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FACULDADE DE DIREITO
DISCIPLINA: CRIMINOLOGIA
PROF: JACKSON DNAJA NOBRE FIGUEIREDO
ATIVIDADE:
Fichamento acerca do livro “A Questão Criminal” de Eugenio Raúl Zaffaroni.
*O livro é dividido em tópicos, os quais abordam questões importantes e trazem inúmeras implicações
teóricas e práticas. Nesse fichamento irei analisar cada um, ou, pelo menos, os mais relevantes e de
maior repercussão, particularmente.
1º-“A academia, os meios de comunicação e os mortos”: Retrata a extensividade da questão
criminal, sobretudo no período pós globalização, o qual, por meio dos veículos midiáticos, possibilitou
a receptividade, pela população, dos conteúdos criminais de maneira mais abrangente, rápida e
eficiente, concorrendo com temas de grande prestígio e atenção, como o futebol. Contudo, o autor
afirma que o principal desafio desse mundo globalizado e planetário consiste na divulgação de
pensamentos distintos e no reconhecimento da existência de erros e equívocos em temas de qualquer
natureza. Concomitantemente, a questão criminal também enfrenta esse desafio e assim, torna-se
importante o cidadão comum saber que há um mundo acadêmico que também se equivoca e tampouco
é seguro que o que nele se fala seja a realidade.
2º- “Quem sabe disso?”: Aborda o seguinte questionamento: quem se ocupa academicamente da
questão criminal? O autor afirma que não basta ser penalista, ou seja, saber direito penal, para poder
opinar com fundamento científico acerca da questão criminal. Para isso, é necessário distinguir 2
âmbitos do conhecimento: o direito penal e a criminologia. O direito penal se ocupa de trabalhar a
legislação penal, tendo como principal fonte, a dogmática jurídica aplicada à lei penal. Já na
criminologia, convergem dados de diferentes fontes, como a sociologia, a história e a antropologia,
tentando entender questões como a gênese e dinâmica do crime, o criminoso, a vítima e os meios de
controle social.
4º- “A estrutura inquisitorial”: Analisa a natureza estrutural do poder punitivo, destacando suas
característica inquisitorial/demonológico. Essa natureza foi institucionalizada sob a narrativa de
“emergência”, uma ameaça que colocaria em risco toda a humanidade e assim, eliminando qualquer
obstáculo ao poder punitivo que se apresenta como a única solução para neutralizá-lo. Contudo, é
evidente que o poder punitivo não se dedica a eliminar o perigo da emergência, e sim verticalizar mais
ainda o poder social; a emergência é apenas o elemento discursivo legitimador de sua falta contenção.
5º- “Sempre houve rebeldes e transgressores”: Disserta sobre a existência, eminente à sociedade, dos
transgressores. O transgressor sempre foi um enigma, envolvento questionamentos, como o porque de
alguém desafiar o poder ou os valores dominantes, mesmo às custas de graves riscos.
6º- “As corporações e suas lutas”: Fala sobre a estruturação das primeiras corporações e lutas
sociais, sobretudo no contexto do Antigo Regime, quando o poder estatal passou a regular a vida
pública e, consequentemente, do sujeito público. A partir disso, surgiram as primeiras corporações,
centradas no discurso de limitação dessa regulação e dos privilégios estamentais.
7º- “O utilitarismo disciplinador”: Trata da influência do pós antigo regime, sobretudo do
iluminismo, na estruturação de 2 ordens criminológicas e teóricas: o utilitarismo disciplinador e o
contratualismo. O utilitarismo tem como principal representante Jeremy Bentham e tem como base o
lema de que é necessário governar proporcionando a maior felicidade ao maior número de pessoas. Pra
ele, a sociedade representava uma grande escola, na qual devia impor-se a ordem, ou seja, a chave
era a disciplina e assim, o indivíduo deveria abster-se de cometer delitos. Para Bentham, o delito
coloca em evidência um desequilíbrio, produto da desordem pessoal do infrator, que deve ser
corrigido. Essa correção manifestada o disciplinamento, o qual deveria ser levado a cabo na medida do
talião, ou seja, de uma dor equivalente à provocada pelo delito.
8º- “Os Contratualismos”: Nessa corrente, a sociedade não era em nada natural, mas sim produto de
um artifício, de uma criação humana, ou seja, de um contrato que, como tal, podia ser modificado e até
mesmo rescindido, como acontece com qualquer contrato quando a vontade soberana das partes o
decide. Foi nesse período que a questão criminal alcançou um de seus momentos de mais
elevado conteúdo pensante com os discursos dos contratualistas do Iluminismo, por meio, por
exemplo, do sancionamento de códigos. Além disso, procurava-se dar clareza e que todos
soubessem com base na lei prévia, o que era e o que não era proibido, substraindo-o da arbitrariedade
dos juízes. Desse modo, o contratualismo influenciou o cenário jurídico regente, por meio de ações
como:
1) Os julgamentos se tornaram públicos;
2) A redução da pena de morte e a supressão das penas corporais;
3) A privação de liberdade como pena central;
4) Sistema de pesos e medidas (Beccaria).
9º- “Os contratualismos tornam-se problemáticos”: Os contratualistas se ocupavam em imaginar e
programar o Estado e a questão criminal tornava-se central para eles, porque o que planificavam
conforme suas concepções era o próprio poder. Essa íntima e inseparável relação do poder com a
criminologia foi o que se perdeu de vista na última metade do século XIX, quando se quis fazer da
criminologia uma questão científica e asséptica, estranha ao poder e separada da ideia mesma de
Estado. Além disso, houve vários contratualismos, haja vista que a metáfora do contrato permitiu
construir diferentes imagens do Estado, o que possibilitou a estruturação de problemáticas e
divergências acerca de questões centrais do contratualismo.
12º- “O salto do contrato à biologia”: Com o advento da Revolução Industrial, a ciência era a nova
“ideologia” dominante. Com avanços, como a máquina a vapor, a ferrovia e a vacina, o ser humano se
tornava poderoso, podia controlar por completo a natureza e chegar a vencer a própria morte. Contudo,
essa concepção cientificista, insipirada, sobretudo, no Darwinismo Social, instituiu um reducionismo
biológico no tocante à criminologia. Dessa forma, a medida em que o cenário mundial vivenciava
inúmeros avanços, ele retrocedia séculos, por meio da justificativa biológica acerca do exercício do
poder punitivo.
13º- “Começa o apartheid criminológico”: Por meio do determinismo biológico, cujo principal
representante é Cesare Lombroso, a criminologia entra na sua fase antropólogica e passa a analisar a
essência do criminoso e os traços comportamentais, físicos e psicológicos comuns entre os indivíduos
encarcerados, assim, perpetuou-se a crença de que o comportamento criminoso era atávico, algo pré
determinado portado pelo indivíduo. Desse modo, teorias racistas, por exemplo foram amplamente
difundidas, tendo como base esse determinismo biológico.
14º- “A síntese lombrosiana: um bicho diferente”: Aborda a tendência de deduzir caracteres
psicológicos a partir de dados físicos ou orgânicos. “A origem desse suposto saber encontra-se em um
preconceito bastante absurdo, que começa com a classificação e a hierarquização dos animais. Uma vez
estabelecidas essas classificações humanas dos animais, houve quem pensasse que, devido à semelhança de
alguns humanos com certos animais, eles podiam ser caracterizados psicologicamente. Assim, o “criminoso
nato” proposto por Lombroso era explicado por sua semelhança com o selvagem colonizado, aduzindo que as
raças selvagens eram menos evoluídas do que a raça branca europeia. Em seu tempo, afirmava-se que no seio
materno se sintetiza toda a evolução, desde o ente unicelular até o ser humano completo (dizia-se que “a
ontogenia resume a filogenia”). O “criminoso nato” era produto acidental de uma interrupção deste processo,
que fazia com que, em meio da raça superior europeia, nascesse um sujeito diferente e semelhante ao
colonizado. Era, pois, um branco que nascia mal acabado, sem o último golpe de forn e portanto, era um
colonizado. Os caracteres “atávicos” que o assemelhavam ao colonizado lhe atribuíam traços“africanoides”
ou“mongoloides” (parecidos aos africanos ou aos índios).”