antiguidade.
A queda do Império Romano do Ocidente se deu em 476 d. C., quando então foi
invadido e conquistado. Dessa forma, iniciou-se um processo de descentralização política,
o que, entre outros fatores, gerou o abandono das cidades, tornando a economia de
subsistência agrária, baseada no trabalho serviu que colaborou para constituição do
feudalismo.
O sistema feudal era baseado na servidão, o proprietário da terra dava proteção e
trabalho aos camponeses que, em troca, entregavam parte de sua produção. A economia
feudal baseava-se principalmente na agricultura, sendo que as técnicas de trabalho
agrícola eram rudimentares (CHIAVERINI, 2009, p. 16).
O feudo constituía uma estrutura econômica autônoma. A distância entre as glebas
e a insegurança causada pelas invasões bárbaras enfraqueceram o comércio, que passou a
ser caracterizado pelas trocas (GILISSEN, 2001, p. 189).
Dessa forma, com a fragmentação do poder, as punições não eram mais aplicadas
por um único suserano, uma vez que não existia um poder matriz, assim cada feudo tinha
as suas próprias normas.
Consequentemente, a falta de organização atingiu os sistemas legais gerando
ambiguidade nas resoluções dos conflitos, uma vez que o indivíduo só respondia pelas
acusações que infligissem o feudo do qual fazia parte.
Nessa fase o direito penal germânico, sofreu a influência das ordálias ou juízos de Deus, que
consistia em rituais sangrentas, como, por exemplo, duelos, prova do fogo etc., essa era a
forma de resolver os conflitos e chegar ao veredicto final.
Também utilizavam como punição a perda da paz, que consistia na expulsão do ofensor da
comunidade, bem como existiam penas coletivas ou públicas para os traidores. Subsistindo a
vingança de sangue quando o conflito não se solucionava através dos outros meios
(ZAFFARONI et al., 2003, p. 388).
Em relação à prisão, não verificamos mudanças significantes, dado que ainda era utilizada para
assegurar a aplicação da pena cominada.
Outro fator relevante é que não existia uma estrutura penitenciária, sendo assim os
que aguardavam o julgamento eram presos em lugares impróprios, como, calabouços,
castelos em ruínas, torres etc. (BITENCOURT, 2011, p. 26).
Gradativamente a característica privatista dos bárbaros foi se perdendo e o direito
foi retomando o seu caráter público ao mesmo tempo em que a igreja Católica crescia em
influência e sua doutrina passava a dominar os germânicos que foram se convertendo ao
cristianismo, dando indícios do Direito Canônico .
Desse modo, a Igreja buscou substituir a pena de morte pela reclusão do infrator, além de
considerar a punição pública como a única correta (PRADO, 2010, p. 83).
Neste período da história o Direito Canônico possuía cada vez mais poder, suas decisões eram
executadas em tribunais civis, exercendo grande influencia na legislação penal, por introduzir
no mundo as primeiras noções de privaçäo de liberdade como forma de punição. Desta forma:
“Começando a ser aplicada aos religiosos que cometiam algum pecado, a privação da
liberdade era uma oportunidade dada pela Igreja para que o pecador, no silêncio da reclusão,
meditasse sobre sua culpa e se arrependesse dos seus pecados”.
Näo obstante, a privaçäo de liberdade, não foi adotada somente a clérigos, mas também aos
cidadãos em geral. Doravante, com a instauração do cárcere como penitência e meditação,
originou-se a palavra “penitenciária”, considerada como a grande contribuição deste período
da história para toda a teoria da pena.
As práticas punitivas ainda possuiam cunho vil e atroz, contudo, com o advento das prisões
criam-se novos princípios de administração ou aplicação em seus cerimoniais, acarretando,
assim, mudanças nas penas e na forma de executá-las.
Essa fase da história foi caracterizada pela miscelânea entre o Direito Romano, o
Direito Germânico, o Direito Canônico e dos direitos locais. A partir do século XII ocorreu o
ressurgimento do Direito Romano, fenômeno denominado pelos historiadores de
recepção, além de grandes transformações sociais.
Os novos padrões exigiram a mudança do estilo de vida feudal, o que fomentou a
formação do capitalismo. Segundo Marx, tal situação pode ser denominada de pré-
história do capital, o que, com base na mesma doutrina, provocou o processo de
separação do trabalhador da propriedade das próprias condições de trabalho.
As atividades comerciais aceleravam-se, trazendo a necessidade de uma maior
exploração econômica, o que não era proporcionado pelo sistema feudal.
Devido à diminuição dos riscos do transporte e a possibilidade de comunicação entre
os feudos, ocasionado pela estabilidade que trouxe o fim das invasões bárbaras, os
mercadores intensificaram suas atividades, houve uma melhora das condições de vida da
população, como resultado o índice de mortalidade foi reduzido (CHIAVERINI, 2009, p. 31).
Entretanto, o crescimento exacerbado das massas desfavorecidas gerou um
excedente de mão-de-obra nos feudos, o que acarretou maior exploração dos senhores
feudais para com essa parcela da população.
Nunca se usufruiu tanto das terras, motivo pelo qual os campos excessivamente
cultivados tornaram-se improdutivos e a queda na produção trouxe o empobrecimento da
população europeia, que migrou para as cidades (ANITUA, 2008, p. 65).
Nessa conjuntura renasceram as cidades e nelas o comércio ganhou impulso.
Nesse cenário, surgia uma nova classe, a burguesia, sucessora dos primitivos mercadores,
artesãos e negociantes (MARTINS, 2010, p. 215).
Com efeito, a influência do poder econômico gerou a opressão dos pobres pelos ricos, fato
notado em todas as esferas das histórias. Todavia, o diferencial recai na coragem de
demonstrar a indignação.
Em resposta as rebeliões, foram criadas leis penais mais severas, que tinham como
alvo os causadores dos conflitos, isto é, a classe desfavorecida. A pena era utilizada como
meio de manter o controle social, visando espalhar o medo (BITENCOURT, 2011, p. 30).
Os séculos finais da Idade Média foram marcados por uma série de crises. A falta de
alimento provocou à morte de parte considerável da população, assim como a peste negra
epidemia que vitimou um terço da população europeia. As guerras e os conflitos entre a
burguesia e os camponeses contra a nobreza feudal se intensificaram.
RENASCIMENTO E ABSOLUTISMO
A ORIGEM DA PRISÃO
ILUMINISMO PENAL
A Idade Moderna caracteriza-se na história como um período de transição, que
compreende o século XV ao XVIII e que acarretou modificações nas relações sociais, bem
como no Direito Penal.
Os historiadores consideram que seu início se deu com a ocupação de
Constantinopla pelos Turcos Otomanos e seu encerramento foi ocasionado pela Revolução
Francesa, em 1789 (CALDEIRA, 2009, p. 265).
Renascimento e Absolutismo
Origem da Prisão
Os meios utilizados para conter as massas falharam, embora cruéis e rígidos, não tinham
eficácia contra a crescente criminalidade.
Sendo assim, a pena de morte não era mais conveniente, visto que com crescimento
exacerbado da “delinquência”, dizimaria a população.
Crescia a preocupação em relação à falta de mão-de-obra que ficava cada vez mais escassa
juntamente com o interesse econômico em explorar o condenado. Fatos que levaram à ideia
de dominar os ociosos que podiam contribuir com seu trabalho e usá-los, mesmo que de
forma involuntária, a favor do capitalismo. A solução era incorporar uma disciplina, uma nova
ideologia e nesse caso foi introduzida a “ética ao trabalho”.
Iluminismo Penal
O Iluminismo foi um movimento intelectual que teve seu apogeu no final do século XVIII.
A sua nomenclatura decorre dos pensadores da época, que se declaravam portadores das
luzes que aclararia as trevas a que aquele período estava submerso.
A filosofia das luzes defendia que a razão era a única forma de transpor a escuridão. De tal
modo, o discurso iluminista estava alicerçado em três convicções que se tornaram o lema da
Revolução Francesa, quais sejam: Liberdade, Igualdade e Fraternidade .
A partir de então surgiu o “contrato”, que foi fundamental para o novo fundamento do
Estado, nesse sentido destacam-se Hobbes e John Locke.
Nessa conjuntura, Cesare Bonesana, Marquês de Beccaria (1738 – 1794), publicou, em 1764, o
famoso livro Dos delitos e das penas. Seus pensamentos filosóficos foram influenciados pelas
obras racionalistas francesas. No referido livro desenvolve-se um sistema penal mais humano .
À vista disso, suas propostas revolucionárias faziam frente à sistemática do Antigo Regime, sua
obra foi considerada “o verdadeiro ponto de partida do direito penal moderno e da própria
criminologia, enquanto análise crítica do sistema penal e da reação penal como manifestação
de poder” .
Assim, pregava que a prisão deveria ser humanitária, apesar de servir como sanção.
Para ele a pena de prisão era a substituição perfeita para as punições corporais .
Seu discurso era no sentido de que “o fim, pois é apenas impedir que o réu cause novos danos
aos seus concidadãos e dissuadir os outros de fazer o mesmo” (Bonesana, 2005, p. 62).
Com base no que foi relatado, Santos (2010) denota que, atualmente, a teoria de Bonesana
para a finalidade da pena é denominada de prevenção geral negativa.
Sua pretensão era que a prisão desestimulasse a prática de outros crimes, servindo como
alerta para todos.
Sobre isso, Santos (2010, p. 426) aduz que “a função da prevenção geral atribuída à pena
criminal tem por objetivo evitar crimes futuros.” Subsidiariamente, admitia o fim correcional
da pena.
É inegável que com o passar dos tempos formularam-se subterfúgios para prosseguir com
o encarceramento.
Em resumo:
Período Humanitário ( sec. XVIII e XIX)
O período íluminista foi à referência inicial dessa mudança de mentalidade com relação à aplic
ação das penas. Por intervenção de Beccaria e
da sua indignação, no tocante a forma de tratamento do homem com seu semelhante,
fez repercutír seus pensamentos acerca daquela aparente e ilusória justiça. Tornando-se o pio
neiro nesta luta contra a opressão e selvageria.