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NOÇÕES INTRODUTÓRIAS DE DIREITO PENAL

1. CONCEITO DE DIREITO PENAL


Direito Penal1 é o conjunto de princípios e regras destinados a combater o crime e a
contravenção penal, mediante a imposição de uma sanção penal.

2. PRINCIPIOS DO DIREITO PENAL

Princípios em resumo são normas jurídicas, sendo caracterizadas em normas regras


e normas principiológicas. Em tempos pretéritos o princípio era uma ferramenta
simples para a aplicação da norma jurídica ao mundo. Logo, aqueles princípios que
não estivessem positivados pelo legislador eram descartados. Quando falamos em
princípios temos que remeter a ideia de que podemos aplicá-lo ao caso concreto
mesmo em ausência de norma.

Observa-se que os Princípios do Direito Penal representam um método de contenção


à pretensão punitiva do Estado.

2.1. Princípios em espécie

a) Princípio da Legalidade/reserva legal: o princípio da legalidade é o primeiro ramo


principiológico que encabeçam o Direito Penal Brasileiro. Ressalta-se que Legalidade
e Reserva Legal são sinônimos para larga maioria doutrinaria2. O referido princípio
tem origem estão no século XVIII com a corrente iluminista3 citado anteriormente, o
princípio da legalidade é o que encabeça o Direito Penal Brasileiro, tendo sua
previsão normativa no art.1, do Código Penal, que traz a seguinte elucidação.

1 Nas lições de Anibal Bruno:’’ Direito Penal é o conjunto de normas jurídicas que regulam a atuação
estatal no combate do crime, através de medidas aplicadas aos criminosos. Nele se definem os fatos
puníveis e se cominam as respectivas sanções’’.
2 Há autores no Brasil como Flávio Monteiro de Barros que defende a ideia de que a nomenclatura

deste princípio é o dá RESERVA LEGAL e não da LEGALIDADE. Pois a legalidade seria uma definição
ampla que traria várias outras pertinência para o seu bojo, perdendo a característica restritiva que o
Direito Penal possui.
3 Esta tese é adotada pela ampla maioria doutrinaria, entretanto, alguns doutrinadores como a exemplo

o professor Frederico Marques, entendem que o princípio surgiu na idade média, no ano de 1215 com
a Magna Carta do Rei João da Inglaterra. Entretanto, tal corrente é dotada de minoridade em relação
a este entendimento. Ressalta-se que a Magna Carta era destinada aos nobres da Inglaterra,
excluindo-se os camponeses e plebeus.
Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia
cominação legal.

O dispositivo da legalidade não se encontra exclusivamente restrito ao Código Penal,


como também, há sua previsão no art.5º, inciso XXXIX, da Constituição Federal.

XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal

Aprofundando um pouco mais acerca da Constitucionalidade do Princípio da


Legalidade, o art.60, da CF, traz o Título das Emendas Constitucionais, entretanto, o
parágrafo quarto, inciso terceiro é taxativo ao dizer que não poderá haver projeto de
Emenda Constitucional que vise abolir direitos e garantias individuais4. Portanto,
como o Princípio da Legalidade é a matriz regulatória da pretensão punitiva do
Estado, o legislador, através de proposta de Emenda Constitucional, não poderá
solicitar que seja revogado ou abolido o princípio da legalidade.

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:


§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir
IV - Os direitos e garantias individuais.

ATENÇÃO: Não cabe Medida Provisória para tratar de Direito Penal5.

Em relação ao alcance do Princípio da Legalidade ela alcança não tão somente os


crimes como também as contravenções penais, estendendo-se desta forma as
sanções penais (pena e medida de segurança).

No que tange as dimensões do Princípio da Legalidade, ele segue o rito das


dimensões para que tanto o legislador e o aplicador do direito observem na hora de

4Leia-se que Direitos e Garantias Individuais não ficam restritivamente ao texto normativo
Constitucional, mas estendem-se para outros direitos, principalmente, o Direito Penal.
5O Professor Luiz Flávio Gomes aborda que há a possibilidade de MP tratar de Direito Penal,
entretanto, este fenômeno só seria possível se fosse para beneficiar o réu.
sua efetiva transmissão para o mundo jurídico, estas características dimensionais
são:

LEI ESCRITA
ESTRITA (analogia)6
CERTA (taxatividade)7
ANTERIOR (irretroatividade da lei penal)

ATENÇÃO: não se pode ter costumes definindo crime e culminando pena.

b) Princípio da Humanidade

Com a corrente iluminista a observação de como as penas eram aplicadas aos


criminosos passam a tomar destaque nos ciclos de debates dos pensadores. A idéia
de que o crime deveria ser respondido com o dobro de barbaridade permeou até o
século XIX. Vide o primeiro capítulo do livro de Michael Focault que narra a pena de
Damian na França sofre sua condenação em praça pública de modo extremamente
bárbaro.

Portanto, a corrente iluminista, passa a propor que o Estado deveria atuar nas
aplicações da pena com certa reserva ética. O Código Penal Brasileiro, bem como, a
Constituição Federal, trazem algumas vedações de penas que não podem ser
aplicadas no Brasil, que são estas:

➢ De Morte, salvo em caso de guerra declarada;


➢ De caráter perpétuo;
➢ De banimento;
➢ De trabalhos forçados;
➢ Cruéis;

I. Pena de Morte: a pena de morte é vedada no Brasil, salvo nos casos de guerra
declarada e a mesma só pode ser aplicada através do fuzilamento. Neste caso,
observa-se o princípio da legalidade e aplica-se as hipóteses do Código Penal

6 Ubi Eadem Ratio ibi Eadem Ius = a razão aplica-se ao mesmo direito. Cabe Analogia In Bona
Partem e não compete In mala partem.
7 A lei penal precisa ser certa e precisa.
Militar Brasileiro, a exemplo de crime militar em caso de guerra temos a: covardia;
traição à pátria.
II. Penas de Caráter Perpétuo: neste caso, o legislador traz em um rol taxativo não
somente a pena de reclusão de caráter perpétuo, mas sim, todos os outros
institutos que possam carregar esta característica, a exemplo: Medida de
Segurança, Pena de Multa.
III. Penas de Banimento: o Código Penal, veda, tacitamente a expulsão de
Brasileiros que cometeram crime do território nacional. Ou seja, penas como o
exilio é proibido.
IV. Penas de Caráter forçado: Segundo a LEP (Lei de Execução Penal) o trabalho
do preso é essencial para o sistema prisional, já que é medida socioeducativa,
entretanto, o Código Penal veda penas que possuam a características de
trabalhos forçados, a exemplo das penas aplicadas na Alemanha Nazista e da
Escravidão.
V. Penas Cruéis: considera-se penas cruéis todas aquelas dotadas de suplícios
corporais, a exemplo da tortura.

c) Princípio da Intranscendência das penas

Também conhecido como princípio da ‘’pessoalidade das penas’’ ou ‘’ personalidade


das penas’’, significa dizer que a pena não pode passar da pessoa do condenado. A
pena de multa, em caso de morte do criminoso, não passa para os herdeiros8 já que
a pena de multa ainda mantém o caráter penal. Neste caso o que atinge os herdeiros
são os efeitos da reparação do dano causado (exemplo: indenização cível).

d) Princípio da Individualização das Penas

Significa dizer em grosso modo que cada caso é um caso, não devendo adotar
métodos de análises de formas genéricas, mas sim, individualizadas. Ela deve ser
observada nos 3 (três) momentos da pena que são:

➢ Previsão = Legislador;
➢ Aplicação = julgador aplica a pena;

8 Mesmo que esta pena seja de caráter patrimonial ela não atinge os herdeiros
➢ Execução = julgador/ administrador;

d) Princípio da Vedação ao Non Bis in Idem

Significa dizer que o indivíduo não pode ser punido mais de uma vez pelo mesmo
fato. A título de exemplo temos o crime de infanticídio, previsto no Art.123, do Código
Penal, que diz:

Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante
o parto ou logo após.

O referido artigo, traz que matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho,
durante o parto ou logo após, entrará no rol do crime de infanticídio. Entretanto, o
art.61, do Código Penal, traz as hipóteses de situação atenuante da pena, dentre
estas, está a hipótese do crime praticado contra descendente.

Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não


constituem ou qualificam o crime
e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;

Neste caso, a situação agravante da pena de crime praticado contra descendente não
se aplica ao crime de infanticídio, já que, o infanticídio já pressupõe a conduta direta
e estaria valorando mais de uma vez o crime.

ATENÇÃO: O STF decidiu que a reincidência não caracterizaria a prática de Non Bis
In Idem, já que a reincidência é uma agravante e é constitucional.

e) Princípio da Lesividade

Relaciona-se com o conceito material de crime (violação de bem jurídico), ao tratar


de lesividade há uma direção diametral ao poder de punir do Estado. Ou seja, para o
princípio da lesividade, não há infração quando a conduta não tiver oferecido ao
menos perigo de lesão ao bem jurídico. Este princípio atende a manifesta exigência
de delimitação do direito penal, tanto em nível legislativa como no âmbito jurisdicional.
Segundo Francisco Palazzo:

Em nível legislativo, o princípio da lesividade (ou ofensividade), enquanto


dotado de natureza constitucional, deve impedir o legislador de configurar os
tipos penais que já hajam sido construídos, in abstracto, como fatores
indiferentes e preexistentes à norma.

ATENÇÃO: não se pode considerar crime atos internos ou mera cogitação.

ATENÇÃO: não se pode considerar autolesão como crime.

f) Princípio da Intervenção Mínima


A intervenção mínima tem como destinatários principais o legislador e o intérprete do
Direito. Àquele, recomenda moderação no momento de eleger as condutas dignas de
proteção penal, abstendo de incriminar qualquer comportamento.

g) Princípio da Adequação Social

Este princípio funciona como causa supralegal de exclusão da tipicidade, pela


ausência de tipicidade material, traduzindo, portanto, que não pode ser considerado
criminoso o comportamento humano que, embora tipificado em lei, não afrontar o
sentimento social da justiça9.

h) Princípio da Proporcionalidade

Corresponde em termos simples que o dependendo a gravidade do crime deve ser


exasperada a pena (grave). O princípio da proporcionalidade ainda se subdivide em
2 (dois) princípios que são:

➢ Vedação ao excesso punitivo;


➢ Vedação a proteção deficiente;

9É incabível a aplicação do princípio da adequação social, segundo o qual, dada a natureza subsidiária
e fragmentária do direito penal, não se pode reputar como criminosa uma ação ou uma omissão aceita
e tolerada pela sociedade, ainda que formalmente subsumidade a um tipo legal incriminador (Min.
Rogério Schietti, STIJ, RHC 60.611, sexta turma, 15.09.2015)
i) Princípio da Insignificância

O referido princípio surgiu no Direito Romano, porém, limitado ao direito privado.


Invocava-se o brocardo de minimus non curat praetor, ou seja, os juízes e os tribunais
não deveriam se ocupar de coisas irrelevantes. Trazendo para o Direito Penal
Brasileiro, o referido instituto, versa sobre a prática da conduta tipificada, mas que
não tem grande ofensa à um bem jurídico tutelado10.

Características para que a conduta se enquadre neste princípio são:

➢ Mínima ofensividade;
➢ Ausência de periculosidade;
➢ Reduzido Grau de Reprovabilidade;
➢ Irrelevância da lesão jurídica;

10 Para o STF: o princípio da insignificância é vetor interpretativo do tipo penal, tendo por escopo
restringir a qualificação de condutas que se traduzam em ínfima lesão ao bem jurídico nele (tipo penal)
albergado. Tal forma de interpretação insere-se num quadro de válida medida de política criminal,
visando, para além da descaracterização, ao desconstrangimento da justiça penal, que deve ocupar
única e exclusivamente de condutas tidas como socialmente mais graves.

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