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APLICAÇÃO DA LEI PENAL

Interpretação da Lei penal:

Quanto ao sujeito, a interpretação pode ser:


-> Autêntica (ou legislativa) -> feita pelo próprio legislador. Ex: art 327 CP, que traz o conceito
de funcionário publico.
-> Doutrinária (ou científica) -> feita pelos estudiosos; Ex: livros de doutrina
-> Jurisprudencial -> é o significado da lei dado pelos tribunais (Ex: súmulas).

Quanto ao modo, a interpretação pode ser:


-> Gramatical / Literal: considera o sentido literal das palavras.
-> Teleológica: perquire a intenção objetivada na lei
-> Histórica: indaga a origem da lei.
-> Sistemática: interpreta a norma em conjunto com a legislação em vigor e com os princípios
gerais do direito.
-> Progressiva ou evolutiva: busca o significado legal de acordo com o progresso da ciência.

Quanto ao resultado, a interpretação pode ser:


-> Declarativa / declaratória: é aquela em que a letra da lei corresponde exatamente àquilo que
o legislador quis dizer, nada suprimindo, nada adicionando.
-> Restritiva: é aquela que reduz o alcance das palavras da lei para corresponder à vontade do
texto.
-> Extensiva: Amplia-se o alcance das palavras da lei para que corresponda à vontade do texto.

A interpretação extensiva não se confunde com a interpretação analógica!


Na interpretação extensiva, amplia-se o alcance de uma expressão.
Já a analógica ocorre quando o legislador dá exemplos e encerra de forma genérica, permitindo
ao magistrado encontrar casos semelhantes. É uma interpretação “intra legem”, em que o
código detalha as situações que quer regular e permite que situações semelhantes sejam
abrangidas.
Ex: o artigo 121, §2º traz qualificadoras do homicídio. Os incisos I, III e IV trazem a necessidade
de interpretação analógica, quando o legislador fala em “outro motivo torpe”, “outro meio
insidioso ou cruel” e “outro recurso que dificulte a defesa” (são encerramentos genéricos).

A interpretação analógica não se confunde com analogia!


A analogia não é forma de intepretação, mas sim de integração de lacunas na norma.
A analogia pressupõe lacunas (falta de previsão legal para o caso concreto), ao passo que a
intepretação analógica pressupõe uma lei para ser interpretada.

Pressupostos da analogia no direito penal:


- Certeza de que sua aplicação será favorável ao réu (in bonam partem). Não se admite analogia
em desfavor do réu!
- Existência de uma efetiva lacuna a ser preenchida (omissão involuntária do legislador).
Ex: artigo 181, I não abrange o companheiro -> cabe analogia, pois é benéfica (isenta de pena) e
a lacuna é involuntária, pois o legislador nem imaginava que fosse existir união estável à época.
Ex²: furto privilegiado (art 155, §2º): se a coisa é de pequeno valor, tem o privilégio. Mas para o
roubo não tem, e não pode aplicar por analogia, pois é uma omissão voluntária. O legislador não
quis privilegiar o crime de roubo por conta da violência ou grave ameaça.

Leis Incompletas e Normas Penais em Branco:

A lei penal pode ser completa ou incompleta.


A completa é aquela que dispensa complemento valorativo (dado pelo juiz na analise do caso
concreto) ou normativo (dado por outra norma). O exemplo clássico o artigo 121 do CP
(homicídio), que dispensa qualquer complemento.

A incompleta é aquela que depende de complemento valorativo ou normativo.


Se depende de complemento valorativo, é chamada de tipo incompleto.
Se depende de complemento normativo, é chamada de norma penal em branco.

1) Tipo aberto:

É uma espécie de lei penal incompleta, pois depende de complemento valorativo.


O complemento é dado pelo juiz (complemento valorativo), na análise do caso concreto.
Ex: crimes culposos -> são descritos em tipos abertos. O legislador não enuncia as formas de
negligência, imprudência ou imperícia, ficando a análise a critério do magistrado no caso
concreto.

OBS: Para não ofender o principio da legalidade, a redação típica do tipo aberto deve trazer o
mínimo de determinação.

Mas existem exceções. Existem casos em que o legislador já anuncia quais os comportamentos
caracterizados de culpa.
Ex: receptação culposa

Art 180, § 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço,
ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso.

2) Norma Penal em branco:

Também é uma lei penal incompleta, mas aqui o complemento é dado por outra norma
(complemento normativo).

Se essa outra norma for diferente de lei, teremos uma norma penal em branco em sentido
estrito. Se a outra norma for lei temos uma norma penal em branco em sentido amplo.

a) Norma penal em branco própria / em sentido estrito / heterogênea:


O complemento normativo não emana do legislador, mas sim de fonte normativa diversa:
Ex: Portaria 344/98 do Ministério da Saúde, que complementa a lei de drogas, definindo o que
são “drogas”.
b) Norma penal em branco imprópria / em sentido amplo homogêneo:
O complemento normativo emana do legislador, ou seja, temos uma lei complementada por
outra lei.
Se essa lei for uma lei penal, teremos a chamada “norma penal em branco homogênea
homovitelina (homóloga)” -> Ex: peculato; o artigo 327 explica o que é funcionário publico.
Se for uma lei não penal, teremos uma norma penal em branco homogênea heterovitelina
(heteróloga) -> Ex: ocultação de impedimento para casamento; o art. 237 do CP é
complementado pelo Código Civil, que diz quais são os casos de impedimento.

O que é norma penal em branco ao revés?


É quando o complemento se refere à sanção, ao preceito secundário, e não ao conteúdo da
proibição.

O complemento da norma penal em branco ao revés deve ser necessariamente fornecido por
lei, em respeito ao princípio da legalidade.
Ex: lei de genocídio -> o conteúdo é completo, mas remete às penas do código penal. A pena é
incompleta, ela precisa de complementação.

LEI PENAL NO TEMPO

Como decorrência do principio da legalidade, aplica-se em regra a lei penal vigente quando da
realização do fato criminoso. Excepcionalmente, no entanto, será permitida a retroatividade da
lei penal, desde que benéfica ao réu.

O que é extra-atividade da lei penal?


É o fenômeno que faz com que a lei penal se movimente no tempo. Pode ser de 2 espécies:
- Retroatividade: a lei posterior mais benéfica retroage para alcançar fatos anteriores, quando
ainda não existia.
- Ultra-atividade: possibilidade que a lei “morta” tem de continuar vigente para os fatos
praticados durante a sua vigência. A lei revogada por outra mais gravosa continua aplicando-se
para os fatos cometidos na sua vigência. O caso clássico é o da lei temporária ou excepcional,
que estudaremos adiante.

Quando um crime se considera praticado? No momento da conduta ou no do resultado?


3 teorias buscam explicar o “tempo do crime”:
- Atividade: considera-se praticado o crime no momento da conduta.
- Resultado: considera-se praticado o crime no momento do resultado.
- Mista / Ubiquidade: considera-se praticado o crime no momento da conduta ou do resultado.

O CP brasileiro adotou a teoria da atividade.

Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o
momento do resultado.

É no momento da conduta que tem que estar presentes todos os substratos do crime.
Ex: Indivíduo era menor no momento da conduta e maior no momento do resultado. Aplica-se
o ECA ou o CP? Vai ser aplicado o ECA, porque é o momento da conduta que define o tempo do
crime.
O momento do crime também é importante para saber qual a lei vigente, que vai acompanhar
o fato até a sentença transitada em julgado (salvo se sobrevier uma lei mais benéfica).

Sucessão de leis penais no tempo:

1 – “Novatio legis incriminadora”: Se no momento da conduta o fato era atípico e depois se


torna típico, a nova lei não pode retroagir, pois só se admite a retroatividade benéfica.

2 – “Lex Gravior”: Se no momento da conduta o fato era típico e vem uma lei mais grave,
aumentando a pena, ela também não poderá retroagir. A lei anterior será “ultra-ativa” para os
fatos praticados durante a sua vigência.
Ex: Prazo prescricional para crimes com pena inferior a 1 ano era de 2 anos, e depois de 2010
passou a ser de 3 anos -> só se aplica para os fatos posteriores.

OBS: No caso de crimes permanentes ou continuados, a lei penal será aplicada se entrar em
vigor antes de cessar a continuidade ou permanência (Sumula 711 do STF).

3 – “Abolitio criminis”: Se no momento da conduta o fato era típico e deixou de ser típico, a lei
posterior descriminalizadora será retroativa, pois é mais benéfica.
Ex: adultério, que deixou de ser crime pela L11106.

Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando
em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.

Quais as consequências da abolitio criminis?


- Cessa a execução penal. Se o indivíduo está cumprindo pena e a conduta é descriminalizada
ele deve ser colocado em liberdade.
- Cessam os efeitos penais da sentença condenatória. Os efeitos extrapenais permanecem (arts.
91 e 92 do CP).

OBS: a reincidência é um efeito penal que desaparece com a abolitio criminis, mas o dever de
reparação do dano permanece, pois trata-se de um efeito extrapenal (a abolitio criminis, frise-
se, só cessa os efeitos PENAIS).

4 – “Lex mitior” ou “novatio legis im mellius”: Se o fato era típico e lei posterior tornou a situação
menos grave (Ex: diminuição de pena ou de prazo prescricional), também haverá retroatividade.

Art 2º, Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos
fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.

Depois do transito em julgado, quem é o juiz competente para aplicar a lei mais benéfica?
De acordo com a súmula 611 do STF, é o juiz da execução.
5 - Se no momento da conduta o fato era típico e uma nova lei apenas migra o conteúdo
criminoso para outro tipo penal, teremos a aplicação do principio da continuidade normativo-
típica.
Ex: antes da L12015 tínhamos o estupro e o atentado violento ao pudor. A nova lei migrou o
atentado violento ao pudor para o artigo 213, que hoje pune a conduta de “constranger alguém
a ter conjunção carnal”.

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a
praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:

Esse princípio não se confunde com a “abolitio criminis”, em que o fato deixa de ser criminoso.
Na continuidade normativo-típica o fato continua sendo criminoso, mas em outro tipo penal,
com outra “roupagem”. Assim, o atentado violento ao pudor não foi descriminalizado, estando
apenas enquadrado em outro artigo.

Lei temporária e lei excepcional:

Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas
as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência

São leis ultra-ativas, pois serão aplicadas ainda que não estejam mais em vigor.

Lei temporária é aquela instituída por um prazo determinado. É uma lei que tem prefixado no
texto o seu lapso de vigência.
Ex: “esta lei tem validade de janeiro de 2010 a dezembro de 2013”

Lei excepcional é aquela editada em função de algum evento transitório. Ela perdura enquanto
persistir o estado de emergência.
Ex: estado de guerra ou epidemia

Se a pessoa pratica um crime na vigência da lei temporária ou excepcional, vai responder por
esse crime. A lei, para o infrator, será ultra-ativa.

Características da lei temporária e da lei excepcional:


- São leis auto-revogáveis (leis intermitentes). Consideram-se revogadas assim que encerrado o
prazo fixado (lei temporária) ou quando cessada a situação de anormalidade (lei excepcional).
- Ultra-atividade: são leis ultra-ativas, pois os fatos praticados durante a sua vigência continuam
sendo punidos, ainda que revogadas.

Lei intermediária mais benéfica:

Exemplo:
Lei A no momento da conduta estabelecia pena de 1 a 4 anos
Durante o processo vem uma lei B mais benéfica, estabelecendo pena de 6 meses a 2 anos.
E depois ainda vem uma lei C, mais grave, estabelecendo pena de 2 a 5 anos.
Essa lei intermediária mais benéfica (lei B) tem duplo efeito:
- Quando revoga a lei A, ela é retroativa, para atingir os fatos praticados na vigência da Lei A.
- Quando é revogada pela lei C, é ultra-ativa. Os fatos praticados durante sua vigência
continuarão tendo a pena de 6 meses a 2 anos, por ser uma lei mais benéfica.

LEI PENAL NO ESPAÇO

O estudo da lei penal no espaço visa aferir as fronteiras de atuação da lei penal nacional,
buscando resolver conflitos internacionais de jurisdição.

Nesse ponto estuda-se qual o país que irá aplicar a sua lei penal ao fato.
Ex: americano mata um holandês no Brasil => 3 países tem interesse.

Quais as regras que existem para solucionar esse aparente conflito internacional de
jurisdição?

1 - Princípio da territorialidade: aplica-se a lei penal do local do crime. Aqui não importa a
nacionalidade dos envolvidos ou o bem jurídico tutelado, mas sim o território do crime.
Ex: americano mata um holandês no Brasil -> segundo esse principio, aplica-se a lei penal
brasileira, que é o local do crime.

2 – Princípio da nacionalidade ativa: aplica-se a lei da nacionalidade do agente. Aqui não


importa o local do crime ou a nacionalidade da vítima ou do bem jurídico tutelado.
Ex: americano mata um português no Brasil -> segundo esse principio aplica-se a lei penal norte-
americana.

3 – Princípio da nacionalidade passiva: para a doutrina majoritária, esse principio exige a


aplicação da lei na nacionalidade da vítima (Bittencourt).
Ex: americano mata um chileno no Brasil -> aplica-se a lei penal do Chile.

4 – Princípio da defesa (ou real): aplica-se a lei penal da nacionalidade do bem jurídico lesado.
Aqui não importa o local do crime ou a nacionalidade dos indivíduos.
Ex: servidor português do executivo brasileiro que está na Argentina e pratica um crime de
corrupção contra a administração pública brasileira -> segundo esse principio, aplica-se a lei
penal brasileira, pois atentou contra um bem jurídico do Brasil.

5 – Princípio da justiça penal universal: o agente fica sujeito à lei penal do país em que foi
encontrado. Não importa o local do crime, a nacionalidade dos envolvidos ou do bem jurídico
tutelado. Este princípio está normalmente presente nos tratados internacionais de cooperação
na repressão de determinados delitos de alcance transnacional.

6 – Princípio da representação (do pavilhão, da bandeira, da substituição ou da


subsidiariedade): a lei penal aplica-se aos crimes cometidos em aeronaves e embarcações
privadas quando praticados no estrangeiro e aí não sejam julgados (inércia do país estrangeiro).
Ex: navio particular brasileiro atracado no porto de Portugal. Se, nesse navio, um americano
mata um holandês, em regra é a lei portuguesa que deve julgar. Mas se Portugal não faz nada
em relação a esse crime, aplica-se a lei brasileira, que é a lei da nacionalidade da embarcação.

O Brasil adotou como regra o princípio da TERRITORIALIDADE.

Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
internacional, ao crime cometido no território nacional.

Mas é um caso de territorialidade temperada, porque um crime pode ocorrer no Brasil e não ser
julgado pela lei brasileira, em virtude de tratados e convenções internacionais. E é possível ainda
que um crime ocorra no estrangeiro e a lei brasileira seja aplicável.

São, portanto, 3 situações:


- Territorialidade: Local do crime = brasil / Lei aplicável = brasileira
- Extraterritorialidade: Local do crime= estrangeiro / Lei aplicável = brasileira
- Intraterritoriariedade: Local do crime = brasil / Lei = estrangeira (Ex: diplomatas estrangeiros).

Portanto, é preciso saber até aonde vai o território nacional. Tal conceito abrange não só o
espaço geográfico (solo, subsolo, montanhas, mares etc), mas também o espaço jurídico fictício,
previsto no artigo 5º, §1º, que é considerado extensão do território brasileiro.

Art 5º, § 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as
embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde
quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de
propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-
mar.

Assim, em embarcações e aeronaves públicas ou a serviço do governo brasileiro, aplica-se a lei


brasileira, pois são consideradas extensões do território brasileiro onde quer que se encontrem.

Já as embarcações e aeronaves mercantes privadas só serão consideradas extensões se


estiverem em alto-mar ou espaço aéreo correspondente.

Art 5º, § 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou
embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território
nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.

OBS: Pelo princípio da reciprocidade, a lei brasileira não se aplica aos crimes praticados em
embarcações ou aeronaves públicas ou a serviço de governos estrangeiros.

Lugar do crime:

Onde o crime se considera praticado em nosso território?


Aqui também temos 3 teorias:
- Teoria da atividade: considera-se praticado no lugar da conduta.
- Teoria do resultado / do evento: considera-se praticado no lugar do resultado
- Teoria mista (ou da ubiquidade): considera-se praticado no lugar da conduta ou do resultado.

O Brasil adotou a teoria mista ou da ubiquidade.


Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou
em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado

Não confundir com o tempo do crime, em que se adota a teoria da atividade.

Tempo Teoria da
do Crime Atividade

Lugar do Teoria da
Crime Ubiquidade

Crime à distância X Crime em Trânsito X Crime Plurilocal:

No crime à distancia o crime percorre o espaço de 2 países soberanos, o que desperta um


conflito internacional da jurisdição. Nestes casos, aplica-se a teoria da ubiquidade para a
resolução do conflito.

O crime em trânsito percorre o espaço de mais de 2 territórios soberanos. Também gera um


conflito internacional de jurisdição, que também é resolvido com a teoria da ubiquidade.
Ex: começa no Brasil, vai para a Argentina e termina no Uruguai.

O crime plurilocal atinge 2 ou mais territórios do mesmo país.


Ex: SP, BH, RJ
Gera um conflito interno de competência: qual o juízo que aplicará a lei brasileira? Aqui não
trabalha se aplica mais a teoria da ubiquidade, mas sim com o artigo 70 do CPP, que prevê a
teoria do RESULTADO, como regra.

OBS: Nos juizados especiais criminais (L9099), o legislador adotou a teoria da atividade, por força
do art. 63:

Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a
infração penal.

CRIMES À CRIMES
JECRIM
DISTÂNCIA PLURILOCAIS
• Teoria da • Teoria do • Teoria da
Ubiquidade Resultado Atividade

Extraterritorialidade da lei penal:

Nos casos de extraterritorialidade, o crime é cometido no estrangeiro, mas a lei brasileira será
aplicável, em situações excepcionais.
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:

I - os crimes:

a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;


b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de
Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída
pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
nesses 3 casos utiliza-se o princípio da defesa; o que importa é a nacionalidade do bem
jurídico
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;
aqui aplica-se o princípio da justiça universal, porque o Brasil se obrigou a reprimir o
genocídio.

II - os crimes: (extraterritorialidade condicionada)

a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; principio da justiça universal
b) praticados por brasileiro; principio da nacionalidade ativa
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada,
quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. Principio da representação, no caso de
inécia

§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou
condenado no estrangeiro.
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes
condições:

a) entrar o agente no território nacional;


b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a
punibilidade, segundo a lei mais favorável.

§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora
do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: extraterritorialidade
hipercondicionada

a) não foi pedida ou foi negada a extradição;


b) houve requisição do Ministro da Justiça.

O princípio da territorialidade é a regra adotada pelo Brasil, como visto. Mas o ordenamento
jurídico brasileiro admite também a aplicação de outros princípios relativos à lei penal no
espaço, como o da justiça universal, da nacionalidade ativa e da representação. Tais princípios
atuam em nosso ordenamento para permitir a extraterritorialidade da lei penal.

A extraterritorialidade pode ser incondicionada, condicionada ou hipercondicionada:

- Incondicionada: nos casos do inciso I. Aqui o agente será punido pela lei brasileira ainda que
absolvido ou condenado no estrangeiro. (Ex: Tício mata o Presidente da República brasileiro,
quando o mesmo estava em uma missão na Alemanha).

- Condicionada: nos casos do inciso II. Aqui a lei brasileira só alcança tais casos se preenchidas
as seguintes condições:
(I) entrar o agente em território nacional;
(II) ser o fato punível também no pais em que foi praticado;
(III) estar o crime incluído nos casos em que o Brasil autoriza a extradição e
(IV) não ter sido o agente absolvido ou perdoado no estrangeiro (não estando extinta a
pena ou a punibilidade).
- Hipercondicionada: no caso do inciso III. Além das condições anteriores, precisa preencher
ainda mais 2 condições: requisição do ministro da justiça e não ter sido pedida ou negada a
extradição.

EXEMPLO:
Brasileiro, em Portugal, mata dolosamente um português e foge para o Brasil. A lei penal
brasileira alcança esse fato?
De acordo com o artigo 7º, II, “b”, sim. É um caso de extraterritorialidade condicionada, que
precisa cumprir as cinco condições:
. O agente fugiu pro território brasileiro, então a 1ª condição está presente.
. O homicídio também é crime em Portugal, então a 2ª condição está presente
. O crime incluído na lista de extradição;
. O brasileiro fugiu antes do fim das investigações, então não foi absolvido e nem cumpriu pena.
. Ele não foi perdoado e nem foi extinta punibilidade.
As 5 condições estão presentes, então a lei brasileira será aplicada nesse caso. E esse brasileiro
vai ser processado na justiça ESTADUAL, e não na federal, pois não há interesse da União
envolvido, de acordo com o artigo 109 da CRFB. A comarca competente, de acordo com o artigo
88 do CPP, será a capital do Estado onde houver por ultimo residido o acusado. Se nunca tiver
residido no país, será competente a capital da República.

Na extraterritorialidade incondicionada (Ex: matou o presidente da republica), não estaria se


criando um “bis in idem”?
O individuo seria julgado pelo mesmo fato pela justiça brasileira e pela justiça estrangeira. É sim
um bis in idem autorizado pela lei, admitindo-se inclusive duas condenações. Mas o artigo 8º
busca atenuar esse bis in idem, no caso da pena cumprida no estrangeiro.

Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo
crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.

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