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1 A HISTÓRIA DAS PENAS CRUÉIS NO DIREITO PENAL DURANTE A

IDADE MODERNA

O período da Idade Moderna se estendeu de 1453 a 1789, tal período foi


amplamente marcado pelo desenvolvimento comercial, consolidação da escravidão,
expansão marítima, colonização, reformas religiosas e movimentos culturais. Tais
fatores corroboraram para a transformação dos direitos na época. A Idade Moderna.
em âmbito jurídico, foi fortemente marcada por penas cruéis e desumanas, as quais
envolviam pena de morte, execuções em praça pública, entre outros. Nesse período
também era permitido o uso da tortura para conseguir informações ou confissões de
algum crime.

1.1 Estigmas do direito da Idade Média na Idade Moderna e Suas Novas


Características

Nessa época, ainda existiam muitas características associadas ao período da


Idade Média, crimes continham penas severas e aterrorizantes, não existia
legalidade, e muito menos proporcionalidade nas execuções penais. A monarquia e
o absolutismo eram os sistemas dominantes na época Moderna, eles impunham um
sistema judiciário repleto de medo e barbárie no pretexto de aplicação penal, onde
as penas eram definidas pelo âmbito do juiz, sem haver uma lei prévia. Gerando
muita desigualdade e volatilidade nas penas. No final do século XVII as penas se
tornaram ainda mais repressivas, pois pequenos crimes ou delitos poderiam levar à
execução do indivíduo.

Dentre a série de punições do período, havia a crença sobre a existência da


feitiçaria e de bruxas, e que elas poderiam legar danos a outros indivíduos, por isso
foi estabelecido a caça às bruxas. Porém, somente com a chegada do Iluminismo,
por volta do século XVII, começaram a ser exigidas provas para a acusação do
indivíduo, tornando o quesito de feitiçaria uma superstição ao invés de crime. Nessa
época, também havia penas de heresia, os protestantes, liderados por Martinho
Lutero, pregavam ideias contra a Igreja Católica. Tais indivíduos poderiam ser
acusados de heresia e classificados como seres periculosos e criminosos perante os
olhos de Deus. Eles eram punidos pela morte na fogueira, onde amarravam o
indivíduo em um poste, e o queimavam em praça pública.

Um período muito marcante nessa época, foi o de “Vingança”.

A vingança

Na Idade Moderna houve um grande aumento na desigualdade social, e,


concomitantemente a isso, houve um aumento de interesses privados nas penas
jurídicas, pois a classe mais rica da população queria possuir um maior controle
sobre a administração do Estado, influenciando na elaboração de normas
legislativas, gerando penas mais severas para crimes contra a propriedade.
Também foi pautada a severidade de crimes contra a Igreja e autoridades reais,
podendo ser executada a pessoa que não possuísse as crenças religiosas corretas.

1.2 Período de Humanização da Idade Moderna (Segunda Metade do


Século XXIII)

Apesar da Idade Moderna ter sido caracterizada pela falta de dignidade e da


legalidade nas suas penas cruéis, no final da Idade Média, foram criados os
Glosadores, e Pós-Glosadores, os quais, criaram ideias de sistematização do
Direito Penal, em especial e geral, eles também criaram a teoria do crime, e raízes
para o princípio da legalidade. Na segunda metade do século XVIII, houve uma
reação devido aos ideais Iluministas emergentes na época, liderados por
Montesquieu, Voltaire e Rousseau. Esse movimento gerou uma humanização das
penas, leis penais mais justas, causando a diminuição dos espetáculos punitivos e
evidenciando sua negatividade para a sociedade.

Juntamente com o movimento Iluminista, surgiu um grande marco do Direito


Penal, o qual contrariava as ideias do regime do terror e todas as suas crueldades.
Esse marco foi a publicação do livro “Dos Delitos e das Penas”, lançado em 1764 e
escrito pelo Marquês de Beccaria, o qual ficou conhecido como o principal
representante do Iluminismo Penal e da Escola Clássica do Direito Penal. Seu livro
instituiu três grandes vertentes, sendo eles a defesa do utilitarismo, da
proporcionalidade e da legalidade. Tais conceitos eram baseados no período
humanitário na qual a sociedade estava sendo acometida, o livro propunha a
obrigatoriedade da instauração da legalidade no meio social, na qual, uma pena só
poderia ser executada caso houvesse uma imposição prévia prevista por lei.

Beccaria também instaurou em seu livro o conceito de proporcionalidade, o


qual possuía o fito de diferenciação de penas para diversificados graus de crimes.
Havendo assim, a proporção dos crimes equivalente à das penas. Cabendo assim, a
interpretação analítica de um legislador competente. Para o Marquês:

Se fosse possível aplicar um cálculo matemático à obscura e infinita


combinação de ações humanas, haveria uma escala correspondente de
penas, da maior para a menor; mas, não sendo possível, basta ao legislador
sábio indicar os pontos principais, sem perturbar a ordem, não decretando a
delitos de primeiro grau penas de último. (Beccaria, 2012, p. 23-24).

Por fim, foi implementado em sua obra, o conceito de utilitarismo, tal conceito
buscava a aplicação de penas úteis, diferentemente do sistema em vigor na época,
o qual usava métodos cruéis, o utilitarismo também busca uma pena que aflija
menos o corpo do indivíduo, e que atinja mais a sua consciência.

O livro foi inspirado na filosofia francesa da época que continha as seguintes


características:

Contra a tradição jurídica, invoca a razão e o sentimento; faz-se porta-voz


dos protestos da consciência pública contra os julgamentos secretos, o
juramento imposto aos acusados, a tortura, a confiscação, as penas
infamantes, a desigualdade ante o castigo, a atrocidade dos suplícios;
estabelece limites entre a justiça divina e a justiça humana, entre os
pecados e os delitos; condena o direito de vingança e toma por base do
direito de punir a utilidade social; declara a pena de morte inútil e reclama a
proporcionalidade das penas aos delitos, assim como a separação do poder
judiciário e do poder legislativo (BECCARIA,1764, p. 4)

O período Moderno foi de grande importância para a evolução do Direito


Penal, pois, representava a sociedade como um todo, e, as crueldades ocorridas
finalmente deram lugar à legitimidade a partir de 1750.

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