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INCIDE IMPOSTO DE RENDA SOBRE A PENSÃO ALIMENTÍCIA?

De início é preciso explicitar que o Imposto de Renda no Brasil foi


instituído em 1922, através de Lei de Orçamento 4.625/1922, como em muitos
outros países, e que desde então incide sobre a totalidade da renda do
contribuinte.

O imposto de renda é uma espécie de tributo federal, ou seja, trata-


se de uma prestação pecuniária instituída em lei, cobrada mediante atividade
administrativa plenamente vinculada, em moeda ou cujo valor nela possa se
exprimir que não constitui são de ato ilícito.

Referido imposto possui características próprias, a dizer: 1. é pessoal,


2. progressivo e 3. Direto, mas também assume características variadas porque
a forma de tributação varia na pessoa física e na pessoa jurídica, com distintas
modalidades de incidências do imposto.

Isto porque, é real e proporcional na incidência sobre o ganho de


capital de cada contribuinte, podendo ser regressivo no resgate de planos de
previdência privada, por exemplo, e indireto na pessoa jurídica, porque, de
regra, a empresa insere o imposto no custo do produto ou do serviço vendidos,
que são variáveis.

No caso em questão, vamos tratar da incidência do imposto de renda


sobre a pensão alimentícia.

Atualmente, a Receita Federal exige que a pessoa que recebe pensão


alimentícia a declare como rendimentos tributáveis e recolha imposto de renda
calculado sobre seu valor.

Contudo, referida exigência da receita tende a modificar, já que esta


sendo objeto de Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) de nº 5.422, movida
pelo Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM) em 2015, em trâmite no
STF.

O julgamento da ADI já teve início e conta com 2 votos favoráveis ao


contribuinte: o do relator, Min. Dias Toffoli, que foi acompanhado pelo Min. Luís
Roberto Barroso.

No entendimento do relator, Min. Dias Toffoli: “Alimentos ou pensão


alimentícia oriunda do direito de família não são renda nem provento de
qualquer natureza do credor dos alimentos, mas simplesmente montantes
retirados dos rendimentos (acréscimos patrimoniais) recebidos pelo alimentante
para serem dados ao alimentado. Nesse sentido, para o último, o recebimento de
valores a título de alimentos ou de pensão alimentícia representa tão somente
uma entrada de valores. Afora isso, é certo que a legislação impugnada provoca a
ocorrência de bis in idem camuflado e sem justificação legítima, violando, assim,
o texto constitucional. Isso porque o recebimento de renda ou de provento de
qualquer natureza pelo alimentante, de onde ele retira a parcela a ser paga ao
credor dos alimentos, já configura, por si só, fato gerador do imposto de renda.
Desse modo, submeter os valores recebidos pelo alimentado a título de alimentos
ou de pensão alimentícia ao imposto de renda representa nova incidência do
mesmo tributo sobre a mesma realidade, isto é, sobre aquela parcela que integrou
o recebimento de renda ou de proventos de qualquer natureza pelo alimentante.
Essa situação não ocorre com outros contribuintes.” Não bastassem esses robustos
argumentos, ele continua: “Por fim, vale frisar que o art. 4º, II, da Lei nº 9.250/95,
ao possibilitar a dedução das importâncias pagas a título de pensão alimentícia,
quando em cumprimento de decisão judicial ou escritura pública (nos termos lá
referidos), na determinação da base de cálculo sujeita à incidência mensal do
imposto de renda devido pelo alimentante, de modo algum afasta o
entendimento ora defendido. Diversas deduções admitidas na lei, tal como essa,
consistem em verdadeiros benefícios fiscais. E muitas dessas benesses são
concedidas pelo legislador quando o próprio imposto incide sobre a renda ou
sobre os proventos de qualquer natureza.”

O eminente relator da ADI se mostrou favorável ao pleito de


INCONSTITUCIONALIDADE DO IR SOBRE PENSÃO ALIMENTÍCIA, e no último dia
07 de fevereiro formou maioria em plenário virtual, contudo o Ministro Gilmar
Mendes acabou pedindo destaque, ou seja, o processo será encaminhado ao
plenário físico do STF recomeçando do ZERO, com a manifestação das partes,
com o voto do relator e de cada ministro.

O resultado do julgamento é de suma importância, visto que


garantirá ao contribuinte a desoneração da folha de gastos com impostos,
inclusive permitindo que haja a cobrança de valores pagos desde à propositura
da ação.

Segundo a especialista em direito tributário, Dra. Jéssica Caroline das


Virgens, a ADI tende a ser acolhida posteriormente, em plenário físico,
desobrigando o contribuinte ao pagamento da referida tributação sobre a
pensão alimentícia.

No entanto, acredita-se que o contribuinte não possa cobrar o que


foi pago indevidamente durantes os últimos 5 anos, em razão da modulação
dos efeitos, que permite que, mesmo sendo inconstitucional a verba recebida
pela Receita Federal, esta restará desobrigada em restituí-la, trançando um
efeito ex nunc.

Em sendo assim, nos resta aguardar o posicionamento final do


Supremo, no afã de que haja a possibilidade do contribuinte se livrar
definitivamente do IR sobre a pensão alimentícia, e torcer que os efeitos
possam retroagir, pelo menos à data de propositura da ADI.

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