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22/03
Nota: Dentro do conceito de ação pode estar abrangida a omissão, que só gera
responsabilidade criminal se o indivíduo tiver a obrigação de agir. P.e. Se alguém
estiver deitado no chão, prestes a morrer e eu passar por essa pessoa e não prestar
auxílio, e essa pessoa morrer, caso se tenha comprovado que o meu auxílio salvaria
essa pessoa, ainda assim não seria responsabilidade criminalmente por não agir, pois
não tenho a obrigação jurídica de o fazer, apesar de ter uma certa “obrigação moral”
- TIPICIDADE
Obriga que aquela conduta seja prevista na lei como crime, pressupondo um conjunto
de elementos. E todo o tipo de crime pressupõe elementos objetivos, essencialmente
quatro:
1. Agente (questionar “QUEM?”)
2. Conduta (sendo importante distinguir os conceitos usados no dia a dia dos conceitos
jurídicos p.e. Se António dispara sobre a cabeça do amigo, matando-o, a conduta não é
matar, mas sim, disparar sobre a cabeça do amigo;
3. Resultado (a maior parte dos crimes pressupõe q haja um resultado (havendo
exceções como condução sob o efeito de álcool, falsificação de moedas, etc…);
4- Perceber se há ligação entre a conduta e o resultado (alguns elementos são
essenciais para se fazer essa ligação, como o DOLO ou a NEGLIGÊNCIA, sendo que a lei
estabelece critérios no artigo 13 do CP, logo, se a lei nada disser o crime é doloso).
Quanto ao dolo, é um erro conceptualizar o Dolo como uma mera “intenção”, pois
havendo intenção há dolo, mas há vários tipos de dolo que não dependem da
intenção. O mais certo seria conceptualizar o dolo como conhecer a realidade e
querer.
E a negligência não se caracteriza apenas pela ausência de dolo.
ILICITUDE
A ILICITUDE depende se o facto é ilícito, e não vá contra a lei, mas se o facto é típico
(preenche o tipo da lei) é ilícito, havendo causas de exclusão de ILICITUDE, p.e.
Legítima defesa
CULPA
Na culpa analisa-se o agente e significa “censurabilidade” (p.e. Quando a mãe
repreende o filho ao dizer “não faças mais isso” existe um género de censurabilidade)
ou seja, quando a pessoa atua de forma contrária a lei, quando devia ser conforme a
lei. A culpa envolve decisão, que pressupõe liberdade. As pessoas que não sabem
escolher em liberdade são chamadas de inimputáveis, que a lei prevê como sendo:
- menores de 16 anos;
- pessoas portadoras de uma anomalia psíquica.
A culpa pressupõe que o agente conheça a lei, ao contrário do que diz o artigo 6 do CC
sobre a ignorância a lei. Logo, só age com culpa quem se podia exigir que atuasse em
conformidade com a lei.
25/03
O direito penal pode intervir seja qual for a situação para proteger seja qual for o
interesse e com a pena que quiser? A resposta é não.
a) Apenas em ultima ratio (último caso), se a lei entende que deve tutelá-lo,
temos de ver se está suficientemente acautelado por outro bem do direito;
b) É necessário a tutela de um bem jurídico;
- Princípio da subsidiariedade
29/03
O direito penal caracteriza-se por ser o direito do facto, isto é, em termos práticos, que
o principal fator para apurar responsabilidade criminal de alguém é haver facto,
ocorrer uma determinada circunstância.
Direito penal do facto vs. Direito penal do autor.
O direito do autor, o que importava para apurar a responsabilidade criminal eram as
suas características pessoas. A ciência moderna determina que o fator determinante é
a existência de um facto e as suas características do mesmo.
O direito penal intervém como reação a esta conduta (facto), vem responsabilizar o
agente.
Nulla crimen nulla poena sine lege – não há crime nem pena sem lei.
O facto tem de estar previsto na lei como crime, no momento em que o agente atuou.
Nota: apesar de estabelecermos este princípio do direito penal do autor dar origem ao
direito penal do facto, isto não significa que não importa saber quem é a pessoa e que
as características do autor não revelam.
Por exemplo: o Código Penal caracteriza o homicídio como um crime que ocorre
quando alguém mata outra pessoa, contudo não significa que todo o agente que mate
outro seja considerado crime, é necessário verificar outros pressupostos.
Facto punível – conceito formal de crime: assenta numa ação e essa ação tem de ser
típica (tipicidade), ilícita (ilicitude) e culposa (culpa). Uma ação corresponde a um
comportamento.
Facto punível
|
Ação|----------- Tipicidade
| |----------- Ilicitude
| |----------- Culpa
|
Comportamento
1.1 Críticas
a) Por exemplo: quando alguém se dirige a outra pessoa e diz que o mata, pode
ser crime de ameaça. Quando chama a alguém ‘’filho da p*ta’’, é injúria. Não
houve movimento corpóreo, apenas foram preferidas palavras;
b) Por outro lado, este conceito de ação deixa de fora os crimes por omissão que
são praticados através do nada fazer, dado que não há movimento corpóreo.
2. Escola Neoclássica
a) A principal crítica à escola anterior é que um conceito não se refere a valores. A
escola neoclássica diz que há um novo conceito, a ação remete para um
comportamento que nega valores;
b) Há um conceito que se perde da Escola Clássica para a Neoclássica – do que se
trata este comportamento que nega valores?
c) Difícil distinguir ação com e sem relevância penal – principal crítica feita à
Escola Neoclássica.
3.1 Críticas
a) Comportamentos por negligência sou responsabilizado criminalmente por um
comportamento meu por distração, falta de cuidado (não saber que ia causar
aquilo). Isto gera responsabilidade criminal e, muitas vezes, a ‘’falta de
cuidado’’ resulta de nem ter previsto que aquilo podia ter acontecido, por isso,
falta a ideia de finalidade;
b) Como é que se insere as condutas por omissão? Nestas condutas sou
responsabilizado por não agir, não atuar, estar perante uma certa situação e
não atuar. Por exemplo: chego a um local onde há um acidente que tem
pessoas que precisam de auxílio. Se eu não chamar socorro, incorro num crime;
c) A questão da responsabilidade por participação – no direito penal, pune-se
aquele que foi o agente do crime e aquele que de alguma forma participou na
prática desse crime. Por exemplo: em caso de homicídio, se eu matar x pessoa
e pedir uma arma a y pessoa, ambos somos punidos, eu como autor e a y
pessoa como participante (cúmplice);
d) Não nos dá uma resposta suficiente para todas as atuações humanas, nem
todas as atuações humanas partem desta ideia de ação final.
Exemplos:
a) Imaginemos que o A vai a conduzir o seu automóvel e a meio da viagem o A
perde os sentidos, perde o controlo do carro e atropela 4 pessoas. Foi
totalmente fora do domínio do A, é uma ação que não é determinada pela
vontade;
b) Imaginemos que o A vai a conduzir há várias horas e dá-lhe o sono, sobe o
passeio e mata 2 pessoas que estavam a passar. Tinha a obrigação de se
manter desperto ou de não conduzir quando estava cansado, apesar de não ser
dominado pela vontade era dominável.
A partir deste conceito afastamos: atos que não sejam humanos e atos humanos que
não sejam frutos da vontade.
Exemplos:
a) Um amigo do professor num determinado dia decide enforcar-se e quando o
professor chega, encontra o amigo ainda vivo e, em vez de ajudar, decide ir
embora e o amigo morre. A dúvida que se coloca é se o professor pode ser
responsabilizado por homicídio por omissão?
b) A é médico num hospital, várias pessoas entram em estado grave. Sendo que
ele é o único médico, só conseguir acudir um paciente. Não pode ser
responsabilizado porque não conseguia acudir mais do que aquele paciente.
Omissão imprópria – são crimes de resultado, que por força do art.º 10 Código Penal
vou estender a responsabilidade também à omissão.
Quando é que o agente tem de agir? Quais são as fontes do dever de agir?
Dever de agir = dever de garante (proteger aquele bem jurídico).
Teoria formal – segundo esta teoria, que coloca a pessoa perante essa
obrigação de agir, é uma posição formal que ocupa. Segundo esta teoria,
podemos ter uma de 3 fontes do dever de agir:
o Lei (sou obrigado a agir porque a lei assim o diz);
o Contrato (pode ser um negócio jurídico, não tem de ser um contrato);
o Dever de ingerência (por exemplo: se atropelar uma pessoa, seja de
forma culposa ou não, tenho o dever jurídico de ajudá-la).
01/04
Caso Prático I
Em virtude do aspeto degradado das zonas urbanas e visando tornar a vida citadina mais
agradável, o Governo fez publicar no DR de 21 de Dezembro de 2011, o seguinte decreto-lei:
2. A título de pena acessória, pode o juiz impor a obrigação de limpeza da zona afetada. O
condenado far-se-á́ acompanhar de um cartaz informando o crime que praticou.
3. O presente diploma aplica-se a todos os factos praticados desde 01 de Julho de 2011 e
vigora enquanto não for possível eliminar todos os grafitis da cidade de Lisboa.
PERGUNTA:
Atendendo à matéria relativa ao princípio da legalidade, suas decorrências e desvios e aos
princípios constitucionais que enformam o direito penal e teoria dos fins das penas, diga que
críticas lhe merece o presente diploma, justificando a sua resposta.
Categorias analíticas do crime
Categoria analítica tipo (tipicidade – tem de estar escrito na lei se aquilo é crime).
‘’Quem matar outra pessoa’’ – temos de saber se é uma pessoa singular ou coletiva, se
tentativa de matar também é crime ou não. Se concluirmos que há tipicidade
passamos para a seguinte.
Ilicitude – contrariedade com a ordem jurídica. Há factos descritos a lei que a ordem
jurídica como agressão em legítima defesa, se preencher os pressupostos da tipicidade
e for provado que é legítima defesa, não é ilícito. Por exemplo: se roubar a mangueira
do meu vizinho para apagar um incêndio num prédio, não é ilícito porque roubei em
legítima defesa.
Culpa (agente) – juízo de censura que a ordem jurídica dirige ao agente que praticou o
ato ilícito quando podia e devia ter atuado de acordo com o direito.
Só no fim de preencher as três categorias que fazem análise do facto é que podemos afirmar
que há crime.
Se a pessoa, na categoria culpa, tiver 15 anos não é crime, não preenche a idade.
É um facto humano (ato humano), voluntário (dominado pela vontade ou que não foi
dominado pela vontade, mas podia ter sido)
05/04
Situação de facto coloca o agente com a obrigação de cumprir uma determinada função. Por
exemplo: dois cônjuges terem de atuar entre si para evitar um perigo ou protegerem-se.
Não é facto de a lei estabelecer esta vinculação, mas sim o facto de estar envolvidos por um
vínculo pessoal que os coloca num dever de proteção mútua.
Pode haver um de dois tipos de funções que a pessoa assume e que a coloca num dever de
agir:
Por exemplo:
Os tribunais aplicam ambas porque elas não se eliminam, isto é, uma acrescenta fontes à outra
sobre o dever de agir.
Nota sobre crimes por omissão: dever jurídico de agir não pode haver responsabilidade por
omissão
Por exemplo: imaginemos que estamos numa praia e uma pessoa começa a afogar-se, já
bastante longe da costa. Estava um indivíduo com um barco a motor perto do indivíduo que
estava a afogar-se (o indivíduo do barco NÃO tinha obrigação de ajudar quem se estava a
afogar) e decide aproximar-se. Contudo, chega perto do indivíduo e conclui que ‘’ele está
mesmo a afogar-se’’, dá meia-volta e deixa o indivíduo afogar-se. Havia obrigação de agir?
NÃO, contudo criou a expetativa que ia ajudá-lo, tinha consciência de que quem tinha a
obrigação de agir não o ia fazer (nadador-salvador ficou na costa porque achou que o indivíduo
do barco iria ajudar quem se estava a afogar).
Casos como o referido anteriormente levou a criar uma teoria que dê resposta a esta
questão:
Crimes de ação por omissão: o indivíduo teve a ação, contudo depois omitiu-a agindo.
A partir do momento que se inicia a ação, a pessoa tem obrigação de proteger o bem
jurídico
1. Concluir que certa conduta é típica, isto é, a conduta corresponde com o tipo de crime
(está previsto na lei como crime)
2. Estrutura do tipo:
3. Elementos do tipo:
Por exemplo: António pega numa pistola e mata o Bento – crime de homicídio. Qual é o
objeto? Bento, porque é nele que o bem jurídico (vida) se concretiza.
Se eu furtar um lápis, meter no bolso e levá-lo comigo não vale a pena trazer o direito penal,
porque se trata de um crime insignificante.
Há crimes ocorridos em certos contextos que são condutas próprias. Por exemplo: num
combate de boxe não existe crime à integridade física.
Elementos de tipo:
Modelos:
Até ao Código Penal de 1982, não havia responsabilidade criminal das pessoas coletivas. Em
1982, introduziu-se a responsabilidade das pessoas coletivas como exceção, mas só havia
responsabilidade no âmbito do chamado ‘’direito penal secundário’’, não havia um único crime
para o qual tivesse prevista responsabilidade de pessoas coletivas. Em 2007, com a revisão da
parte geral, alargou-se o âmbito da responsabilidade e passou a consagrar-se também a
responsabilidade das pessoas coletivas, em alguns crimes, caso expresso no art.º 11 Código
Penal.
Resultou de uma imperiosa necessidade de, em muitos dos crimes, não fazer sentido existir
desigualdade de tratamento, em que as pessoas singulares praticavam certos crimes e as
pessoas coletivas, muitas vezes, praticavam crimes mais graves sem ter qualquer
responsabilidade.
‘’As pessoas coletivas não praticam ações’’ – a ação é a conduta manifestada pela vontade.
No nosso direito penal não é regra, é apenas uma das penas. Nem só de pena de
prisão se faz o direito penal
Praticar um crime numa sociedade e a sociedade tirar proveito disso, todos os sócios
são beneficiados
Nota – para uma pessoa coletiva ser punida é preciso reunir os seguintes pressupostos:
1) O ato que gera responsabilidade criminal tem de ser praticado em nome da pessoa
coletiva
2) O ato tem de ser praticado em interesse da pessoa coletiva
3) o ato tem de ser pratica por quem tenha poderes de representar a pessoa coletiva
4) É preciso que aquela decisão tenha sido tomada no âmbito da pessoa coletiva
As penas que melhor encaixam são as penas económicas – as multas. São de natureza
pecuniárias.
Um outro tipo de sanção pode passar por uma suspensão de determinada atividade.
Para as pessoas coletivas, a pena de morte serve para extinguir as mesmas. Por regra, só se
admite a extinção nos casos em que se chega à conclusão de que aquela pessoa coletiva foi
criada para aquele fim, para a prática do crime. Por exemplo: algumas empresas, para fugirem
à obrigação do pagamento do IVA, criam empresas fictícias e estas empresas passam-lhes uma
fatura fictícia – são empresas criadas para fazer crimes
08/04
Art.º 131 Código Penal – homicídio simples ‘’quem matar outra pessoa...’’
Quem – agente
Matar – conduta (verbo sempre no infinitivo, mas nem todos os verbos no infinitivo
traduzem a conduta)
É um crime resultado (resulta em morte)
Outra pessoa – objeto da norma
1. Agente
Não tem de ter determinadas qualidades – apenas diz ‘’quem matar outra
pessoa é punido com pena de prisão’’
Crime geral ou comum – crimes que não exigem uma qualidade especial ao agente.
Crimes de dano – para a consumação do crime, a lei exige a efetiva lesão do bem jurídico. Por
exemplo: crime de homicídio, crime de ofensa à integridade física.
Crime de perigo concreto – há um perigo que vai ter de se verificar, não basta a conduta ser
perigosa, é necessário para haver consumação que se demonstre que existe realmente perigo.
Art.º 272 Código Penal.
Crime de perigo abstrato – a lei não exige olhar para a realidade e ver se esse perigo se
manifestou, basta-se apenas com a conduta. A conduta é em si mesmo perigosa.
Para a consumação há crimes que exigem a verificação de um resultado. O que é o resultado?
Os crimes de resultado são aqueles que para a consumação não basta a verificação da conduta
típica. Não basta o agente atuar da forma que está descrita na lei é necessário que se destaque
mentalmente, no tempo e no espaço, um determinado evento que designamos de conduta.
Por exemplo: crime de homicídio. É necessário que se verifique a morte, não basta a tentativa.
12/04
Alguns crimes – crimes de mera atividade/crimes formais – a conduta típica está verificada
com a simples identificação da conduta, ou seja, para o agente ser responsabilizado basta
empreender essa conduta independentemente das consequências da mesma. Apenas é
punido por ter praticado essa conduta – são situações excecionais.
Ao longo do Código Penal, existem condutas típicas que a lei nomina como sendo crime. Na
parte especial, temos o catálogo dos crimes. Por vezes, no contexto da descrição dos factos
que constituem crime, a lei identifica situações como não sendo crime. Por exemplo: a partir
do art.º 143 Código Penal (capítulo dos crimes de ofensa à integridade física), o mesmo diz que
‘’quem ofender corpo ou saúde é punido’’. Quando chegamos ao art.º 150 Código Penal, fala-
nos dos tratamentos médico-cirúrgicos ‘’os tratamentos (...) não se consideram ofensas à
integridade física’’. É um não crime.
A conduta traduz-se numa ação ou omissão que o agente empreendeu e a nossa principal
missão é aferir se a ação ou omissão está ou não prevista na lei como crime.
A maior parte dos crimes do nosso ordenamento jurídico são crimes de resultado – é preciso
verificar-se esse terceiro elemento – o resultado. Prevê que da conduta do agente algo se
tenha modificado, essa alteração é o resultado.
O resultado, considerando que a função do direito penal é a tutela do bem jurídico
fundamental, consubstancia-se, em regra, na lesão do bem jurídico. O crime de homicídio, a lei
diz ‘’quem matar outra pessoa’’, o bem jurídico em causa é a vida.
Em alguns tipos de crimes – crimes de perigo – basta alguém colocar em perigo. Por exemplo:
crime de exposição ou abandono (art.º 138 Código Penal), ‘’quem colocar em perigo a vida de
outra pessoa’’ não é preciso causar a lesão do bem jurídico, a conduta é típica (bastando
colocar em perigo a vida).
Nota: não esquecer que o direito penal se pauta pelo princípio da necessidade e princípio da
subsidiariedade, o que significa que o direito penal só deve intervir quando as lesões do bem
jurídico sejam lesões significativas.
Culpa
Regras/notas:
Esta teoria parte da seguinte ideia: todas as causas que tenham contribuído para
aquele resultado, ainda que irrelevante ou mínimo, são consideradas causa daquele
resultado. Por exemplo: atropelo uma pessoa e enquanto está a ir para o hospital, a
ambulância despista-se e a pessoa acaba por morrer. A pessoa ia morrer se a
ambulância não se despistasse? NÃO, logo a causa da morte foi a conduta da
ambulância.
Esta doutrina, na prática, levava a resultados inadequados e resultados que erram por
excesso e/ou por defeito.
Por exemplo: António compra arma e dá um tiro em Bento que acaba por matá-lo.
Qual foi a conduta mais eficaz? Estabelece-se a relação causal somente relativamente
a essa. Em muitos casos não é possível estabelecer qual a mais eficaz.
Por exemplo: António nem conhece Bento, pede uma fotografia e, em seguida, mata-
o. Qual destas condutas foi a mais eficaz? A primeira porque o outro nem sabia quem
era o Bento, o que mais contribuiu foram os 5 mil €, mas não faz sentido estabelecer a
relação com ele e não com a pessoa que realmente deu o tiro.
Esta teoria, no caso de incitação de outrem para cometer um crime, conduz a
resultados errados.
Vou atribuir o nexo causal à última que se tenha verificado. Esta é a que está mais
próxima do resultado.
Por exemplo: duas pessoas dão uma tareia e um tiro no peito. Passa um terceiro, vê-o
a morrer e dá-lhe um pontapé na perna, ele morre. A última causa é o pontapé e, à luz
desta teoria, não faz sentido – leva a resultados errados.
Olho para várias causas que tenho e tento identificar qual foi a decisiva. E aquela que
tiver tido influência decisiva, é essa que estabeleço a imputação objetiva.
Esta propõe que o raciocínio seja: temos um resultado e, a partir dele, tentamos aferir
o que é que pode ter causado aquele resultado, quais foram as condutas anteriores ao
resultado e analisar cada uma delas.
Causa adequada juízo de prognose póstuma
Critério homem médio (homem de previsibilidade normal).
Até que ponto era previsível que aquela conduta provocasse aquele resultado?
Art.º 10 Código Penal – deu acolhimento da teoria da causalidade adequada, por isso é a partir
dela que devemos estabelecer a relação entre uma conduta e um resultado.
Esta teoria deve ser corrigida e um dos critérios é o critério proveniente da chamada Teoria do
risco (perigo):
Devemos estabelecer imputação objetiva sempre que o agente, com a sua conduta,
cria, aumenta ou não diminui o risco proibido.
Esta teoria do risco traz-nos várias questões a partir das quais estabelecemos a
correção da teoria.
19/04
Teoria do risco
Risco – perigo (sinónimo). Queremos saber se aquela conduta ofereceu ou não perigo
para o bem jurídico
Se o perigo que eu crio com a minha conduta seja um risco permitido, um risco próprio
do dia a dia, não devo estabelecer imputação objetiva
Por exemplo: António tem um tio muito rico e o António é o único herdeiro do tio
(queria que ele falecesse para herdar tudo). Decide oferecer uma viagem de comboio à
Ucrânia, de modo que o tio leve com uma bomba e morra. O tio morre na Ucrânia, o
que era uma situação previsível de acontecer, no entanto é um risco permitido. Ele
não provocou nenhum ato que seja causador de perigo ilícito
Só devemos estabelecer imputação objetiva para os casos em que o risco que o agente
criou no bem jurídico, ainda que previsível, não seja permitido
2) Diminuição do risco
Por exemplo: estou num lado da estrada e há um carro que vai atropelar uma pessoa
(esse atropelamento é inevitável). Quando eu vejo que o carro vai atropelar a pessoa,
eu empurro a pessoa e ela, ao cair, parte o braço. Era previsível empurrar uma pessoa
e ela partir um braço? Sim, mas diminuiu o risco porque o bem jurídico que estava em
causa não foi violado (que era a vida)
Sempre que o agente com a sua conduta criar o risco (o bem jurídico não estando em
perigo, passa a estar com a conduta do agente). Já existindo o risco, o agente com a
sua conduta amplia esse risco
Por exemplo: se eu for a conduzir e alguém atravessar a estrada fora da passadeira
(existe risco), mas se eu for em excesso de velocidade, estou a aumentar o risco. Existe
imputação objetiva porque o agente vai para lá do risco permitido
Nota: existem algumas situações em que a própria lei, num ou noutro tipo de crime, o
legislador pode determinar o limite do risco. O próprio legislador, por vezes, pode
determinar o limite do risco. Sempre que o limite for ultrapassado, estou a aumentar o risco
e deve estabelecer-se imputação objetiva.
Só faz sentido estabelecer imputação objetiva se o risco que o agente criou, seja o
risco que a norma tenta proteger
Por exemplo: condutor de um camião que ao circular e ultrapassando um indivíduo
que ia de bicicleta não deu a distância que o código da estrada obriga. Ao ultrapassar o
ciclista que ia embriagado, o ciclista cai e o camião passa-lhe por cima, matando-o.
Devemos imputar a morte do ciclista ao camionista? O risco que o ciclista criou é o
risco que está fora da esfera de proteção da norma, ou seja, com este critério somos
obrigados a identificar qual é a ratio desta norma (que tipo de riscos) e se o risco que
aconteceu é o que a norma devia evitar (a norma – distância de segurança entre
automóveis e ciclistas – foi criada para evitar que um condutor bata num ciclista, não
foi para evitar que os ciclistas andassem embriagados)
Pode na sequência de factos haver mais do que uma conduta e pode haver uma
primeira que causa um determinado perigo e uma segunda que pode provocar o
mesmo perigo, mas num processo diferente
Por exemplo: António dá um tiro em Bento e o último vai para o hospital. É colocado
nos cuidados intensivos e há um incêndio no hospital que apanha esse local, Bento
morre queimado. O segundo processo causal veio a provocar o mesmo ou outro
resultado, mas de forma diferente
Por exemplo: António dá uma facada em Bento, Bento vai para o hospital e o médico
identifica a seguinte situação: Bento perdeu muito sangue e para garantir a sua
sobrevivência é necessário fazer uma transfusão de sangue. Bento, por motivos
religiosos, recusa-se a receber a transfusão de sangue e, por esse motivo, morre.
Podemos imputar a morte dele a quem lhe deu a facada?
Saber se este desvio é ou não relevante? Para responder a esta pergunta temos de
encontrar resposta à causa deste desvio: 1º hipótese – o desvio foi causado pelo
próprio agente (aqui o desvio é irrelevante) ou 2º hipótese – o desvio é causado por
terceiros ou pela própria vítima (aqui o desvio é relevante). Apenas vou estabelecer
imputação objetiva em relação a uma das condutas, ou seja, a desviante
Por exemplo: A envenena B com uma quantidade que irá causar a morte e demora
cerca de 20 minutos a atuar. Depois desses 20 minutos a morte é inevitável, mas A dá
um tiro em B e mata-o. Este invoca ‘’eu não aumentei nem criei risco, ele ia morrer e
eu só antecipei’’
Temos duas condutas com o mesmo resultado
Por exemplo: alguém está a escalar uma montanha e vê que um alpinista se
desequilibra e cai. É impossível não morrer. Nesse momento, vê o corpo e dá-lhe um
tiro, acertando-lhe na cabeça, pelo que ele morre e diz que só antecipou o que ia
acontecer
Devemos ou não estabelecer imputação objetiva relativamente à segunda conduta?
Sim! É irrelevante, portanto sim. É a relevância negativa da causa virtual
Por vezes, o legislador sente necessidade de vir a identificar que algumas situações em que
não haja imputação objetiva.
A vítima deixa se pôr em perigo. O agente coloca a vítima em perigo, mas a vítima permite que
ele a coloque em perigo. Por exemplo: António vai a conduzir o McLaren 720S com Bento ao
seu lado e este pede para ele acelerar. Bento está a permitir que António o coloque em risco.
Bento acaba por morrer.
Casos de concausalidade – aquele resultado tenha sido fruto de várias condutas imputáveis a
vários agentes, só uma dessas condutas seria suficiente para provocar o resultado. Trata-se de
concluir que foram efetivamente todos.
Resultados tardios – situação em que o agente tem uma atuação e o resultado veio-se a
produzir muito tempo depois dessa atuação. Podemos estabelecer imputação objetiva quando
um resultado ocorre assim, muito tempo depois?
Por exemplo: António dá um tiro na cabeça de Bento, Bento vai para o hospital e é
colocado nos cuidados intensivos. Esteve em coma durante 6 meses e não resistiu aos
danos provocados no cérebro pelo efeito do tiro e veio a morrer
22/04
Caso Prático
António avistou B e com o intuito de o agredir pegou numa pedra e atirou na sua direção. A
pedra acertou num braço de B provocando um grande hematoma e uma rotura de ligamentos
no ombro.
A conduta é de execução livre (o legislador não diz como é que tem de se ofender a
integridade física de outra pessoa)
É um crime de dano – não basta a colocação em perigo, exige uma lesão efetiva do bem
jurídico
26/04
Elemento subjetivo do tipo – questionar sobre saber se o agente apelou com vontade de
realizar aquele facto, as motivações (saber se o agente sabia ou não sabia que daquele
resultado).
Todos os tipos de crime preveem um elemento subjetivo – está presente e verificado no caso
concreto ou então a conduta não é típica (tipicidade prossupõe a presença de um elemento
subjetivo).
Art.º 13 Código Penal – regra essencial em matéria de tipicidade (regras que os crimes são, em
regra, dolosos).
O dolo é o elemento regra no âmbito da tipicidade nos crimes previstos no Código Penal.
29/04
Bem jurídico
Crimes de dano ou de lesão – o legislador, para haver uma consumação, não basta
que a conduta coloque em perigo o bem jurídico, é necessário haver uma efetiva
lesão. O art.º 190, por exemplo.
Crimes de perigo – dentro destes temos crimes de perigo concreto e crime de perigo
abstrato. Aqui basta o perigo, mas tem de se materializar.
Crimes formais – a consumação basta-se com a conduta. Por exemplo: crimes de
perigo abstrato são todos crimes formais. O crime fica consumado assim que o agente
atua. Por exemplo: conduzir com 1,3 de álcool no sangue, bastou o perigo.
Crimes materiais/de resultado – todos os crimes de perigo concreto. Por exemplo: o
crime de art.º 138 Código Penal – ‘’quem abandonar uma pessoa colocando-a em
perigo...’’.
Caso Prático I
Alínea a):
Alínea b):
Alínea c):
03/05
Dolo
As formas de dolo revelam que o dolo não se confunde com a intenção, o dolo
pressupõe a vontade de realizar o facto
Qual o dolo que ele verdadeiramente manifestou?
Sempre que falamos de dolo (conhecer e querer os elementos do tipo), nós estamos a
falar do dolo enquanto elemento subjetivo da tipicidade, portanto não faz parte do
conceito do dolo o agente saber que a sua conduta é ilícita
Consciência da ilicitude não integra o dolo
Art.º 17 Código Penal – demonstração do que foi dito anteriormente
Por exemplo: António pega num ferro e agride Bento com o intuito de causar uma
lesão na sua integridade física, durante essa execução o António assume a vontade de
matá-lo. Dá-lhe pancadas e decide matá-lo – altera o seu dolo durante a atuação
(como é que responsabilizamos o agente? Ofensa à integridade física? Homicídio?
Revela outro dolo, logo comete outro tipo de crime). Não faz sentido puni-lo pelos dois
crimes pelo mesmo facto (tem de estar em causa o mesmo objeto, a mesma vítima)
Dolus generalis (dolo geral) – encaramos a situação como uma só, punimos o agente
pelo crime que corresponde ao dolo mais grave (neste caso, crime de homicídio)
Notas: a atuação do agente é feita no mesmo objeto, por exemplo: dou um soco e acabo por
provocar a morte, na mesma vítima.
Por exemplo: dou um tiro no braço do Chico para o ferir, a bala passa de raspão e atinge o que
está atrás dele na cabeça. Neste caso, tenho um resultado doloso e outro negligente. Existem
dois crimes, são dois objetos diferentes.
O elemento determinante para saber se imputamos o crime à pessoa é o dolo. Por exemplo:
soco no nariz e acaba por falecer, o resultado é imputado à sua conduta. O crime não é de
homicídio porque tinha de dar um soco na vítima com dolo de matar (crime de ofensa à
integridade física agravado pelo resultado).
Por exemplo: dirigiu-se à Maria e deu-lhe um murro na barriga, sabendo que ela estava grávida
de 5 meses. Teve uma hemorragia e perdeu a criança, na sequência dessa hemorragia ficou
incapacitada e não pode ter mais filhos.
1) Especiais intenções
A lei, ao descrever a conduta identificamos o dolo, pode exigir que seja necessário
identificar que o agente atuou com uma especial intenção
Por exemplo: crime de furto (art.º 203 Código Penal). O dolo é tirar o bem e saber que
não é meu, mas além do dolo ‘’especial intenção de...’’
2) Motivações
A negligência não se traduz na ausência de dolo, portanto temos de saber caracterizar o facto
negligente.
O que define a negligência (pressuposto fundamental) assenta no facto do agente não ter
cumprido com o dever de cuidado.
Nota: violação ou não do dever de cuidado – saber como é que vou ver, na prática, se aquela
pessoa ao atuar daquela forma violou ou não o dever de cuidado.
Qualquer outro médico fazia de x forma, eu sabia fazer de forma diferente. Devo considerar
que foi negligente? Como é que podia fazer melhor se eu não sabia fazer melhor? Se eu não
sei fazer, estou quieto. Não devo fazer aquilo para o que não estou habilitado.
Naquele caso concreto, pressupõe as circunstâncias em que se encontra, o que pode fazer,
qual o crime que existe, o que queremos saber é se o indivíduo tinha ou não ao agir o dever de
cuidado? Haviam determinados cuidados que ele tinha de cumprir?
Princípio da confiança – se o agente pode não ter atuado com o cuidado que devia porque
confiou que o outro cumpria o cuidado.
Quando há divisão de tarefas, numa atuação de vários cada um tem uma missão e eu não
cumpro o dever de cuidado porque eu deleguei esse dever de cuidado no outro.
Negligência consciente – art.º 15, alínea a) – o agente sabe que da sua atuação, vai
acontecer aquele resultado, mas confiou que não acontecia
Negligência inconsciente – art.º 15, alínea b) – a falta de cuidado reside no facto dele
nem se quer ter admitido como possível que aquilo acontecesse (não admitiu que
aquela circunstância podia acontecer a partir da sua conduta). A sua negligência reside
no facto de nem ter equacionado que aquilo podia acontecer, daí o seu descuido
Graus de dolo – forma mais grave (dolo direito) e forma menos grave (dolo eventual)
Graus de negligência – forma mais grave (consciente) e forma menos grave (inconsciente)
O comportamento do agente afasta-se daquele cuidado que ele devia ter tido, isto pode
revelar-se nas mais quotidianas atividades.
Nota: os crimes negligentes (só é quando a lei prevê) são por natureza crime por resultado.
Dificilmente encontramos uma conduta negligente punida por lei num crime de mera
atividade, porque o cuidado é o cuidado de evitar aquele resultado (em regra). Não quer dizer
que a conduta negligente não seja compatível com crime de mera atividade.
Por exemplo: crime de condução sob o efeito de álcool – crime de mera atividade que é
negligente.
Elemento-chave – o facto de não ter intenção não quer dizer que não tenha dolo, por outro
lado, o facto de não ter dolo não quer dizer que a conduta seja negligente.
É verdade que os crimes negligentes são exceção, normalmente são dolosos. Uma das
mais recentes evoluções foi o direito penal do risco que está associado à necessidade
de serem controlados riscos decorrentes do próprio processo tecnológico (crimes
ambientais).
Num ou noutro crime, o legislador sente a necessidade de identificar diferentes graus
de negligência. Por exemplo: provoco um acidente de viação numa estrada onde o
limite é 100km/h e eu vou a 140km/h. Provoco um acidente. A minha conduta é
negligente, continua a ser negligente se for a 200km/h em vez de 140km/h.
O legislador introduz o conceito de negligência grosseira (art.º 137 Código Penal) –
uma forma mais grave de negligência, a forma como se afasta dos seus elementares
deveres é mais grave. A forma como cumpro o meu dever de cuidado é mais grave. A
sua leviandade é muito maior.
Por exemplo: provoco um acidente por uma conduta negligente e com esse acidente
provoco que um autocarro vá pelo monte abaixo e morrem todas as pessoas (30
mortes). A discussão que tem sido feita é que devo ser punido por um único crime ou
devo ser punido por 30 crimes porque eram 30 pessoas? Os nossos tribunais
respondem de maneira diferente a esta questão. A sua conduta releva um único
desvalor, o agente deveria ser responsabilizado por um único crime. (Contudo, para o
professor, o direito penal protege o bem jurídico que o sujeito lesou ou ameaçou). O
agente deve ser responsabilizado por 20 crimes, porque foi uma morte que ele não
evitou com a sua conduta (na visão do professor).
Qual era a pena que cabia para cada crime – o tribunal decidia punir para cada
crime desses, 2 anos de cadeia por cada uma das mortes. Como é que é feito o
cúmulo? De todas as penas aplicadas, a que for maior, neste caso como eram
todas 2 anos, este era o limite mínimo e o limite máximo é o somatório de
todas as penas. A soma daria 40 anos, como a nossa lei limita a pena de prisão
em 25 anos, ele tinha uma pena entre 2 a 25 anos e o tribunal tem de
encontrar a pena justa, dentro desse intervalo.
10/05
Crime de dano/lesão – tem de haver a efetiva lesão do bem jurídico (o resultado foi a
efetiva lesão do bem jurídico). Opõem-se aos crimes de perigo.
Crime agravado pelo resultado – o dolo do agente corresponde ao crime que cometeu.
Por exemplo: crime de ofensa a integridade física simples, dei um murro no nariz do
João com intenção de magoá-lo, contudo acabou por ter uma hemorragia. O murro foi
doloso, mas houve ainda um resultado negligente mais gravoso (ter uma hemorragia)
Erro intelectual – coloca-se quando o agente está em erro sobre a realidade de facto. É
um erro sobre os factos, não são como ele os imagina.
Art.º 17 Código Penal – erro de valoração ou erro moral. A realidade é como o agente
imagina, mas ele faz dela uma valoração diferente. A relevância opera em sede de
culpa.
Erro por defeito – maioria das situações erra por defeito porque não sabe que existe
aquela realidade (nem lhe passa pela cabeça que está a cometer um crime porque
aquele objeto não existe)
Erro por excesso – agente imagina que a realidade é mais do que ela é, o agente pensa
que o objeto existe, mas não existe. Por exemplo: A quer matar B e à noite aproximou-
se da casa de B com uma arma na mão. Olhou para dentro das janelas e viu um vulto
dentro de casa de B e pensou ‘’está ali o Bento’’ e dispara sobre esse vulto. Quando foi
ver que tinha matado o B, reparou que era apenas um relógio. Deu apenas um tiro no
relógio a achar que estava a matar o B (tentativa impossível – porque tentou matar o
B, mas o B não estava lá).
Erro intelectual – art.º 16 (erro sobre factos, logo afeta o elemento intelectual)
Erro plural/de valoração – art.º 17 (o agente valora mal)
Erro que estamos a tratar é sobre factos, o erro reflete-se no elemento intelectual. O
erro está no conhecer, porque não conheço a realidade.
Alves
Conduta – dá uma facada em João e Miguel
- Integridade física simples – art.º 143 Código Penal
- Dolo direto (o agente conhece e quer a realidade do facto) – art.º 14, n.º 1 Código
Penal
Bento
Conduta – não dá prioridade à ambulância e mata os dois bombeiros e João
Bento age com dolo porque conforma-se com o resultado, ele quer é chegar a tempo
ao Porto de Lisboa
- Dolo eventual (o agente sabe que existe uma consequência provável da sua conduta,
mas age na mesma) – art.º 14, n.º 3 Código Penal
- João vai na ambulância e morre, segundo a Teoria do Risco, houve um
comportamento lícito alternativo, dado que, mesmo que chegasse ao hospital, morria.
Logo, não se estabelece imputação objetiva de Bento a João, mas estabelece-se de
Bento aos bombeiros (homicídio – art.º 131 Código Penal)
Miguel
Conduta – recusa tratamento hospitalar e dirige-se para casa, sem saber que era
hemofílico acaba por sofrer uma hemorragia incontrolável, morrendo
- Não se estabelece imputação objetiva na morte de Miguel, porque, apesar de ter
levado uma facada, este recusa-se a receber tratamento. Deste modo, a vítima
provoca um desvio no processo causal (que é relevante) e Miguel morre por não
receber o tratamento, não por ter sido esfaqueado.
Jaime empurrou Luís, visto que o último ia ser atropelado. Ao cair, Luís partiu o braço.
Era previsível que Luís partisse o braço, de acordo com a Teoria da causalidade
adequada. No entanto, a Teoria do Risco vem corrigir afirmando que aconteceu uma
situação de diminuição do risco, visto que o salvou de ser atropelado.
A ação não é penalmente relevante, pelo que não estabelecemos imputação objetiva.
Caso Prático IX
Chico – eletricista
Diogo – patrão
A ação não é penalmente relevante, pelo que não estabelecemos imputação objetiva.
Segundo a teoria da causalidade adequada, era previsível que Chico morresse por não
usar o equipamento. Contudo, a teoria do risco afirma que se trata de uma situação de
comportamento lícito alternativo, visto que, mesmo que Chico utilizasse o
equipamento necessário, morria.
- A corta os travões de B para que este morra – dolo direto (art.º 14, n.º 1 CP)
- Ação penalmente relevante, dado que é dominado pela vontade do agente
- C, inimigo de B, coloca-se na curva e dá-lhe um tiro nos pneus para que este tenha
um acidente e morra – dolo direto (art.º 14, n.º 1 CP)
- Segundo a Teoria da Causalidade Adequada, através do juízo de prognose póstuma, o
homem médio consegue prever, colocado nas mesmas condições de tempo, espaço e
conhecimento do agente, que da conduta conduzia àquele resultado (nexo de
causalidade). No entanto, segundo a Teoria do Risco, há um desvio do processo causal
em que a segunda conduta provoca o mesmo resultado, mas de uma forma diferente.
Deste modo, B morre do tiro nos pneus e como é um desvio causal causado por
terceiro, só se estabelece imputação objetiva à conduta desviante (a segunda
conduta). Não há imputação objetiva em relação a A.
- C incorre num crime de homicídio (art.º 131 CP)
- A incorre num crime de tentativa de homicídio (art.º 131 CP)
- Crime geral, de dano (bem jurídico – vida), de execução livre, de resultado
17/05
O exemplo mais típico é aquele em que a pessoa falha a pontaria, falha a execução. A
quer dar um tiro em B, aponta a arma e falha, acertando em C.
Como resolvemos estas questões? Não se trata de uma situação de erro previstas no
art.º 16 Código Penal (erro sobre a realidade, situações em que este capta a realidade
de uma forma e ela é de outra).
Solução? Nestes casos, como o do exemplo do tiro, o autor diz-nos que temos de punir
o agente por dois crimes, porque ele, ao apontar a arma a B e disparar com o intuito
de o matar, age dolosamente e colocou a vida de B em perigo. Só não foi executado,
porque era outra pessoa, deve ser responsabilizado por tal (é punido por tentativa).
Por outro lado, A com a sua conduta atingiu C, pelo que lesou o bem jurídico. Deste
modo, não pode deixar de ser responsabilizado. Como o seu dolo não era dirigido a C,
houve uma falta de cuidado na forma de executar o seu facto, por isso a morte de C é-
lhe imputada a título de negligência.
O agente deve ser responsabilizado em concurso: dolo no objeto que queira atingir e
negligência no objeto que atingiu.
Erro sobre o objeto – queria atingir o B e atingi o C, estes autores afirmam que não
devia haver diferença entre casos (aberatiu ictus e erro sobre o objeto).
Teoria da Equivalência
Vem propor que quando há execução defeituosa (há o objeto visado – objeto
que o agente quer atingir com a sua atuação e o objeto atingido – objeto que o
agente acabou por atingir). Nós devemos verificar se os objetos são
equivalentes, isto é, a lei tem de tratar da mesma forma (segundo esta teoria,
os objetos são equivalentes se atingir o objeto visado ou o objeto atingido
trata-se do mesmo crime).
Por exemplo: A quer matar B e acerta em C – o objeto é sempre uma pessoa, a
lei não protege B de forma diferente de C. Assim, a execução defeituosa não
tem relevância e o agente deve ser punido por aquele crime doloso.
A solução será diferente quando os objetos não forem considerados
equivalentes. Por exemplo: atiro uma pedra para partir uma montra de uma
loja, falho e acerto numa pessoa.
Por exemplo: A quer matar B porque B se prepara para matar A. A, ao ver isto,
dispara sobre ele, com o intuito de se defender só que falha e acerta em C. O
objeto visado era o B, o objeto atingido é o C.
Utilizando a teoria da equivalência era equivalente? Não, porque matar o B era
em legítima defesa e matar o C não era. As condutas não são tratadas da
mesma forma.
Por exemplo: A quer matar B (objeto visado) e falha na execução e atinge C. No
fim de matar C afirma ‘’eu queria matar B’’, dispara o segundo tiro e mata B.
Como é que A é responsabilizado neste caso? O 1º tiro era direcionado a matar
uma pessoa e matou outra (homicídio doloso) e o 2º tiro foi direcionado a
matar uma pessoa e matou outra (homicídio doloso).
Art.º 16 Código Penal – podemos encontrar o erro sobre elementos normativos (na
segunda parte). A pessoa desconhece efetivamente determinadas características
normativas.
Elementos normativos
Erro sobre as qualidades normativas do autor
o Pode estar em causa o facto do próprio autor não saber que a lei lhe
confere um determinado estatuto, a lei lhe atribui uma determinada
qualidade. O seu facto só constituía crime se ele tivesse essa qualidade
que ele não sabe que tem (desconhece essa característica) – art.º 16,
n.º 1 Código Penal.
o Como não sabe que tem essa qualidade, não é doloso.
o Por exemplo: crimes cometidos por funcionários – o agente desconhece
que a lei lhe atribui a qualidade de funcionário (qualidade normativa).
o Por exemplo: alguém compra um relógio a outro e no fim de fazer o
negócio. Fazem o negócio e o outro não lhe paga, como ele alega que o
relógio já é dele, vai atrás dele e parte o relógio. Está a cometer um
crime de dano, sem ter noção – erro de ilicitude (art.º 17 Código Penal).
o Erro sobre proibições – o agente não sabe que aquela conduta que está
a praticar é crime. Este erro pode ser subsumível ao art.º 16, n.º 1,
tendo como consequência, a exclusão do dolo.
o Erro sobre a lei pode beneficiar o agente, para percebemos o art.º 16,
n.º 1 temos de analisar o art.º 17 – ‘’erro sobre ilicitude’’.
o Quando é que eu não saber que a conduta é proibida deve conduzir à
exclusão do dolo? O art.º 16 trata do problema da falta de
conhecimento na medida em que o agente não sabe, não conhece
aquela circunstância nem podia saber.
o Em determinadas situações, haver uma proibição que a agente não
conhece nem tinha como conhecer.
o Proibição nova – a lei prevê a proibição há pouco tempo. Além de ser
nova, tem de ser uma proibição axiologicamente neutra (não colide com
valores essenciais).
o Por exemplo: um cidadão estrangeiro chega a Portugal e comete um ato
que no país dele não é crime. O consumo de estupefacientes é livre na
Holanda, contudo não é permitido em Portugal. Traz uma mala cheia de
canábis e é encontrado no aeroporto. É uma proibição nova? Para ele
sim. É axiologicamente neutra? Não, porque todos os cidadãos têm a
obrigação de saber o que é legal num país, pode não ser noutro.
o Há crimes que não têm carga ética (são axiologicamente neutros).
o Por exemplo: numa aldeia no interior, um senhor tinha uma taberna e
um dia apareceu um vendedor de máquinas de jogo que pretendia
instalar a sua máquina na taberna. Só tinha de passar no fim do mês e
repartir o dinheiro. Instalou um jogo de cartas (poker) em que a pessoa
jogava contra a máquina e o ganhar dava um prémio (ia jogando contra
uma imagem de uma senhora e quando começava a ganhar, a imagem
de uma senhora ia perdendo roupa). Apareceu a polícia e afirmou que
se tratava de um jogo de fortuna ou azar, o homem do café não fazia
ideia do que isso era (o homem foi enquadrado no art.º 16, n.º 1 – tinha
a obrigação de saber que atividade explora).
o A aplicação do art.º 16, n.º 1 só se aplica porque a pessoa porque a
proibição é nova e investida na carga ética, a sociedade não interioriza
como uma proibição.
o Se for integrado no art.º 16, o dolo é excluído automaticamente. No
art.º 17, é um erro censurável (não exclui o dolo).
o A consequência do art.º 16, n.º 1 é a exclusão do dolo, mas isso não
significa que seja exclusão de crime.
‘’Fica ressalvada a punibilidade da negligência nos termos
gerais’’ – art.º 16, n.º 3 Código Penal.
o Primeiramente, temos de analisar se não for um crime que admite
punibilidade por negligência, se não admitir excluindo o dolo não há
crime. Segundo, temos de ver se é comportamento negligente, se
cometendo erro foi erro por descuido. Por exemplo: dar um tiro no
escuro e matar uma pessoa (erro sobre a existência do objeto) – exclui o
dolo, mas não pode excluir a negligência, ele devia ter visto se estava lá
alguém.
Erro sobre as qualidades normativas do objeto
24/05
Esse desvalor do facto, para que um facto seja desvalioso, isto encerra um triplo
significado:
1. Há correspondência com o tipo de crime – isto é, está previsto na lei como
crime, é uma conduta proibida por lei.
2. Viola um bem jurídico.
3. Não está justificado – ou seja, não está abrangido por uma das causas de
exclusão da ilicitude do facto.
A partir do desvalor do facto, podemos estabelecer logo uma diferença entre situações
que justificam a intervenção do direito penal e as que não necessitam do direito penal.
Por exemplo: em vez de dar um beliscão, tinha arrancado um braço fora. É uma ofensa
à integridade física e justifica a intervenção do direito penal. Existe uma diferença
entre dar um beliscão e cortar um braço fora. Com o desvalor do resultado, varia o
grau de ilicitude e o legislador afirma que estas ofensas não se enquadram no art.º
143, mas sim no art.º 144 Código Penal. A minha conduta é ilícita e desvaliosa, mas
varia o desvalor de resultado. A pena deixa de ser até 3 anos de pena de prisão, passa
a ser até 10 anos de pena de prisão.
O facto típico, em princípio, é ilícito. Porque a lei prevê condutas que lesam bens
jurídicos, portanto se tenho uma conduta que lesa um bem jurídico, à partida, tenho
uma conduta contrária à lei. Contudo, pode acontecer que encontremos circunstâncias
que têm como efeito afastar o desvalor do facto – circunstâncias que provocam o
efeito justificador.
Causas de justificação – o que é que o nosso Código Penal nos refere, o que seja
exclusão de ilicitude? Art.º 31 e ss. do Código Penal – abordam-nos as circunstâncias
que têm como consequência a exclusão da ilicitude.
É possível encontrarmos causas de exclusão de ilicitude que nem estão na lei, resultam
de princípios ou do costume.
O facto de um bem jurídico estar protegido no CP e, por isso, está tipificado como
crime a conduta que lesa o bem jurídico, não significa que o direito penal tinha de
obrigatoriamente punir todas as condutas que lesam esse bem jurídico.
- A nossa lei, no CP, protege a vida (crime de homicídio) porque a nossa CRP define que
a vida é um bem jurídico supremo/fundamental.
O facto de a vida exigir tutela e no CP haver essa tutela, não significa que toda a pessoa
que mate outra tenha de ser punida, porque para que o seja a sua conduta tem de ser
desvaliosa. Podemos admitir que A mate B e a sua conduta não ser desvaliosa.
Por exemplo: vou na rua e vem o António (meu inimigo) que já tinha dito que quando
me visse ia matar-me, quando vem na minha direção eu penso que ele me vai matar e
nisto o António tira um objeto do bolso e antes que ele me dê uma facada, pego numa
pedra e dou-lhe com ela na cabeça. Ficou provado que ele era um isqueiro e ele ia
apenas acender um cigarro, eu pensei que ele me ia agredir, mas não era o caso. Seria
legítima defesa, mas não é – legitima defesa putativa (imagino a realidade primeiro, a
realidade não é como eu imaginei, logo a minha conduta não está justificada e estou
em erro em relação aos factos).
31/05
Erro suposição – o agente pensa que a realidade é de uma forma e esta é de outra
Temos de saber se o agente sabia ou não que estava a atuar contra a lei, que a sua
conduta estava abrangida por uma exclusão de ilicitude.
A solução está no critério da evitabilidade – verificar se esse erro era ou não evitável
Agir com meio necessário – o que é que entendemos como meio necessário? O art.º
32 teve uma evolução e, na sua redação anterior, o agente tinha de atuasse com
proporcionalidade. Atualmente, a lei deixou de exigir a ideia de proporcionalidade.
Não tem de ser proporcional, porquê? Porque o momento em que atuo em legítima
defesa, é um momento de stress, estou prestes a ser vítima de agressão, não consigo
saber os meus limites. Não há disponibilidade mental para fazer essa ponderação
nesse momento. Por exemplo: se for completamente desproporcional, alguém passa
numa mercearia e leva laranjas, eu vi e vou atrás deles e mato-os. É completamente
desproporcional.
Na legítima defesa, o elemento subjetivo é saber que está a ser vítima de uma
agressão (animus defendeudi).
07/06
Direito de necessidade
Art.º 34 – tem de ser um interesse juridicamente protegido. Estamos numa
situação que ameaça o bem jurídico.
Estão previstos outros requisitos que têm de se verificar para o agente estar em
legítima defesa.
1º requisito – não ter sido o agente de forma voluntária a criar a situação de perigo.
2º requisito – é o principal e determina o essencial que justifica a conduta. É o
requisito da ponderação de interesses.
14/06
Poder de detenção – art.º 255 Código Processo Penal. Este poder é em caso de alguém
estar a cometer um crime chamado ‘’flagrante delito’’ – a pessoa está naquele
momento a praticar ou acabou de praticar. A lei confere a possibilidade de os agentes
de força de segurança poderem deter a pessoa.
Por exemplo: greve dos médicos – um médico de greve não estará a acudir algum
paciente com necessidade da sua intervenção.
É possível, por força do art.º 31 Código Penal, as causas de exclusão de ilicitude não se
esgotam no Código Penal. O artigo diz que devemos atender à ordem jurídica
consagrada na sua globalidade.
As causas de exclusão de ilicitude apresentadas até então são causas que funcionam
para qualquer crime, desde que se verifiquem os requisitos e pressupostos da causa de
exclusão de ilicitude, no entanto, o nosso legislador entende que para certos tipos de
crime se justifica a criação de causa de ilicitude específica.
Art.º 142 – interrupção voluntária da gravidez não punível. A lei descreve
circunstâncias em que se os requisitos tiverem preenchidos, o crime de aborto não é
crime.
Em muitos tipos de crime, a lei prevê circunstâncias que aquela conduta não será
responsabilizada penalmente. Nem sempre a circunstância tem como consequência a
exclusão da ilicitude, por isso se impõe que quando interpretamos um tipo de crime e
identificamos que aquela conduta naquelas circunstâncias afasta a responsabilidade,
necessitamos de identificar quando é que o fundamento assenta na exclusão e
ilicitude.
Para assentar nesta exclusão, temos de perceber que o que está em causa é a
justificação do facto.
Não há responsabilidade criminal que não se funde na culpa. Sem culpa não há
responsabilidade criminal.
21/06
A primeira situação que podemos ter é o erro direito sobre a ilicitude: o agente não
conhece a norma proibitiva, algo estatui uma conduta como crime, o agente
desconhece tal coisa.
Não sabe que a conduta tipifica para aquele comportamento um crime.
Não quer dizer que tenhamos aqui a solução para todos os nossos atos.
Em certas situações, o agente não pode ter consciência que a sua conduta estabelece
um crime, mas já levantávamos isto no art.º 16, n.º 1 – onde o mesmo prevê o erro
sobre proibições na sua última parte.
No erro sobre proibições, só estão proibições novas sem relevância ética e excluem o
dolo.
A pessoa não tem consciência da ilicitude (penal), estou a praticar um crime, mas não
tenho consciência que é crime.
O problema na base é semelhante, no art. 16, n.º 1 parte final (erro sobre a proibição)
é um problema de consciência psicológica. No art.º 17 é um problema de consciência
ética.
16 – Exclui o dolo.
17 – Exclui a culpa.
Podemos ter também o erro sobre ilicitude indireta, ele até sabe que é proibida, só
que pensa que no caso da sua atuação ela está permitida, aqui temos de abrir duas
possibilidades.
Erro de permissão: o agente pensa que a sua conduta, apesar de configurar um tipo de
crime, está abrangida sobre uma causa de exclusão de ilicitude, sobre a qual a lei não
configura (o seu erro não é sobre o facto, mas sobre a configuração).
Por exemplo: temos um indivíduo a andar na rua e vê a mulher dele de braço dado
com outro e pensou que isto é uma agressão e pregou-lhe um uppercut estilo
McGregor, porque pensava que a lei permitia que ele reagisse e que podia defender-se
da agressão, o que não é o caso.
Erros sobre os limites de uma causa de exclusão de ilicitude – o agente sabe que a
conduta é proibida, que está a agir sobre uma causa de exclusão de ilicitude, mas está
a agir fora dos limites dessa causa, quando está a fazer o contrário.
Por exemplo: A dá outro uppercut estilo McGregor ao B e o último agride o A. Como
sabemos, a legítima defesa não me permite responder, mas sim defender. Na cabeça
do agente, pensa que compreende a parte do responder, pensa que está dentro dos
contornos da legítima defesa, mas não está.
Como é que sei se estou perante o art.º 16, n.º 2 ou 17? Tudo depende se o erro é
sobre factos ou valoração dos factos. Se for facto, é o art.º 16, se for sobre valoração
dos factos, é o art.º 17.
O erro é censurável ou não? Quando vamos aferir isto, temos de apurar e colocar-nos
no lugar do agente com os seus conhecimentos ou não do caráter ilícito da sua
conduta, tinha ou não tinha de se ter uma noção que aquela conduta consulta crime,
se chegarmos à conclusão de que sim (o erro é censurável) e não devia pensar que a
conduta é lícita.
28/06
Este art.º 37 prevê que a ordem que o indivíduo recebe seja um crime, mas ele não
que é crime, não tem consciência disse e, por isso, obedece a essa ordem, convencido
que é uma ordem legitima e tem de cumprir.
A nossa lei prevê que se se puder considerar aceitável mais uma vez recorrendo ao
critério do homem do médio, o desconhecimento do caráter ilícito da ordem dada, ela
conduz à exclusão da culpa.
A atitude interna do agente de decidir ‘’eu vou atuar dessa forma’’ não merece
censura, é indispensável que haja a presença do elemento subjetivo. Só posso afastar
esse juízo se souber que está a afastar o perigo. A presença do elemento subjetivo no
âmbito das causas de desculpa é indispensável. Se este não se verificar, a atuação do
agente é culposa ou se verifica o elemento subjetivo, ou o agente não preenche a
causa de censura.
Elemento subjetivo: saber que está naquela circunstância. Legítima defesa (saber que
está em legítima defesa), estado de necessidade (saber que existe o perigo).
Há situações em que o agente não vai ser responsabilizado (porque morreu – extingue
a responsabilidade criminal – ou prescrição – há um tempo para a justiça atuar, se não
atuar dentro desse tempo e, esse tempo, varia em função da pena prevista para o
crime cometido).
Prescrição da pena – fui condenado a prisão, vou para casa até se lembrarem (na
esperança de que se esqueçam)
Prescrição da lei – é aplicado dentro aquele tempo ou não dá