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DIREITO PENAL

Princípios

DIREITO PENAL – PARTE GERAL


O Direito Penal é dividido em duas partes: parte geral, que trata de
princípios gerais, de disposições aplicáveis a todos os crimes e parte especial,
que se inicia no artigo 121 do Código Penal (com o crime de homicídio) e termina
no artigo 359 (com o tratamento dos crimes em espécie).
A parte geral do Direito Penal se inicia no artigo 1º e vai até o artigo 120.
O Direito Penal não tem apenas início no Código Penal, mas, sim, em
doutrinas, jurisprudências e com princípios que são analisados antes de entrar
no Código Penal.

CONCEITO DE DIREITO PENAL


• Conjunto de normas, regras, princípios que descrevem comportamentos
reprováveis e ameaçadores da ordem social, denominados infrações criminais,
e que tragam como consequência a imposição de uma sanção penal.
No aspecto formal, as normas, regras e princípios. No aspecto material,
os comportamentos e a ordem social no aspecto social.

TEORIA GERAL DO CRIME


• Infração Penal
O ordenamento jurídico brasileiro adota o sistema dualista ou binário ou
dicotômico da infração penal, dividindo-a em:
1) Crime (ou delito*)
2) Contravenção Penal, também chamada de (crime anão, delito
liliputiano)
O delito possui diferentes interpretações. Há quem considere o delito
como sinônimo de infração penal. A maioria da doutrina entende de maneira
distinta, entende que o delito é sinônimo de crime, da espécie crime e não de
infração penal, como um todo.
A contravenção penal é chamada de crime anão, delito liliputiano: é uma
infração penal menor, com menos gravidade.

Infração Criminal
Crime vs Contravenção Penal
Lei de Introdução ao Código Penal
Art. 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de
reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou
cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a
lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas,
alternativa ou cumulativamente.
Se a pena de um crime tiver a previsão de reclusão ou de detenção, está-
se diante de um crime. As contravenções penais podem estar previstas em
prisão simples, prisão simples ou multa, prisão simples e multa ou simplesmente,
multa.

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As contravenções penais nem sempre irão impor uma pena privativa de
liberdade.

Quem decide se a conduta ilícita é crime ou contravenção?


O crime é mais grave porque impõe a reclusão. O agente vai cumprir a
pena em regime fechado, aberto ou semiaberto. Na detenção, o agente vai
cumprir a pena em regime semiaberto ou aberto. A prisão simples também pode
ser cumprida em regime aberto, só que sem rigor penitenciário. A contravenção
penal pode ter apenas a pena da multa.

Trata-se de decisão do legislador. Será uma distinção feita pelo próprio


legislador. Uma infração penal que hoje é uma contravenção poderá se
transformar num crime se assim decidir o legislador. Trata-se, portanto, de uma
distinção axiológica (de valor).
Ao longo dos tempos, condutas que eram crimes passaram a ser
contravenções penais e vice-versa, por exemplo, o porte de arma de fogo: na
década de 90, portar arma de fogo sem autorização era uma contravenção penal
e depois passou a ser crime e se for porte de arma de uso restrito, constitui crime
de potencial poder ofensivo.

NORMA PENAL
É a que estabelece a conduta criminosa e a pena cominada a essa
conduta. A norma penal é dividida entre preceito primário e preceito secundário.
Preceito Primário Vs Preceito Secundário
O preceito primário é a descrição da conduta delituosa e o preceito
secundário é a sanção penal.
Exemplo:
Código Penal
Art. 121. Matar alguém (preceito primário).
Pena – reclusão, de seis a vinte anos (preceito secundário).

FUNÇÕES DO DIREITO PENAL


1. Proteção de bens jurídicos
2. Garantia
Essa garantia é para o cidadão. O Direito Penal visa proteger a sociedade
como um todo.
O cidadão que vier a praticar uma conduta só pode ser punido se a
conduta praticada por ele estiver prevista como crime. A garantia para o cidadão
é de que o Estado não vai puni-lo sem fundamento.
3. Instrumento de controle social
Na preservação da paz pública.

PRINCÍPIOS DE DIREITO PENAL

Os princípios do Direito Penal são muitos e são sempre cobrados em


provas de concursos públicos, mesmo aquelas cujo edital não traga essa matéria
expressamente. Por isso, estudar os princípios é fundamental.
Os princípios do Direito Penal se dividem em dois tipos:

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• Princípios explícitos:
– São positivados no ordenamento jurídico, ou seja, são expressamente
previstos na lei ou na Constituição Federal.
• Princípios implícitos:
– São uma construção da doutrina e da jurisprudência, ou seja, decorrem
da interpretação da lei. A cada dia, a doutrina e a jurisprudência criam novos
princípios.

PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL OU DA ESTRITA LEGALIDADE


Alguns doutrinadores entendem esse princípio como sinônimo do
princípio da legalidade, entretanto, o entendimento que predomina é que o
princípio da legalidade é um gênero, que se divide em duas modalidades:
• Princípio da estrita legalidade: cujo sinônimo é o princípio da reserva
legal; e
• Princípio da anterioridade.
Segundo o princípio da estrita legalidade, “nullum crimen nulla poena sine
lege”, ou seja, não há crime nem pena sem lei prévia. Não se pode atribuir a
alguém uma conduta criminosa se não houver uma lei prevendo essa conduta
como crime ou como contravenção penal.

• Origem:
Magna Carta Inglesa, de 1215 – Rei João Sem Terra.
• Fortalecimento:
Revolução Francesa, em 1789 – Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão.
• Previsão constitucional e legal:
– CF/1988, Art. 5º, XXXIX – “não há crime sem lei anterior que o defina,
nem pena sem prévia cominação legal;”
– CP, Art. 1º – “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena
sem prévia cominação legal.”

Cláusula pétrea – Art. 60, § 4º, CF/1988: “Não será objeto de deliberação
a proposta de emenda tendente a abolir: (...) IV – os direitos e garantias
individuais.” Ou seja, o princípio da estrita legalidade é enxergado como um
direito/garantia individual.

ATENÇÃO:
Somente lei ordinária ou lei complementar pode criar crimes ou agravar
penas.
É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria relativa a
Direito Penal (CF, art. 62, § 1º, I, b) seja para prejudicar ou beneficiar o réu.
Entretanto, o STF tem admitido medidas provisórias que versem sobre
direito penal favorável ao réu (RHC 117.566/SP, julgado em 24/09/2013).
Inadmissível que lei delegada verse sobre direito penal.
Como decorrência deste princípio, não é permitida a analogia in malam
partem no Direito Penal, tampouco o uso de costumes para criar infrações
penais.

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O princípio da estrita legalidade é igualmente aplicável às
contravenções penais (“crime” deve ser interpretado como infração penal) e às
medidas de segurança (“pena” deve ser interpretado como sanção penal).
Também decorre do princípio da reserva legal o princípio da taxatividade.
Segundo este princípio, não basta somente haver uma lei prevendo um crime,
pois essa norma deve ser específica. Ou seja, deve prever uma conduta
específica e uma pena específica.

PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE
O princípio da anterioridade encontra previsão no mesmo dispositivo em
que se encontra o princípio da legalidade ou reserva legal.
Previsão constitucional e legal:
• CF/1988, Art. 5º, XXXIX – “não há crime sem lei anterior que o defina,
nem pena sem prévia cominação legal;”
• CP, Art. 1º – “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena
sem prévia cominação legal."
Assim, não basta que exista uma lei definindo uma conduta como crime,
pois ela deve ser anterior à prática da conduta.
Se um sujeito pratica hoje uma conduta e somente amanhã ela vem a ser
considerada como um crime, não pode esse sujeito ser punido por ela.
Percebe-se, dessa forma, que os princípios da anterioridade e da
legalidade são bastante próximos, tanto que são previstos nos mesmos
dispositivos legais e formam, juntos, o princípio da legalidade em sentido amplo.

Cláusula pétrea – Art. 60, § 4º, CF/1988: “Não será objeto de deliberação
a proposta de emenda tendente a abolir: (...) IV – os direitos e garantias
individuais.”

PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA


Previsão legal:
CF/1988, Art. 5º, XLVI – “a lei regulará a individualização da pena e
adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b)
perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou
interdição de direitos;”
O princípio da individualização da pena significa que, a cada conduta, será
aplicada uma pena individualizada. Em que pese existirem parâmetros para as
penas, o quantitativo da pena que será aplicada ao indivíduo dependerá de uma
série de situações.
Este princípio deve ser observado nos seguintes planos:
• Plano legislativo – ao estabelecer as penas em abstrato;
• Plano judicial – aplicação da lei ao fato concreto; e
• Plano administrativo – execução da pena.

PRINCÍPIO DA PERSONALIDADE OU DA INTRANSCENDÊNCIA


Previsão legal:
CF/1988, Art. 5º, XLV – “nenhuma pena passará da pessoa do
condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do

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perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra
eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;”
No plano penal, jamais alguém pode ser responsabilizado, punido ou
sofrer qualquer consequência em razão de um ato praticado por outra pessoa.

Exemplo:
João matou uma pessoa e foi processado e julgado por essa conduta.
Ficou determinado que, pelo seu crime, João irá cumprir pena restritiva de
liberdade de 10 anos e precisará pagar uma indenização à família da vítima no
valor de R$ 100.000,00.
Entretanto, no dia que João seria preso, ele resolve se matar. João tinha
apenas um carro como patrimônio, sendo esse veículo avaliado em R$
50.000,00. Entretanto, João possui um filho, que será o único herdeiro desse
carro.
Nesse caso, ao saber da morte de João, a família da vítima acabou
procurando a Justiça para questionar o pagamento da indenização.
Apesar de o filho de João ser uma pessoa bastante rica, ele não poderá
ser condenado a pagar a indenização devida por seu falecido pai à família da
vítima do homicídio, entretanto, o valor desse carro deverá ser utilizado para
pagar essa indenização, pois trata-se de um bem patrimonial transferido pelo de
cujus.

PRINCÍPIO DA ALTERIDADE
Criador: Claus Roxin.
Ninguém será punido por ofender somente bens jurídicos próprios.
De acordo com esse princípio, se o agente pratica uma conduta que venha
a prejudicar somente bens jurídicos que lhe pertençam, então não há crime.
Conforme o princípio da alteridade, para que haja crime, o agente deve
ofender bens jurídicos alheios.
Vale destacar: no Direito Penal, só há crime quando o sujeito ativo atinge
bens jurídicos alheios.

PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA


Criado pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789).
O Direito Penal é a ultima ratio na proteção dos direitos. Só deve atuar
quando a criminalização de uma conduta for indispensável para proteger bens
e interesses.
Subdivide-se em outros dois princípios:
1. Princípio da fragmentariedade;
2. Princípio da subsidiariedade.

PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE
Nem todos os ilícitos configuram ilícitos penais.
Serão considerados ilícitos penais os que forem previstos em lei e que
atentam contra valores fundamentais dos indivíduos e da sociedade.
Os ilícitos penais são apenas uma parte de todos os ilícitos que podem
ocorrer na vida em sociedade. Somente em relação aos bens jurídicos mais
relevantes é que irá ocorrer a incriminação de uma conduta.

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PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE
Só será objeto do Direito Penal os ilícitos que não são suficientemente
repreendidos pelos demais ramos do Direito e demais meios de controle estatal.
Em outras palavras, o Direito Penal é o último recurso a ser lançado pelo
Estado.
É possível dizer, portanto, que o Direito Penal é subsidiário, pois a sanção
penal só é imposta quando não é possível repreender uma conduta por meio dos
demais ramos do Direito.

PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE OU LESIVIDADE


Não há que se falar em infração penal se a conduta não causar uma lesão
ao bem jurídico tutelado ou, ao menos, o perigo de lesão.
Espiritualização (desmaterialização ou liquefação) de bens jurídicos
no Direito Penal:
O Direito Penal passa a se antecipar e punir condutas perigosas que têm
potencial de gerar uma lesão futura. Ex.: crimes ambientais e crimes de perigo
abstrato.
Trata-se de uma exceção ao princípio da ofensividade ou lesividade.
Exemplo: porte ilegal de arma de fogo.

PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PENAL SUBJETIVA


A responsabilização penal depende de dolo ou culpa.
Não se admite no Direito Penal a responsabilidade objetiva. A
responsabilidade penal sempre será subjetiva, ou seja, é preciso a
caracterização do dolo ou da culpa na conduta de uma pessoa para que ela
possa ser responsabilizada penalmente.
O dolo pode ser direito ou eventual. Já a culpa pode advir de negligência,
imprudência ou imperícia do agente.
Existe uma exceção a esse princípio, que é o caso da rixa qualificada (vide
art. 137, § único, do CP). Nesse crime, todos os que participam da rixa
respondem pela lesão corporal grave ou da morte praticada pela conduta de um
dos rixosos. Trata-se de uma situação em que a responsabilidade é objetiva.

PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL


Conduta tipificada em lei, mas que não afronta o sentimento de justiça da
coletividade, seja pelos costumes, cultura.
Exemplos: colocar brincos em uma criança recém-nascida (lesão
corporal), tatuagem (lesão corporal), circuncisão (lesão corporal), dentre outros.
Natureza jurídica: Causa supralegal de exclusão da tipicidade (material).
Ex.: ato obsceno (art. 233, CP).

ATENÇÃO
Súmula n. 502, STJ: “Presentes a materialidade e a autoria, afigura-se
típica, em relação ao crime previsto no artigo 184, § 2º, do CP, a conduta de
expor à venda CDs e DVDs piratas”.

PRINCÍPIO DA ISONOMIA OU IGUALDADE

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O Direito Penal se aplica a todos, independentemente de nacionalidade,
classe social, etnia, sexo, idade ou condição.
Entretanto, esse princípio impõe tratamento distinto para quem se
encontra em posições diferentes. Ex.: réu primário e réu reincidente/Lei Maria da
Penha (Lei n. 11.340/2006), que protege de maneira diferente as mulheres.

PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA OU DA NÃO CULPA


CF/1988, Art. 5º, LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito
em julgado de sentença penal condenatória;
O agente só é considerado culpado quando transita em julgado a sua
sentença penal condenatória.
Existem discussões envolvendo as prisões preventivas e provisórias, pois,
no entendimento de alguns, elas desrespeitam o princípio da presunção de
inocência. Entretanto, essa tese não prosperou no Direito Penal brasileiro.
O fato de ninguém ser considerado culpado até o trânsito em julgado não
significa que essa pessoa não possa ser presa.

Jurisprudência:
Súmula Vinculante n. 11: Só é lícito o uso de algemas em casos de
resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria
ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por
escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da
autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem
prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

“Em primeiro lugar, levem em conta o princípio da não culpabilidade. (...)


Manter o acusado em audiência, com algema, sem que demonstrada, ante
práticas anteriores, a periculosidade, significa colocar a defesa,
antecipadamente, em patamar inferior, não bastasse a situação de todo
degradante.” (HC 91.952, voto do rel. min. Marco Aurélio, DJE de 19/12/2008).

“Em virtude do princípio constitucional da não culpabilidade, a custódia


acauteladora há de ser tomada como exceção. Cumpre interpretar os preceitos
que a regem de forma estrita, reservando-a a situações em que a liberdade do
acusado coloque em risco os cidadãos ou a instrução penal.” (STF, HC 101537,
Dje 14/11/2011)

PRINCÍPIO DO NE BIS IN IDEM


Proibição de dupla punição pelo mesmo fato. Também pode ser chamado
de princípio do no bis in idem.
O agente não pode ser processado, julgado e condenado mais de uma
vez pela mesma conduta, tampouco pode o mesmo fato ser considerado em dois
momentos distintos da dosimetria da pena.
Este princípio pode ser analisado sob três aspectos:
1. Processual – ninguém pode ser processado duas vezes pelo mesmo
fato;
2. Material – ninguém pode ser condenado duas vezes pelo mesmo fato;
e

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3. Execucional – ninguém pode sofrer execução penal duas vezes por
condenações relacionadas ao mesmo fato.

Exceção:
CP, Art. 8º A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no
Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando
idênticas.
O dispositivo acima se aplica aos casos de extraterritorialidade
incondicionada. Um exemplo é o crime praticado contra a vida ou liberdade do
Presidente da República Federativa do Brasil.

ATENÇÃO
Súmula n. 241, STJ: “A reincidência penal não pode ser considerada
como circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância
judicial.”
Todavia, “inexiste bis in idem se a pena-base do paciente foi aumentada
por força dos maus antecedentes, fazendo-se referência a determinadas
condenações, e, na segunda fase, incidiu a agravante da reincidência em
decorrência de outra condenação diversa.” (HC 359871/SP. Julgamento em
27/09/2016).

Não caracteriza bis in idem:


1. A aplicação da agravante da reincidência (STF, RE 453.000/RS,
03/10/2013).
2. A condenação simultânea por roubo majorado pelo emprego de arma
de fogo e por associação criminosa armada porque cada tipo penal visa à
proteção de bem jurídico específico (patrimônio e paz pública, respectivamente),
não havendo relação de dependência entre elas. (STF, HC 113.413/SP,
12/11/2012).
3. A condenação de roubo circunstanciado pelo concurso de agentes (art.
157, §2º, II) cumulada com a condenação pelo crime de corrupção de menores
(art. 244-B, ECA), na situação em que um maior de idade pratica o crime
patrimonial em conluio com um menor de idade.
São condutas autônomas e independentes, que atingem bens jurídicos
distintos (patrimônio e formação moral do menor). (STJ, HC 362.726/SP, Dje
06/09/2016)

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Também conhecido por “criminalidade de bagatela” ou “infração
bagatelar própria”, foi incorporado ao Direito Penal por Claus Roxin, na década
de 1960, sob o fundamento de política criminal.
Obs.: A política criminal é uma espécie de crítica ao Direito posto, ou seja,
à norma penal.
Essa crítica abarca principalmente a aplicação da norma penal em
determinadas situações. Assim, a ideia do princípio da insignificância é retirar a
punição e dizer que determinada conduta não é um crime, visto que não afeta
um bem jurídico tutelado pelo Direito Penal.

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Sustenta, este princípio, que o Estado não deve se valer do Direito Penal
quando a conduta não é capaz de lesar o bem jurídico tutelado pela norma penal,
ou, pelo menos, colocá-lo em perigo.

Tipicidade Formal vs Tipicidade Material


O crime é dividido em fato típico, ilícito e culpável. Dentro do fato típico,
tem-se a conduta, que gera um resultado, sendo necessário o nexo causal entre
essa conduta e esse resultado.
Ex.: um crime de homicídio em que alguém atira e gera o resultado morte
em outra pessoa.
Esse resultado aconteceu pela conduta praticada pelo agente, logo, há
um nexo de causalidade entre essa conduta e o resultado.
Dentro do fato típico, ainda há um quarto elemento: a tipicidade. Para que
haja um fato típico é necessário que a conduta seja típica, ou seja, que esteja
prevista em lei como crime.
Nesse sentido, matar uma pessoa só é crime, pois essa conduta está
prevista no art. 121 do Código Penal como crime.
A tipicidade, por sua vez, se divide em formal e material.
A tipicidade formal se refere ao fato típico descrito na norma penal. Haverá
a tipicidade formal quando a conduta do agente se adequa perfeitamente à
norma penal.
Já a tipicidade material é a efetiva lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico
tutelado pela norma penal.
A ideia do princípio da insignificância é que ele será aplicado quando, na
conduta do agente, não houver a tipicidade material.
O problema é que, para que exista a tipicidade material é preciso que
exista tanto a tipicidade formal quanto a tipicidade material. Assim, aplicando a
insignificância, é excluída a tipicidade material, que exclui a tipicidade, que exclui
o fato típico e exclui o crime em si.
É por esse motivo que se diz que a natureza jurídica do princípio da
insignificância é de causa supralegal de exclusão da tipicidade.

CRITÉRIOS DOUTRINÁRIOS DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA


1. Valor do bem:
• Econômico: é possível aplicar o princípio da insignificância quando o
bem atingido tem valor inferior a 10% do salário mínimo; e
• Sentimental: a depender do caso, em que pese o valor econômico do
bem ser baixo, não será possível a aplicação do princípio da insignificância em
razão do valor sentimental do bem para a vítima.
2. Condição econômica da vítima:
• Subtrair um pacote de arroz de um supermercado é diferente de subtrair
o mesmo pacote de arroz de uma família que passa por necessidades.
3. Consequências do crime e modus operandi:
• A depender de como o agente praticou a conduta, não há como se falar
em princípio da insignificância. Ex.: furto de um bem de baixo valor econômico
que estava dentro de um carro, sendo que o agente quebrou a janela do veículo
para realizar a subtração.

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Requisitos objetivos adotados pela Jurisprudência – Min. Celso de
Mello (HC 84.412-0/SP – 29/06/2004 – STF):
a. mínima ofensividade da conduta;
b. nenhuma periculosidade social da ação;
c. reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e
d. inexpressividade da lesão jurídica provocada.

Vários doutrinadores e até o próprio STF já tentaram distinguir esses


requisitos, mas sem sucesso.
A mínima ofensividade da conduta e a inexpressividade da lesão jurídica
provocada deixam entender que são a mesma coisa.
Já o requisito “nenhuma periculosidade social da ação” significa ausência
de violência ou ameaça. É por isso que o princípio da insignificância não se
aplica aos crimes de roubo ou extorsão.
Por fim, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento significa
que, a depender de quem pratica a conduta, o grau de reprovabilidade do
comportamento pode impedir a aplicação do princípio da insignificância. Ex.: um
juiz que pratica um furto não pode ser beneficiado pela insignificância em razão
de sua função como juiz.

Requisito Subjetivo (Perfil do Autor)


1. Criminoso habitual:
• O princípio da insignificância não pode ser um salvo-conduto para o
criminoso habitual.
Obs.: É preciso diferenciar a questão do princípio da insignificância e do
furto famélico, pois são institutos diferentes. Se o agente furta algum produto
alimentício para saciar a sua fome, mesmo que não seja considerado
insignificante, a ilicitude dessa conduta pode ser excluída em razão do estado
de necessidade.

2. Militar:
Não se aplica o princípio da insignificância ao militar em razão do perfil do
autor. O mesmo se aplica aos Delegados de Polícia, policiais em geral, juízes,
promotores etc.
Isso acontece, pois a reprovabilidade do comportamento desses agentes
é muito maior

É possível a aplicação do princípio da insignificância a reincidentes?


1ª Corrente: NÃO admite;
2ª Corrente: ADMITE – A reincidência não impede, por si só, que o juiz da
causa reconheça a insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso
concreto (Informativo 793 do STF, HC 123108, julgado em 03/08/2015 e STF –
HC 155.920/MG – 27/04/2018).

O Delegado de Polícia pode aplicar o princípio da insignificância


diante de uma situação flagrancial?
1ª Corrente: NÃO;
2ª Corrente: SIM.

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Ambas as correntes são muito fortes e ainda não há uma definição de
qual delas deve ser adotada em provas objetivas. Por esse motivo, esse assunto
dificilmente deve ser cobrado em prova.

APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA


Furto
Ao furto, aplica-se a insignificância. Entretanto, é importante observar:
1) Não se leva em consideração somente o valor da res furtiva. Deve ser
analisado o caso concreto.
2) STJ tem negado a aplicação do P princípio da insignificância quando o
valor do bem subtraído é superior a 10% do salário mínimo vigente à época dos
fatos. Se for abaixo desse valor, analisa-se o caso concreto (STJ, AgRg no Resp
1.558.547/MG, 19/11/2015).
3) Furto com ingresso na residência da vítima – não aplicação em razão
da violação da intimidade (STF, HC 106.045, 19/06/2012).

Furto Noturno (art. 155, § 1º, CP)


Em regra, não se aplica o princípio da insignificância – STJ, AgRG no
AREsp 463.487/MT, 01/04/2014.
Restituição de Bens Furtados à Vítima
Não gera, por si só, a aplicação do princípio da insignificância (STJ, HC
213.943/MT, 05/12/2013). O agente, porém, terá a pena diminuída em razão do
arrependimento posterior (art. 16, CP).

Furto Qualificado
Em regra, não será aplicado o princípio da insignificância.
Entretanto, é possível sua aplicação a depender do caso concreto. (Info.
793 do STF, HC 123108, julgado em 03/08/2015 e STF - HC 155.920/MG –
27/04/2018).

Não se aplica o princípio da insignificância aos seguintes crimes:


1. Roubo, extorsão e demais crimes cometidos com violência ou grave
ameaça (em função da periculosidade social da ação).
2. Crimes previstos na lei de drogas (Lei n. 11.343/2006) – STJ, HC
240.258/SP, 06/08/2013.
3. Crimes contra a fé pública (ex.: moeda falsa e falsidade documental) –
STJ, AgRG no AREsp 558.790 e STF, HC 117638.
4. Crime de contrabando (art. 334-A, CP) – STJ, AgRG no Resp
1472745/PR, 01/09/2015.
5. Estelionato contra o INSS e o FGTS – STF HC 111918 e HC 110845.
6. Crimes relacionados a violência doméstica (Lei Maria da Penha, n.
11.340/2006):
Súmula n. 589 do STJ: “É inaplicável o princípio da insignificância nos
crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das
relações domésticas.”

7. Crimes contra a Administração Pública:

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Súmula n. 599 do STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos
crimes contra a administração pública. (Aprovada em 20/11/2017).
Obs.: O STF já admitiu, em algumas circunstâncias, a aplicação do
princípio da insignificância em crimes contra a Administração Pública, contudo,
para fins de prova, o entendimento que prevalece é o do STJ.
Exceção: Crime de descaminho (art. 334, CP).

Aplica-se o princípio da insignificância aos seguintes crimes:


1. Crimes contra a ordem tributária (Lei n. 8.137/1990) e descaminho (art.
334, CP) – valor pacífico no STJ e STF: Até R$ 20.000,00.
2. Apropriação indébita previdenciária e sonegação de contribuição
previdenciária – STJ, AgRg no Resp 1348074/SP, 19/08/2014.
3. Crimes ambientais – A doutrina é contrária, mas a jurisprudência admite
a aplicação deste princípio, após uma rigorosa análise do caso concreto. STJ,
AgRg no AREsp 654.321/SC, 09/06/2015 e STF HC 112563/SC, 21/08/2012.

A questão da posse e do porte de armas de fogo e munições


1. Não se aplica o princípio da insignificância à posse ou porte de arma
de fogo, seja de calibre permitido ou restrito e ainda que não acompanhado de
munição – Pacífico no STJ e STF.
2. No que concerne à posse ou porte de munições, desacompanhadas de
arma de fogo, tanto o STF quanto o STJ têm entendido que, a depender do caso
concreto e da quantidade de munições, é possível aplicar o princípio da
insignificância.
A favor da aplicação: STJ, REsp 1.735.871/AM, 12/06/2018; AgRg no HC
439.593/MG, 01/02/2019 e STF, RHC 143449, 26/09/2017. (Entendimento que
prevalece para fins de prova)
Contra a aplicação: STF, HC 131.771/RJ, 19/10/2016.

É possível a aplicação do princípio da insignificância aos atos


infracionais?
Sim. Tanto nos crimes quanto nos atos infracionais é possível a aplicação
do princípio da insignificância.

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