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Anotações de Direito Penal do Curso Preparatório Pró-labore. Turma de Delegado.

19/02/2018

Professor: Franklin Higino.

Indicação de Livros: "Princípios Básicos de Direito Penal". Francisco de Assis Toledo e Código Penal Comentado
do Rogério Greco.

Sobre questões de concurso passíveis de anulação: STF decidiu que o Judiciário não pode examinar mérito do
ato administrativo, apenas examinar se o conteúdo pedido na prova está no edital do concurso.

OBS: A matéria Ação Penal não será abordado, pois será vista em Processo Penal.

PRINCÍPIO PENAIS

Fundamentam a aplicação do Direito Penal moderno e limitam o poder/dever de punir do Estado. Há


princípios de Direito Penal que estão expressos apenas na Constituição, outros estão na CRF/88 e ao mesmo
tempo no Código Penal e alguns princípios penais estão implícitos na CRF/88.

PRINCÍPIOS PENAIS EXPRESSOS APENAS NA CRF/88

Os princípios que aparecem apenas na CRF/88 estão todos no artigo 5º. O princípio do contraditório,
apesar de ser um princípio expresso na Constituição, não é um princípio penal, mas processual.

PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL SEVERA /PREJUDICIAL (art. 5º, XL, CF/88)

A lei penal nova que prejudica o agente de qualquer forma (lex gravior) não pode retroagir para
alcançar fato praticado antes da sua vigência, sob pena de ofensa à Constituição e ao princípio da
irretroatividade da lei penal mais severa.

A "lex gravior " (lei mais severa) pode surgir como "novatio legis incriminadora", quando a lei penal
cria um delito (Ex.: art. 311-A CP, incluído pela Lei 12.550 de 2011) ou "novatio legis in pejus", quando a lei
agrava uma situação delituosa já existente. Diante da "novatio legis in pejus" utiliza-se o princípio da
irretroatividade da lei penal mais severa.

Exemplo 1: "novatio legis in pejus" O crime do art. 342 CP (falso testemunho ou falsa perícia) possuía
pena de 1 a 3 anos, mas foi alterado pela Lei 12.850/2013, que estipulou pena de 2 a 4 anos, de forma a não
comportar mais suspensão condicional do processo (SURSIS processual), pelo que, pelo princípio da
irretroatividade da lei penal mais severa, não poderá retroagir para alcançar crimes anteriores a essa Lei.
Exemplo 2: O art. 109, VI, CP que trata de prazos de prescrição, foi modificado pela Lei 12.234 de
06/05/10, aumentando de 2 para 3 anos o prazo de prescrição quando a Pena Privativa de Liberdade máxima
prevista for inferior a um ano, sendo, portanto, impossível que retroaja (irretroatividade da lei penal mais
severa).

Diante da "novatio legis incriminadora", utiliza-se o princípio da anterioridade da lei penal, que será
visto mais adiante.

PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA / PESSOALIDADE / PERSONALIDADE (art. 5º, XLV, CF/88)

Nenhuma pena pode passar da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano (não é
pena, é efeito da condenação) e o perdimento de bens ser executado contra os herdeiros, na medida do
patrimônio que foi transferido. O art. 32 do CP elenca as seguintes penas: Pena Privativa Liberdade (PPL), Pena
Restritiva de Direitos (PRD) e pena de multa. Entre as Penas Restritivas de Direitos (PRD) temos o rol elencado
pelo art. 43 do CP: Prestação Pecuniária (PP), Prestação Inominada (PI), Perda de Bens (PB), Prestação de
Serviços à Comunidade (PSC), Interdição Temporária de Direitos (ITD) e Limitação de Fim de Semana (LFS). O
princípio da intranscendência não comporta exceções. Exemplo: havendo a morte do agente (art. 107, I, CP)
nenhuma pena, ainda que transitada em julgado, poderá ser executada contra o patrimônio dos herdeiros,
pois estará extinta a pretensão executória do Estado, sob pena de violação ao princípio da intranscendência.

Por outro lado, o perdimento de bens do art. 91 do CP é efeito genérico da condenação, tratando-se
de perdimento do patrimônio ilícito, não se confundindo com a pena de perdimento de bens, a qual não pode
passar da pessoa do condenado.

PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA (art. 5º, XLVI, CF/88)

A primeira fase da aplicação desse princípio é a cominação da pena feita pelo legislador que, levando
em consideração a gravidade em abstrato de cada crime, individualiza a pena. Na fase judicial o juiz
individualiza a pena ao transformar a pena abstrata (mínima e máxima) em concreta e aplicá-la ao agente. A
individualização da pena pode ser melhor compreendida observando o disposto no art. 59 do CP, o qual
trabalha o princípio da individualização da pena através das circunstâncias judiciais para auxiliar o Juiz na
escolha das penas dentre as cominadas.

Exemplo 1 : O art. 156 do CP (furto de coisa comum), por exemplo, tem pena de 6 meses a 2 anos de
detenção ou multa. Assim, o juiz deve socorrer-se dos critérios do art. 59 para fundamentar a escolha da pena.
Exemplo 2 : No art. 155, 2º, CP (furto "privilegiado", que é o furto de pequeno valor praticado por
agente primário) pode o juiz substituir a reclusão por detenção, ou reduzir de 1/3 a 2/3 ou aplicar apenas
pena de multa. Em qualquer dos casos, deverá fundamentar sua decisão pelo art. 59 CP.

A individualização da pena abrange tanto a escolha, quanto a quantificação a pena (art. 68, CP), a
definição do regime inicial do cumprimento e, se houver, a substituição da PPL pela PRD ou multa substitutiva.

Implicações do Princípio da Individualização das Penas:

 O art. 2º, §1º, da Lei 8.072/90 (Lei dos crimes Hediondos) obrigava o juiz a aplicar o regime inicial
fechado para crimes hediondos ou equiparados, ignorando o princípio da individualização das penas.
STF declarou, em controle difuso, que regime fechado inicial com fundamento apenas na lei dos
crimes hediondos viola o princípio constitucional da individualização da pena.

 O art. 33, §4º e art. 44, "CAPUT", ambos da Lei de drogas (Lei 11.343/06) vedava a conversão
(substituição é o termo correto) da PPL em PRD para o tráfico de drogas, tão somente pela gravidade
em abstrato do crime de tráfico de drogas, violando o princípio constitucional da individualização das
penas. O pleno do STF, em controle difuso, ao julgar o HC 97.256/2011, declarou inconstitucional a
expressão "vedada a sua conversão em PRD", retirando a sua eficácia. Assim, é possível que traficante
possa ser beneficiado com substituição de PPL por PRD.

PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA / ESTADO DE INOCÊNCIA / PRESUNÇÃO DE NÃO-CULPABILIDADE (art. 5º, XLVII)

Somente após o transito em julgado da sentença penal condenatória do art. 387 do CPP é que se pode
afirmar a culpa de alguém. Consequentemente, o STJ, pelo Enunciado 444 determinou que Inquéritos policiais
e processos em andamento não podem repercutir na aplicação da pena base, não configurando antecedentes,
tampouco podem ser utilizados como conduta social ou personalidade negativa.

O tema foi julgado em 2014 com repercussão geral pelo STF que adotou, basicamente, a mesma
redação do STJ.
PRINCÍPIO DA HUMANIDADE OU LIMITAÇÃO DAS PENAS (art. 5º, XLVII e XLIX, CF/88)

Prisão perpétua, banimento, trabalhos forçados são penas proibidas. OBS.: proíbe-se o trabalho
forçado, mas o trabalho prisional, com exceção do preso provisório e o preso político, é obrigatório, pois tem
como objetivo a reinserção social.

PRINCÍPIO EXPRESSOS NA CONSTITUIÇÃO (todos no art. 5º) E TAMBÉM NO CÓDIGO PENAL

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ou RESERVA LEGAL (art. 5º, XXXIX CF/88 e art. 1º, CP)

Somente a lei em sentido estrito pode definir o crime e cominar (definir) a pena. Costume não pode
definir crime, mas apenas lei escrita, estrita, prévia e certa. Municípios e assembléias legislativas não podem
legislar sobre direito penal. Apenas o congresso nacional através de lei ordinária ou complementar federal.
OBS.: O termo reserva legal é mais científico e deve ser usado em 2ª etapa de concursos e prova oral.

Infração penal é gênero que se divide em duas espécies: crimes (delitos) e contravenções. Crime ou
delitos são infrações penais punidas com pena de reclusão ou detenção, cumulada ou alternada com a multa.
Contravenções são infrações penais punidas com prisão simples, cumulada ou alternada com multa, ou
apenas pena de multa. Contravenção penal também se submetem ao princípio da legalidade, não podendo ser
definida por costumes.

Exemplo de crimes: Art. 235, CP (bigamia). Pena de reclusão ou detenção de 1 a 4 anos (o legislador deixou a
cargo do juiz a escolha entre detenção e reclusão - o mesmo ocorre com o crime do art. 306, P. único, CP); art.
39 da Lei 11.343/2006 (lei de drogas), pena de 6 meses a 3 anos de detenção e, no Parágrafo único, diz pena
de 4 a 6 anos, mas não diz se é detenção ou reclusão. Por não ser permitido em Direito Penal analogia in
malam partem, deve ser entendido como pena de detenção.

Tipos de Sanção penal: Pena Privativa de Liberdade (PPL), Pena Restritiva de Direitos (PRD), pena de multa e
medida de segurança.

OBS: A MEDIDA DE SEGURANÇA é espécie de pena aplicada aos inimputáveis do art. 26 CAPUT (doença mental
ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado), bem como ao semi-imputável do art. 98, ao qual se
pode aplicar o sistema vicariante (substitutivo), substituindo a pena por medida de segurança. A medida de
segurança também se submete ao princípio da legalidade, não podendo ser aplicada por costume.

Ao inimputável do art. 27 (menor de 18 anos) aplica-se medida socio-educativa através da vara de


infância e juventude. OBS.: para prisão preventiva o STJ permite examinar o período da inimputabilidade
através da Certidão de Atos Infracionais (CAI), o que não vale para antecedentes, nem para reincidência, mas
serve para examinar reiteração da infração penal e, como forma de garantir a ordem pública, realizar a prisão
preventiva. O inimputável do art. 28, §1, CP (embriaguez acidental completa) é isento de pena.

Em consequência à adoção do princípio da legalidade ou reserva legal pela CRF/88, tem-se que é
impossível aplicar analogia "in malam partem" em Direito Penal. Ou seja, não se pode usar analogia para criar
crimes, cominar ou aumentar penas. Existe analogia quando o legislador não trata de determinado assunto,
não faz previsão, havendo uma lacuna que precisa ser preenchida através de analogia, o que nunca pode ser
feito de forma a prejudicar o agente.

OBS.: A interpretação analógica é permitida no Direito Penal. Interpretação analógica é forma de


interpretação extensiva estipulada por vontade do legislador.

Exemplo 1: a expressão "ou por outro motivo torpe" do art. 121, §2º, I, CP.
Exemplo 2: "§3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico."
O furto, que é um crime instantâneo, nessa situação específica do furto de energia elétrica, torna-se crime
permanente (doutrina chama de crime eventualmente permanente).

QUESTÃO: Mévio, sendo reincidente em crime culposo, possuindo antecedentes criminais, pratica
crime comum (não hediondo nem equiparado) e é condenado a 12 anos, em regime inicialmente fechado, em
sentença penal condenatória transitada em julgado. Esse caso comporta a medida prevista no art. 83 do CP
(livramento condicional)?

R: Trata-se de caso não previsto pelo legislador. Há uma lacuna que deve ser preenchida, admitindo-se
a analogia "in bonam partem". Nesse caso, utiliza-se a regra mais favorável: cumprir 1/3 da pena para
obtenção do livramento condicional.

QUESTÃO: Mévio, funcionário público, é diretor de uma autarquia e praticou crime de peculato (art.
312). Pode ser aplicado a Mévio o aumento de pena de 1/3 do art. 327, §2º, CP? R.: Não, sob pena de analogia
in malam partem, pois não há no dispositivo a palavra autarquia.

Outra consequência da adoção do princípio da legalidade no texto constitucional é a impossibilidade


do emprego ou utilização de Medida Provisória (MP) em Direito Penal, conforme art. 62, §1º, I, "b", CF/88.
Contudo, parte da doutrina admite que MP pode beneficiar o agente, como por exemplo, extinguindo uma
causa de punibilidade (doutrina chama de MP do bem).

PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE (art. 5º, XXXIX CF/88 e art. 1º CP)

É desdobramento do princípio da legalidade e impede a aplicação de lei penal que estabelece novo
crime ou pena a fato praticado antes da sua vigência. A lei penal que cria delito ou a pena possui apenas
ultratividade, não pode retroagir. A lei penal deve ser prévia, estrita, escrita e certa (lex praevia, lex stricta,
lex, scripta e lex certa).

QUESTÃO: Mévio, em outubro de 2011, fazendo prova para concurso púbico, retira um gabarito do
bolso e começa a transcrever para a folha de respostas. Iniciou-se um inquérito policial e o promotor ofereceu
denúncia (art. 41 CPP) em março de 2012, com base no art. 311-A CP e o Juiz de Direito recebeu a denúncia
(art. 396 CPP) mandando citar o réu para responder à acusação. O Juiz de Direito acertou?

R: Apesar da conduta se amoldar ao tipo penal do Art. 311-A, o mesmo foi acrescentado pela Lei
12.550 de 15/12/2011, não podendo a lei que definiu o delito alcançar fato cometido antes da sua vigência,
em razão do princípio da anterioridade.

PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE DA LEI PENAL BENIGNA/ MELHOR/ BENÉFICA (art. 5º, IV, CF/88 e art. 2º CP)

A lei penal pode retroagir para beneficiar o agente, ainda que haja sentença condenatória transitada
em julgado, sendo de competência do juiz da vara de execuções penais (art. 66, I, da LEP, Lei 7210/04 e
Súmula 611 STF). A lei penal que de qualquer forma beneficiar o agente será aplicada a qualquer fato
praticado antes da sua vigência, ainda que já exista definitiva condenação, quando a competência será do Juiz
da Vara de Execuções Penais.

Exemplo1: alteração do art. 288 CP pela Lei 12.850 de 19/09/2013 alterando a pena, em seu parágrafo único.
O aumento de pena que antes era de duas vezes passou a ser de 1/2.

Exemplo2: Lei 12.850/2013 (Lei das organizações criminosas) retirou do art. 288, P. único, CP a majorante x2
do antigo crime de quadrilha ou bando com emprego de arma. O crime passou a se chamar associação
criminosa e a majorante do emprego de arma de fogo passou a ser de até a metade. Trata-se de uma "Lex
mitior" na espécie "novatio legis in mellius".

A lei penal mais benéfica em vacatio legis, embora haja divergência na doutrina, é de entendimento
majoritário que não poderá ter seus efeitos adiantados para ser aplicada antes de sua entrada em vigor. Até
porque pode ser revogada antes mesmo de entrar em vigor.

ABOLITIO CRIMINIS

É a lei nova que retira o caráter criminoso do fato (art. 107, III, CP). Tem natureza jurídica de causa
extintiva de punibilidade.

Exemplo: Crime de sedução, antigamente previsto no art. 217 do CP, foi varrido do código penal pela
Lei 11.106 publicada em 29/03/2005, que descriminalizou a conduta, extinguindo a punibilidade e cessando a
execução e os efeitos penais, tais como a reincidência, ainda que o agente tenha sido condenado por sentença
transitada em julgado (art. 2º, CAPUT, CP). Porém, os efeitos civis permanecem (danos morais, por exemplo).

LEX TERTIA

É a combinação de leis penais na busca de uma situação mais benéfica. A doutrina majoritária não
admite que Juiz pode combinar leis penais, pois, criando uma terceira lei, estaria legislando, o que violaria o
princípio da separação dos poderes. Súmula 501 do STJ veda o emprego da combinação de leis penais,
chamada "lex tertia".

LEI TEMPORÁRIA E LEI EXCEPCIONAL (art. 3º, CP)

Em regra, as leis permanecem em vigor desde a sua vigência até que sejam revogadas por outra lei
posterior. Contudo, podem existir leis que trazem em seu bojo a data de sua revogação, tal qual a Lei da Copa,
criada para ter vigência durante o período da copa do mundo no Brasil em 2014. A lei temporária é uma lei
que se auto-revoga e que possui ultra-atividade, ou seja, alcança fatos praticados durante a sua vigência
mesmo após sua revogação, impedindo a retroatividade de lei penal mais benéfica. A lei excepcional também
tem ultra-atividade, mas sua revogação não tem prazo determinado, cessando quando findar o fato que
originou a sua criação.

Apesar disso, parte considerável da doutrina considera que na CRF/88 não há exceções ao princípio da
retroatividade da lei penal mais benéfica estabelecido no art. 5, XL, não tendo, portanto, recepcionado o art.
3º do CP.

PRINCÍPIO PENAIS IMPLÍCITOS NA CRF/88

PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA / SUBSIDIARIEDADE / "ULTIMA RATIO"

O Direito Penal atuará apenas para a proteção dos bens e interesses mais importantes para a vida em
sociedade. Embora alguns autores façam separação entre intervenção mínima e subsidiariedade (ultima ratio),
a subsidiariedade pode ser considerada uma consequência do princípio da intervenção mínima.

PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE

Constitui também consequência do princípio da intervenção mínima, representando os bens e


interesses mais importantes selecionados pelo legislador e protegidos pelo Direito Penal.
PRINCÍPIO DA LESIVIDADE / ALTERIDADE / OFENSIVIDADE

O Direito Penal não pune a auto lesão, mas lesão a bens e interesses alheios.

Exemplo: pessoa que tenta se suicidar não é punida. Também não se pune a tentativa quando há
impropriedade absoluta do objeto (art. 17 CP), nem se pune a fase do pensamento. Isso porque o princípio da
lesividade assegura a atuação do Direito Penal apenas quando existe lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico
penalmente tutelado, razão pela qual não se pune a auto lesão, a fase de cogitação e o crime impossível.

PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE

Possui três funções: integrar o conceito analítico de crime (sem culpabilidade não há crime); separar
autoria de participação (art. 29 CP); ajudar o juiz a fundamentar quantificação da pena.

PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE

Princípio que visa estabelecer o equilíbrio entre a conduta descrita a resposta penal.

Exemplo: há proporcionalidade quando comparamos as penas do art. 155 CP, furto simples (1 a 4 anos de
reclusão e multa) com o art. 157 CP, roubo, (4 a 10 anos de reclusão mais multa). Por outro lado, não há
proporcionalidade quando comparamos o art. 316 (concussão) com pena de 2 a 8 anos de reclusão mais
multa, onde o servidor exige vantagem indevida, com o crime do art. 317, solicitar vantagem indevida, que
possui pena de 2 a 12 anos de reclusão e multa. O crime de latrocínio (art. 157, § 3º, "in fine", CP) é outro
exemplo que viola o princípio da proporcionalidade, uma vez que a pena é de 20 a 30 anos de reclusão mais a
multa, independentemente se a morte ocorrer a título de dolo ou culpa.

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA (DELITO DE BAGATELA)

É um dos princípio de grande repercussão em provas de concursos públicos. Crime é definido pelo o
conceito analítico, como sendo fato típico, ilícito e culpável. O fato típico ocorre quando existe conduta,
resultado, nexo causal e tipicidade penal (tipicidade penal = tipicidade material + tipicidade formal + conduta
antinormativa). O princípio da insignificância, atribuído a Claus Roxin, exclui da conduta a tipicidade material,
que é composta pelo desvalor social da ação e desvalor social do resultado, e exclui, por conseguinte, a
tipicidade penal. Para que isso ocorra é necessário que se reúnam os seguintes vetores (requisitos): nenhuma
periculosidade social da ação; reduzido grau de reprovabilidade da ação, ofensividade mínima da conduta;
inexpressividade da lesão jurídica provocada;

Em crimes tributários aplica-se o princípio da insignificância para crimes de descaminho com valor até
20mil reais. Esse é o posicionamento atual tanto do STF quanto do STJ.

Não se aplica o benefício do princípio de bagatela para o crime habitual, devido ao alto grau de
reprovabilidade da conduta.

OBS.: Súmula 599 STJ: o princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública.
Súmula 589 do STJ: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados
contra a mulher no âmbito das relações domésticas.

PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL

Esse princípio afasta a tipicidade material pois ausente a valoração negativa da conduta. Exemplo:
mãe que fura a orelha da criança, luta de boxe, são condutas toleradas pela sociedade, ainda que se amoldem
a tipos penais.
OBS: Não se aplica o princípio da adequação social à venda de DVDs piratas (art. 184 CP), conforme o
enunciado 502 do STJ, persistindo, portanto, a existência da tipicidade material.

TEMPO DO CRIME (art. 4º CP)

Existem três teorias sobre o tempo do crime: a teoria da atividade, a do resultado e a teoria mista ou
da ubiquidade, pela qual o crime ocorre tanto no momento de sua ação ou omissão quanto no momento em
se dá seus resultados. A teoria adotada pelo CP em seu art. 4º para definir o momento do crime é a teoria da
atividade, segundo a qual o crime ocorre no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento
do resultado.

Exemplo 1. Mévio, casado, com idade de 17 anos, 11 meses e 29 dias, atira em sua sogra que, após
trinta dias, falece em decorrência dos tiros. Pela teoria da atividade, Mévio não praticou crime, mas ato
infracional, pois no momento da ação Mévio era menor de 18 anos, não estando sujeito a júri popular,
devendo receber apenas medida sócio educativa.

Exemplo 2. Tício atira em Caio, que possui 13 anos, 11 meses e 29 dias. Caio falece trinta dias depois
em decorrência dos disparos. A causa de aumento de pena de 1/3 do § 4º do art. 121 CP incidirá sobre a
conduta de Tício? R.: Sim, pois a ação (crime), pela teoria da atividade, ocorreu quando Caio ainda era menor
de 14 anos.

Exceções: Apesar a teoria da ação ser adotada pelo CP, a contagem da prescrição, antes da sentença
passar em julgado (art. 111 CP), tem início na data em que o crime se consumou (segue a teoria do resultado).
Em se tratando de tentativa, inicia-se a prescrição quando cessado o último ato executório. Em crime
permanente, quando cessar a permanência. Em crime de falsificação de registro e bigamia, quando o fato se
tornou conhecido. Crime contra a dignidade sexual de vítima menor de 18 anos, a contagem da prescrição se
inicia quando a vítima completa 18 anos, salvo se o fato foi revelado e teve normal seguimento com
instauração do inquérito policial e ação penal.

Exemplo 3. Caio atira em sua sogra no dia 07/12/2012. Ela morre em 23/12/2012. Embora o crime
tenha ocorrido no dia 07/12 a contagem do prazo prescricional se iniciará no dia 23/12 (inclui-se o dia do início
na contagem, conforme o art. 10 CP)

LUGAR DO CRIME (art. 6º, CP)

Não se confunde com o lugar do crime em processo penal, no qual se discute qual o juízo criminal
competente. Em Direito Penal o objetivo é saber se o crime aconteceu no Brasil ou não. Se houve ou não crime
à distância (aquele que envolve pelo menos 2 países). Em se tratando do lugar do crime, a maioria dos países,
inclusive o Brasil, adota a teoria da ubiquidade. Se a conduta ou o resultado ocorreu (ou deveria ocorrer,
tratando-se de tentativa) no território nacional, então o crime aconteceu no Brasil. Segundo Nelson Hungria,
se o crime tocou o território nacional ele ocorreu no Brasil.

Exemplo: Mévio, no Brasil, envia uma carta bomba (conduta) para sua sogra na Argentina que, ao abrir
a carta, morre devido à explosão (resultado). Pela teoria da ubiquidade, adotada pelo Brasil, o crime ocorreu
em ambos países.

Visando impedir que por um mesmo crime o agente seja julgado mais de uma vez em diferentes
países (princípio do "ne bis in idem"), os países celebram acordos e tratados.

Exemplo: crime de homicídio julgado no país X teve sentença penal condenatória de PPL de 15 anos.
Cumprida a pena, o agente retorna ao Brasil e, não havendo acordo entre o Brasil e o país X, foi novamente
julgado pelo mesmo crime tendo Sentença Penal Condenatória Transitada em Julgado - SPCTJ - no Brasil de 20
anos de PPL. Assim, pelo art. 8º do CP, a pena cumprida no estrangeiro pelo mesmo crime, por ser pena
idêntica (mesma espécie) será computada, devendo o agente cumprir apenas 5 anos no Brasil. Trata-se de
uma forma de mitigar a lesão ao princípio "ne bis in idem". Não se trata de detração penal do art. 42, CP.

Exemplo 2. Um crime cometido no país X tem pena de PSC. Ao voltar ao Brasil o agente é condenado a
PPL. Por se tratar de penas diferentes, a pena cumprida no estrangeiro atenuará a que foi imposta no Brasil.
Não se trata de detração penal do art. 42 do CP.

MACETE: LUTA L ugar - U biquidade / T empo - A tividade

A sentença condenatória estrangeira homologada no Brasil, produz duas consequências (art. 9 do CP):

I. efeitos de natureza cível (reparação do dano);


II. impor medida de segurança. Apesar do referido dispositivo penal silenciar sobre a questão da
reincidência o art. 63 do CP define reincidência como prática de novo crime após SPCTJ por crime
praticado no Brasil ou estrangeiro, não exigindo homologação da sentença estrangeira para gerar
efeitos de reincidência.

TERRITORIALIDADE (art. 5º CP)

O Brasil adotou o princípio da territorialidade para crimes e contravenções penais. Contudo para os
crimes, ao contrário das contravenções, existe extra-territorialidade, pois o Brasil também pode julgar crimes
cometidos no estrangeiro, bem como deixar de julgar crimes cometidos no território brasileiro em virtude de
acordos, convenções e tratados internacionais. Assim, a territorialidade é temperada (relativa) para os crimes.
Para as contravenções penais, por força do art. 2º do Decreto Lei 3688/41 a territorialidade é absoluta, pois a
lei brasileira só é aplicável às contravenção praticada dentro do território nacional.

Território brasileiro, para efeitos de Direito Penal, é o território real, compreendido pela porção de
terra até os limites das fronteiras, águas internas (lagos e rios), mar territorial (12 milhas) e o espaço aéreo
correspondente, mais o território ficto/ presumido/ território por extensão (aeronaves ou embarcações
públicas ou a serviço do governo brasileiro, inclusive destroços, pois conservam a bandeira); embarcações ou
aeronaves privadas brasileiras em alto mar; aeronaves ou embarcações privadas estrangeiras sobre mar
territorial ou espaço aéreo correspondente.

Diplomata: Possui imunidade diplomática que é irrenunciável. Assim, mesmo praticando crime no
Brasil não ficará sujeito à lei penal brasileira, mas será julgado pelo país acreditante, valendo o mesmo para
seus familiares e integrantes do corpo técnico.

Cônsul: A imunidade consular é mais restrita do que a diplomática, valendo somente para crimes
cometidos em razão da função e se estende apenas para o cônsul geral, vice cônsul e agente consular.

A essa situação na qual os crimes, ainda que cometidos no Brasil, não são julgados no país em razão de
tratados, acordos e convenções, a doutrina atribuiu o nomes de intra-territorialidade.

OBS: sede de embaixada não constitui território estrangeiro.


EXTRATERRITORIALIDADE (art. 7º CP)

INCONDICIONADA (inciso I c/c §1º)

Será julgado no Brasil ainda que tenha sido julgado, absolvido ou cumprido pena no estrangeiro pelo
mesmo crime: crimes contra a vida ou liberdade do Presidente da República (exceção ao princípio "ne bis in
idem"); crime contra patrimônio ou fé pública da União, Estados, DF, Municípios, autarquias, fundação pública,
empresas públicas, sociedade de economia mista; crimes contra a administração pública por quem está a seu
serviço; genocídio praticado por agente brasileiro ou domiciliado no Brasil.

OBS.: crime de latrocínio, art. 157, §3º, "in fine", CP, não é crime contra a vida, mas crime contra o patrimônio.
Caso fosse cometido no estrangeiro contra o presidente, não estaria sujeito à territorialidade incondicionada.

Cada situação de extraterritorialidade está associada a um princípio. No caso do inciso I, alíneas "a",
"b", "c" é o princípio da proteção/ defesa/ou real. A alínea "d" está associada aos princípios da justiça penal
universal e da nacionalidade/personalidade ativa.

Além dos casos do art. 7º, CP, o art. 2º da Lei 9.455/97 (Lei de Tortura) traz outro caso de
extraterritorialidade incondicionada: a tortura praticada contra brasileiro (princípios da justiça penal universal
e defesa/real/proteção).

CONDICIONADA (inciso II c/c §2º)

Todas as condições do §2º devem ser preenchidas para que ocorra a extraterritorialidade
condicionada: entrar o agente em território brasileiro (alínea, "a"); ser o fato punível também no país em que
foi praticado (alínea "b"); ser possível a extradição (alínea "c"); não houver sentença penal absolutória ou
cumprimento de pena no estrangeiro (alínea "d"); não ter recebido perdão no estrangeiro ou, por outro
motivo, estiver extinta a punibilidade (alínea "e").

Casos de extraterritorialidade condicionada do inciso II do art. 7º : "a" - crimes que por tratado o Brasil
se obrigou a reprimir (princípio da justiça penal universal) Ex.: tráfico de drogas; "b" - crimes praticados no
estrangeiro por brasileiro (princípio da nacionalidade); "c" - crimes cometidos no estrangeiro a bordo de
aeronaves ou embarcações privadas brasileiras quando não julgados no estrangeiro (julgamento por
representação); §3º - preenchidas as condições do §2º e não foi pedida ou foi negada a extradição (alínea "a")
e houve requisição do Ministro da Justiça (alínea "b").

O §3º é chamado pela doutrina de extraterritorialidade hiper-condicionada e é regido pelos princípios


da defesa/real/proteção e da personalidade passiva.

NORMA PENAL EM BRANCO 28/02/2018

No art. 235, CP, crime de bigamia, o legislador emprega a palavra "casamento" sem trazer o conceito.
A definição de casamento está no Código Civil. A Lei de Drogas, art. 33, "CAPUT", usa a palavra "drogas" sem
definir quais substâncias são consideradas drogas. A norma penal em branco constitui definição de crime na
qual o legislador emprega no preceito primário palavra ou expressão que exige a utilização de uma segunda
norma para a exata compreensão do delito. Divide-se em norma penal em branco em sentido amplo e em
sentido estrito.

Norma penal em branco em sentido amplo: quando a norma que complementa a norma em branco possui a
mesma origem - mesmo procedimento de criação - da norma penal incriminadora (norma penal em branco
imprópria). Exemplo: art. 234, CP ("ato obsceno") e art. 312 CP ("funcionário público").
Norma penal em branco em sentido estrito: a definição de palavra ou expressão encontra-se em norma de
fonte diversa. Exemplo 1: art. 33, "CAPUT", Lei 11.343/06. Nesse caso, a norma que define quais substância
são consideradas drogas está em um ato administrativo. O fato de não ter passar pelo mesmo procedimento
de criação e alteração que a lei penal, gera preocupação, como quando o Cloreto de Etila foi retirado da lista
de substância proibidas, ocorrendo um "abolitio criminis", mas logo em seguida a substância voltou a ser
proibida. Exemplo 3: art. 269 CP, Deixar o médico de notificar doença de notificação compulsória. Essas
doenças são listadas em um ato administrativo.

A norma penal em sentido amplo se divide em homovitelínea, quando a definição estiver no mesmo
texto legal da norma penal em branco e heterovitelínea, quando a definição está em outro texto legal, mas de
mesma fonte.

CONTAGEM DE PRAZO EM DIREITO PENAL (art. 10, CP)

No processo penal a contagem de prazo começa pelo dia seguinte, desde que não seja feriado. Porém,
não é assim no Direito Penal, onde se inclui na contagem o dia do início. Todo tema que interfere na
pretensão punitiva é direito material e deve ser a contagem do Direito Penal não do Código de Processo Penal
- CPP. Exemplo: Prescrição é direito material, logo, sua contagem segue a regra do código penal. A decadência
também se conta pela regra do CP.

OBS: Os únicos 2 crimes que não prescrevem são a prática do racismo e a ação de grupos armados civis ou
militares contra a ordem constitucional e o Estado democrático. O crime do art. 28 da Lei 11343/06 (lei de
drogas) prescreve, mas não se aplica a ele a regra geral de prescrição do art. 109 do CP. Isso porque o
parâmetro utilizado para a prescrição no art. 109 do CP é a PPL e, como o art. 28 da lei de drogas não tem PPL,
o legislador precisou fixar um prazo de prescrição no art. 30 da lei de drogas, que é de 2 anos.

Questão: Mévio praticou o crime do art. 28 Lei 11.343/06 (Lei de drogas) no dia 23/03/2015. Quando
o crime estará prescrito? R.: 22/03/2017, não importando se é sábado, domingo ou feriado.

TEORIA DO CRIME

Conceito material de crime: é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico penalmente tutelado.

Conceito formal de crime: é conduta prevista na lei para a qual se atribui pena.

Conceito analítico de crime: Pode ser bipartido ou tripartido. Majoritariamente, adota-se a teoria
tripartida, considerando-se crime como fato típico, ilícito e culpável. Sem qualquer um desses elementos não
haverá crime. O art. 21 CP, que trata do erro de proibição ou erro sobre a ilicitude do fato, não usa a palavra
crime quando há a exclusão da culpabilidade. No art. 28, §1º, CP, há uma causa de exclusão da culpabilidade e
também não se usa a palavra crime quando ela ocorre. No art. 29, CP usa-se a palavra crime quando se fala da
medida da culpabilidade de quem concorre para o crime.

O art. 397, III, CPP repercute o princípio da insignificância quando, ao tratar da absolvição sumária,
reconhece que o fato não é típico. A insignificância também pode ser reconhecida no final do processo,
gerando absolvição conforme o art. 386, III, CPP, também pode reconhecer a ausência de tipicidade.

FATO TÍPICO = Conduta + resultado + nexo causal + tipicidade

Todo crime possui resultado jurídico ou normativo. Nos crimes materiais (que possuem resultado
natural/ físico/ material/ perceptível pelos sentidos) o tipo penal estabelece a conduta e o resultado, exigindo
a produção deste para a consumação do crime. Exemplo: homicídio, furto, roubo.
Nos crimes formais, ou de consumação antecipada, o tipo penal descreve a conduta e também o
resultado, mas a consumação acontece com a simples prática da conduta (a consumação fica antecipada para
a conduta). Resultado não é exigido pela lei, podendo ocorrer ou não. Exemplos: art. 158 CP, crime de
extorsão, a consumação não exige o resultado vantagem econômica (súmula 96 do STJ); art. 316, 311-A, 313-
A, crimes contra a honra.

QUADRO RESUMO DOS CRIMES CONTRA A HONRA


CALÚNIA DIFAMAÇÃO INJÚRIA
Previsão legal 138, CP 139, CP 140, CP
Atinge honra objetiva Sim Sim Não
Ofensa descrita por meio de fato concreto Sim Sim Não
Aceita a exceção da verdade Sim (exceções no §3º) Apenas para o caso do P. único Não
Admite perdão judicial Não Não Sim
Admite ofensa aos mortos Sim Não Não

MACETE: os crimes contra a honra aparecem em ordem alfabética "C D I" e crescente (138, 139, 140). Calúnia
é a imputação falsa de Crime e é o único que pode ser cometido contra Cadáver - CCC.

Nos crimes de mera conduta/atividade a lei penal descreve apenas a conduta, não havendo resultado
naturalístico. Exemplo: art. 150, CP, violação de domicílio (não é "invasão de domicílio").

Nos crimes materiais o fato típico possui os quatro elementos. Contudo, é possível ocorrer crime onde
o fato típico possua apenas conduta e tipicidade, como irá ocorrer sempre nos crimes de mera conduta e
algumas vezes nos crimes formais.

CONDUTA = ação ou omissão consciente ou voluntária, sob pena de inação (ausência de conduta).
Exemplo: inconsciência por causa do sono, ato reflexo involuntário (espirro), coma alcoólico, coação física
irresistível ("vis absoluta"), sonambulismo e hipnose excluem a conduta, e, portanto, a tipicidade e o crime.

A conduta pode ser comissiva (ação) ou omissiva (omissão). Os crimes dolosos contra a vida
(homicídio, instigação ou induzimento ao suicídio, infanticídio, aborto - HIIA) são todos crimes de conduta
comissiva. Ação é a realização do movimento muscular de forma consciente e voluntária.

Delito omissivo pode ser próprio/ puro ou impróprio/comissivo por omissão/impuro. Os crimes
omissivos próprios são uma pequena parcela de crimes em relação aos comissivos e, em regra, trazem o verbo
"deixar" em sua descrição. Exemplo: Delegado que, de forma indulgente, deixa de lavrar auto de prisão em
flagrante no qual o conduzido é seu vizinho pratica crime omissivo próprio de prevaricação (verbos "deixar",
"retardar", "praticar").

OMISSIVO PRÓPRIO / PURO OMISSIVO IMPRÓPRIO / COMISSIVO POR OMISSÃO


Geralmente acompanhado pelo verbo "deixar". Ex.: art. Omissão descrita na parte geral do código (art. 13, §2º) por
135, 168-A, 269, 319-A, 320 e 323, do CP. parte de um "garantidor" com poder/dever de agir
É crime unissubsistente (não permite fracionamento da Pode ser crime plurissubsistente (crime que permite o
conduta em atos - crime de ato único obrigatório). fracionamento da conduta em atos)
Não cabe tentativa (por ser unissubsistente) Admite tentativa (ex: art. 121 c/c art. 13, 2º, e art. 14, II, CP)
É crime de mera conduta É crime material
Não possui resultado Possui resultado
É crime doloso Admite a forma culposa

Uma característica comum entre os crimes omissivos próprios e os impróprios é que ambos admitem o
concurso de pessoas.
RELEVÂNCIA DA OMISSÃO e DEVER DE AGIR

A relevância da omissão é tema constantemente cobrado em provas de concursos. A omissão será


penalmente relevante, imputando o resultando ao agente, quando ele podia ou devia agir. Os crimes
omissivos impróprios, são crimes próprios (sujeito ativo deve ter qualidade de garantidor, ou seja, deve ter o
DEVER de agir), pelo que os crimes omissivos impróprios também são chamados de omissivos qualificados.

Conforme o art. 13, §2º, CP, o dever de agir pode advir de lei (alínea "a"); de o agente ter assumido
voluntariamente o encargo (alínea "b"); ou quando com seu comportamento o agente criou o risco do
resultado (alínea "c"). A adequação típica nos crimes omissivos impróprios ocorre por subordinação indireta,
ou seja, é necessário utilizar uma "norma de reenvio" para adequar a figura típica. Ex.: art. 121 c/c art. 13, §2º,
"a", CP. O art. 13, §2º, CP é uma norma de adequação típica por subordinação indireta/mediata/por ampliação
ou por extensão da figura típica, também conhecida como norma de reenvio. Outro exemplo de norma de
reenvio é a da tentativa, localizada no art. 14, II, CP. Exemplo: art. 121 c/c art 13, 2º, e art 14, II, CP (tentativa
de homicídio).

EXEMPLOS DE CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS OU OMISSIVOS QUALIFICADOS

1º ) Maria, deixando de alimentar sua filha de um ano de idade, dá causa a sua morte, incorrendo no crime do
art. 121 c/c art. 13, §2º, "a". Sua vizinha, Glória, vendo tudo o que acontecia e não fazendo nada para impedir,
por não ter dever de garantidora, incorreu no dever geral do art. 135, P. único, CP (omissão dolosa com
resultado morte).

2 º) Maria e Glória não sabem nadar, mesmo assim vão para uma praia deserta. Ali, Glória se banha no mar
enquanto Maria encontra o salva-vidas oficial da praia, Wilson, e fica conversando com ele. Glória começa a se
afogar e pede por socorro, mas Maria pede para Wilson não prestar socorro e Glória que acaba morrendo.
Wilson, por ser garantidor, responderá pelo crime do art. 121, c/c art. 13, §2º, "a", CP, enquanto Maria
responde pelo art. 121, c/c art. 13, §2º, "a" c/c art. 29 CP.

3º) Diretora de orfanato assiste cuidadora molestar sexualmente uma criança de 11 anos, mas nada fez,
passando simplesmente a evitar o local em que ocorriam os atos sexuais. A cuidadora responde pelo crime do
art. 217-A CP (estupro de vulnerável). A omissão da diretora é penalmente relevante e, por ela ter assumido
voluntariamente o status de garantidora, responderá pelo art. 217-A c/c art. 13, §2º, "b", CP.

4º) Professor de natação, conhecedor de que seu amigo não sabe nadar, o convida para atravessar um lago a
nado. Durante a travessia o amigo começa a se afogar e pedir por ajuda, mas, sem a ajuda do professor de
natação, morre afogado. O professor de natação, por ter criado o risco, assumiu a qualidade de garantidor
pela sua ingerência e responderá pelo crime do art. 121 c/c art. 13, §2º, "c".

OMISSÃO E A LEI DE TORTURA

A lei de tortura, Lei 9455/97, com o intuito de punir mais severamente os crimes de tortura acabou por
punir menos a tortura em relação à omissão, pois impossibilitou o uso da norma de reenvio do art. 13, §2º do
CP que igualaria a pena da omissão à pena da ação de tortura, que é de 2 a 8 anos de reclusão (art. 1º, §1º, Lei
9455/97). Isso porque criou o crime omissivo próprio, tipificado em seu art. 1º, §2º, estipulando pena de
detenção de 1 a 4 anos para a omissão. Caso o §2º não existisse o agente que, na qualidade de garantidor, se
omitisse nos casos de tortura responderia pelo art. 1º, §1º, cumulado com a norma de reenvio do art. 13, §2º,
CP, estando sujeito a mesma pena de 2 a 8 anos de reclusão.
DOLO E CULPA

Ambos possuem expressa previsão legal no art. 18 CP. A imensa maioria dos crimes no CP são
previstos na forma dolosa, pois o dolo constitui regra e a culpa exceção. Para que o crime possa admitir a
forma culposa ela deve estar prevista de forma expressa no CP. Exemplo: art. 121, §3º (homicídio); art. 129,
§º6 (lesão corporal); art. 250, §º2 (incêndio), art. 251, §3º (explosão); art. 312, §2º (peculato); art. 351, §4º
(fuga de pessoa presa); art. 180, §3º (receptação); art. 38, Lei 11.343/06; art. 49, P. Único, Lei 9605/98;

DOLO

Pode ser direto de 1º grau, direito de 2º grau (dolo de consequências necessárias), eventual, específico
(expressão em desuso), preterdolo e geral.

O dolo direito de 1º grau (art. 18, I, 1ª parte, CP), segundo a doutrina, segue a teoria da vontade, que
explica o dolo com a ocorrência da representação do resultado (representação mental/ consciência do
resultado/ previsibilidade subjetiva / antevisão) mais a vontade de realizar o resultado. Outra teoria sobre dolo
é chamada teoria da representação, mas, atualmente, é considerada equivocada, não tendo adeptos.

O dolo direito de 2º grau, também chamado de dolo de consequências necessárias, é uma construção
doutrinária que ocorre quando o meio escolhido pelo agente para produzir o resultado desejado implica o
surgimento de outros resultados que são certos (efeitos colaterais). O dolo direito de 2º grau é mais
reprovável do que o dolo eventual.

O dolo eventual (art. 18, I, 2ª parte, CP), ocorre quando o agente assume o risco de produzir o
resultado. Segue a teoria do consentimento/assentimento, que explica o dolo eventual como a representação
mental do resultado e a aceitação desse resultado. Enquanto no dolo direito de 1º grau o agente deseja o
resultado previsto, no dolo eventual o agente aceita a produção do resultado. Contudo, a legislação não
diferencia, para fins de tipicidade penal, o dolo direto de 1º grau do dolo eventual, equiparando-os no art. 18,
I, CP. Isso acarreta um debate sobre importantes questões da parte geral e especial do CP, como a
possibilidade da tentativa e concurso formal em dolo eventual, a possível repercussão do dolo eventual na
quantificação da fixação da pena e, na parte especial, se o dolo eventual, em alguns casos, é impedido
expressamente pelo legislador como, por exemplo, no crime do art. 339 CP (denunciação caluniosa), onde a
expressão "imputando-lhe crime de que o sabe inocente" parece impossibilitar o cometimento desse crime por
dolo eventual.

MACETE: a letra "C" no nome dos crimes abaixo permite decorar quais permitem crime e contravenção.

Artigo do Código Penal: 339 340 341


Nome do crime: DenunCiação Caluniosa ComuniCação falsa Auto aCusação falsa
Imputação falsa de: Crime ou contravenção Crime ou contravenção Apenas crime

O termo dolo específico, cada vez mais em desuso, tem sido substituído por elemento subjetivo do
tipo, ou elemento subjetivo do injusto, que são concepções mais técnicas. Trata-se do fim especial de agir
presente em determinados tipos penais dolosos. Exemplo: Mévio furtou um veículo (art. 155) e, após a prática
do crime, insistiu para que Tício guardasse o carro em sua garagem. O veículo, por possuir rastreador, levou a
polícia à casa de Tício, prendendo os dois. Qual crime Tício praticou? R.: art. 349 CP.
CRIME PRETERDOLOSO

É crime doloso, qualificado pelo resultado culposo. Trata-se de um único crime (não há concurso de
crimes). O agente pratica uma conduta antecedente dolosa que acaba por produzir um resultado mais grave, a
título de culpa, no consequente. Ex.: art. 129, §3º; art. 129, §2º, V; art. 129, §1º, II, e art 157, §3º "in fine", CP
(latrocínio).

CULPA (art. 18, II, CP)

Manifesta-se por meio da imprudência, negligência e imperícia. Imprudência se manifesta por meio de
conduta apressada, descuidada, açodada, que produz resultado danoso. Exemplo: dirigir acima da velocidade
permitida, colocar planta sobre parapeito da janela do condomínio. A negligência constitui a realização de
conduta com a omissão de cautela que o caso exigia, ocasionando o resultado. Exemplo: carro sem
manutenção ou com pneus "carecas". A imperícia constitui a realização da conduta sem aptidão teórica ou
prática, causando o dano.

OBS: no homicídio culposo praticado com inobservância de regra técnica, de profissão, arte ou ofício, (art. 121,
§4º, CP) haverá uma causa de aumento de pena de 1/3. Mas se foi essa inobservância que configurou a culpa
exclusivamente pela imperícia (art. 121, §3º, CP), não poderá ser essa mesma circunstância utilizada como
causa de aumento de pena, sob pena de "bis in idem". A mesma imprudência não poderá ser elementar (estar
na descrição do tipo) e, ao mesmo tempo, ser causa de aumento de pena. Para o aumento de pena será
necessário, além da imperícia, a existência da imprudência, negligência, ou ambas.

CULPA CONSCIENTE

O agente atua com a representação mental do resultado (previsibilidade subjetiva), tal qual ocorre no
dolo eventual, mas enquanto no dolo eventual o agente aceita a produção do resultado previsto, na culpa
consciente o agente espera, de forma fundamentada, que o resultado não irá ocorrer. Exemplo: professor de
auto escola fazendo manobras de "cavalo de pau" com o veículo para se exibir que causa acidente é manifesto
caso de culpa consciente.

Atualmente a diferença entre dolo eventual e culpa consciente também tem se manifestado no debate
sobre crimes praticados na direção de veículo automotor, pois há decisões onde o agente alcoolizado ora
respondeu pelo art. 121 CP (dolo eventual) ora pelo art. 302 CTB.

CULPA INCONSCIENTE 12/03/2018

O agente atua sem a representação mental do resultado (previsibilidade subjetiva), mas o resultado
era previsível por qualquer pessoa (previsibilidade objetiva) naquela situação. Para efeitos de tipicidade penal
não faz diferença se a culpa foi consciente ou inconsciente.

NEXO CAUSAL

A teoria da equivalência dos antecedentes causais ("conditio sine qua non") de Von Buri, é a teoria
adotada pelo CP, conforme art. 13, CAPUT, CP. O resultado ao qual se refere o art. 13 é o resultado físico/
natural/material ou jurídico normativo? Para Rogério Grecco, trata-se do resultado normativo, pois sem lesão
ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado o crime não existiria. Exemplo: Tício pede a Carlos arma de fogo
emprestada dizendo que irá matar sua sogra. Tício pega munição emprestada com Luiz para matar a sogra.
Tício também pede R$50,00 a Mévio para almoçar antes de matar a sogra. Em seguida, Tício, com "animus
necandi", vai a casa da sogra e efetua vários, matado-a. Se realizarmos um processo hipotético de eliminação
(supressão) da conduta de um agente e o resultado desaparecer, significa que a conduta foi causa do
resultado. Crítica: esse processo geraria um "regressus ad infinitum" (vendedor da arma, fabricante, mineiro
que extraiu o minério, Deus que criou o minério, etc.). Porém como só se pesquisa o nexo causal da conduta
quando há dolo ou culpa, restringe-se a análise. A conduta de Mévio não foi causa do resultado morte,
devendo ser absolvido. Carlos e Luiz são partícipes, pois suas condutas foram causa do resultado criminoso, do
qual Tício é o autor. Para essa teoria não há uma causa mais ou menos importante do que outra.

Outras teorias adotadas pelo Código Penal são a teoria da causalidade adequada (causa que por si só
produziu o resultado) adotada no art. 13, §1º do CP e a teoria da causalidade normativa (ou jurídica), adotada
no art. 13, §2º, CP.

CONCAUSA

É uma segunda causa/ fator. Pode ser absolutamente ou relativamente independente. Em relação ao
momento da conduta, as concausas absolutamente independentes podem ser classificadas como pré-
existentes, concomitantes ou supervenientes.

CONCAUSA ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTE

Nas concausas absolutamente independentes, seja ela pré-existente, concomitante ou superveniente,


o agente responderá apenas pela tentativa.

Exemplo 1: Mévio, querendo matar Tício ("animus necandi"), efetua disparos contra Tício, que morre.
Contudo, o exame cadavérico revelou uma segunda causa do resultado morte: Tício havia ingerido veneno
antes dos disparos. Mévio responderá apenas pela tentativa. Trata-se de concausa absolutamente
independente pré-existente.

Exemplo 2: Mévio e Caio pretendem matar Tício. Um não sabe da intenção do outro, não havendo, portanto
conurso de pessoas, mas autoria colateral. Ambos disparam ao mesmo tempo contra Tício, ocasionando a sua
morte. Perícia revela que os disparos de Caio foram a causa da morte de Tício. A conduta de Caio foi uma
concausa absolutamente independente concomitante. Mévio responde pela tentativa. Na autoria colateral
não há concurso de pessoas do art. 29 CP, pois não há liame subjetivo. Caso a perícia não consiga determinar
quem produziu o resultado morte (autoria incerta), Caio e Mévio responderão apenas pela tentativa.

Exemplo 3: Mévio atira em Tício. Após os disparos, houve um terremoto e Tício morreu soterrado. Não há
relação entre as causas e Mévio responderá pela tentativa.

CAUSA RELATIVAMENTE INDEPENDENTE SUPERVENIENTE

Causa relativamente independente Responde por crime


superveniente
Pré-existente Consumado
Concomitante Consumado
Superveniente Consumado ou tentado (A expressão "por si só" caracteriza
a tentativa. Caso contrário, será crime consumado)

Exemplo 1: Mévio, sabendo que Tício é hemofílico, e querendo matar Tício, desfere-lhe golpe na perna com
um facão, ocasionando a morte de Tício. Mévio responde por crime consumado.

Exemplo 2: Mévio dispara contra Tício no exato momento em que Tício sofre um ataque cardíaco, porém os
disparos de Mévio contribuíram para o resultado morte. Mévio responde por crime consumado.

Exemplo 3: Mévio dispara contra Tício. A caminho do hospital, a ambulância que levava Tício, por excesso de
velocidade, colide e Tício morre em razão das fraturas da colisão. Há uma relação entre a conduta de Mévio e
a morte de Tício. Mévio, pelo que responderá por tentativa. (outros exemplos seriam incêndio, enchente no
hospital causando a morte de Tício).

Exemplo 4: Mévio dispara contra Tício que, ao cair no chão, teve seus ferimentos contaminados severamente
por bactérias. No hospital, morre devido à infecção. Por ser a infecção desdobramento dos disparos de arma
de fogo, trata-se de crime consumado. Assim, se for uma infecção hospitalar, ato cirúrgico, deficiência no
atendimento, a causa relativamente independente superveniente, Mévio responderá por crime consumado.

TIPICIDADE PENAL

É composta pela tipicidade formal, tipicidade material e conduta antinormativa. A tipicidade material é
a valoração negativa da ação e do resultado. A tipicidade formal é adequação da conduta ao conceito formal
do delito adotado pela lei e pode ser excluída caso o sujeito ativo não realize todos os elementos da definição
legal do crime. Exemplo: Nos delitos do art. 164, CP (introduzir ou deixar animais...) e art. 70, CDC (Lei
8.078/90) o consentimento do ofendido, por ser circunstância elementar do delito, exclui a tipicidade formal.

Embora o código trate o estrito cumprimento do dever legal como causa de exclusão da ilicitude, pela
teoria da tipicidade conglobantes, o estrito cumprimento do dever legal do art. 23, III, CP é causa de exclusão
da tipicidade, por não haver conduta antinormativa. Nesse caso, no início da ação penal, a absolvição deveria
ser fundamentada pelo art. 397 III CPP e no final da instrução do rito comum, seria aplicado o art. 386, III, CPP.
Pelo CP, o estrito cumprimento do dever legal exclui a ilicitude. Assim, o fundamento no final da instrução é o
art. 397, I, CPP e, ao final da instrução, art. 386, VI, CPP. No primeiro caso, por não ser fato típico, MP não
poderá oferecer denúncia e nem a autoridade policial não poderá instaurar inquérito policial.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Diz se o crime consumado quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal (art. 14, I,
CP). Conjugando o conceito com os tipos de crime da tabela abaixo temos uma melhor compreensão:

Tipo de crime Requisito para a consumação


Material Ocorrer o resultado
Formal Ocorrer ou não o resultado
Mera conduta Simples realização da conduta

Diz-se o crime tentado quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à
vontade do agente (art. 14, II, CP). Ao usar a palavra "vontade", exclui-se a tentativa em relação ao dolo
eventual? R.: No art. 18, CP, o legislador equiparou o dolo direto ao eventual, para efeitos de tipicidade. Assim,
olhando para o art. 18, a posição majoritária é que pode ocorrer tentativa por meio de dolo eventual.

A consequência da tentativa é aplicação do art. 14, P. único: redução de pena de 1/3 a 2/3, salvo
expressa disposição em contrário. A natureza da jurídica da tentativa é de causa de diminuição de pena
(minorante).

Embora não haja critério legal para aplicação da diminuição de pena da tentativa, doutrina e
jurisprudência estabeleceram um critério objetivo que examina o "iter criminis" percorrido pelo agente,
levando em consideração o grau de exposição do bem jurídico ameaçado.

A tentativa pode ser classificada como perfeita/ acabada/ crime falho/ delito frustrado ou imperfeita/
inacabada. Na tentativa perfeita o agente percorre todos os atos executórios (cogitação - atos preparatórios -
atos executórios - consumação), não surgindo a consumação por circunstâncias alheias à sua vontade. Nesse
caso a redução será menor do que na tentativa imperfeita, na qual o agente inicia os atos executórios sendo
impedido de prosseguir com eles, não surgindo a consumação por circunstâncias alheias à sua vontade.

Outra divisão existente é a tentativa vermelha/cruenta e a tentativa branca/incruenta. Enquanto na


tentativa cruenta o bem jurídico chega a ser atingido, na tentativa branca o bem jurídico não é atingido.

Não admitem a tentativa


Contravenção penal Art. 4º Decreto Lei 3688/41
Crime culposo Ex.: art. 121, §5º, CP (homicídio culposo)
Crime preterdoloso Ex.: art. 157, §3º, CP
Crime omissivo próprio Ex.: art. 319, CP (prevaricação)
Crime unissubsistente Ex.: injúria na forma verbal
Crime habitual Ex.: art. 248, I, art. 282, CP
Crime de resultado condicionado Ex.: art. 122 CP, art. 164, CP
Crime de atentado ou empreendimento Ex.: art. 352, CP (evasão mediante violência contra pessoa)

Crimes de mera conduta admitem a tentativa, quando não são omissivos próprios ou unissubsistentes,
pois admite-se o fracionamento da conduta (ex.: violação de domicílio). Os crimes formais, quando na forma
escrita, admitem a tentativa (ex.: crimes contra a honra, concussão). Também é possível a tentativa nos crimes
permanentes e crimes continuados.

DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ (art. 15, CP)

Constituem, segundo a doutrina, casos de tentativa abandonada ou qualificada, tendo origem na obra
de Liszt, pelo que se cunhou a expressão "ponte de ouro de Liszt" para designar a desistência voluntária. Nas
infrações que permitem a tentativa, se iniciada a execução a consumação não ocorre por vontade do agente, a
tentativa irá desaparecer. Se o agente quer prosseguir, mas não pode = tentativa. Se o agente pode prosseguir,
mas não quer = tentativa abandonada.

Na desistência o agente voluntariamente interrompe os atos executórios, impedindo a consumação,


fazendo desaparecer a tentativa, oportunidade em que responderá somente pelo resíduo. Por sua vez, no
arrependimento eficaz, apos os atos executórios, o agente realiza nova conduta para impedir a consumação
(Ex.: deu veneno e depois deu antídoto).

Embora o art. 15 CP diga ato "voluntário" não precisa ser espontâneo. Exemplo: Mévio viola domicílio
para praticar crime de furto. Identificando que a casa era de um delegado, desiste do furto evadindo-se do
local sem levar nada. Houve tentativa de furto? R.: Não, pois utilizou-se da ponte de ouro de Liszt,
respondendo apenas pelo crime do art. 150 (violação de domicílio).

Questão: Mévio pretende matar Caio e pede emprestado uma faca a Tício para esse fim. Mévio desfere golpes
de faca em Caio, mas desiste voluntariamente de prosseguir. Tício também será beneficiado pelo art. 15?
ARREPENDIMENTO POSTERIOR (art. 16, CP)

É uma figura de reparação do dano em Direito Penal. É aplicável apenas a crimes sem violência ou
grave ameaça e que haja dano a ser reparado.

Funções da Reparação do dano em Direito Penal


circunstância atenuante art. 65, III, "b" CP.
causa de diminuição de pena (minorante) Art. 16 CP.
causa de extinção da punibilidade art. 171, §2º, VI, (Súm. 554 STF); art. 312, §2º, §3º, CP; art. 9º, §2º,
L. 10684/03 e art. 83, §4º, Lei 9430/96.
requisito para progressão de regime em dano art. 33, §4º , CP (Crítica: dispositivo não faz ressalva da
contra administração pública impossibilidade de reparação por a pessoa ser pobre)
condição para aplicação do "SURSIS" especial art. 78, §2º, CP.
causa obrigatória para revogação do "SURSIS" art. 81, II, CP.
condição para obtenção do livramento condicional art. 83, IV, CP.

O arrependimento posterior do art. 16 tem natureza jurídica de causa de diminuição de pena


(minorante) de 1/3 a 2/3 e é denominado por Zaffaroni como "ponte de prata". Para que essa minorante seja
aplicada, a reparação deve ser voluntária, integral, em crimes sem violência ou grave ameaça e até o
recebimento da peça acusatória (denúncia ou queixa-crime). Assim, ao crime de roubo não se aplica a causa
de diminuição de pena do art. 16, mas apenas a atenuante do art. 65, III, "b", CP caso haja a reparação do
dano antes do julgamento.

Não havendo critério legal para a aplicação da causa de diminuição de pena, a jurisprudência estipulou
um critério objetivo pelo qual quanto mais próximo da data da consumação do crime for a reparação do dano,
maior será a diminuição da pena. A reparação do dano entre a consumação do crime e o oferecimento da
denúncia pelo MP (art. 41 CPP) terá redução maior do que a reparação entre o oferecimento da denúncia e o
recebimento da denúncia pelo juiz (art. 396, CPP). Após o recebimento da denúncia não haverá mais direito à
causa de diminuição de pena do art. 16, mas o agente poderá valer-se da atenuante do art. 65, III, "b", CP caso
repare o dano antes do julgamento.

Questão: Mévio é autor do crime do art. 155, §4º, IV e Tício é partícipe. A reparação do dano do art. 16
realizada por Mévio beneficia o Tício (partícipe)? R.: Sim (explicação na aula de concurso de pessoas).

CRIME IMPOSSIVEL (art. 17, CP)

Também conhecido como tentativa inidônia, tentativa inadequada ou quase crime. No crime
impossível há dolo por parte do agente, mas por absoluta impropriedade do objeto ou absoluta ineficácia do
meio, o crime jamais poderia ocorrer.

Pela teoria subjetiva, quando caracterizada a manifesta intenção do agente de praticar o crime ele
deverá responder pela tentativa. Na teoria sintomática, caracterizada a periculosidade do agente, ainda que
em situação de crime impossível, deverá ser responsabilizado pela tentativa do crime. A teoria objetiva pura
considera impossível o crime quando caracterizada tanto a absoluta ou relativa impropriedade do objeto
quanto a absoluta ou relativa ineficácia do meio, ficando afastada a tentativa. Por fim, na teoria objetiva
temperada, teoria adotada pelo CP (art. 17), restará configurado o crime impossível apenas quando o objeto é
absolutamente impróprio ou o meio absolutamente ineficaz.

O princípio penal da lesividade/ofensividade/alteridade fundamenta a não punição da tentativa no


caso de crime impossível, já que o Direito Penal só deve atuar quando o bem jurídico protegido sofre lesão ou
perigo de lesão.
Objeto material do crime constitui a pessoa ou a coisa sobre a qual recai a conduta do agente.
Exemplo 1: rapaz coloca substância abortiva na bebida de sua namorada sem que ela estivesse realmente
grávida. É situação de crime impossível por absoluta impropriedade do objeto. Exemplo 2: Mévio, pensando
que Tício estivesse dormindo, atira em sua cabeça. Posteriormente, é constatado pela perícia que Tício já
estava morto no momento do disparo, pois havia ingerido veneno sendo, portanto, crime impossível por
absoluta impropriedade do objeto.

Meio é o instrumento utilizado para realizar o crime. Exemplo 1: Um rapaz, querendo provocar aborto
em sua namorada, oferece-lhe água para beber, pensando se tratar de substância abortiva. No caso o meio é
absolutamente ineficaz, configurando crime impossível. Exemplo 2: Mévio, intentando matar Tício, aciona
diversas vezes a tecla do gatilho de um revolver que não sabia estar descarregado. Em ambos os casos o crime
é impossível por absoluta ineficácia do meio utilizado.

A súmula 145 do STF, que trata das espécies de prisão em flagrante, considera flagrante
preparado/provocado crime de ensaio, havendo quase crime, ou seja, crime impossível.

Já a súmula 567 STJ trata da situação em que o sujeito vai ao supermercado e esconde produto em
suas roupas, o que é detectado pelas câmeras de monitoração do estabelecimento, e após passar pelo caixa
sem pagar pelo produto escondido preso por seguranças. Não é caso de crime impossível para o STJ, devendo
o agente responder pela tentativa.

ILICITUDE

Só se examina a ilicitude de fato típico. A relação entre o fato típico e ilicitude pode ser descrita por
duas teorias. A primeira, conhecida como "ratio essendi" ou tipo total, afirma que sempre que o fato é típico
será ilícito. Para essa vertente o crime possui apenas dois elementos: fato típico e culpabilidade. Já a "ratio
cognoscendi" é a construção doutrinária que afirma que quando o fato é típico há indícios da ilicitude. Isso
porque existem causas de exclusão da ilicitude que não afastam o fato típico. Essa é a doutrina seguida pelo
CP.

Pode-se classificar a ilicitude em formal (relação de contrariedade entre a conduta humana e o


ordenamento jurídico) ou material (existência de lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico penalmente
tutelado). Contudo, a maioria da doutrina dispensa essa classificação.

Causas de exclusão da ilicitude legais (prevista em texto expresso de lei) podem ser genéricas (na parte
geral do CP) como é o caso do estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento de um dever legal,
exercício regular de um direito, ou específicas (na parte especial do código. Ex.: art. 128, I, CP e art. 146, §3º,
I,CP). Há também causas supralegais de exclusão da ilicitude (consentimento do ofendido).

Toda causa de exclusão de ilicitude exige requisito subjetivo e objetivos. Em se tratando do requisito
subjetivo, é necessário a consciência e vontade do agente de estar atuando conforme a excludente de ilicitude
(estado de necessidade, ou legitima defesa, etc.).

ESTADO DE NECESSIDADE (art. 23, I, c/c art. 24 CP)

Além do requisito subjetivo, deve haver os requisitos objetivos do perigo atual - situação concreta de
risco de ocorrer um dano - e de não ter provocado o risco por sua vontade. Embora não apareça no texto legal
do estado de necessidade, Francisco de Assis Toledo e Rogério Greco consideram que o estado de necessidade
engloba também o perigo eminente.

O requisito objetivo de não ter provocado o risco por sua vontade, para a doutrina, significa não ter
provocado dolosamente a situação de perigo. Exemplo 1: sujeito, como forma de brincadeira, resolve colocar
fogo na lixeira do cinema, mas o fogo se espalha. Esse sujeito não poderá alegar estado de necessidade para se
salvar. Exemplo 2: sujeito, de forma imprudente, joga bituca de cigarro no chão, causando incêndio no cinema.
Caberá estado de necessidade para ele se salvar.

Outro requisito objetivo é a inevitabilidade: caso exista qualquer possibilidade de evitar o perigo, não
caberá a excludente do estado de necessidade. Ex.: Jack e Rose em destroços do Titanic. Havendo outras
tábuas de salvação, não caberá o estado de necessidade.

OBS.: Para agir em estado de necessidade de 3º é necessário a autorização deste quando se tratar de bens
jurídicos disponíveis. Exemplo: casas 1, 2 e 3. Casa 1 está em chamas. Para salvar a casa 3 de ser atingida pelas
chamas seria necessário derrubar a casa 2. Para isso é necessário a autorização do proprietário da casa 3.

O CP segue a teoria unitária: o estado de necessidade funciona apenas como causa de exclusão de
ilicitude (estado de necessidade justificante). É totalmente permitido que patrimônio seja destruído para
salvar uma vida. Existe, contudo, no direito comparado a teoria diferenciadora, que admite o estado de
necessidade desculpante (Portugal e Alemanha) e justificante. No Código militar (art. 39 e 43) percebemos a
adoção da teoria diferenciadora , aceitando que o agente atue de forma a sacrificar bem de maior valor do que
aquele que se quer preservar.

Afastado o estado de necessidade, haverá crime. Mas o juiz, ainda sim, poderá aplicar a minorante do
art. 24, §2º, reduzindo a pena de 1/3 a 2/3.

Não poderá alegar o estado de necessidade o agente que tinha o dever legal de enfrentar o perigo
(salva-vidas, bombeiro, etc.).

É possível estado de necessidade contra estado de necessidade. Ex.: náufragos disputando tábua de
salvação.

LEGÍTIMA DEFESA (art. 23, II c/c art. 25)

Além do requisito subjetivo há quatro requisitos objetivos: agressão injusta (agressão humana),
agressão atual ou iminente, emprego dos meios necessários (exame qualitativo do meio) e meio moderado
(exame quantitativo). Pode ser utilizada para proteger qualquer bem jurídico.

Não é possível legítima defesa contra legítima defesa, pois a agressão deve ser injusta, porém é
perfeitamente possível a legítima defesa real contra legítima defesa putativa (art. 20, §1, CP). A legítima
defesa sucessiva também é possível. Ocorre quando se repele o excesso doloso ou culposo do exercício da
legítima defesa de outrem. A doutrina fala da existência de excesso intensivo (excesso nos meios empregados)
e excesso extensivo (prolongamento da conduta), porém a lei não cuidou desses excessos.

Questão: Legítima defesa e estado de necessidade com erro na execução excluem a ilicitude?
Exemplo: Mévio, agindo em legítima defesa, atira em Tício, mas acaba acertando Caio. R.: Sim.

ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL 26/03/2018

Constitui causa que exclui a ilicitude (art. 23, III, CP). Não há conceito legal, mas possui, além do
requisito subjetivo, o requisito objetivo do cumprimento exato de um dever previsto em uma norma. Exemplo:
oficial de justiça cumprindo mandado de busca e apreensão de bem.

Para a doutrina moderna da tipicidade conglobante o fato típico é composto por conduta + resultado
+ nexo causal + tipicidade e a tipicidade penal deixou de ser apenas a mera tipicidade formal e passou a ser
tratada como a soma da tipicidade formal + material + conduta antinormativa. Como consequência, antecipa-
se o exame da excludente de ilicitude do estrito cumprimento do dever legal para a tipicidade. Assim,
contrariando o que diz o CP, para doutrina moderna da tipicidade conglobante, o estrito cumprimento do
dever legal exclui a antinormatividade, e, por conseguinte, a tipicidade penal, e não a ilicitude. Assim, por essa
teoria, se o agente chegou a ser denunciado, será absolvido sumariamente com fundamento no art. 397, III,
CPP, e não no art. 397, CPP. Se a absolvição for ao final do processo, será fundamentada pelo art. 386, III, CPP
e não o art. 386, VI, CPP.

EXERCÍCIO REGULAR DE UM DIREITO (art. 23, III, CP)

Exercício regular de um direito possui o mesmo elemento subjetivo das outras excludentes de ilicitude
e, como requisito objetivo, o agente deve exercer um direito de acordo com as normas estabelecidas.
Exemplo: art. 301, CPP (qualquer do povo pode prender em flagrante).

CAUSA SUPRALEGAL DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE

Não há lei prevendo essa causa de exclusão da ilicitude. Trata-se do consentimento do ofendido, que
possui duas funções excludentes: ou atua como causa de exclusão da tipicidade (art. 164, CP, art. 150, CP e art.
70, CDC) ou como causa de exclusão da ilicitude (art. 163 CP). Para que o consentimento do ofendido atue
como causa de exclusão de ilicitude há 3 requisitos: bem jurídico deve ser disponível (ex.: lesão corporal leve
na tatuagem); capacidade de consentimento (maior de 18 anos); e consentimento prévio ou concomitante (o
consentimento posterior não é admitido).

OFENDÍCULOS

Instrumentos utilizados de forma lícita para a defesa/proteção. Exemplo: Fragmentos de vidro,


concertinas, cercas elétricas sobre os muros. Causando ferimento em um invasor o fato típico não será ilícito,
pois atuará a causa de exclusão de ilicitude da legítima defesa preordenada ou legítima defesa predisposta.

CULPABILIDADE

Constitui o juízo de reprovação que recai sobre o autor do fato típico e ilícito (injusto penal). Será
examinada sempre de forma individual. Para a doutrina do finalismo são requisitos da culpabilidade a
imputabilidade penal, a penal consciência da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa.

FASES do DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA CULPABILIDADE


Autor Teoria/fase da culpabilidade Requisitos da culpabilidade
Lisz Psicológica Dolo e culpa
Dolo normativo (potencial consciência da ilicitude),
Frack/ Mezger Normativa culpa, imputabilidade penal, exigibilidade de
consulta diversa (elemento normativo)
Finalismo/ Normativa pura (migra o dolo - Imputabilidade penal, potencial consciência da
Welzel consciência e vontade do resultado - e a culpa ilicitude e exigibilidade de conduta diversa.
para a conduta)

CAUSAS DE EXCLUSÃO DA CULPABILIDADE

Pode ocorrer absolvição sumária em razão de causa de exclusão de culpabilidade (art. 397, III, CPP)
exceto se for caso de inimputabilidade penal. Também cabe ao final do processo, com fundamento no inciso
art. 386, VI, CPP.

Macete: a expressão "é isento de pena", na parte geral do código, configura causa que exclui a culpabilidade.
CAUSAS DE IMPUTABILIDADE PENAL

A doença mental (art. 26, "CAPUT", CP) ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado que
retira a capacidade do agente entender o caráter ilícito do fato ou de se determinar conforme esse
entendimento é causa de exclusão da culpabilidade (critério biopsicológico). Essa situação exige perícia
(incidente de insanidade mental do art. 149 CPP).

A medida de segurança terá prazo mínimo de 1 a 3 anos e possui duas espécies: detentiva (internação
em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico), quando a pena abstrata for de reclusão ou preventiva
(tratamento ambulatorial), quando a pena abstrata for de detenção. Ambas possuem prazo mínimo de 1 a 3
anos após o qual será realizada perícia de cessação de periculosidade. A expressão "prazo indeterminado" não
foi recepcionado pelo art. 5º da CF/88, conforme Súmula 527 STJ, segundo a qual a prorrogação da medida de
segurança terá como limite a pena abstrata máxima do "crime" praticado (se é inimputável não houve crime).

Crítica: Ao invés do critério da reprovabilidade (pena abstrata de reclusão ou detenção) escolhido pelo
legislador para determinar internação ou tratamento ambulatorial deveria haver um critério com base em
laudos periciais. O critério utilizado para os imputáveis não poderia ser utilizado também para os inimputáveis.

O semi-imputável pode receber sentença penal condenatória, mas com direito à causa de diminuição
de pena de 1/3 a 2/3 do art. 26, P. único CP ou receber sentença absolutória imprópria do art. 98 CP tendo a
pena substituída por medida de segurança. A esse sistema é dado o nome de vicariante ou substitutivo.

O menor de 18 anos também é inimputável (art. 27 CP) pois o CP, além do critério biopsicológico de
imputabilidade penal, também adotou o critério biológico. Nesse caso não se admite absolvição sumária por
parte do juízo criminal, devendo juízo incompetente extinguir o processo e remeter os autos para o juízo
especializado. A inimputabilidade do menor de 18 termina no primeiro instante do dia em que completar 18.

A emoção e a paixão, embora não excluam a imputabilidade penal, podem funcionar como causa de
diminuição de pena em alguns crimes. Exemplo: homicídio (art. 121, §1º) ou lesão corporal por violenta
emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima (art. 129, §4º, CP).

A embriaguez pode ser causa de exclusão da culpabilidade ou não. Na embriaguez voluntária o


indivíduo deseja ingerir álcool para ficar embriagado. Já na embriaguez culposa o individuo não desejava se
embriagar, mas termina por se exceder na quantidade ou faz combinação de bebidas. Nos dois casos, mesmo
que fique completamente embriagado, o agente responderá pelo crime sendo imputável através do que a
doutrina chama de "actio libera in causa", pois a causa da embriaguez foi realizada por ação livre.

A embriaguez acidental completa ocorre por caso fortuito ou força maior e exclui a culpabilidade.
Exemplo 1.: Sujeito que trabalha em fabrica de cachaça escorrega e cai em barril de cachaça. Exemplo 2:
Mévio, doente mental sem discernimento, obriga Tício a se embriagar completamente. Em seguida, Mévio e
Tício praticam crime de estupro contra Maria. Nessa situação, nenhum dos dois praticou crime, sendo ambos
absolvidos, Mévio com fundamento no art. 26, "CAPUT", CP e Tício, com fundamento no art. 28, §1º, CP.
QUADRO DA EMBRIAGUEZ E A CULPABILIDADE
EMBRIAGUEZ CULPABILIDADE Descrição Dispositivo Legal
Letárgica Inimputável É o coma alcoólico. Ausência de conduta, logo,
não haverá tipicidade penal.
Patológica Inimputável Equipara-se à doença mental (depende de Art. 26, "CAPUT", CP.
perícia).
Acidental completa Inimputável Ocorre por caso fortuito ou força maior Art. 28, §1º, CP
Acidental incompleta Imputável Redução de 1/3 a 2/3 da pena Art. 28, §2º, CP
Voluntária Imputável "actio libera in causa" Art. 28, II, CP
Culposa Imputável "actio libera in causa" Art. 28, II, CP
Preordenada Imputável "actio libera in causa". Aplica-se agravante. Art. 61, II, "l", CP

POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE

Afastada a potencial consciência da ilicitude restará configurada a exclusão da culpabilidade. O juízo de


reprovabilidade exige a potencial consciência da ilicitude, ou seja, a possibilidade do agente saber que aquele
comportamento era contrário ao ordenamento jurídico. Em raros casos é possível identificar que o agente
realizou a conduta sem o conhecimento de sua ilicitude.

A lei penal prevê dois casos que excluem a potencial consciência da ilicitude: as descriminantes
putativas do art. 20, §1º, e o erro sobre a ilicitude do fato (erro de proibição) do art. 21. O erro de proibição
não se confunde com o desconhecimento da lei (art. 21, CP) que, apesar de atenuar a pena (art. 65, II), é
inescusável. No erro de proibição o agente está ciente de tudo o que está acontecendo, mas acredita que sua
conduta é lícita.

INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA

A exigibilidade de conduta diversa é a possibilidade de agir de outra maneira. São duas as causas de
exclusão da culpabilidade por inexigibilidade de conduta diversa: coação irresistível e obediência hierárquica
de ordem não manifestamente ilegal. Esses são dois casos expressos no CP de autoria mediata. A coação
moral irresistível é aquela pressão psicológica que, de tão intensa, impede o agente de agir de outra maneira.
Exemplo: Mévio, gerente de banco, tem sua família sequestrada e é obrigado a retornar a agência e pegar
todo dinheiro e a Tício. No caso narrado não se pode exigir do gerente conduta diversa. Não há concurso de
pessoas, pois Tício é o autor mediato que se vale de outra pessoa, a qual não responderá pelo delito.

Na coação moral resistível, embora não se configure o art. 22 do CP, pode haver a causa de
diminuição de pena do art. 65, III, "c", CP, haja vista a coação sofrida. Já para o autor da coação haverá a
agravante do art. 62, II, CP. Exemplo: gerente de banco sofre ameaças de que sua família será sequestrada se
não pegar dinheiro do banco para os criminosos.

Também exclui-se a culpabilidade quando um superior hierárquico dá uma ordem não


manifestamente ilegal ao seu subordinado que, ao realizá-la, pratica um crime. Nesse caso, quem responde é
o superior hierárquico, que é considerado autor mediato do crime.

ERRO

Erro de tipo constitui a falsa percepção da realidade. Constitui uma incongruência entre situação do
mundo real e a informação compreendida pelo agente. Já no erro de proibição o agente está ciente de tudo o
que está acontecendo, mas acredita que sua conduta é lícita. O erro de tipo pode ser essencial, acidental ou
descriminantes putativas.

No erro essencial (art. 20, "CAPUT", CP), também chamado de erro de tipo incriminador, o agente
atua sem o dolo em relação à totalidade dos elementos da definição do delito. O erro atinge circunstância
elementar do tipo (palavra ou expressão contida na definição do crime). Exemplo 1: Mévio guarda aparelho
celular alheio em seu bolso acreditando se tratar de seu próprio aparelho. Exemplo 2: Maria, com 13 anos,
está em uma boate onde só é permitido entrada maiores de 18 anos. Tício, por se tratar de lugar que proíbe
entrada de menores e pelo porte físico de Maria, teve relações sexuais com ela acreditando se tratar de
pessoa maior de 18 anos. Exemplo 3: caçador vê moita se mexendo na floresta e, por imaginar se tratar de
uma onça, atira contra ela, matando seu amigo. Exemplo 4: Dona Maria aceita levar para sua cidade caixa
lacrada para uma pessoa que acabou de conhecer na rodoviária e que diz se tratar de medicamento para a
mãe, sem saber que na realidade a caixa continha drogas ilícitas.

O erro de tipo essencial pode ser invencível/escusável/ inevitável ou vencível/evitável/inescusável.


No erro de tipo invencível não há dolo ou culpa, excluindo a tipicidade penal. Nele cabe a absolvição sumária
com fundamento no art. 397, III, CPP. Já no erro vencível o agente responde por culpa, desde que o crime
esteja previsto a modalidade culposa.

Erro de tipo acidental ocorre quando a falsa percepção da realidade atinge apenas circunstância
acessória do crime e, portanto, não irá afastar a responsabilidade do agente, pois não afasta o dolo. Divide-se
em erro sobre o objeto, erro sobre a pessoa/"error in persona" (art. 20, §3º, CP), erro na execução/"aberratio
ictus"(art. 73, CP), resultado diverso do pretendido/"aberratio criminis" (art. 74, CP) e dolo geral.

Não há dispositivo expresso que trate do erro sobre o objeto. Nessa espécie de erro de tipo acidental
o agente erra em relação ao objeto sobre o qual ele pretendia agir. Exemplo: agente pretendia furtar de
joalheria anel que julgava ser de ouro, mas, ao invés disso, subtrai bijuteria. Responderá pelo furto da mesma
forma.

O erro sobre a pessoa não afasta a responsabilidade e ainda translada as características da pessoa
pretendida para a pessoa que foi de fato atingida pela conduta criminosa. Exemplo: Tício, intentando matar
seu pai, Mévio, mata Caio por engano. Tício irá responder pelo crime do art. 121 c/c art. 20, §3º c/c art. 61, II,
"e", CP. Exemplo 2: Mãe, logo após o parto, sob influência do estado puerperal, dirigi-se ao berçário do
hospital e ali mata bebê que julgava ser seu filho, mas que no dia seguinte revelou ser outra criança. A mãe
responderá por infanticídio art. 123 c/c art. 20, §3º, CP e não por homicídio.

Erro na execução/"aberratio ictus", (art. 73, "CAPUT", CP) Exemplo: Mévio, pretendendo matar seu
pai, Tício, atira contra ele, mas por erro de pontaria, acerta Caio. Mévio responde como se tivesse atingido
Tício: art. 121 c/c art. 73 e art. 61, II, "e", CP. Embora as consequências sejam as mesmas do erro sobre a
pessoa, no erro na execução não há uma falsa percepção da realidade, portanto. Exemplo 2: Mévio pretende
matar o próprio pai, Tício, mas, por erro na execução, além de seu pai também atinge Caio, que também
morre. Há concurso de crime formal próprio do art. 70, aplicando a pena mais grave com aumento de 1/6 até
a metade, pois um crime foi doloso e o outro culposo. Exemplo 3: Mévio, agindo para repelir injusta agressão
de Tício, dispara contra ele, mas, por erro na execução, mata Caio. Mévio cometeu crime? Por se tratar de erro
acidental não afastará a responsabilidade do agente, contudo a responsabilidade de Mévio era pela sua
legítima defesa, não tendo, portanto, praticado crime. Mévio praticou art. 25 c/c art. 73, CP.

O resultado diverso do pretendido, "aberratio criminis", está expresso no art. 74, CP e ocorre quando é
atingido bem jurídico de espécie diversa da pretendida. Exemplo 1: Mévio tenta acertar o carro de Tício,
arremessa a chave de roda, mas, ao invés disso, atinge Tício, que acaba morrendo. No caso, ignora-se a
tentativa de dano e Mévio responde apenas por homicídio culposo (art. 121, c/c art. 74CP). Exemplo 2: Mévio,
pretendendo provocar acertar dano no veículo de Tício, atira uma chave de roda que produz o dano no
veículo, mas também acaba acertando e matando Tício. Mévio responde pelo dano (art. 163 CP) e pelo
homicídio culposo com resultado diverso do pretendido (art. 121, §3º, c/c art. 74 CP) em concurso formal (art.
70, CP).
Dolo geral é expressão condenada por parte da doutrina, conhecida também como erro sucessivo ou
erro quanto ao nexo causal, "aberratio cauase". O agente realiza a conduta para produzir determinado
resultado o qual acredita que foi produzido e, em seguida, empreende nova conduta com outro objetivo (para
ocultar o crime, por exemplo) sendo esta, de fato, a causa do resultado. O agente responde pelo resultado
conforme foi produzido, sendo essa solução controversa na doutrina. Exemplo: esposa, pretendendo causar
resultado morte, acerta violentamente a cabeça do marido com socador de pilão. Pensando que a vítima já
estivesse morta e, pretendendo ocultar o crime, atira a vítima de um penhasco, sendo a queda o verdadeiro
motivo do resultado morte.

DESCRIMINANTES PUTATIVAS (art. 20, §1º, CP)

Pode ser considerado como erro de tipo permissivo ou erro sui generes. Nele a falsa percepção da
realidade atinge palavra ou expressão que constitui elemento de uma norma permissiva, uma causa de
exclusão de ilicitude. Exemplo 1: Mévio e Tício discutem e Mévio ameaça matar Tício. No dia seguinte, Mévio,
arrependido, escreve um bilhete de desculpas para Tício. Após se aproximar de Tício, Mévio saca rapidamente
do bolso o bilhete e Tício, acreditando se tratar de uma arma, atira contra Mévio. Trata-se de legítima defesa
putativa. Exemplo 2: Mévio acende bomba de fumaça dentro do cinema. Tício, acreditando tratar-se de
situação de estado de necessidade, mata Caio enquanto saia da sala de cinema. Exemplo 3: Policial, em estrito
cumprimento do dever legal, prende irmão gêmeo pensando se tratar da pessoa a quem o mandado de prisão
se referia.

Se o erro for invencível/inevitável/escusável será causa de exclusão da culpabilidade. Se o erro for


vencível/evitável/inescusável, o agente responde pelo resultado de forma culposa (culpa imprópria ou culpa
por equiparação). Exemplo 4: empregada retornando de madrugada força a porta da casa do patrão, Mévio,
que, pensando se tratar de um criminoso, após a empregada conseguir entrar na casa atira contra ela. Trata-se
de erro de tipo permissivo vencível e Mévio responderá a título de culpa (art. 121, §3º, c/c art. 20, §1º, CP). Se
a empregada sobrevive, surge divergência na doutrina se Mévio responde pelo art. 129, §6º c/c art. 20, §1º CP
ou se responderá pela tentativa (art. 121, §3º c/c art. 20, §1º e art. 14, II, CP). A explicação nesse caso é que,
embora responda pela pena do crime culposo, existiu o dolo na ação, pelo que poder-se-ia aplicar a tentativa.

ERRO SOBRE A ILICITUDE DO FATO

Também chamado de erro de proibição, pode ser de três espécies: direito, indireto e mandamental.
O desconhecimento da lei, apesar de atenuar a pena (art. 65, II), é inescusável (art. 21, CP). No erro de
proibição direto o agente erra quanto a uma norma de proibição. Exemplo 1: Holandês, que nunca saiu do
país, vem para o Brasil e aqui é flagrado fumando maconha. Exemplo 2: morador de zona rural, sabedor da
existência do crime de porte ilegal de arma livra-se da arma, mas guarda cartucho de lembrança.

Erro de proibição mandamental, ou erro de mandamento, ocorre quando o agente estiver em erro de
proibição em um tipo omissivo. Erro de proibição indireto/erro de permissão/descriminante putativa por erro
do proibição, ocorre quando o agente erra quando supõe a existência no ordenamento jurídico de uma causa
de exclusão de ilicitude ou erra quanto ao alcance dela.

O código penal optou pela culpabilidade conforme o finalismo, que adota a teoria normativa pura
limitada, segunda a qual ora teremos discriminante putativa por erro de tipo ora por erro de proibição. Na
teoria normativa pura extremada, não adotada pelo CP, TODA discriminante putativa surge por erro de
proibição.

O erro de proibição invencível é causa de exclusão da culpabilidade, isentando de pena. Se o erro for
vencível, responderá pelo crime, mas fará jus a minorante de 1/6 a 1/3.
CONCURSO DE PESSOAS (Título IV, do art. 29 ao 31, CP)

Os crimes podem ser monosubjetivos ou plurisubjetivos (não confundir com monosubsistente e


plurisubsistente). Monosubjetivo é o crime em que a conduta típica pode ser praticada por somente uma
pessoa (crime de concurso eventual de pessoas). Plurisubjetivo é o crime em que a conduta típica deve ser
praticada por mais de uma pessoa. Exemplo: art. 137, CP (doutrina diz que o mínimo é de 3 pessoas), art. 288
(associação criminosa, mínimo de 3 pessoas), art. 354 (motim de presos) e art. 201 CP (paralisação de trabalho
de interesse coletivo).

O concurso de pessoas foi concebido visando os crimes monosubjetivos. Ex.: art. 121 c/c art. 29 CP
para punir pessoa que empresta arma para outra praticar homicídio. Contudo é possível, excepcionalmente, o
concurso de pessoas para crimes plurisubjetivos. Exemplo: sujeito que não é presidiário, mas presta auxílio
para o motim responderá pelo art. 354 c/c art. 29 CP.

Requisitos segundo a doutrina são: pluralidade condutas (ação ou omissão) e pessoas; liame subjetivo
(convergência subjetiva: dolo-dolo ou culpa-culpa); nexo causal e identidade de infração penal (crime único).

Questão: Maria era carona no veículo de Antônio (motorista) e, querendo atingir Adriana sem que Antônio
soubesse de seu designo criminoso, estimulou Antônio a colocar velocidade excessiva no veículo, pois sabia
que Adriana estaria logo a frente, atropelando Adriana que ficou paraplégica. Não há concurso de pessoas
nesse caso, porque Maria atuou com dolo e Antônio com culpa, inexistindo, portanto, liame subjetivo. Maria
praticou art. 121 c/c art. 14, II, CP enquanto Antônio responderá pelo art. 303 CTB. Maria é autora mediata.

Mévio quer matar a sogra. Tício também, mas um não sabe do outro. Embora ambos tenham o dolo
não haverá concurso de pessoas, por ausência do liame subjetivo. Trata-se, nesse caso, de autoria colateral.

O acordo prévio é prescindível (dispensável). Exemplo: A empregada que vê um ladrão e decide abrir a
porta para que ele possa entrar também será indiciada por furto, ainda que não haja acordo prévio.

Código de 1940 Código de 1984


"Da coautoria" (tomava a espécie por gênero). "Do concurso de pessoas".
Havia atenuante da participação de menor importância Participação de menor importância passou a ser causa de
diminuição de pena de 1/6 a 1/3.
Desvio subjetivo permitia a responsabilidade objetiva Art. 29, §2º eliminou a responsabilidade objetiva.
Não havia a expressão "na medida de sua Expressão "na medida de sua culpabilidade" permite separação
culpabilidade". das pessoas que concorreram para o crime (autor e partícipe).

Pela teoria unitária/monista todos os indivíduos respondem pelo mesmo crime, independente se são
autores ou partícipes. É a teoria adotada expressamente pelo CP no artigos 29, 31, 62, I e 62, II e no item 25 da
exposição de motivos da parte geral do CP. Contudo ela é adotada de forma mitigada/matizada/temperada.
Isso porque há casos em que os agentes, embora concorram para o mesmo fato, serão tratados de forma
diferente, havendo dois crimes. Exemplo explicativo do art. 29, §2º (desvio subjetivo ou cooperação
dolosamente distinta onde há mudança do dolo): Mévio e Tício acordam praticar crime de roubo contra taxista
apenas fingindo estar armados. Ao final do roubo, Tício saca um arma que levava escondido, a qual Mévio
desconhecia, e atira contra o taxista, matando-o. Mévio deve responder pelo art. 157, §2º, II, CP e Tício pelo
art. 157, §3º, "in fine", CP. Sendo o resultado mais grave previsível - ainda que não previsto - Mévio
responderá pelo crime menor, mas haverá aumento de pena de até a metade. Assim, Mévio, sabedor da arma
de Tício, responderá agora pelo art. 157, §2º, I, II, c/c art. 29, §2º, CP.

Para a doutrina, as exceções à teoria monista são dualistas. A teoria dualista irá agrupar os
concorrentes em dois crimes diferentes: um praticado pelos autores e outro praticado pelos partícipes. Na
teoria plurralista tanto serão os crimes quanto os agentes. Na parte especial do CP, os crimes dos artigos 124
e 126 constituem exceção à teoria monista, não podendo ocorrer concurso de crimes entre o agente que
pratica o 124 e o que pratica o 126. Situação parecida é a que ocorre com nos crimes dos artigos 333
(corrupção ativa) e 317 (corrupção passiva), cindindo o concurso de pessoas. Também o art. 318 (facilitação de
contrabando ou descaminho) e o 334-A (importar ou exportar mercadoria proibida), desfazendo a identidade
de infração penal e, portanto, o concurso de pessoas. Em se tratando de legislação extravagante, há também
exceção à teoria unitária no caso do art. 33, "CAPUT" o art. 36, ambos da Lei 11.343/06.

AUTORIA E PARTICIPAÇÃO

Doutrina classifica diversas formas de autoria. Na autoria mediata o autor mediato irá se valer de
outra pessoa que atuará como mero instrumento e que, em regra, não responderá pelo crime. Exemplo:
hipnotizar alguém para praticar o crime (não haverá fato típico), valer-se da legítima defesa de alguém (não
haverá ilicitude), valer-se de inimputável (ausência de culpabilidade).

O crime comum é aquele que pode ser praticado por qualquer pessoa, não exigindo a descrição do
delito qualidade especial do sujeito ativo. No crime próprio, a conduta típica exige uma qualidade do sujeito
ativo. Exemplo: servidor público, gestante, médico (art. 269, CP), etc. O crime de mão própria (não se
confunde com o crime próprio), ou de atuação pessoal, exige que a conduta seja realizada com o próprio
corpo do sujeito não permitindo a coautoria nem autoria mediata, admitindo a participação (Exemplos: a
deserção - crime militar, o falso testemunho do art. 342 e o abandono de função do art. 323, CP.

Na autoria por convicção o autor sabe da ilicitude de sua conduta, mas motiva sua conduta com base
em seus próprios princípios religiosos, políticos, filosóficos. Nesse caso, não se admite a adoção de teses
absolutórias, pois se o sujeito está na sociedade não pode impor a ela seus próprios princípios, devendo
obediência aos princípios da sociedade em que vive.

Autoria por determinação, com origem em Zaffaroni, é utilizada para punir o agente que determina
alguém à prática de um crime, hipótese onde não seria possível a autoria mediata. Exemplo: crime de falso
testemunho onde a testemunha é hipnotizada para mentir em audiência. Hipnotizador é autor por
determinação.

O código não traz conceito de autor, ficando a cargo da doutrina, através de diversas teorias, a sua
definição. A teoria restritiva considera autor o agente que realiza total ou parcialmente a conduta típica.
Contudo, essa teoria não responde duas questão: a autoria intelectual do crime e a autoria mediata. Para
resolver essas questões, surge a teoria do domínio final da ação de Welzel, que não nega a teoria restritiva,
mas inclui como autor o agente que tem o domínio do curso da causalidade, ainda que sem realizar a conduta
típica. Segundo parcela da doutrina, o CP segue a teoria restritiva, conforme se infere pela expressão "executa
o crime ou nele participa" (art. 62, IV).

Coautoria significa autoria plural e ocorre quando no caso dois autores foram identificados. Ex.:
mandante e executor.

A conduta do partícipe gravita na zona periférica do tipo penal, manifestando-se por meio da
participação moral (induzimento e/ou instigação) e material (auxílio). OBS.: Na hipótese do art. 122, CP será
autor e não partícipe, uma vez que a conduta de instigar ou induzir foi tipificada.

PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA (ART. 29, §1º, CP)

Não há definição na lei sendo a melhor explicação encontrada no direito alienígena, na teoria dos bens
escassos (Espanha). Segundo essa teoria há condutas escassas, como empréstimo de arma de fogo, que estão
quase na totalidade ligadas a crime e condutas abundantes, como carona. Quando o agente realizar conduta
escassa, não caberá participação de menor importância. Quando a conduta for abundante (conduta não
necessariamente vinculada a crimes), restará configurada a participação de menor importância. Só cabe
participação de menor importância para o partícipe. A natureza jurídica é de causa de diminuição de pena de
1/6 a 1/3. Apesar do uso da palavra "poderá" a redução de pena é de aplicação obrigatória. Não há definição
legal para quantificar a diminuição da pena. Deve-se usar o critério objetivo da culpabilidade.

Quando a palavra "Poderá" significa "deverá" no Código Penal


Artigo Aplicação pelo Juiz Descrição
29, §1º Obrigatória Participação de menor importância
68, P. único Obrigatória Concurso de causas de aumento ou diminuição na parte especial
81, §1º Facultativa Revogação da suspensão condicional da pena
87 Facultativa Revogação do livramento condicional
121, §5º Obrigatória Juiz deixar de aplicar pena no homicídio culposo

ESTUDO DO ART. 30 CP (Circunstâncias incomunicáveis) 06/04/2018

Caracterizado o concurso de pessoas, há circunstâncias pertencentes a um agente que não serão


transferidas para o outro agente. As circunstâncias e as condições de caráter pessoal no concurso de pessoas
não se comunicarão, salvo quando elementares. Circunstâncias pessoais são as circunstâncias subjetivas,
circunstâncias que pertencem ao sujeito, ao contrário das circunstâncias objetivas, que se relacionam com o
tempo, lugar, forma ou meio de realização do delito. Exemplo: no art. 150, §1º , violação de domicílio durante
a noite é circunstância objetiva, assim como lugar ermo. No art. 121, §2º, III e IV, veneno e emboscada são
circunstâncias objetivas no crime de homicídio. No art. 312 CP ser funcionário público é circunstância
subjetiva. Estado puerperal no art. 123 CP no crime de infanticídio também é um circunstância subjetiva. Por
fim, no art. 61, II, "e", CP, ascendente é circunstância subjetiva.

Circunstâncias legais, segundo a doutrina, podem ser qualificadoras, elementares, majorantes (causa
de aumento de pena), minorantes (causa de diminuição de pena), agravantes e atenuante.

Qualificadora é a circunstância legal prevista na parte especial do código que, associada a tipo penal
básico ou fundamental (caput do artigo), produz a alteração da pena abstrata com a sua elevação, surgindo
um novo mínimo e/ou máximo. Exemplo: 150, §1º, art. 121, §2º, III, art. 155, §4º, §5º e §6º, CP.

Elementar é a circunstância legal prevista no tipo penal básico ou fundamental, sendo que a sua
supressão implicará atipicidade absoluta (o crime desaparece) ou relativa (vira outro delito). Exemplo: no art.
123 retirando "estado puerperal" surge um novo crime: homicídio. Retirando "funcionário público" do art. 312
CAPUT, deixa de ser corrupção passiva e torna-se apropriação indébita (atipicidade relativa). Suprimindo
"funcionário público" do art. 317 CP deixa de ser crime (atipicidade absoluta).

Majorante é a circunstância legal prevista na parte geral ou especial do código que produz elevação da
pena em quantidade fixa ou variável, mas sem alterar a pena abstrata. Exemplo: art. 29, §2º, CP, art. 70, art.
71, CAPUT e P. único, art. 121, §4º, art. 135, P. Único, art. 141, II (crime contra honra de servidor) ou III e P.
único (mediante paga). art. 157, §2º, I, (emprego de arma) e art. 40 da Lei 11.343/06.

Minorante é a circunstância legal prevista na parte geral ou especial que produz a redução da pena em
quantidade fixa ou variável, mas sem alterar a pena abstrata. Exemplo: art. 14, P. Único (tentativa), art. 16, art.
21, art. 24, §2º, Art. 26, P. único, art. 28, §2º, art. 29, §1º (participação menor importância), art. 121, §1º
(homicídio "privilegiado"), art. 155, §2º (furto "privilegiado" - pequeno valor e agente primário), art. 41 da Lei
11.343 (colaboração premiada), art. 33, §4º da Lei 11.343 (tráfico "privilegiado") reduz de 1/6 a 2/3.
OBS: a colaboração premiada na lei 12.850/13 (associação criminosa) e na 9.613/98 (lavagem de capitais)
permite até o perdão judicial, extinguindo a punibilidade. Na lei de drogas a colaboração premiada serve
apenas como causa de redução de pena de 1/3 a 2/3.

Agravante é a circunstância legal prevista exclusivamente na parte geral do código (art. 61 e 62) em rol
taxativo (não pode ser ampliado pelo juiz) que, na 2ª fase da aplicação da pena, produz a elevação da pena
sem definição de quantidade.

Atenuante é circunstância legal prevista na parte geral do CP (art. 65 e 66) em rol exemplificativo que
produz redução da pena sem definição de quantidade. Art. 66 é atenuante inominada. Exemplo: art. 14 da Lei
Ambiental (baixo grau de instrução ou escolaridade).

No concurso de pessoas (pluralidade de condutas e pessoas + liame subjetivo + nexo causal + crime
único) quando a circunstância for subjetiva e elementar ela se comunicará. Exemplo 1: Mévio é servidor e, em
concurso com seu vizinho Tício, valendo do seu cargo, se apropria de um bem móvel público. Tício responde
por peculato da seguinte forma: art. 312 c/c art. 29 e art. 30 CP. Exemplo 2: Mévio é servidor púbico e noivo
de Maria. Valendo-se do cargo, Mévio subtrai aparelhos de notebook de seu serviço, entregando-os à sua
namorada pela janela. Maria reponde pelo art. 312, §1º, c/c art. 29 e art. 30. Exemplo 3: Maria, sob a
influência do estado puerperal, decide matar o próprio filho juntamente com seu namorado, Fábio, que não é
o pai da criança. Maria praticou 123 CP. Para doutrina majoritária, Fábio praticou art. 123 c/c art. 29 e art. 30
CP.

A circunstância subjetiva, quando não elementar, não se comunica. Exemplo 1: Maria decide matar
sua mãe com a ajuda do namorado, Fábio, que lhe empresta a arma de fogo. Maria responde por art. 121 c/c
art. 61, II, "e", CP e Fábio pelo art. 121 c/c art. 29 CP. Exemplo 2: Fábio é servidor e exerce cargo de direção na
administração direta e, em concurso com sua namorada, Maria, pratica peculato. Fábio responde pelo art. 312
c/c art. 327, §2º, CP (aumento de 1/3). Maria responde pelo art. 312 c/c art. 29.

As circunstâncias objetivas, caracterizado o concurso de pessoas, sempre se comunicarão. Exemplo:


Fábio contrata, mediante paga, o executor Otero. Otero mata a vítima mediante paga, respondendo pelo art.
121, §2º, I, CP. Por se tratar de circunstância subjetiva (motivação para matar) qualificadora, Fábio deveria
responder apenas por art. 121, "CAPUT", CP. Contudo o STJ construiu a argumentação de que a paga funciona
como circunstância elementar de um novo crime qualificado e, portanto, deverá se comunicar. Crítica:
violação do princípio da legalidade pelo STJ que "contornou" o disposto no art. 30 do CP.

QUESTÃO 1: Autor inicia a execução do homicídio utilizando arma que pegou emprestada com Tício,
partícipe. Contudo, o autor, voluntariamente desiste de prosseguir ou se arrepende de forma eficaz,
impedindo o resultado morte, respondendo apenas pela lesão corporal grave art. 129, §1º, CP. O partícipe
será beneficiado pela atitude do autor?

R.: Para Rogério Greco não se aplica ao partícipe pois o art. 15 é circunstância pessoal que não se
comunica no concurso de pessoas. Em sentido contrário, Nilo Batista, olhando para o art. 31, afirma que a
partir do momento que o autor abandona a execução e incide o art. 15 não existe mais o crime na forma
tentada, então como punir o partícipe por um crime que não existe mais? Pela teoria da acessoriedade
limitada, para punir o partícipe, o autor deve praticar ao menos fato típico e ilícito. Fato típico em legítima
defesa, por exemplo, não permite punição ao partícipe. Se por política criminal, não existe mais o fato do
sujeito criminal, não se pode punir o acessório.

QUESTÃO 2: Autor pratica art. 155, §4º, CP, juntamente com partícipe. A reparação do dano do art. 16
por parte do autor irá beneficiar o partícipe?
R.: Sim, pois trata-se de circunstância objetiva, portanto, se comunica no concurso de pessoas. Além
disso, o dano não pode ser reparado duas vezes.

QUESTÃO 3: Cabe concurso de pessoas em crime omissivo próprio e impróprio? R.: Sim, para a
doutrina majoritária basta a pluraridade de condutas (omissivas ou comissivas), crime único, liame subjetivo e
nexo causal.

QUESTÃO 4: Cabe coautoria em crimes culposos? e participação? R.: A doutrina admite a coautoria,
pois cada um irá contribuir com a sua imprudência para a produção do resultado. Em se tratando da
participação em crimes culposos, embora haja divergência na doutrina, a maior parte admite.

TEORIA DAS PENAS

As penas previstas no CP estão no art. 32: PP, PRD e multa. Para responder a fundamentação das
penas há teorias absolutas (mera retribuição) e relativas (objetivo de prevenção). Prevenção divide-se em
geral (olhar para a sociedade) e especial (com olhar pro criminoso). A prevenção geral positiva informa a
sociedade que o sistema de justiça criminal funciona, trazendo confiança e agir em conformidade às normas,
evitando a justiça privada. A prevenção geral negativa visa demover do homem potencialmente criminoso da
ideia de praticar o crime. A prevenção especial positiva visa a ressocialização compulsória do criminoso. A
prevenção especial negativa constitui a neutralização legal do criminoso (PPL). No CP, art. 59, as expressões
"retribuição", "reprovação" e "prevenção" indicam a adoção de teorias absolutas e relativas: o CP segue a
teoria unificadora.

Espécies de PPL no ordenamento jurídico: reclusão e detenção (ambas para crimes) e prisão simples
(para contravenções). Art. 235, §1º, CP (bigamia) tem pena de 1 a 3 anos de reclusão ou detenção. Art. 39, Lei
11.343/06 legislador não determina se é reclusão ou detenção (será detenção por analogia in bonam partem).

OBS.: art. 28, Lei 11.343/06 é novo conceito de crime que escapa da lei de introdução do CP. Não há reclusão
ou detenção, mas há penas.

A pena de reclusão é reservada para crimes de maior reprovabilidade e a detenção para crimes de
menor reprovabilidade. Exemplo: Os crimes de auto-aborto e infanticídio, apesar de irem a júri popular, por
serem menos reprováveis, são punidos com detenção.

REGIMES PRISIONAIS

Constitui a forma de cumprimento da pena privativa de liberdade. Há três formas de cumprimento:


fechado, semi-aberto e aberto. Na LEP aparece regime disciplinar diferenciado, contudo trata-se de sanção
disciplinar que pode ser imposta ao preso definitivo ou provisório.

O juiz define na sentença penal condenatória (art. 387 CPP) o regime de cumprimento de pena. Sendo
a pena de reclusão, poderá ser iniciada no fechado, semi-aberto ou aberto. No regime fechado a pena é
cumprida em estabelecimento de segurança máxima ou média (art. 33, §1º, CP). No semi-aberto em colônia
agrícola, industrial ou similar e no aberto em casa do albergado ou em prisão domiciliar. Se for de detenção só
poderá iniciar no semi-aberto ou aberto. Contudo ainda que condenado a pena de detenção, o preso poderá
sofrer regressão para o regime fechado (art. 33, "CAPUT", CP).

Prisão simples não permite regime fechado, apenas aberto ou semi-aberto, pois deve ser cumprida
sem rigor penitenciário (Lei das contravenções penais). As medidas de segurança podem ser detentivas
(internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico) ou preventiva (tratamento ambulatorial). Pelo
art. 97, "CAPUT", CP, se o fato praticado pelo inimputável tem pena abstrata de reclusão, a medida de
segurança será detentiva, mas se a pena abstrata for de detenção, será medida de segurança preventiva de
tratamento ambulatorial.

No art. 92, II, CP, que fala da perda do poder familiar (crime de pai contra filho, tutor contra tutelado,
curador contra o curatelado) o juízo criminal na sentença condenatória só poderá ser aplicado se a pena
prevista for de reclusão. Exemplo: Tutor pratica art. 156 contra tutelado. Juiz não poderá decretar os efeitos
da perda da tutela, pois a pena é de detenção.

Para a definição do regime inicial de cumprimento da pena, o juiz avaliará a quantidade e qualidade da
pena, se é reincidente ou primário, se as circunstâncias do art. 59 CP são favoráveis ou não, as súmulas 269 e
440 STJ e 718 e 719 STF.

Quadro do regime inicial de cumprimento da pena de Reclusão do art. 33, §2º, CP

Pena Privativa de Reincidência Circunstâncias do art. 59 Regime inicial de cumprimento de pena


Liberdade (PPL)
PPL > 8 anos Primário Favoráveis Fechado
Primário Favoráveis Semi-aberto
4 < PPL ≤ 8 anos Reincidente Favoráveis Fechado
Primário Desfavoráveis Fechado
Primário Favoráveis Aberto
PPL ≤ 4 anos Reincidente Favoráveis Admite-se o semi-aberto (Súm. 269 STJ)
Reincidente Desfavoráveis Fechado (Súm. 269 STJ) *analogia in malam partem
Primário Desfavoráveis Semi-aberto

Quadro do regime inicial de cumprimento da pena de detenção:

Pena Privativa de Liberdade Reincidência Circunstâncias do art. 59 Regime inicial de cumprimento de pena
PPL ≤ 4 anos Primário Favorável Aberto
Primário Favorável Semi-aberto
PPL > 4 anos Reincidente Favorável Semi-aberto
Reincidente Desfavorável Semi-aberto
Primário Desfavorável Semi-aberto

OBS.: conforme jurisprudência do STF em controle difuso de constitucionalidade (não tem efeito erga omnes),
o regime inicial fechado do art. 2º, §1º da Lei dos crimes hediondos (Lei 8072/90) fere o princípio da
individualização da pena, não servindo, por si só, para fundamentar regime inicial fechado.

PROGRESSÃO DE REGIME

É a transferência do condenado no curso da execução da PPL para regime mais brando. Não pode ser
feita por salto (fechado direito para o aberto), conforme enunciado 491 do STJ.

Regra geral: 1/6 da pena + mérito (comportamento prisional) art. 112 da LEP

Exemplo: condenado a 12 anos, Mévio precisa cumprir 1/6 da pena (2 anos) para progredir do fechado
para o semi-aberto. Cumprindo 1/6 dos 10 anos restantes (120/6 = 20 meses), Mévio poderá progredir
novamente, agora para o regime aberto, mesmo que ainda restem 8 anos e 4 meses para cumprir.

Regra dos crimes hediondos: Se primário, a fração será de 2/5, se for reincidente a fração será de 3/5.
Observar SÚM.471 STJ (frações só valem para crimes praticados a partir de 29/03/2007 - não pode retroagir).
PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS (art. 59 CP)

I. juiz deve escolher a pena a ser aplicada dentre as cominadas;


II. magistrado irá quantificar a PPL (sistema trifásico do art. 68);
III. Definir o regime inicial de cumprimento da pena (art. 33);
IV. Verificar se a PPL pode ser substituída por outra espécie de pena (PRD ou multa substitutiva).

A natureza jurídica da PRD é autônoma (não prevista diretamente no tipo penal) e substitutiva. O art.
28 da Lei de drogas não tem pena privativa de liberdade, portanto, não é possível aplicação de PRD. A pena do
art. 28 não é uma PRD, por não ser substitutiva. O art. 302 do CTB traz pena de detenção de 2 a 4 anos mais
suspensão ou proibição de obter a habilitação ou permissão para conduzir veiculo automotor e também não é
PRD, pois está prevista cumulativamente com a PPL. No art. 78 do CDC, além da PPL pode ser aplicada
cumulativamente a PSC, que não é PRD, por não ser aplicada de forma substitutiva.

ESPÉCIES de Penas Restritivas de Direito (PRDs)

 PP (prestação pecuniária - art. 43, I c/c art. 45, §1º, CP);


 PI (prestação inominada, exemplo: cesta básica) art. 45, §2º, CP.
 PB (perda de bens e valores. Atinge o patrimônio lícito do condenado e não pode passar da pessoa do
criminoso. No art. 91, CP, o perdimento de bens é efeito automático da condenação, atingindo
patrimônio ilícito e passando da pessoa do condenado- art. 5º, XLVI, CF) art. 43, II c/c art. 45, §3º, CP;
 PSC (Prestação de Serviço à Comunidade) art. 43, IV c/c art. 46, CP;
 ITD (Interdição temporária de Direitos) art. 43, V c/c art. 47, CP;
 LFS (limitação do fim de semana) art. 43, VI, c/c art. 48.

OBS. 1: O art. 17 da Lei 11340/06 (Lei Maria da Penha) veda aplicação de PP (prestação pecuniária) e PI (cesta
básica).

OBS. 2: PSC só pode ser adotada para substituir PPL > 06 meses (art. 46, CP). Prazo de cumprimento da PSC =
prazo de cumprimento da PPL, podendo ser reduzido.

OBS. 3: ITD se divide em várias espécies, conforme art. 47, CP. As ITDs dos incisos I e II só podem ser aplicadas
quando o crime praticado tiver relação com o cargo/profissão. O inciso III, do art. 47, CP, foi derrogado
(revogado parcialmente). O inciso III fala da suspensão da autorização/habilitação que só pode ser usada em
crimes culposos de trânsito (art. 57, CP). Contudo, o art. 302 do CTB previu a suspensão da habilitação e
permissão. A suspensão da autorização para veículos de tração animal (competência do município) do inciso III
pode ainda ser aplicada.

Exemplo: Carroceiro atropela e mata pessoa, respondendo pelo art. 121, §3º, CP, (crime de trânsito só vale
para veículo automotor). Foi condenado a PPL de um ano e, posteriormente, substituiu pela suspensão da
autorização de condução do veículo por um ano. O prazo de cumprimento da ITD deve ser exatamente o
mesmo da PPL.

OBS. 4: LFS permite excluir por um período do dia um condenado por 5h, aos sábados e domingos, em casa do
albergado ou local adequado. Deve ser cumprida exatamente pelo mesmo prazo da PPL.

OBS. 5: Existe previsão na Lei dos Crimes Ambientais PRD de recolhimento domiciliar (art. 8, V, Lei 9.605/98).
REQUISITOS PARA ADOÇÃO DA PRD (art. 44, CP)

PRD é direito do apenado e não faculdade do Juiz e os requisitos são cumulativos. Em se tratando de
crime doloso, apenas crimes sem violência e grave ameaça (logo, não cabe PRD para roubo) e PPL ≤ 4 anos (o
art. 54, CP, exigia PPL ≤ 01 ano para substituição em crime doloso, mas foi revogado tacitamente). Sendo o
crime culposo, não há limite de condenação.

É necessário não ser reincidente em crime doloso, mas se reincidente em crime doloso, desde que não
reincidente no mesmo crime, poderá ter PRD desde que a substituição seja socialmente recomendável
(suficiência e necessidade da pena - análise do crime anterior). Além disso, o réu deve preencher as seis
primeiras circunstâncias do art. 59, CP ("mini 59").

OBS.: Em se tratando de crime doloso ambiental é possível aplicação de PRD desde a PPL < 4 anos (art. 7º Lei
9.605/98).

OBS.: O art. 33, §4º (tráfico privilegiado) e art. 44, "CAPUT" (veda PRD para crimes apenados com reclusão) da
Lei 11.343/06 vedam a conversão (substituição) em PRD. STF já decidiu no controle difuso, através de seu
pleno, que essa vedação contraria o texto constitucional, violando o princípio da individualização da pena no
HB 97.256. Senado retirou a eficácia da expressão no art. 33, §4º conforme a Res. 05/2012.

MECANISMO SUBSTITUTIVO (art. 44, §2º, CP)

Se a PPL ≤ 01 ano e apenado preenche os requisitos do art. 44, CP, o juiz trocará por uma PRD ou pena
de multa substitutiva. Súmula 171 STJ: crime previsto em lei especial, se além da PPL foi aplicada a pena de
multa, é vedado substituir a PPL por multa. Para crimes do CP não vale essa restrição.

Se PPL > 01 ano em crime doloso, sem violência ou grave ameaça, o juiz trocará uma PPL por duas
PRDs ou por uma PRD + multa.

CONVERSÃO ("o retorno da PPL")

Medida aplicada pelo juiz da Vara de Execuções Penais (VEP). Só pode ocorrer na execução da pena.
Há duas modalidades de conversão: "castigo" e "benefício".

Conversões "castigo": quando o condenado, sem justo motivo, abandonar o cumprimento da PRD (art.
44, §4º, CP) a PPL voltará para ser cumprida pelo tempo restante (devendo cumprir no mínimo 30 dias).

OBS.: Em se tratando da prestação pecuniária, a doutrina majoritária diz que não se pode converter a PRD de
prestação pecuniária em PPL sob pena de violação ao Pacto de San José da Costa Rica (Convenção Americana
sobre Direitos Humanos). Além disso, pena de prestação pecuniária não tem "tempo de cumprimento",
expressão usada pelo §4º. Porém o STJ diz que pode pois só há vedação da conversão da multa em PPL (art.
51, CP).

O segundo caso de conversão "castigo" é quando, cumprindo PRD surge outra SPCTJ impondo PPL cujo
cumprimento é incompatível com a PRD. Exemplo: PPL em regime aberto e PRD de PSC são compatíveis.
Prestação Pecuniária e PPL são compatíveis. LFS e PPL (qualquer regime) são incompatíveis.

Conversão "benefício": cumprido os requisitos do art. 180 da LEP:

 PPL ≤ 2 anos (seja pena total ou restante - analogia in bonam partem)


 PPL em regime aberto;
 tenha cumprido pelo menos 1/4 da pena;
 Personalidade e antecedentes autorizem a conversão.
OBS.: surpreendentemente não se exigiu o exame do comportamento prisional!

Assim, em sede de execução penal, é possível que crime com violência ou grave ameaça tenha a PPL
substituída por PRD, através da conversão, desde que cumpridos os requisitos do art. 180 da LEP acima.

MULTA (art. 49 CP)

A expressão "multa de..." deve ser substituída simplesmente pela palavra multa. Na parte geral do CP
estipulou-se a moeda do dia-multa, aplicada em duas etapas: definição do número de dias-multa (de 10 a 360
dias) e definição do valor do dia-multa (de 1/30 até 5 salários mínimos). O juiz deve falar na sentença o que o
motivou a escolher o valor (deve usar como critério a capacidade econômica do réu). Se a multa, pela
capacidade econômica do réu, mesmo aplicada no máximo é irrisória, pode ser multiplicada por 3 (art. 60 CP).

Embora a multa não possa ser convertida em prisão (art. 51, CP), ela será executada pela Fazenda
Pública (estadual ou federal). O fundo penitenciário é o destinatário da pena de multa. A doença mental que
sobrevém ao condenado suspende a execução da multa (art. 52, CP).

EXCEÇÕES AO SISTEMA DE MULTA DA PARTE GERAL DO CP

 O sistema de dias-multa não vale para o crime do art. 244 CP (abandono material), pois a pena já foi
estabelecida em salários mínimos;
 A Lei de drogas já traz em seus artigos o número de dias multa. Ex.: art. 33, "CAPUT", pena de reclusão
mais multa de 500 a 1500 dias multa. No art. 43 estipula o valor do dia-multa de 1/30 até 5 salários
mínimos, mas o valor, se mesmo ao máximo for irrisório, poderá ser elevado até o décuplo.
 A lei de Crimes Tributários, Lei 8.137/90, estipula 10 a 360 dias-multa, cujo valor não segue o CP, mas
o BTN (14 a 200 BTN). Como o BTN foi extinto, o valor dele deve ser atualizado para aplicação da pena
de multa. O art. 10 dessa lei permite reduzir até a décima parte, mas se o valor ficou irrisório, permite
multiplicar por 10. (macete: 10 10 10)
 Na Lei 8078/90, CDC, cada dia de PPL corresponde a um dia-multa. Porém, o valor do dia-multa segue
o Código Penal.

FIXAÇÃO DA PPL - SISTEMA TRIFÁSICO (art. 59 e 68 CP)

Pelo sistema trifásico a pena é aplicada em 3 fases obrigatórias: pena base, pena
provisória/intermediária (nome doutrinário) e pena definitiva (nome doutrinário). Quando o juiz está fazendo
a sentença penal condenatória do art. 387 CPP, fixando PPL, se o caso comporta, e a pena de multa, se o caso
comporta, o mesmo critério adotado para fixar a PPL vale para aplicação da pena da multa.

1ª Fase: Juiz deve examinar as circunstâncias judiciais do art. 59, CP, nunca abaixo do mínimo nem
acima do máximo. OBS.: o art. 42 da Lei de Drogas fala de circunstâncias preponderantes sobre as
circunstâncias do art. 59 , CP;

2ª Fase: pena provisória/ intermediária - o juiz examina as circunstâncias atenuantes e agravantes (ex.:
reincidência), jamais podendo a pena ficar abaixo do mínimo (Súmula 231 STJ) ou acima do máximo;

A mais importante das agravantes é a reincidência. A reincidência ocorre quando o agente pratica
novo crime (doloso ou culposo) depois de ter transitado em julgado SPC por crime anterior (contravenção não)
no Brasil ou estrangeiro, não havendo necessidade de homologação (art. 63, CP). Se aplica também aos crimes
culposos. O Brasil segue a teoria da reincidência ficta/presumida, bastando ter sido definitivamente
condenado, não exigindo o início ou o total cumprimento da pena. Reincidência não é perpétua, valendo por 5
anos após o cumprimento ou extinção da pena (prescrição, indulto, etc.). Em se tratando de contravenções
penais, o art. 7º da Lei 3.688/41 define a reincidência quando o agente pratica uma nova contravenção depois
de transitar em julgado sentença penal condenatória por crime que praticou no Brasil ou no estrangeiro ou
por contravenção que praticou no Brasil.

OBS.: O art. 15, I, da Lei 9.605/98 (Lei ambiental), exige reincidência específica em crimes de natureza
ambiental para haver a agravante da reincidência.

Os antecedentes (art. 59, CP) não se confundem com reincidência. Súmula 444 STJ: antecedentes se
submetem ao princípio da não culpabilidade, ou seja, só a condenação definitiva pode gerar antecedentes. A
CAC (certidão de antecedentes criminais) é o único documento que pode comprovar antecedentes e
reincidência. Os antecedentes não tem prazo de validade. Uma mesma circunstância não pode ser usada em
mais de uma fase, Ex.: simultaneamente como reincidência e antecedente, sob pena de bis in idem.

3ª Fase: Na fase da pena definitiva o Juiz leva em consideração as minorantes (causas de diminuição
de pena) e majorantes (causas de aumento de pena). Ex.: Mévio praticou o crime do art. 33, §4º, Lei 11.343/06
(tráfico privilegiado) teve pena de 5 anos. Como a minorante do §4º reduz em 2/3 a pena, ao final, Mévio foi
condenado a 1 ano e 8 meses.

Macete: Fases da fixação da pena = CAM


 1ª fase: Circunstâncias judiciais
 2ª fase: Atenuantes e agravantes
 3ª fase: Minorantes e majorantes

CONCURSO DE CRIMES

Pode ser material (art. 69, CP), formal (art. 70, CP) ou continuidade delitiva (art. 71).

No concurso material ou real o agente, mediante duas ou mais condutas, pratica dois ou mais crimes
idênticos (concurso material homogêneo) ou não (concurso material heterogêneo). Caracterizado o concurso
material ocorrerá a soma das penas (cúmulo material de penas).

No concurso formal ou ideal o agente em somente uma conduta pratica mais de um crime, idênticos
(homogêneo) ou não (heterogêneo). A doutrina divide o concurso formal em próprio/perfeito e
impróprio/imperfeito. No concurso formal impróprio todos os crimes são dolosos e praticados por meio de
desígnios autônomos e ocorre o cúmulo material de penas (soma das penas). Exemplo: Mévio e Tício entram
no ônibus. Enquanto Mévio exibe uma arma e faz ameaças aos 10 passageiros do ônibus, Tício recolhe os
pertences dos 10 passageiros. Houve apenas uma conduta (com vários atos), mas 10 crimes de roubo
ocorreram. Por se tratar de desígnios autônomos, as penas serão somadas.

Se todos os crimes forem culposos, ou um crime for doloso e o outro culposo, será concurso formal
perfeito/próprio, prevalecendo apenas uma das penas (a maior delas, se diferentes), aumentada de 1/6 até a
metade. O concurso formal próprio segue o sistema da exasperação. Exemplo: Mévio, conduzindo veículo
automotor, culposamente e com a mesma conduta, fere 3 pessoas e mata outras 3, tendo praticando,
portanto, 3 vezes o art. 302 CTC e 3 vezes o art. 303 do CTB.
Há um critério objetivo da jurisprudência e doutrina para definir quantidade do aumento para o
concurso formal de crimes:
Fração Número de Crimes
1/6 2
1/5 3
1/4 4
1/3 5
1/2 6

OBS.: Crime preterdoloso é UM único crime, não se trata de vários crimes (concurso de crimes).

Se o sistema da exasperação produzir um resultado pior do que a soma das penas, dever-se-á
abandoná-lo e somar as penas (art. 70, P. único). Trata-se do concurso material benéfico.

Questão: Mévio enterra a sogra viva, asfixiando-a por soterramento. Responderá por homicídio mais
ocultação de cadáver na regra do concurso formal, material ou crime continuado? R.: Houve apenas um crime
de homicídio, qualificado pela asfixia. Quando ele jogou a terra, não havia cadáver, pois a sogra estava viva,
havendo um único crime. Para que haja concurso de crimes é necessário haver mais de um crime.

Questão: Mévio mata sua sogra e, em seguida, a enterra para ocultar o cadáver. Qual a regra do concurso? R.:
Não é o mesmo tipo penal (não pode ser regra do art. 71), não foi praticado com mesma conduta (não pode
ser regra do art. 70), logo, trata-se de concurso material do art. 69, devendo as penas serem somadas.

Os crimes com duração no tempo (crime permanente, habitual e continuado) produzem problemas de
direito penal e de processo penal. O crime continuado é uma ficção jurídica, por vontade do legislador, que
em razão de política criminal, considera os crimes subsequentes aos primeiro como continuação deles. Há três
teorias que sustentam essa ficção: objetiva, subjetiva ou mista/ eclética. A exposição de motivos da parte geral
diz que seguimos a objetiva, na qual um sistema normativo adota exclusivamente requisitos objetivos (tempo,
lugar, forma de execução) para caracterizar o crime continuado. Contudo, STJ e STF dizem que nosso sistema
se vinculou a teoria mista com fundamento na expressão "devem os subsequentes ser havidos como
continuação do primeiro", contrariando a doutrina e a exposição de motivos do CP.

MACETE: 71 = 69 + 2. O crime continuado do art. 71 = concurso material do art. 69 + 2 requisitos: mesma


espécie (mesmo tipo penal) e condições semelhantes.

A doutrina restritiva, majoritária, classifica crimes de mesma espécie como mesmo tipo penal. A
construção doutrinária extensiva considera crimes de mesma espécie os que lesam o mesmo bem jurídico.
Prevalece no nosso sistema o entendimento da doutrina restritiva, não cabendo a continuado delitiva mesmo
entre furto e roubo, ou roubo e latrocínio, por exemplo.

Exemplo: Mévio teve SPCTJ em 2007 pelos crimes dos artigos 213 (6 anos semi-aberto) e 214 (6 anos, semi-
aberto), num de total 12 anos em regime fechado, mas empreendeu fuga. Em 03/2017 Mévio foi preso. A Lei
12.015/2009 incluiu no mesmo rótulo de estupro o ato sexual da conjunção carnal e o ato libidinoso diverso da
conjunção carnal, passando o estupro a ser crime de ação múltipla ou conteúdo variado (o mesmo ocorre
com o art. 33 da Lei de drogas, que tem 18 condutas). O crime de ação múltipla ou conteúdo variável pode ser
misto alternativo (quase todos do CP) ou misto cumulativo. Na hipótese de crime de ação múltipla misto
alternativo, se o agente praticar no mesmo contexto fático várias condutas, terá o agente praticado um único
crime. Por outro lado, quando a hipótese for de crime de ação múltipla misto cumulativo, ainda que no mesmo
contexto fático, os crimes serão tantos quanto formes as condutas. O estupro, pela Lei 12.015/2009 passou a
ser crime de ação múltipla misto alternativo, portanto, Mévio praticou no mesmo contexto fático um único
crime e, sendo a lei nova mais benéfica ela retroagirá, devendo o juiz da VEP aplicar a lei nova, prevalecendo
uma única condenação em regime semi-aberto.

REQUISITOS OBJETIVOS DA CONTINUIÇÃO DELITIVA

Tempo semelhante: Pode se reunir em continuidade delitiva crimes ocorridos com intervalo de tempo
de 30 dias entre eles (construção jurisprudencial).

Lugar semelhante: Crimes ocorridos no mesmo município, ainda que em bairros distantes e na mesma
comarca, ainda que em municípios diferentes. Admite-se também em comarcas contiguas, mas não se admite
para comarcas distantes.

Forma de execução semelhante: o tipo penal deve ser o mesmo, assim como a forma de execução.

O crime continuado pode ser classificado como comum/ simples (art. 71, "CAPUT", CP) ou
qualificado/específico (art. 71, p. único, CP). O crime continuado comum reúne os requisitos de mesma
espécie e condições semelhantes e, como conseqüência, prevalecerá o sistema de exasperação de penas,
aumentada de 1/6 a 2/3.

Exemplo: Mévio pratica crime do art. 155, §6º, CP (furto de semoventes, pena de 2 a 5 anos) praticado 4 vezes.
A soma das penas é 8 anos, semi-aberto, mas pela exasperação das penas, aplicou-se 2 anos + 1/4, ou seja,
pena final de 2 anos e 6 meses, em regime aberto.

O crime continuado qualificado/específico (art. 71, P. Único) tem novos requisitos: crimes dolosos,
praticados com violência ou grave ameaça, contra vítimas diferentes. O aumento máximo será de até o triplo.

O Enunciado 605 do STF, não admite a continuidade delitiva nos crimes contra a vida, porém não se aplica
mais, porque ficou prejudicado com a entrada em vigor da Lei que inseriu o P. único do art. 71.

A súmula 711 STF trata do crime permanente (uma só conduta criminosa que se protrai no tempo) e
do crime continuado (mais de uma conduta). Francisco de Assis Toledo sugere o mesmo raciocínio para o
crime continuado, aplicando a lei nova para a conduta que foi praticada após a vigência da lei nova.

OBS.: Furto de energia elétrica = Crime eventualmente permanente.

REGRA PARA PENA DE MULTA EM CONCURSO DE CRIMES

Será aplicada sempre distinta e integralmente (art. 72, CP), ou seja, qualquer que seja o concurso, as
penas de multa serão sempre somadas.

SUSPENSÃO CONDICIONAL DA EXECUÇÃO DA PENA ("SURSIS")

O juiz condena e suspende a execução da pena. Está previsto nos artigos 77 até o 82 do CP e será
aplicado na sentença penal condenatória. Preenchendo os requisitos, trata-se de direito do sentenciado, e não
faculdade do magistrado, cabendo recurso de apelação contra a sentença. Se transitar em julgado uma
sentença penal condenatória que concedeu o sursis, gerará reincidência para um próximo crime. Somente
após afastada a possibilidade da substituição por PRD é que se pode examinar o cabimento do "sursis".

Requisitos:

 PPL ≤ 2 anos (art. 77, "CAPUT");


 Não ser reincidente em crime doloso;
 6 primeiras circunstâncias do art. 59 favoráveis;
. Exceções:

 PPL ≤ 4 anos para o maior de 70 anos (sursis etário) ou quando ostentar razões de saúde (sursis
humanitário), ambos no art. 77, §2º;
 Sursis ambiental: PPL ≤ 3 anos.
 Se a condenação anterior foi somente pena de multa não impede o sursis (art. 77, §1º, CP);

Embora no âmbito da Lei Maria da Penha não seja possível aplicar princípio da insignificância ,
transação penal, suspensão condicional do processo ou substituição da PPL por PRD, a SUSPENSÃO
CONDICIONAL DA PENA é permitida. O prazo de suspensão da execução da PPL é chamado de período de
prova. Sempre que a PPL ≤ 2 anos a prova será de 2 a 4 anos ( o magistrado deverá escolher na sentença). Para
o sursis etário ou humanitário, se a 2 anos < PPL ≤ 4 anos o prazo de prova será de 4 a 6 anos. O período de
prova do sursis ambiental é de 2 a 4 anos (regra geral do CP, pois lei específica silenciou) e da contravenção
penal com PPL ≤ 2 anos é de 1 a 3 anos.

O sursis pode ser simples ou especial (art. 78, §2º, CP) . Quando o réu tiver reparado o dano + art. 59
totalmente favorável = sursis especial. Há três condições obrigatórias para o cumprimento do sursis especial:
durante o período de prova comparecer todo mês para informar suas atividades; não se ausentar da comarca,
salvo autorização judicial; e não frequentar determinados lugares. A lei autoriza o magistrado a acrescentar
outras circunstâncias.

Quando não for caso de sursis especial (não reparou o dano ou art. 59 não era inteiramente favorável),
será caso de sursis simples (art. 78, §1º). No primeiro ano do período de prova do sursis simples deverá
cumprir PSC ou LFS. O condenado deve ser intimado pessoalmente para a audiência admonitória, que é o
termo inicial do sursis, onde ficará ciente das condições e manifestará a aceitação do sursis.

O sursis será obrigatoriamente revogado se (art. 81, I, II, e III):

I. Se no curso do prazo do período de prova vier a ser condenado definitivamente por crime doloso;
II. não reparou o dano ou não pagou multa, podendo fazê-los;
III. descumpriu obrigação do sursis simples de PSC ou LFS.

Diferente da PRD, revogado o sursis a PPL aplicada na sentença deverá ser integralmente cumprida
pelo condenado, no regime imposto na sentença, sem nenhum desconto, pois não esteve cumprindo
sentença.

A revogação facultativa (art. 81, §1º, CP) ocorre com o descumprimento de qualquer outra condição
(do sursis especial ou condição facultativa imposta pelo magistrado) ou quando surgir contra ele sentença
penal condenatória transitada em julgado por crime culposo ou contravenção penal com PPL ou PRD (pena de
multa não pode revogar o sursis).

Cumprido o período de prova sem revogação, considera-se extinta a PPL (art. 82, CP). Exemplo: Mévio
recebeu SPCTJ em 2015 condenando a PPL de 2 anos a ser cumprida em regime aberto e recebeu sursis com
prazo de prova de 2 anos. A audiência admonitória foi em 2016 e o sursis foi cumprido sem ser revogado.
Quando ele voltará a ser primário? R.: 2021 (art. 64, I, CP).

Sempre que o sursitário termina o período de prazo de prova o MP é intimado e pede a FAC e a CAC
para verificar se houve ocorrência de outro processo contra ele por crime ou contravenção.
LIVRAMENTO CONDICIONAL (art. 197 LEP)

Trata-se da antecipação da liberdade mediante cumprimento de requisitos. Só ocorre na VEP, por isso
o recurso contra a decisão que concede, nega ou revoga é o recurso da execução penal: o agravo. Está nos
artigos 83 até o 90 (o CPP está desatualizado em relação a essa matéria). Requisitos:

 PPL ≥ 2 anos (art. 83, "CAPUT", CP);


 "estágio prisional" de mais de 1/3 da pena quando não reincidente em crime doloso e sem
antecedentes (art. 83, I) ou mais de 1/2 se reincidente em crime doloso (art. 83, II) ou mais de 2/3 se o
crime é hediondo ou equiparado, mas sem reincidência específica nesses crimes (art. 83, IV);
 Mérito: comportamento satisfatório na execução penal (art. 83, III);
 Trabalho: proposta de ocupação lícita fora da prisão (art. 83, III);
 Reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo (art. 83, IV);
 Para crimes praticados com violência ou grave ameaça o juiz deve fazer verificação capaz de
demonstrar que o condenado não voltará a delinquir - exame criminológico - (art. 83, P. único).

Exemplo: Mévio teve SPCTJ de 12 anos por crime comum, sendo ele reincidente em crime culposo e com
antecedentes. Mévio poderá obter o livramento condicional? Se sim, qual a fração da pena terá de cumprir?
R.: Há uma lacuna na lei penal, pois o caso de Mévio não foi previsto. O legislador não proibiu o livramento
condicional nesse caso, logo, usando analogia in bonam partem, Mévio terá que cumprir mais de 1/3 (regra
mais favorável).

Concedido o livramento condicional, será colocado em liberdade por um período de prova. Exemplo:
Mévio teve SPCTJ de 12 anos em regime fechado. Cumpriu 5 anos preso e, no ano de 2000, preencheu os
requisitos para o livramento condicional, pelo que ficará em período de prova até 2007. Cumprido as
condições do art. 132, LEP e o período de prova a pena que faltava cumprir será declarada extinta (art. 90, CP).
Quando voltará a ser primário? R.: Como ficou pelo menos 5 anos em período de prova, em 2007 voltará a ser
primário, pois o art. 64, I, CP manda descontar o período de prova do sursis do livramento condicional para
efeitos de reincidência. (art. 90, CP)

OBS. 1: Enunciado 439 STJ - magistrado não pode deixar de conceder livramento por não ter sido realizado
exame criminológico, mas o exame criminológico pode ajudar o juiz a fundamentar a decisão de não conceder
o livramento condicional.

OBS. 2: Ao contrário do art. 83, IV, o legislador não ressalvou a pessoa pobre na reparação do dano nos crimes
contra a administração pública para obtenção da progressão de regime art. 33, §4º, CP.

EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE (art. 107, CP)

A SPCTJ é o que separa a fase da pretensão punitiva da pretensão executória. É importante perceber
em que momento a causa extintiva de punibilidade ocorre, pois se ocorrer na fase da pretensão punitiva,
jamais a SPC poderá transitar em julgado, as vezes nem haverá sentença penal condenatória (ex.: sursis
processual, transação penal, pagamento de tributo devido e acessórios) e, como consequência, se cometer
novo crime, será primário e sem antecedentes. Por outro lado, se a causa extintiva de punibilidade ocorrer na
fase da execução penal a SPC transitou em julgado e produziu efeitos como a reincidência e antecedentes,
mesmo que ocorra a prescrição (prescrição pode ocorrer em ambas as fases).
O rol de causas extintivas de punibilidade do art. 107 não é taxativo, mas exemplificativo:

I. morte do agente (indiciado, réu ou condenado - fase da PP ou PE) comprovada por certidão de óbito;
II. GAI - graça, anistia e indulto. Lei pode restringir a aplicação da GAI. Exemplo.: Lei crimes hediondos,
Lei 8.072/90 proíbe GAI. O artigo 5º, XLIII, CF proibiu GA para crimes hediondos e equiparados (
terrorismo, tortura e tráfico - TTT). O art. 1º, §6º da Lei 9.455/97 (lei de tortura) proíbe GA (não proíbe
o indulto para tortura);
III. "Abolitio criminis" (art. 2º, "CAPUT"), depende de lei e pode ocorrer tanto na fase da PP quanto na da
PE, cessando a execução e os efeitos penais da sentença condenatória, tais como reincidência e
antecedentes. OBS.: Os efeitos cíveis persistem.
IV. Prescrição, decadência e perempção;
V. Renúncia e perdão do ofendido.
VI. Retratação (só cabe nos casos expressos dos artigos 143 e 342, §2º do CP)
VII. (REVOGADO)
VIII. (REVOGADO)
IX. Perdão judicial (deve ser expresso. A expressão "juiz poderá deixar de aplicar a pena..." configura o
perdão judicial. Apesar da palavra "poderá" é causa obrigatória de extinção da punibilidade). Não gera
reincidência (art. 120, CP e Enunciado 18 do STJ).

OBS.: a extinção da punibilidade por morte comprovada por certidão de óbito falsa trata-se de ato inexistente
e, por isso, não transita em julgado, logo, a qualquer tempo poderá ser retomado o inquérito, a ação penal ou
execução da pena, desde que não tenha ocorrido a prescrição.

Anistia (art. 48, VIII, CF) é causa extintiva da punibilidade que depende de lei e pode ocorrer na fase da
pretensão punitiva ou executória. Na fase da pretensão executória o condenado volta a ser primário. Macete:
Abolitio = Anistia. Na anistia desaparece a conduta, no abolitio criminis desaparece a tipicidade .

Indulto (art. 84, CF) é gênero, tendo como espécies o indulto individual (graça) e o coletivo. Compete
ao presidente da República conceder o indulto e comutar penas, mediante decreto. Presidente pode delegar a
concessão do indulto para PGR, AGU ou Ministro de Estado. Graça e indulto tem as mesmas conseqüências.
No individual o decreto é para um determinado condenado. Ex.: condenado sofreu acidente na prisão e ficou
tetraplégico estando cumprindo PPL em regime fechado, pelo que não cabe prisão domiciliar. Assim
presidente decreta o indulto. A CF não estabeleceu limites para o decreto de indulto. O presidente estabelece,
desde que lei não proíba, requisitos para beneficiar com o indulto todos os condenados em execução de pena.
O decreto vai para o MP e juiz da VEP para pesquisar quem se encaixa no indulto do presidente. Ocorre apenas
na fase de pretensão executória e não afasta os efeitos da SPC (reincidência, antecedentes).

Quadro das Diferenças e Semelhanças entre Abolitio criminis, Anistia e Indulto:


Abolitio Criminis Anistia Indulto
Previsão legal Art. 2º, "CAPUT", CP Art. 48, VIII, CF/88 Art. 84, CF/88
Depende de Lei Sim Sim Não (é decreto presidencial)
Ocorre na fase da pretensão punitiva Sim Sim Não
Ocorre na fase da pretensão executória Sim Sim Sim
Afasta reincidência e antecedentes Sim Sim Não

Prescrição é uma causa extintiva da punibilidade (art. 107, IV, CP) que surge a partir do fluxo temporal,
por culpa do Estado que não imprimiu marcha rápida suficientemente rápida às fases do inquérito, ação penal,
ou execução penal. Em regra, todos os crimes prescrevem, inclusive os hediondos e equiparados. Há somente
duas exceções: racismo (inciso XLII, CF), que não é a injuria racial do art. 140, §3º, CP e a ação de grupos
armados civis ou militares contra a ordem Constitucional ou Estado Democrático de Direito (art. 5º, XLIV,
CF). A Lei 12.234/2010 alterou o §1º do art. 109 proibindo a utilização da prescrição retroativa para período
anterior ao período do recebimento da queixa. Essa lei não pode retroagir para alcançar crimes anterior à sua
vigência (06/05/2010). A lei 12234 é uma "lex gravior".

Decadência: ocorre apenas em crimes de ação penal privada, ou de ação penal pública condicionada a
representação. É prazo de 6 meses, em regra, para o ofendido inaugurar a ação penal ou autorizar o MP o
faça. Permanecendo o ofendido inerte, haverá decadência.

Perempção é punição imposta ao querelante no curso da ação penal privada (vide art. 60, CPP). Ex.:
Inércia ou desídia do querelante que no prazo de 30 dias não dá andamento no processo. Em caso de
falecimento do querelante, o CADI pode se habilitar em 60 dias do falecimento, sob pena de perempção.

Renúncia ocorre na fase pré-processual em crime de ação penal privada (não é a renúncia do juizado
especial) e consiste na manifestação expressa ou tácita no sentido que não fará queixa crime.

Perdão do ofendido é ato bilateral que ocorre em crime de ação penal privada.

QUADRO RESUMO DAS CAUSAS EXTINTIVAS DE PUNIBILIDADE DOS INCISOS IV E V DO art. 107 CP
FASES
Causas Extintivas de Punibilidade Inquérito Ação Penal Execução penal
Prescrição Sim (exceto prescrição retroativa) Sim Sim
Decadência Sim Não Não
Perempção Não Sim Não
Renúncia Sim Não Não
Perdão do Ofendido Não Sim Não

O perdão judicial é causa de extinção da punibilidade. A Delação premiada (colaboração premiada)


pode ser causa de extinção de punibilidade pelo perdão judicial nos crimes da Lei 9.613/98 (lei de lavagem de
capitais), Lei 12.850 (Lei das organizações criminosas), mas não na Lei de drogas, Lei 11.343/06, conforme art.
41 da referida lei, cujo benefício é apenas redução de 1/3 a 2/3 para o delator.

PRESCRIÇÃO

A prescrição pode ser da pretensão punitiva (antes do trânsito em julgado) ou na fase executória (após
sentença penal condenatória transitada em julgado). Consumado o prazo da prescrição da pretensão
executória, a pena não poderá mais ser cumprida, pois será extinta, mas os efeitos da condenação penal
subsistirão (reincidência e antecedentes).

A prescrição da pretensão punitiva se subdivide em: propriamente dita/ abstrata (art. 109, "CAPUT",
CP), retroativa (art. 110, §1º, CP) e superveniente/ intercorrente/ subsequente/ posterior (art. 110, §1º, CP).
Enquanto a prescrição da pretensão punitiva propriamente dita utiliza a pena abstrata do tipo penal para seu
cálculo, a retroativa e a superveniente levam em consideração a pena concreta para seu cálculo.

Publicada a SPC pelo magistrado e intimado o MP, não recorreu ou recorreu sem pedir aumento de
pena, (não pode "reformatio in pejus") a SPC transitou em julgado para a acusação. Olhando da data da
publicação da sentença para trás dentro do processo e, encontrado o intervalo de 4 anos, a SPC desaparecerá
como se nunca tivesse existido por causa da prescrição retroativa, não havendo efeitos da reincidência e
antecedentes. Olhando da data da publicação da sentença para frente e encontrado o prazo de 4 anos, haverá
prescrição superveniente, desaparecendo a sentença penal condenatória como se nunca tivesse existido.

Por fim, a prescrição penal da pretensão executória (art. 110, "CAPUT", CP), não pode ter ocorrido a
prescrição da pretensão punitiva, mas o trânsito em julgado de uma pena concreta.
A doutrina criou a prescrição retroativa antecipada pela pena/ presumida/ hipotética/ pré-calculada/
ideal/ virtual/ imaginária/ em perspectiva/ em prognose/ prognose prescricional. Ex.: Em 2005 recebeu a
denúncia (art. 117, I, CP) pelo crime do art. 171, CP, (estelionato) cuja pena abstrata é de 1 a 5 anos. Não
houve pena aplicada então prescrição, será calculada pela pena abstrata máxima, sendo a prescrição de 12
anos. Em 2015 a ação penal ainda está em curso e o caso ainda não foi resolvido. O réu é primário e sem
antecedentes, logo sua pena seria perto do mínimo. A pena em perspectiva é a antecipação da prescrição com
fundamento na pena provável do caso. O enunciado 438 do STJ não aceita essa construção doutrinária.

REGRAS GERAIS DA PRESCRIÇÃO

Pena máx. Privativa de Liberdade Prazo de Prescrição


PPL < 1 ano 3 anos
(em 06/05/10 a Lei 12.234 alterou de 2 para 3 anos)
1 ≤ PPL ≤ 2 anos 4 anos
2 < PPL ≤ 4 anos 8 anos
4 < PPL ≤ 8 anos 12 anos
8 < PPL ≤ 12 anos 16 anos
PPL > 12 anos 20 anos

OBS.: A prescrição para o crime do art. 28 da Lei 11.343/06 é de 2 anos, definido pela própria lei de drogas, já
que não há PPL para calcular a prescrição.

Para a pena de multa: se ela foi a única pena prevista, ou foi a única aplicada, o prazo é de 2 anos. Se
está prevista junto com a PPL ou foi aplicada junto com a PPL o prazo será o mesmo da PPL (art. 114, CP).

O prazo prescricional pode ser reduzido pela metade em dois casos (art. 115, CP):

 agente era menor de 21 anos na época do crime;


 quando na sentença (primeiro julgamento) for maior de 70 anos.

A prescrição atinge o delito separadamente, de forma individual (art. 119). Não se pode levar em
consideração a reunião de penas do concurso de crimes. Súmula 497 STF para crime continuado.

CASO ESPECÍFICO PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA (art. 110, "CAPUT",CP)

A sentença penal condenatória transitada em julgado (SPCTJ) que reconhece a reincidência, eleva o
prazo prescricional em 1/3. A reincidência não modifica o prazo da prescrição da pretensão punitiva, conforme
súmula 220 do STJ. Exemplo 1: Mévio, reincidente, foi condenado por SPCTJ a 7 anos em regime fechado.
Qual será o prazo prescricional da pretensão executória? R.: Pela regra geral, o prazo seria de 12 anos. Como
Mévio é reincidente, mutiplica-se por 1/3, alcançando o prazo total de 16 anos.

Exemplo 2: Tício, reincidente e menor de 21 anos, foi condenado por SPCTJ a PPL de 7 em regime
fechado. Qual o prazo da prescrição da pretensão executória? R.:O prazo de 12 anos da regra geral da
pretensão deve ser reduzido pela metade e multiplicado por 1/3, chegando ao prazo de 8 anos.
TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO (art. 111, CP)

A prescrição da pretensão punitiva é contada da data da consumação do crime (teoria do resultado).


Exemplo: Mévio efetua disparos contra Tício no dia 07/12/2010 que morre em decorrência dessa conduta no
dia 23/12/2010. Quando o crime foi consumado? Quando se inicia a contagem da prescrição?

No caso de tentativa, inicia-se a contagem quando cessados os atos executórios (art. 111, II, CP). Em se
tratando de crime permanente, quando cessada a permanência (art. 111, III, CP). No caso do crime de bigamia
e falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, inicia-se a prescrição da data em que o crime se
tornou conhecido (art. 111, IV, CP). Nos crimes contra a dignidade sexual de criança ou adolescente, inicia-se
no dia em que a vítima completar 18 anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta ação penal (art. 110,
V, CP). Nesse último caso, deve-se levar em consideração que o inciso V foi acrescentado pela Lei 12.650/2012
que, por ser uma lei penal mais severa, não pode retroagir para alcançar fatos anteriores à sua vigência
(18/05/2012).

CÁLCULO DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA (art. 112, CP)

Inicia-se da data em que a sentença penal condenatória transitou em julgado para a acusação. Outros
termos iniciais são a data da sentença de revogação do "sursis" e a data da sentença de revogação do
livramento condicional. No caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livramento condicional, a
prescrição é regulada pelo tempo que resta da pena (art. 113, CP).

CAUSAS SUSPENSIVAS E INTERRUPTIVAS DA PRESCRIÇÃO

As causas suspensivas/ impeditivas fazem a prescrição voltar a correr de onde parou. As causas
interruptivas fazem a contagem "zerar" e começar novamente.

CAUSAS NÃO PREVISTAS NO CP:

 Citação de réu com endereço certo no estrangeiro suspende-se o prazo até o cumprimento da carta
rogatória (art. 368 CPP);
 Citado por edital não comparecer nem constituir advogado (art. 366, CPP).

Exemplo: Mévio praticou art. 155, "CAPUT", CP, com pena abstrata de 1 a 4 anos. o crime se consumou em
2010 (art. 111, I, CP). EM 2011, Juiz recebeu a denúncia, interrompendo a prescrição (art. 117,I, CP), e
mandou citar o réu. Diante da impossibilidade de citação por não encontrar o réu, em 2012 o juiz suspende o
prazo prescricional (art. 366, CPP). Por quanto tempo poderá ficar suspensa a prescrição? R.: A doutrina e
jurisprudência construiu o que posteriormente se resumiu no Enunciado 415 STJ: "O período de suspensão se
regula pelo máximo da pena cominada". Assim, a suspensão para um crime com pena máxima de 4 anos pode
ser suspenso por até 8 anos.

Embora o processo fique parado, a prescrição continua a correr durante o incidente de insanidade
mental (art. 149, I, CPP) . OBS.: o incidente de insanidade mental é perícia que a autoridade policial não pode
determinar, mas deve representar ao juiz.

O art. 89, §6º da Lei 9.099/95 (JESP criminal) criou o sursi processual (não tem nada a ver com
suspensão da execução da pena) na ação penal pública com pena mínima não superior a um ano. Ex.:
difamação (3 meses a 1 ano), falsidade ideológica (1 a 3 ou 1 a 5 anos), estelionato (1 a 5 anos). Réu não pode
ser reincidente específico e circunstâncias favoráveis, MP é obrigado a propor a suspensão condicional do
processo, trocando o processo por período de prova da 2 a 4 anos em que réu cumprirá condições. Cumpridas
as condições, ao final do período de prova ficará extinta a punibilidade, ficando o réu primário e sem
antecedentes. Durante esse prazo a prescrição fica suspensa. Revogado o sursi processual, retoma-se o
processo e a prescrição volta a correr.

O art. 83, §2º e §3º, Lei 9.430/96 fala do pedido de parcelamento formalizado antes do recebimento
da denúncia que suspende tanto o processo quanto a prescrição. Paga a última parcela, extingue-se a
punibilidade.

Art. 4º, §3º, da Lei 12.850 de 19 de setembro de 2013 o prazo para oferecer a denúncia contra
colaborador pode ficar suspenso por 6 meses, prorrogáveis por igual período, suspendendo-se o respectivo
prazo de prescrição.

CAUSAS SUSPENSIVAS PREVISTAS NO CÓDIGO PENAL (art. 116, CP)

I. Antes da SPCTJ a prescrição não corre enquanto não resolvida, em outro processo, questão de
que dependa o reconhecimento da existência do crime;
II. enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro.
Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição não
corre durante o tempo em que o condenado está preso por outro motivo.

CAUSAS INTERRUPTIVAS DA PRESCRIÇÃO (art. 117, CP)

I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;


II - pela publicação da sentença de pronúncia. A primeira fase do tribunal do júri termina com a
sentença de pronúncia. Cabe RESE contra a pronúncia;
III - pela decisão confirmatória da pronúncia;
IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis. Somente o acórdão que
condena pela primeira vez, não o que confirma a condenação;
V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena (após fuga, por exemplo). É causa
interruptiva da fase da pretensão executória;
VI - pela reincidência. É causa interruptiva da fase da pretensão executória;
§ 1º - Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a interrupção da prescrição produz
efeitos relativamente a todos os autores do crime. Nos crimes conexos, que sejam objeto do mesmo
processo, estende-se aos demais a interrupção relativa a qualquer deles.
§ 2º - Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do inciso V deste artigo, todo o prazo começa a
correr, novamente, do dia da interrupção.

OBS.1: No caso da sentença condenatória, a interrupção se opera com sua publicação, isto é, com sua
entrega em mãos do escrivão, que lavrará o respectivo termo, registrando-a em livro especialmente
destinado a esse fim. art. 389, CPP.

OBS.2: Na pretensão punitiva a interrupção da prescrição se comunica entre os coautores, mas na


interrupção da pretensão executória não.
LEGISLAÇÃO ESPECIAL PENAL

Lei n. 7.716/1989 LEI DOS CRIMES RESULTANTES DE PRECONCEITO DE RAÇA OU DE COR

Reclusão Impedir/negar/obstar o acesso/ inscrição/ atendimento/ emprego/ cargo/


hospedagem/ casamento/ convívio familiar
de 1 a 3 anos art. 5º (estabelecimento comercial), 8º (restaurante), 9º (clubes sociais), 10 (barbearia), 11
(elevador/escada social), 12 (transporte público) e art. 20 (praticar, induzir ou incitar
discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional).
de 2 a 4 anos art. 13 (acesso ao serviço nas Forças Armadas) e art. 14 (casamento ou convivência
familiar)
art. 3º (pessoa habilitada na administração pública direita, indireta ou concessionárias), 4º
de 2 a 5 anos (emprego em empresa privada) e art. 20, §1º (veicular símbolos ou cruz suástica para
divulgação do nazismo) e §2º (praticar o caput por intermédio dos meios de comunicação
ou publicação)
de 3 a 5 anos art. 6º (inscrição/ingresso de aluno - se menor de 18, +1/3) e art. 7º (hospedagem)

O Parágrafo único do art. 6º agrava em 1/3 a pena do crime de recusar, negar ou impedir a
inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de ensino público ou privado de qualquer grau
quando praticado contra menor de 18 anos.
A Lei 12.288 em 2010 incluiu o §2º do art. 4º cominando penas de multa e de PSC, incluindo
atividades de promoção da igualdade racial, a quem, em anúncios ou qualquer outra forma de
recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos de aparência próprios de raça ou etnia para emprego
cujas atividades não justifiquem essas exigências.
Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor público, e a
suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior a três meses (art.
16). Esses feitos não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença (art. 18).

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