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Direito Penal II

22/03

Qualquer crime que se pratique tem que reunir os pressupostos da responsabilidade


criminal. E quais são os pressupostos?
São 3: TIPICIDADE, ILICITUDE E CULPA.

Dicas: 1 - DOMINAR OS CONCEITOS PRINCIPAIS, ex.: DOLO;


2 - USAR OS CONCEITOS NOS SÍTIOS CERTOS.

A responsabilidade criminal é responder perante o Estado, e não perante um outro


indivíduo. Esta pressupõe um facto, e esse facto pressupõe uma ação, e uma ação
advém dos atos que pratique sob o fruto da vontade. Portanto, para existir
responsabilidade criminal convém haver ação dominada pela vontade (ação humana,
já que p.e. as ações dos animais não são responsabilizadas criminalmente, exceto
quando p.e. o dono do cão atiça o seu cão a atacar outro indivíduo), e ações humanas
fruto da vontade (sendo importante a precedência ou a proveniência da ação).

Nota: Dentro do conceito de ação pode estar abrangida a omissão, que só gera
responsabilidade criminal se o indivíduo tiver a obrigação de agir. P.e. Se alguém
estiver deitado no chão, prestes a morrer e eu passar por essa pessoa e não prestar
auxílio, e essa pessoa morrer, caso se tenha comprovado que o meu auxílio salvaria
essa pessoa, ainda assim não seria responsabilidade criminalmente por não agir, pois
não tenho a obrigação jurídica de o fazer, apesar de ter uma certa “obrigação moral”

Abordaremos os 3 elementos ou pressupostos da Teoria Geral da infração:

- TIPICIDADE
Obriga que aquela conduta seja prevista na lei como crime, pressupondo um conjunto
de elementos. E todo o tipo de crime pressupõe elementos objetivos, essencialmente
quatro:
1. Agente (questionar “QUEM?”)
2. Conduta (sendo importante distinguir os conceitos usados no dia a dia dos conceitos
jurídicos p.e. Se António dispara sobre a cabeça do amigo, matando-o, a conduta não é
matar, mas sim, disparar sobre a cabeça do amigo;
3. Resultado (a maior parte dos crimes pressupõe q haja um resultado (havendo
exceções como condução sob o efeito de álcool, falsificação de moedas, etc…);
4- Perceber se há ligação entre a conduta e o resultado (alguns elementos são
essenciais para se fazer essa ligação, como o DOLO ou a NEGLIGÊNCIA, sendo que a lei
estabelece critérios no artigo 13 do CP, logo, se a lei nada disser o crime é doloso).
Quanto ao dolo, é um erro conceptualizar o Dolo como uma mera “intenção”, pois
havendo intenção há dolo, mas há vários tipos de dolo que não dependem da
intenção. O mais certo seria conceptualizar o dolo como conhecer a realidade e
querer.
E a negligência não se caracteriza apenas pela ausência de dolo.

ILICITUDE
A ILICITUDE depende se o facto é ilícito, e não vá contra a lei, mas se o facto é típico
(preenche o tipo da lei) é ilícito, havendo causas de exclusão de ILICITUDE, p.e.
Legítima defesa

CULPA
Na culpa analisa-se o agente e significa “censurabilidade” (p.e. Quando a mãe
repreende o filho ao dizer “não faças mais isso” existe um género de censurabilidade)
ou seja, quando a pessoa atua de forma contrária a lei, quando devia ser conforme a
lei. A culpa envolve decisão, que pressupõe liberdade. As pessoas que não sabem
escolher em liberdade são chamadas de inimputáveis, que a lei prevê como sendo:
- menores de 16 anos;
- pessoas portadoras de uma anomalia psíquica.

A culpa pressupõe que o agente conheça a lei, ao contrário do que diz o artigo 6 do CC
sobre a ignorância a lei. Logo, só age com culpa quem se podia exigir que atuasse em
conformidade com a lei.

Leis que o professor quer que saibamos:

Artigo 10 até o artigo 40 do CP.

25/03

Princípio da legalidade no âmbito da intervenção penal


 Art.º 1 Código Penal;
 Tem de existir uma lei prévia para que alguém seja responsabilizado, isto é,
uma lei que determine uma sanção/pena;
 Não há crime nem pena, sem lei (prévia) – ‘’Nullum crimen nulla poena sine
lege’’;
 A lei tem de ser prévia, clara, estrita, escrita, formal;
 Art.º 165, n.º 1, alínea c) CRP;
 Código Penal é um Decreto-Lei elaborado pelo Governo;
 As normas legais em Portugal são escritas, não existem normas orais;
 A lei tem de ser anterior à prática do facto, contudo se sair uma lei nova que for
mais favorável ao agente, aplicamos a lei posterior;
 A pena pode manter-se a mesma, apesar do regime novo ser mais favorável.
Por exemplo: crime de roubo que se mantinha a pena de todos os tipos, mas
permitia, por exemplo, a suspensão provisória até aos 8 anos. A lei nova
mantém a mesma pena, contudo permite a suspensão da pena até 8 anos (a
atual é suspensão até 5 anos) – art.º 29, n.º 4 CRP;
 Art.º 2 Código Penal – se a norma mais favorável eliminar a sanção, aplicamos o
regime que for mais favorável ao agente;
 Art.º 2, n.º 3 Código Penal – por exemplo: a Assembleia da República legislou
impondo o uso da máscara em lugares públicos e previa uma determinada
pena para quem violasse essa norma. Com o fim da pandemia, deixa de ser
uma norma obrigatória por ser uma norma de emergência devido à situação
pandémica (lei temporária). Se alguém praticar este ato 3 dias antes da
eliminação desta norma, o agente continua a ser punido – ultratividade da lei
penal;
 Pode aplicar-se uma lei que já não se aplica aos casos de hoje, mas que
aconteceram em certo momento no passado;
 Lei clara – ter em conta que a lei não pode ser ambígua, evitar leis penais em
branco e conceitos indeterminados;
 Conceito indeterminado – observando o art.º 171, n.º 1 Código Penal ‘’Quem
praticar ato sexual de relevo com ou em menor de 14 anos (...)’’. Trata-se de
um conceito com elevado grau de indeterminabilidade;
 Quando interpretamos um conceito indeterminado, pode acontecer que quem
esteja a criar a lei seja o interprete (diferentes modos de interpretação);
 Problema da analogia que está na lei estrita. Em vez de lei estrita, lei
estritamente interpretada e aplicada (estamos a falar da interpretação
extensiva);
 É proibida a analogia em determinados casos – art.º 1, n.º 3 Código Penal;
 Normas penais em branco – trata-se de uma norma incompleta. Por exemplo:
no art.º 277, n.º 1 Código Penal está expresso que ‘’Quem (...) infringir regras
legais, regulamentares ou técnicas que devam ser observadas no planeamento
(...) é punido com pena de prisão de 1 a 8 anos’’, imaginando que era preciso 6
filamentos para construir e só foram utilizados 3 para poupar dinheiro, esse
indivíduo vai ser punido por este artigo. O problema com o art.º 277 é que esta
norma tem o agente, a sanção, a conduta, porém a conduta não é
suficientemente precisa para saber exatamente aquilo que é proibido;
 O Tribunal Constitucional afirma que as normas penais em brancos não são
constitucionais nem inconstitucionais, depende se tiver exprimido o mínimo
que permita incriminação;
 São incompletas porque carecem de todos os elementos, somente o Código
Penal não serve para responsabilizar o agente;
 Perante uma situação de homicídio qualificado, ‘’em princípio será homicídio
qualificado aquele que for praticado sob ascendente, descendente, adotado...’’
se não formos ao Código Civil não sabemos o que é descendente e ascendente
nem adotante e adotado. Neste caso, é necessário recorrer ao Código Civil;
 Isto não são normas penais em branco, são diferentes. Trata-se de normas,
mas quem concretiza o conceito normativo é outro ramo do direito;

O direito penal pode intervir seja qual for a situação para proteger seja qual for o
interesse e com a pena que quiser? A resposta é não.
a) Apenas em ultima ratio (último caso), se a lei entende que deve tutelá-lo,
temos de ver se está suficientemente acautelado por outro bem do direito;
b) É necessário a tutela de um bem jurídico;

- Princípio da subsidiariedade

- Princípio da intervenção mínima


- Princípio da necessidade
- Princípio da dupla fragmentação do direito penal. Axiologia/axiológica – valores
(vida, integridade física, património, vida ultra-uterina, segurança rodoviária – bens
jurídicos).
- Art.º 131 Código Penal – quem matar outra pessoa é punido com pena de prisão de 8
a 16 anos. Pode atuar dolosamente apenas também é negligentemente? (art.º 13
Código Penal).
- Art.º 13 Código Penal – todos os crimes são dolosos, a não ser que a lei diga que foi
negligente. O legislador tem de afirmar ‘’por negligência’’.
- Art.º 212 Código Penal – crime praticável por dolo, a lei não diz ser por negligência.

Art.º 22 e 23 Código Penal – Tentativa


- Só podemos falar de tentativa quando o agente atua com dolo (vontade/intenção de
praticar o ato), quando tenha procedido a atos de execução e não exista consumação.
Se apenas me restringir a pensamentos ou, por exemplo, comprar veneno para matar
alguém não é punível. A lei exige que, por exemplo, meta o veneno na sopa.
- Art.º 23 Código Penal – sempre que a moldura penal estabelecida para o crime
consumado, na parte especial, for superior a 3 anos é sempre punível a tentativa.
Contudo, não significa que se disser inferior a 3 anos, nunca seja punível. A lei expressa
que ‘’salvo disposição em contrário, só é punível com pena superior a 3 anos’’.

Art.º 212 Código Penal – Crime de dano


- No n.º 1 deste artigo, está expresso que ‘’é punido com pena de prisão até 3 anos’’,
porém no n.º 2 do mesmo artigo ‘’a tentativa é punível’’.

Art.º 143 Código Penal – Ofensa à integridade física simples


- No n.º 1 deste artigo, está expresso que ‘’é punido com pena de prisão até 3 anos’’,
visto que em nenhum n.º do artigo está dito que a tentativa é punível, logo não é.

Art.º 140 Código Penal – Aborto


- Crime por dolo, a não ser que diga que é negligência. Por exemplo: um médico com
as suas ações provocar um aborto de uma mulher – não é passível de pena, apenas de
indemnização civil.
- No n.º 1 e n.º 2 deste artigo, quem tentar provocar um aborto e não conseguir é
punido com pena de prisão de 2 a 8 anos. A moldura penal no n.º 1 excede os 3 anos,
pelo que a tentativa é punível. No n.º 2, a tentativa não é punível, visto que a moldura
penal não ultrapassa os 3 anos.

29/03

O nosso ponto de partida é sempre o facto.

O direito penal caracteriza-se por ser o direito do facto, isto é, em termos práticos, que
o principal fator para apurar responsabilidade criminal de alguém é haver facto,
ocorrer uma determinada circunstância.
Direito penal do facto vs. Direito penal do autor.
O direito do autor, o que importava para apurar a responsabilidade criminal eram as
suas características pessoas. A ciência moderna determina que o fator determinante é
a existência de um facto e as suas características do mesmo.

O direito penal intervém como reação a esta conduta (facto), vem responsabilizar o
agente.

Nulla crimen nulla poena sine lege – não há crime nem pena sem lei.
O facto tem de estar previsto na lei como crime, no momento em que o agente atuou.

Nota: apesar de estabelecermos este princípio do direito penal do autor dar origem ao
direito penal do facto, isto não significa que não importa saber quem é a pessoa e que
as características do autor não revelam.

O crime é um facto punível, que a lei prevê como tal.

A nossa missão é analisar se estão reunidos os pressupostos dessa mesma


responsabilidade criminal.

Só apuramos a responsabilidade criminal de um facto se tiverem reunidos todos os


pressupostos para o facto ser punível, não basta estar previsto na lei.

Por exemplo: o Código Penal caracteriza o homicídio como um crime que ocorre
quando alguém mata outra pessoa, contudo não significa que todo o agente que mate
outro seja considerado crime, é necessário verificar outros pressupostos.

Facto punível – conceito formal de crime: assenta numa ação e essa ação tem de ser
típica (tipicidade), ilícita (ilicitude) e culposa (culpa). Uma ação corresponde a um
comportamento.

Facto punível
|
Ação|----------- Tipicidade
| |----------- Ilicitude
| |----------- Culpa
|
Comportamento

Nota: se eu matar outra pessoa em legítima defesa, não é punível. Os pressupostos


têm de estar todos verificados e, neste caso, não estariam.

O facto pressupõe uma ação, é um conceito prévio.

Só cabe no âmbito da responsabilidade criminal ações humanas. O princípio é nullo


crimen sine action (não há crime sem ação).
1. Escola Clássica
a) Desenvolvida por vários autores, sendo um dos mais importantes Lizst;
b) Esta escola clássica apresenta-nos um conceito de ação que é o conceito
natural;
c) Inspira-se nas ciências da natureza e nas circunstâncias naturais para encontrar
a ideia do que é uma ação;
d) Segundo este conceito natural, uma ação é uma produção da vontade humana
com relevância no mundo exterior. Tem de ser algo visível para ter relevância,
tem de haver uma alteração da realidade física;
e) Tudo quanto em termos físicos se altere, configura uma ideia de ação.

1.1 Críticas
a) Por exemplo: quando alguém se dirige a outra pessoa e diz que o mata, pode
ser crime de ameaça. Quando chama a alguém ‘’filho da p*ta’’, é injúria. Não
houve movimento corpóreo, apenas foram preferidas palavras;
b) Por outro lado, este conceito de ação deixa de fora os crimes por omissão que
são praticados através do nada fazer, dado que não há movimento corpóreo.

2. Escola Neoclássica
a) A principal crítica à escola anterior é que um conceito não se refere a valores. A
escola neoclássica diz que há um novo conceito, a ação remete para um
comportamento que nega valores;
b) Há um conceito que se perde da Escola Clássica para a Neoclássica – do que se
trata este comportamento que nega valores?
c) Difícil distinguir ação com e sem relevância penal – principal crítica feita à
Escola Neoclássica.

3. Escola Finalista séc. XX


a) Ação final – base de todo o pensamento da escola finalista. É como se tratasse
de uma ideia de premeditação, ou seja, todos nós (humanidade) servindo-nos
dos seus conhecimentos e da sua ciência, sabem que quando praticam
determinado facto, esse tem uma consequência. O conceito de ação atende a
esta orientação ontológica – eu vou praticar esta ação porque sei que ela
produz um resultado;
b) Uma ação, para ter relevância, assenta na ideia de que todos os agentes têm
um domínio total sobre o desenrolar dos acontecimentos, o desenvolvimento
da ação e são capazes de desenvolver relações causa-efeito.

3.1 Críticas
a) Comportamentos por negligência sou responsabilizado criminalmente por um
comportamento meu por distração, falta de cuidado (não saber que ia causar
aquilo). Isto gera responsabilidade criminal e, muitas vezes, a ‘’falta de
cuidado’’ resulta de nem ter previsto que aquilo podia ter acontecido, por isso,
falta a ideia de finalidade;
b) Como é que se insere as condutas por omissão? Nestas condutas sou
responsabilizado por não agir, não atuar, estar perante uma certa situação e
não atuar. Por exemplo: chego a um local onde há um acidente que tem
pessoas que precisam de auxílio. Se eu não chamar socorro, incorro num crime;
c) A questão da responsabilidade por participação – no direito penal, pune-se
aquele que foi o agente do crime e aquele que de alguma forma participou na
prática desse crime. Por exemplo: em caso de homicídio, se eu matar x pessoa
e pedir uma arma a y pessoa, ambos somos punidos, eu como autor e a y
pessoa como participante (cúmplice);
d) Não nos dá uma resposta suficiente para todas as atuações humanas, nem
todas as atuações humanas partem desta ideia de ação final.

Uma ação é um comportamento – transversal a todas as Escolas.

Comportamento – é a resposta que dou enquanto homem perante uma determinada


situação/circunstância.

Comportamento humano com relevância no mundo exterior.


 Exterior, dominado ou dominável pela vontade.

Exemplos:
a) Imaginemos que o A vai a conduzir o seu automóvel e a meio da viagem o A
perde os sentidos, perde o controlo do carro e atropela 4 pessoas. Foi
totalmente fora do domínio do A, é uma ação que não é determinada pela
vontade;
b) Imaginemos que o A vai a conduzir há várias horas e dá-lhe o sono, sobe o
passeio e mata 2 pessoas que estavam a passar. Tinha a obrigação de se
manter desperto ou de não conduzir quando estava cansado, apesar de não ser
dominado pela vontade era dominável.

Agir – ‘’facere’’ – ação positiva (ação)

Não agir – ‘’non facere’’ – ação negativa (omissão)

Os nossos comportamentos revestem-se ativamente (ação) ou inativamente


(omissão).

A partir deste conceito afastamos: atos que não sejam humanos e atos humanos que
não sejam frutos da vontade.

Coação física e coação psicológica – duas formas de atuar


Coação psicológica – alguém exercer pressão sobre mim, por exemplo ameaça, para
eu ter um comportamento que não queria, mas que faço porque estou sob ameaça.
Por exemplo: dar um estalo em x pessoa ou então mato-te – é uma ação penalmente
relevante, eu tive vontade de lá ir, senão morria.
Coação física – não é penalmente relevante, quem atuou foi o seu corpo, não foi ele.
Alguém independentemente da vontade do outro utiliza o corpo do outro para realizar
uma ação.
Responsabilidade criminal por omissão
a) A omissão traduz o ‘’nada fazer/não agir’’;
b) Não fazer nada só por si, não pode gerar responsabilidade criminal;
c) Na ação, desenvolvo uma conduta e é suscetível de responsabilidade criminal;
d) Na omissão não é assim, é necessário alguns pressupostos.

Principais fundamentos da responsabilidade criminal


a) Em regra, o nosso legislador, no Código Penal, define ações;
b) Na parte geral, a regra que equipara a ação à omissão (art.º 10 Código Penal);
c) Se for chamado a resolver caso por homicídio por omissão – art.º 131 Código
Penal simultaneamente com art.º 10 Código Penal;

Requisitos para haver omissão


a) Dever de agir (jurídico) – só existe responsabilidade criminal se tiver intenção
de agir;
b) O agente omite a conduta devida;
c) Possibilidade de agir.
d) Art.º 10, n.º 2 Código Penal.

Exemplos:
a) Um amigo do professor num determinado dia decide enforcar-se e quando o
professor chega, encontra o amigo ainda vivo e, em vez de ajudar, decide ir
embora e o amigo morre. A dúvida que se coloca é se o professor pode ser
responsabilizado por homicídio por omissão?
b) A é médico num hospital, várias pessoas entram em estado grave. Sendo que
ele é o único médico, só conseguir acudir um paciente. Não pode ser
responsabilizado porque não conseguia acudir mais do que aquele paciente.

Ao impossível ninguém está obrigado. Ninguém pode ser responsabilizado pelo


impossível.

Análise comparativa entre ação e omissão


 Art.º 10, n.º 3 Código Penal – a lei prevê a possibilidade de na omissão o agente
ser punido com uma penal atenuada (menos grave que a ação).
 O agente atuar simultaneamente (no mesmo desenrolar) por ação e por
omissão, por exemplo, o médico entra na sala e encontra uma pessoa em
estado grave, este faz uma intervenção dizendo ‘’esse é o Joaquim e é meu
inimigo’’, depois percebe que há outro médico que decide salvar Joaquim e
decide dar-lhe uma pancada na cabeça para não fazer nada e Joaquim falecer –
omissão num primeiro momento, omissão no segundo. O médico será
responsabilizado apenas pela mais grave – a ação.

Omissão pura/própria e omissão imprópria


Omissão pura – casos raros em que a lei prevê que a conduta que é crime, é
precisamente a conduta omissiva. O facto de o agente não agir em determinadas
circunstâncias é considerado crimes, em certos casos – crimes de mera atividade
(basta a omissão para que o agente seja responsabilizado, não é necessário haver
resultado). Por exemplo: art.º 200 Código Penal (omissão de auxílio).
 O agente não atuou, a vítima faleceu, será que o agente pode ser
responsabilizado pela morte? Não se utiliza o art.º 200 Código Penal, visto que
este não imputa a morte a ninguém, apenas refere omissão de auxílio. Quando
aparece esta pergunta, trata-se de omissão imprópria.
 O facto de o agente recusar ajudar é crime.

Omissão imprópria – são crimes de resultado, que por força do art.º 10 Código Penal
vou estender a responsabilidade também à omissão.

Art.º 284 Código Penal (Recusa de médico).

Quando é que o agente tem de agir? Quais são as fontes do dever de agir?
 Dever de agir = dever de garante (proteger aquele bem jurídico).
 Teoria formal – segundo esta teoria, que coloca a pessoa perante essa
obrigação de agir, é uma posição formal que ocupa. Segundo esta teoria,
podemos ter uma de 3 fontes do dever de agir:
o Lei (sou obrigado a agir porque a lei assim o diz);
o Contrato (pode ser um negócio jurídico, não tem de ser um contrato);
o Dever de ingerência (por exemplo: se atropelar uma pessoa, seja de
forma culposa ou não, tenho o dever jurídico de ajudá-la).

01/04

Caso Prático I
Em virtude do aspeto degradado das zonas urbanas e visando tornar a vida citadina mais
agradável, o Governo fez publicar no DR de 21 de Dezembro de 2011, o seguinte decreto-lei:

1. Quem proceder a pinturas de letras, imagens ou quaisquer outros desenhos ou elementos


gráficos, em monumentos, paredes, muros, cercas ou parte de construção pública ou privada
na zona de Lisboa, incorre em pena de prisão de 1 a 3 anos no caso de se tratar de coisa
privada, ou de 5 a 10 anos se se tratar de coisa pública.

2. A título de pena acessória, pode o juiz impor a obrigação de limpeza da zona afetada. O
condenado far-se-á́ acompanhar de um cartaz informando o crime que praticou.
3. O presente diploma aplica-se a todos os factos praticados desde 01 de Julho de 2011 e
vigora enquanto não for possível eliminar todos os grafitis da cidade de Lisboa.

PERGUNTA:
Atendendo à matéria relativa ao princípio da legalidade, suas decorrências e desvios e aos
princípios constitucionais que enformam o direito penal e teoria dos fins das penas, diga que
críticas lhe merece o presente diploma, justificando a sua resposta.
Categorias analíticas do crime

 Categoria analítica tipo (tipicidade – tem de estar escrito na lei se aquilo é crime).
‘’Quem matar outra pessoa’’ – temos de saber se é uma pessoa singular ou coletiva, se
tentativa de matar também é crime ou não. Se concluirmos que há tipicidade
passamos para a seguinte.

 Ilicitude – contrariedade com a ordem jurídica. Há factos descritos a lei que a ordem
jurídica como agressão em legítima defesa, se preencher os pressupostos da tipicidade
e for provado que é legítima defesa, não é ilícito. Por exemplo: se roubar a mangueira
do meu vizinho para apagar um incêndio num prédio, não é ilícito porque roubei em
legítima defesa.
 Culpa (agente) – juízo de censura que a ordem jurídica dirige ao agente que praticou o
ato ilícito quando podia e devia ter atuado de acordo com o direito.

Só no fim de preencher as três categorias que fazem análise do facto é que podemos afirmar
que há crime.

Se a pessoa, na categoria culpa, tiver 15 anos não é crime, não preenche a idade.

Ação penalmente relevante – é um pressuposto, não é categoria do crime.

 É um facto humano (ato humano), voluntário (dominado pela vontade ou que não foi
dominado pela vontade, mas podia ter sido)

05/04

Kaufmann – Teoria das funções

Situação de facto coloca o agente com a obrigação de cumprir uma determinada função. Por
exemplo: dois cônjuges terem de atuar entre si para evitar um perigo ou protegerem-se.

Não é facto de a lei estabelecer esta vinculação, mas sim o facto de estar envolvidos por um
vínculo pessoal que os coloca num dever de proteção mútua.

Pode haver um de dois tipos de funções que a pessoa assume e que a coloca num dever de
agir:

 Função de guarda – o agente tem a função de proteger um determinado bem jurídico


que careça de proteção – dever de garante (relação entre cônjuge, pais e filhos, etc)
 O agente é detentor de uma fonte de perigo – por algum motivo me encontro ligado a
uma atividade que contempla uma fonte de perigo para terceiros, eu tenho a
obrigação de proteger os terceiros dessa fonte de perigo

Por exemplo: quando um empreiteiro constrói um prédio existe um conjunto de perigos


próprios associados: um tijolo pode cair, o vento pode derrubar alguma coisa, etc.
Nota: as situações em que o perigo esteja associado a um determinado produto que alguém
inventa, a denominada – responsabilidade pelo produto. Por exemplo: vendem produtos de
limpeza que são tóxicos, a legislação obriga que as embalagens tenham símbolos a indicar que
aquele produto tem um determinado perigo. Não é proibido vender, contudo é proibido
vender esse produto SEM informar o perigo. É uma forma de proteger os outros do perigo.

Por exemplo:

 Os maços de tabaco vêm com imagens chocantes de modo a advertir os consumidores


dos perigos adjacentes
 Uma empresa produz um determinado medicamento e uma remessa daquele produto
está a causar problemas de saúde a alguém. Vem-se provar que uma substância
naquele produto estava adulterada. Neste caso, a partir do momento que se sabe que
aquela remessa está a criar perigo para a saúde de alguém, assume a obrigação de
retirar o produto do mercado

Teoria Formal e Teoria das Funções

Os tribunais aplicam ambas porque elas não se eliminam, isto é, uma acrescenta fontes à outra
sobre o dever de agir.

Nota sobre crimes por omissão: dever jurídico de agir  não pode haver responsabilidade por
omissão

Por exemplo: imaginemos que estamos numa praia e uma pessoa começa a afogar-se, já
bastante longe da costa. Estava um indivíduo com um barco a motor perto do indivíduo que
estava a afogar-se (o indivíduo do barco NÃO tinha obrigação de ajudar quem se estava a
afogar) e decide aproximar-se. Contudo, chega perto do indivíduo e conclui que ‘’ele está
mesmo a afogar-se’’, dá meia-volta e deixa o indivíduo afogar-se. Havia obrigação de agir?
NÃO, contudo criou a expetativa que ia ajudá-lo, tinha consciência de que quem tinha a
obrigação de agir não o ia fazer (nadador-salvador ficou na costa porque achou que o indivíduo
do barco iria ajudar quem se estava a afogar).

Casos como o referido anteriormente levou a criar uma teoria que dê resposta a esta
questão:

 Crimes de ação por omissão: o indivíduo teve a ação, contudo depois omitiu-a agindo.
A partir do momento que se inicia a ação, a pessoa tem obrigação de proteger o bem
jurídico

Três passos para descobrirmos se se trata de omissão:

 O dever jurídico está em ambas as teorias


 Conduta que ele omite seja aquela que tem obrigação de praticar
 Possibilidade de agir – só pode ser responsabilizado se o resultado fosse possível de
evitar
Tipicidade

1. Concluir que certa conduta é típica, isto é, a conduta corresponde com o tipo de crime
(está previsto na lei como crime)
2. Estrutura do tipo:

 Elemento diferenciador da intervenção ou não do direito penal – identificação do bem


jurídico. Cada tipo de crime protege, pelo menos, um bem jurídico obrigatoriamente.
 Dois tipos de elementos no que diz respeito à sua natureza: descritivos (descreve
condutas) e normativos (ao descrever um determinado tipo de crime, também
identifica elementos que são conceitos jurídicos).
 Por exemplo: alguém se dirige a uma ourivesaria e diz que quer comprar um anel de
noivado para oferecer à mulher (...) o homem da ourivesaria faz-lhe um embrulho e
dá-lhe o anel (...) mais tarde, afirma que não vai pagar o anel e sai porta fora com o
anel no bolso. O dono da loja apresenta queixa-crime contra ele por furto. Segundo o
art.º 203 Código Penal (Furto), temos elementos descritivos como ‘’subtrair’’ que é
tirar da esfera jurídica de alguém para meter na minha ou na de terceiros. Para saber
se é coisa móvel, recorremos ao Código Civil e ‘’coisa imóvel alheia’’ é outro conceito
jurídico, portanto temos de saber quem é o proprietário daquele anel. Será que houve
transmissão de propriedade daquele anel? O contrato de compra e venda acontece
quando se conjugam vontades, uma das partes afirma ‘’eu compro’’ e a outra ‘’eu
vendo’’. Deste modo, nascem efeitos obrigacionais e efeitos reais, sendo que nos
primeiros o vender assume a obrigação de entregar o anel e o comprar tem a
obrigação de pagar o preço, já nos segundos efeitos, transmite-se a propriedade por
mero efeito de contrato, isto é, a partir do momento que digo ‘’eu compro’’, a
propriedade do bem já se transmitiu. Assim, o comprador deve 5 mil € ao vendedor,
mas o anel já é dele. Não é considerado furto.

3. Elementos do tipo:

 Elementos objetivos: em primeiro lugar, o agente (quem é que desenvolveu a conduta


que corresponde ao tipo de crime), depois a conduta (traduz-se na ação ou omissão
que ele desenvolveu, tem de haver a prática de uma conduta), em terceiro lugar o
objeto (que se materializa o bem jurídico que está a ser protegido), a verificação do
resultado (por exemplo: se dei um tiro, o resultado foi a morte – lesão do bem
jurídico) e, por último, imputação objetiva (relação entre a conduta e o resultado, isto
é, tenho de concluir que aquele resultado foi fruto daquela conduta).
 Elementos subjetivos: em primeiro lugar, dolo (quer aquele facto, quer aquela
conduta, quer aquela causalidade) e, em segundo lugar, negligência.
 Nota: não basta nós conseguirmos verificar todos estes elementos para que
necessariamente se justifique a intervenção do direito penal. O direito penal tem uma
natureza subsidiaria, é um instrumento de ultima ratio (apenas intervém quando é
extremamente necessário).

Por exemplo: António pega numa pistola e mata o Bento – crime de homicídio. Qual é o
objeto? Bento, porque é nele que o bem jurídico (vida) se concretiza.

Se eu furtar um lápis, meter no bolso e levá-lo comigo não vale a pena trazer o direito penal,
porque se trata de um crime insignificante.
Há crimes ocorridos em certos contextos que são condutas próprias. Por exemplo: num
combate de boxe não existe crime à integridade física.

Crimes de mera atividade – dispensam a verificação de um resultado, basta que o agente


desenvolva aquela conduta.

Elementos de tipo:

1. Agente (pessoas singulares e coletivas)

 Temos de saber a quem vamos imputar o facto, esse é o agente do crime


 A maioria dos crimes do Código Penal não determinam qualquer tipo de características
para o autor, qualquer pessoa que pratique aquele facto é autor do crime. Contudo, na
parte especial, há certos tipos de crime em que a lei exige qualidades para o autor ‘’Só
é autor quem praticar aquele facto’’. Por exemplo: art.º 136 Código Penal
 Só as pessoas (singulares) é que podem ter responsabilidade criminal ou será que as
pessoas coletivas podem ter responsabilidade criminal?
 Societas delinquere non potest – pessoas coletivas não têm responsabilidade criminal.
As pessoas coletivas não praticam ações, não se pode censurar pessoas coletivas. Por
exemplo: pena de prisão não se aplica a pessoas coletivas.

Modelos:

 Modelo de irresponsabilidade das pessoas coletivas – há ordenamentos jurídicos que


se mantêm fiéis a este princípio, têm desenvolvido formas de punir, mas sem ser
através do direito penal. Por exemplo: Itália e Alemanha.
 Modelo de equiparação – quer as pessoas singulares quer as pessoas coletivas têm
responsabilidade por qualquer tipo de crime.
 Modelo de especialidade – em regra, não há responsabilidade das pessoas coletivas, a
não ser quando a lei disser. Ter em conta o art.º 11 Código Penal – consagração do
regime da especialidade. Por exemplo: Portugal.

Evolução do Direito Penal português

Até ao Código Penal de 1982, não havia responsabilidade criminal das pessoas coletivas. Em
1982, introduziu-se a responsabilidade das pessoas coletivas como exceção, mas só havia
responsabilidade no âmbito do chamado ‘’direito penal secundário’’, não havia um único crime
para o qual tivesse prevista responsabilidade de pessoas coletivas. Em 2007, com a revisão da
parte geral, alargou-se o âmbito da responsabilidade e passou a consagrar-se também a
responsabilidade das pessoas coletivas, em alguns crimes, caso expresso no art.º 11 Código
Penal.

Resultou de uma imperiosa necessidade de, em muitos dos crimes, não fazer sentido existir
desigualdade de tratamento, em que as pessoas singulares praticavam certos crimes e as
pessoas coletivas, muitas vezes, praticavam crimes mais graves sem ter qualquer
responsabilidade.
‘’As pessoas coletivas não praticam ações’’ – a ação é a conduta manifestada pela vontade.

 As pessoas coletivas tomam deliberações em Assembleia, o voto é a concertação de


vontades. Sendo que estas vontades se traduzem em ações
 A culpa pode ser alargada às pessoas coletivas, porque é uma censura por ter atuado
contrariamente à lei

‘’A pena de prisão não se aplica a pessoas coletivas’’

 No nosso direito penal não é regra, é apenas uma das penas. Nem só de pena de
prisão se faz o direito penal

O perigo de punir inocentes

 Praticar um crime numa sociedade e a sociedade tirar proveito disso, todos os sócios
são beneficiados

Nota – para uma pessoa coletiva ser punida é preciso reunir os seguintes pressupostos:

1) O ato que gera responsabilidade criminal tem de ser praticado em nome da pessoa
coletiva
2) O ato tem de ser praticado em interesse da pessoa coletiva
3) o ato tem de ser pratica por quem tenha poderes de representar a pessoa coletiva
4) É preciso que aquela decisão tenha sido tomada no âmbito da pessoa coletiva

Estão excluídas da responsabilidade criminal as seguintes pessoas coletivas: Estado e pessoas


coletivas públicas.

As penas que melhor encaixam são as penas económicas – as multas. São de natureza
pecuniárias.

Um outro tipo de sanção pode passar por uma suspensão de determinada atividade.

Para as pessoas coletivas, a pena de morte serve para extinguir as mesmas. Por regra, só se
admite a extinção nos casos em que se chega à conclusão de que aquela pessoa coletiva foi
criada para aquele fim, para a prática do crime. Por exemplo: algumas empresas, para fugirem
à obrigação do pagamento do IVA, criam empresas fictícias e estas empresas passam-lhes uma
fatura fictícia – são empresas criadas para fazer crimes

08/04

Art.º 131 Código Penal – homicídio simples ‘’quem matar outra pessoa...’’

Tipo: elementos objetivos e elementos subjetivos.


Elementos objetivos subdividem-se em: agente, conduta, resultado (se for um crime
resultado), imputação objetiva. Professora pensa que também devíamos incluir o bem jurídico
nesta subdivisão.

Art.º 131 Código Penal:

 Quem – agente
 Matar – conduta (verbo sempre no infinitivo, mas nem todos os verbos no infinitivo
traduzem a conduta)
 É um crime resultado (resulta em morte)
 Outra pessoa – objeto da norma

Art.º 190 Código Penal:

 O crime fica consumado no momento em que a pessoa se recusa a sair


 Bem jurídico – privacidade

Classificações (resultam da análise do que está escrito na lei)

1. Agente

 Não tem de ter determinadas qualidades – apenas diz ‘’quem matar outra
pessoa é punido com pena de prisão’’

Crime geral ou comum – crimes que não exigem uma qualidade especial ao agente.

Crimes específicos – aqueles a quem a lei exige determinadas qualidades.

 Em sentido próprio – só estão tipificados na lei quando forem praticados por


aquelas pessoas. Art.º 260, n.º 1 Código Penal.
 Em sentido impróprio – exige uma determinada qualidade (art.º 190 e art.º
378 Código Penal)

Tutela do bem jurídico

Crimes de dano – para a consumação do crime, a lei exige a efetiva lesão do bem jurídico. Por
exemplo: crime de homicídio, crime de ofensa à integridade física.

Art.º 138 Código Penal – crime de exposição ou abandono.

Crime de perigo concreto – há um perigo que vai ter de se verificar, não basta a conduta ser
perigosa, é necessário para haver consumação que se demonstre que existe realmente perigo.
Art.º 272 Código Penal.

Crime de perigo abstrato – a lei não exige olhar para a realidade e ver se esse perigo se
manifestou, basta-se apenas com a conduta. A conduta é em si mesmo perigosa.
Para a consumação há crimes que exigem a verificação de um resultado. O que é o resultado?

Resultado – identificar um evento, espaço, ou tempo que se destaque.

Os crimes de resultado são aqueles que para a consumação não basta a verificação da conduta
típica. Não basta o agente atuar da forma que está descrita na lei é necessário que se destaque
mentalmente, no tempo e no espaço, um determinado evento que designamos de conduta.

Por exemplo: crime de homicídio. É necessário que se verifique a morte, não basta a tentativa.

12/04

A ação ou omissão imputada ao agente – a conduta.

Temos de ver se os atos do agente estão descritos na lei como um crime.

Exemplo: O António deu um tiro na cabeça do Tiago e acabou por matá-lo.

Conduta – ‘’dar um tiro na cabeça’’, não é ‘’matar’’

Alguns crimes – crimes de mera atividade/crimes formais – a conduta típica está verificada
com a simples identificação da conduta, ou seja, para o agente ser responsabilizado basta
empreender essa conduta independentemente das consequências da mesma. Apenas é
punido por ter praticado essa conduta – são situações excecionais.

Ao longo do Código Penal, existem condutas típicas que a lei nomina como sendo crime. Na
parte especial, temos o catálogo dos crimes. Por vezes, no contexto da descrição dos factos
que constituem crime, a lei identifica situações como não sendo crime. Por exemplo: a partir
do art.º 143 Código Penal (capítulo dos crimes de ofensa à integridade física), o mesmo diz que
‘’quem ofender corpo ou saúde é punido’’. Quando chegamos ao art.º 150 Código Penal, fala-
nos dos tratamentos médico-cirúrgicos ‘’os tratamentos (...) não se consideram ofensas à
integridade física’’. É um não crime.

A conduta traduz-se numa ação ou omissão que o agente empreendeu e a nossa principal
missão é aferir se a ação ou omissão está ou não prevista na lei como crime.

3º Conceito da Tipicidade - Resultado

A maior parte dos crimes do nosso ordenamento jurídico são crimes de resultado – é preciso
verificar-se esse terceiro elemento – o resultado. Prevê que da conduta do agente algo se
tenha modificado, essa alteração é o resultado.
O resultado, considerando que a função do direito penal é a tutela do bem jurídico
fundamental, consubstancia-se, em regra, na lesão do bem jurídico. O crime de homicídio, a lei
diz ‘’quem matar outra pessoa’’, o bem jurídico em causa é a vida.

Em alguns tipos de crimes – crimes de perigo – basta alguém colocar em perigo. Por exemplo:
crime de exposição ou abandono (art.º 138 Código Penal), ‘’quem colocar em perigo a vida de
outra pessoa’’ não é preciso causar a lesão do bem jurídico, a conduta é típica (bastando
colocar em perigo a vida).

O resultado há de ser um de dois:

 Lesão do bem jurídico


 Crimes de perigo – basta que exista perigo

Nota: não esquecer que o direito penal se pauta pelo princípio da necessidade e princípio da
subsidiariedade, o que significa que o direito penal só deve intervir quando as lesões do bem
jurídico sejam lesões significativas.

Culpa

A conduta e o resultado têm uma relação de causalidade. É necessário saber se a conduta é a


causa do resultado – só assim o agente será responsabilizado.

 Necessário encontrar um critério que estabeleça a relação (tarefa complicada)

Há uma imputação objetiva.

Regras/notas:

 Esta relação causal não se presume. O agente só é responsabilizado se se verificar que


foi conduta do mesmo.
 Não posso estabelecer a relação causal porque aquele agente e aquela conduta terão
sido uma das causas prováveis daquele resultado.
 Ninguém pode ser responsabilizado por facto de terceiro.
 Ninguém pode ser responsabilizado por causar um resultado se esse resultado era
impossível de evitar (por exemplo: alguém entra num hospital em estado muito grave
e o médico tem uma intervenção com ele, o paciente morre dessa intervenção. O
médico não fez aquilo que devia ter feito e também se prova que, mesmo que o
médico tivesse feito o que devia, o paciente ia morrer).

Como se estabelece a relação causal entre conduta e resultado?

1. Teoria das condições equivalentes ou condicio sine qua none

 Esta teoria parte da seguinte ideia: todas as causas que tenham contribuído para
aquele resultado, ainda que irrelevante ou mínimo, são consideradas causa daquele
resultado. Por exemplo: atropelo uma pessoa e enquanto está a ir para o hospital, a
ambulância despista-se e a pessoa acaba por morrer. A pessoa ia morrer se a
ambulância não se despistasse? NÃO, logo a causa da morte foi a conduta da
ambulância.
 Esta doutrina, na prática, levava a resultados inadequados e resultados que erram por
excesso e/ou por defeito.
 Por exemplo: António compra arma e dá um tiro em Bento que acaba por matá-lo.

(a partir desta teoria, são correções à primeira de todas)

2. Teoria da condição mais eficaz

 Qual foi a conduta mais eficaz? Estabelece-se a relação causal somente relativamente
a essa. Em muitos casos não é possível estabelecer qual a mais eficaz.
 Por exemplo: António nem conhece Bento, pede uma fotografia e, em seguida, mata-
o. Qual destas condutas foi a mais eficaz? A primeira porque o outro nem sabia quem
era o Bento, o que mais contribuiu foram os 5 mil €, mas não faz sentido estabelecer a
relação com ele e não com a pessoa que realmente deu o tiro.
 Esta teoria, no caso de incitação de outrem para cometer um crime, conduz a
resultados errados.

3. Teoria da causa mais próxima

 Vou atribuir o nexo causal à última que se tenha verificado. Esta é a que está mais
próxima do resultado.
 Por exemplo: duas pessoas dão uma tareia e um tiro no peito. Passa um terceiro, vê-o
a morrer e dá-lhe um pontapé na perna, ele morre. A última causa é o pontapé e, à luz
desta teoria, não faz sentido – leva a resultados errados.

4. Teoria da causa eficiente

 Olho para várias causas que tenho e tento identificar qual foi a decisiva. E aquela que
tiver tido influência decisiva, é essa que estabeleço a imputação objetiva.

(após todas as teorias de correção surge a próxima)

5. Teoria da causalidade adequada

 Esta propõe que o raciocínio seja: temos um resultado e, a partir dele, tentamos aferir
o que é que pode ter causado aquele resultado, quais foram as condutas anteriores ao
resultado e analisar cada uma delas.
 Causa adequada  juízo de prognose póstuma
 Critério homem médio (homem de previsibilidade normal).

Até que ponto era previsível que aquela conduta provocasse aquele resultado?

 Não era previsível


 Previsibilidade mínima

Art.º 10 Código Penal – deu acolhimento da teoria da causalidade adequada, por isso é a partir
dela que devemos estabelecer a relação entre uma conduta e um resultado.

Críticas destas teorias:


 O padrão de homem médio é algo difícil de estabelecer. É uma teoria que pode perder
algum objetivo na forma de estabelecer relações entre a conduta e o resultado.
 Esta teoria pode conduzir a resultados sobre os quais dificilmente podemos ficar
tranquilos.

Esta teoria deve ser corrigida e um dos critérios é o critério proveniente da chamada Teoria do
risco (perigo):

 Devemos estabelecer imputação objetiva sempre que o agente, com a sua conduta,
cria, aumenta ou não diminui o risco proibido.
 Esta teoria do risco traz-nos várias questões a partir das quais estabelecemos a
correção da teoria.

19/04

Teoria do risco

 Risco – perigo (sinónimo). Queremos saber se aquela conduta ofereceu ou não perigo
para o bem jurídico

1) Situações de risco permitido

 Se o perigo que eu crio com a minha conduta seja um risco permitido, um risco próprio
do dia a dia, não devo estabelecer imputação objetiva
 Por exemplo: António tem um tio muito rico e o António é o único herdeiro do tio
(queria que ele falecesse para herdar tudo). Decide oferecer uma viagem de comboio à
Ucrânia, de modo que o tio leve com uma bomba e morra. O tio morre na Ucrânia, o
que era uma situação previsível de acontecer, no entanto é um risco permitido. Ele
não provocou nenhum ato que seja causador de perigo ilícito
 Só devemos estabelecer imputação objetiva para os casos em que o risco que o agente
criou no bem jurídico, ainda que previsível, não seja permitido

2) Diminuição do risco

 Por exemplo: estou num lado da estrada e há um carro que vai atropelar uma pessoa
(esse atropelamento é inevitável). Quando eu vejo que o carro vai atropelar a pessoa,
eu empurro a pessoa e ela, ao cair, parte o braço. Era previsível empurrar uma pessoa
e ela partir um braço? Sim, mas diminuiu o risco porque o bem jurídico que estava em
causa não foi violado (que era a vida)

3) Criação ou aumento do risco

 Sempre que o agente com a sua conduta criar o risco (o bem jurídico não estando em
perigo, passa a estar com a conduta do agente). Já existindo o risco, o agente com a
sua conduta amplia esse risco
 Por exemplo: se eu for a conduzir e alguém atravessar a estrada fora da passadeira
(existe risco), mas se eu for em excesso de velocidade, estou a aumentar o risco. Existe
imputação objetiva porque o agente vai para lá do risco permitido
Nota: existem algumas situações em que a própria lei, num ou noutro tipo de crime, o
legislador pode determinar o limite do risco. O próprio legislador, por vezes, pode
determinar o limite do risco. Sempre que o limite for ultrapassado, estou a aumentar o risco
e deve estabelecer-se imputação objetiva.

4) Esfera de proteção da norma

 Só faz sentido estabelecer imputação objetiva se o risco que o agente criou, seja o
risco que a norma tenta proteger
 Por exemplo: condutor de um camião que ao circular e ultrapassando um indivíduo
que ia de bicicleta não deu a distância que o código da estrada obriga. Ao ultrapassar o
ciclista que ia embriagado, o ciclista cai e o camião passa-lhe por cima, matando-o.
Devemos imputar a morte do ciclista ao camionista? O risco que o ciclista criou é o
risco que está fora da esfera de proteção da norma, ou seja, com este critério somos
obrigados a identificar qual é a ratio desta norma (que tipo de riscos) e se o risco que
aconteceu é o que a norma devia evitar (a norma – distância de segurança entre
automóveis e ciclistas – foi criada para evitar que um condutor bata num ciclista, não
foi para evitar que os ciclistas andassem embriagados)

5) Processos causas atípicos

 Devemos tentar identificar qual foi a intenção do agente – elemento subjetivo


 Pode ser pouco normal, adequado, provável que aquela conduta provoque aquele
resultado, mas o agente pode saber dessa probabilidade e querer usar essa
probabilidade
 Por exemplo: alguém que atropela uma criança que vai na passadeira e a mãe da
criança tem um colapso cardíaco e morre. Devemos imputar a morte da mãe a quem
atropela a criança? Imaginemos que o condutor quer mesmo matar a mãe e sabe que
a mãe sofre de problemas cardíacos. Visto que a probabilidade de ter um ataque
cardíaco é alto, ele já calculava que a mãe morresse, pelo que devemos imputar a
morte da mãe ao condutor
 Em princípio, não estabelecemos imputação objetiva, mas se ao usarmos o elemento
subjetivo (analisar as intenções do agente) chegarmos à conclusão de que a intenção
do agente era provocar aquele resultado, então a imputação objetiva deve ser
estabelecida

6) Desvio do processo causal

 Pode na sequência de factos haver mais do que uma conduta e pode haver uma
primeira que causa um determinado perigo e uma segunda que pode provocar o
mesmo perigo, mas num processo diferente
 Por exemplo: António dá um tiro em Bento e o último vai para o hospital. É colocado
nos cuidados intensivos e há um incêndio no hospital que apanha esse local, Bento
morre queimado. O segundo processo causal veio a provocar o mesmo ou outro
resultado, mas de forma diferente
 Por exemplo: António dá uma facada em Bento, Bento vai para o hospital e o médico
identifica a seguinte situação: Bento perdeu muito sangue e para garantir a sua
sobrevivência é necessário fazer uma transfusão de sangue. Bento, por motivos
religiosos, recusa-se a receber a transfusão de sangue e, por esse motivo, morre.
Podemos imputar a morte dele a quem lhe deu a facada?
 Saber se este desvio é ou não relevante? Para responder a esta pergunta temos de
encontrar resposta à causa deste desvio: 1º hipótese – o desvio foi causado pelo
próprio agente (aqui o desvio é irrelevante) ou 2º hipótese – o desvio é causado por
terceiros ou pela própria vítima (aqui o desvio é relevante). Apenas vou estabelecer
imputação objetiva em relação a uma das condutas, ou seja, a desviante

7) É uma correção à afirmação ‘’criação ou aumento do risco’’ – Causa hipotética ou


virtual

 Por exemplo: A envenena B com uma quantidade que irá causar a morte e demora
cerca de 20 minutos a atuar. Depois desses 20 minutos a morte é inevitável, mas A dá
um tiro em B e mata-o. Este invoca ‘’eu não aumentei nem criei risco, ele ia morrer e
eu só antecipei’’
 Temos duas condutas com o mesmo resultado
 Por exemplo: alguém está a escalar uma montanha e vê que um alpinista se
desequilibra e cai. É impossível não morrer. Nesse momento, vê o corpo e dá-lhe um
tiro, acertando-lhe na cabeça, pelo que ele morre e diz que só antecipou o que ia
acontecer
 Devemos ou não estabelecer imputação objetiva relativamente à segunda conduta?
Sim! É irrelevante, portanto sim. É a relevância negativa da causa virtual

8) Correção – Comportamento lícito alternativo

 Por exemplo: há um médico-dentista que se enganou na substância a dar a anestesia,


em vez de misturar com novocaína, misturou com cocaína pura. A autópsia revelou
que aquela pessoa sofria de uma insuficiência cardíaca que nem a própria pessoa
sabia. Foi essa insuficiência que levou a ter o colapso e morrer, mesmo que o médico
lhe tivesse dado a substância certo, devido à insuficiência o paciente morria na mesma
 São situações de comportamento lícito alternativo se ficar demonstrado em concreto
que seguramente o resultado acontecia na mesma

Por vezes, o legislador sente necessidade de vir a identificar que algumas situações em que
não haja imputação objetiva.

Art.º 150 Código Penal – ‘’não se considera ofensas à integridade física’’.

A vítima se autocoloca na situação de perigo, isto é, a vítima antecipa-se a uma determinada


situação. O agente provoca o perigo, mas a vítima tem consciência do perigo e submete-se a
esse perigo. Por exemplo: A tem uma doença contagiosa e B aceita ter relações sexuais sem
proteção, sabendo que ele é portador da doença. B contrai a doença.

A vítima deixa se pôr em perigo. O agente coloca a vítima em perigo, mas a vítima permite que
ele a coloque em perigo. Por exemplo: António vai a conduzir o McLaren 720S com Bento ao
seu lado e este pede para ele acelerar. Bento está a permitir que António o coloque em risco.
Bento acaba por morrer.

Casos de concausalidade – aquele resultado tenha sido fruto de várias condutas imputáveis a
vários agentes, só uma dessas condutas seria suficiente para provocar o resultado. Trata-se de
concluir que foram efetivamente todos.
Resultados tardios – situação em que o agente tem uma atuação e o resultado veio-se a
produzir muito tempo depois dessa atuação. Podemos estabelecer imputação objetiva quando
um resultado ocorre assim, muito tempo depois?

 Por exemplo: António dá um tiro na cabeça de Bento, Bento vai para o hospital e é
colocado nos cuidados intensivos. Esteve em coma durante 6 meses e não resistiu aos
danos provocados no cérebro pelo efeito do tiro e veio a morrer

22/04

Art.º 135 Código Penal – crime contra a vida.

Art.º 190 Código Penal.

Art.º 153 Código Penal.

A cumplicidade tem de ser dolosa.

Caso Prático

António avistou B e com o intuito de o agredir pegou numa pedra e atirou na sua direção. A
pedra acertou num braço de B provocando um grande hematoma e uma rotura de ligamentos
no ombro.

‘’Quem ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa’’

Quem – agente ; ofender – conduta ; outra pessoa – objeto

A conduta é de execução livre (o legislador não diz como é que tem de se ofender a
integridade física de outra pessoa)

É um crime de dano – não basta a colocação em perigo, exige uma lesão efetiva do bem
jurídico

É um crime de resultado – não basta a conduta do agente, é necessário que espaço ou


temporal se distinga um evento, o resultado

É uma ofensa à integridade física simples – art.º 143 Código Penal

26/04
Elemento subjetivo do tipo – questionar sobre saber se o agente apelou com vontade de
realizar aquele facto, as motivações (saber se o agente sabia ou não sabia que daquele
resultado).

Todos os tipos de crime preveem um elemento subjetivo – está presente e verificado no caso
concreto ou então a conduta não é típica (tipicidade prossupõe a presença de um elemento
subjetivo).

Art.º 13 Código Penal – regra essencial em matéria de tipicidade (regras que os crimes são, em
regra, dolosos).

Não se verificando nem dolo nem negligência não há responsabilidade criminal.

O dolo é o elemento regra no âmbito da tipicidade nos crimes previstos no Código Penal.

Só se trata de crimes negligentes quando a lei o disser, o legislador, no caso, afirma


expressamente. Por exemplo: art.º 137 Código Penal – ‘’quem matar outra pessoa por
negligência’’ – ou art.º 148 Código Penal – ‘’quem, por negligência, ofendeu o corpo ou saúde
de outra pessoa’’.

Dolo (elemento subjetivo)

 A responsabilidade criminal dos agentes, isto é, a identificação de qual é o crime que


lhe vamos imputar depende do dolo que o mesmo revela.
 As pessoas são responsabilizadas em função do dolo e não do resultado.
 Por exemplo: A pode causar a morte de B e o crime não ser de homicídio ou então não
causar a morte e o crime ser homicídio.
 Quando analisamos o dolo (elemento subjetivo), partimos do princípio de que os
elementos objetivos já estão preenchidos.
 Queremos aferir se a pessoa tinha vontade realizar esse facto.
 Dolo é o ato respondente que o agente manifestou em realizar determinado facto.
 Elementos estruturais do dolo: elemento intelectual ou cognitivo (conhecer) – o
agente tem de conhecer a realidade. Se o dolo traduz a vontade de realizar o facto, só
se pode formar a vontade se se conhecer a realidade. O dolo pressupõe conhecer e
querer. O segundo elemento é o elemento volitivo (querer) traduz o querer. O dolo
traduz o conhecer e querer aquela realidade de facto.
 Nota: o dolo não é só querer e conhecer o resultado, é conhecer todos os elementos
que integram a tipicidade, todas as circunstâncias de facto. Não se reduz a conhecer e
querer o resultado, até porque há crimes que não são de resultado (crimes de mera
atividade e nesses também há dolo).
 Nota: o dolo é dirigido às circunstâncias de facto, aquela realidade de facto existe e
atuar dessa forma.
 Consciência da ilicitude do facto – saber se esse facto é crime.
 É errado afirma que o agente é punido porque agiu com dolo, significa que o agente
agiu conhecendo e querendo, mas não se sabe o quê.
 Por exemplo: A pega numa pistola, carrega com balas, vai à procura de B e mata-o.
o Centramo-nos no art.º 131, responsabilizamos por crime de homicídio?
o A queria e conhecia que havia balas lá dentro, que era uma pessoa que ali
estava, que quando acertasse na cabeça ia matá-lo – factos.
 O nosso legislador prevê diferentes graus de dolo, isto é, gravidade diferente.
 Quais são os tipos ou graus de dolo que encontramos no nosso ordenamento jurídico?
o Art.º 14 Código Penal – formas de dolo.
o Art.º 14, n.º 1 Código Penal – dolo direto ou dolo de intenção.
o Existe uma certa tendência errada para, ao definir dolo, identificar dolo com
intenção, mas só nesta forma de dolo é que é uma intenção.
o Todas as circunstâncias factuais são desenvolvidas sempre direcionadas para
aquela intenção.
o Art.º 14, n.º 2 – dolo necessário.
o O agente desenvolve a sua conduta e sabe que aquela conduta vai ter como
consequência aquele resultado. Não há intenção de realizar essa conduta. Por
exemplo: faço uma aposta com alguém que a pistola que comprei é potente
para furar uma porta. Dou o tiro na porta e eu sei que no outro lado da porta
está lá uma pessoa e vou matá-la, mas eu quero ganhar a aposta. Não tenho
intenção de matar a pessoa, mas tenho a certeza de que a pessoa vai morrer.
o Art.º 14, n.º 3 – dolo eventual ou dolo de conformação.
o A diferença é que o agente não tem a certeza de que aquele facto vai
acontecer, quando tua sabe que aquela é uma consequência provável da sua
conduta. Por exemplo: o agente atua conformando-se com aquela
possibilidade (por exemplo: ganho a aposta e tenho a suspeição que o
resultado poderá ser a morte de alguém).
 Art.º 15 – Negligência
o Negligência consciente – podendo potencialmente acontecer. A diferença para
o dolo eventual – o agente conforma-se com a sua verificação, na negligência
isto não acontece.
 Distinção entre negligência consciente e dolo eventual:
o Critério da probabilidade – este critério desvia o ponto central da análise,
queremos saber se o agente agiu com vontade realizar um facto e vontade não
se confunde com probabilidade.
o Critério da aceitação (teoria da vontade, para alguns) – segundo esta teoria, o
que temos de fazer para responder à pergunta ‘’age com dolo ou negligência’’,
temos de colocar no momento anterior à sua conduta e pensar qual teria sido
a ideia do agente quando agiu para sabermos se, ao agir e sabendo que esse
facto podia acontecer, se o agente aceitou esse facto.
o Critério da indiferença – a diferença entre saber se agiu com dolo ou dolo
eventual é a seguinte: age com dolo quando o agente pensando que a
circunstância pode ocorrer, aceita com indiferença (não se importa que
acontecer, não deixa de atuar porque admitiu essa circunstância); age com
negligência quando o agente, imaginando essas consequências, as considera
indesejadas.
 Frank procurar criar uma fórmula e, a partir dessa resposta, dar-nos uma conclusão
sobre se estamos perante dolo ou negligência.
 O critério ficou conhecido como fórmula hipotética de Frank – ‘’se o agente tivesse a
certeza de que aquilo aconteceria e atuasse é dolo, se não atuasse é negligência’’.
 O autor substitui esta fórmula pela fórmula positiva de Frank – há dolo quando o
agente, embora equacionado a possibilidade daquele facto acontecer, pensa
‘’aconteça o que acontecer, eu atuo’’. Por exemplo: ando em excesso de velocidade
pelo meio da estrada e eu penso ‘’a esta hora ninguém vai atravessar a estrada’’,
alguém passa a estrada e eu atropelo a pessoa. Se eu pensar ‘’e se uma pessoa
atravessar a estrada? Não, eu quero é chegar rápido ao aeroporto’’ – age com dolo.

29/04
Bem jurídico

 Crimes de dano ou de lesão – o legislador, para haver uma consumação, não basta
que a conduta coloque em perigo o bem jurídico, é necessário haver uma efetiva
lesão. O art.º 190, por exemplo.
 Crimes de perigo – dentro destes temos crimes de perigo concreto e crime de perigo
abstrato. Aqui basta o perigo, mas tem de se materializar.
 Crimes formais – a consumação basta-se com a conduta. Por exemplo: crimes de
perigo abstrato são todos crimes formais. O crime fica consumado assim que o agente
atua. Por exemplo: conduzir com 1,3 de álcool no sangue, bastou o perigo.
 Crimes materiais/de resultado – todos os crimes de perigo concreto. Por exemplo: o
crime de art.º 138 Código Penal – ‘’quem abandonar uma pessoa colocando-a em
perigo...’’.

Caso Prático I

Alínea a):

 É uma ação penalmente relevante


 Não foi dominado pela vontade, mas era dominável porque Raul podia ter descansado
 O agente teve uma conduta negligente, quais são os bens jurídicos que foram lesados?
Trata-se de um crime de ofensa à integridade física por negligência (art.º 148 Código
Penal)
 Crime material de resultado
 Conduta livre
 Era previsível que se batesse a alta velocidade contra uma pessoa provocasse aquilo?
Sim, as escoriações várias nos membros superiores e a fratura da perna direito
 O agente (Raul) criou um risco

Alínea b):

 O bem jurídico lesado é a privacidade


 Art.º 190 Código Penal – Violação de domicílio
 Crime contra o agente é geral
 É uma ação penalmente relevante
 É um crime de mera atividade – a conduta concretiza logo a consumação
 Não se trata de um crime de resultado

Alínea c):

 É uma ação penalmente relevante


 Trata-se de um crime doloso – crime de ofensa à integridade física simples (art.º 143
Código Penal)
 É um crime de execução livre – o legislador não nos diz como é que a conduta tem de
ser empreendida
 É um crime de dano – o legislador exige a efetiva lesão para a consumação
 Ele lesou a integridade física de facto
 É um crime material/de resultado e não formal

03/05
Dolo

 As formas de dolo revelam que o dolo não se confunde com a intenção, o dolo
pressupõe a vontade de realizar o facto
 Qual o dolo que ele verdadeiramente manifestou?
 Sempre que falamos de dolo (conhecer e querer os elementos do tipo), nós estamos a
falar do dolo enquanto elemento subjetivo da tipicidade, portanto não faz parte do
conceito do dolo o agente saber que a sua conduta é ilícita
 Consciência da ilicitude não integra o dolo
 Art.º 17 Código Penal – demonstração do que foi dito anteriormente
 Por exemplo: António pega num ferro e agride Bento com o intuito de causar uma
lesão na sua integridade física, durante essa execução o António assume a vontade de
matá-lo. Dá-lhe pancadas e decide matá-lo – altera o seu dolo durante a atuação
(como é que responsabilizamos o agente? Ofensa à integridade física? Homicídio?
Revela outro dolo, logo comete outro tipo de crime). Não faz sentido puni-lo pelos dois
crimes pelo mesmo facto (tem de estar em causa o mesmo objeto, a mesma vítima)
 Dolus generalis (dolo geral) – encaramos a situação como uma só, punimos o agente
pelo crime que corresponde ao dolo mais grave (neste caso, crime de homicídio)

Podemos ter três situações:

 O resultado obtido corresponde ao dolo manifestado pelo agente. Há plena


consciência entre o dolo e o resultado.
 O dolo fica aquém do resultado – o agente agiu com determinado dolo que era obter
certo resultado, não chega a verificar-se por determinado motivo – denomina-se
tentativa.
 O dolo é um, mas o resulto vai além do dolo – o resultado é mais grave do que o que o
agente pretendia (crimes agravados pelo resultado).

Notas: a atuação do agente é feita no mesmo objeto, por exemplo: dou um soco e acabo por
provocar a morte, na mesma vítima.

Por exemplo: dou um tiro no braço do Chico para o ferir, a bala passa de raspão e atinge o que
está atrás dele na cabeça. Neste caso, tenho um resultado doloso e outro negligente. Existem
dois crimes, são dois objetos diferentes.

O elemento determinante para saber se imputamos o crime à pessoa é o dolo. Por exemplo:
soco no nariz e acaba por falecer, o resultado é imputado à sua conduta. O crime não é de
homicídio porque tinha de dar um soco na vítima com dolo de matar (crime de ofensa à
integridade física agravado pelo resultado).

Art.º 141 Código Penal – Aborto agravado.

Por exemplo: dirigiu-se à Maria e deu-lhe um murro na barriga, sabendo que ela estava grávida
de 5 meses. Teve uma hemorragia e perdeu a criança, na sequência dessa hemorragia ficou
incapacitada e não pode ter mais filhos.

Sempre que estejamos a interpretar um crime agravado, nós só percebemos se a conduta se


integra lá ou não através do art.º 18 Código Penal.

1) Especiais intenções
 A lei, ao descrever a conduta identificamos o dolo, pode exigir que seja necessário
identificar que o agente atuou com uma especial intenção
 Por exemplo: crime de furto (art.º 203 Código Penal). O dolo é tirar o bem e saber que
não é meu, mas além do dolo ‘’especial intenção de...’’

2) Motivações

 O que levou a praticar o facto foram essas razões


 Por exemplo: art.º 132 Código Penal (crime de homicídio qualificado) – mate
revelando especial perversidade...

Para haver responsabilidade na negligência, a lei tem de prever a responsabilidade por


negligência (só existe quando a lei o prevê expressamente).

Art.º 13 Código Penal.

A negligência não se traduz na ausência de dolo, portanto temos de saber caracterizar o facto
negligente.

Art.º 15 Código Penal.

O que define a negligência (pressuposto fundamental) assenta no facto do agente não ter
cumprido com o dever de cuidado.

Elementos do facto negligente

 Cuidado objetivo – é um dever inerente à minha circunstância, aos meus factos.


 Dever subjetivo de cuidado – a situação gera o cuidado e aquela pessoa tem
individualmente capacidade para cumprir com esse cuidado (art.º 15 Código penal –
‘’cuidado a que o agente está obrigado e é capaz’’). Aquela pessoa, naquelas
circunstâncias, não atuou com o cuidado que devia.
 Elemento-chave – violação do dever de cuidado – o agente não cumpriu com o dever
de cuidado nas circunstâncias em que estava obrigado. Posso violar um dever de
cuidado porque violo normas de comportamento (aquela atuação que estou a praticar,
existem normas que tenho de cumprir).

Nota: violação ou não do dever de cuidado – saber como é que vou ver, na prática, se aquela
pessoa ao atuar daquela forma violou ou não o dever de cuidado.

Qualquer outro médico fazia de x forma, eu sabia fazer de forma diferente. Devo considerar
que foi negligente? Como é que podia fazer melhor se eu não sabia fazer melhor? Se eu não
sei fazer, estou quieto. Não devo fazer aquilo para o que não estou habilitado.

Naquele caso concreto, pressupõe as circunstâncias em que se encontra, o que pode fazer,
qual o crime que existe, o que queremos saber é se o indivíduo tinha ou não ao agir o dever de
cuidado? Haviam determinados cuidados que ele tinha de cumprir?

Princípio da confiança – se o agente pode não ter atuado com o cuidado que devia porque
confiou que o outro cumpria o cuidado.
Quando há divisão de tarefas, numa atuação de vários cada um tem uma missão e eu não
cumpro o dever de cuidado porque eu deleguei esse dever de cuidado no outro.

Art.º 15 Código Penal

 Negligência consciente – art.º 15, alínea a) – o agente sabe que da sua atuação, vai
acontecer aquele resultado, mas confiou que não acontecia
 Negligência inconsciente – art.º 15, alínea b) – a falta de cuidado reside no facto dele
nem se quer ter admitido como possível que aquilo acontecesse (não admitiu que
aquela circunstância podia acontecer a partir da sua conduta). A sua negligência reside
no facto de nem ter equacionado que aquilo podia acontecer, daí o seu descuido

Graus de dolo – forma mais grave (dolo direito) e forma menos grave (dolo eventual)

Graus de negligência – forma mais grave (consciente) e forma menos grave (inconsciente)

O comportamento do agente afasta-se daquele cuidado que ele devia ter tido, isto pode
revelar-se nas mais quotidianas atividades.

Nota: os crimes negligentes (só é quando a lei prevê) são por natureza crime por resultado.
Dificilmente encontramos uma conduta negligente punida por lei num crime de mera
atividade, porque o cuidado é o cuidado de evitar aquele resultado (em regra). Não quer dizer
que a conduta negligente não seja compatível com crime de mera atividade.

Por exemplo: crime de condução sob o efeito de álcool – crime de mera atividade que é
negligente.

Elemento-chave – o facto de não ter intenção não quer dizer que não tenha dolo, por outro
lado, o facto de não ter dolo não quer dizer que a conduta seja negligente.

Nota sobre crimes negligentes:

 É verdade que os crimes negligentes são exceção, normalmente são dolosos. Uma das
mais recentes evoluções foi o direito penal do risco que está associado à necessidade
de serem controlados riscos decorrentes do próprio processo tecnológico (crimes
ambientais).
 Num ou noutro crime, o legislador sente a necessidade de identificar diferentes graus
de negligência. Por exemplo: provoco um acidente de viação numa estrada onde o
limite é 100km/h e eu vou a 140km/h. Provoco um acidente. A minha conduta é
negligente, continua a ser negligente se for a 200km/h em vez de 140km/h.
 O legislador introduz o conceito de negligência grosseira (art.º 137 Código Penal) –
uma forma mais grave de negligência, a forma como se afasta dos seus elementares
deveres é mais grave. A forma como cumpro o meu dever de cuidado é mais grave. A
sua leviandade é muito maior.
 Por exemplo: provoco um acidente por uma conduta negligente e com esse acidente
provoco que um autocarro vá pelo monte abaixo e morrem todas as pessoas (30
mortes). A discussão que tem sido feita é que devo ser punido por um único crime ou
devo ser punido por 30 crimes porque eram 30 pessoas? Os nossos tribunais
respondem de maneira diferente a esta questão. A sua conduta releva um único
desvalor, o agente deveria ser responsabilizado por um único crime. (Contudo, para o
professor, o direito penal protege o bem jurídico que o sujeito lesou ou ameaçou). O
agente deve ser responsabilizado por 20 crimes, porque foi uma morte que ele não
evitou com a sua conduta (na visão do professor).
 Qual era a pena que cabia para cada crime – o tribunal decidia punir para cada
crime desses, 2 anos de cadeia por cada uma das mortes. Como é que é feito o
cúmulo? De todas as penas aplicadas, a que for maior, neste caso como eram
todas 2 anos, este era o limite mínimo e o limite máximo é o somatório de
todas as penas. A soma daria 40 anos, como a nossa lei limita a pena de prisão
em 25 anos, ele tinha uma pena entre 2 a 25 anos e o tribunal tem de
encontrar a pena justa, dentro desse intervalo.

10/05

Metodologia da resposta ao caso prático:


 Tipicidade – problemas de tipicidade
 Qual é a questão que temos para resolver? (1º passo) – identificar o problema
principal: imputação objetiva ou imputação subjetiva ou se é penalmente
relevante, por exemplo
 Se ou não uma ação penalmente relevante. Se o problema principal se centrar
em torno da ação
 Identificar a tipicidade objetiva, os elementos objetivos (quem é o agente,
conduta, bem jurídico tutelado, objeto atingido, se o resultado se verificou ou
não, problema da imputação objetiva) – estabelecer se devemos ou não ter
imputação objetiva
 Teoria da causalidade adequada com a teoria do risco
 Questão pode ser sobre dolo ou negligência

Crime de dano/lesão – tem de haver a efetiva lesão do bem jurídico (o resultado foi a
efetiva lesão do bem jurídico). Opõem-se aos crimes de perigo.

Crime agravado pelo resultado – o dolo do agente corresponde ao crime que cometeu.
Por exemplo: crime de ofensa a integridade física simples, dei um murro no nariz do
João com intenção de magoá-lo, contudo acabou por ter uma hemorragia. O murro foi
doloso, mas houve ainda um resultado negligente mais gravoso (ter uma hemorragia)

Dolo eventual – na sua cabeça, quando atua equaciona a possibilidade daquela


circunstância ocorrer (conforma-se com ela, aceita-a).

Crime de resultado – é preciso que a conduta do agente se autonomize num resultado,


pode ser a lesão de um bem jurídico ou o perigo. O resultado tem de vir da conduta.

Quando é praticado por outra pessoa, não configura crime – próprio.


Aquele crime já existe, quando é praticado por x pessoa agrava – impróprio.
O elemento cognitivo influencia o elemento volitivo.

Se há erro tem relevância em matéria do elemento subjetivo e tem essa relevância


porque este elemento corresponde à vontade do agente e só posso ter vontade
adequada se tiver conhecimento correto e adequado da realidade.

O erro corresponde ao momento em que o agente desconhece a realidade ou conhece


mal.

Se o erro afeto o elemento cognitivo, a sua relevância opera em sede de dolo e a


consequência do erro é a exclusão do dolo.

Erro intelectual – coloca-se quando o agente está em erro sobre a realidade de facto. É
um erro sobre os factos, não são como ele os imagina.

Art.º 16, n.º 1 Código Penal – a sua consequência e a exclusão do dolo.

A ignorância da lei não aproveita a ninguém.

Art.º 17 Código Penal – erro de valoração ou erro moral. A realidade é como o agente
imagina, mas ele faz dela uma valoração diferente. A relevância opera em sede de
culpa.

Centramos a análise no art.º 16, n.º 1 Código Penal – erro de tipo


 Erro sobre elementos de facto, sobre factos
 Ou de direito – erros sobre elementos normativos
 Erro sobre proibição

Podemos ter dois tipos de erro:


 Erro ignorância – ocorre quando o agente julga por e simplesmente que não
existem os factos. Por exemplo: imaginemos que um caçador, antes de arrumar
a arma em casa, vê que ainda tem um cartucho. Para guardar em segurança, foi
à rua e deu um tiro no escuro para a arma ficar vazia. Acertou numa pessoa que
nem sequer imaginou que estava ali – desconhece em absoluto os factos
 Erro suposição – ele pensa que o objeto é um quando o objeto é outro

Erro por defeito – maioria das situações erra por defeito porque não sabe que existe
aquela realidade (nem lhe passa pela cabeça que está a cometer um crime porque
aquele objeto não existe)

Erro por excesso – agente imagina que a realidade é mais do que ela é, o agente pensa
que o objeto existe, mas não existe. Por exemplo: A quer matar B e à noite aproximou-
se da casa de B com uma arma na mão. Olhou para dentro das janelas e viu um vulto
dentro de casa de B e pensou ‘’está ali o Bento’’ e dispara sobre esse vulto. Quando foi
ver que tinha matado o B, reparou que era apenas um relógio. Deu apenas um tiro no
relógio a achar que estava a matar o B (tentativa impossível – porque tentou matar o
B, mas o B não estava lá).
Erro intelectual – art.º 16 (erro sobre factos, logo afeta o elemento intelectual)
Erro plural/de valoração – art.º 17 (o agente valora mal)

Art.º 16 tem três proposições:


 Erro sobre elementos de facto (típico) – primeira previsão do art.º 16
 Que elementos do facto típico é que o agente pode encontrar – erro sobre o
objeto (agente não conhece a existência do objeto ou conhece mal, julga que o
objeto é um quando na verdade é outro)
o Erro sobre a existência do objeto – está em causa a seguinte realidade:
o agente com a sua atuação atingiu um determinado objeto. Por
exemplo: atingiu uma pessoa, matou-a (crime de homicídio). O objeto
no sentido de em que é que materializa o bem jurídico. Contudo, o
agente encontra em erro relativamente à existência desse objeto,
porque não sabia que havia ali uma pessoa. Se o agente não conhece
aquele objeto, não pode querer atingi-lo (exemplo típico que conduz à
exclusão de dolo – não posso ter dolo de matar uma pessoa se não sei
que está lá uma pessoa).
o Erro sobre a identidade do objeto – por exemplo: A dispara sobre Maria
a achar que era a Manuela (gémeas), o agente atingiu outro objeto que
não aquele. Saber se existe ou não existe distonia típica (saber se em
termos de tipicidade há diferença). Quero atingir o objeto A e atinge o
objeto B, no caso concreto atingir o objeto A ou B, se a lei tipifica ou não
da mesma maneira. Por exemplo: matar uma pessoa ou matar outra, a
lei, em princípio, valora da mesma maneira (menos quando A mata o
próprio pai, por exemplo). Quando não há distonia típica (quando a lei
valora da mesma maneira) o erro é irrelevante, e se o erro é irrelevante
não vou subsumir ao art.º 16, n.º 1 Código Penal – eu agi com dolo
apesar de ter errado a pessoa.
o Erro sobre a qualidade do objeto – o agente pode desconhecer que
aquele objeto tem determinadas características, pode ser importante.
Por exemplo: na altura do Natal, A foi pegar um pinheiro num pinhal.
Quando está a cortar o pinheiro, a GNR diz que ele está a cometer um
crime, pois não era um pinheiro normal, era um pinheiro xpto
(variedade protegida). Para ele era um pinheiro normal. Ele não sabia
que cortar o pinheiro xpto era crime, porque não sabia que o pinheiro
tinha essas características (não sabia que a lei protegia aquele pinheiro).
 Erro sobre (as qualidades do) o agente – como é que o próprio agente erra
sobre si próprio. Pode ser um crime específico, pode acontecer que aquele
agente não saiba que tem as características de funcionário (que a lei identifica
como funcionário), se não fosse funcionário não cometia o crime (mas ele
pensa que não é funcionário). Por exemplo: a lei define que a característica de
funcionário (da função pública), um trabalhador independente foi nomeado
por um Tribunal para ser perito e ele comete um facto qualquer que um
cidadão comum pode praticar, menos um funcionário. O facto de estar a
exercer a função de perito a favor do Estado, não pode praticar aquele facto.
Por exemplo: um diplomata português (art.º 319 – doação de segredos de
Estado) está de férias e naquele dia vai jantar a minha casa, no fim do jantar
começa a falar da situação que viveu enquanto estava ao serviço (pensa que
está de férias e não é diplomata, é apenas o Zé) e acaba por revelar um segredo
do Estado.
 Erro sobre o processo causal – o agente não conhece que aquela conduta é o
processo a produzir aquele resultado. O desvio no processo causal não é um
problema de imputação subjetiva (a sua relevância nunca é neste âmbito).
o Erro sobre a eficácia do processo causal
o Desvio no processo causal
o Erro sobre o meio – o agente utiliza um certo meio desconhecendo que
está a usar esse meio. A situação comum é ‘’alguém, por exemplo,
dispara um tiro convencido que a arma está vazia e a arma tem
cartucho que alguém colocou e ele não sabe. Mata a pessoa, mas nunca
pensou matar’’.
o Por exemplo: A quer matar B e dá-lhe um tiro, ele cai no chão e pensa
‘’matei-o’’ e depois pensa em esconder o corpo, pega nele e atira para o
fundo do poço. Vem a provar-se que ele não estava morto, morreu de
afogamento (matou-o da conjugação de dois atos, é a eficácia do
processo causal – o agente é punido pelo conjunto da sua atuação).

Erro que estamos a tratar é sobre factos, o erro reflete-se no elemento intelectual. O
erro está no conhecer, porque não conheço a realidade.

Aberratio ictus – erro na solução

Resolução de Casos Práticos


Caso Prático VI

Alves
Conduta – dá uma facada em João e Miguel
- Integridade física simples – art.º 143 Código Penal
- Dolo direto (o agente conhece e quer a realidade do facto) – art.º 14, n.º 1 Código
Penal

Bento
Conduta – não dá prioridade à ambulância e mata os dois bombeiros e João
Bento age com dolo porque conforma-se com o resultado, ele quer é chegar a tempo
ao Porto de Lisboa
- Dolo eventual (o agente sabe que existe uma consequência provável da sua conduta,
mas age na mesma) – art.º 14, n.º 3 Código Penal
- João vai na ambulância e morre, segundo a Teoria do Risco, houve um
comportamento lícito alternativo, dado que, mesmo que chegasse ao hospital, morria.
Logo, não se estabelece imputação objetiva de Bento a João, mas estabelece-se de
Bento aos bombeiros (homicídio – art.º 131 Código Penal)
Miguel
Conduta – recusa tratamento hospitalar e dirige-se para casa, sem saber que era
hemofílico acaba por sofrer uma hemorragia incontrolável, morrendo
- Não se estabelece imputação objetiva na morte de Miguel, porque, apesar de ter
levado uma facada, este recusa-se a receber tratamento. Deste modo, a vítima
provoca um desvio no processo causal (que é relevante) e Miguel morre por não
receber o tratamento, não por ter sido esfaqueado.

Caso Prático VII

Pedro para Nuno


- Dolo direto (art.º 14, n.º 1 Código Penal)
- Ação penalmente relevante, o agente queria e conhecia a realidade dos factos e os
pressupostos da responsabilidade criminal estão preenchidos (ilicitude, tipicidade,
culpa)
- Bem jurídico tutelado: vida
- Segundo a Teoria da causalidade adequada, era previsível que Nuno morresse com a
explosão dentro do carro
- Homicídio (art.º 131 Código Penal)

Pedro para amigo de Nuno


- Negligência inconsciente (art.º 15, alínea b Código Penal)
- Pedro nem equacionou com a sua conduta matasse alguém para além de Nuno
- Segundo a Teoria da causalidade adequada, não era previsível que o amigo de Nuno
morresse com a explosão dentro do carro, até porque ‘’Nuno viva num lugar ermo e
não era costume estar acompanhado’’
- Homicídio por negligência (art.º 137 Código Penal)

Caso Prático VIII

Jaime empurrou Luís, visto que o último ia ser atropelado. Ao cair, Luís partiu o braço.
Era previsível que Luís partisse o braço, de acordo com a Teoria da causalidade
adequada. No entanto, a Teoria do Risco vem corrigir afirmando que aconteceu uma
situação de diminuição do risco, visto que o salvou de ser atropelado.
A ação não é penalmente relevante, pelo que não estabelecemos imputação objetiva.

Caso Prático IX

Chico – eletricista
Diogo – patrão

A ação não é penalmente relevante, pelo que não estabelecemos imputação objetiva.
Segundo a teoria da causalidade adequada, era previsível que Chico morresse por não
usar o equipamento. Contudo, a teoria do risco afirma que se trata de uma situação de
comportamento lícito alternativo, visto que, mesmo que Chico utilizasse o
equipamento necessário, morria.

Caso Prático XII

- A corta os travões de B para que este morra – dolo direto (art.º 14, n.º 1 CP)
- Ação penalmente relevante, dado que é dominado pela vontade do agente
- C, inimigo de B, coloca-se na curva e dá-lhe um tiro nos pneus para que este tenha
um acidente e morra – dolo direto (art.º 14, n.º 1 CP)
- Segundo a Teoria da Causalidade Adequada, através do juízo de prognose póstuma, o
homem médio consegue prever, colocado nas mesmas condições de tempo, espaço e
conhecimento do agente, que da conduta conduzia àquele resultado (nexo de
causalidade). No entanto, segundo a Teoria do Risco, há um desvio do processo causal
em que a segunda conduta provoca o mesmo resultado, mas de uma forma diferente.
Deste modo, B morre do tiro nos pneus e como é um desvio causal causado por
terceiro, só se estabelece imputação objetiva à conduta desviante (a segunda
conduta). Não há imputação objetiva em relação a A.
- C incorre num crime de homicídio (art.º 131 CP)
- A incorre num crime de tentativa de homicídio (art.º 131 CP)
- Crime geral, de dano (bem jurídico – vida), de execução livre, de resultado

17/05

Aberatiu Ictus – situação de execução defeituosa

O exemplo mais típico é aquele em que a pessoa falha a pontaria, falha a execução. A
quer dar um tiro em B, aponta a arma e falha, acertando em C.

Como resolvemos estas questões? Não se trata de uma situação de erro previstas no
art.º 16 Código Penal (erro sobre a realidade, situações em que este capta a realidade
de uma forma e ela é de outra).

Solução? Nestes casos, como o do exemplo do tiro, o autor diz-nos que temos de punir
o agente por dois crimes, porque ele, ao apontar a arma a B e disparar com o intuito
de o matar, age dolosamente e colocou a vida de B em perigo. Só não foi executado,
porque era outra pessoa, deve ser responsabilizado por tal (é punido por tentativa).

Por outro lado, A com a sua conduta atingiu C, pelo que lesou o bem jurídico. Deste
modo, não pode deixar de ser responsabilizado. Como o seu dolo não era dirigido a C,
houve uma falta de cuidado na forma de executar o seu facto, por isso a morte de C é-
lhe imputada a título de negligência.

O agente deve ser responsabilizado em concurso: dolo no objeto que queira atingir e
negligência no objeto que atingiu.
Erro sobre o objeto – queria atingir o B e atingi o C, estes autores afirmam que não
devia haver diferença entre casos (aberatiu ictus e erro sobre o objeto).

Teoria da Equivalência
 Vem propor que quando há execução defeituosa (há o objeto visado – objeto
que o agente quer atingir com a sua atuação e o objeto atingido – objeto que o
agente acabou por atingir). Nós devemos verificar se os objetos são
equivalentes, isto é, a lei tem de tratar da mesma forma (segundo esta teoria,
os objetos são equivalentes se atingir o objeto visado ou o objeto atingido
trata-se do mesmo crime).
 Por exemplo: A quer matar B e acerta em C – o objeto é sempre uma pessoa, a
lei não protege B de forma diferente de C. Assim, a execução defeituosa não
tem relevância e o agente deve ser punido por aquele crime doloso.
 A solução será diferente quando os objetos não forem considerados
equivalentes. Por exemplo: atiro uma pedra para partir uma montra de uma
loja, falho e acerto numa pessoa.
 Por exemplo: A quer matar B porque B se prepara para matar A. A, ao ver isto,
dispara sobre ele, com o intuito de se defender só que falha e acerta em C. O
objeto visado era o B, o objeto atingido é o C.
 Utilizando a teoria da equivalência era equivalente? Não, porque matar o B era
em legítima defesa e matar o C não era. As condutas não são tratadas da
mesma forma.
 Por exemplo: A quer matar B (objeto visado) e falha na execução e atinge C. No
fim de matar C afirma ‘’eu queria matar B’’, dispara o segundo tiro e mata B.
Como é que A é responsabilizado neste caso? O 1º tiro era direcionado a matar
uma pessoa e matou outra (homicídio doloso) e o 2º tiro foi direcionado a
matar uma pessoa e matou outra (homicídio doloso).

Art.º 16 Código Penal – podemos encontrar o erro sobre elementos normativos (na
segunda parte). A pessoa desconhece efetivamente determinadas características
normativas.

Elementos normativos
 Erro sobre as qualidades normativas do autor
o Pode estar em causa o facto do próprio autor não saber que a lei lhe
confere um determinado estatuto, a lei lhe atribui uma determinada
qualidade. O seu facto só constituía crime se ele tivesse essa qualidade
que ele não sabe que tem (desconhece essa característica) – art.º 16,
n.º 1 Código Penal.
o Como não sabe que tem essa qualidade, não é doloso.
o Por exemplo: crimes cometidos por funcionários – o agente desconhece
que a lei lhe atribui a qualidade de funcionário (qualidade normativa).
o Por exemplo: alguém compra um relógio a outro e no fim de fazer o
negócio. Fazem o negócio e o outro não lhe paga, como ele alega que o
relógio já é dele, vai atrás dele e parte o relógio. Está a cometer um
crime de dano, sem ter noção – erro de ilicitude (art.º 17 Código Penal).
o Erro sobre proibições – o agente não sabe que aquela conduta que está
a praticar é crime. Este erro pode ser subsumível ao art.º 16, n.º 1,
tendo como consequência, a exclusão do dolo.
o Erro sobre a lei pode beneficiar o agente, para percebemos o art.º 16,
n.º 1 temos de analisar o art.º 17 – ‘’erro sobre ilicitude’’.
o Quando é que eu não saber que a conduta é proibida deve conduzir à
exclusão do dolo? O art.º 16 trata do problema da falta de
conhecimento na medida em que o agente não sabe, não conhece
aquela circunstância nem podia saber.
o Em determinadas situações, haver uma proibição que a agente não
conhece nem tinha como conhecer.
o Proibição nova – a lei prevê a proibição há pouco tempo. Além de ser
nova, tem de ser uma proibição axiologicamente neutra (não colide com
valores essenciais).
o Por exemplo: um cidadão estrangeiro chega a Portugal e comete um ato
que no país dele não é crime. O consumo de estupefacientes é livre na
Holanda, contudo não é permitido em Portugal. Traz uma mala cheia de
canábis e é encontrado no aeroporto. É uma proibição nova? Para ele
sim. É axiologicamente neutra? Não, porque todos os cidadãos têm a
obrigação de saber o que é legal num país, pode não ser noutro.
o Há crimes que não têm carga ética (são axiologicamente neutros).
o Por exemplo: numa aldeia no interior, um senhor tinha uma taberna e
um dia apareceu um vendedor de máquinas de jogo que pretendia
instalar a sua máquina na taberna. Só tinha de passar no fim do mês e
repartir o dinheiro. Instalou um jogo de cartas (poker) em que a pessoa
jogava contra a máquina e o ganhar dava um prémio (ia jogando contra
uma imagem de uma senhora e quando começava a ganhar, a imagem
de uma senhora ia perdendo roupa). Apareceu a polícia e afirmou que
se tratava de um jogo de fortuna ou azar, o homem do café não fazia
ideia do que isso era (o homem foi enquadrado no art.º 16, n.º 1 – tinha
a obrigação de saber que atividade explora).
o A aplicação do art.º 16, n.º 1 só se aplica porque a pessoa porque a
proibição é nova e investida na carga ética, a sociedade não interioriza
como uma proibição.
o Se for integrado no art.º 16, o dolo é excluído automaticamente. No
art.º 17, é um erro censurável (não exclui o dolo).
o A consequência do art.º 16, n.º 1 é a exclusão do dolo, mas isso não
significa que seja exclusão de crime.
 ‘’Fica ressalvada a punibilidade da negligência nos termos
gerais’’ – art.º 16, n.º 3 Código Penal.
o Primeiramente, temos de analisar se não for um crime que admite
punibilidade por negligência, se não admitir excluindo o dolo não há
crime. Segundo, temos de ver se é comportamento negligente, se
cometendo erro foi erro por descuido. Por exemplo: dar um tiro no
escuro e matar uma pessoa (erro sobre a existência do objeto) – exclui o
dolo, mas não pode excluir a negligência, ele devia ter visto se estava lá
alguém.
 Erro sobre as qualidades normativas do objeto

24/05

Facto ilícito é, à partida, um facto desvalioso (desvalor do facto) – estamos a falar de


ilicitude.

Esse desvalor do facto, para que um facto seja desvalioso, isto encerra um triplo
significado:
1. Há correspondência com o tipo de crime – isto é, está previsto na lei como
crime, é uma conduta proibida por lei.
2. Viola um bem jurídico.
3. Não está justificado – ou seja, não está abrangido por uma das causas de
exclusão da ilicitude do facto.

O desvalor do facto é o elemento central da ideia da ilicitude, um facto ilícito é um


facto desvalioso.

Desvalor do facto pressupõe:


1. Desvalor da ação – a ação é desvaliosa porquê? A ação do agente é desvaliosa
porque a sua atitude (a atitude que revela ao praticar essa ação) releva um
desrespeito à ordem jurídica, por isso, a sua ação (motivação para a conduta) é
querer praticar o ato ilícito que torna a sua atitude desrespeitosa perante a
ordem jurídica.
2. Desvalor do resultado – um facto previsto na lei como crime, é um facto que
lesa um bem jurídico ou crimes de perigo. Nessa lesão ou ameaça de lesão que
está o resultado desvalioso. Facto em que se integra esta ideia cumulativa, por
um lado, desvalor da ação porque desrespeitou a ordem jurídica, por outro
lado, desvalor do resultado porque a sua conduta traduz a lesão ou ameaça de
um bem jurídico.

Quando analisamos a ilicitude do facto, a nossa abordagem não se resume a


identificarmos se o facto é lícito ou ilícito. No âmbito da responsabilidade criminal, a
partir desta ideia de desvalor, introduzimos uma nota que é a seguinte: a partir da
ideia de ilicitude enquanto desvalor do facto, é possível nós estabelecermos diferentes
graus de ilicitude. A ilicitude é o conceito, por natureza, graduada (em função daquele
duplo desvalor identificado anteriormente). Por exemplo: crime de ofensas à
integridade física (art.º 143 Código Penal) – ‘’quem ofender o corpo ou saúde de uma
pessoa’’. Imaginemos que dou um beliscão a uma pessoa (perturbação ao corpo da
colega), de acordo com o art.º 143, pode configurar prática de uma conduta de ofensa
à integridade física. Agora, obviamente, que a intensidade com que fiz o beliscão e o
contexto apresenta um desvalor de resultado mínimo, tão mínimo que não fazia
sentido eu ser responsabilizado criminalmente por este resultado.

Certos atos, por apresentarem um desvalor de resultado mínimo, não justificam a


intervenção do direito penal. O próprio legislador previu esta circunstância, por
exemplo: não se tratou propriamente de um beliscão, a meio da discussão empurrei a
colega e ela empurra-me de volta e ainda me dá um pontapé. Este contexto aqui
praticado, houve agressões mútuas e não se sabe bem quem atacou primeiro – art.º
143, n.º 3 Código Penal ‘’agressões recíprocas sem saber quem atacou primeiro, o
tribunal pode dispensar pena’’ – desvalor de ação mínimo. O legislador prevê a
possibilidade de nós não sermos sequer responsabilizamos, conjugando as regras com
o desvalor.

A partir do desvalor do facto, podemos estabelecer logo uma diferença entre situações
que justificam a intervenção do direito penal e as que não necessitam do direito penal.

Por exemplo: em vez de dar um beliscão, tinha arrancado um braço fora. É uma ofensa
à integridade física e justifica a intervenção do direito penal. Existe uma diferença
entre dar um beliscão e cortar um braço fora. Com o desvalor do resultado, varia o
grau de ilicitude e o legislador afirma que estas ofensas não se enquadram no art.º
143, mas sim no art.º 144 Código Penal. A minha conduta é ilícita e desvaliosa, mas
varia o desvalor de resultado. A pena deixa de ser até 3 anos de pena de prisão, passa
a ser até 10 anos de pena de prisão.

Destacamos aqui, a partir da ideia que apresentamos, é comum encontrarmos a


diferenciação entre:
1. Ilicitude formal – facto ilícito como facto contrário à lei
2. Ilicitude material – identificamos o conteúdo da ilicitude material mencionando
ilicitude material ao que corresponde o comportamento lesivo de bens
jurídicos. Aqui pretendemos resolver vários problemas que nós podemos
efetivamente colocar na prática. Por exemplo: a graduação da ilicitude.

Consequências do erro – identidade do objetivo (é relevante ou não, em função de


perceber se o enquadramento jurídico é o mesmo).
A lei valora da mesma maneira o objeto que queria e o objeto que eu por erro acabo
por atingir.

Ponderação de interesses – situações em que o agente, para conseguir salvaguardar o


bem jurídico, tem de sacrificar outro. É indispensável se saber que o bem jurídico que
guardou é superior ao que sacrificou. Para saber qual é o bem que prevalece, é
indispensável o conceito de ilicitude material.

O facto típico, em princípio, é ilícito. Porque a lei prevê condutas que lesam bens
jurídicos, portanto se tenho uma conduta que lesa um bem jurídico, à partida, tenho
uma conduta contrária à lei. Contudo, pode acontecer que encontremos circunstâncias
que têm como efeito afastar o desvalor do facto – circunstâncias que provocam o
efeito justificador.

Causas de justificação = causas de exclusão de ilicitude. São circunstâncias que, uma


vez verificadas, cortam com o efeito indiciador do tipo de crime. A conduta vista como
crime, estava indiciada a ilicitude, mas porque se verificaram diversificadas
circunstâncias/causas. Esta ilicitude está excluída, logo não há responsabilidade
criminal. Por exemplo: A mata B. Se for doloso – preenche o tipo de crime no art.º 131.
Este facto indicia a ilicitude, mas temos de analisar se se verifica alguma circunstância
que tenha como efeito excluir a ilicitude. Como é que uma situação afasta a ilicitude?
O efeito de uma causa de exclusão da ilicitude é afastar o desvalor do facto, torna o
facto não desvalioso. Para que uma causa tenha como efeito afastar o desvalor do
facto, tem de conseguir afastar o desvalor da ação e o desvalor do resultado.

Causas de justificação – o que é que o nosso Código Penal nos refere, o que seja
exclusão de ilicitude? Art.º 31 e ss. do Código Penal – abordam-nos as circunstâncias
que têm como consequência a exclusão da ilicitude.

A primeira elação do art.º 31 – o n.º 1 do artigo estabelece o princípio da unidade da


ordem jurídica (determina que não me remeto exclusivamente ao que é mencionado
no Código Penal para me referir a causas de exclusão de ilicitude).
O código penal apresenta algumas causas de exclusão da ilicitude – o n.º 2 do artigo.
 As circunstâncias previstas no n.º 2 são apenas exemplos – ‘’nomeadamente’’.

É possível encontrarmos causas de exclusão de ilicitude que nem estão na lei, resultam
de princípios ou do costume.

Qual é o efeito de uma causa de efeito de exclusão de ilicitude? Excluir o desvalor do


facto que está indiciado.

O facto de um bem jurídico estar protegido no CP e, por isso, está tipificado como
crime a conduta que lesa o bem jurídico, não significa que o direito penal tinha de
obrigatoriamente punir todas as condutas que lesam esse bem jurídico.
- A nossa lei, no CP, protege a vida (crime de homicídio) porque a nossa CRP define que
a vida é um bem jurídico supremo/fundamental.

O facto de a vida exigir tutela e no CP haver essa tutela, não significa que toda a pessoa
que mate outra tenha de ser punida, porque para que o seja a sua conduta tem de ser
desvaliosa. Podemos admitir que A mate B e a sua conduta não ser desvaliosa.

Art.º 31 Código Penal:


 O art.º 31 estabelece o princípio da unidade da ordem jurídica, por isso,
consagra que se a minha conduta for permitida à luz do Direito, não pode ser
ilícita – é um princípio da não contradição da ordem jurídica.
 Implícita em todo o art.º 31 – ato autorizativo. Por exemplo: quero desenvolver
uma atividade industrial e tenho de ter autorização do Ministério que tutela
aquela área. Apresento um projeto ao Ministério e tenho uma autorização, por
escrito, que me permite desenvolver a minha indústria. Contudo, a minha
indústria é poluente e o CP pune como crime de poluição. Inicio a minha
atividade e cumpro as regras a que estou sujeito, mais tarde alguém diz que a
atividade é poluente e é aberto um processo-crime por crime de poluição. Eu
posso poluir, o meu projeto foi aprovado, desenvolvo a minha atividade com
base nesse ato administrativo, não faz sentido dizerem-me depois que é crime.
Será que o ato foi indevidamente conseguido? Se sim, é anulado. Enquanto não
me tirarem essa autorização, posso beneficiar do efeito do ato administrativo.
Mesmo que o ato autorizativo seja um ato inválido, enquanto não for
declarado como nulo, os meus atos estão autorizados.
 Se eu beneficiei de um ato autorizativo, eu estou autorizado. A entidade emitiu
esse ato e se for a entidade competente para isso, não podem tornar o meu ato
em ilícito (ideia principal).
 O n.º 2 do art.º 31
o A) Legítima defesa
o B) Exercício de um direito – retiramos uma segunda fonte de exclusão
da ilicitude do facto. Se a lei me atribui um direito, um direito é algo que
está consagrado na minha esfera jurídica e posso exercê-lo, portanto se
tenho um direito e exerço-o, ainda que possa colidir com interesse de
terceiros, não pode ser considerada uma conduta ilícita. Por exemplo:
tenho uma casa e alugo a casa a uma família, portanto nesse contrato,
eles têm de pagar a renda e eu tenho de deixá-los usar a casa. Se
deixarem de pagar a renda, eu tenho o direito de intentar uma ação de
despejo, e se não saírem a bem, vem a polícia e leva as coisas. O direito
à habitação está consagrado na CRP, mas eu tenho um direito que é
para viverem na minha casa, têm de me pagar, obviamente que estou a
fazer o exercício de um direito.
o Abuso de direito – quando exerço o meu direito contra as regras de
boa-fé. Já não torna a conduta lícita, porque não tenho o direito de usar
um direito de forma abusiva. Desde que, o direito seja exercido dentro
dos limites que a lei lhe confere, desde que seja exercido no pleno
exercício e dentro dos limites desse direito, a conduta do agente é lícita.
o C) Cumprimento de um dever – se tenho um dever jurídico, tenho uma
obrigação (que é para cumprir). Se estou a cumprir a minha obrigação,
ainda que ao cumprir a minha obrigação, estiver a praticar um facto
tipificado na lei como crime, seria uma contradição de a lei impor uma
obrigação e depois punir-me. Por exemplo: no final de um jogo de
futebol, as claques estão a fazer distúrbios. Vem a polícia e vai bater nas
claques, os polícias ao baterem com o bastão nos adeptos estão a
praticar factos típicos de ofensa à integridade física (mas estão a
cumprir com o dever, não são punidos).
o Quando falamos de um dever, podem haver duas fontes: resultar da lei
(então não há mesmo exceção, não há qualquer forma de pôr em causa
a minha obrigação de cumprir) ou pode nascer de uma ordem (o que
obriga a cumprir a ordem é o meu dever de subordinação – estou
inserido no âmbito de exercício de uma função e estou subordinado a
alguém que tem ordem de comando sobre mim, quando assim é, estou
vinculado a cumprir a minha obrigação, tenho de cumprir o meu dever –
a não ser que esta ordem seja uma ordem ilegítima). Por exemplo:
imaginem que alguém é condutor de um automóvel de um ministro, a
meio da viagem recebe a ordem que tem de acelerar porque estão
atrasados. É uma ordem ilegítima, não estava a cumprir uma ordem
legítima.
o Princípio da ponderação de interesses – não funciona propriamente
como uma causa de exclusão da ilicitude autónoma, mas surge presente
em algumas causas de exclusão de ilicitude. Estou entre duas situações:
interesse menor e interesse maior. Por exemplo: há um incêndio numa
floresta, vai um carro dos bombeiros, chega ao local e tem duas
hipóteses: demora 1h a chegar ou passamos pelo meio da plantação de
batatas e daqui a 5 minutos estamos lá. Obviamente que é uma questão
lógica que torna lícita a conduta neste sentido, o que levou a praticar a
lesão de um bem jurídico, foi para salvaguardar um bem jurídico maior.
Sempre que, para salvaguardar um interesse maior, se tenha de
sacrificar um interesse menor, excluímos a ilicitude do facto.

O CP apresenta de forma mais desenvolvida:


- Art.º 32 (Legítima defesa)
- Art.º 34 (Direito de necessidade)
- Art.º 36 (Conflito de deveres)
- Art.º 38 (Consentimento)

Como é que funcionam as causas de exclusão da ilicitude?


 Têm como efeito afastar o desvalor do facto, a causa de exclusão da ilicitude
tem de afastar o desvalor da ação e o desvalor do resultado. Por exemplo: A
vem com uma arma tentar matar B, B antecipa-se e mata A – considera-se
legítima defesa. Há uma questão importante – para a legítima defesa excluir a
ilicitude é preciso concluir que o desvalor da minha ação está excluído, porque
eu matei o A apenas porque ele ia matar-me a mim.
 As causas de exclusão de ilicitude só funcionam enquanto tal e produzem o seu
efeito se comportarem um duplo elemento: objetivo (centrado nas
circunstâncias concretas que a lei defina que são da causa de exclusão de
ilicitude) e subjetivo (as causas de exclusão de ilicitude têm de ter este
elemento, porque senão não afasta o desvalor da ação – no caso da legítima
defesa, o elemento subjetivo é saber que estou a ser agredido).
 Para eu poder dizer que o agente está em legítima defesa, tenho de ter esse
duplo elemento – evitar a agressão e saber que estava a ser agredido.
 Por exemplo: quero matar o A, quando chego ao pé dele dou-lhe um tiro. Veio-
se a saber que o A estava a vir ter comigo porque me queria matar. Estamos
numa típica situação numa causa de exclusão de ilicitude objetiva, porque
objetivamente estava perante uma agressão, mas falta o elemento subjetivo,
não podendo ser beneficiado de legítima defesa – não há causa de exclusão de
ilicitude.
 O desvalor do resultado, esse está afastado porque eu objetivamente matei o A
em situação de legítima defesa. Portanto, afasto o desvalor do resultado. O
desvalor da ação não afasto, porque eu quero matá-lo não é para me defender,
quero matá-lo porque quero matá-lo. A minha ação é desvaliosa, mas o
resultado não é desvalioso.
 Deste modo, neste caso, nós podermos ainda beneficiar o agente da seguinte
forma: se só há desvalor da ação, não há desvalor do resultado, eu posso puni-
lo recorrendo a uma figura do CP em que só sou punido pelo desvalor da ação?
O agente é punido por tentativa (eu não tentei matá-lo, eu matei-o, a ação não
está justificada, mas o resultado está justificado). Nas situações em que haja a
presença dos elementos objetivos da causa de exclusão de ilicitude, mas não
haja elemento subjetivo, o agente pode ser responsabilizado por tentativa.
 Há uma única causa de exclusão da ilicitude em que a lei prevê essa
possibilidade (de não ter elemento subjetivo) – art.º 38 ‘’Consentimento’’.
 No n.º 4 do art.º 38 – quando não há conhecimento do consentimento, é
punido por tentativa.
 O que é que se sugere? Para as outras causas, recorremos ao art.º 38, n.º 4 por
analogia. Devemos aplicá-lo às outras causas de exclusão de ilicitude.
 Mas posso fazer analogia no direito penal? Está proibida quando se trata de
normas incriminadoras, não quando se trata de normas favoráveis. É mais
favorável ser punido por tentativa? Art.º 23 Código Penal – é uma pena
atenuada/mais favorável.
 O importante não é dizermos que se pode recorrer à analogia porque é mais
favorável, é saber onde está a analogia – art.º 38, n.º 4 manda aplicar esta
situação e quando falta o elemento subjetivo afastamos o desvalor do
resultado, mas permanece o desvalor da ação e o agente é punido pelo
desvalor da ação (tentativa).

Perceber o seguinte: as causas de exclusão de ilicitude


1. O efeito de uma causa de exclusão de ilicitude é justificar o facto – significa
afastar o desvalor do facto e, para afastar, tenho de afastar o desvalor da ação
e o desvalor do resultado. Só afasto o desvalor da ação se souber que está
perante aquelas circunstâncias (exigem sempre elemento subjetivo), não
havendo elemento subjetivo. Só é punido pelo desvalor de ação – equivalente a
situações de tentativa.

Por exemplo: vou na rua e vem o António (meu inimigo) que já tinha dito que quando
me visse ia matar-me, quando vem na minha direção eu penso que ele me vai matar e
nisto o António tira um objeto do bolso e antes que ele me dê uma facada, pego numa
pedra e dou-lhe com ela na cabeça. Ficou provado que ele era um isqueiro e ele ia
apenas acender um cigarro, eu pensei que ele me ia agredir, mas não era o caso. Seria
legítima defesa, mas não é – legitima defesa putativa (imagino a realidade primeiro, a
realidade não é como eu imaginei, logo a minha conduta não está justificada e estou
em erro em relação aos factos).

31/05

Erro suposição – o agente pensa que a realidade é de uma forma e esta é de outra

A doutrina não nos dá a solução, mas várias em relação a este erro


 Teoria rigorosa da culpa
O conceito de dolo abrange apenas o conhecer e querer os elementos do tipo,
estritamente os elementos da tipicidade. Por isso, esse dolo não é afetado quando o
agente, por exemplo, julga que está a ser agredido e não está.

Temos de saber se o agente sabia ou não que estava a atuar contra a lei, que a sua
conduta estava abrangida por uma exclusão de ilicitude.

A solução está no critério da evitabilidade – verificar se esse erro era ou não evitável

Segunda teoria, a propósito da ideia de tipicidade, apresenta-se como a Teoria dos


elementos negativos do tipo
 Segundo esta teoria, as causas de exclusão da ilicitude não são analisadas na
categoria da ilicitude (enquanto categoria autónoma), mas dentro da própria
tipicidade. Segundo a teoria dos elementos negativos do tipo, para sabermos se
uma conduta é ou não típica temos de aferir as causas de exclusão de ilicitude.
Estas são entendidas como elementos do próprio tipo (da própria tipicidade),
elementos negativos, isto é, uma causa de exclusão de ilicitude, a conduta não
é típica. Para que a conduta seja típica, pressupõe que o agente preencha os
elementos da tipicidade e não esteja abrangido por nenhuma causa de
exclusão de ilicitude. Como as causas de exclusão de ilicitude fazem parte deste
tipo, segundo esta teoria, o dolo estende-se aos elementos do tipo. Faz parte
do dolo, que ele conhece e quer aquela ação típico e a mesma está abrangida
por uma causa de exclusão de ilicitude. Estamos perante um problema de dolo,
falta ao agente o conhecimento que está a praticar uma conduta que é típica,
não está abrangida por uma causa de exclusão de ilicitude. À luz desta teoria, a
resolução deste problema está no art.º 16, n.º 1 do Código Penal, porque este
artigo prevê o erro de tipo. Havendo um erro desta natureza, estamos na
presença sobre um erro do art.º 16, n.º 1 e a consequência é a exclusão do
dolo.

Terceira teoria – Teoria limitada de culpa


 Segundo esta teoria, o problema aqui não é propriamente um erro de tipo, mas
a solução deve ser análoga ao do erro do tipo. Análoga porquê? Porque,
quando falámos da ideia de desvalor do facto, desdobramos o mesmo em
desvalor de ação e desvalor de resultado, excluímos o desvalor da ação do
crime doloso. O agente quer praticar o facto, mas não quer desrespeitar a
ordem jurídica porque pensa que está perante uma causa de exclusão de
ilicitude. Por exemplo: A mata B porque acha que B ia matá-lo. Aqui ele quer
matar B, mas não quer desrespeitar a ordem jurídica, porque achava que B ia
matá-lo (há exclusão do dolo).

Quarta teoria (próxima da anterior) – Teoria do tipo permissivo


 O dolo tem um duplo enquadramento – o dolo é elemento do tipo, além de ser
um elemento do tipo é, também, uma forma de culpa (enquanto forma de
culpa assenta no facto do agente decidir praticar um facto ilícito). Assim, o dolo
enquanto elemento do tipo (conhecer e querer os elementos do tipo) e
enquanto forma de culpa (atuar contrariando a lei).
 Quando estou em erro porque penso que estou a agir contrariamente à lei,
mas não estou (dolo enquanto elemento do tipo não está lá, mas enquanto
elemento de culpa sim).
 Pensa que está a agir ao abrigo de uma causa de exclusão de ilicitude, mas não
está porque se encontra em erro – art.º 16, n.º 2 do Código Penal (a
consequência é a exclusão do dolo)
 Qual é a consequência deste erro? Estando em erro que se integra nesse artigo,
a consequência é a exclusão do dolo.
 No art.º 16, n.º 2 encontramos a teoria dos elementos negativos do tipo e a
teoria do duplo enquadramento.
 A consequência deste erro (erro sobre factos) – os factos são ou não como o
agente imagina? E se fossem como ele imagina, a ilicitude estava excluída? Se
chegarmos à conclusão que estava, estamos no âmbito do art.º 16, n.º 2.
 O art.º 16, n.º 3 continua a ressalva que pode haver responsabilidade sobre
negligência.
 A e B discutem, durante a discussão A diz a B ‘’eu dou-te um tiro’’ e dito isto,
mete a mão ao bolso e B sabia que ele andava sempre armado, portanto
antecipa-se e mata-o. Vem provar-se que B não tinha arma nenhuma no bolso.
Resposta: ele estava em erro, como estava em erro agiu com o intuito de se
defender, afasta-se o dolo. Ele incumpriu o cuidado? Não, não podemos
afirmar que seja uma conduta negligente.

Análise individual de causas de exclusão de ilicitude


Legítima defesa
 Art.º 32 Código Penal
 A forma como a nossa lei conserva a legítima defesa permite enquadrar a
legítima defesa do próprio como a de terceiros.
 Duas questões sobre o terceiro – posso incluir no conceito de terceiro o
Estado? O prof diz que não, porque o Estado não precisa. O Estado tem força
pública, que nenhum outro terceiro tem. Não necessita de proteção, embora
possa admitir que excecionalmente possa atuar em legítima defesa de um
interesse do Estado.
 Se o terceiro se opuser à minha defesa, se não quiser que eu o defenda, eu não
posso invocar legítima defesa de terceiro. Não posso invocar que estou a
defendê-lo quando ele não quer.
 Se o facto que constituiu a agressão por um facto justificado, eu não posso agir
em legítima defesa. Por exemplo: A vai agredir B e este para se defender agride
o A. Eu, que estou de fora, vou agredir B para ele não agredir o A (não há
legítima defesa sobre legítima defesa).
 A lei refere legitima defesa, ela legitima a minha defesa. A lei não legitima a
minha resposta ou retaliação. Por exemplo: se A me der um soco e virar as
costas, eu vou atrás dele e dou-lhe um soco. Não é legítima defesa, apenas é
legítima defesa quando atuo para ele não me dar um soco.
 Da lei não resulta a necessidade de ponderação de interesses, a lei não limita a
minha defesa ao tipo de agressão que estou a ser alvo. Pode ser legítima defesa
eu matar aquele que me agredir? Ele apenas ia agredir-me, estou em legítima
defesa= Posso estar, não tem de ser proporcional.
Quais os pressupostos e requisitos da legítima defesa?
Pressupostos
 O que é uma agressão? É uma conduta humana que ataca o interesse. Por
exemplo: se for na rua e o cão do meu vizinho me vier tentar morder, para
tentar que ele não me morda dou-lhe um pontapé (não é legítima defesa).
 Atual – a lei não me permite retaliar, a agressão tem de estar em curso (pode
estar iminente).
 Ilícito – só posso defender-me de uma agressão que seja ilícita.
 Interesse juridicamente protegido – se aquele interesse for um interesse
protegido pela lei
 Agente ou de terceiro

Agir com meio necessário – o que é que entendemos como meio necessário? O art.º
32 teve uma evolução e, na sua redação anterior, o agente tinha de atuasse com
proporcionalidade. Atualmente, a lei deixou de exigir a ideia de proporcionalidade.
Não tem de ser proporcional, porquê? Porque o momento em que atuo em legítima
defesa, é um momento de stress, estou prestes a ser vítima de agressão, não consigo
saber os meus limites. Não há disponibilidade mental para fazer essa ponderação
nesse momento. Por exemplo: se for completamente desproporcional, alguém passa
numa mercearia e leva laranjas, eu vi e vou atrás deles e mato-os. É completamente
desproporcional.

Meio necessário – se a lei confere a possibilidade de me defender, eu tenho de


conseguir defender de forma eficaz. Por exemplo: estou a ser agredido por alguém
muito mais forte que eu, basta as mãos para me agredir. Se eu chegar à conclusão que
a única forma que tenho de me defender é uma facada, eu dou.
Temos de verificar os meios que o agente tem ao seu dispor, aquele que, sendo eficaz
seja o mais suave, aquele que cause o menor dano. Se conseguir defender-me dando 3
socos, não preciso de usar uma faca, se conseguir defender-me dando um tiro no pé,
não tenho de dar um tiro na cabeça.

A pergunta que se coloca é: é necessário defender-me dessa forma?

Na legítima defesa, o elemento subjetivo é saber que está a ser vítima de uma
agressão (animus defendeudi).

07/06

Direito de necessidade
 Art.º 34 – tem de ser um interesse juridicamente protegido. Estamos numa
situação que ameaça o bem jurídico.

Estão previstos outros requisitos que têm de se verificar para o agente estar em
legítima defesa.
1º requisito – não ter sido o agente de forma voluntária a criar a situação de perigo.
2º requisito – é o principal e determina o essencial que justifica a conduta. É o
requisito da ponderação de interesses.

Como é que analisamos se existe uma superioridade sobre o bem salvaguardo e


sacrificado?

Notas sobre ponderação de interesses:


 Há certos bens jurídicos que pela sua natureza é insuscetível de ser ponderado.
Não há nenhum bem jurídico mais valioso que a vida. O direito de necessidade
nunca pode excluir a ilicitude num caso de homicídio.

Por exemplo: 21 pessoas tentam-se salvar num naufrágio

14/06

Art.º 336 Código Civil.

Poder de detenção – art.º 255 Código Processo Penal. Este poder é em caso de alguém
estar a cometer um crime chamado ‘’flagrante delito’’ – a pessoa está naquele
momento a praticar ou acabou de praticar. A lei confere a possibilidade de os agentes
de força de segurança poderem deter a pessoa.

Notas sobre o poder de detenção:


 Na sua execução pressupõe o uso da força e legitima esse uso da força
 Em regra, quem tem o poder de detenção são as autoridades judiciárias, mas a
nossa lei permite que qualquer pessoa, em situação de flagrante delito, possa
deter a pessoa. Tem de o apresentar de imediato às autoridades judiciárias

Esta é também uma cláusula de exclusão de ilicitude.

Podemos ainda enquadrar nas causas de exclusão de ilicitude, consagrada no Código


do Trabalho e na CRP – o exercício do direito à greve. A nossa lei consagra esse direito
e este pressupõe o direito de não trabalhar durante aquele tempo. O facto de a pessoa
não estar a trabalhar durante aquele tempo. O facto de a pessoa não estar a trabalhar,
pode, com isso, cometer um facto típico.

Por exemplo: greve dos médicos – um médico de greve não estará a acudir algum
paciente com necessidade da sua intervenção.

É possível, por força do art.º 31 Código Penal, as causas de exclusão de ilicitude não se
esgotam no Código Penal. O artigo diz que devemos atender à ordem jurídica
consagrada na sua globalidade.

As causas de exclusão de ilicitude apresentadas até então são causas que funcionam
para qualquer crime, desde que se verifiquem os requisitos e pressupostos da causa de
exclusão de ilicitude, no entanto, o nosso legislador entende que para certos tipos de
crime se justifica a criação de causa de ilicitude específica.
Art.º 142 – interrupção voluntária da gravidez não punível. A lei descreve
circunstâncias em que se os requisitos tiverem preenchidos, o crime de aborto não é
crime.
Em muitos tipos de crime, a lei prevê circunstâncias que aquela conduta não será
responsabilizada penalmente. Nem sempre a circunstância tem como consequência a
exclusão da ilicitude, por isso se impõe que quando interpretamos um tipo de crime e
identificamos que aquela conduta naquelas circunstâncias afasta a responsabilidade,
necessitamos de identificar quando é que o fundamento assenta na exclusão e
ilicitude.

Para assentar nesta exclusão, temos de perceber que o que está em causa é a
justificação do facto.

Art.º 150 Código Penal.

As causas de exclusão de ilicitude, na sua aplicabilidade, colidem com o desvalor do


facto. O seu efeito é excluir o desvalor do facto, por isso são denominadas de causas
de justificação, uma vez justificadas o facto deixa de ser ilícito e não há qualquer tipo
de responsabilidade criminal.

Análise da culpa – direcionada ao agente


O que entendemos por culpa?
 O sinónimo é censurabilidade. A culpa traduz um juízo de censura, censura do
ilícito
 É por ter praticado um facto ilícito que vamos censurar
 O juízo é feito porque o agente cometeu um facto ilícito quando podia e devia
ter atuado em conformidade com a lei
 Quem censura o agente é a própria sociedade. Esta exige que atuemos de
acordo com a lei e censura as nossas opções

Há dois conceitos implícitos ao juízo de censura:


1. Liberdade – primeiro pressuposto a analisar no juízo de culpa. A pessoa foi ou
não livre na sua opção?
Por exemplo: tu vais dar um estalo no indivíduo X ou eu mato-te. O meu
comportamento não pode ser censurado, porque alguém com a ameaça dirigida tirou-
me a liberdade. A opção era levar um tiro na cabeça.
2. Exigibilidade – era exigida ao agente que ele adotasse outro comportamento.
Ele não devia ter agido contra a lei, deveria ter conformado o seu agir com a
norma porque essa é uma exigência dirigida a todos nós. Só pode ser censurada
a nossa conduta se estes conceitos estiverem presentes no juízo formulado
àquela pessoa.

A partir da exigibilidade, a culpa pressupõe a possibilidade do agente agir de forma


diferente (em conformidade com a lei).
A culpa como uma atitude interna do agente, uma opção livre que a pessoa tomou.
Aquela pessoa tinha capacidade para atuar de forma diferente, como não atuou deve
ser responsabilizada criminalmente.

Não há responsabilidade criminal que não se funde na culpa. Sem culpa não há
responsabilidade criminal.

21/06

Elemento comum ao art. 17 – erro de valoração, o agente conhece bem a realidade, os


factos são como ele imagina, mas faz dos factos uma apreciação errada, a lei não
permite essa conduta.

A primeira situação que podemos ter é o erro direito sobre a ilicitude: o agente não
conhece a norma proibitiva, algo estatui uma conduta como crime, o agente
desconhece tal coisa.
Não sabe que a conduta tipifica para aquele comportamento um crime.

Não quer dizer que tenhamos aqui a solução para todos os nossos atos.

Em certas situações, o agente não pode ter consciência que a sua conduta estabelece
um crime, mas já levantávamos isto no art.º 16, n.º 1 – onde o mesmo prevê o erro
sobre proibições na sua última parte.

No erro sobre proibições, só estão proibições novas sem relevância ética e excluem o
dolo.

No âmbito do art.º 17, prevê-se um erro de consciência, falta ao agente a consciência


que não lhe transmitiu que a sua conduta era contrária ou podia ser contrária à lei,
sendo qualificado como crime.

A pessoa não tem consciência da ilicitude (penal), estou a praticar um crime, mas não
tenho consciência que é crime.

O problema na base é semelhante, no art. 16, n.º 1 parte final (erro sobre a proibição)
é um problema de consciência psicológica. No art.º 17 é um problema de consciência
ética.

16 – Falta de conhecimento, o agente não tem conhecimento que a sua conduta é


contrária à lei.
17 – Pode até saber que é contrária à lei, pode é não saber configura um crime.

16 – Exclui o dolo.
17 – Exclui a culpa.

Embora o art.º 16 ressalve a punibilidade por negligência, enquanto o 17 diz que se o


erro for censurável, é punido na mesma.
Aplicamos o art.º 16 se se tratar de uma proibição nova ou sem relevância ética, a
maior parte dos outros é dentro do âmbito do art.º 17, onde o problema é falta de
consciência de ilicitude do facto.

Podemos ter também o erro sobre ilicitude indireta, ele até sabe que é proibida, só
que pensa que no caso da sua atuação ela está permitida, aqui temos de abrir duas
possibilidades.

Erro de permissão: o agente pensa que a sua conduta, apesar de configurar um tipo de
crime, está abrangida sobre uma causa de exclusão de ilicitude, sobre a qual a lei não
configura (o seu erro não é sobre o facto, mas sobre a configuração).
Por exemplo: temos um indivíduo a andar na rua e vê a mulher dele de braço dado
com outro e pensou que isto é uma agressão e pregou-lhe um uppercut estilo
McGregor, porque pensava que a lei permitia que ele reagisse e que podia defender-se
da agressão, o que não é o caso.

Erros sobre os limites de uma causa de exclusão de ilicitude – o agente sabe que a
conduta é proibida, que está a agir sobre uma causa de exclusão de ilicitude, mas está
a agir fora dos limites dessa causa, quando está a fazer o contrário.
Por exemplo: A dá outro uppercut estilo McGregor ao B e o último agride o A. Como
sabemos, a legítima defesa não me permite responder, mas sim defender. Na cabeça
do agente, pensa que compreende a parte do responder, pensa que está dentro dos
contornos da legítima defesa, mas não está.

Direito de necessidade – valoração, o bem que se salvaguarda tem de ser superior ao


que se sacrifica, para salvar 30 pessoas tem de se sacrificar 2 (por exemplo), pensando
que está a atuar ao abrigo do direito de necessidade, mas na realidade não está.
O agente está convencido que ainda está a atuar nos limites de uma causa de exclusão
de ilicitude, quando na realidade não está.

Como é que sei se estou perante o art.º 16, n.º 2 ou 17? Tudo depende se o erro é
sobre factos ou valoração dos factos. Se for facto, é o art.º 16, se for sobre valoração
dos factos, é o art.º 17.

O problema envolve não conhecer os factos na totalidade ou valorou mal essa


totalidade de realidade.

O erro é censurável ou não? Quando vamos aferir isto, temos de apurar e colocar-nos
no lugar do agente com os seus conhecimentos ou não do caráter ilícito da sua
conduta, tinha ou não tinha de se ter uma noção que aquela conduta consulta crime,
se chegarmos à conclusão de que sim (o erro é censurável) e não devia pensar que a
conduta é lícita.

Quais são as consequências? São as consagradas no n.º 1 e 2


O erro é censurável, a culpa mantém-se, mas a culpa pode diminuir-se se o erro não
for censurável. A consequência é a exclusão da culpa, excluindo-se a culpa ele não vai
ser responsabilizado, pois o facto tem de ser ilícito, típico e culposo.
Causas de desculpa – se o agente tiver perante uma causa destas, não era exigível um
comportamento (...)

28/06

Exigibilidade do lícito – era exigível que o agente adotasse um comportamento


diferente, quando decidiu ter um comportamento ilícito. Se atuou contrariamente à
lei, tinha de atuar em conformidade à lei (não se devia ter conformado com a sua
atuação ilícita). Considerando os factos concretos, as circunstâncias que se colocou à
atuação do agente, podemos considerar que não lhe era exigido um comportamento
diferente? A nossa lei apresenta situações em que, a partir delas, não é exigível um
comportamento diferente e, por isso, afasta-se essa exigibilidade e ao se afastar,
afastamos a culpa (causas de desculpa/causas de exclusão da culpa =/= causas de
exclusão da ilicitude).

A nossa lei que o agente em determinadas circunstâncias (reveladoras de ao agente


não lhe poder exigir a adoção de um comportamento diferente) podemos aceitar a sua
conduta ilícita, mas não tem culpa.

Causas de desculpa – o efeito é preverem circunstâncias em que se afasta a


exigibilidade da adoção de um comportamento diferente.
Prevista no art.º 35 do Código Penal – Estado de necessidade (circunstâncias em que
existe um perigo para um determinado bem jurídico). Há uma certa proximidade entre
o direito de necessidade e o estado de necessidade, a base que sustenta o direito de
necessidade enquanto causa de exclusão de ilicitude e o estado de necessidade
enquanto causa de desculpa é o mesmo.

Art.º 35 do Código Penal


1. Primeiro requisito – existência de uma situação de perigo, há a ameaça de um
bem jurídico.
2. Quais são os bens jurídicos que podem estar em causa e podem preencher este
estado de necessidade? Vida, integridade física, honra e liberdade (bens
individuais elementares, fazem parte dos direitos de cada um). A sua
relevância, estando em perigo, pode haver uma atuação desproporcional para
afastar esse perigo e estamos a falar de um perigo real, efetivo (condição
essencial para demonstrar).
3. A lei não estabelece nenhuma ponderação de interesses, mas estabelece uma
condição essencial para se atuar que é a impossibilidade de o perigo ser
removido de outra forma.
4. Por exemplo: situação de naufrágio, todos vão ao fundo do barco e depois
estão todos a tentar salvar-se. Há alguém que está a nadar para uma boia e
percebe que só aguenta com uma pessoa. Ou é ele que se agarra à boia ou
então morre, então dá uma pancada na outra pessoa e a mesma morre. Com a
pancada, provocou que se agarrasse à boia e conseguiu salvar-se. Era exigível
ao agente que adotasse um comportamento diferente? Deixar que a outra
pessoa se salvasse e eu morria, o que não podemos pedir ao agente para fazer.
Era a única forma possível de o agente se salvar.
5. Nota sobre o n.º 2 do artigo: o nosso legislador vem prever a possibilidade de
alargar o funcionamento das causas de desculpa quando não estejam em
causas os bens jurídicos de natureza pessoal, mas outros bens jurídicos. A
exclusão da culpa fica estritamente aplicável quando o bem jurídico sem um
dos bens que o n.º 1 do artigo prevê. Não se exclui a culpa, mas pode haver
diminuição da culpa e, assim, haver o afastamento de responsabilidade total.
6. Pode configurar uma causa de desculpa aquele que age sob coação moral? Se
for coação física não é penalmente relevante.
7. Tem de se tratar de um perigo real e não pode haver outra maneira para
resolver a situação. Exclui-se a culpa, não há responsabilidade criminal.

Mais situações em que há exclusão da culpa


1. Situações de excesso de legítima defesa – art.º 33 Código Penal. Em termos
conceptuais, quando é que estamos numa situação destas? Será, desde logo,
uma situação onde se verifica todos os pressupostos da legítima defesa. O
agente atuou excedendo-se nos meios de legítima defesa, apenas tem de atuar
como meio necessário.
2. Primeiro, temos de verificar se os pressupostos estão preenchidos e só depois
ver se o agente atuou para lá do meio necessário.
3. Por regra, não funciona como uma causa de exclusão de culpa. O art.º 31, n.º 1
Código Penal diz que a lei prevê a possibilidade de diminuição de pena, não se
excluí a culpa, só se diminui.
4. Para saber se é meio necessário há conjugação de dois fatores: eficácia –
garantir que me defendi – e a ponderação – utilizar aquilo que causar menos
problemas possíveis, mas garanta a minha defesa.
5. Torna o excesso como uma causa de exclusão de culpa – quando a pessoa
excede o meio, denomina-se estado etério(?). O julgador tem de fazer uma
ponderação: esta pessoa, perante esta agressão que o outro dirigiu a ele, não
usou o meio necessário porque estava assustada. Neste caso, o julgador deve
colocar um homem médio para perceber se também ficaria em medo,
perturbação ou susto.

A) Art.º 37 – Obediência indevida desculpante


Este artigo vem na sequência do art.º 36 Código Penal – situações em que o agente
está em conflito de deveres, tem dois deveres para cumprir e só pode cumprir um
deles – quando os dois deveres, um é a lei e o outro é a ordem do superior
hierárquico. Se a ordem for crime, deixa de ser uma ordem, deixa de ser conflito de
deveres.

Este art.º 37 prevê que a ordem que o indivíduo recebe seja um crime, mas ele não
que é crime, não tem consciência disse e, por isso, obedece a essa ordem, convencido
que é uma ordem legitima e tem de cumprir.
A nossa lei prevê que se se puder considerar aceitável mais uma vez recorrendo ao
critério do homem do médio, o desconhecimento do caráter ilícito da ordem dada, ela
conduz à exclusão da culpa.

Só o conduz à exclusão da culpa se o homem médio também se confundiria e também


julgaria que estaria obrigado a seguir aquela ordem.

A atitude interna do agente de decidir ‘’eu vou atuar dessa forma’’ não merece
censura, é indispensável que haja a presença do elemento subjetivo. Só posso afastar
esse juízo se souber que está a afastar o perigo. A presença do elemento subjetivo no
âmbito das causas de desculpa é indispensável. Se este não se verificar, a atuação do
agente é culposa ou se verifica o elemento subjetivo, ou o agente não preenche a
causa de censura.

Não confundir causas de exclusão de ilicitude com causas de desculpa.


Analisamos comparativamente:
1. As causas de exclusão de ilicitude tornam o facto lícito.
2. As causas de desculpa afastam a responsabilidade, mas o facto é ilícito na
mesma.

Posso não ter responsabilidade criminal, mas ter responsabilidade civil.


1. As causas de exclusão de ilicitude justificam o facto, o facto passar a estar
justificado daquele agente ou qualquer outro que intervenha com ela. A causa
de desculpa só aproveita o próprio.

Elemento subjetivo: saber que está naquela circunstância. Legítima defesa (saber que
está em legítima defesa), estado de necessidade (saber que existe o perigo).

Há situações em que o agente não vai ser responsabilizado (porque morreu – extingue
a responsabilidade criminal – ou prescrição – há um tempo para a justiça atuar, se não
atuar dentro desse tempo e, esse tempo, varia em função da pena prevista para o
crime cometido).

Prescrição da pena – fui condenado a prisão, vou para casa até se lembrarem (na
esperança de que se esqueçam)
Prescrição da lei – é aplicado dentro aquele tempo ou não dá

Circunstâncias que se têm de verificar para ser punido:


- Queixa (se ninguém apresenta uma queixa, então não há procedimento criminal)

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