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POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS

ACADEMIA DE POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS

CURSO ENSINO À DISTÂNCIA

ESTELIONATO E SUAS NUANCES: CONSIDERAÇÕES SOBRE O CRIME E A


INVESTIGAÇÃO

Administração: Dra. Cinara Maria Moreira Liberal


Belo Horizonte – 2021
CULTURA JURÍDICA
Coordenação Geral
Dra. Cinara Maria Moreira Liberal

Subcoordenação Geral
Dr. Marcelo Carvalho Ferreira

Coordenação Didático-Pedagógica
Rita Rosa Nobre Mizerani

Coordenação Técnica
Dr. Luiz Fernando da Silva Leitão

Conteudista:
Dra. Marina Cardoso Nascimento Monteiro de Castro

Produção do Material:
Polícia Civil de Minas Gerais

Revisão e Edição:
Divisão Psicopedagógica - Academia de Polícia Civil de Minas Gerais

Reprodução Proibida

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4

2 CONCEITO ............................................................................................................... 4

2.1 Consumação e Tentativa ........................................................................................... 6

2.2 Estelionato x Desacordo comercial ........................................................................... 6

3 ALTERAÇÃO TRAZIDA PELA LEI 13.964/19 ................................................... 12

3.1 Parágrafo 4º do artigo 171 do Código Penal ........................................................... 16

4 COMPETÊNCIA ..................................................................................................... 16

5 ESTELIONATO SENTIMENTAL ......................................................................... 19

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 31

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1 INTRODUÇÃO

A presente disciplina dispõe sobre alguns aspectos relevantes do delito de


estelionato, objetivando aprofundar o estudo do conceito do crime, inclusive
abordando uma nova modalidade de estelionato conhecida como estelionato
sentimental, com vistas a auxiliar os Policiais Civis na correta capitulação do delito
praticado no momento de registrar REDS.

Além disso, a disciplina aborda a diferença entre estelionato e desacordo


comercial, as discussões e parâmetros legais e jurisprudenciais usados para definir a
competência para investigar o crime de estelionato e discorre sobre alguns aspectos
e peculiaridades da investigação desse crime, o que também auxilia os Policiais Civis
na correta capitulação do delito e na prática profissional, pois algumas dessas
questões geram muitas dúvidas no exercício cotidiano da profissão policial.

2 CONCEITO

O delito de estelionato está previsto no artigo 171 do Código Penal que dispõe
o seguinte:

Estelionato:
Art. 171. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer
outro meio fraudulento:
Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa.

Para configuração do delito, é necessária a presença de três elementos:

a) fraude: malicioso engano, artimanha do agente usado para que a vítima


incorra em erro ou permaneça em erro, mediante artifício (produto de arte,
trabalho de artistas, encenação material, uso de objetos ou aparatos aptos
a enganar, tais como a utilização de disfarce ou de um bilhete premiado) ou
ardil ( de natureza mais intelectual do que material, astúcia, sutileza, manha,
conversa enganosa e convincente) ou qualquer outro meio fraudulento.

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O meio fraudulento escolhido precisa ser apto a enganar alguém de acordo
com o padrão de percepção do homem médio ou de acordo com as
circunstâncias do caso concreto, tais como a idade, grau de instrução e outras
condições da vítima, que irão indicar se o meio utilizado pelo agente foi apto a
ludibriar a vítima. A fraude pode ser empregada para induzir ou manter a vítima
em erro. Induzir é fazer nascer a percepção equivocada da realidade e manter
em erro, é não alertar a vítima quanto ao seu equívoco, deixando com que
permaneça em erro, e obtendo, com isso, vantagem.

Observação 1: Curioso mencionar que a palavra estelionato deriva da


palavra stellio (camaleão) em razão da característica peculiar que este
animal tem de se camuflar e mudar de cor confundindo suas presas,
facilitando assim a caça, e confundido também seus predadores,
protegendo-se da ação deles.

Observação 2: Se a fraude empregada pelo autor visar a prática de


conjunção carnal ou ato libidinoso com a vítima o crime aplicável será o de
violação sexual mediante fraude, previsto no artigo 215 do Código Penal, in
verbis:
Violação sexual mediante fraude:

Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém,
mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação
de vontade da vítima.

b) vantagem ilícita: Vantagem ilegal, que não encontra amparo no


ordenamento jurídico vigente. Se a vantagem for legítima e devida ao
agente, este poderá incorrer na prática do delito de exercício arbitrário das
próprias razões (artigo 345 do Código Penal) e não no delito de estelionato.
Ressalte-se que o tipo penal do artigo 171 estabelece que esta vantagem
pode ser para o autor do crime ou para outras pessoas (terceiro), sendo
possível, portanto, que ele pratique o crime para beneficiar outras pessoas.

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c) prejuízo alheio: à vantagem ilícita obtida pelo agente deve corresponder
um prejuízo economicamente apreciável sofrido pela vítima.

A fraude bilateral (má fé do agente e da vítima) não exclui o crime de


estelionato, pois o tipo penal do artigo 171 não faz qualquer referência à boa fé da
vítima. Assim, ainda que a vítima tenha se deixado enganar movida por ganância,
visando obter dinheiro fácil ou um lucro excessivo, aplica-se o crime de estelionato ao
agente estelionatário.
2.1 Consumação e Tentativa

O crime de estelionato é considerado crime de duplo resultado, pois somente


se consuma com a efetiva obtenção da vantagem indevida pelo agente,
correspondente ao prejuízo (lesão patrimonial) da vítima.
A tentativa é possível, nos casos em que o agente consegue induzir ou manter
a vítima em erro, mas no momento da obtenção da indevida vantagem, é impedido
por circunstâncias alheias à sua vontade, como a presença de alguém que impede
que o crime se concretize.
A falsificação de assinatura em cheque que não é colocado em circulação e,
portanto, não traz prejuízo a ninguém, deve ser considerada simples ato
preparatório impunível do delito de estelionato. (TJMG, Apelação Criminal
1.0388.06.011370-0/001, 1ª Câmara Criminal, Relator Eduardo Brum, DJe
09/05/2008).

2.2 Estelionato x Desacordo comercial


Nas relações humanas, em especial nas relações comerciais, existem muitas
situações em que as pessoas se sentem enganadas e insatisfeitas. Porém, é preciso
se ter em mente que a fraude pode existir em outras situações que não configurem
infração penal.

Por exemplo, em uma compra e venda é comum o vendedor enaltecer as


vantagens do seu produto e ocultar as desvantagens e defeitos. No momento da
aquisição de um veículo usado, por exemplo, se a vítima não perceber que houve o
reparo em alguma parte da lataria do veículo, o vendedor muitas vezes não irá relatar
isso para o possível comprador e esse modo de agir, infelizmente, faz parte das
relações negociais, como ensina Greco (2011).
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Ainda que a vítima se sinta enganada e insatisfeita após descobrir as
desvantagens ou defeitos do produto, isso não significa que ocorreu um delito de
estelionato, devendo a vítima ser orientada a procurar amparo na esfera cível, se for
o caso. Pode a parte prejudicada, por exemplo, pleitear, com base no Direito Civil, a
anulação do negócio jurídico por vício/defeito oculto.
Neste mesmo sentido, dispõe Guilherme de Souza Nucci:

Esperteza nas atividades comerciais: não configura o delito de estelionato,


resolvendo-se, se for o caso, na esfera civil. É natural, no âmbito do comércio,
o enaltecimento dos produtos colocados à venda, mesmo que sejam de
qualidade duvidosa. Cabe ao consumidor ater-se às marcas de confiança, à
tradição da empresa e à informação captada. Por outro lado, pode dar
margem ao estelionato quando a propaganda chega a extrapolar os limites
do razoável, afirmando situações inexistentes, negando garantia outrora
prometida, tudo a demonstrar o ânimo de fraude por parte do vendedor ou
fornecedor do produto ou serviço. (NUCCI, Guilherme de Souza. Código
Penal Comentado – 19 ed., Rio de Janeiro: Forense, 2019).

Da mesma forma, ocorre nos casos de mero descumprimento contratual. Se o


contrato não for devidamente cumprido isso não implica que uma das partes pode ser
considerada estelionatária, a não ser que a vítima tenha sido induzida ou mantida em
erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento a realizar uma
negociação fictícia e na verdade inexistente, desde o início, vantajosa financeiramente
apenas para uma das partes.
Nestes casos, deve-se avaliar o momento do dolo de não pagar, isto é, se ele
esteve presente antes da negociação ou se surgiu em momento posterior.
Neste sentido dispõe a jurisprudência:

Ao estabelecer a diferença entre ilícito penal (estelionato) e ilícito civil


(inadimplemento contratual), o Supremo Tribunal Federal se pronunciou
no sentido de que para a caracterização do ilícito penal, 'nomen iuris',
estelionato, o dolo de fraudar, o ardil, o artifício fraudulento deve ser
antecedente à prática da conduta delitiva e ao aproveitamento
econômico (...). 2. O ato praticado pelo réu, que agiu com nítido
comportamento doloso com o objetivo de obter vantagem ilícita, gerando um
prejuízo à vítima, se amolda perfeitamente ao tipo penal previsto no artigo
171, 'caput', do Código Penal, não havendo falar, portanto, em absolvição por
atipicidade da conduta." (grifamos). (TJDF. Acórdão 1184896,
20140111591233APR, Relator: SILVANIO BARBOSA DOS SANTOS, 2ª
Turma Criminal, Data de julgamento: 04/07/2019, Publicado no DJe:
12/07/2019).
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[...] Isto porque, para caracterização de eventual estelionato, envolvendo
negociação contratual, é necessário que o dolo, consubstanciado pelo
engodo, pela fraude, seja anterior ao meio fraudulento empregado para
obter vantagem patrimonial indevida, sem o qual não há se falar em
delito, por força dos princípios da intervenção mínima e da
fragmentariedade. Em outros termos, se o caso pode ser solucionado
na seara extrapenal (esfera cível), torna-se desnecessária a atuação do
Direito Penal. É possível que haja, portanto, um comportamento ilícito,
todavia, circunscrito à esfera civil. (TJDF. Acórdão 1074043,
20140110080340APR, Relator: DEMETRIUS GOMES CAVALCANTI, 3ª
Turma Criminal, Data de julgamento: 08/02/2018, Publicado no DJe:
16/02/2018). (grifo nosso).

HABEAS CORPUS TRANCATIVO. PENAL. ESTELIONATO.


EXCEPCIONALIDADE. ALEGAÇÃO DE MERO INADIMPLEMENTO
CONTRATUAL E DE AUSÊNCIA DE DOLO DE LUDIBRIAR. ILICITO CIVIL.
INCIDÊNCIA DOS PRINCÍPIOS DA INTERVENÇÃO MÍNIMA, DA
FRAGMENTARIEDADE E DA LEGALIDADE ESTRITA. ATIPICIDADE DA
CONDUTA. O INADIMPLEMENTO DE COMPROMISSO COMERCIAL, POR
SI SÓ, É INSUFICIENTE PARA CARACTERIZAR O CRIME DE
ESTELIONATO. É REQUISITO ESSENCIAL À TIPIFICAÇÃO DO DELITO
HAVER O AGENTE INDUZIDO A VÍTIMA EM ERRO, MEDIANTE ARDIL OU
QUALQUER OUTRO MEIO ARTIFICIOSO OU FRAUDULENTO. O
DESCUMPRIMENTO DE CONTRATO, SEM ELEMENTOS DE ILÍCITO
PENAL, NÃO PODE ENSEJAR A PERSECUÇÃO. HIPOTESE DOS AUTOS
QUE NÃO REVELA A CELEBRAÇÃO DA AVENÇA COMO MEIO
FRAUDULENTO A FIM DE TRADUZIR VANTAGEM ILÍCITA EM FAVOR
DOS PACIENTES. CONTROVÉRISA QUE DEVE SER DIRIMIDA NA SEARA
CÍVEL. INEXISTINDO QUALQUER INDÍCIO DE QUE OS PACIENTES
TIVESSEM AGIDO COM ANIMUS LUCRANDI, IMPÕE-SE O
TRANCAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL. PARECER MINISTERIAL
PELA CONCESSÃO DA ORDEM. ORDEM CONHECIDA E CONCEDIDA,
CONFIRMANDO-SE OS TERMOS DA MEDIDA ANTECIPATÓRIA
DEFERIDA EM 14/07/201. (TJ-BA – HC: 00175535520178050000, Relator:
Ivone Bessa Ramos, Primeira Câmara Criminal – Primeira Turma, Data de
Publicação: 18/10/2017).

APELAÇÃO. ESTELIONATO. PROVA SUFICIENTE. […] ATIPICIDADE.


NÃO CONFIGURADA. Como antes de obter o valor do ofendido, o réu já tinha
o dolo de não cumprir com o acordado, configurado o crime, afastando o mero
ilícito civil. […] (TJRS – ACR: 70074245796 RS, Relator: Jucelana Lurdes
Pereira dos Santos, Data de Julgamento: 17/08/2017, Sétima Câmara
Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 28/08/2017).

APELAÇÃO CRIMINAL. ESTELIONATO. SENTENÇA ABSOLUTÓRIA.


DOLO DO RÉU NÃO EVIDENCIADO. EMISSÃO DE CHEQUES PÓS-
DATADOS. CHEQUES EMITIDOS COMO GARANTIA DE DÍVIDA.
DESNATURAÇÃO COMO TÍTULO DE CRÉDITO. INSUFICIÊNCIA DE
PROVAS. NÃO CARACTERIZAÇÃO DE DELITO PENAL. MERO ILÍCITO
CIVIL. ABSOLVIÇÃO. APELAÇÃO DESPROVIDA.

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1. A presença do dolo antecedente e a intenção do apelado em auferir
vantagem econômica patrimonial em desfavor da vítima caracterizam o delito
de estelionato. A fraude deve ter por fim o lucro ilícito e não mero
inadimplemento de obrigação.

2. Para a configuração do crime de estelionato, é exigível que o agente


empregue qualquer meio fraudulento, induzindo ou mantendo alguém em erro
e obtendo, assim, vantagem ilícita para si ou para outrem, com a consequente
lesão patrimonial da vítima.

3. A emissão de cheques para a apresentação em data futura e de duplicatas


consubstancia atividade gerencial corriqueira de qualquer estabelecimento
comercial que não pode, de plano, ser qualificada como crime de estelionato
quando da inexistência de fundos a época de sua compensação.

4. Não havendo comprovação da intenção “ab initio” do acusado de fraudar,


o mero inadimplemento constitui ilícito civil, não adentrando na esfera da
fraude penal. Precedentes.

5. Quando o cheque é dado como garantia de dívida, perde a característica


de pagamento à vista. Diante desse desvirtuamento, não cabe mais falar em
ilicitude penal da conduta, e sim ilegalidade civil, mesmo sem suficiência de
fundos. Precedentes.
6. A estrutura probatória existente nos autos, caracterizada por depoimentos
contraditórios e acusações entre as partes, é insuficiente a comprovar que os
cheques foram emitidos como ordem de pagamento à vista, sendo impossível
a comprovação do dolo e imperiosa a absolvição do acusado.

7. Recurso desprovido. (TJDF – APR: 20120110281924 DF 0008268-


54.2012.8.07.0001, Relator: SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS, Data de
Julgamento: 04/09/2014, 2ª Turma Criminal, Data de Publicação: Publicado
no DJe : 09/09/2014)

Isto porque, o Direito Penal é subsidiário e é visto como a ultima ratio, só


podendo ser utilizado quando os demais ramos do Direito forem insuficientes para
resolver o conflito. É o que preconizam os princípios da intervenção mínima, da ultima
ratio e da fragmentariedade, tidos como princípios basilares da dogmática penal.

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Verifica-se, portanto, que as circunstâncias do caso concreto, levando-se em
consideração a gravidade da conduta e o que dispõe os tipos penais, é que norteiam
a diferenciação entre a fraude civil e a fraude penal. É o que dispõe a jurisprudência
e a doutrina:
ESTELIONATO. FRAUDE CIVIL E PENAL. INDIFERENÇA. DELITO
CARACTERIZADO. Não existe diferença entre a fraude civil e a fraude penal.
Só há uma fraude. Trata-se de uma questão de qualidade ou grau,
determinado pelas circunstâncias da situação concreta. Elas que
determinarão, se o ato do agente não passou de apenas um mau negócio ou
se neles estão presentes os requisitos do estelionato, caso em que o fato
será punível penalmente. Na hipótese em julgamento, a ação do apelante,
fingindo intermediar a venda de um imóvel, recebeu grande quantia da vítima.
Mais tarde, descoberta a impossibilidade do negócio, fraudou aquela mais
uma vez, restituindo-lhe o valor pago com um cheque falso. Situações, sem
sombra de dúvida, que mostram a existência do delito do art. 171, caput, do
Código Penal, na ação do recorrente. DECISÃO: Apelo defensivo desprovido.
Unânime. (TJRS. Apelação Crime nº70013151618, Relator Sylvio Baptista
Neto, 7ª Câmara Criminal, julgado em 22/12/2005).
No que têm de fundamental, coincidem o delito civil e o delito penal. Um e
outro são uma rebeldia contra a ordem jurídica. Consistem ambos num fator
exterior do homem, antijurídico, imputável a título de dolo ou culpa.
A única diferença entre eles está na maior gravidade do delito penal que, por
isso mesmo, provoca mais extensa e intensa perturbação social. Diferença
unicamente de grau e quantidade. A este critério relativo, e somente a ele, é
que atende o direito objetivo do Estado na diversidade formal de sua ação
defensiva contra a sublevação da vontade individual. (HUNGRIA, 1958, p.
173).

Ressalte-se que a fraude no pagamento por meio de cheque é tratada de forma


específica no inciso VI do artigo 171 do Código Penal que dispõe o seguinte:

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer
outro meio fraudulento:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a


dez contos de réis. (Vide Lei nº 7.209, de 1984)

§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz


pode aplicar a pena conforme o disposto no art. 155, § 2º.

§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem: (...)


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Fraude no pagamento por meio de cheque

VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do


sacado, ou lhe frustra o pagamento (negrito nosso)

§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em


detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular,
assistência social ou beneficência.

Conforme visto acima, em se tratando de cheque pós-datado (denominado


mais comumente de pré-datado), a frustação de seu pagamento ou emissão sem
posterior fundo junto ao banco sacado, não configura o delito de estelionato previsto
no § 2º, inciso VI, já que nesse caso o título perde a natureza de ordem de pagamento
à vista, tornando-o uma mera garantia de crédito. Havendo o inadimplemento da
obrigação futura, caberá ressarcimento junto a esfera cível, exceto se as
circunstâncias do caso concreto evidenciarem a intenção ab initio do acusado de
fraudar o credor.

Em todo caso, para configuração do delito de estelionato na modalidade de


fraude no pagamento por meio de cheque mostra-se imprescindível a presença da
fraude, nos termos da Súmula 246 do STF que dispõe o seguinte:

Súmula 246 STF:

Comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de emissão de


cheque sem fundos.

Diante disto, não haverá crime quando o emitente possui o direito de impedir o
pagamento do cheque, caso tenha justificado motivo para tanto.

Não havendo comprovação da intenção “ab initio” do acusado de fraudar, o


mero inadimplemento constitui ilícito civil, não adentrando na esfera da fraude penal.

Assim, ao se deparar com situações como estas, ao realizar o atendimento ao


público nas Delegacias de Polícia e ao confeccionar boletins de ocorrência, é
necessário orientar as vítimas a procurar providências na esfera cível, evitando
capitular de forma indevida conflitos de natureza cível como delitos de estelionato.

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3 ALTERAÇÃO TRAZIDA PELA LEI 13.964/19

A Lei 13.964/2019 inseriu o parágrafo 5º ao art. 171 do Código Penal que dispõe
o seguinte:
Estelionato

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer
outro meio fraudulento:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez


contos de réis

§ 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for


(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019 – grifo nosso):

I - a Administração Pública, direta ou indireta;

II - criança ou adolescente;

III - pessoa com deficiência mental; ou

IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.

Diante disto, excetuadas as hipóteses previstas nos incisos I a IV do parágrafo 5º


do artigo 171 do Código Penal, a ação penal no delito de estelionato passa a ser
pública condicionada à representação, sendo necessário colher a representação da
vítima para dar início a investigação criminal.

Para os crimes de estelionato praticados antes da alteração trazida pela Lei


13.964/19, a quinta turma do STJ no julgamento do Habeas Corpus 573093 decidiu
em junho de 2020 que esta mudança trazida pela Lei 13.964/19 só pode afetar os
procedimentos ainda na fase policial e não as ações penais já instauradas e em curso.

Assim, a representação da vítima pode ser exigida retroativamente nos casos que
estão em fase de inquérito policial, mas não na hipótese de processo penal já
instaurado, pois de outro modo, a representação passaria de condição de
procedibilidade da ação penal (condição necessária ao início do processo) para
condição de prosseguibilidade (condição que deve ser implementada para o processo
já em andamento poder seguir seu curso).

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Dessa forma, para a quinta turma do STJ é necessário colher a representação da
vítima apenas até o oferecimento da denúncia. Após oferecida a denúncia pelo
representante do Ministério Público (Promotor de Justiça) não há mais a necessidade
de se colher a representação do ofendido e a ação penal segue seu curso. Veja-se:

HABEAS CORPUS Nº 573.093 - SC (2020/0086509-0)RELATOR:


MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECAIMPETRANTE:
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
ADVOGADOS: DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SANTA
CATARINA VANESSA MORITZ LUZ - MT023305BIMPETRADO : TRIBUNAL
DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA PACIENTE : WAGNER
ALEXANDRE ALVES INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE
SANTA CATARINA EMENTAHABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE
RECURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. CRIME DE
ESTELIONATO. PRETENDIDA APLICAÇÃO RETROATIVA DA REGRA DO
§ 5º DO ART. 171 DO CÓDIGO PENAL, ACRESCENTADO PELA LEI N.
13.964/2019 (PACOTE ANTICRIME). INVIABILIDADE. ATO JURÍDICO
PERFEITO. CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE. DOUTRINA.
DOSIMETRIA. PRETENSÃO DE CONVERSÃO DA PENA CORPORAL EM
MULTA. ART. 44, §2º, DO CÓDIGO PENAL. DISCRICIONARIEDADE DO
JULGADOR. WRIT NÃO CONHECIDO.

1. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal e as Turmas que compõem


a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, diante da utilização
crescente e sucessiva do habeas corpus, passaram a restringir a sua
admissibilidade quando o ato ilegal for passível de impugnação pela via
recursal própria, sem olvidar a possibilidade de concessão da ordem, de
ofício, nos casos de flagrante ilegalidade.

2. A Lei n. 13.964/2019, de 24 de dezembro de 2019, conhecida como


"Pacote Anticrime", alterou substancialmente a natureza da ação penal do
crime de estelionato (art. 171, § 5º, do Código Penal), sendo, atualmente,
processado mediante ação penal pública condicionada à representação do
ofendido, salvo se a vítima for: a Administração Pública, direta ou indireta;
criança ou adolescente; pessoa com deficiência mental; maior de 70 anos de
idade ou incapaz.

3. Observa-se que o novo comando normativo apresenta caráter híbrido, pois,


além de incluir a representação do ofendido como condição de
procedibilidade para a persecução penal, apresenta potencial extintivo da
punibilidade, sendo tal alteração passível de aplicação retroativa por ser mais
benéfica ao réu. Contudo, além do silêncio do legislador sobre a aplicação do
novo entendimento aos processos em curso, tem-se que seus efeitos não
podem atingir o ato jurídico perfeito e acabado (oferecimento da denúncia),
de modo que a retroatividade da representação no crime de estelionato deve
se restringir à fase policial, não alcançando o processo. Do contrário, estar-
se-ia conferindo efeito distinto ao estabelecido na nova regra, transformando-
se a representação em condição de prosseguibilidade e não procedibilidade.
Doutrina: Manual de Direito Penal: parte especial (arts. 121 ao 361) / Rogério
Sanches Cunha - 12. ed. rev., atual. e ampl. - Salvador: Editora JusPODIVM,
2020, p. 413.4. Ademais, na hipótese, há manifestação da vítima no sentido
de ver o acusado processado, não se exigindo para tal efeito, consoante a
jurisprudência desta Corte, formalidade para manifestação do ofendido. [...]

13
4.Conforme pacífica jurisprudência desta Corte Superior, fixada a pena
corporal nos patamares delineados no art. 44, § 2º, do Código Penal, compete
ao julgador a escolha do modo de aplicação da benesse legal. Além disso,
não é socialmente recomendável a aplicação da multa substitutiva em crimes
cujo o tipo penal prevê multa cumulativa com a pena privativa de liberdade.

5.Habeas corpus não conhecido. (STJ. Habeas Corpus 573.093 - SC


(2020/0086509-0) Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca. Dje
18/06/2020).

Já a sexta turma do STJ no julgamento do Habeas Corpus 583. 837 decidiu em


agosto de 2020 que a qualquer momento a representação da vítima deve ser colhida,
mesmo nos processos em curso, devendo ser aplicado por analogia o que dispõe o
artigo 91 da Lei 9099/1995- Lei dos Juizados Especiais, intimando-se a vítima para
manifestar interesse na continuação da persecução penal em 30 dias, sob pena de
decadência. Veja-se:

HABEAS CORPUS Nº 583.837 - SC (2020/0121742-8) RELATOR:


MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIORIMPETRANTE: DEFENSORIA
PÚBLICA DO ESTADO DE SANTA CATARINA ADVOGADOS:
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SANTA CATARINA LUDMILA
GRADICI CARVALHO DRUMOND - SC036422 IMPETRADO : TRIBUNAL
DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA PACIENTE : TIAGO
DANIEL FONSECA E SILVA INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DE SANTA CATARINA EMENTAHABEAS CORPUS. PENAL E
PROCESSUAL PENAL. PACOTE ANTICRIME. LEI N. 13.964/2019. § 5º DO
ART. 171 DO CP. AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À
REPRESENTAÇÃO COMO REGRA. NOVA LEI MAIS BENÉFICA.
RETROATIVIDADE. ART. 5º, XL, DA CF. APLICAÇÃO DO ART. 91 DA LEI
N. 9.099/1995 POR ANALOGIA.

1. As normas que disciplinam a ação penal, mesmo aquelas constantes do


Código de Processo Penal, são de natureza mista, regidas pelos cânones da
retroatividade e da ultratividade benéficas, pois disciplinam o exercício da
pretensão punitiva.

2. O processo penal tutela dois direitos de natureza pública: tanto os direitos


fundamentais do acusado, voltados para a liberdade, quanto a pretensão
punitiva. Não interessa ao Estado punir inocentes, tampouco absolver
culpados, embora essa última solução se afigure menos danosa.

3. Não é possível conferir a essa norma, que inseriu condição de


procedibilidade, um efeito de extinção de punibilidade, quando claramente o
legislador não o pretendeu.

4. A retroação do § 5º do art. 171 do Código Penal alcança todos os processos


em curso, ainda sem trânsito em julgado, sendo que essa não gera a extinção
da punibilidade automática dos processos em curso, nos quais a vítima não
tenha se manifestado favoravelmente à persecução penal. Aplicação do art.
91 da Lei n. 9.099/1995 por analogia.

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5. O ato jurídico perfeito e a retroatividade da lei penal mais benéfica são
direitos fundamentais de primeira geração, previstos nos incisos XXXVI e XL
do art. 5º da Constituição Federal. Por se tratarem de direitos de origem
liberal, concebidos no contexto das revoluções liberais, voltam-se ao Estado
como limitadores de poder, impondo deveres de omissão, com o fim de
garantir esferas de autonomia e de liberdade individual. Considerar o
recebimento da denúncia como ato jurídico perfeito inverteria a natureza dos
direitos fundamentais, visto que equivaleria a permitir que o Estado invocasse
uma garantia fundamental frente a um cidadão.

6. Ordem parcialmente concedida, confirmando-se a liminar, para determinar


a aplicação retroativa do § 5º do art. 171 do Código Penal, inserido pela Lei
n. 13.964/2019, devendo ser a vítima intimada para manifestar interesse
na continuação da persecução penal em 30 dias, sob pena de
decadência, em aplicação analógica do art. 91 da Lei 9.099/1995. (STJ.
Habeas Corpus n. 583.837 - SC (2020/0121742-8), Sexta Turma, Rel.
Ministro Sebastião Reis Junior DJe: 12/08/2020) (grifo nosso).

Posteriormente, em outubro de 2020, a primeira turma do STF acompanhando


o entendimento da 5ª Turma do STJ decidiu que a representação do ofendido só deve
ser colhida até o oferecimento da denúncia. Após o oferecimento da denúncia pelo
membro do Ministério Público não há mais essa necessidade. Veja-se:

HABEAS CORPUS 187.341 SÃO PAULO RELATOR: MIN. ALEXANDRE DE


MORAES PACTE.(S): ERIC FABIANO ARLINDO IMPTE.(S): CESAR
COSMO RIBEIROADV.(A/S):ALESSANDRA MARTINS GONCALVES
JIRARDI COATOR(A/S)(ES):RELATORDO HC Nº 585.179 DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA Ementa: HABEAS CORPUS. ESTELIONATO.
AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA A PARTIR DA LEI N. 13.964/19
("PACOTEANTICRIME"). IRRETROATIVIDADE NAS HIPÓTESES DE
OFERECIMENTO DA DENÚNICA JÁ REALIZADO. PRINCÍPIOS DA
SEGURANÇA JURÍDICA E DA LEGALIDADE QUE DIRECIONAM A
INTERPRETAÇÃO DA DISCIPLINA LEGAL APLICÁVEL. ATO JURÍDICO
PERFEITO QUE OBSTACULIZA A INTERRUPÇÃO DA AÇÃO. AUSÊNCIA
DE NORMA ESPECIAL A PREVER A NECESSIDADE DE
REPRESENTAÇÃO SUPERVENIENTE. INEXISTÊNCIA DE ILEGALIDADE.
HABEAS CORPUS INDEFERIDO.

1.Excepcionalmente, em face da singularidade da matéria, e de sua


relevância, bem como da multiplicidade de habeas corpus sobre o mesmo
tema e a necessidade de sua definição pela PRIMEIRA TURMA, fica
superada a Súmula 691 e conhecida a presente impetração.

2.Em face da natureza mista (penal/processual) da norma prevista no §5º do


artigo 171 do Código Penal, sua aplicação retroativa será obrigatória em
todas as hipóteses onde ainda não tiver sido oferecida a denúncia pelo
Ministério Público, independentemente do momento da prática da infração
penal, nos termos do artigo 2º, do Código de Processo Penal, por tratar-se de
verdadeira “condição de procedibilidade da ação penal”.

3.Inaplicável a retroatividade do §5º do artigo 171 do Código Penal, às


hipóteses onde o Ministério Público tiver oferecido a denúncia antes da
entrada em vigor da Lei 13.964/19; uma vez que, naquele momento a norma
processual em vigor definia a ação para o delito de estelionato como pública
incondicionada, não exigindo qualquer condição de procedibilidade para a
instauração da persecução penal em juízo. HC 187341 / SP .
15
4.A nova legislação não prevê a manifestação da vítima como condição de
prosseguibilidade quando já oferecida a denúncia pelo Ministério Público.

5.Inexistente, no caso concreto, de ilegalidade, constrangimento ilegal ou


teratologia apta a justificar a excepcional concessão de Habeas Corpus.
INDEFERIMENTO da ordem. (STF. Habeas Corpus 187341-SP. Rel. Ministro
Alexandre de Morais, Primeira Turma, DJe 13/10/2020).

Assim, nos inquéritos já em curso, será necessário intimar a vítima a fim de colher
sua representação, verificando se ela ainda tem interesse em dar prosseguimento no
Inquérito, pois a alteração trazida pela Lei 13.964/19 pode ser benéfica ao acusado e
como tal deve retroagir na fase de inquérito, nos termos do princípio da retroatividade
benéfica, previsto no artigo 2º caput e parágrafo único do Código Penal.

3.1 Parágrafo 4º do artigo 171 do Código Penal

Nos termos do parágrafo 4º do artigo 171 do Código Penal, incluído pela Lei
13.228/2015, aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido contra idoso, vítima
considerada vulnerável.

4 COMPETÊNCIA

Conforme havia sido lecionado na edição anterior do curso, a competência para


investigação e julgamento dos delitos de estelionato era determinada pelo local onde
foi obtida a vantagem indevida pelo agente criminoso em prejuízo da vítima.

Se a vantagem tivesse sido obtida através de depósito bancário (muito comum


hoje dia), o local da obtenção da vantagem ilícita seria aquele onde se situa a agência
bancária da conta beneficiária do depósito (recebedora do valor depositado) ou onde
foi sacado o cheque (no caso de pagamento através de cheque). Nesse sentido
dispunha a jurisprudência dos Tribunais Superiores.

16
Ocorre que esse entendimento jurisprudencial foi alterado com o advento da Lei
14.155/21 que entrou em vigor em 27 de maio de 2021, que introduziu o parágrafo 4º
ao artigo 70 do Código de Processo Penal, estabelecendo o seguinte, in verbis:

O art. 70 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de


Processo Penal), passa a vigorar acrescido do seguinte § 4º:

“Art. 70. ..........................................................................................................

§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de


dezembro de 1940 (Código Penal), quando praticados mediante depósito,
mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em poder
do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de
valores, a competência será definida pelo local do domicílio da vítima, e,
em caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela
prevenção.” (grifo nosso).

Assim, atualmente, diante desta alteração legislativa, se o crime de estelionato


for praticado por meio da rede bancária (mediante depósito ou transferência de
valores) ou por meio da emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos ou
com o pagamento frustrado, a competência será determinada pelo local do domicílio
da vítima ou pela regra da prevenção, se houver pluralidade de vítimas (nesse caso,
havendo várias vítimas será competente a unidade policial ou juízo que primeiro atuar
no caso).

E considerando que essa alteração legislativa é uma regra de natureza


tipicamente processual (formal, técnica, sem conteúdo material), deve ser aplicada de
forma imediata (nos termos do artigo 2º do Código de Processo Penal1) ainda que os
fatos tenham sido anteriores à mudança da legislação, especialmente se o caso ainda
estiver em fase de Inquérito Policial. Foi este o entendimento adotado recentemente
pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do Conflito de Competência 180.132.

Com isso, a nova regra de competência se aplica aos Inquéritos e Processos


em curso, ainda que o fato criminoso tenha ocorrido antes da entrada em vigor da Lei
14.155/21, podendo ser declinada a competência nos Inquéritos em curso remetendo-
os para a unidade policial com atuação no endereço de domicílio da vítima.

1
Artigo 2º do CPP: A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos
realizados sob a vigência da lei anterior.
17
Em todo caso, sempre que for verificado que a competência para investigar o
caso é de outro Município ou outro Estado, o procedimento ou boletim de ocorrência
deve ser remetido para o local competente, porém, é nesse caso, é recomendado que
o expediente seja instruído com o termo de representação e com o termo de
declarações (oitiva) da vítima, bem como com todos os documentos e meios de prova
imprescindíveis para a comprovação do crime e relevantes para a investigação do
delito de estelionato em outra comarca, além da cópia do documento de identificação
civil da vítima, pois sem esses elementos e sem a condição de procedibilidade exigida
com o advento da Lei 13.964/19 (termo de representação da vítima) a Policia Civil de
outra comarca não poderá instaurar o Inquérito Policial.

A Polícia Civil do Estado de Goiás inclusive enviou um ofício ao Excelentíssimo


Senhor Chefe da Polícia Civil de Minas relatando que a Polícia Civil de Goiás tem
recebido inúmeras ocorrências policiais registradas em outros Estados, relativas ao
delito de estelionato, sem que a indispensável representação da vítima esteja anexada
à parte ou consignada referida manifestação no bojo do histórico da ocorrência.

Além disso, reportou no ofício que as ocorrências têm aportado com a falta de
documentos imprescindíveis que comprovem a justa causa para instauração do
Inquérito Policial, tais como: cópias de documentos que comprovem minimamente a
materialidade delitiva – comprovante de depósito, extrato bancário, dentre outros, bem
como cópias de documento de identidade da vítima comunicante (deve-se comprovar
que de fato há vítima efetiva no crime de estelionato) e o termo de declarações desta.

Informaram que a falta de tais documentos tem dificultado o trabalho


desenvolvido pelas Delegacias de Polícia do Estado de Goiás responsáveis pela
apuração, tendo em vista que, em busca da documentação indispensável, necessária
a expedição de Cartas Precatórias, situação que inviabiliza a celeridade da
investigação, tão necessária à completa elucidação criminal.

18
Em virtude disto, a chefia da Polícia Civil de Goiás solicitou que todas as
Delegacias de Polícia do Estado de Minas Gerais sejam orientadas a instruir as
ocorrências policiais com os dados e documentos básicos, como representação, cópia
do documento de identidade da vítima, termo de declarações, entre outros, antes da
remessa a Policia Civil do Estado de Goiás. Comunicou ainda que as ocorrências
policiais dos delitos de estelionato registradas no Estado de Minas Gerais, mas afetas
a Polícia Civil de Goiás, que carecerem dos dados e ou documentos citados acima,
serão diretamente devolvidas à origem, para o devido saneamento.

Este ofício enviado pela Polícia Civil de Goiás foi encaminhado pela Chefia da
Polícia Civil de Minas Gerais a todas as Delegacias do Estado de Minas para
conhecimento e adoção das orientações solicitadas pela Polícia Civil de Goiás.

De fato, a não observância dessas orientações inviabiliza e dificulta


sobremaneira as investigações, sendo de suma importância que todos os Estados da
Federação se atentem para isso e adotem tais orientações como protocolo padrão
para o fluxo de ocorrências e expedientes de delitos de estelionato a serem
investigados em outras localidades.

5 ESTELIONATO SENTIMENTAL

O estelionato sentimental é uma modalidade do crime de estelionato na qual o


autor estabelece um vínculo afetivo (e com isso uma relação de confiança) com a
vítima com o intuito de obter vantagem patrimonial indevida, induzindo-a, mediante
ardil e dissimulação, a lhe proporcionar as mais diversas vantagens financeiras,
aproveitando-se do estado emocional da vítima (que se encontra apaixonada pelo
autor) e abusando da confiança que ele estabeleceu com a vítima.

O ser humano como ser social que é, está sempre à procura de estabelecer
relações afetivas, de encontrar um companheiro. Muitas vezes, na busca por um par
perfeito, as pessoas encontram pelo caminho sujeitos aproveitadores com discursos
bem articulados voltados a satisfazer as necessidades humanas de afeto e aproveitar-
se das fragilidades e carências afetivas das pessoas para assim auferir vantagem em
uma relação aparentemente amorosa.
19
Via de regra, o estelionatário mantém o relacionamento amoroso apenas o tempo
suficiente para ele auferir as vantagens patrimoniais que almeja ou até encontrar uma
outra vítima que ele considere mais vantajosa e, assim, os relacionamentos costumam
ser breves e finda a relação a vítima percebe que foi enganada e se sente
extremamente envergonhada, usada e humilhada, pois tinha a ilusão de estar vivendo
uma relação amorosa verdadeira.

A vergonha sentida pela vítima faz com que muitas vezes ela não denuncie o
estelionatário, pois não deseja reviver a dor de se sentir enganada e traída e nem
expor sua intimidade para a Polícia.

Na atuação cotidiana em Delegacias de Polícia não raros serão os casos


envolvendo essa modalidade de estelionato. São casos nos quais vítimas relatam que
foram induzidas com falsas promessas de amor a contrair empréstimos em seus
nomes, realizar compras e transferências bancárias em favor do estelionatário e ao
fim do relacionamento (e da ilusão) resta à vítima arcar com as dívidas (e muitas vezes
com a negativação de seus nomes nos cadastros de proteção de crédito) e lidar com
os prejuízos financeiros advindos.

Em muitos casos, para convencer a vítima a fornecer-lhe valores o estelionatário


usa como ardil a necessidade de manutenção do relacionamento amoroso, dizendo
que ele precisa do dinheiro para viajar ou se mudar para a mesma cidade que ela para
os dois poderem ficar juntos e até constituir uma família no futuro, ou então, alega que
está passando por graves problemas financeiros e até de saúde e conta com o amor
dela para salvá-lo. Enfim, os estelionatários são muito criativos e se valem de
discursos muito emotivos e envolventes para convencer as vítimas, além de falsas
promessas de amor.

Além de promessas de amor, em alguns casos os estelionatários também


prometem ressarcir as vítimas assim que restabelecerem sua situação financeira.

20
Em alguns casos, os estelionatários articulam de maneira muito planejada o golpe,
dando provas para a vítima de seu ‘amor’ antes de obter dela as vantagens financeiras
por ele visadas. Fornecem presentes para as vítimas, além de elogios e galanteios,
forjam provas de um suposto status social de credibilidade e procuram satisfazer as
necessidades amorosas das vítimas.

Muitas vezes o crime ocorre de forma virtual, casos em que o agente criminoso
estabelece uma relação amorosa exclusivamente virtual com a vítima em aplicativos
de relacionamento ou em mídias sociais e consegue auferir vantagem financeira sem
nunca ter tido um encontro presencial com a vítima, até porque, obtida a vantagem o
relacionamento termina.

O ambiente virtual inclusive facilita a atuação fraudulenta do estelionatário, pois


ele pode utilizar informações inverídicas para abordar e iniciar um vínculo amoroso
com as vítimas.

Como sempre ocorre no crime de estelionato, esta modalidade (estelionato


sentimental) atinge muito idosos, mas também atinge jovens e pessoas das mais
diversas faixas etárias, pois todos nós temos uma fragilidade sentimental.

Não raras vezes, os estelionatários aproveitam-se da situação delicada de


pessoas que vivenciaram ou vivenciam traumas afetivos, decorrentes de separação,
viuvez, traição, entre outros, para aplicar golpes.

O estelionato sentimental enseja reparações na esfera criminal e também na


esfera cível, sendo cabível indenização por danos materiais e morais (em decorrência
da humilhação e sofrimento sofrido pela vítima), pois se entende que todos os
relacionamentos intersubjetivos devem ser pautados pelo princípio da boa-fé, previsto
no artigo 422 do Código Civil.

21
Alguns casos de estelionato sentimental têm chegado ao conhecimento do Poder
Judiciário através de ações de reparação civil. Nesse sentido, veja-se a jurisprudência:

Apelaçaõ Cível. Compromisso de venda e compra entre particulares. Ação


de rescisão contratual cumulada com pedido de restituição dos valores pagos
e indenização por danos morais. Contrato verbal. Partes que mantinham
relacionamento amoroso, tendo o réu oferecido à autora a aquisição de
metade de imóvel pertencente a sua ex esposa para juntos nele passarem a
residir. Autora que efetuou pagamento ao réu, sem transferência da posse e
titularidade do bem. Sentença de parcial procedência para o fim de declarar
a rescisão do contrato e condenar o réu à restituição de valores pagos e
indenização por danos morais no valor de R$ 15.000,00. Recurso apenas do
réu. Provas documental e testemunhal que revelam o ajuste verbal entre as
partes e efetiva transferência de valores ao réu. Restituição dos valores
pagos devida. Danos morais caracterizados Autora que foi ludibriada e sofreu
abalo moral. Quantum indenizatório adequadamente fixado em R$ 15.000,00.
Manutenção da R. Sentença. Nega-se provimento ao recurso. (TJSP.
Apelação Cível nº 1010663-55.2017.8.26.0564 – São Bernardo do Campo.
Min. Relator Christine Santini. 1ª Câmara de Direito Privado. Dje:
28/10/2020).
JUSTIÇA GRATUITA Preenchimento dos requisitos legais. Demonstração de
necessidade. Benefício concedido. RESPONSABILIDADE CIVIL. Ato ilícito.
Entrega de numerário em razão de falsas promessas de relacionamento
público e duradouro. Demonstração de conduta dolosa visando unicamente
o enriquecimento. Inadmissibilidade. Obrigação de restituir
reconhecida.DANO MORAL. Obtenção de quantias mediante fraude, levando
a doadora a difícil situação financeira. Caso, ademais, em que foi agredida e
humilhada pelo beneficiado. Dano moral configurado - Sentença mantida
Apelação improvida.
Apelação interposta conta r. sentença proferida pelo MM. Juiz de Direito Dr.
Gustavo Dall'Olio que julgou procedente ação dita “ordinária de cobrança c/c
danos morais” relativa à entrega de valores mediante fraude para condenar o
réu ao pagamento de R$-15.861,97 a título de indenização por dano material
e R$-25.000,00 a título de indenização por dano moral.
Como bem observado pelo MM. Juízo de Primeiro Grau, há nos autos
elementos suficientes a apontar que o apelante praticou inequívoco
“estelionato sentimental” contra a apelada, isto é, utilizando-se de expediente
astucioso, induziu a apelada a dar-lhe dinheiro, sob falsas promessas de
estabelecimento de relacionamento sério e duradouro as quais nunca
pretendeu cumprir.

Com efeito, tendo as partes se conhecido por meio de aplicativo de


relacionamento amoroso (“Tinder”), iniciaram conversas e encontros nos
quais o apelante constantemente apresentava sua situação financeira como
impeditivo para concretização de um relacionamento público.

Mais ainda, sempre noticiando suas dificuldades, pedia, cobrava e


questionava a apelada acerca de suas disponibilidades financeiras e sua
capacidade em pagar suas dívidas e obter empréstimos, dirigindo por várias
vezes ameaças acerca do fim do relacionamento, seguidas de declarações
amorosas e novas promessas (cf. fls. 52, onde se lê que, após ser
confrontado pela apelada acerca dos pedidos de dinheiro, responde o
apelante que “se eu quisesse isso de vc pode ter certeza que nem Estávamos
conversando” e, na sequência, “pq eu quero fica com vc”, “mas vc não quer
saber”, “vc só quer casar” e finaliza “me ajuda aí pq já estou me descatando
de mais com esse mesmo assunto seu”; também a fls. 54: “Compra hj é vc
vai ve como vou de assumir”; “Compra e me avisa pra mim ir amanhã pegar
a passagem ai vc vai ve”).

22
A apelada, por sua vez, além de entregar o numerário e pagar dívidas do
apelante, por diversas vezes, declarava seu amor e sua vontade de resolver
os problemas do apelante para iniciarem uma vida em conjunto, o que era
sempre postergado com alegações de dificuldades vagas (cf. fls. 55: “Q
aconteceu de ontem para hj...”, ao que o apelante respondeu: “Nada meu
anjo”; “é questão da auto escola os galos que fiquei de até o dinheiro pro
rapaz e a roupa pros meus filhos pro inferno”; “Nada mais”; “É cabeça quente
com isso mesmo”).

Inegável, portanto, que, valendo-se de ardil, o apelante induziu a apelada a


entregar-lhe quantias. Dessa maneira, há inequívoco ato ilícito a justificar a
devolução das quantias que a apelada despendeu, exatamente como
determinado pelo MM. Juízo de Primeiro Grau.

No que toca ao dano moral, tampouco tem razão o apelante.

Com efeito, sua conduta está longe de se configurar simples desfazimento de


relacionamento amoroso.

Além daquela conduta acima referida, na qual o apelante deliberadamente


fazia promessas que nunca pretendeu cumprir para obter vantagem
financeira da apelada, agiu também de modo ofensivo, proferindo palavras
cujo único objetivo era humilhar a apelada, regozijando-se de seu êxito em
obter vultuosas quantias e da fragilidade emocional da apelada, como se vê
particularmente a fls. 59 dos autos.

É, pois, conduta ilícita, verdadeira violência contra a esfera psíquica da


apelada.
Salta à vista que quem recebe tratamento como esse sofre desconforto e
sofrimento, dor que ultrapassa os simples contornos dos simples
aborrecimentos corriqueiros do dia-a-dia. (...)
Bem reconhecido, portanto, o dano moral, razão pela qual tem direito a
apelada à indenização, registrado que nada se discute acerca do “quantum”
indenizatório, razão pela qual fica mantido. (...)
Ante o exposto, nega-se provimento à apelação. (TJSP. Apelação Cível nº
1030825-37.2018.8.26.0564/São Bernardo do Campo. 37ª Câmara de Direito
Privado. Rel. Min. José Tarciso Beraldo. Dje: 23/10/2019).

APELAÇÃO CÍVEL. DANOS MATERIAIS E MORAIS. ESTELIONATO


SENTIMENTAL. FRAUDE. IDOSA QUE ALEGOU TER SE ENVOLVIDO
AMOROSAMENTE COM O RÉU, ADQUIRINDO, PARA ELE, BENS E
VALORES. RÉU REVEL. PREJUÍZOS FINANCEIROS E
EXTRAPATRIMONIAIS. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. PROVAS QUE
APONTAM PARA A VERACIDADE DO RELATO.
Cuida-se de ação anulatória de entrega de bens e valores e indenização
pelos danos morais, proposta ao argumento de que foi vítima de golpe
perpetrado pelo réu, com o qual manteve relacionamento amoroso, sendo-
lhe prometido casamento. O réu agiu usando de ardil, induzindo a autora
idosa a crer em relacionamento amoroso com a finalidade de obter lucros em
seu proveito. Cuida a hipótese do denominado estelionato sentimental, no
qual um dos companheiros abusa da confiança e afeição do parceiro amoroso
para obter vantagens pessoais, causando-lhe prejuízos financeiros e
extrapatrimoniais. Artigos 186 e 927 do Código Civil. Responsabilidade civil
subjetiva. Direito ao ressarcimento dos valores vertidos em favor do réu.
Lesão imaterial sofrida pela demandante. Indenização pelo dano moral fixada
em R$5.000,00 (cinco mil reais). Nada a reparar no julgado. Recurso
CONHECIDO e DESPROVIDO. (TJRJ. Apelação Cível 0001888-
67.2013.8.19.0026. Relator Ministro Cezar Augusto Rodrigues Costa, 8ª
Câmara Criminal. DJe 16/11/2018).

23
PROCESSO CIVIL. TÉRMINO DE RELACIONAMENTO AMOROSO.
DANOS MATERIAIS COMPROVADOS. RESSARCIMENTO. VEDAÇÃO AO
ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA. ABUSO DO DIREITO. BOA FÉ
OBJETIVA. PROBIDADE. SENTENÇA MANTIDA.

1. [...] depreendendo-se que a autora/ apelada efetuou continuadas


transferências ao réu; fez pagamentos de dívidas em instituições financeiras
em nome do apelado/réu; adquiriu bens móveis tais como roupas, calçados
e aparelho de telefonia celular; efetuou o pagamento de contas telefônicas e
assumiu o pagamento de diversas despesas por ele realizadas, assim agindo
embalada na esperança de manter o relacionamento amoroso que existia
entre a ora demandante. Corrobora-se, ainda e no mesmo sentido, as
promessas realizadas pelo varão-réu no sentido de que, assim que voltasse
a ter estabilidade financeira, ressarciria os valores que obteve de sua vítima,
no curso da relação.

2. Ao prometer devolução dos préstimos obtidos, criou-se para a vítima a


justa expectativa de que receberia de volta referidos valores. A restituição
imposta pela sentença tem o condão de afastar o enriquecimento sem causa,
sendo tal fenômeno repudiado pelo direito e pela norma [...]. (TJDF. Acórdão
n.866800, 20130110467950APC, Relator: CARLOS RODRIGUES, Revisor:
ANGELO CANDUCCI PASSARELI, 5ª Turma Cível, Data de Julgamento:
08/04/2015, Publicado no DJE: 19/05/2015).

Porém, a depender das circunstâncias do caso concreto, a Justiça pode


entender não ser cabível a indenização por danos morais, sendo cabível apenas a
indenização por danos materiais. É o que ocorreu na Apelação Cível, Processo nº.
0306506-83.2018.8.24.0024 julgado pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Veja-
se trechos do Acórdão:

Em suas razões recursais, a autora aduziu que foi adicionada em perfil do


facebook por uma pessoa denominada Tipson More, um militar americano
em missão no Iraque, que teria feito promessas de um relacionamento
amoroso e regado a dinheiro. Alega que para a garantia do casal, Tipson teria
prometido enviar a quantia de US$ 950.000,00 (novecentos e cinquenta mil
dólares), contudo, para receber o malote, a autora deveria pagar a quantia de
R$ 3.000,00 (três mil reais). Para conseguir o valor da suposta transferência,
a autora relatou ter contraído empréstimo bancário e penhorado joias da
família. Depois de enviar o montante para conta de titularidade da
demandada, descobriu ser vítima de um golpe.
Ressaltou que "o golpe não foi somente financeiro, mas também, sentimental,
atingindo a intimidade e a honra da recorrente, a qual, já debilitada por suas
doenças psicológicas, arcou com dispêndios patrimoniais e, sobretudo,
extrapatrimoniais, sentindo extremo sofrimento interno" (fl. 113).
Defendeu que o dano moral, in casu, é in re ipsa, razão pela qual sustentou
ser necessária a reforma da sentença a fim de que a demandada seja
condenada ao pagamento de indenização pelo abalo anímico suportado.
Mencionou, no tocante aos danos materiais, que "o prejuízo da recorrente foi
maior que o valor depositado na conta da recorrida" (fl. 116). Assim, com
fulcro no princípio da reparação integral do dano, requereu a majoração da
verba no valor de R$ 641,68 (seiscentos e quarenta e um reais e sessenta e
oito centavos), montante que compreende os encargos assumidos com a
contratação de empréstimo para a remessa dos R$ 3.000,00 (três mil reais)
à conta de titularidade da recorrida.
24
Prequestionou dispositivos de lei e pugnou, ao final, que os honorários
sucumbenciais sejam fixados com base no valor atualizado da causa, e não
sobre a condenação, conforme arbitramento na origem. Sem contrarrazões,
os autos ascenderam a esta Corte de Justiça para julgamento.

A requerente almeja, em síntese, a condenação da apelada ao pagamento


de indenização a título de danos morais, a complementação da indenização
por danos materiais e a mudança na base de cálculo dos honorários
advocatícios arbitrados ao causídico recorrente.

A pretensão de auferir indenização a título de danos morais, adianta- se, não


comporta acolhimento.

Em breve contextualização dos fatos, anota-se que a recorrente alega ter sido
vítima de um golpe denominado "estelionato amoroso", no qual teria sido
ludibriada em rede social com promessas de um relacionamento afetivo
estável e duradouro. O autor das mensagens teria lhe prometido a remessa
de vultosa quantia, US$ 950.000,00 (novecentos e cinquenta mil dólares),
que serviria de reserva financeira para o futuro do casal. Contudo, a remessa
do malote com o dinheiro foi condicionada ao depósito de R$ 3.000,00 à conta
de titularidade da demandada e, somente após a transferência do referido
valor, a recorrente teria se dado conta da trama fraudulenta.

A insurgente argumenta que o golpe perpetrado pela ré ultrapassou a esfera


patrimonial, atingindo também sua psique, a qual já se encontrava debilitada
em razão da moléstia de esquizofrenia da qual padece.

Em que pese o reconhecimento da ação fraudulenta praticada pela ré, ora


recorrida, com fulcro na documentação carreada aos autos e na presunção
de veracidade dos fatos decorrentes do reconhecimento de sua revelia (CPC,
art. 344), razão não socorre o pleito indenizatório a título de danos morais.

No ponto, destaca-se que a Carta Maior veio assegurar a plena


reparabilidade dos direitos de ordem moral, conforme se infere dos seguintes
preceitos:

"Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

"X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das


pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação."

Não obstante o amparo constitucional, importante ressaltar que os danos


morais estão incutidos na esfera subjetiva da pessoa, cujo acontecimento tido
como violador atinge o plano de seus valores em sociedade, repercutindo em
aspectos referentes tanto à reputação perante os demais membros sociais
ou mesmo no tocante à mera dor íntima.

Acerca dessa temática, leciona Carlos Alberto Bittar, em sua obra "Reparação
civil por danos morais":

25
"[...] na prática, cumpre demonstrar-se que, pelo estado da pessoa, ou por
desequilíbrio e, sua situação jurídica, moral, econômica, emocional ou outras,
suportou ela consequências negativas advindas do ato lesivo. A experiência
tem mostrado, na realidade fática, que certos fenômenos atingem a
personalidade humana, lesando os aspectos referidos, de sorte que a
questão se reduz, no fundo, a simples prova do fato lesivo. Realmente, não
se cogita, em verdade, pela melhor técnica, em prova de dor, ou de aflição,
ou de constrangimento, porque são fenômenos ínsitos na alma humana como
reações naturais a agressões do meio social. Dispensam, pois, comprovação,
bastando, no caso concreto, a demonstração do resultado lesivo e a conexão
com o fato causador, para responsabilização do agente" (São Paulo: Revista
dos Tribunais, 1993, p. 129/130).

Na mesma linha é a ensinança de Sérgio Cavalieri Filho:


"Só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou
humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no
comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições,
angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor, aborrecimento,
mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora de órbita do dano
moral, porquanto, além de fazerem parte da normalidade do nosso dia-dia,
no trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são
intensas e duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico do
indivíduo. Se assim não se entender, acabaremos por banalizar o dano moral,
ensejando ações judiciais em busca de indenizações pelos mais triviais
aborrecimentos" (Programa de Responsabilidade Civil. 6 ed. São Paulo:
Malheiros, 2005, p. 105) [sem grifo no original].
In casu, não se olvida a decepção a que foi submetida a autora ao se dar
conta de que as promessas de um romance estável e garantido por vultosa
quantia financeira não passavam de mentiras perpetradas no âmbito de uma
rede social.
Impõe-se ponderar, contudo, que a acentuada ingenuidade da demandante
beira, de fato, ao interesse de obter vantagem financeira de forma rápida e
fácil, conforme mencionado pela Magistrada sentenciante.

Ora, a ilusão e confiança cegas na promessa, ainda que eloquente, de um


desconhecido de que um depósito de R$ 3.000,00 (três mil reais) garantiria
um enlace amoroso e o futuro de um casal com reserva financeira no
montante de US$ 950.000,00 (novecentos e cinquenta mil dólares) foge, e
muito, das expectativas que o homem médio poderia ter.

Por certo, a conduta da requerida causou irritações, dissabores e outros


inconvenientes, entretanto, a não perfectibilização da promessa descabida e
falaciosa não têm o condão de conferir direito ao pagamento de indenização,
tendo em vista que o exercício de diligência mínima poderia ter poupado a
demandante do infortúnio ocorrido.

Ademais, os fatos narrados não são suficientes para provocar afetação à


honra e ao bom nome da parte ofendida.
Como é cediço, não se pode conferir indenização por danos morais
aleatoriamente, visando somente a punição do ofensor, esta, aliás, como bem
apontado pela Julgadora de origem, deve ser perseguida no âmbito criminal,
seara competente para a contenção de falsários do gênero.

Assim, e considerando que a concessão de verba compensatória pressupõe


a existência de um fato com eficácia para causar abalo psicológico ao
ofendido, seja pelo sofrimento psíquico interno, seja pela desonra pública,
repercussão danosa não evidenciada nos autos, não merece prosperar o
pleito de reforma da sentença com vistas à fixação de indenização a título de
danos morais.
26
Em seu apelo, a recorrente também postula a complementação da
indenização por danos materiais. A fim de amparar sua tese, alega que o
prejuízo sofrido foi maior do que o depósito efetivado em conta de titularidade
da requerida (R$ 3.000,00 – três mil reais), tendo em vista que contraiu
empréstimo bancário, com encargos acessórios na monta de R$ 641,68
(seiscentos e quarenta e um reais e sessenta e oito centavos), e penhorou
joias de família para angariar o valor necessário à perfectibilização da
transferência.

A pretensão recursal, contudo, está desacompanhada de provas que


autorizem seu acolhimento. Com efeito, apesar de apresentada a
documentação referente ao contrato de penhor de joias (fls. 28-30), não há
nos autos documentos que evidenciem a contratação de outro empréstimo e
a assunção dos encargos cujo somatório pretende ser reembolsada (R$
641,68 – seiscentos e quarenta e umreais e sessenta e oito centavos).

Assim, considerando que o prejuízo de ordem material não pode ser


presumido e que "a indenização mede-se pela extensão do dano" (CC, art.
944), não merece prosperar o pleito de complementação da verba
reparatória, afinal, a autora comprovou, tão somente, decréscimo patrimonial
na monta de R$ 3.000,00 (três mil reais) com a remessa de valores à parte
ré (fl. 27).

(...)

Ante o exposto, conheço do recurso e nego-lhe provimento, mantendo


intocada a sentença a quo. (TJSC. Apelação Cível nº. 0306506-
83.2018.8.24.0024/Criciúma. Relator Desembargador Luiz Cézar Medeiros,
5ª Câmara de Direito Civil. Dje: 06/02/2020).

Na mesma linha, os seguintes julgados:

RECURSO INOMINADO. EXISTÊNCIA DE RELACIONAMENTO


AMOROSO ENTRE AS PARTES. AUTORA QUE EMPRESTOU DINHEIRO
AO RÉU. AUSÊNCIA DE PAGAMENTO. SITUAÇÃO QUE, POR SI SÓ, NÃO
É APTA A GERAR DANOS MORAIS. AUSÊNCIA DE PROVA DE QUE O
RÉU SE APROXIMOU DA AUTORA COM FINALIDADE DE PRATICAR ATO
ILÍCITO. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. SENTENÇA MANTIDA POR
SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS (ART. 46, LJE). RECURSO
CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJPR - 1ª Turma Recursal - 0042467-
80.2018.8.16.0021 - Cascavel - Rel.: Juíza Maria Fernanda Scheidemantel
Nogara Ferreira da Costa - J. 06.11.2019).

Trata-se de agravo apresentado por CAROLINA MOREIRA, contra a decisão


que não admitiu seu recurso especial. O apelo nobre, fundamentado no artigo
105, inciso III, alínea "a", da CF/88, visa reformar acórdão proferido pelo
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO, assim resumido:

APELAÇÃO - INDENIZAÇÃO DE DANOS - ALEGAÇÃO DE ESTELIONATO


SENTIMENTAL - SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA - INCONFORMISMO -
REJEIÇÃO - AUSÊNCIA DE PROVA DE FATO ILÍCITO PRATICADO PELO
RÉU E DE DANOS POR ELE CAUSADOS - CIRCUNSTÂNCIAS FÁTICAS
INERENTES AO CONVÍVIO ENTRE DUAS PESSOAS - SENTENÇA
RATIFICADA - NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO (fl. 163).
(...)
27
Quanto à controvérsia, em relação à alegada violação ao art. 5º, V, da CF/88,
é incabível o recurso especial porque visa discutir violação de norma
constitucional que, consoante o disposto no art. 102, inciso III, da Constituição
Federal, é matéria própria do apelo extraordinário para o Supremo Tribunal
Federal.

Além disso, o Tribunal de origem se manifestou nos seguintes termos:


Com efeito, a demanda proposta busca reparar supostos danos materiais e
morais sofridos pela autora em razão das condutas do réu durante o
relacionamento amoroso, as quais caracterizaram, segundo palavras dela,
estelionato sentimental.

Ocorre que o conjunto probatório é deficiente na caracterização de conduta


ilícita do réu e mesmo com relação aos supostos danos, como bem delineado
em sentença, da qual se colhe: "As partes mantiveram relacionamento afetivo
por mais de cinco anos, convivendo inclusive na mesma residência. A
relação, conquanto rompida, deu-se de maneira duradoura e não há, nos
autos, prova de que a requerente foi ludibriada ou enganada nas contratações
descritas na petição inicial.

A testemunha ouvida não elucidou os fatos; apenas reproduziu a versão que


lhe foi contada pela própria colega de trabalho/autora. O financiamento de fls.
30/35 foi, validamente, ajustado, não possui vícios que desabonem as
cláusulas avençadas e, tampouco, desobrigue a contratante/autora do seu
respectivo cumprimento.

A responsabilidade pela transferência formal de veículo é atribuída ao


proprietário (art. 134, CTB), que não pode eximir-se das consequências e
prejuízos decorrentes de negociação pouco diligente.

Não há, além disso, demonstração de que compras com cartão de crédito
foram realizadas mediante coação ou em benefício exclusivo do requerido.
Nos autos, por fim, não verifico efetiva ofensa ao patrimônio subjetivo da
requerente.

As imagens apresentadas pela autora (CDs arquivados no cartório, fls. 111)


revelam agressões que não foram objeto da causa de pedir e não integram,
nessa ação, o pleito indenizatório.

No mais, aborrecimentos decorrentes de relação amorosa conflituosa, por si,


não traduzem danos morais indenizáveis (fls. 164/165) Assim, incide o óbice
da Súmula n. 7 do STJ ("A pretensão de simples reexame de prova não
enseja recurso especial"), uma vez que a pretensão recursal demanda o
reexame do acervo fático-probatório juntado aos autos. (STF. AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL Nº 1.568.302 - SP (2019/0247112-8), Relator Ministro
JOÃO OTÁVIO DE NORONHA. DJe 28/10/2019).

Observa-se que, no primeiro caso exposto acima, o Tribunal considerou que a


vítima não foi diligente, deixando de adotar cautelas para evitar sofrer prejuízo
financeiro e visou enriquecimento fácil. Além disso, de acordo com os julgadores, o
fato não teve o condão de prejudicar sua reputação e causar intenso abalo psicológico,
apesar de ter lhe causado sofrimento.

28
Na investigação envolvendo o crime de estelionato na modalidade estelionato
sentimental é necessário juntar aos autos os comprovantes de transferências de
valores para o estelionatário, a fim de comprovar a obtenção da vantagem ilícita e o
prejuízo à vítima, além de prints de conversas (contendo dados do suspeito sempre
que possível), cópia de e-mails recebidos e enviados, com indicação da data e horário
do recebimento, fotos, entre outros, aptos a comprovar o relacionamento amoroso
simulado e indicar testemunhas que possam confirmar a existência do relacionamento
amoroso e que a vítima estava muito iludida e ludibriada com as falsas promessas do
autor.

Até porque, como já visto acima no tópico sobre a indenização por danos
morais, em alguns casos, após o término de um relacionamento amoroso, restam
pendências financeiras a serem resolvidas entre o ex-casal, mas isso não significa
que tenha ocorrido o crime de estelionato sentimental, sendo necessário se comprovar
que o autor (ou autora), desde o início se aproximou da vítima com o fim ilícito de
obter vantagem indevida e que o término se deu por ter o agente atingido seus
objetivos financeiros e não por razões triviais, tais como desgaste, desamor, etc.

Nos casos de estelionatos sentimentais praticados via Facebook ou Instagram,


é imprescindível que a vítima apresente o identificador (link ou URL) do perfil do
suspeito, pois somente através dele é possível identificar exatamente o perfil utilizado
para a prática da infração penal e obter informações junto ao Facebook/Instagram.

Assim, não basta que a vítima informe o nome do perfil (ex: JOÃO SILVA), pois
podem existir inúmeros perfis com o mesmo nome no Facebook ou no Instagram, o
que inviabilizará a identificação da autoria delitiva.
Além disso, será necessário realizar o procedimento de preservação de dados
do perfil do suposto autor, o qual é realizado na plataforma do Facebook LAW
ENFORCEMENT ONLINE REQUESTS, acessada pelo endereço eletrônico
<https://www.facebook.com/records>. Feito este procedimento, mesmo que as
informações constantes do perfil investigado sejam apagadas ou até mesmo o próprio
perfil, os Investigadores de Polícia terão acesso a ele pelo prazo de 90 dias,
prorrogáveis por mais 90 dias.

29
Garantido o acesso ao perfil investigado no Facebook ou Instagram poderá a
Autoridade Policial oficiar ao Facebook/ Instagram para obter os dados qualificativos
usados pelo titular do perfil para cadastro no Facebook/Instagram, incluindo o e-mail
vinculado ou representar ao Poder Judiciário pela quebra do sigilo dos dados
telemáticos do perfil investigado, nos termos do artigo 15, §3º da Lei nº. 12.965/2014
(Marco Civil da Internet) para obter os dados do IP usado na criação do perfil, além
do conteúdo das mensagens e áudios recebidas e enviadas e se o e-mail utilizado
para cadastro tem vínculo com outros perfis, a fim de se identificar a autoria delitiva e
comprovar a ocorrência do crime.

A ordem judicial que autoriza a quebra do sigilo dos dados telemáticos do perfil
investigado deve ser digitalizada e encaminhada para o Facebook por meio da já
mencionada plataforma LAW ENFORCEMENT ONLINE REQUESTS, acessada pelo
endereço eletrônico <https://www.facebook.com/records>, para cumprimento e
disponibilização de todas as informações solicitadas.

Nos casos de estelionato sentimentais praticados por meio do aplicativo


Whatsapp, a investigação inicia-se com a identificação do titular do numeral utilizado.
Assim sendo, deve-se identificar a qual operadora de telefonia pertence o numeral do
suspeito, o que pode ser feito através de consulta no site <http://qualoperadora.net/>
e, após identificada a operadora, pode a Autoridade Policial oficiar à operadora para
que forneça os dados cadastrais do titular do numeral utilizado para a prática do delito
na época dos fatos.

A partir desta informação, poderão ser adotadas outras diligências


convencionais e necessárias para o esclarecimento dos fatos e identificação da
autoria delitiva.
Nos casos de estelionatos sentimentais que envolvam a utilização de conta de
e-mail será necessário obter os dados do IP registrado no momento do envio das
mensagens, além dos dados cadastrais da conta de e-mail que podem ser obtidos
através do envio de um ofício para o provedor de e-mail responsável. Já os dados do
IP só poderão ser obtidos a partir da representação feita pela Autoridade Policial pela
quebra de sigilo de dados telemáticos.

30
Deve ser solicitado no ofício ou no pedido de quebra de sigilo os dados do e-
mail secundário que foi lançado pela pessoa para criação da conta de e-mail. Este e-
mail secundário é a segunda opção de e-mail que a pessoa registra no cadastro ao
criar uma conta de e-mail.

No entanto, é importante registrar que, via de regra, o estelionatário utiliza-se


de dados falsos ou de terceiros para habilitar aparelhos celulares, criar contas de e-
mail e criar perfis no Facebook e Instagram, até porque não há controle da
autenticidade das informações inseridas para realização desses procedimentos, de
modo que a obtenção de dados de cadastros não se mostra proveitosa para as
investigações.

Ressalte-se que para a condução de investigações envolvendo a internet pode


ser solicitado auxílio da Delegacia Especializada em investigação de crimes
cibernéticos de Belo Horizonte/MG, integrante do Departamento Estadual de Fraudes,
que disponibiliza aos interessados um Procedimento Operacional Padrão para
investigação de crimes cibernéticos – POP, contendo as informações acima
mencionadas.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.


Diário Oficial da União, 5 out. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 03
mar. 2021.

BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário


Oficial da União, 31 dez. 1940a. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm>. Acesso em: 03 mar.
2021.

31
BRASIL. Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019. Aperfeiçoa a legislação penal e
processual penal. Diário Oficial da União, 24 dez. 2019. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm >. Acesso
em: 03 mar. 2021.

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Diário Oficial da


União, 11 jan. 2002. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em:
03 mar. 2021.

CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: parte especial, 6 ed.,


Salvador, Bahia: Editora Jus Podivm, 2014.

GRECO, ROGÉRIO. Curso de Direito Penal: parte especial, volume III, 8 ed.,
Niterói, Rio de Janeiro: Impetus, 2011.

HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal, volume VII. Rio de Janeiro:


Forense, 1958.

LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 3 ed. ver., ampl. e atual.
Salvador, Bahia: Editora Jus Podivm, 2015).

NEVES, Claudia. O relacionamento abusivo pelo estelionato sentimental. Revista Jus


Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 25, n. 6347, 16 nov. 2020. Disponível em:
<https://jus.com.br/artigos/86546>. Acesso em: 03 mar. 2021.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 19 ed., Rio de Janeiro:


Forense, 2019.

32

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