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RGIT

PERGUNTAS RESPONDIDAS A POSTERIORI PELO FORMADOR

PERGUNTA 1

Relativamente ao exercício seguinte, a solução considerada correta foi: 1): art 105º e 22º do
RGIT. Não consigo detetar a fundamentação para considerar a resposta 1) como a totalmente
correta, assim como também não o conseguiria para a resposta 2).
E uma questão adicional:
- A resposta 4) é totalmente incorreta, certo?
- A resposta 3), consequentemente é correta, embora possa estar incompleta, porque lhes
faltam os pressupostos das alíneas a) a c), do art 22 do RGIT

Exercício:
“A soc A & B, Lda, nos meses de jan, abr, e ago de 2005, efetuou retenções na fonte de IRS,
aquando do pagamento de rend de trabalho dependente, nos montantes de 2.000€, 63.000€
e 10.000€, respetivamente que só entregou nos cofres do Estado em fev 2006, tendo pago, tb,
nos termos legais, os juros respetivos e o valor das coimas aplicada aos dados apresentados.
Qual a afirmação totalmente correta:
1) A soc praticou um crime de abuso de confiança fiscal e pode beneficias da extinção da
responsabilidade criminal relativamente ao período de jan 2005.
2) A sociedade praticou um crime de abuso de confiança fiscal e pode beneficiar da extinção
da responsabilidade criminal relativamente a todos os períodos.
3) A soc praticou um crime de abuso de confiança fiscal, podendo ser dispensada da aplicação
de pena dado ter reposto a verdade fiscal.
4) A soc praticou um crime de abuso de confiança fiscal e não pode beneficiar da extinção da
responsabilidade criminal.”

RESPOSTA
Gostaria, antes de mais, de referir que as apreciações que se seguem, resultam do meu
entendimento pessoal sobre a matéria, não vinculando, de qualquer forma a AT.

1
Antes de mais quero esclarecer que qualquer das quatro hipóteses de resposta equaciona a
hipótese de existir crime, mas para estra conclusão, não basta a falta de entrega. Esta tem que
ser dolosa e esse é um dado que o enunciado não nos dá.
Para além do que atrás se expôs, penso que a soc A & B, Lda, não terá praticado um crime mas
sim três. Um por cada falta de entrega das retenções em apreço. Repare que o n.º 7 do art.º
105.º menciona expressamente que” Para efeitos do disposto nos números anteriores, os
valores a considerar são os que, nos termos da legislação aplicável, devam constar de cada
declaração a apresentar à administração tributária.” (sublinhado meu). Para que se considere
que apenas praticou um crime, é necessário que se considere estar na presença de um crime
continuado. Mas, para isso, seria condição que o comportamento delituoso preenchesse os
requisitos do art.º 30.º do CP (aplicável subsidiariamente aos crimes tributários por via do
disposto no art.º 3.º do RGIT), designadamente que se trate da realização plúrima do mesmo
tipo de crime ou de vários tipos de crime que fundamentalmente protejam o mesmo bem jurídico,
executada por forma essencialmente homogénea e no quadro da solicitação de uma mesma
situação exterior que diminua consideravelmente a culpa do agente, o que também não
sabemos porque o enunciado não nos diz.
Comecemos então pela resposta n.º 1:
1) A soc praticou um crime de abuso de confiança fiscal e pode beneficias da extinção da
responsabilidade criminal relativamente ao período de jan 2005.
Não percebo, nem encontro justificação legal para o arguido beneficiar da extinção da
responsabilidade criminal relativamente ao período de jan 2005. Na realidade, relativamente ao
período de jan 2005, no meu entender, nem sequer há crime, uma vez que não se atinge o limite
incriminativo do tipo de € 7500 (art.º 105.º n.º 1). Mas isso é na redação atual! Na redação
original do RGIT (não nos podemos esquecer que estes factos ocorreram em 2005), não existiam
limites no tipo para o crime de abuso de confiança fiscal, pelo que qualquer falta de entrega,
desde que fosse dolosa, havia crime.
A dispensa da pena encontra o seu fundamento no art.º 22.º do RGIT (como sugere a resposta).
Porém o texto do enunciado não fala em dispensa da pena mas sim em extinção da
responsabilidade penal. O que é diferente. Ao tempo (em 2005), o RGIT no n.º 6 do art.º 105.º
dispunha “Se o valor da prestação a que se referem os números anteriores não exceder (euro)
1000, a responsabilidade criminal extingue-se pelo pagamento da prestação, juros respectivos e
valor mínimo da coima aplicável pela falta de entrega da prestação no prazo legal, até 30 dias
após a notificação para o efeito pela administração tributária.” (sublinhado meu). Este
montante (de € 1000), passou para € 2000, com a Lei n.º 60-A/2005 de 30/12 (Lei de Orçamento
para 2006). Assim e tendo em conta o exposto, para a falta de entrega de jan 2005, também não
podia beneficiar da extinção da responsabilidade penal, uma vez que o limite só passou para €
2000 e janeiro de 2006.
Portanto, esta resposta (mesmo em 2005), estaria incorreta e nunca seria de a justificar com o
art.º 22.º uma vez que este preceito trata de realidades diferentes.
Resposta n.º 2:
2) A sociedade praticou um crime de abuso de confiança fiscal e pode beneficiar da extinção
da responsabilidade criminal relativamente a todos os períodos.
Também estaria incorreta, uma vez que o n.º 6 do art.º 105.º mencionava, “Se o valor da
prestação a que se referem os números anteriores não exceder (euro) 1000, a responsabilidade
criminal extingue-se pelo pagamento da prestação, juros respectivos e valor mínimo da coima
aplicável pela falta de entrega da prestação no prazo legal, até 30 dias após a notificação para
o efeito pela administração tributária” e os montantes eram de 2.000€, 63.000€ e 10.000€.
Resposta n.º 3:
3) A soc praticou um crime de abuso de confiança fiscal, podendo ser dispensada da aplicação
de pena dado ter reposto a verdade fiscal.
A reposição a verdade fiscal, como se viu, não era suficiente para extinguir a responsabilidade
criminal do agente.

2
Hoje, não se extingue a responsabilidade criminal do agente mas afasta-se a punibilidade (ie
deixa de haver infração, vd. art.º 2.º do RGIT), se (n.º 4 do art.º 105.º):
a) (…);
b) A prestação comunicada à administração tributária através da correspondente declaração for
paga, acrescida dos juros respectivos e do valor da coima aplicável, no prazo de 30 dias após
notificação para o efeito.
Esta solução atual (em vigor a partir de 2007), oferece-me muitas dúvidas, mas é o que temos.
Resposta n.º 3:
4) A soc praticou um crime de abuso de confiança fiscal e não pode beneficiar da extinção da
responsabilidade criminal.
Considerando que a soc praticou um só crime de abuso de confiança esta seria a resposta
correta, ao tempo (2005/2006). O n.º 6 que falava da extinção da responsabilidade criminal veio
a ser revogado em 2008.

PERGUNTA 2

1º) Num procedimento Inspetivo a um operador económico que exporta bens e serviços,
alguns relacionados com equipamento gráfico para país fora da EU, mais precisamente país
terceiro. a) Para o efeito, penso que a exportação terá sempre de ser acompanhada da
Declaração Aduaneira de Exportação (DA), …
b) No âmbito de procedimento inspetivo se lhe forem solicitadas as respetivas declarações, e
ele não as apresentar, uma vez que os serviços da AT têm mecanismos informáticos para fazer
essa consulta, o contribuinte pode contestar essa obrigatoriedade em tribunal, caso o
processo avance com correções em sede de IVA por falta de apresentação das devidas DA?

RESPOSTA
a) Sim. Tratando-se do regime aduaneiro de exportação, o procedimento declarativo exige a
apresentação de uma declaração aduaneira.
b) O contribuinte tem um dever de colaboração que lhe advém quer da LGT, quer do CAU, quer
do RCPITA e o incumprimento deste dever de colaboração tem implicações em sede de RGIT.
Vejamos,
Artigo 63.º da LGT
Inspecção

1 - Os órgãos competentes podem, nos termos da lei, desenvolver todas as diligências


necessárias ao apuramento da situação tributária dos contribuintes, nomeadamente:
a) (…)
b) Examinar e visar os seus livros e registos da contabilidade ou escrituração, bem como todos
os elementos susceptíveis de esclarecer a sua situação tributária;
(…)
RCPITA (art.º 32.º)
1 - A recusa de colaboração e a oposição à acção da inspecção tributária, quando ilegítimas,
fazem incorrer o infractor em responsabilidade disciplinar, quando for caso disso, contra-
ordenacional e criminal, nos termos da lei.
2 - Para efeitos do número anterior, devem os funcionários da inspecção tributária comunicar a
recusa ou oposição ao dirigente máximo do serviço ou ao representante do Ministério Público
competente, quando delas resultem respectivamente responsabilidade disciplinar, contra-
ordenacional ou criminal.
CAU (art.º 15.º)

3
1. Qualquer pessoa direta ou indiretamente envolvida no cumprimento de formalidades
aduaneiras ou na execução de controlos aduaneiros deve prestar às autoridades aduaneiras, a
pedido destas e nos prazos que sejam fixados, todos os documentos e todas as informações
requeridas, sob uma forma adequada, bem como toda a assistência necessária para
cumprimento dessas formalidades ou desses controlos. (…)
RGIT art.º 113.º
1 - Quem dolosamente recusar a entrega, a exibição ou apresentação de escrita, de
contabilidade ou de documentos fiscalmente relevantes a funcionário competente, quando os
factos não constituam fraude fiscal, é punido com coima de € 375 a € 75000.
(…)
3 - Considera-se recusada a entrega, exibição ou apresentação de escrita, de contabilidade ou
de documentos fiscalmente relevantes quando o agente não permita o livre acesso ou a
utilização pelos funcionários competentes dos locais sujeitos a fiscalização de agentes da
administração tributária, nos termos da lei.
4 - Para efeitos dos números anteriores, consideram-se documentos fiscalmente relevantes os
livros, demais documentos e respectivas versões electrónicas, indispensáveis ao apuramento e
fiscalização da situação tributária do contribuinte
RGIT art.º 117.º
1 – A falta ou atraso na apresentação ou a não exibição, imediata ou no prazo que a lei ou a
administração tributária fixarem, de declarações ou documentos comprovativos dos factos,
valores ou situações constantes das declarações, documentos de transporte ou outros que
legalmente os possam substituir, comunicações, guias, registos, ainda que em formato digital,
ou outros documentos. (…)

A AT, designadamente os serviços aduaneiros têm acesso informático à base de dados das
declarações aduaneiras, mas isso não implica que tal faça cessar o cumprimento do dever de
colaboração do contribuinte. Quanto à “contestação” em tribunal, não percebo qual a dúvida.
A liquidação deve basear-se em factos reais (avaliação direta da matéria coletável),
independentemente da forma como são obtidos (através da consulta da base de dados ou do
fornecimento de dados ou documentos por parte do contribuinte), a não ser que a falta de
colaboração determine a aplicação de métodos indiretos e aí deve obedecer ao disposto nos
art.ºs 83.º e segs da LGT. Aqui, é obvio que o nível de litigância judicial é grande, mas tem a ver
com a segurança e a legitimidade de aplicação dos métodos indiretos.

PERGUNTA 3

Quais os elementos devem constar na DA? Esta tem de ser obrigatoriamente assinada e
datada pelo funcionário responsável da Estância Aduaneira? Carece de carimbo aposto
datada e assinada manualmente? Ou este procedimento pode ou é totalmente efetuado via
online?

RESPOSTA
Desde há longa data (muito antes da informatização do mod. 3, através do STADA) que o
procedimento declarativo aduaneiro é efetuado online. Assim sendo, as intervenções no
documento não são manuais. Numa fase inicial, a tramitação interna das declarações
aduaneiras, implicava ainda alguns procedimentos manuais (ex. aceitação, triagem conferência,
verificação física e autorização de saída) onde eram apostos rúbricas e carimbos. Hoje não. O
procedimento está totalmente informatizado, desde a entrega da declaração à aceitação e
autorização de saída, para qualquer dos regimes aduaneiros.
Quanto aos elementos que devem constar da declaração aduaneira, são imensos, e seria
fastidioso enumerá-los aqui. Envio junto a esta resposta dois anexos do RDMT-CAU (Anexo 9,

4
Apêndices B1 e C1) que contém não só um exemplar da declaração aduaneira, onde se pode
constatar todos os elementos que compõe a mesma, bem como as instruções de
preenchimento, onde se esclarecem os dados de preenchimento.

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