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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA

DIREITO PENAL: CRIMES EM ESPÉCIE


MANOEL MATEUS DOS SANTOS

CRIME DE APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA


(ART. 168-A DO CÓDIGO PENAL)

BRASÍLIA,DF
2022
APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA

Considerações iniciais
O crime de apropriação indébita previdenciário foi introduzido no ordenamento
jurídico pátrio no Código Penal Brasileiro pela Lei no 9.983, de 14 de julho de
2000. A apropriação indébita veio para tipificar a conduta do agente que deixa
de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes,
no prazo e forma legal ou convencional.
Incorre, também, quem deixar de recolher contribuição ou outra importância
destinada à previdência social.
Além do mais, no artigo 168-A há três personagens, o administrador da pessoa
jurídica que recolhe a contribuição (empresário), o contribuinte e a Previdência
Social.
O crime de apropriação indébita está previsto no art. 168-A do Código Penal,
assim descrito:
Art. 168 - A. Deixar o dirigente ou o empregado responsável de instituição
financeira ou bancária ou de agente arrecadador ou recebedor de repassar à
previdência social as contribuições que recolher dos contribuintes, no prazo e
forma legal ou convencional:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de:
I - recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à
previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a
segurados, a terceiros ou arrecadada do público;
II - recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado
despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de
serviços;
III - pagar salário-família, salário-maternidade ou outro benefício devido a
segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido
reembolsados à empresa pela previdência social.
§ 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara e confessa
as contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à
previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da
ação fiscal.
§ 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa
se o agente for primário e houver demonstrado intenção de não voltar a
delinqüir, desde que:
I - tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a
denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive
acessórios; ou
II - o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior
àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo
o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais."
Objeto jurídico
O bem jurídico protegido no crime de apropriação indébita previdenciária é o
interesse patrimonial do Estado e o interesse coletivo da arrecadação e
distribuição da defesa pública.
O objeto jurídico é a subsistência financeira da Previdência Social, pois se
tutela em primeiro lugar o Erário ou a Fazendo Pública, que é titular do crédito.
Núcleo do tipo
O núcleo do tipo penal, é deixar de repassar. Desse modo, o agente,
juridicamente ordenado a repassar à previdência a contribuição no prazo
estipulado em lei, abstendo-se do seu dever, comete, em princípio, crime
omissivo próprio.
Sujeitos ativo e passivo
Sujeito ativo é a pessoa que deve repassar à Previdência Social as
contribuições recolhidas dos contribuintes. Aliás, todos os que concorrem para
o ilícito, por mandato, induzimento, respondem pelo crime. Todavia, há
jurisprudência que exclui o Prefeito Municipal desse delito.
Sujeito Passivo principal é o Estado, ou seja, o órgão da Previdência Social,
oficial ou oficial complementar. Secundariamente, também seriam lesados os
próprios segurados, privados das importâncias que seriam canalizadas.

Elemento subjetivo
O elemento subjetivo é o dolo. Não existe conduta na apropriação indébita na
modalidade culposa.
O STF e o STJ entendem que, para a caracterização do crime de apropriação
indébita previdenciária, não há necessidade de comprovação do dolo
específico. Portanto, para os tribunais superiores o entendimento é de que o
dolo exigido é de se apropriar de valores destinados à previdência social

Consumação
A apropriação indébita previdenciária é um crime material, pois o resultado é o
prejuízo aos cofres fazendários com o não ingresso dos valores devidos à
Previdência.
Portanto, o STJ entende que o delito só se consuma com a realização do
lançamento tributário definitivo, porque é um crime material.

Tentativa
A tentativa no crime de apropriação indébita previdenciária é impossível, pois
se trata de omisso puro
Isto acontece porque o delito é praticado em um único ato, isto é, ou o agente
deixa de repassar ou não deixa. Não se tem como imaginar uma tentativa de
não repassar.

Ação penal
A ação penal é pública incondicionada. Portanto, pode o Ministério Público
investigar e interpor denúncia, a despeito da vontade da vítima.

Competência
O crime de apropriação indébita previdenciária é de competência da Justiça
Federal e a pena cominada para este ilícito penal é de 02 (dois) a 05 (cinco)
anos de reclusão e multa.

Outras informações
Há divergências jurídicas a respeito da consumação do crime, pois a data da
consumação depende definição de sua natureza jurídica ( formal ou material).
STJ definirá natureza jurídica do crime de apropriação indébita
previdenciária
A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) afetou o Recurso
Especial 1.982.304, de relatoria da ministra Laurita Vaz, para julgamento sob o
rito dos repetitivos.

O recurso afetado teve origem em denúncia do Ministério Público Federal


(MPF), pelo crime de apropriação indébita previdenciária, contra a
administradora de uma empresa que deixou de repassar, no prazo legal,
contribuições previdenciárias descontadas dos empregados.

A defesa sustentou que o delito tem pena máxima de cinco anos e pediu o
trancamento da ação penal por transcurso do prazo prescricional de 12 anos.
Alegou que, por sua natureza formal, o crime imputado se consuma nas datas
em que deixaram de ser repassadas as contribuições –entre o início de 2007 e
o início de 2009 –, tendo a denúncia sido recebida apenas em abril de 2021. A
tese foi acolhida pelo tribunal de segunda instância.

O Ministério Público Federal, por seu turno, defendeu a natureza material do


crime e a consumação na data de constituição definitiva do credito tributário
ou do exaurimento da via administrativa.

Referências Bibliográficas

STJ - Superior Tribunal de Justiça

STF - Supremo Tribunal Federal

HC 209.712/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em


16/05/2013, DJe 23/05/2013) HABEAS CORPUS

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal– Parte Especial – Volume III. 6.


ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2009, p. 221.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte especial. v.
2. São Paulo: Saraiva, 2003.

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