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CRIMINOLOGIA II

II – NASCIMENTO DA CRIMINOLOGIA

1. Surgimento da Criminologia

Não há uma unanimidade entre os autores do campo da Criminologia em apontar em que momento
histórico se deu o surgimento do estudo científico da criminologia pois os critérios e pontos de referência
para isso são distintos.

Segundo SHECAIRA, isso ocorre pois inúmeros autores do assunto, em suas obras, trabalharam o
objeto da Criminologia sem sequer se dar conta de que estavam a falar sobre o que se convencionou
atualmente denominar-se de Criminologia.

O autor exemplifica LOMBROSO, um autor italiano que nunca se reconheceu como criminólogo, e
sim como antropólogo. Outros, denominaram seus estudos de Criminologia, sem adotar porém um método
que pudesse identificar essa ciência.

Assim SHECAIRA divide a Criminologia nos momentos pré-científico e científico. Para a maioria dos
autores, o fundador da Crimonologia científica foi CESARE LOMBROSO, sendo este o fundador da
Criminologia moderna com a edição de seu livro, “O homem delinqüente” em 1876.

Para GARCIA-PABLOS DE MOLINA, citado por SHECAIRA, o surgimento da Criminologia se deu


com a “Escola Italiana”, na qual, os principais referenciais são os autores LOMBROSO, GARÓFALO e
FERRI.

Segundo indica o autor, a “Escola Italiana” lançou mão do método “empírico-dedutivo”. Outra
corrente de autores manifestam-se contra a versão de que LOMBROSO foi o pioneiro por não ter realizado
um estudo sistemático, muito embora, tenha falado sobre o delito, o controle social e a vítima, sendo
responsável por um grande impulso da Criminologia.

A palavra Criminologia foi primeiramente empregada por TOPINARD, em 1879 sendo seguido por
GAROFALO, da Escola Italiana, que usou o termo em 1885. Outros autores, acreditam ainda, que mesmo
antes da Escola Italiana (escola positivista), houve uma escola clássica, que tinha como principal
representante, CARRARA e seus seguidores, com a edição de sua obra “Programa de direito criminal” de
1859.

Para os que entendem o surgimento da criminologia como ciência na Escola Clássica, não se pode
olvidar da obra do Marquês de BECCARIA, “Dos delitos e das penas” de 1764. Para JORGE DE
FIGUEREDO DIAS e MANUEL DA COSTA ANDRADE, seria este o fundador da Criminologia.
Resumindo a discussão: dependendo da visão, a CRIMINOLOGIA pode possuir dois inícios, ambos
oriundos do ILUMINISMO:

a) Escola Positivista – Na vertente sociológica ou a biológia – que enraiza suas idéias na filosofia
racional do iluminismo;
a. Para SHECAIRA, os positivistas focaram seus olhares nos autores dp fenômeno e
encontraram o Criminoso.
b) Escola Clássica – Visão defendida por Eugênio Zaffaroni – que fundamenta suas bases no método
empírico iluminista.
a. Para SHECAIRA, os clássicos fincaram seu olhares no fenômeno e encontraram o crime.

Em conclusão, para SHECAIRA, os dois movimentos são diferentes faces de uma moeda iluminista,
tese e antítese que teve como resultado uma síntese diversa de ambos.

Neste sentido, a CRIMINOLOGIA não é obra de um livro ou de uma Escola, mas fruto de um
século em que se acentuou a criminalidade e que permitiu a criação de diversos modelos explicativos
dela.

2. Criminologia pré-científica

SHECAIRA analisa início da Criminologia pré-científica na Antiguidade e Idade Média e destaca:

1) Código de Hamurabi – Dispunha que ricos e pobres teriam penas diferentes, sendo que os ricos
seriam penalizados com mais rigor pois possuíam melhores condições materiais e culturais.
2) Código das sete partidas - Estabelecia a classificação de uma série de tipos de assassinos.
3) Criminogênese – dispunha sobre fatores que influenciavam na conduta delinqüencial tendo como
exemplo, os estudos de KROPOTKIN que baseando-se em dados climáticos criou uma equação que
determinava o número de homicídios de acordo com o clima. A fórmula era: H=T X 7 + U X 2.
4) Nas ciências ocultas – Havia a OFTALMOSCOPIA , em que verificando os olhos da pessoa se
encontrava o caráter, a METOPOSCOPIA, um estudo baseado nas rugas da pessoa e
QUIROMANCIA, pela leitura das mãos.
5) FISIONOMISTAS – preocupavam-se com o estudo da aparência externa do indivíduo, ressaltando
a relação entre o corpo e o psíquico. O grande precursor foi Giovani Della Porta, mais conhecido
como “Della Porta” que era um estudioso de filosofia, alquimia e magia natural.
a. Um grande estudioso da Fisionomia criminal foi LAVATER que dizia: “Homem delinqüente
tem maldade natural, nariz oblíquo, barba não pontiaguda, palavra negligente, olhos
grandes e ferozes, sempre irancudos, pálpebras abertas, círculos de um vermelho sombrio a
rodear a pupila, uma lágrima colocada nos ângulos inferiores, etc..”.
b. Um adepto da corrente foi o Juiz Marquês de MOSCARDI que dizia: “quando há dúvida
sobre quem é o culpado, se condena o mais feio”.
6) CRANIOSCOPIA – foi derivada da Fisionomia, desenvolvida por GALL (1758-1828). O método
era a análise da cabeça, em que era possível analisar o comportamento moral da pessoa pela análise
da cabeça.
7) FRENOLOGIA – Mais tarde, o mesmo GALL, que era um médico italiano, passou aos estudos da
mente, buscando relacionar os impulsos, com as regiões do cérebro e formato do crânio. Foi muito
perseguido pela Igreja, por ter afirmado que a mente (criação de Deus) possuía um local físico no
crânio. Para ele o crime era fruto de um mal desenvolvimento do cérebro, parcial, que levava à
conduta agressiva e patrimonialista. Isso poderia ser averiguado pela análise externa do crânio. Foi
chamado de charlatão em Viena e mudou-se para França e depois, Inglaterra, onde se estabeleceu.
a. Foi dentro do estudo da FRENOLOGIA que CUBI y SOLER (1801-1875) propôs pela
primeira vez a existência do criminoso nato.
8) PSIQUIATRIA – Vários autores podem ser citados, entre os quais, MOREL (1809 – 1873) que
assim como LOMBROSO, associou a Criminalidade à degeneração. MOREL relacionou a
degeneração à uma alteração do tipo antropológico ou do biótipo humano como patologia mental.
Tratava-se o criminoso de um tipo doentio, desviado da normalidade da humanidade, desvio
transmissível com a hereditariedade. As causas da degeneração poderiam ser várias: o uso do álcool,
o ópio, as intoxicações alimentares, as doenças infecciosas e congênitas, a imoralidade dos costumes
e as influências hereditárias.
a. Neste sentido, importante a menção de PINEL que foi quem distinguiu a condição de
delinqüente e enfermo mental. Antes dele, o louco era considerado “possuído pelo Diabo”, e
a partir dele, passa o louco a ser entendido como um enfermo. É daí que surgem as teorias
humanitárias de tratamento do louco.
9) ESCOLA CARTOGRÁFICA – Tem como maior precursor, o belga QUETELET, formado em
Matemática e Estatística que trouxe importantes contribuições, para a criminologia de caráter
sociológico e que desenvolveu a expressão “homem médio” a partir de pesquisas censitárias. Seus
estudos sobre o crime estimularam a discussão sobre o livre-arbítrio e determinismo. Para ele, “o
delito não era estudado como um fenômeno das massas, e sim, um resultado da sociedade,
concluindo a criminalidade como uma função matematicamente representável mediante análise dos
momentos sociais e econômico”.
a. QUETELET foi o primeiro a falar que o único método para a análise do fenômeno criminal
era a estatística, método desenvolvido posteriormente no século XX, com a Escola de
Chicago.
10) NECROPSIA – Foi desenvolvida por Alexandre LACASSAGNE que buscava nos cadáveres, a
balística, ou seja, determinar a arma da qual saiu o projétil.
a. LACASSAGNE foi explícito opositor de LOMBROSO, por dizer que havia somente dois
fatores que influem na consecução do ato criminoso, que são: a)os predisponentes; b) os
determinantes sociais.
b. Dessa idéia surge a noção de que quanto mais desorganização social houver, mais crimes
haverá. Mediante essa visão cria a célebre frase: “cada sociedade tem o criminoso que
merece”.
c. Assim, para o autor em questão, é a miséria que cria o maior número de criminosos.

3. A influência de CHARLES DARWIN

Tanto LAMARCK quanto CHARLES DARWIN, trouxeram contribuições importantes para os rumos
da criminologia quando mencionaram que “os caracteres adquiridos em função da necessidade do meio são
transmitidos aos descendentes”.

A conclusão de LOMBROSO, da degeneração, poderia ser fruto desse pensamento em sentido


inverso, de forma que, o “crime poderia ser causado por uma regressão – espécie de involução – já que os
seres evoluíam e eram solucionados pelo meio”.

4. GABRIEL TARDE

Discípulo de LACASSAGNE, Gabriel TARDE também foi um grande opositor da Escola Italiana. Foi
opositor de LOMBROSO e seu ideário de degeneração e condição de regressão atávica do delinqüente.

Também foi opositor de GAROFALO, entendendo que os determinantes da criminalidade não tem
influencia física, mas causas sociais, que poderiam ser identificadas pela estatística, dizendo que a “escola
do crime”, está na praça e na rua onde crescem as crianças mediante as “leis da imitação” (as pessoas
tendem a imitar os comportamentos, buscam imitar os superiores: o pobre imita o rico e a moda mais nova
substitui a mais antiga) e nesse sentido, passa também a estudar as influências dos meios de comunicação.

Apesar de críticas que soam frescas até para os dias de hoje, para SHECAIRA, nenhuma escola teve
tanta repercussão quanto o positivismo italiano liderado por LOMBROSO, FERRI e GAROFALO, “seja
pelas polêmicas causadas, seja pelo marco histórico representado”.

III - CRIMINOLOGIA CLÁSSICA

1.Marco histórico

A perda de poder econômico pelos senhores feudais que gera também a perda de poder político são
conseqüências do enriquecimento dos burgueses que passam a deter o poder econômico e como e o poder
político.
A revolução francesa elimina o vínculo senhores feudais e servos, os camponeses libertos tornam-se
proletários e necessitam aprender a ser operários.

Não se pode esquecer que havia por parte da burguesia uma tolerância com os delitos cometidos pelos
servos, entretanto quando estes ascendem, isto é passam a ser os donos dos meios de produção, há
necessidade de uma política para coibir os comportamento antes tolerados.

Com a ajuda da “economia política” isso se tornou possível pois esta determinava que o principio
orientador das ações do Estado era o menor gasto, assim, a racionalidade do Estado Liberal buscava
governar menos do que o Estado medieval. Aí é que FOUCAULT aponta o NASCIMENTO DA
BIOPOLÍTICA que corresponde à descoberta da população, ou seja, a descoberta da possibilidade de
exploração da população para o alcance de riquezas, ao contrário do Absolutismo que só buscava riquezas
no homem, quando confiscava propriedades.

Para governar menos e com menos gasto, o Estado Liberal adotou o Direito e as Leis , pois este
proporciona uma melhor forma de controle, e mais econômica, em que as pessoas se autocontrolam, e as
regras passam a ser o dever de todos. A população controla a si mesmo.

Ideologicamente a mudança é trabalhada por Hobbes, que defende a existência de um Estado


soberano, por Locke que elabora as bases do pensamento liberal referindo a um contrato que legitimaria o
poder apenas na medida em que este servisse para regular ou supervisionar os direitos naturais, para cuja
definição se formaria o pacto.

Para Rousseau, para quem o pacto social não tem como objeto a defesa de interesses individuais, mas
a submissão à vontade geral , que seria algo mais que a soma dos interesses individuais.

Dessa forma tem-se o modelo sociológico de consenso, que legitima o poder e todas as manifestações
de controle desse poder, o Código Penal é então um monumento incontestado e incontestável. Define o bem
e o mal, dele derivando uma criminologia acrítica e submissa. O Direito e o seu ritual de cumprimento
bastam para legitimar o poder.

Segundo SHECAIRA, a Escola Clássica se caracteriza por “ter projetado sobre o problema do crime
os ideais filosóficos e ethos político do humanismo racionalista”. Uma vez pressuposta a racionalidade do
homem, caberia indagar apenas a racionalidade da lei.

Embora se diga que o pensamento clássico se inicia no século XIX, é com BONESANA e
BECCARIA que se “fincam os pilares que permitiram construir o arcabouço teórico do classicismo”. Para
SHECAIRA, o livro que abre as portas desse período foi “Dei delitti e dele pena” de BECCARIA.

As sínteses dessa obra são influenciados pela exigência política de limitar-se a opressão (contra o
sistema arbitrário das soberanias medievais) impulsionados pelo contratualismo de Rosseau e jusnaturalismo
de Grócio.
A idéia da existência de um Direito Superior, natural ao homem (embora decorrente de um contrato) e
estranho às forças históricas, que é resultante da natureza do homem (imutável) é que orientou esse
pensamento.

Segundo SHECAIRA, concepção filosófica penal de BECCARIA foi a maior expressão da hegemonia
da Burguesia no plano das idéias penais pela necessidade da alteração das estruturas políticas e econômicas.

Neste sentido BECCARIA defendia a existência de leis simples e conhecidas pelo povo e de
obediência pelo cidadãos. Para BECCARIA, somente as leis poderiam ser fundamento da pena, afastando o
livre arbítrio dos juízes que aplicavam sanções arbitrariamente.

Neste sentido, a única coisa que é comum a todos os delitos é a reação que determinam e que
seriam aplicadas a todos. A Escola Clássica de direito penal é uma criminologia também denominada
administrativista e legal, uma forma de controle social fundante da nova ordem estabelecida, pela via
da dominação legal.

É importante observar que a Escola liberal clássica, segundo BARATTA, não considerava o
delinqüente como alguém anormal, não partia da hipótese de um rígido determinismo, se focava no delito
como um conceito jurídico, isto é além da violação do direito estava também a violação daquele pacto social
que estava na base do Estado e do Direito.

Assim, o delito surgia:

A – da livre vontade do indivíduo e não de causas patológicas e, por isso do ponto de vista da
liberdade e da responsabilidade moral pelas próprias ações, o delinqüente então não é visto como diferente;

B – Em conseqüência o Direito Penal e a pena eram considerados pela Escola Clássica não tanto como
meio para intervir sobre o sujeito delinquente, modificando-o, mas sobretudo, como instrumento legal para
defender a sociedade do crime, criando se fosse necessário um dissuasivo, ou seja uma contramotivação em
face do crime.

2. Teoria do Direito Penal Liberal

São características do Direito Penal Liberal:

1) Princípio da legalidade: puçás leis, claras e inequívocas;


2) Não-retroatividade: para o presente e futuro;
3) Codificação: para evitar as contradições;
4) Interpretação disciplinada da Lei: segurança jurídica;
5) Equivalência entre delito e pena;
6) Garantias processuais.
7) Livre arbítrio:
8) Garantir a genuidade do contrato;
9) Todos são iguais, são responsáveis;
10) Proporção entre delito e pena.

O pensamento clássico, assim como seu principal precursor, BECCARIA, defendeu o fim das penas
cruéis e capitais, contra a tortura, os julgamentos divinos, e ainda, as que recaem sobre a família do
condenado. Para ele, o rigor do castigo conta menos do que a duração da pena, sendo importante não o rigor
da lei, mas efetividade do cumprimento da pena.

Assim, dos delitos e das penas, é considerado por SHECAIRA como pedra angular do pensamento
clássico e burguês em matéria penal, tendo sido a maior fonte de críticas pelos pensadores positivistas.

Segundo SHECAIRA:

“Para o pensamento utilitarista, a pena era uma forma de curar uma enfermidade moral,
disciplinando o instituto dos pobres com prêmios e castigos, em uma espécie de talião
disciplinador. Para a Criminologia clássica, fundada no contratualismo de uma burguesia em
ascensão, a pena era a reparação do dano causado pela violação de um contrato (o contrato
social de Rosseau). No direito civil, quando uma parte viola um contrato, surge a reparação
como resultado inevitável daquele descumprimento. No direito penal de uma sociedade baseada
metaforicamente nesse contrato, não há como evitar a necessária reparação do dano por meio
da pena. Daí é que surgem penas certas e determinadas, como decorrência dessa matemática
reparatória. Tal medida conduz a criação dos Códigos Napoleônicos e o Código do Império
brasileiro de 1830 que impôs penas fixas”.

O pensamento clássico possui ainda outros grandes expoentes:

1) FEUERBACH, na Alemanha.
2) MELLO FREIRE, em Portugal.
3) FILANGIERI (1752 – 1788), PELEGRINO ROSSI (1768-1847), CARMINAGNI (1768-1847),
ROMAGNOSI (1761 – 1835) e CARRARA (1805-1888), na ITÁLIA.

Para CARRARA, o crime não é uma ação, mas uma infração, que em sua essência consiste em uma
violação de um Direito como exigência racional e não como norma de direito positivo, em alusão ao
pensamento contratualistas.

3. Conclusões sobre a Escola Clássica

Assim para os clássicos:


1) O crime provém de um livre arbítrio em violar o contrato social;
2) A pena é uma forma de retribuição ao mal causado;
3) A pena tem como objetivo o restabelecimento da ordem externa violada;

Os problemas encontrados por essa Escola foram:

1) O postulado da racionalidade pura não era absoluto, ou seja, supõe que todos os homens possuem um
mesmo modo de ser no que diz respeito aos processos pessoais, biopsicológico, e de motivação do
ato delituoso.
2) O efeito dissuasório da pena não se mostrou efetivo, havendo a reincidência.
3) A aplicação rigorosamente igual da lei não é possível, havendo momentos de diferença entre a
intenção do legislador e aplicação da lei no caso concreto.
4) As esperanças ideológicas otimistas da sociedade burguesa de que o capitalismo por si só se
regularia trazendo uma maior igualdade social não se efetivaram;
5) A revolução industrial e explosão demográfica levaram a um aumento da dimensão da criminalidade.

III – ESCOLA POSITIVISTA

1. Positivismo LOMBROSIANO

Em 1876, quase um século depois da publicação do livro de Beccaria, “Das penas e dos Delitos”
referência da Escola Clássica, surge o livro “ O Homem Delinquente”, de Cesare LOMBROSO (1835-
1909).

Esse livro inaugura âmbito da Criminologia denominado científico. Pode-se dizer, neste sentido, que
assim como BECCARIA, LOMBROSO também foi produto de seu meio. SHECAIRA explica que cada um
desses autores defenderam em suas obras, visões ideológicas dominantes da época, não podendo ser
chamados de “inovadores” e apesar de seu pensamento parecer bizarro nos dias atuais, no período em que
foi escrito, as idéias de LOMBROSO eram muito aceitas.

Para fazer seu próprio retrato do delinqüente, LOMBROSO partiu da visão dos já mencionados
FISIONOMISTAS, pois aprofundou seus estudos nas características fisionômicas a partir de dados
estatísticos.

Entre os objetos de análise fisionômica de LOMBROSO estavam incluídos: tamanho do tórax,


tamanha das mãos, pernas, a quantidade de cabelo, o peso, a incidência maior ou menor de barba.
Adotou em suas análises métodos da FRENOLOGIA para examinar cabeças, pesando-as, medindo-
as com o objetivo de contribuir com métodos científicos para o estudo do criminoso nato.

Dentro da influencia da FRENOLOGIA realizou estudos voltados à medição da capacidade craniana,


capacidade cerebral, circunferência, formato, diâmetro, feição, índices nasais, detalhe da mandíbula, dados
que eram relacionados à distribuição das pessoas conforme as regiões da Itália havendo um critério
biológico-ambiental. Grande parte de suas pesquisas foram realizadas em Hospitais, Manicômios e
Penitenciárias.

De seus antecessores não trabalhou somente a noção de criminoso nato, mas também, de atavismo e
de “espécie não evolucionada”.

Degeneração e Atavismo

A noção de degeneração foi retirada da psiquiatria e se relacionava aos loucos morais buscando
explicar a origem dos primeiros delinquentes. Assim, os primeiros delinquentes eram pessoas imorais que
passaram tal personalidade desviada aos seus herdeiros genéticos que nasceram criminosos natos, pois são
fruto de uma involução.

Ou seja, realizando uma inversão na lógica de Charles Darwin sobre a escolha natural, ou seja, em
razão das característica do meio, os seres irão mudar, evoluir, representando uma adaptação da espécie, pela
involução é quando hereditariamente se passa genes que trazem não uma evolução, mas uma involução
moral, trazendo a noção de criminoso nato como um ser atávico uma mutação resultado de valores imorais,
algo que se passa de pai para filho.

Contudo, apesar de muito influenciado pelos conhecimentos daquele período, segundo SHECAIRA,
a genialidade LOMBROSO se caracterizou pela inserção do método empírico no estudo da criminalidade.
Ou seja, o ato de inserir o método científico (mediante a comparação e estatística) fez com que a análise da
criminalidade se tornasse científica a partir do método empírico-indutivo, algo que não foi feito pela Escola
Clássica, que possui como método a análise filosófica do contratualismo muito criticada nesse período do
positivismo, justamente por falta de uma cientificidade e vinculação absoluta à Filosofia.

Mediante tal método, LOMBROSO buscou afirmar que o crime é um fenômeno biológico e não um
ente jurídico como sustentavam os Clássicos. Para LOMBROSO o criminoso é um ser atávico, que
representa a regressão do homem à um ser primitivo.

Para LOMBROSO o criminoso é:

1) Um ser atávico;

2) Um selvagem que já nasce delinquente;

3) Um ser retardatário já superado pela humanidade.


O fundamento da degeneração

A visão de Lombroso sobre as causas da degeneração decorre de uma autopsia que realizou em
Villela, uma assaltante calabrês. Este possuía uma fossa occipital igual a dos vertebrados superiores, mas
diferente do Hommo Sapiens. Ao analisar o crânio do soldado MISDEA, responsável por “crimes de
sangue” era portador da “Epilepsia Larvar” em que as convulsões se substituem por impulsos violentos.

Assim para ser criminoso o indivíduo estava inserido em alguma das anomalias:

a)Atavismo

b)Degeneração pela doença;

c) Criminoso nato.

As características desses indivíduos era:

a) Fronte fugidia, assimetria craniana, cara larga e chata;

b) Grande desenvolvimento das maças dos rosto;

c) Lábios finos;

d) Em sua maioria, canhotos;

e) Cabelos abundantes, barba rala; olhar errante e móvel.

f) Assassinos possuíam olhar duro, vítreo, injetado de sangue.

g) O homem é mais inteligente que a mulher.

h) Na mulher se apresentam outras características.

Sobre a influência do meio em relação ao criminoso, como forma de afastar a tese do criminoso nato,
LOMBROSO se manifestou não pela negação dos fatores externos (exógenos) mas defendia a posição de
que estes representavam somente desencadeadores dos verdadeiros fatores clínicos (endógenos).

Segundo SHECAIRA, para o positivismo criminológico de LOMBROSO, o criminoso sempre nasce


criminoso, o que implica em uma crença em uma espécie de determinismo biológico em que a liberdade
humana , o livre arbítrio é uma mera ficção.
Críticas ao positivismo de LOMBROSO:

1) Carência de base empírica;

2) Se o criminoso era um ser selvagem as tribos deveriam ter alto índice de criminalidade;

3) Alguns traços anatômicos apontados por ele como de criminoso podiam ser observados em outras
pessoas;

4) O criminoso é analisado exclusivamente pelos fatores biológicos.

5) Há milhares de epiléticos que nunca cometeram crimes.

6) Assim, os fatores biológicos somente poderiam ser admitidos se compatibilizados com os sociais.

2. O positivismo de Enrico FERRI (1856-1929)

Continuando os estudos de seu sogro LOMBROSO, ficou mundialmente conhecido pelas discussões que
travou em razão da reação dos criminólogos clássicos.

FERRI foi o criador da chamada Sociologia criminal, e diferente de LOMBROSO, suas perspectiva de
análise voltou-se para a Sociologia como forma de compreensão mais larga da criminalidade.

Para FERRI o complexo fenômeno da Criminalidade decorria de fatores antropológicos, físicos e sociais.
Manteve-se dentro do positivismo e seu método classificatório, contudo cria uma nova classificação de
criminosos em que predominou os fatores sociais.

Em sua obra criticou o livre arbítrio como fundamento da imputabilidade que para ele era mera ficção,
sendo a razão e o fundamento para da reação punitiva, a defesa social, que se promove mais pela prevenção
do que pela repressão dos fatos criminosos.

Classificação dos criminosos em FERRI:

1) Nato – era o criminoso da classificação de LOMBROSO; Caracterizava-se pela impulsividade,


precoces e incorrigíveis.

2) Louco – era levado ao crime não somente pela enfermidade moral, mas também pela atrofia do senso
moral que é sempre a condição decisiva da delinquência;

3) Habitual – preenche um perfil urbano, nascido e crescido em um ambiente de miséria moral e


material, começando com faltas leves até um escalada ao crime. Grave periculosidade e fraca
readaptação. Se encaixa nos mais criminosos.
4) Ocasional – é aquele sujeito à influencia das circunstâncias ambientais como imjusta provocação e
necessidades familiares. É o de menor periculosidade e melhor adaptação.

5) Passional – aquele movido por paixões pessoais e também políticas e sociais.

O positivismo de GARÓFALO (1851-1934)

Foi o terceiro grande nome do positivismo italiano.

Para ele o crime sempre está no indivíduo e é uma revelação de uma natureza degenerada, quaisquer
que sejam as causas da degeneração: antigas ou recentes.

Introduz o conceito de temibilidade que sustenta ser a perversidade constante e ativa do delinquente e
a quantidade do mal previsto que deve se temer.

Tal concepção foi fundamental para a noção de periculosidade que foi o fundamento das “medidas de
segurança”. Esta era o instrumento de contenção da temibilidade.

Com o fim de proteger a sociedade, se analisava exames que poderiam detectar a inadaptabilidade
social do delinquente bem como seu perigo social, escolhendo a medida de segurança como forma de
proteção da sociedade que seria uma detenção para o tratamento.

Sua grande contribuição foi a construção do conceito de delito natural, ou seja, aquele delito universal a
todos as culturas e sociedade verificado em todas as leis no diversos locais do mundo como o roubo e o
homicídio por mera brutalidade..

O delito natural passa a ser apresentado como violação daquele sentido moral consistente nos
sentimentos altruístas como piedade e probidade presente nas raças humanas superiores.

Assim o principal elemento para o crime não é a violação da lei, mas a existência de pessoas que violam
o senso moral universal e neste caso é que recomeçam as discussões sobre a pena de morte.

O que há de comum nas três visões:

1) O crime passa a ser concebido como fenômeno natural e social sujeito às influencias do meio de
múltiplos fatores;
2) A responsabilidade penal é uma responsabilidade social por viver o criminoso em sociedade tendo
por base periculosidade.
3) A pena é uma medida de defesa social, visando a recuperação do criminoso e tal medida, ao
contrário do pensamento dos clássicos, deve ser por tempo indeterminado (medida de segurança) e
não determinado.
4) O criminoso é sempre um anormal permanente ou temporariamente.

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