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TRANSFORMAÇÕES HISTÓRICAS

A história do Direito Penal é a história de um largo processo de humanização da


repressão. (Miguel Reale Júnior)
Antiguidade – desde a Antiguidade até o século XVIII, as penas possuíam um aspecto
exageradamente torturante, dado que o corpo do infrator é que pagava pelo crime
cometido.

Como nos explica Michael Foucault, as primeiras sanções sociais eram tidas como
“um fenômeno inexplicável a extensão da imaginação dos homens para a barbárie e a
crueldade”. (Foucault, 2002)

Até o sec. XVIII a prisão serviu apenas para a contenção e guarda dos réus, até o
momento do julgamento. Prisão Custódia: Antessala de suplícios. Neste período as penas
se resumiam à: Pena de morte; Penas Corporais; Penas infamantes.

A Idade Antiga é o período histórico em que as primeiras civilizações surgiram e se


desenvolveram. 
Essa época foi marcada pelo nascimento da escrita, por volta de 4.000 a 3.500 a. C.,
até a queda do Império Romano do Ocidente em 476 d.C. e o início da Idade Média no
século V (CALDEIRA, 2009, p. 272).

Antes da constituição do Estado moderno, considerado o detentor do poder de


punir, a sociedade já se organizava em grupos. Mas apenas existiam famílias, clãs e tribos,
com nível muito baixo de organização social (TELES, 2006, p. 20).
Os “clãs” ou “bandos”, como costumavam ser preconceituosamente chamados,
tentando regular a conduta dos componentes do grupo, estabeleciam regras que visavam
ao bem estar comum (TELES, 2006, VINGANÇA PRIVADA
p. VINGANÇA DIVINA
VINGANÇA PÚBLICA

 Evolução das Vinganças

Vingança Privada - Cometido um crime, ocorria a reação da vítima, dos parentes e


até do grupo social (tribo), que agiam sem proporção à ofensa, atingindo não só o
ofensor, como também todo o seu grupo. Foi um período marcado por lutas acirradas
entre famílias e tribos, acarretando um enfraquecimento e até a extinção das
mesmas. Deu-se então o surgimento de regras para evitar o aniquilamento total e
assim foi obtida a primeira conquista no âmbito repressivo: Lei de Talião. O famoso
ditado - “Olho por olho, dente por dente“ — foi acolhido como princípio de
diversos códigos como o de Hamurabi.
 No início das civilizações não existia ideia de culpa, regras ou sanções, o que ocorria
era uma vingança coletiva, denominada também de vingança privada, que, se caracterizava
pela reação conjunta do grupo contra o agressor pela ofensa a um de seus componentes;

Vinganca Divina - Nesta fase começa-se a esboçar um poder de coesão social capaz
de estabelecer condutas sob pena de castigos. A diferença é que aqui quem é ofendido
pelas atividades delituosas são os deuses.

É o direito penal imposto pelos sacerdotes, fundamentalmente teocrático, o Direito se


confundia com a religião. 

0 crime era visto como um pecado e cada pecado atingiam a um certo Deus. 

A pena era um castigo divino para a purificação e salvação da alma do infrator. 

Era comum neste período o uso de pena cruéis e bastante severas (art. 6º - Código de


Hamurabi – “Se alguém furta bens do Deus ou da Corte deverá ser morto; e mais quem
recebeu dele a coisa furatada também deverá ser morto”).

É o direito penal imposto pelos sacerdotes, fundamentalmente teocrático (o Direito se


confundindo com a religião). O crime era visto como um pecado e cada pecado atingia a um
certo Deus. A pena era um castigo divino para a purificação e salvação da alma do infrator.
(Vingança Divina)

Vinganca Pública – A pena deixa de ter o caráter religioso e passa a ser uma sanção imposta
por uma autoridade pública, ou seja, seu agente de punição não mais é o próprio ofendido ou
mesmo o sacerdote, e sim o monarca (rei, princípe, regente). Esse período foi marcado por
penas cruéis (morte na fogueira, roda, esquartejamento, sepultamento em vida) para se
alcançar o objeivo maior que era a segurança do monarca. Com o pder do Estado cada vez
mais fortalecido, o caráter religioso foi sendo dissipado e as penas passaram a ter o intuito de
intimidar para que os crimes fossem prevenidos e reprimidos. A pena é simplesmente
vingança.

Período marcado pelas penas cruéis (morte na fogueira, roda, esquartejamento, sepultamento
em vida) para se alcançar o objetivo maior que era a segurança da classe
dominante. (Vingança Pública)

IDADE MÉDIA

A gênese da idade Média se deu no século V, com a queda do Império Romano do Ocidente
que foi dominado pelos povos germânicos. Seu término ocorreu no século XV, com o fim do
Império Romano do Oriente e o declínio de Constantinopla. O final desse período histórico
também tem como marco o surgimento da peste negra, doença que dizimou a população
europeia (CALDEIRA, 2009, p. 263).

DIREITO GERMÂNICO
DIREITO CANÔNICO
DIREITO PENAL COMUM
Iniciaremos a análise desse período histórico a partir do declínio do Império
Romano, momento em que Roma começou a ser invadida pelos povos bárbaros. O Direito
Germânico se estendeu do século V ao século XI d. C. (ZAFFARONI, et al., 2003, p. 167) .
Ressalta-se que os povos germânicos sofreram quase as mesmas modificações que
os povos da antiguidade. 
A queda do Império Romano do Ocidente se deu em 476 d. C., quando então foi
invadido e conquistado. Dessa forma, iniciou-se um processo de descentralização política,
o que, entre outros fatores, gerou o abandono das cidades, tornando a economia de
subsistência agrária, baseada no trabalho serviu que colaborou para constituição do
feudalismo.
O sistema feudal era baseado na servidão, o proprietário da terra dava proteção e
trabalho aos camponeses que, em troca, entregavam parte de sua produção. A economia
feudal baseava-se principalmente na agricultura, sendo que as técnicas de trabalho
agrícola eram rudimentares (CHIAVERINI, 2009, p. 16).
O feudo constituía uma estrutura econômica autônoma. A distância entre as glebas
e a insegurança causada pelas invasões bárbaras enfraqueceram o comércio, que passou a
ser caracterizado pelas trocas (GILISSEN, 2001, p. 189).
Dessa forma, com a fragmentação do poder, as punições não eram mais aplicadas
por um único suserano, uma vez que não existia um poder matriz, assim cada feudo tinha
as suas próprias normas. 
Consequentemente, a falta de organização atingiu os sistemas legais gerando
ambiguidade nas resoluções dos conflitos, uma vez que o indivíduo só respondia pelas
acusações que infligissem o feudo do qual fazia parte.
Nessa fase o direito penal germânico, sofreu a influência das ordálias ou juízos de Deus, que
consistia em rituais sangrentas, como, por exemplo, duelos, prova do fogo etc., essa era a
forma de resolver os conflitos e chegar ao veredicto final. 
Também utilizavam como punição a perda da paz, que consistia na expulsão do ofensor da
comunidade, bem como existiam penas coletivas ou públicas para os traidores. Subsistindo a
vingança de sangue quando o conflito não se solucionava através dos outros meios
(ZAFFARONI et al., 2003, p. 388).

Existiam ainda as imposições de fiança e a composição pecuniária, no entanto, essa penalidade


só era eficaz para os que possuíam classe social mais elevada, visto que os de classe
desfavorecida, sem condições financeiras, eram submetidos a castigos corporais (ZAFFARONI
et al., 2003, p. 167-168). 

Em relação à prisão, não verificamos mudanças significantes, dado que ainda era utilizada para
assegurar a aplicação da pena cominada. 

Outro fator relevante é que não existia uma estrutura penitenciária, sendo assim os
que aguardavam o julgamento eram presos em lugares impróprios, como, calabouços,
castelos em ruínas, torres  etc. (BITENCOURT, 2011, p. 26). 
Gradativamente a característica privatista dos bárbaros foi se perdendo e o direito
foi retomando o seu caráter público ao mesmo tempo em que a igreja Católica crescia em
influência e sua doutrina passava a dominar os germânicos que foram se convertendo ao
cristianismo, dando indícios do Direito Canônico .

 Conforme o domínio da Igreja Católica aumentava, os litígios começaram a ser julgados de


acordo com os seus interesses, pois a justiça comum e a canônica se uniram para manter a
ordem e a moralidade. As decisões eram prolatadas pelos tribunais eclesiásticos, conforme os
cânones (Santos, 2010, p. 241-242).

Apesar de a Igreja ter desempenhado um papel central no direito da época, existiam


paralelamente cortes laicas que era representativa do poder do soberano (GILISSEN, 2001, p.
136).

O Direito Canônico teve uma importância crucial na idealização da pena privativa de


liberdade, em razão da suposta visão de humanização da punição, o que contribui para que as
condenações dos bárbaros perdessem aplicabilidade. 

Desse modo, a Igreja buscou substituir a pena de morte pela reclusão do infrator, além de
considerar a punição pública como a única correta (PRADO, 2010, p. 83).

Neste período da história o Direito Canônico possuía cada vez mais poder, suas decisões eram
executadas em tribunais civis, exercendo grande influencia na legislação penal, por introduzir
no mundo as primeiras noções de privaçäo de liberdade como forma de punição. Desta forma:
“Começando a ser aplicada aos religiosos que cometiam algum pecado, a privação da
liberdade era uma oportunidade dada pela Igreja para que o pecador, no silêncio da reclusão,
meditasse sobre sua culpa e se arrependesse dos seus pecados”.

Näo obstante, a privaçäo de liberdade, não foi adotada somente a clérigos, mas também aos
cidadãos em geral. Doravante, com a instauração do cárcere como penitência e meditação,
originou-se a palavra “penitenciária”, considerada como a grande contribuição deste período
da história para toda a teoria da pena.
As práticas punitivas ainda possuiam cunho vil e atroz, contudo, com o advento das prisões
criam-se novos princípios de administração ou aplicação em seus cerimoniais, acarretando,
assim, mudanças nas penas e na forma de executá-las.

Por conseguinte, no ano de 1215, a Igreja Católica já temerosa, começa a punir todo e


qualquer ato que divergisse ou atentasse contra os dogmas presentes em dua doutrina.
Como forma à conter a ameça de heresias no seio da comunidade, o Papa Inocêncio IV,
compele nova legitimidade para a prática da tortura. Ascendia na humanidade, um dos mais
célebres movimentos de execução da pena como espetáculo punitivo, denominado
de INQUISIÇÃO.   Origina-se a partor daí, os Tribunais do Santo Ofício.

 Direito Penal Comum

Essa fase da história foi caracterizada pela miscelânea entre o Direito Romano, o
Direito Germânico, o Direito Canônico e dos direitos locais. A partir do século XII ocorreu o
ressurgimento do Direito Romano, fenômeno denominado pelos historiadores de
recepção, além de grandes transformações sociais.
Os novos padrões exigiram a mudança do estilo de vida feudal, o que fomentou a
formação do capitalismo. Segundo Marx, tal situação pode ser denominada de pré-
história do capital, o que, com base na mesma doutrina, provocou o processo de
separação do trabalhador da propriedade das próprias condições de trabalho.
As atividades comerciais aceleravam-se, trazendo a necessidade de uma maior
exploração econômica, o que não era proporcionado pelo sistema feudal.
Devido à diminuição dos riscos do transporte e a possibilidade de comunicação entre
os feudos, ocasionado pela estabilidade que trouxe o fim das invasões bárbaras, os
mercadores intensificaram suas atividades, houve uma melhora das condições de vida da
população, como resultado o índice de mortalidade foi reduzido (CHIAVERINI, 2009, p. 31).
Entretanto, o crescimento exacerbado das massas desfavorecidas gerou um
excedente de mão-de-obra nos feudos, o que acarretou maior exploração dos senhores
feudais para com essa parcela da população. 
Nunca se usufruiu tanto das terras, motivo pelo qual os campos excessivamente
cultivados tornaram-se improdutivos e a queda na produção trouxe o empobrecimento da
população europeia, que migrou para as cidades (ANITUA, 2008, p. 65).
Nessa conjuntura renasceram as cidades e nelas o comércio ganhou impulso.

Nesse cenário, surgia uma nova classe, a burguesia, sucessora dos primitivos mercadores,
artesãos e negociantes (MARTINS, 2010, p. 215).

A reaparição das cidades, além de corroborar com o início do capitalismo, suscitou o


ressurgimento de estruturas de poder centralizado.

Por conseguinte, a formação de massas camponesas desempregadas foi inevitável, já que sem


alternativa, mendigavam e até mesmo praticavam “crimes” para sustentar-se, viam-se
obrigados a submeter-se a essa situação, pois era a única forma de terem o que comer. 

Com efeito, a influência do poder econômico gerou a opressão dos pobres pelos ricos, fato
notado em todas as esferas das histórias. Todavia, o diferencial recai na coragem de
demonstrar a indignação.
Em resposta as rebeliões, foram criadas leis penais mais severas, que tinham como
alvo os causadores dos conflitos, isto é, a classe desfavorecida. A pena era utilizada como
meio de manter o controle social, visando espalhar o medo (BITENCOURT, 2011, p. 30).

Em decorrência ao processo de êxodo rural, exposto acima, a manufatura nascente


não conseguia absorver a mão-de-obra progressiva, por sua vez os novos proletariados
tornaram-se “mendigos”, “ladrões” e “vagabundos” (Melossi; Pavarini, 2006, p. 34).

Os séculos finais da Idade Média foram marcados por uma série de crises. A falta de
alimento provocou à morte de parte considerável da população, assim como a peste negra
epidemia que vitimou um terço da população europeia. As guerras e os conflitos entre a
burguesia e os camponeses contra a nobreza feudal se intensificaram.

RENASCIMENTO E ABSOLUTISMO
A ORIGEM DA PRISÃO
ILUMINISMO PENAL
 A Idade Moderna caracteriza-se na história como um período de transição, que
compreende o século XV ao XVIII e que acarretou modificações nas relações sociais, bem
como no Direito Penal. 
Os historiadores consideram que seu início se deu com a ocupação de
Constantinopla pelos Turcos Otomanos e seu encerramento foi ocasionado pela Revolução
Francesa, em 1789 (CALDEIRA, 2009, p. 265).

 Renascimento e Absolutismo

Findo o período histórico que compreende a Idade Média a perspectiva de mundo,


paulatinamente, começou a mudar, uma vez que a visão religiosa da nobreza e do clero foi
superada pelo ponto de vista antropocêntrico da burguesia. 
“Esse movimento tinha por raiz a palavra ‘humano’, o que significava que o homem
era colocado no centro do universo, na condição de atenção ontológica de todas as
preocupações políticas, econômica e sociais” (ANITUA, 2008, p. 70).
O Renascimento trouxe o retorno da ciência, das artes e da filosofia, que estavam
adormecidas, em virtude da influência que a Igreja Católica Apostólica Romana exercia
sobre os governos, não admitindo outra verdade senão a sua ideologia cristã. 
Verificou-se ainda uma ruptura do sistema feudal e a recepção do Direito Romano,
levando a uma transformação na economia, que de fechada e estagnada, passou a ser
dinâmica.
Juntamente com essas mudanças vieram novos valores, a razão passou a ser
considerada, assim como o individualismo passou a ter importância (ANITUA, 2008, p. 69).
Vários autores se descararam nesse período, os mais importantes dentre os que
tinham como foco as questões penais e a filosofia do direito foram: More, Campanella,
Maquiavel e Hobbes (CHIAVERINI, 2009, p. 45).
Durante o período do Renascimento o absolutismo ganhava forma
concomitantemente com o fortalecimento dos Estados nacionais, governados por
soberanos que legalmente tinham poderes ilimitados.
Os Estados absolutistas foram marcados pela extrema crueldade na aplicação da
penas. 
As punições eram castigos corporais. É dizer, eram feitas nos corpos dos
condenados através de um verdadeiro espetáculo e essas punições eram chamadas de
suplícios, penalidade, cujo objetivo era fazer sofrer o condenado, mutilar seu corpo e
expô-lo ao público.
Não obstante, subsistiam penas de banimento ou multa para as condutas
consideradas mais leves, porém na maioria das vezes eram acompanhadas de castigos
corporais, como um meio de explicitar o poder do soberano perante o povo.
Os nobres desfrutavam de diversos benefícios, desde penas menos cruéis até a
isenção dos impostos. Enquanto os pobres sofriam com as penas rígidas e com os
impostos regionais, uma vez que tinham de suportar o ônus no lugar dos abastados
(CHIAVERINI, 2009, p. 65).
Dessa forma, o Direito Penal passa a ser uma necessidade do Estado, “um
instrumento de preservação e de reprodução da ordem política e social, o sistema penal
absolutista reprimia as forças sociais garantindo a expansão da política mercantilista”
(CHIAVERINI, 2009, p. 70).
Os excessos do absolutismo geraram uma insatisfação das massas desfavorecidas
na Europa, que ensejaram revoltas contra o governo.
Diante do exposto, esse período foi caracterizado por penas desumanas, como
forma de confirmar o poder do monarca. O corpo do condenado passou a ser o foco da
punição, a pena de morte era um espetáculo para a plateia. E mais uma vez as punições
eram direcionadas as classes menos favorecidas.

Origem da Prisão

O sistema penal baseado no sofrimento do condenado e a pena de morte começaram a


enfraquecer junto com o absolutismo, apesar de ainda persistir. 

Os meios utilizados para conter as massas falharam, embora cruéis e rígidos, não tinham
eficácia contra a crescente criminalidade. 

Sendo assim, a pena de morte não era mais conveniente, visto que com crescimento
exacerbado da “delinquência”, dizimaria a população.

Crescia a preocupação em relação à falta de mão-de-obra que ficava cada vez mais escassa
juntamente com o interesse econômico em explorar o condenado. Fatos que levaram à ideia
de dominar os ociosos que podiam contribuir com seu trabalho e usá-los, mesmo que de
forma involuntária, a favor do capitalismo. A solução era incorporar uma disciplina, uma nova
ideologia e nesse caso foi introduzida a “ética ao trabalho”.

Nesse ínterim, surgiu o mercantilismo, criando uma nova concepção de trabalho,


gerando um movimento de modificação das penas privativas de liberdade. Começou-se a
pensar na prisão como uma penalidade em potencial (BITENCOURT, 2011, p. 30). Assim,
“todo sistema de produção tende a descobrir punições que correspondem às suas relações
produtivas”. 
Nesses contornos, “o trabalhador integrado no mercado de trabalho é controlado
pela disciplina do capital, enquanto o trabalhador fora do mercado de trabalho é
controlado pela disciplina da prisão” (SANTOS, 2010, p. 438).
Para solucionar problema da falta de mão-de-obra foram criadas as houses of
correction, denominadas de bridewells, que se espalharam pela Europa em um curto prazo
de tempo, “esse tipo de instituição foi o primeiro exemplo, e muito significativo, de
detenção laica sem a finalidade de custódia que pode ser observado na história”
Assim, surgiu primeiramente na Europa e depois foi se dissipando pelo mundo como,
por exemplo, na Holanda, na Inglaterra, nos Estados Unidos e na França, as casas de
trabalho. Para lá eram mandados os “pobres”, “mendigos”, os considerados “vagabundos”
e os apontados como “criminosos”, isto é, para lá eram enviados os que tinham tempo
disponível por não conseguirem trabalho (THOMAS apud Melossi; Pavarini, 2006, p. 36).
Nas entrelinhas, os que incomodavam o sistema capitalista.
Outrossim, era imposto o trabalho forçado e o trabalhador tinha que aceitar as
condições que lhe eram determinadas, visto que a recusa era crime.
Podemos perceber que o suposto cerne da pena não era mais o castigo, de agora
em diante propagandeava-se a suposta regeneração do indivíduo através do trabalho,
para que “recuperado” pudesse ser reinserido na sociedade.
Os jovens também eram alvos das referidas casas, buscava-se, dessa forma,
controlá-los desde logo. 
A “disciplina de berço” foi considerada o objetivo central das casas de trabalho e de
correção, dando ensejo à criação de novos estabelecimentos direcionados somente para
esse “público”, muitas vezes os jovens eram enviados para lá por vontade paterna.
Nas casas de trabalho, as atividades desempenhadas eram exaustivas, quando muito
cansados, os condenados, deviam se apegar a Deus, já que a formação religiosa era
importante para disciplina do condenado.
Além do trabalho árduo com remuneração ínfima, outros aspectos eram
desfavoráveis, quais sejam: as condições estruturais não eram apropriadas e os
condenados não sabiam por quanto tempo permaneciam nas casas de trabalho, dado que
o “criminoso” era mantido preso pelo lapso temporal necessário para sua disciplina.
E assim surgiram as primeiras instituições segregadoras, dando indícios da prisão
nos moldes atuais, voltadas para submeter à disciplina os “rebeldes”, que eram em
particular os pobres. 
 
Era essa categoria que, juntamente com os jovens, as mulheres, os doentes e as
prostitutas, deveria ser “reeducada”. 
É dizer, punidos por serem desprivilegiados sociais. 
As casas de trabalho e correção deixaram seu legado violento, cruel e estigmatizante,
como pode ser contemplado nas instituições carcerárias contemporâneas.

 Iluminismo Penal

O Iluminismo foi um movimento intelectual que teve seu apogeu no final do século XVIII. 

A sua nomenclatura decorre dos pensadores da época, que se declaravam portadores das
luzes que aclararia as trevas a que aquele período estava submerso. 
A filosofia das luzes defendia que a razão era a única forma de transpor a escuridão. De tal
modo, o discurso iluminista estava alicerçado em três convicções que se tornaram o lema da
Revolução Francesa, quais sejam: Liberdade, Igualdade e Fraternidade .

No plano político, a burguesia contestava o absolutismo monárquico e criticava também os


privilégios que a nobreza e o clero recebiam do governo. Logo, defendiam que o monarca
utilizasse o poder concentrado em suas mãos em prol do bem-estar geral.

A compreensão de que o direito de governar era divino foi perdendo força. 

A partir de então surgiu o “contrato”, que foi fundamental para o novo fundamento do
Estado, nesse sentido destacam-se Hobbes e John Locke.

Feitas tais ressalvas, no âmbito do direito penal, os trabalhos realizados pelos


intelectuais propuseram a revisão do sistema de penas. 

Ao menos no aspecto teórico, defendiam um tratamento mais humanitário para os presos. 

Os intelectuais da época censuravam o sistema da justiça penal. 

As principais críticas estavam relacionadas à representação do poder pelo clero e a confusão


entre Estado e Igreja (CARVALHO, 2010, p. 285).

Ademais, a insatisfação também estava ligada com as casas de trabalho e correção


(CHIAVERINI, 2009, p. 94). Por conseguinte, reivindicavam um tratamento mais humano e
racional na fixação das penas.

Nessa conjuntura, Cesare Bonesana, Marquês de Beccaria (1738 – 1794), publicou, em 1764, o
famoso livro Dos delitos e das penas. Seus pensamentos filosóficos foram influenciados pelas
obras racionalistas francesas. No referido livro desenvolve-se um sistema penal mais humano .

À vista disso, suas propostas revolucionárias faziam frente à sistemática do Antigo Regime, sua
obra foi considerada “o verdadeiro ponto de partida do direito penal moderno e da própria
criminologia, enquanto análise crítica do sistema penal e da reação penal como manifestação
de poder” . 

Importa observar que Bonesana enunciava a teoria retributiva. 

Assim, pregava que a prisão deveria ser humanitária, apesar de servir como sanção. 

Para ele a pena de prisão era a substituição perfeita para as punições corporais .

Ademais, a outra finalidade atribuída por ele à pena é a prevenção. 

Seu discurso era no sentido de que “o fim, pois é apenas impedir que o réu cause novos danos
aos seus concidadãos e dissuadir os outros de fazer o mesmo” (Bonesana, 2005, p. 62).

Com base no que foi relatado, Santos (2010) denota que, atualmente, a teoria de Bonesana
para a finalidade da pena é denominada de prevenção geral negativa. 

Quanto à função da pena, baseado no utilitarismo, defendia a prevenção geral e em segundo


plano a prevenção especial. 

Sua pretensão era que a prisão desestimulasse a prática de outros crimes, servindo como
alerta para todos. 
Sobre isso, Santos (2010, p. 426) aduz que “a função da prevenção geral atribuída à pena
criminal tem por objetivo evitar crimes futuros.” Subsidiariamente, admitia o fim correcional
da pena.

É inegável que com o passar dos tempos formularam-se subterfúgios para prosseguir com
o encarceramento. 

Mesmo diante de provas contundentes do fracasso da pena de prisão, continuava a insistência


de mantê-la, colocando a culpa do aumento da criminalidade na forma de executá-la e nunca
no fato de sua existência. Apesar da aparente preocupação com o ser humano, as medidas
adotadas eram somente para atender as necessidades da burguesia que utilizava o controle
social que a prisão possibilitava para chegar ao poder.

 Em resumo:

Período Humanitário ( sec. XVIII e XIX)

Nesta fase, consagra-se a primeira noção de proporcionalidade na aplicação penal, teoria que


foi criada por Cesare Beccaria, em seu livro “Dos delitos e das penas”considerado ”o
verdadeiro ponto de partida do direito penal moderno e da própria criminologia”. 

O monarca defendia a existência de um acordo social celebrado entre os cidadãos. Assim,


com fundamento nesse acordo justifica a existência da pena como um mal necessário a
qualquer ser livre que violasse o pacto. Segundo seus princípios, as penas deveriam ser
realizadas de maneira moderada e de modo a serem proporcionais ao delito cometido.

O período íluminista foi à referência inicial dessa mudança de mentalidade com relação à aplic
ação das penas. Por intervenção de Beccaria e
da sua indignação, no tocante a forma de tratamento do homem com seu semelhante,
fez repercutír seus pensamentos acerca daquela aparente e ilusória justiça. Tornando-se o pio
neiro nesta luta contra a opressão e selvageria.

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