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DIREITO PENAL – PARTE GERAL

(Arts. 1º ao 120, do CP)

1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

1.1. CATEGORIAS DO DIREITO PENAL

Direito Penal Substantivo: Código Penal.

Direito Penal Adjetivo: Código de Processo Penal.

Direito Penal Objetivo:Leis penais vigentes no país.

Direito Penal Subjetivo:Poder de punir do estado, ou seja, capacidade conferida ao Estado para
criar leis e exigir sua observância.

1.2. CARACTERÍSTICAS DA LEI PENAL

GENERALIDADE
+
IMPERATIVIDADE
+
IMPESSOALIDADE
+
EXCLUSIVIDADE

-Generalidade: todos devem obediência à lei, inclusive os inimputáveis, passíveis de medida


de segurança.
-Imperatividade: a lei se impõe independentemente da vontade dos particulares.
-Impessoalidade: a lei dirige-se a FATOS FUTUROS e não a determinada pessoa.
-Exclusividade: somente a lei cria infrações penais e aplica sanções. Costume não cria crimes
(nem revoga).
2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PENAL

Conceito: “são valores fundamentais que inspiram a criação e a manutenção do sistema


jurídico”.

2.1. Princípio da reserva legal ou estrita legalidade

Fundamentos:

Art. 5º, XXXIX, da Constituição Federal e art. 1º, Código Penal.

Art. 1º, do CP - “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal.”

Art. 5º, XXXIX, CF - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal;

-Onde está escrito crime, leia-se: INFRAÇÃO PENAL (crimes e contravenções)

-Onde está escrito pena, leia-se: SANÇÃO PENAL (pena e medida de segurança)

-Princípio da legalidade possui fundamento político, democrático e jurídico.

LEGALIDADE x RESERVA LEGAL

1ª corrente: alguns autores tratam legalidade e reserva legal como sinônimos.

2ª corrente: diferencia princípio da legalidade e da reserva legal.

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL


OU LEGALIDADE ESTRITA
Previsto no art. 5º, inciso II, da CF Previsto no art. 5º, inciso XXXIX, da CF
- Contenta-se com qualquer espécie - Exige que seja lei em sentido formal
normativa. Ex. decreto, portaria e (criada segundo processo legislativo
resolução. previsto na CF) e em sentido material
(trata de conteúdo constitucionalmente
reservado à lei).
- Lei em sentido amplo, entendida
como qualquer ordem emanada do - Reclama lei em sentido estrito (lei
Estado. ordinária ou lei complementar).
2.1.1. DESDOBRAMENTOS:

A. Princípio da Reserva Legal ou Legalidade Estrita

A infração penal somente pode ser criada por lei em sentido estrito (LEI ORDINÁRIA ou
LEI COMPLEMENTAR), aprovada pelo Congresso Nacional.

Lei delegada, tratados internacionais, medida provisória, decreto e resoluções NÃO podem
criar infrações penais nem cominar penas.

Atenção: o STF admite medidas provisórias em matéria penal, desde que


benéficas ao réu.

B. Lei deve ser escrita

Costume não cria (nem revoga) crime.

Nesta senda, o art. 5º, inc.II, da Constituição Federal declara que “ninguém será obrigado a
fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.

Costume serve para:


a. auxiliar na interpretação do conteúdo de determinados tipos, como ocorre,
por exemplo, na interpretação do que se considera “repouso noturno”, art. 155,
§1º, do Código Penal;
b. Criação de causas supralegais de exclusão da ilicitude de da culpabilidade.
Ex. Consentimento do ofendido, desde que seja prévio, valido, emitido por
pessoa capaz e recaia sobre bem jurídico disponível.

C. Lei deve ser anterior (Princípio da Anterioridade)

Previsão legal: art. 1º, do CP e art. 5º, XXXIX, da CF.

Art. 1º, do CP: Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia
cominação legal.

Art. 5º, XXXIX, da CF: não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal;

Para criação de crimes (infrações penais) e consequente cominação de penas, exige-se lei
anterior à prática do fato.

Trata-se do Princípio da Anterioridade da lei penal que, na verdade, é um desdobramento


do princípio da legalidade.

Obs. A lei somente será aplicada após a “vacatio legis”.


D. Lei tem que ser certa (Princípio da Taxatividade)

Não se admite normas penais com expressões amplas, indeterminadas, vagas.

Trata-se do Princípio da Taxatividade, o qual estabelece que os tipos penais devem prever
de maneira clara e precisa os comportamentos rotulados enquanto criminosos.

E. Lei deve ser estrita

Proíbe-se o uso da analogia IN MALAM PARTEM.

Entende-se por analogia a ausência de norma reguladora de determinada situação concreta,


motivo pelo qual se aplica ao caso não regulado, uma norma que disponha sobre situação
semelhante.

A analogia é admitida em direito penal, desde que seja em BENEFÍCIO DO RÉU ou IN


BONAM PARTEM.

Veda-se, entretanto, o uso da analogia incriminadora ou em prejuízo do réu, por ofensa ao


princípio da legalidade.

2.2. PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA

O direito penal deve agir quando for efetivamente necessário, atuando quando os demais
ramos do direito se mostrarem insuficientes na tutela de determinado bem (PRINCÍPIO DA
SUBSIDIARIEDADE), abarcando somente lesão ou perigo de lesão relevante e intolerável
ao bem jurídico tutelado (PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE).

A. PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE

O Direito Penal só deve atuar quando os demais ramos do direito se mostrarem falhos na
tutela do determinado bem jurídico (ultima ratio ou soldado de reserva).

B. PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE

O Direito Penal deve se preocupar somente com os bens mais fundamentais para
manutenção da sociedade quando sujeitos a lesões relevantes e intoleráveis.

Obs. O princípio da insignificância se perfaz em desdobramento da fragmentariedade do


Direito Penal.
2.3. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA ou BAGATELA PRÓPRIA

Não possui previsão legal, mas é amplamente aceito pelo STF e pelo STJ.

CONCEITO

Traduz a ideia de que não haverá crime quando a conduta pelo agente for insignificante. Ou
seja, sua conduta não ofende, nem ao menos coloca em perigo o bem jurídico protegido pelo
Direito Penal, pois é uma conduta ínfima, insignificante.

Ocorrerá quando, em que pese existir adequação do fato à lei (TIPICIDADE FORMAL),
não se verificar lesão ou perigo efetivo de lesão ao bem jurídico tutelado (TIPICIDADE
MATERIAL).

- Tipicidade formal: perfeita adequação da conduta praticada ao tipo penal.


- Tipicidade material: a conduta praticada deve ser grave, de modo a atingir o bem jurídico
tutelado de maneira relevante e intolerável.

Quando a lesão efetivamente praticada for muito diminuída, por mais que exista a tipicidade
formal, o comportamento não é capaz de atingir de forma relevante e intolerável o bem
jurídico tutelado, afastando-se a tipicidade MATERIAL da conduta.

FINALIDADE

Destina-se a efetuar uma interpretação restritiva da lei penal, diminuindo o seu alcance,
eis que a lei penal é muito abrangente.

NATURERA JURÍDICA (muito cobrado em provas)

CLÁUSULA SUPRALEGAL DE EXCLUSÃO DA TIPICIDADE MATERIAL.

** Trata-se de técnica de interpretação restritiva do tipo penal.


** Trata-se de desdobramento do princípio da fragmentariedade do direito
penal.

2.3.1. Requisitos do princípio da insignificância (segundo o Supremo


Tribunal Federal):

1- MÍNIMA OFENSIVIDADE DA CONDUTA;


+
2- AUSÊNCIA DE PERICULOSIDADE SOCIAL DA AÇÃO;
+
3-REDUZIDO GRAU DE REPROVABILIDADE DO COMPORTAMENTO;
+
4- INEXPRESSIVIDADE DA LESÃO JURÍDICA PROVOCADA.
2.3.2 Requisitos subjetivos do princípio da insignificância

A. CONDIÇÕES PESSOAIS DO AUTOR

Reincidente: “O Plenário do STF, ao analisar o tema, afirmou que não é possível fixar uma
regra geral (uma tese) sobre o assunto. A decisão sobre a incidência ou não do princípio da
insignificância deve ser feita caso a caso.”

A reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância à luz
do caso concreto.

Criminoso habitual: é aquele que faz da prática de crimes seu meio de vida. Ao criminoso
habitual NÃO SE APLICA O PRINC. DA INSIGNIFICÂNCIA.

Militares: não se aplica.

B. CONDIÇÕES PESSOAIS DA VÍTIMA

Objetiva analisar a extensão do dano causado ao ofendido. Furtar uma bicicleta velha e com
defeitos, a princípio haveria incisão do prin. da insignificância.

Agora imagine que a mencionada bicicleta pertença a um servente, pai de 06 filhos, que
utiliza a bicicleta como único meio de transporte para dirigir-se ao seu trabalho que fica a
quilômetros de sua residência. Nessa situação não incidirá o prin. da bagatela.

Valor sentimental do bem, em especial quando se trata de coisa infungível (insubstituível),


IMPEDE a aplicação do princípio da insignificância.

C. APLICABILIDADE:

1. Furto simples:
Admite-se, desde que o valor do bem não supere 10% do salário mínimo vigente à época
(STJ).

Furto qualificado: Via de regra, a presença de qualificadoras impede a


insignificância, mas, em situações excepcionais, pode ocorrer a incidência a
depender da análise do caso concreto. Nesse sentido: STJ, HC 553.872/SP,
11/02/2022.

2. Não se aplica ao roubo/extorsão e aos crimes cometidos com violência à pessoa ou grave
ameaça;

3. Crimes contra administração pública:


Súmula 599, do STJ: “O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a
Administração Pública.”

Exceção: DESCAMINHO

STF: Segundo o entendimento que prevalece no STF, a prática de crime contra a


Administração Pública, por si só, não inviabiliza a aplicação do princípio da insignificância,
devendo haver uma análise do caso concreto para se examinar se incide ou não o referido
postulado.

4. Violência doméstica contra a mulher

Súmula 589, do STJ: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou


contravenções penais praticadas contra a mulher no âmbito das relações domésticas

5. Transmissão clandestina de sinal de internet via rádio

Súmula 606, STJ: Não se aplica o princípio da insignificância a casos de transmissão


clandestina de sinal de internet via radiofrequência, que caracteriza o fato típico
previsto no art. 183 da Lei n. 9.472/1997.

6. Descaminho (art. 334 do CP) e crimes contra a ordem tributária

Aplica-se até R$ 20.000,00 (STJ e STF)

Descaminho
Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela
entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 1o Incorre na mesma pena quem:
I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei;
II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho
III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em
proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,
mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou
importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no
território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem;
IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade
comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de
documentação legal ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos.
§ 2o Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma
de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido
em residências.
§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em transporte
aéreo, marítimo ou fluvial.
7. Contrabando (art. 334-A, do CP) : Não se aplica.

Contrabando
Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida: (Incluído pela Lei nº 13.008, de
26.6.2014)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos.
§ 1o Incorre na mesma pena quem: (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando; (Incluído pela Lei nº 13.008,
de 26.6.2014)
II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise
ou autorização de órgão público competente; (Incluído pela Lei nº 13.008, de
26.6.2014)
III - reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à
exportação; (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em
proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,
mercadoria proibida pela lei brasileira; (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade
comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira. (Incluído pela Lei nº
13.008, de 26.6.2014)
§ 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma
de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido
em residências. (Incluído pela Lei nº 4.729, de 14.7.1965)
§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de contrabando é praticado em transporte
aéreo, marítimo ou fluvial. (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

8. Crimes ambientais: aplica-se, a depender do caso concreto, informativo 816 do STF.


Entretanto, a esmagadora maioria dos julgados nega a aplicação.

9. Crimes contra a fé pública: não se aplica, como ocorre, por exemplo, no crime de moeda
falsa.

10. Posse de munição

Via de regra não se aplica.

STJ: a apreensão de pequena quantidade de munição, desacompanhada da arma fogo,


permite a aplicação do princípio da insignificância.

STF: É atípica a conduta daquele que porta, na forma de pingente, munição


desacompanhada de arma. (STF. 2ª turma. HC 133984/MG, 17/05/2013)

D. VALORAÇÃO PELA AUTORIDADE POLICIAL

Segundo o entendimento do STJ, não é possível que a autoridade policial aplique o princípio
da insignificância (Info. 441), tendo em vista que se trata de matéria reservada ao poder
judiciário.
2.2.4. PRINCÍPIO DA ALTERIDADE

O direito penal fica impossibilitado de atuar caso o comportamento do agente não afete bem
jurídico de terceira pessoa.

Por tal motivo, a pessoa que se autolesiona ou se automutila não responderá por nenhum
crime.

2.2.5. PRINCÍPIO DA LESIVIDADE ou OFENSIVIDADE

Não há crime quando a conduta não é capaz de provocar lesão ou, pelo menos, perigo de
lesão ao bem jurídico protegido pela lei penal.

Proíbe-se a incriminação de:


a) ATITUDES INTERNAS, COMO IDEIAS E CONVICÇÕES;
b) SIMPLES ESTADOS OU CONDIÇÕES EXISTENCIAIS;
c) CONDUTAS DESVIADAS QUE NÃO CAUSEM DANO OU PERIGO DE DANO AO
BEM JURÍDICO (CONDUTAS IMORAIS).

2.2.6. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

Fundamento: art. 5º, inc.LVII, da Constituição Federal.

Art. 5º, LVII, da CF - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória.

Desdobramentos:

- Regra probatória: a acusação deverá provar a culpa o réu.

- As prisões cautelares devem ocorrer em situações excepcionais, ou seja, a regra no


processo penal é que o autor responda em liberdade (provisória) ao inquérito e ao processo.

- No caso de dúvidas, o réu deverá ser absolvido (in dúbio pro reo).

Cuidado: Segundo o STF não é possível a execução provisória da pena (ADCs 43, 44 e 54)

2.2.7. PRINCÍPIO DA PESSOALIDADE ou DA RESPONSABILIDADE


PESSOAL ou DA INTRANSMISSIBILIDADE DA PENA (art. 5º, inc.
XLV, da Constituição Federal)

Art. 5º, XLV, da CF - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a


obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da
lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do
patrimônio transferido.

CUIDADO: a obrigação de reparar o dano e a decretação de perdimento de bens


podem ser transferidas aos sucessores até o limite da herança, conforme consta do art. 5º,
XLV, da CF.

Cuidado: a pena de multa NÃO será transferida aos sucessores.

2.2.8. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE

Deve a sanção prevista na infração penal ser correspondente à gravidade do delito. Bens de
maior significado para a sociedade, como a vida, por exemplo, quando violados, devem
ensejar uma repressão mais rígida.

Desdobra-se em: PROIBIÇÃO AO EXCESSO E PROIBIÇÃO DE PROTEÇÃO


DEFICIENTE.

PROIBIÇÃO DE EXCESSO: deve-se evitar uma dura repressão (pena) para crimes de
reduzida gravidade. Garantismo negativo.
PROIBIÇÃO DE PROTEÇÃO DEFICIENTE: a proteção prevista na infração penal não
pode ser muito aquém da gravidade do bem violado. Garantismo positivo.

Possui aplicabilidade legislativa (proporção da pena em abstrato com a gravidade do delito),


judicial ou concreta (proporção na dosimetria da pena) e executória (benefícios na execução
ao condenado que trabalhão e possui bom comportamento).

2.2.9. PRINCÍPIO DA LIMITAÇÃO ou DA HUMANIDADE DAS


PENAS

Art. 5º, XLVII, da CF - não haverá no Brasil:


a) pena de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) trabalhos forçados (a LEP prevê trabalho obrigatório, que é diferente de trabalho
forçado)
d) de banimento;
e) cruéis.

2.2.10. PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS PENAS (Art. 5º,


XLVI, da CF)

Art. 5º, XLVI, da CF - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras,
as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;

O juiz fixará a pena necessária e adequada à prevenção e repressão do fato praticado pelo
agente.

O princípio em questão se dirige ao Legislador (definir crime e cominar pena em abstrato),


ao Juiz (imposição da pena) e na execução da pena (condenados serão classificados segundo
antecedentes e personalidade).

2.2.11. PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO BIS IN IDEM

Ninguém poderá ser punido duas vezes pelo mesmo fato.

Desdobramentos:
a. Processual: ninguém será processado duas vezes pelo mesmo fato.

b. Material: ninguém será condenado duas vezes pelo mesmo fato.

c. Execucional: ninguém poderá ser executado duas vezes pelo mesmo fato.

2.2.12. PRINCÍPIO DA RETORATIVIDADE DA LEI PENAL


BENÉFICA

Fundamentos:

Art. 5º, XL, da CF: a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.

Art. 2º, do CP: Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar
crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença
condenatória.
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se
aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em
julgado.
APLICAÇÃO DA LEI PENAL
(arts. 1º ao 12, do CP)
1. INTRODUÇÃO

A lei penal é a fonte formal imediata do Direito Penal, tendo em vista que apenas a lei penal
cria crimes e comina penas (desdobramento do princípio da legalidade).

A lei penal incriminadora é formada por dois preceitos, quais sejam:

a) Preceito primário – define a conduta criminosa de forma genérica e abstrata. Por


exemplo, “matar alguém” (art. 121 do CP);

b) Preceito secundário – define a pena em abstrato.

2. TEMPO DO CRIME

É necessário identificar o momento em que se considera o crime praticado.

Mnemônico: LUTA = Lugar do crime Ubiquidade / Tempo do crime Atividade

2.1. TEORIAS SOBRE O TEMPO DO CRIME

a. TEORIA DO RESULTADO

Também chamada de Teoria do Evento ou Teoria do Efeito. Considera-se praticado o crime


no momento do resultado.

b. TEORIA DA UBIQUIDADE/MISTA

O crime será considerado praticado no momento da ação/omissão quando do resultado.

c. TEORIA DA ATIVIDADE (adotada pelo CP)

Considera-se praticado o crime no momento da conduta. É a Teoria adotada pelo Código


Penal em seu art. 4º, vejamos:

Tempo do crime
Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que
outro seja o momento do resultado.
A Teoria da Atividade possui relevância apenas para os crimes materiais ou
causais, ou seja, aqueles em que o tipo penal contém conduta e resultado
naturalístico (consuma-se apenas quando este é produzido).
Por exemplo, o crime de homicídio consuma-se com a efetiva morte da vítima.

Em relação aos crimes formais e aos crimes de mera conduta, a consumação ocorre sempre
com a prática da ação, não importando o momento do resultado, por isso o art. 4º perde a
relevância.

2.2. MOMENTO DA PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL

A TEORIA DA ATIVIDADE também foi adotada pelo ECA para se definir o momento da
prática de ATO INFRACIONAL.

Assim, por exemplo, quando um adolescente de 17 anos e 22 dias efetua disparos de arma
de fogo, com o dolo de matar, ferindo gravemente a vítima que morre duas semanas após,
temos dois momentos distintos, quais sejam:
Ferimento da vítima = o agente era menor;
Morte da vítima = o agente já era maior.

No exemplo acima, o autor dos disparos irá responder por ATO INFRACIONAL análogo ao
homicídio, tendo em vista que no tempo do crime era menor ainda. Pouco importa o
momento em que ocorreu o resultado.

Em outros termos, a INIMPUTABILIDADE é analisada no MOMENTO DA AÇÃO

Cuidado: CRIMES PERMANENTES. Ex. Sequestro.

2.3. CONDIÇÕES DA VÍTIMA

Além disso, a Teoria da Atividade é importante para analisar as condições da vítima.

Aumento de pena
Art. 121, §4º, do CP - § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um
terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício,
ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as
consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o
homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa
menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.

Deverá se aferir a idade da vítima NO MOMENTO DA CONDUTA (e não do resultado).

Para a vítima menor de 14 anos, haverá a incidência. Para a vítima menor de 60 anos, no
momento da ação, não haverá a incidência.

Por fim, a Teoria da Atividade ainda é importante para determinar a lei que se aplica ao
caso.

3. LUGAR DO CRIME

A aplicação correta da lei penal, igualmente, depende da identificação do local em que o


crime foi praticado.

Em relação ao lugar do crime, o CP adota a Teoria da Ubiquidade, considerado o local em


que ocorreu a ação/omissão ou o local em que ocorreu o resultado, nos termos do art. 6º, in
verbis:

Lugar do crime
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no
todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado

O art. 6º do CP aplica-se apenas aos crimes à distância, também conhecidos como crimes de
espaço máximo, em que a conduta e o resultado ocorrem em PAÍSES DIVERSOS.

3.1. CRIMES À DISTÂNCIA X CRIMES PLURILOCAIS

CRIMES À DISTÂNCIA CRIMES PLURILOCAIS


Crimes de espaço máximo. Crimes de espaço mínimo.
Conduta e resultado ocorrem em países diversos. Conduta e resultado ocorrem
em comarcas diversas, mas dentro do mesmo país.
Conflito internacional de jurisdição (Soberania) dos Conflito interno de competência.
países envolvidos.
Teoria da Ubiquidade. Teoria do Resultado (art. 70 do CPP), como regra
geral.

CPP Art. 70. A competência será, de regra,


determinada pelo lugar em que se CONSUMAR a
infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que
for praticado o último ato de execução.

Exceção – Lei 9.099/95 adota Teoria da Atividade


(art. 63).

1. Lei 9.099 – JECRIM Art. 63. A competência do


Juizado será determinada pelo lugar em que foi
praticada a infração penal;

2. Tratando-se de crime doloso conta a vida, a


jurisprudência adota a TEORIA DA ATIVIDADE
para fins probatórios.
4. LEI PENAL NO ESPAÇO

4.1. APLICAÇÃO DA LEI PENAL

O art. 5º, do CP adotou o PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE TEMPERADA.

Vejamos:

Art. 5º, do CP - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras
de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.

São duas situações:


1. Se o fato ocorre no território nacional, aplica-se a lei penal brasileira;
2. Exceto se houver tratado, convenção ou regra de direito internacional dispondo de modo
diverso.

Há dois vetores fundamentais para analisarmos a lei penal no espaço, quais sejam:

Territorialidade (art. 5º do CP) – é a regra geral. Aplica-se a lei penal brasileira aos crimes
cometidos no território nacional.

Extraterritorialidade (art. 7º do CP) – é a exceção. Aplica-se a lei penal brasileira aos


crimes cometidos no exterior.

O que se entende por território nacional?

O território nacional = ESPAÇO FÍSICO + ESPAÇO JURÍDICO.

Território físico: compreende o espaço terrestre, marítimo e aéreo pertencente ao Estado


mais as 12 milhas marítimas de largura medidas a partir da linha do baixo-mar do litoral
continente e insular.

Território jurídico ou por extensão: as embarcações e aeronaves de natureza pública ou a


serviço do governo brasileiro ONDE QUER QUE ESTEJAM e as embarcações e aeronaves
privadas que se achem em alto-mar (neste caso, aplica-se a lei da bandeira).

TERRITÓRIO BRASILEITO POR EXTENSÃO – art. 5º, §1º do CP.

Art. 5º, § 1º, do CP - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território
nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do
governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as
embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
Por exemplo, dentro de uma aeronave brasileira, em solo japonês, é cometido um homicídio.
A jurisdição será do Brasil, tendo em vista que a aeronave brasileira é considerada uma
extensão do território nacional.

Art. 5º, § 2º, do CP - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo
de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas
em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em
porto ou mar territorial do Brasil.

- Direito de passagem inocente: não será aplicada a lei penal brasileira ao fato
criminoso ocorrido a bordo de embarcação que ingresse no território nacional
meramente de passagem.

- Embaixadas não constituem território do país que representam.

- Princípio da reciprocidade: não será aplicada a lei penal brasileira ao fato


criminoso ocorrido em território nacional brasileiro quando praticado a bordo
de embarcação ou aeronave pública ou a serviço do governo estrangeiro.

5. EXTRATERRITORIALIDADE

É a aplicação da lei brasileira aos crimes (não se aplica para contravenções penais)
cometidos fora do Brasil, são as exceções ao princípio da territorialidade.

5.1. EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA

Previsto no inciso I do art. 7º do CP.

Art. 7º, do CP - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:


I - os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de
Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia
ou fundação instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;
(...)
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que
absolvido ou condenado no estrangeiro.
5.2. EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA

São as hipóteses do inciso II, do art. 7º.

II - os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade
privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.

Observar os § 2º traz as condições para que a lei brasileira seja aplicada.

§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das
seguintes condições:
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a
extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta
a punibilidade, segundo a lei mais favorável.

Um brasileiro, nos EUA, (c) mata (b) um argentino. Logo depois, entra no Território
Brasileiro (a). Nos EUA ele não foi processado (d) (e). (Art. 7º, II, “b” CP)
O brasileiro entrou no território nacional;

O homicídio também é crime nos EUA;

O homicídio está entre os crimes pelos quais o Brasil autoriza a extradição;

Não foi perdoado;

Não há causa extintiva de punibilidade.

5.3. EXTRATERRITORIALIDADE HIPERCONDICIONADA

Art. 7º, § 3º, do CP - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por
estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no
parágrafo anterior:
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.
De quem é a competência para o processo e julgamento? Regra = Justiça Estadual.

Qual território competente? Capital do Estado em que ele MORA ou MOROU. Se


ele não mora ou nunca morou, será a Capital da REPÚBLICA, art. 88 do CPP.

5.4. COMPENSAÇÃO DE PENAS

Pena cumprida no estrangeiro


Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo
crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.

Mnemônico: CIDA

5.5.PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AOS CASOS DE


EXTRATERRITORIALIDADE:

Art. 7º, I, a, b, c: Princ. da defesa ou real


Art. 7º, I, d: Princ. da justiça universal/defesa ou real/ nacionalidade ativa
Art. 7º, II, a: Princ. da justiça universal
Art. 7º, II, b: Princ. nacionalidade ativa
Art. 7º, II, c: Princ. da representação ou pavilhão
Art. 7º, §3º: `Princ. nacionalidade passiva

6. EFICÁCIA DE SENTENÇA ESTRANGEIRA

Previsto no art. 9º do CP, vejamos:

Eficácia de sentença estrangeira


Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie
as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para:
I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis;
II - sujeitá-lo a medida de segurança.
Parágrafo único - A homologação depende:
a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada;
b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja
autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do
Ministro da Justiça.
Destaca-se que a sentença estrangeira só será homologada após o seu trânsito em julgado,
conforme disposto na Súmula 420 do STF, observe:

SÚMULA 420 - NÃO SE HOMOLOGA SENTENÇA PROFERIDA NO ESTRANGEIRO


SEM PROVA DO TRÂNSITO EM JULGADO

A homologação da sentença estrangeira é feita pelo STJ e que será considerada


um título executivo judicial (art. 515, VIII do CPC).

A execução de sentença estrangeira será feita por JUIZ FEDERAL (art. 109, X,
da CF).

7. CONTAGEM DO PRAZO

O art. 10 do CP traz a forma de contagem do prazo (intervalo dentro do qual deve ser
praticado determinado ato).

Contagem de prazo
Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e
os anos pelo calendário comum.

Todo prazo possui um termo inicial (a quo) e um termo final (ad quem).

Calendário comum é aquele que estabelece que o dia é o intervalo entre a meia noite e a
meia noite subsequente.

O Direito Penal afeta a liberdade do cidadão, colocando em risco o seu direito de ir e vir.
Por isso, com o intuito de favorecer o réu, inclui-se na contagem do prazo o dia do começo e
exclui-se o último dia.

Por exemplo, imagine que Pedro foi preso às 23:50 do dia 10 de fevereiro de 2017, para
cumprir uma pena de um ano, os dez minutos do dia 10/02 serão considerados como dia do
começo. Assim, no dia 09 de fevereiro de 2018 a pena terá sido cumprida.

Obs. A pena termina um dia antes do dia em que começou.

8. FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS DA PENA

Observe o dispôs no art. 11 do CP:


Frações não computáveis da pena
Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos,
as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro.
Na sistemática do CP as penas restritivas de direitos são substitutivas, por isso sua menção é
desnecessária. Desprezam-se as frações de dias, contam-se em dias inteiros. O mesmo
ocorre nas penas de multa, em que serão desprezadas as frações de real.

9. LEGISLAÇÃO ESPECIAL

O CP, em seu art. 12, consagra o princípio da convivência das esferas autônomas, ou seja, o
CP será aplicado para toda legislação penal especial, é a regra geral. Havendo previsão
específica, será aplicada a lei especial.

Legislação especial
Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei
especial, se esta não dispuser de modo diverso.
10. LEI PENAL NO TEMPO

10.1. INTRODUÇÃO

O estudo da Lei Penal no Tempo envolve o princípio da continuidade das leis, segundo o
qual, depois de entrar em vigor, a lei permanece nessa condição (em vigor) até ser revogada
por outra lei.

Uma lei somente pode ser revogada por outra lei. Ademais, toda e qualquer lei pode ser
revogada (não existe lei irrevogável), pois a função legislativa é irrenunciável.

Além disso, o costume JAMAIS irá revogar uma lei.

O desuso (falta de uso da lei), igualmente, não é capaz de revogar a lei.

Decisão judicial também não revoga lei, ainda que seja proferida pelo STF em sede de
controle concentrado de constitucionalidade.

Revogação é a retirada de vigência da lei, pode ser:

TOTAL – chamada de ab-rogação.


PARCIAL – chamada de derrogação.

10.2. CONFLITO DE LEIS PENAIS NO TEMPO

É a situação que se verifica quando uma nova lei penal entra em vigor, revogando (ab-
rogação ou derrogação) a lei anterior, restando ao aplicador do direito determinar qual das
leis será aplicada ao caso concreto.

Para saber qual lei penal será aplicada ao fato criminoso, temos DUAS regras:

1. Tempus Regit Actum– aplica-se a lei penal vigente no momento da prática do fato
criminoso.

Ex. Se João matar Pedro no dia 15/05/2020, deverá ser aplicada a lei vigente no momento da
prática do delito.

2. A lei penal benéfica retroagirá.

Ex. Se João matar Pedro no dia 15/05/2020, deverá ser aplicada a lei vigente no momento da
prática do delito, exceto se posteriormente sobrevier lei penal que seja mais benéfica a João.
Cumpre frisar que temos DUAS exceções às regras mencionadas:
A. LEI EXCEPCIONAL ou TEMPORÁRIA
B. CRIME CONTINUADO ou PERMANENTE.

10.2.1. LEI EXCEPCIONAL e LEI TEMPORÁRIA

Previstas no art. 3º do CP, observe:

Lei excepcional ou temporária


Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração
ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante
sua vigência.

LEI TEMPORÁRIA – é aquela que possui vigência predeterminada no tempo. Ou seja,


possui prazo de validade expresso. Cita-se, como exemplo, a Lei 12.663/2012 (Lei da
Copa).

LEI EXCEPCIONAL – é aquela que vigora somente durante uma situação de anormalidade.
Por exemplo, cria-se uma lei para enfrentar crise hídrica.

- As leis excepcionais e temporárias possuem duas características:

1. São AUTORREVOGÁVEIS – não demandam nova lei que as revoguem;

2. São ULTRATIVAS – se o indivíduo cometer o delito na vigência de lei excepcional ou


temporária responderá por ela SEMPRE. Lembre-se, a lei excepcional ou temporária
“gruda” no criminoso e não larga mais.

Leis excepcionais e temporárias NÃO se sujeitam aos efeitos da “abolitio criminis”.


Salvo se houver lei expressa com esse fim.

Leis excepcionais e temporárias se perfazem em exceção à retroatividade da lei


penal benéfica.

10.2.2. CRIME CONTINUADO E CRIME PERMANENTE

Situação prevista no enunciado da súmula nº 711, do STF, vejamos:


Súmula 711, do STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da
permanência.

- CRIME CONTINUADO: está previsto no art. 71, do CP.

Crime continuado
Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou
mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução
e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do
primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se
diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.
Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com
violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os
antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as
circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se
diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75
deste Código.

Ex. A caixa de um supermercado furta, a cada dois dias, a quantia de R$ 100,00 (cem reais)
de seu patrão quando fecha o caixa com objetivo de apurar R$ 1.000,00 para comprar um
celular.

Na situação em comento, cada vez que a caixa subtraiu cem reais restou configurado a
prática do crime de furto qualificado pelo abuso de confiança, crime com pena de 02 a 08
anos de reclusão (art. 155, §4º, II, do CP). Caso não existisse a ficção do crime continuado,
ela deveria responder pela prática de DEZ furtos qualificados, tendo uma pena que oscilaria
de 20 a 80 anos. Objetivando evitar injustiças, o CP criou a ficção jurídica do crime
continuado, no presente caso ela responderá pela prática de um crime de furto qualificado
com a pena majorada de um sexto a dois terços.

- CRIME PERMANENTE:

Ocorre quando a CONSUMAÇÃO do delito se prolongar (protrair) no tempo em razão da


vontade do criminoso.

Ex. Sequestro, extorsão mediante sequestro, posse irregular de arma de fogo.

Se o agente mantiver a prática de CRIME CONTINUADO ou PERMANENTE após a


entrada em vigor de lei penal mais grave, a ele será aplicada a lei posterior mais rigorosa.

10.3. SUCESSÃO DE LEIS PENAIS NO TEMPO

Pode ocorrer a modificação da legislação entre a prática do fato criminoso e o término do


cumprimento de pena. Desse modo, mostra-se necessário saber qual lei será aplicada ao
indivíduo que cometeu o fato criminoso. A resposta a tal indagação perpassa pela análise de
03 situações.

10.3.1. ABOLITIO CRIMINIS

Ocorre quando a nova lei torna atípico o fato, até então, considerado criminoso. Ou seja, o
fato perde o caráter penal.

Está prevista no art. 2º do CP, vejamos:

Lei penal no tempo


Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime,
cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.

Destaca-se que os efeitos extrapenais (civis, administrativos, eleitorais) da sentença


condenatória permanecem intactos, o CP é claro ao afirmar que cessa a execução e os efeitos
penais da sentença condenatória.

A natureza jurídica é dada pelo art. 107, III do CP, trata-se de causa extintiva
de punibilidade. O Estado perde o direito de punir.

10.3.2. NOVATIO LEGIS IN MELLIUS, LEX MITIOR ou LEI PENAL


BENÉFICA

Toda lei penal benéfica é dotada de extratividade, gênero que possui duas espécies:

RETROATIVIDADE – a lei irá retroagir para atingir fatos passados, anteriores a sua
vigência.

ULTRATIVIDADE – a lei será aplicada mesmo depois de ter sido revogada.


É a nova lei que favorece o agente. Aqui, o fato continua sendo crime, mas a situação do
agente é de qualquer modo favorecida, nos termos do art. 2º, parágrafo único do CP.

Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se
aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em
julgado.

A qual juiz competirá aplicar a lei penal benéfica?

Súmula 611, do STF - Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo


das execuções a aplicação de lei mais benigna
10.3.3. NOVATIO LEGIS INCRIMINADORA (NEOCRIMINALIZAÇÃO) E
NOVATIO LEGIS IN PEJUS ou LEX GRAVIOR

A novatio legis incriminadora é uma nova lei que cria um crime, até então, inexistente.

Já a novatio legis in pejus (Lex gravior) prejudica, de qualquer modo, a situação do agente.
O crime já existia.

Ambas se aplicam apenas aos fatos futuros, ou seja, NÃO RETROAGIRÁ

10.4. COMBINAÇÃO DE LEIS PENAIS (LEX TERTIA)

Também chamado de Lei Híbrida.

Ocorre quando, por exemplo, partes da lei antiga são benéficas ao réu e partes da lei nova
também são benéficas. Poderá haver combinação dessas leis, formando-se uma terceira lei
para favorecer o réu? Para o STJ, NÃO.

Posição seguida pelo STJ, que sumulou o tema.

Súmula 501, do STJ - É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde


que o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais
favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a
combinação de leis.

11. INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA LEI PENAL

11.1. INTERPRETAÇÃO
Interpretação nada mais é do que buscar o sentido de um texto. No direito penal, será a
busca da compreensão mais adequada do conteúdo de determinada lei penal.

OBS.: A INTERPRETAÇÃO PRESSUPÕE A EXISTÊNCIA DE LEI.

Classifica-se em:

- QUANTO AO SUJEITO:
a) Autêntica: aquela trazida pela própria lei. Ex. art. 327, do CP.
b) Doutrinária: efetuada pelos estudiosos do direito.
c)Jurisprudencial: entendimento conferido pelos juízes ao julgarem determinada demanda.
Ex. edição de súmulas vinculantes pelo Supremo Tribunal Federal.
- QUANTO AO MÉTODO ADOTADO
a) Literal: busca compreender o sentido da norma a partir do sentido literal das palavras.
b) Teleológica: busca aferir o fim da norma penal, a vontade da lei.
c) Sistemática: interpreta a norma dentro do sistema no qual a mesma está inserida.
d) Histórica: vai em busca dos fundamentos da lei, entendendo o contexto histórico do
momento de sua criação.
e) Analógico: norma fornece um enunciado casuístico e logo em seguida o legislador
apresenta um enunciado genérico.
ATENÇÃO: INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA PODE SER A FAVOR E CONTRA O
RÉU.

- QUANTO AO RESULTADO
a) Declaratório: o resultado da interpretação não amplia nem restringe seu alcance.
b) Restritiva: reduz-se o campo de incidência da lei. A lei disse mais do que queria
efetivamente dizer.
c) Extensiva: amplia-se o campo de incisão da lei. A lei disse menos que queria dizer.

11.2. INTEGRAÇÃO DA LEI PENAL (ANALOGIA)

A integração parte do pressuposto de completude do direito, sendo que, quando o juiz se


deparar com uma situação na qual não exista lei regulamentadora, deverá se valer da
ANALOGIA, DOS COSTUMES E DOS PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO.

ATENÇÃO: OBSERVEM QUE NA INTEGRAÇÃO NÃO EXISTE LEI


DISCIPLINANDO A SITUAÇÃO. NA INTERPRETAÇÃO EXISTE LEI.

- Conceito de analogia (método de integração): quando o julgador se deparar com uma


situação na qual NÃO existe LEI regulamentadora, deverá se valer de lei que dispõe sobre
situação semelhante.

A ANALOGIA pode ser de duas espécies:

a. em benefício do réu (in bonam partem) – ADMITIDA no Dir. Penal.


b. em prejuízo do réu ou incriminadora (in malam parrtem) – PROIBIDA no Dir. Penal,
pois fere o princípio da legalidade ou reserva legal.
12. CONCURSO DE PESSOAS

Conceito: Trata-se do conluio entre dois ou mais agentes para o cometimento de


determinada infração penal. É o chamado concurso de agentes (PARTICIPAÇÃO e
COAUTORIA).

- CRIMES UNISSUBJETIVOS x CRIMES PLURISSUBJETIVOS

CRIMES UNISSUBJETIVOS: Podem ser praticados por somente uma pessoa.


Ex. homicídio. Furto. Roubo. Estupro.

CRIMES PLURISSUBJETIVOS (crime de concurso necessário): O tipo penal exige duas


ou mais pessoas para o cometimento do crime.
Ex. Associação criminosa (art. 288, do CP).

O concurso de pessoa possui relevância nos crimes UNISSUBJETIVOS.

12.1. REQUISITOS PARA O CONCURSO DE PESSOAS

A. PLURALIDADE DE AGENTES E DE CONDUTAS;


B. RELEVÂNCIA CAUSAL (E JURÍDICA) DAS CONDUTAS;
C. LIAME SUBJETIVO;
D. IDENTIDADE DE INFRAÇÃO PENAL.

A. PLURALIDADE DE AGENTES E DE CONDUTAS

Dois ou mais agentes devem praticar condutas relevantes para ocorrência do resultado.

B. RELEVÂNCIA CAUSAL E JURÍDICA DAS CONDUTAS

Mostra-se necessário que as condutas contribuam efetivamente para resultado. Se um dos


agentes praticar ato sem qualquer relevância para o resultado, não haverá concurso de
pessoas.

C. LIAME SUBJETIVO:

Os agentes devem agir CONSCIENTES de que estão reunidos para cometer o crime.

NÃO se exige AJUSTE PRÉVIO ou PRÉVIA COMBINAÇÃO. Em outros termos,


AJUSTE PRÉVIO não é requisito do concurso de pessoas.
O agente pode aderir à conduta do outro até a CONSUMAÇÃO.

Ausência de LIAME SUBJETIVO conduz a dita AUTORIA COLATERAL, quando dois ou


mais agentes atuam desconhecendo a conduta um ou outro.

Ex. “A” e “B” planejam matar “C”, sem conhecer a vontade um do outro. “A” se posiciona
com um rifle numa casa à direita de “C” e “B se posiciona no morro à esquerda de “C”,
ambos disparam contra “C” ao mesmo tempo levando este a morte.

Se houvesse liame subjetivo (concurso de pessoas): ambos responderiam por homicídio


consumado.

Como não há liame subjetivo (autoria colateral): o autor do tiro letal, responderá por
homicídio consumado e o outro por tentativa.

D. IDENTIDADE DE INFRAÇÃO PENAL

Todos os agentes buscam praticar o mesmo crime.

Ex. João e Pedro se unem para matar Antônio.

12.2. TEORIAS SOBRE O CONCURSO DE PESSOAS

- Teoria monista (unitária): Havendo mais de um agente e diversas condutas onde todos
concorreram para a ocorrência do resultado e há somente um delito, nesse caso, todos
respondem por esse mesmo delito na medida de sua culpabilidade. É a teoria adotada pelo
Código Penal em seu artigo 29:

“Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este
cominadas, na medida de sua culpabilidade.”

ADOTADA PELO CP (em regra).

- Teoria pluralista: Havendo mais de um agente e diversas condutas onde todos


concorreram para a ocorrência do resultado e ainda que haja somente um delito, nesse caso,
cada agente responde por um delito.

Em algumas situações, o CP, EXCEPCIONALMENTE, adota a teoria pluralista, como


nos crimes de aborto; corrupção passiva (agente público - art. 317, do CP) e corrução
ativa (particular - art. 333, do CP).
12.3. FIGURAS NO CONCURSO DE PESSOAS

AUTOR e PARTÍCIPE

Quem será considerado autor?

- TEORIA OBJETIVO-FORMAL: autor é aquele que realiza a conduta descrita no núcleo


do tipo (o verbo). Adotada pelo CP.

Ex. No homicídio, aquele que efetivamente mata outrem.

Ex. “A” pula o muro de uma casa e subtrai uma TV, enquanto “B” espera “A” no veículo
para dar fuga. Nesse caso, “A” é o autor do delito de furto por ter praticado o núcleo do tipo
(subtrair) enquanto “B” é um partícipe por ter concorrido para a produção do resultado
embora apenas com uma conduta acessória.

Quem será considerado partícipe?

O indivíduo que concorre para a prática do crime sem cometer a ação nuclear do tipo,
auxiliando, instigando ou induzindo. Conduta acessória, auxiliar.

- Teoria do domínio do fato

Nessa teoria é possível distinguir autoria mediata da autoria imediata.

A autoria mediata se da quando o agente utiliza como mero instrumento para cometimento
do delito, uma pessoa não culpável, ou que não tenha atuado com dolo ou culpa.

Autoria imediata é o autor com o domínio do fato, pois embora este não tenha praticado a
figura típica, ele detinha o controle da ação e se utilizou de pessoa não culpável para
cometer o delito por ele.

São situações que admitem a autoria mediata:


A. Inimputável;
B. Coação moral irresistível;
C. Obediência hierárquica;
D. Erro de tipo escusável praticado por terceiro;
E. Erro de proibição escusável praticado por terceiro.

- FORMAS DE PARTICIPAÇÃO

Material (auxílio): quando o agente fornece meios para prática do crime. Chamado de
cúmplice.
Ex. Emprestar a arma para um amigo cometer roubo.
Ex. Dirigir o veículo na fuga de um assalto.

Moral (induz ou instiga): induzir significa fazer nascer a ideia da prática do crime. Instigar
significa reforçar, estimular que o agente cometa o delito.
Ex. João, sabendo que Pedro passa por dificuldades financeiras, sugere que ele pratique
furto para quitar as dívidas.
Ex. João comenta com Pedro que deseja cometer um roubo, instante em que Pedro sugere o
dia, hora, local e modo de execução.

- PUNIÇÃO DO PARTÍCIPE

O partícipe somente será punido se o autor cometer FATO TÍPICO e ILÍCITO.

CP adotou a teoria da acessoriedade limitada.

Assim, caso o autor do crime não possua culpabilidade (INIMPUTÁVEL, ERRO


PROIBIÇÃO, OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA, COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVEL), o
partícipe responderá pelo crime.

Ex. “A”, com 16 anos, desfere tiros contra “B”, matando-o. “C”, que possui 25 anos,
emprestou o revólver para “A”. Nesse caso, “C” deve responder como partícipe, pois “A”
praticou um fato típico e ilícito embora não culpável por sua inimputabilidade.

- PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA

Diz o §1º do artigo 29:

“§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um


sexto a um terço.”

Somente se aplica à PARTICIPAÇÃO. Não é admitido tal benefício ao autor ou aos


coautores.

Se a participação for inócua, o agente não responderá.

Ex. Marcos empresta uma faca para João matar seu desafeto. Como precaução, João decide
comprar uma arma de fogo e sequer leva a faca no dia do cometimento do crime.
- COOPERAÇÃO DOLOSAMENTE DISTINTA

Dispõe a primeira parte do §2º do artigo 29:

“§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á


aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido
previsível o resultado mais grave. ”

Um dos concorrentes quis participar de crime menos grave do que a efetivamente praticado.

Ex. João induz Pedro a cometer furto na casa de Ana, depois das 07h, horário em que Ana
saia para o trabalho, mesmo sabendo que ela costumava trabalhar em casa em determinadas
ocasiões. Pedro adentra ao imóvel às 08h e encontra com Ana, que não tinha ido trabalhar
naquele dia, momento em que emprega violência para subtrair os bens. Nesse caso, João
respondera por furto com pena aumentada até a metade.

- CONIVÊNCIA OU PARTICIPAÇÃO NEGATIVA

É a participação por omissão, é quando o agente que não tinha o dever legal de agir e nem
de evitar o resultado, presencia uma ação criminosa e mesmo podendo impedir, nada faz, se
tornando conivente. Não é punível pela lei brasileira por não ter o agente o dever de agir,
trata-se de uma falha moral.

Ex. A percebe um ladrão entrar na casa de B, que está de viagem para o exterior, e não avisa
a polícia. A é conivente e não responderá por crime.

12.4. CIRCUNSTÂNCIAS INCOMUNICÁVEIS

Diz o artigo 30 do Código Penal:

“Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo


quando elementares do crime.”

Elementar: dados essenciais do tipo. Ex. Coisa alheia no furto.


Circunstância: dados acessórios do tipo. Ex. Rompimento de obstáculo no furto.
Condições: são elementos inerentes ao indivíduo. Ex. Autor menor de idade.

Circunstâncias objetivas: dizem respeito ao fato.


Ex. Rompimento de obstáculo no furto.
Circunstâncias subjetivas (pessoal): envolve o agente, é uma particularidade quanto a
situação em que ele se encontra, não constitui elemento inerente à sua pessoa.
Ex. Motivo torpe.
Ex. Relação de parentesco entre autor e vítima.
Ex. Autor reincidente ou com maus antecedentes.

Condições pessoais: qualidade inerente à pessoa.


Ex. Menor de idade. Menor de 21 anos.

RESUMINDO:

Elementares: SEMPRE comunica.

Condições objetivas: SEMPRE comunica + se houver conhecimento outro agente.


Condições subjetivas: NÃO comunica, SALVO se ELEMENTARES + conhecimento
outro agente.

Circunstâncias subjetivas: NÃO comunica, SALVO se ELEMENTARES + conhecimento


outro agente.

12.5. CASOS DE IMPUNIBILIDADE

De acordo com o artigo 31 do Código Penal:

“Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa


em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. ”

Pega o bizu!

Ajuste: é o acordo celebrado entre os agentes.


Determinação: é a ordem dada para alguma finalidade.
Instigação: é o estímulo à realização de algo.
Auxílio: é a ajuda dada a alguém.

12.6. CASOS ESPECÍFICOS

- Cabe coautoria em crime OMISSIVO PRÓPRIO: NÃO.


Ex. art. 135, do CP.

- Cabe coautoria em crime CULPOSO. SIM, participação NÃO.


-Cabe coautoria e participação em crime PRÓPRIO: SIM.
- Cabe coautoria e participação em crime de MÃO PRÓPRIA: coautoria NÃO, participação
SIM.

ARTIGOS SOBRE CONCURSO DE PESSOAS NO CP

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este
cominadas, na medida de sua culpabilidade.
§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um
sexto a um terço.
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á
aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido
previsível o resultado mais grave.
Circunstâncias incomunicáveis
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo
quando elementares do crime.
Casos de impunibilidade
Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa
em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.

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