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Exame Época Normal 2022

1.

O IRS, tal como o próprio nome indica, é um imposto.

Os impostos constituem prestações pecuniárias (isto é, pagas em dinheiro), coativas (a


obrigação de pagamento decorre da lei), definitivas (não há lugar a devolução) e unilaterais (o
contribuinte paga o imposto sem receber nada diretamente em troca, fá-lo por um dever geral de
cidadania). O objetivo primordial dos impostos é o financiamento do Estado e estes incidem
sobre uma riqueza (rendimento, consumo ou património).

O pp da legalidade em sentido formal exige que as leis de imposto sejam votadas pelo
parlamento democraticamente eleito e que essas leis de imposto fixem os elementos essenciais
dos impostos, ou seja, cabe à AR a competência para legislar sobre os elementos essenciais dos
impostos (previstos no art. 103º/2 CRP), salvo se autorizar o governo através de uma
autorização legislativa (art. 165º/1 al. i CRP). Assim, se o governo legislar sobre elementos
essenciais dos impostos, sem autorização legislativa, estamos perante uma inconstitucionalidade
orgânica. O governo pode, contudo, legislar sobre elementos não essenciais dos impostos, sem
necessidade de autorização legislativa, pois estes não colocam em causa liberdades e garantias
dos cidadãos. Neste caso estamos perante um dos elementos essenciais dos impostos, a taxa, e
não temos conhecimento de nenhuma autorização legislativa, logo a Autoridade Tributária não
tem competência para criar um novo escalão do IRS, estando então em causa uma
inconstitucionalidade orgânica.

O pp da legalidade em sentido material exige uma determinabilidade e tipicidade das leis de


imposto, tendo inerente uma lógica de segurança jurídica. Assim, os elementos essenciais dos
impostos devem ser definidos de forma percetível, concreta e determinada, de modo a que seja
percetível a um cidadão médio. Neste caso não parece que exista inconstitucionalidade material,
poderia haver se por exemplo existisse um conceito indeterminado, mas não temos
conhecimento de que seja o caso.

Assim, concluímos que o contribuinte se poderia defender invocando a inconstitucionalidade


orgânica.

2.

????
A norma do art 103º/3 CRP consagra o princípio constitucional da proibição de retroatividade
da lei fiscal. Esta proibição de retroatividade justifica-se por razões de segurança jurídica e
estabilidade das finanças públicas. Assim, quer a LN seja mais favorável ou menos favorável,
esta proibição vigora. Para além disso, é importante referir que a proibição de retroatividade
aplica-se apenas aos elementos essenciais dos impostos, previstos no ar.t 103º/2 CRP, como é o
caso da taxa.

Relativamente ao aumento do IMT, importa começar por referir que o IMT é um imposto de
obrigação única, ou seja, o facto tributário ocorre num momento instantâneo, pelo que vigora
uma proibição absoluta de retroatividade fiscal, mesmo que a LN fosse mais favorável. Assim, a
taxa de IMT aplicável à sociedade B, na compra do imóvel é de 6.5 % e não os 10 % que pevê o
OE.

Relativamente ao aumento do IRC, importa começar por referir que o IRC é um imposto
periódico, ou seja, o facto tributário constrói-se durante um determinado período de tempo.
Assim, relativamente aos anos anteriores a 2022, estamos perante uma retroatividade forte, pois
os factos tributários já foram consumados na totalidade, pelo que vigora uma proibição absoluta
da retroatividade fiscal. Por outro lado, no período entre janeiro e junho de 2022, estamos
perante uma retroatividade fraca, pois o facto tributário ainda não está consumado na totalidade
e, portanto, admite-se retroatividade fiscal (pois nenhum princípio é absoluto) com 4
fundamentos:
Primeiramente seria muito complexo, no ano de 2022, emitir 2 declarações de IRS, uma com a
taxa que está prevista na LA e outra que está prevista na LN, sendo que o direito fiscal
privilegia a simplicidade.

Em segundo lugar, uma vez que o facto tributário ainda não está consumado na totalidade, então
não se criaram expectativas muito elevadas.

Em terceiro lugar, esta possibilidade de retroatividade fiscal tem de ser admitida nos casos em
que o OE só é aprovado já no decurso do ano, que é precisamente o que se verifica neste caso,
uma vez que o governo precisa de alguma maneabilidade para exercer a sua política fiscal.

Por último, não podemos ter em conta a norma do art. 12º/2 LGT como argumento a favor da
inconstitucionalidade da retroatividade no caso da retroatividade fraca, pois esta é uma norma
programática, de letra morta. O que este artigo sugere é que se faça uma pro rata tempus, ou
seja, que se divida o ano em dois, o que, como já referi apresenta muitas dificuldades práticas.
Assim, fazendo uma leitura conforme à constituição, devemos concluir que esta norma não tem
valor jurídico.

Assim, concluímos ente janeiro e junho de 2022 se aplica a taxa prevista no OE para 2022, ou
seja, 35%, apesar de ser menos favorável. Depois de junho de 2022, não há problemas, uma vez
que a LN vigora para o futuro. Concluímos que a taxa aplicável em 2022 é a taxa de 35%.

É importante referir que nem em todas as situações de retroatividade fraca, há de facto


retroatividade fiscal, pois se houver uma violação intolerável da segurança jurídica, a
retroatividade é inconstitucional.

Os lucros distribuídos pela sociedade e recebidos pelo senhor C consideram-se rendimentos de


capitais, nos termos do art. 5º/1 e 5º/2 al. h, pertencendo então à categoria E.

Nos termos do art 40º, não há deduções passíveis de serem feitas a rendimentos da categoria E,
no entanto, de acordo com o art. 40º-A, caso o SP opte pelo englobamento, sendo tributado a
uma taxa progressiva, só será considerado 50% do seu rendimento (5000). Caso este não opte
pelo englobamento, então será tributado a uma taxa liberatória de 28%, sendo esta uma taxa
proporcional, que não admite deduções e com retenção na fonte a título definitivo. De notar que,
nos termos do art. 71º/13, o SP pode optar pelo englobamento.

b)

Nos termos do art. 18º/3...

A substituição tributária ...(art. 20º), sendo que esta pode ser feita através de retenção na fonte
(art. 34º LGT). E de facto, tal como referi na alínea anterior, os lucros distribuídos consideram-
se rendimentos de capitais, então estes estão sujeitos a retenção na fonte a título definitivo,
sendo tributados a uma taxa liberatória de 28%, sendo esta uma taxa proporcional que não
admite deduções (art. 71º/1 al. a).

A EDP entregou os 10 000 euros, logo estamos perante um cenário de obrigação de substituição
total e não retenção, logo nos termos do art. 28º/3, a resp. originária é do substituto e a resp.
subsidiária do substituído. Como a edp paga 2 vezes o imposto, pois paga primeiro ao senhor C
e depois ao estado, então tem direito de regresso sobre o senhor C, podendo exigir o imposto
através de uma ação cível de enriquecimento sem causa.

a)

Nos termos do art. 2º/1 al. a CIRS, os rendimentos provenientes de trabalho por conta de outrem
prestado ao abrigo de contrato individual de trabalho ou de outro legalmente equiparado,
consideram-se rendimentos do trabalho dependente, pertencendo à categoria A, que é o que se
verifica neste caso e, portanto, concluímos que este rendimento pertence à categoria A.

Este rendimento fica sujeito a tributação desde o momento do seu pagamento ou colocação à
disposição do seu titular (art. 2º/1 CIRS). Assim, como os salários ficaram em atraso, ou seja, o
senhor D não recebeu os salários, então não pode ser tributado. De notar que, de acordo com o
pp da capacidade contributiva, os impostos devem tributar a riqueza real.
b)

Relativamente aos rendimentos que o senhor D auferiu como advogado (profissão liberal),
podemos afirmar que estes, nos termos do art. 3º/1 al. b, são considerados rendimentos
profissionais, pertencendo então à categoria B.

Nos termos do art. 3º/6 CIRS, este rendimento fica sujeito a tributação desde o momento em que
para efeitos de IVA seja obrigatória a emissão de fatura ou documento equivalente, ou seja, fica
sujeito a tributação desde o momento da prestação do serviço e não no momento do pagamento.
Isto pode parecer inconstitucional, uma vez que estamos a tributar um rendimento que o sujeito
passivo ainda não recebeu, mas, em princípio, o pagamento ocorre no momento da prestação do
serviço, logo o legislador optou por antecipar a incidência. Para além disso, é possível “acertar
as contas” nos casos em que o sujeito passivo pague o imposto e depois não seja pago o serviço
que prestou, pois caso isto não fosse possível estaríamos perante uma inconstitucionalidade.

As deduções passíveis de serem feitas aos rendimentos da categoria B podem ser feitas através
do regime simplificado ou através do regime da contabilidade (art. 28º/1 al. a e b). Neste caso
como não temos conhecimento de que o senhor D, no exercício da sua atividade, tenha
ultrapassado no período de tributação imediatamente anterior um montante anual líquido de
rendimentos desta categoria de 200 000 €, então este fica abrangido pelo regime simplificado
(art. 28º/2). O senhor D pode, contudo, optar pela determinação dos seus rendimentos com base
no regime da contabilidade (art. 28º/3). Caso este optasse pelo regime da contabilidade, então
cabe ao SP documentar todas as despesas profissionais relacionadas com a sua atividade, sendo
todas essas despesas dedutíveis (não há limite de deduções neste regime). Como não temos
conhecimento de que tenha optado por este regime, então este fica abrangido pelo regime
simplificado e, nos termos do art. 31º, a determinação do rendimento tributável obtém-se através
da aplicação dos coeficientes previstos nesse artigo, não se atendendo a todos os gastos. No caso
de profissionais liberais, este regime tem-se revelado mais complexo, pois estes estão sujeitos a
deduções de 25% dividido em 2 partes: 15 % com necessidade de despesas e o restante sem
necessidade de despesas (art. 31º/13 e 14 CIRS).

A tributação dos rendimentos da categoria B é feita por englobamento a uma taxa progressiva
(art. 22º e 68º CIRS)

c)

O rendimento que o senhor D auferiu com a venda do quadro, como não se insere em nenhuma
categoria, então, em princípio, enquadrar-se-ia na categoria G, que é uma categoria residual.
Contudo, a norma do art. 9º consagra uma lista taxativa do que são considerados incrementos
patrimoniais, não estando incluído nessa lista a mais valia obtida pela venda de um quadro
valioso. Tendo em conta que no direito fiscal não há lacunas (art. 11º/4), então este rendimento
não é tributado a nível de IRS.

O legislador teve de tomar esta decisão de excluir da tributação determinados rendimentos por
razões de simplificação.

d)

FEITO

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