Você está na página 1de 4

Tutoria de Direito Penal I - Turma da Noite 2020/2021

Esquema de resolução casos práticos: Princípio da


Legalidade
Não dispensa a leitura dos manuais recomendados

Reserva de lei

1º Identificar o problema jurídico:


- O problema jurídico em causa prende-se com o Principio da legalidade no seu
corolário lei scripta, que refere que o só a lei em sentido formal pode ser fonte e
que o costume não pode ser fonte de normas penais incriminadoras nos termos
do artigo 165º nº1 c) CRP salvo o disposto no artigo 29º nº2 CRP.

2º Explicar o fundamento da reserva de lei:


- No que concerne ao fundamento da reserva de lei:

- Entendimento da Prof. Mª Fernanda Palma:


• Entende que o fundamento da reserva de lei é a segurança democrática;

• Esta é expressão da auto-limitação do estado face aos indivíduos;

• Esta reflete a função do estado em proteger os direitos individuais;

• Acabando deste modo por refletir o principio da separação de poderes e a


democracia igualitária.

• Assim permite-se a concretização da dignidade da pessoa humana, dado que


existe controlo na aplicação e criação do direito.

- Entendimento do Prof. Figueiredo Dias:


- A fundamentação deste principio baseia-se nos limites da intervenção estatal
em nome da defesa dos direitos, liberdades e garantias de forma a prevenir
excessos e arbítrio por parte do estado.

- O professor enumera um conjunto de limites externos e internos.

- Externos:

- Principio da liberdade: toda a intervenção do estado na esfera de D,L,G deve


ser reconduzida à existência de lei anterior geral e abstrata 18º CRP;

- Princípio da democracia: a intervenção penal apenas será legitima se for


emanada pela AR na medida em que esta representa o povo.

- Princípio da separação de poderes: exige-se lei formal emanada pela AR ou


por ela autorizada.

1
Tutoria de Direito Penal I - Turma da Noite 2020/2021
- Internos:

- Prevenção Geral: a norma apenas pode motivar o comportamento do


agente, se este puder saber através de lei anterior estrita e certa que
determinado comportamento é punível;

- Princípio da culpa: não seria legítimo censurar alguém se não houvesse lei
anterior a qualificar determinado facto como crime;

- Prevenção especial: a lei que prevê a ressocialização\perigosidade do


agente tem de ser uma lei em sentido formal.

- Entendimento do Cons. Sousa e Brito:


• O Fundamento da reserva de lei prende-se com o principio da necessidade;

• Especialmente a segurança jurídica do indivíduo face ao estado;

• O indivíduo não pode ser afetado nos seus direitos se não na medida exigida
por lei para a realização dos fins do estado.

• O principio da legalidade apresenta como fundamento a garantia máxima de


objetividade e o de mínimo abuso.

3º Identificar o diploma que está em causa:


- Ver este artigo: 165/1 c) e d) CRP, engloba: direito penal (alínea c) e o regime
de infrações e mera ordenação social (alínea d) --> autorização legislativa (DL)
ou Lei AR.

4.º Explicar o âmbito da reserva de lei:


- Supremo Tribunal de Justiça:
- A reserva de lei estende-se tanto à criminalização (maior criminalização) como
à descriminalização (menor criminalização).

- Prof. Jorge Miranda e Rui Medeiros:


- Na competência para definir crimes está implícita a competência para
estabelecer causas de justificação (eximentes) e descriminalizar.

- Porque, na verdade, só quem pode criar os tipos legais de crime é que pode
suprimi-los.

- Mas afastam do âmbito da reserva de lei as causas de exclusão da culpa e as


circunstâncias atenuantes da responsabilidade penal.

- Conselheiro Sousa e Brito:


- A função de garantia dos direitos fundamentais contra a arbitrariedade e os
excessos do poder punitivo desempenhados pelo princípio da legalidade
implica que a reserva de lei só valha para as normas sancionadoras, ou seja,
as que fundamentam ou agravam a responsabilidade penal.

2
Tutoria de Direito Penal I - Turma da Noite 2020/2021
- Já não abrange as normas que excluem ou atenuam a responsabilidade penal,
nem sequer aquelas que prevêem causas de exclusão da ilicitude do facto
(eximentes).

- Prof. Figueiredo Dias:


- O conteúdo do princípio da legalidade só abrange as normas que
fundamentam ou agravam a responsabilidade penal.

- Exclui as normas atenuantes e eximentes da responsabilidade do âmbito do


princípio da legalidade.

- No entanto, o Prof. aceita a sua submissão à reserva de lei, mas justificada no


princípio da separação de poderes, porque admitir a competência concorrente
do Governo com a AR poderia causar confusão;

- Prof. Faria Costa:


- Face ao princípio da legalidade, não se justifica exigir lei formal para
descriminalizar ou despenalizar.

- Todavia, uma interpretação constitucionalmente fundada impõe a identidade


de modos de legislar quanto à criminalização, descriminalização e
despenalização.

- Prof. Maria Fernanda Palma:


- Entende que a criação de novos crimes e a eliminação de crimes
existentes estão sujeitos à reserva de lei.

- Não há dúvida que todas as circunstâncias agravantes estão abrangidas


pelo art. 165º/1/c), porque definem o concreto facto criminoso. Ex.:
alterações nas circunstâncias modificativas que alteram o tipo fundamental
suscitando uma nova medida legal da pena (art. 132º CP).

- Mesmo as circunstâncias agravantes simples (que não alteram a


medida legal, mas somente a medida concreta da pena) também estão
abrangidas pelo art. 165o/1/c), porque agrava o grau de ilicitude e de
culpa, criando um crime substancialmente distinto.

- Ainda que não constem do art.71º do CP, se entendêssemos excluí-las da


reserva de lei, seria inconstitucional.

- Quanto às circunstâncias eximentes (excluem a responsabilidade, p.e.,


causas de justificação do facto ou de exclusão da ilicitude), a liberdade criada
pela sua permissão implica uma diminuição das expectativas gerais e da
segurança jurídica da comunidade, pelo que têm que estar sujeitas a reserva
de lei. P.e., se se puder passar a lesar, ao abrigo do direito de necessidade
(34º, CP), interesses jurídicos de igual valor aos que se salvaguardam, isso
implica que as outras pessoas já não podem agir em legítima defesa (32º do
CP).

- Exceção: a menos que se trate da criação de uma eximente que elimine


uma exceção a uma norma geral de permissão (Cavaleiro de Ferreira).

3
Tutoria de Direito Penal I - Turma da Noite 2020/2021
- Quanto às circunstâncias atenuantes da responsabilidade penal (p.e. ser o
agente menor), é desnecessária a reserva de lei. A sua atipicidade resulta da
fórmula genérica do art. 78º do CP. Como influem apenas na medida da
determinação da pena, não são suscetíveis de promover uma restrição indireta
dos direitos das vítimas dos crimes.

Você também pode gostar