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Direito Penal

Princípio do direito penal


1 – Princípio da legalidade ou da reserva legal
O princípio da legalidade está previsto tanto na Constituição Federal (artigo 5º, inciso XXXIX),
como no Código Penal (artigo 1º), tem como principal objetivo limitar o poder do Estado. Para
que o Estado defina crime e comine (prescreva) penas, deve editar uma lei, a ser aprovada pelo
Congresso.

Esse princípio gera o provérbio “Nullum crimen, nulla poena, sinelege”, não pode haver crime,
nem pena que não resultem de uma lei prévia, escrita.

Apenas lei em sentido estrito, aprovada pelo Congresso Nacional, pode ser utilizada para tal
finalidade (criar crimes e cominar penas).

Observação:

É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria relativa a Direito Penal, artigo 62º,
§1º, I, b, da CF.

Por força do princípio da legalidade, é vedada a utilização de analogia in malam partem


(analogia que prejudique o réu). Já a analogia in bonam partem (analogia que beneficia o réu),
é permitida no Direito Penal.

• Analogia = quando a lei não prevê a solução para um caso, então usa da aplicação da
norma parecida e, é chamada de análise de semelhança.
• In malem partem = este princípio é igualmente aplicável às contravenções penais e às
medidas de segurança.
1.1 – Consequências do Princípio da legalidade:
a) não há crime sem lei anterior:

É chamado de princípio da anterioridade, esse princípio fala que é vedada a existência de


retroatividade (voltar ao passado) para prejudicar o réu.

No dia da data da publicação da lei, ela pode ser aplicada, mas, entretanto, o legislador
prefere que a lei seja aplicada há um determinado tempo (prazo), isso se chama vactio legis.

• Vacatio legis = é quando a lei não está em vigência, mesmo que esteja publicada.
Caso a lei em vacatio legis seja aplicada, está ferindo o princípio da anterioridade.

b) não há crime sem lei escrita:

outro desdobramento do princípio da legalidade está na exigência de lei escrita, na qual se


traduz a exclusão da possibilidade de que os costumes (chamado de direito consuetudinário).
Sejam base para criminalização de condutas, ou seja, não se admite criação de crimes ou
agravação de penas por meio dos costumes.

c) não há crime sem lei certa:

É chamado de princípio da taxatividade ou determinação, veda a criação de tipos penais


obscuros ou vagos.

Observação: normas penais em branco

As normas penais em branco, são aquelas que dependem de uma outra norma para que sua
aplicação seja possível.

Ex: Lei antidrogas nº 11343/06

A doutrina divide a norma penal em branco em:

a) norma penal em branco homogêneas:

são normas penais em sentido amplo, a complementação é realizada pelo mesmo órgão que
produziu a norma penal em branco.
b) norma penal em branco heterogenia:

são normas penas em sentido estrito, a complementação é realizada por órgão diverso (órgão
diferente) daquele que produziu a norma penal em branco.

2 – Princípio da individualização da pena (artigo 5º, inciso XLVI, CF):


Como é dito no artigo 5º da constituição: a lei regulará a individualização da pena e adotará,
entre outras, as seguintes: (...).

A individualização da pena é feita em três fases distintas: legislativa, judicial e administrativa.

a) legislativa:

a individualização da pena se dá através da cominação de punições proporcionais a gravidades


dos crimes, e com estabelecimento de penas mínimas e máximas, a serem aplicadas pelo
judiciário.

b) judicial:

a individualização da pena sai do plano abstrato e vai para o plano concreto, e com isso tudo,
para que a pena seja mais apropriada para cada réu, de forma a cumpro seu papel
ressocializador – educativo e punitivo.

c) administrativa (execução da pena):

são as progressões de penas, concessões de saída eventuais do local de cumprimento da pena,


mas serão decididas pelo juiz de execução penal também de forma individual.

3 – Princípio da intranscedência da pena (artigo 5º, inciso XLV, CF):


Esse princípio impede que a pena ultrapasse a pessoa do infrator.

Observação:

Os herdeiros não são responsáveis pelo crime praticado pelo agente, pois não respondem com
seu próprio patrimônio, apenas com o patrimônio eventualmente deixado pelo de cujos.

Note que a multa não é de obrigação para reparar o dano, pois não se destina a vítima, a multa
é uma espécie de pena e, portanto, não pode se executada em face dos herdeiros, ainda que
haja transferência de patrimônio.

4 – Princípio da limitação da pena ou da humanidade (artigo 5º, inciso XLVII, CF):


O princípio da limitação da pena ou da humanidade diz que determinados tipos de penas são
proibidos pela Constituição Federal.

Observação: a exceção para o caso da pena de morte:

Só em caso de guerra declarada, é possível a aplicação de pena de morte por crimes cometidos
em razão de guerra. Esta ressalva é direcionada precipuamente aos crimes militares.

A vedação à pena de trabalhos forçados, impede que o preso seja obrigado a trabalhar sem
remuneração. Assim, ao preso que trabalhar no estabelecimento prisional é garantida
remuneração mensal e abatimento no tempo de cumprimento de pena.

A prisão perpétua também é inadmissível no direito brasileiro.


5 – Princípio da presunção de inocência ou presunção de não culpabilidade (artigo 5º,
inciso LVII, CF):
A presunção de inocência é o maior pilar de um estado democrático de direito, pois, segundo
este princípio, nenhuma pessoa pode ser considerada culpada antes do trânsito em julgado em
sentença penal condenatória.

Do princípio da presunção de inocência, podemos considerar algumas observações:

a) regra do julgamento (regra probatória):

Deste princípio decorre que o ônus da prova cabe ao acusador (MP ou ofendido). O réu é, desde
o começo, inocente, até que o acusador prove sua culpa. Assim temos o princípio in dubio pro
reo (a favor do réu), segundo o qual, durante o processo, havendo dúvidas acerca da culpa,
deverá o juiz decidir a favor deste, pois a culpa não foi comprovada.

b) regra de tratamento:

o réu deve ser, a todo momento, tratado como inocente. E isso tem uma dimensão interna e
uma dimensão externa.

b.1) dimensão interna:

o agente deve ser tratado, dentro do processo, como inocente.

b.2) dimensão externa:

o agente deve ser tratado como inocente fora do processo, ou seja, o fato de estar sendo
processado não pode gerar reflexos negativo na vida do réu. Desta maneira, sendo este princípio
de ordem constitucional, deve a legislação infraconstitucional (CP e CPP) respeitá-la, sob pena
de violação à constituição.

Observação:

A existência de prisões provisórias (prisões decretadas no curso do processo) não ofende a


presunção de inocência, pois nesse caso não se trata de uma prisão como cumprimento de
pena, mas sim de uma prisão cautelar, ou seja, para garantir que o processo penal seja
devidamente instruído ou eventual sentença condenatória seja cumprida. O que não pode
admitir é a utilização da prisão cautelar como antecipação da pena.

Entendimentos do S.T.F. e S.T.J.:

Processos criminais em curso e inquérito policial podem ser considerados mal antecedentes?

De acordo com STF e STJ não, pois nenhum deles o acusado foi condenado de maneira
irrecorrível, logo, não pode ser considerado culpado e nem sofrer qualquer consequência em
relação a eles.

Também temos, a regressão de regime de cumprimento de pena:

De acordo com STF e STJ, não há necessidade de condenação penal transitada em julgado para
que o preso sofra a regressão do regime de cumprimento de pena mais brando para o mais
severo (do semiaberto para o fechado) basta que o preso tenha cometido novo crime doloso
ou falta grave.
Além disso, temos também, a revogação do benefício da suspensão da condicional do processo
em razão do cumprimento de crime:

Nesse caso, o STF e STJ entendem que, descoberta a prática de crime pelo acusado beneficiado
com a suspensão do processo, este benefício deve ser revogado. Não havendo a necessidade
de trânsito em julgado da sentença condenatória do crime novo.

6 – Disposições constitucionais importantes:


6.1 – Vedações constitucionais aplicáveis a crime graves (artigo 5º, incisos XLII a XLIV):

• Incredibilidade:
Racismo, ação de grupos armados civil ou militares, contra a ordem constitucional e o
estado democrático.
• Inafiançabilidade:
Racismo, ação de grupos armados civil ou militares, tortura, tráfico de drogas,
terrorismo, crimes hediondos.
• Vedação de graça e anistia:
Tortura, tráfico de drogas, terrorismo e crimes hediondos.

6.2 – Tribunal do júri (artigo 5º, inciso XXXVIII):

Importante destacar que dois crimes muito comuns não são considerados crimes dolosos contra
a vida:

a) latrocínio (roubo seguido de morte):

é um crime patrimonial

b) lesão corporal com resultado de morte:

a morte, aqui, decorre de culpa, portanto não se trata de crime doloso contra a vida.

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