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Conceito
A pena criminal é, acima de tudo, um castigo1. Trata-se de um mal que se aflige a alguém
em razão da prática de um delito2. O conceito não se confunde, porém, com os fins (ou
finalidades) da pena.
A pena pode ser conceituada como a resposta que a sociedade dá ao indivíduo que
transgride a ordem jurídico-penal estabelecida, e consiste na privação ou restrição de um bem
jurídico do condenado (liberdade, patrimônio, etc.), de forma a castigá-lo e reeducá-lo.
Princípios
a) Reserva legal ou legalidade estrita – Somente a Lei (em sentido estrito) pode cominar
penas: “Nulla poena sine lege”. Está previsto no art. 5°, XXXIX da Constituição e art. 1° do
CP;
b) Anterioridade – A Lei que prevê a pena para a conduta deve ser anterior à prática do
crime: “Nulla poena sine praevia lege”. Também está previsto no art. 5°, XXXIX da
Constituição e art. 1° do CP, sendo, juntamente com o princípio da reserva legal,
subprincípios do princípio da LEGALIDADE;
c) Intranscendência da pena – A pena deve ser cumprida somente pelo condenado, não
podendo, em caso de morte deste, ser transferida aos seus familiares, salvo a obrigação
de reparar o dano e o perdimento de bens, que podem ser cobrados dos sucessores até o
limite do patrimônio transferido pelo condenado falecido. CUIDADO: A pena de multa,
embora patrimonial, não pode ser cobrada dos sucessores!
1
BATISTA, Nilo; ZAFFARONI, Eugénio Raúl. Direito Penal brasileiro. 4. ed. Rio de Janeiro: Ed. Revan, 2011. Tomo I,
p. 99.
2
MIR PUIG, Santiago. Introducción a las bases del Derecho penal. 2. ed. Montevideo, Buenos Aires: Ed. B. de F.,
2003, p. 49.
3
DIAS, Jorge de Figueiredo. Direito penal, parte geral. 2. ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2007. tomo I, p. 46-47
d) Inevitabilidade ou inderrogabilidade da pena – Presentes os requisitos para a
condenação, a pena não pode deixar de ser imposta e cumprida. É mitigado, atualmente,
por institutos como o sursis, o livramento condicional, etc.;
Finalidade: teorias
Para esta teoria, pune-se o agente simplesmente porque ele cometeu uma transgressão à
ordem estabelecida e deve ser castigado por isso. Não há nenhuma finalidade educacional de
reinserção do indivíduo à vida social. A pena é mero instrumento para a realização da vingança
estatal. Trata-se de um imperativo categórico de Justiça ou de Moral (se delinquiu, deve ser
punido, independentemente de qualquer outra finalidade).4
Pune-se o agente não para castigá-lo, mas para prevenir a prática de novos crimes. Essa
prevenção pode ser:
4
BACIGALUPO, Enrique. Manual de Derecho penal. Ed. Temis S.A., tercera reimpressión. Bogotá, 1996, p. 12
⇒ Prevenção Geral – Busca controlar a violência social, de forma a despertar na
sociedade o desejo de se manter conforme o Direito. Pode ser negativa5, quando
busca criar um sentimento de medo perante a Lei penal, ou positiva, quando
simplesmente se busca reafirmar a vigência da Lei penal.
⇒ Prevenção especial – Não se destina à sociedade, mas ao infrator, de forma a
prevenir a prática da reincidência. Também pode ser negativa, quando busca
intimidar o condenado, de forma a que ele não cometa novos delitos por medo, ou
positiva, quando a preocupação está voltada à ressocialização do condenado
(Infelizmente, não há uma preocupação com isto na prática).
Aqui, entende-se que a pena deve servir como castigo (punição) ao infrator, mas também
como medida de prevenção, tanto em relação à sociedade quanto ao próprio infrator (prevenção
geral e especial). Além de consagrada na maioria dos países ocidentais6, foi a adotada pelo art.
59 do CP, que diz:
5
ROXIN, Claus. Derecho penal, parte general. Madrid: Civitas, 1997. tomo I, p. 91.
6
DOS SANTOS, Juarez Cirino. Direito Penal, Parte Geral. Curitiba: Ed. Lumen Juris, 2008, p. 470
Espécies
1
É possível a fixação da pena por período superior a 40 anos, o que se veda é a execução da pena por mais de 40
anos ininterruptos.
2
Com redação dada pela Lei 13.964/19 (chamado “Pacote anticrime”).
Estas penas podem ser cominadas:
Todavia, é bom ressaltar que as penas restritivas de direitos, como regra, apenas substituem
as penas privativas de liberdade, não sendo cominadas de forma isolada.
Penas em espécie
Privativa de liberdade
Como já vimos, o Direito Penal pátrio admite três modalidades de penas privativas de
liberdade: reclusão, detenção e prisão simples (somente para as contravenções penais).
3
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção, em
regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
A fixação, em concreto, do regime inicial de cumprimento da pena irá variar conforme três
fatores: reincidência, quantidade da pena e circunstâncias judiciais. Além disso, a própria Lei
estabelece que a pena seja executada de forma progressiva (de um regime mais gravoso para
outro, menos gravoso), ressalvada a hipótese de regressão (passagem de um regime menos
gravoso para outro, mais gravoso), em qualquer caso, atendendo-se ao mérito do condenado,
nos termos do art. 33, §§ 2°, 3° e 4° do CP.4
Além disso, na fixação do regime inicial de cumprimento da pena, não pode o Juiz fixar
regime mais gravoso do que aquele abstratamente previsto tendo em conta a pena aplicada,
tendo como base unicamente a gravidade abstrata do delito.
a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado;
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o
princípio, cumpri-la
em regime semiaberto;
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la
em regime aberto.
§ 3º - A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á com observância dos critérios previstos no
art. 59 deste Código.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 4º O condenado por crime contra a administração pública terá a progressão de regime do cumprimento da pena
condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos
legais. (Incluído pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003)
O STF possui dois verbetes de súmula muito importantes sobre o tema:
SÚMULA 718
A OPINIÃO DO JULGADOR SOBRE A GRAVIDADE EM ABSTRATO DO CRIME
NÃO CONSTITUI MOTIVAÇÃO IDÔNEA PARA A IMPOSIÇÃO DE REGIME MAIS
SEVERO DO QUE O PERMITIDO SEGUNDO A PENA APLICADA.
SÚMULA 719
A IMPOSIÇÃO DO REGIME DE CUMPRIMENTO MAIS SEVERO DO QUE A PENA
APLICADA PERMITIR EXIGE MOTIVAÇÃO IDÔNEA.
⇒ Submissão a exame criminológico5 inicial (O STJ passou a entender que ele agora é
facultativo – SÚMULA 439 DO STJ);
⇒ Submissão a trabalho durante o dia e descanso isolado durante a noite;
⇒ Trabalho em comum (junto com outros presos) dentro do estabelecimento, SENDO
ADMISSÍVEL O TRABALHO EXTERNO em obras públicas (Necessário cumprimento de ao
menos 1/6 da pena).
O trabalho do preso é remunerado e ele tem direito, ainda, aos benefícios da previdência
social. Isso é bastante importante, pois o preso foi condenado a uma pena “privativa de
liberdade”, ou seja, o único direito do qual ele está privado é a liberdade. Assim, o preso não se
tornou um escravo do Estado, devendo receber pelo seu trabalho, como qualquer pessoa.
O regime semiaberto é bem menos gravoso que o regime fechado, e possui como regras:
⇒ Exame criminológico inicial (O STJ passou a entender que ele agora é facultativo –
SÚMULA 439 DO STJ);
⇒ Trabalho diurno em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar, com descanso
isolado à noite;
⇒ Admissão do trabalho externo, BEM COMO FREQUÊNCIA A CURSOS SUPLETIVOS
PROFISSIONALIZANTES, DE INSTRUÇÃO DE SEGUNDO GRAU OU SUPERIOR.
5
O exame criminológico tem por finalidade permitir a individualização da pena (um dos princípios da pena) em sua
terceira fase, em homenagem ao disposto no art. 5°, XLVI da Constituição:
Além disso, o preso deve ficar recolhido em estabelecimento próprio (colônia agrícola,
industrial ou similar), e não em presídio comum, onde se encontram os presos em regime
fechado.
O regime aberto é o mais brando dos três regimes de cumprimento da pena privativa de
liberdade, e baseia-se no senso de responsabilidade e autodisciplina do preso. Regras básicas:
Conforme havia dito a vocês, a pena privativa de liberdade atinge somente um direito do
preso: a liberdade (óbvio, não?).
6
STJ - REsp 1201880/RS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 07/05/2013,
DJe 14/05/2013) e STF - HC 122313, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. EDSON
FACHIN, Primeira Turma, julgado em 23/02/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-085 DIVULG 29-04-2016 PUBLIC
02-05-2016).
Assim, o preso mantém todos os direitos inerentes à pessoa humana, como o respeito à
sua integridade física e moral. O respeito à integridade física e moral, inclusive, possui índole
constitucional (art. 5°, XLIX da Constituição).7
Também em razão disso, o STF decidiu regulamentar o uso de algemas, editando a súmula
vinculante n° 11, que diz:
SÚMULA VINCULANTE Nº 11
SÓ É LÍCITO O USO DE ALGEMAS EM CASOS DE RESISTÊNCIA E DE
FUNDADO RECEIO DE FUGA OU DE PERIGO À INTEGRIDADE FÍSICA
PRÓPRIA OU ALHEIA, POR PARTE DO PRESO OU DE TERCEIROS,
JUSTIFICADA A EXCEPCIONALIDADE POR ESCRITO, SOB PENA DE
RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR, CIVIL E PENAL DO AGENTE OU DA
AUTORIDADE E DE NULIDADE DA PRISÃO OU DO ATO PROCESSUAL A QUE
SE REFERE, SEM PREJUÍZO DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO.
7
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
8
Art. 38 - O preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a todas as
autoridades o respeito à sua integridade física e moral. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 39 - O trabalho do preso será sempre remunerado, sendo-lhe garantidos os benefícios da Previdência Social.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
9
Art. 41 - O condenado a quem sobrevém doença mental deve ser recolhido a hospital de custódia e tratamento
psiquiátrico ou, à falta, a outro estabelecimento adequado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
preso provisoriamente, administrativamente ou internado nos estabelecimentos psiquiátricos
previstos no art. 41. Vejamos:
Trata-se de regra que materializa o direito previsto no art. 5°, XLVIII da constituição, que
trata do cumprimento da pena em estabelecimentos prisionais adequados.11
São divididas em cinco espécies, conforme já adiantado, nos termos do art. 43 do CP.
10
Art. 37 - As mulheres cumprem pena em estabelecimento próprio, observando-se os deveres e direitos inerentes à
sua condição pessoal, bem como, no que couber, o disposto neste Capítulo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
11
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo
do apenado;
12
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – Parte Geral. Ed. Saraiva, 21º edição. São Paulo, 2015, p.
659/660
13
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 662/666
crime em si, e à penalidade imposta. Os últimos estão ligados à pessoa do criminoso. Estão
previstos nos incisos do art. 44 do CP.14
REQUISITOS OBJETIVOS
Só pode haver substituição nos casos de crimes culposos (todos eles)
ou no caso de crimes dolosos, desde que, nesse último caso, não tenha
Natureza do crime sido o crime cometido com violência ou grave ameaça à pessoa (ex.:
Não caberia substituição no caso de homicídio).
REQUISITOS SUBJETIVOS
OBS.1: Se o condenado for reincidente em crime culposo, poderá
haver a substituição.
Regras da substituição
14
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: (Redação
dada pela Lei nº 9.714, de 1998)
I - aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou
grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; (Redação dada pela Lei nº
9.714, de 1998)
II - o réu não for reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998)
III - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as
circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente. (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998)
Assim:
⇒ Pena igual ou inferior a um ano = Substituição por multa ou uma pena restritiva de
direitos.
⇒ Pena superior a um ano = Substituição por pena de multa e uma pena restritiva de
direitos, ou por duas restritivas de direitos. No caso de serem aplicadas duas restritivas de
direitos, o condenado poderá cumpri-las simultaneamente, se forem compatíveis, ou
sucessivamente, se incompatíveis (art. 69, § 2° do CP).
Mas a Lei não é injusta, de forma que se o condenado cumpriu parte da pena restritiva de
direitos imposta, o tempo que ele cumpriu será abatido da pena privativa de liberdade que ele
cumprirá em razão da reconversão (parte final do § 4° do art. 44 do CP).
15
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 671/672
Entretanto, além da reconversão obrigatória, há também hipótese de reconversão
facultativa, nos termos do art. 44, § 5° do CP:
Nesse caso, o Juiz da execução irá avaliar se o condenado pode cumprir a pena restritiva
de direitos imposta juntamente com a pena privativa de liberdade (que o camarada acabou de
receber). Se for possível, o Juiz PODE manter a pena restritiva de direitos imposta e o condenado
cumprirá ambas, simultaneamente; se não for possível, haverá a reconversão para a pena
privativa de liberdade anteriormente aplicada.16
16
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 699
17
HC 133.942/MG, Rel. Ministro ADILSON VIEIRA MACABU (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RJ),
QUINTA TURMA, julgado em 28/02/2012, DJe 20/03/2012
Penas restritivas de direitos em espécie
Prestação pecuniária
No entanto, pode acontecer de, por acordo entre o infrator e o beneficiário da prestação,
esta ser de outra natureza que não seja patrimonial.18
Além disso, a pena de prestação pecuniária NÃO É PENA DE MULTA. Trata-se de uma
modalidade de pena restritiva de direitos, e difere da multa em diversos aspectos. Vejamos:
18
§ 1º A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a seus dependentes ou a entidade
pública ou privada com destinação social, de importância fixada pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo nem
superior a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante de eventual
condenação em ação de reparação civil, se coincidentes os beneficiários. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)
§ 2º No caso do parágrafo anterior, se houver aceitação do beneficiário, a prestação pecuniária pode consistir em
prestação de outra natureza. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)
A perda de bens e valores, tal qual a pena de prestação pecuniária, é uma modalidade de
pena restritiva de direitos que atinge o patrimônio financeiro do condenado.19
Perceba, caro aluno, que esta pena só poderá ser aplicada nas hipóteses de crimes que
gerem algum prejuízo ao sujeito passivo ou tragam algum benefício ao sujeito ativo ou a terceira
pessoa.
19
Está prevista no art. 45, § 3° do CP:
§ 3º A perda de bens e valores pertencentes aos condenados dar-se-á, ressalvada a legislação especial, em favor do
Fundo Penitenciário Nacional, e seu valor terá como teto - o que for maior - o montante do prejuízo causado ou do
provento obtido pelo agente ou por terceiro, em consequência da prática do crime. (Incluído pela Lei nº 9.714, de
1998)
§ 2º A prestação de serviço à comunidade dar-se-á em entidades assistenciais,
hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, em
programas comunitários ou estatais. (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)
De plano, vocês podem perceber que se trata de pena restritiva de direitos somente
cabível nas condenações a pena privativa de liberdade superior a 06 meses.
A Doutrina entende, ainda, que a pena não pode ser prestada em Igrejas, por não se tratar
de serviço à comunidade, e pelo fato de que seria uma ofensa ao princípio do Estado laico (art.
19, I da Constituição).
O § 1° determina que a pena deva ser cumprida mediante a atribuição de tarefas gratuitas
ao condenado. Ou seja, diferentemente do que ocorre no caso de trabalho realizado pelo preso
no estabelecimento prisional, quando em cumprimento de pena privativa de liberdade, aqui o
condenado não recebe nada pelo trabalho, exatamente porque esta é a própria pena. Na pena
privativa de liberdade a execução das tarefas não é a pena (que é a privação da liberdade),
motivo pelo qual naqueles casos o preso deve receber retribuição salarial.
Assim, não pode o Juiz determinar a um pintor que preste serviço de carpintaria em uma
escola, pois não se enquadra dentro das suas aptidões, sendo impossível de ser cumprida.
A pena não pode, ainda, ser vexatória, humilhante ou possuir qualquer outra característica
contrária à sua finalidade.
20
Em nenhuma hipótese será possível a prestação de serviços a entidades privadas que visem lucro. BITENCOURT,
Cezar Roberto. Op. cit., p. 682
Entretanto, o § 4° estabelece que se pena aplicada for superior a um ano, para que não se
torne muito extensa, poderá ser cumprida em menor tempo, mas nunca inferior à metade.
Imagine, no exemplo anterior, que a condenação de fulano tenha sido a dois anos de
reclusão. Nesse caso, o CP possibilita que fulano realize duas horas-tarefa por dia, o que lhe fará
abater dois dias de cumprimento da pena, que será cumprida na metade do tempo previsto. No
entanto, o cumprimento não pode se dar em menos da metade do tempo previsto!
A pena de interdição temporária de direitos está prevista no art. 47 do CP, e pode consistir
em:
Não devemos confundir esta pena com o efeito da condenação previsto no art. 92, I do
CP.
A pena de suspensão de autorização ou habilitação para dirigir veículo (inciso III) somente
se aplica nos casos de crimes culposos cometidos no trânsito. Nos termos do art. 57 do CP:
Entretanto, com a edição do Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503/97), este dispositivo
perdeu muito de sua utilidade, pois o CTB cuida com certa minúcia da matéria, inclusive no que
tange à aplicação desta pena de interdição. Entretanto, isto não é tema para a nossa aula.
CUIDADO! Esta pena não pode ser confundida com o efeito da condenação previsto no art. 92,
III do CP:
Art. 92 - São também efeitos da condenação: (Redação dada pela Lei nº 7.209,
de 11.7.1984)
(...) III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a
prática de crime doloso. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
A pena restritiva de direitos consistente na suspensão do direito de dirigir é uma pena que se
aplica aos crimes culposos cometidos no trânsito. Já o efeito da condenação, consistente na
inabilitação para dirigir, ocorre quando o veículo é utilizado como meio para a prática de crime
doloso (atropelamento doloso, por exemplo).21
Por sua vez, a proibição de frequentar determinados lugares é uma pena de difícil
fiscalização, pois, primeiramente, a Lei não estabeleceu quais são os lugares, ficando a critério do
Juiz22. Em segundo lugar, a ausência de mecanismos hábeis para a realização da fiscalização
dificulta demais a aplicação desta pena.
21
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 688/689
22
Entende-se que o lugar deva ter alguma relação com o delito cometido, e que seja um lugar que exerça influência
criminógena sobre o condenado (um lugar que propicie a ele a prática do delito). BITENCOURT, Cezar Roberto. Op.
cit., p. 690/691
Entretanto, a Doutrina entende que se trata de uma pena constitucional, e que mesmo a
expressão vaga “determinados lugares” não ofende o princípio da legalidade, na medida em
que esta é uma pena alternativa, sendo originariamente prevista a pena privativa de liberdade,
perfeitamente bem delimitada.
Finalizando com chave-de-ouro, o inciso V (incluído pela Lei 11.250/11) prevê uma quinta
modalidade de interdição de direitos, consistente na impossibilidade de o condenado se
inscrever em concurso, avaliação ou exame público.
A Lei não disse por quanto tempo, mas por lógica, em se tratando de uma pena
substitutiva, esta pena terá como duração o mesmo período da pena privativa de liberdade
aplicada.
Limitação de fim de semana
Pena de multa
A pena de multa pode ser conceituada como a penalidade (sanção penal) consistente no
pagamento de determinada quantia em dinheiro e destinada ao Fundo Penitenciário Nacional.
Nos termos do art. 49, e seus §§, do CP:
Perceba, caro aluno, que a aplicação da pena de multa obedece a um sistema BIFÁSICO,
no qual o Juiz:
O produto da multiplicação do número de dias multa pelo valor de cada dia multa será o
montante total da condenação.
A pena de multa deve ser fixada levando-se em conta a situação econômica do réu,
entretanto, essa fixação com base na situação econômica do réu se refere à fixação do valor do
dia-multa. Além disso, a pena de multa pode ser aumentada até o triplo, caso, mesmo sendo
aplicada ao máximo, o Juiz considere que ela ainda é insuficiente.
23
GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Curso de Direito Penal. JusPodivm. Salvador, 2015, p. 529/530
liberdade (§ 1° do art. 50 do CP), E NÃO PODE INCIDIR SOBRE RECURSOS QUE SEJAM
INDISPENSÁVEIS AO SUSTENTO DO INFRATOR E DE SUA FAMÍLIA (§ 2° do art. 50 do CP).
Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será executada perante o juiz da
execução penal e será considerada dívida de valor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da
Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.
Esta redação atual do art. 51 do CP foi dada pela Lei 13.964/19 (chamado “Pacote
Anticrime”). Como se vê, a despeito de ser considerada mera dívida de valor, não podendo
haver conversão em pena privativa de liberdade, a multa deverá ser executada perante o Juízo
da execução penal, colocando fim, assim, a uma antiga discussão doutrinária e jurisprudencial
sobre o juízo competente para executar a pena de multa.
Por fim, o art. 52 do CP prevê que, sobrevindo doença mental ao condenado, ficará
suspensa a pena de multa.
CÓDIGO PENAL
24
GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 530/531
25
GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 531
Arts. 32 a 58 do CP – Regulamentam as espécies de pena no Código Penal, bem como sua
cominação:
SÚMULAS PERTINENTES
Súmulas do STF
Súmula 719 do STF – Além de entender que a gravidade em abstrato do delito não é
fundamento idôneo para a imposição de regime prisional mais gravoso, o STF sumulou
entendimento também no sentido de que o Juiz deve sempre fundamentar, de maneira idônea
(baseada em fatos concretos e que não sejam inerentes ao delito), a imposição de eventual
regime prisional mais gravoso que aquele permitido pela quantidade de pena aplicada:
SÚMULA 719
A IMPOSIÇÃO DO REGIME DE CUMPRIMENTO MAIS SEVERO DO QUE A PENA
APLICADA PERMITIR EXIGE MOTIVAÇÃO IDÔNEA.
Súmulas do STJ
Súmula 269 do STJ – O STJ possui entendimento sumulado no sentido de que é possível a
fixação do regime semiaberto aos condenados que sejam reincidentes, desde que as
circunstâncias judiciais sejam favoráveis. Vejamos:
Súmula 439 do STJ – O STJ possui entendimento sumulado no sentido de que o exame
criminológico pode ser determinado, mas somente por decisão fundamentada nas peculiaridades
do caso, não podendo ser aplicado em qualquer caso e sem qualquer critério:
Súmula 440 do STJ – O STJ, seguindo a mesma linha do STF, sumulou entendimento no
sentido de que, uma vez fixada a pena-base no mínimo legal, o estabelecimento de regime
prisional mais gravoso que o cabível em razão da pena imposta dependeria de fundamentação
concreta, não podendo estar baseado na mera gravidade abstrata do delito:
Súmula 493 do STJ – O STJ sumulou entendimento no sentido de que é vedado ao Juiz impor,
como condição especial ao regime aberto, qualquer das modalidades de pena restritiva de
direitos, eis que isso configuraria bis in idem (cumprimento de pena privativa de liberdade e
cumprimento de pena restritiva de direitos, ainda que indiretamente):
JURISPRUDÊNCIA CORRELATA
STF - HC 122313 e STJ - AgInt no HC 345.050/RS – O STJ e o STF firmaram entendimento no
sentido de que, caso não haja vagas no regime semiaberto, deve o preso ser transferido para o
regime aberto. Caso não haja vagas neste último, deve ser permitido o cumprimento da pena em
prisão domiciliar: