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Princípios fundamentais do Direito Penal

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      Afirma Kaufmann (apud BATISTA, 2005, p. 61) que “toda legislação positiva pressupõe sempre
certos princípios gerais do direito”. É papel dos princípios auxiliar na compreensão e interpretação
do significado político, histórico e social do sistema jurídico. Os princípios representam os limites
mínimos para elaboração e aplicação das normas penais de acordo com as premissas do Estado
Democrático de Direito.

      Vários princípios, dada sua importância para a humanidade, são reconhecidos no âmbito
internacional, como é o caso da Declaração Universal dos Direitos do Homem (ONU) e da
Convenção Americana sobre Direitos Humanos.

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      É importante assimilar que os Tratados Internacionais e as Convenções são fontes do Direito


Internacional. A Emenda Constitucional 45/2004 conferiu aos Tratados Internacionais que
versarem sobre Direitos Humanos o patamar de norma constitucional, veja só:

      Constituição Federal Art. 5° -

       § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em


cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

       A mudança trazida pela EC 45/2004 se deve à concepção contemporânea dos direitos


humanos. A constitucionalização dos tratados internacionais de direitos humanos tem como fim a
valorização de uma ordem jurídica cada vez mais garantista e preocupada com a eficácia dos
direitos e garantias individuais, que ocupam o status de cláusula pétrea.

        Como se vê, os princípios ocupam lugar de destaque na Constituição Federal, conforme será
comprovado ao longo dos estudos da seção.

     Vejamos alguns princípios basilares do Direito Penal:

     1) Princípio da reserva legal ou da legalidade: esse princípio é o núcleo de qualquer sistema penal
que tenha como fim a racionalidade e a justiça, ou seja, que aspire à segurança jurídica. Encontra-se
previsto no art. 1°, do CP, e no art 5°, inciso XXXIX, da CF, que assim prevê: “Não há crime sem lei
anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. No latim “nullum crimen nulla poena
sine lege”.

     Esse princípio é responsável por importantes desdobramentos:

     a – princípio da anterioridade da lei penal: não há crime nem pena sem lei prévia (art. 2° do CP).

     b – os crimes e as penas devem estar previstos em lei, ou seja, formalizados por escrito. O
costume por si só não pode ensejar punição, pois não cria crimes.

    c – princípio da taxatividade: o crime deve ser definido de forma clara e precisa, pois a norma
penal deve ser estrita e certa. A incriminação não pode ser genérica, vaga, imprecisa ou
indeterminada, sob pena de afronta ao princípio da reserva legal.

      Pesquise mais:  Existe distinção entre legalidade e reserva legal? Se sim, qual?
       Como você pôde perceber, o princípio da reserva legal, incorporado no ordenamento jurídico
pátrio com o Código Penal do Império, de 1830, tem como fundamento político a garantia
constitucional de proteção dos cidadãos contra os abusos e arbítrios da máquina penal, em especial
os atos do legislador ao definir condutas a serem punidas.

         REFLITA: O princípio da legalidade se aplica às contravenções penais e às medidas de


segurança? 

      2) Princípio da intervenção mínima: o Direito Penal, enquanto sistema formal de controle social
do delito, deve ser reservado para os casos de grave ofensa ou ataque aos bens jurídicos
considerados mais relevantes. Ou seja, o Direito Penal deve ser a última medida adotada pelo Estado
para coibir a prática de atos delituosos e proteger os bens jurídicos (ultima ratio). Apenas na
impossibilidade de os demais ramos do Direito protegerem o bem é que o Direito Penal deverá ser
acionado. Por sua vez, as perturbações leves da ordem jurídica devem ser objeto de outros ramos do
direito, pois a pena é o meio mais extremo de intervenção na liberdade do indivíduo. Portanto,
decorre deste princípio a subsidiariedade e fragmentariedade do Direito Penal.
 
         Lembre-se: O Direito Penal deve ser reservado apenas para situações em que outras
disciplinas do direito não apresentem solução, ou seja, para casos de ofensa gravosa a bens
jurídicos relevantes.
 
         3) Princípio da lesividade ou ofensividade: segundo esse princípio, só poderá ser objeto de
punição o comportamento que no mínimo coloque em perigo bem jurídico relevante tutelado.
Condutas internas ou individuais, embora sejam pecaminosas, imorais, escandalosas ou diferentes do
senso comum, estão destituídas de lesividade e, portanto, não estão aptas a legitimar a intervenção
penal.

         4) Princípio da humanidade: decorre do mesmo processo histórico que originou os princípios
da legalidade e da intervenção mínima, e tem como fim a racionalidade e a proporcionalidade da
pena aplicada, devendo ser observado tanto na fase de cominação e aplicação da pena quanto na fase
de execução. Dispõe a Constituição Federal, em seu art. 5°, inciso XLVII, que não haverá penas: a)
de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, inciso XIX; b) de caráter
perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis.

          Como se vê, o princípio da humanidade assegura aos presos o respeito à dignidade, além da


integridade física e moral. Determina, ainda, que a pena seja cumprida em estabelecimentos
distintos, compatíveis com a natureza e gravidade do delito, idade, sexo e antecedentes do acusado/
condenado.

        As presidiárias, por exemplo, têm assegurado o direito de permanecer com seus filhos durante o
período de amamentação (art. 5°, incisos XLVIII, XLIX e L, da CF).

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        1.  Em razão do princípio da humanidade, é vedada no Brasil a pena de morte, salvo em


caso de guerra declarada. Determina o artigo 5°, inciso XLVII, da Constituição Federal, que não
haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do artigo 84, inciso
XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis.

       2.  O Brasil é um dos países signatários da Convenção contra a Tortura e outros


Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adotada pela Resolução 39/46, da
Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10.12.1984 - ratificada pelo Brasil em 28.09.1989.

     3.  Pela sua própria natureza, o princípio da humanidade é incompatível com a concepção da
responsabilidade penal da pessoa jurídica. Em 2014, o Supremo Tribunal Federal, no Recurso
Extraordinário 548.181, afastou a tese da dupla imputação e admitiu a responsabilidade penal
exclusiva da pessoa jurídica por crimes ambientais, independente da responsabilização da pessoa
física do representante da empresa.

        5) Princípio da Culpabilidade: De modo simples, pode-se dizer que o princípio da culpabilidade
impõe uma análise subjetiva da responsabilidade penal, isto é, se o resultado advém de dolo ou
culpa. Tal princípio consiste numa vedação à responsabilidade penal objetiva.

        6) Princípio da intranscendência: A pena não pode passar da pessoa do acusado. A


responsabilidade penal é sempre pessoal (art. 5°, inciso XLV, CF).

        7) Princípio da individualização da pena: É a individualização judicial, a obrigatoriedade de que


a pena aplicada considere a pessoa individualmente e concretamente, levando em consideração o
comportamento, as experiências sociais e as oportunidades do acusado ou condenado, quando em
fase de cumprimento da pena. Portanto, a imposição da pena deve levar em consideração critérios
subjetivos, visto que os indivíduos praticam crimes imbuídos de sentimentos, condições e
características diversas, que devem ser ponderadas na dosimetria da pena.

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